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Expediente Revista teérica, politica e de informagao Outubro/ novembro de 987, 1 Gz$ 180,00 Publicagao da Editora Ani- ta Garibaldi Ltda. Rua Bororés, 51, 3° andar, CEP 01320 — Sao Paulo- Tel. 278-3220 Diretor e Jornalista Res- ponsavel Joao Amazonas Conselho Editorial Joao Amazonas Rogério Lustosa José Reinaldo Carvalho Luiz Aparecido Numero avulso Cz$ 180,00 Assinatura (4 numeros) Cz$ 700,00 Para o Exterior US$ 20 Enviar cheque nominal ou vale postal para Editora Anita Garibaldi Ltda. Atendemos também pelo reembolso postal Composigao, Montagem, Fotolitos, Impressao e Acabamento Gia. Editora Jorués Rua Arthur de Azevedo, 1977 Diagramagéo Maria José Leite (Mazé) INDICE Invengao de Militares Pagina 3 Viva a Grande Revolugao Socialista de Outubro Joao Amazonas Pagina Marxismo — Doutrina Viva e Cientifica Lénin Pagina 16 A Pilhagem Financeira: Trago do Imperialismo nos Dias Atuais Haroldo Lima Pagina 20 A Politica Econémica da “Glasnost” na URSS Luis Fernandes Pagina 32 O Socialismo na Albania — Aplicag&o Criadora do Marxismo José Reinaldo Carvalho Pagina 38 Fronteira em Armas Luiz Manfredini Pagina 45 Devoremos a Esfinge antes que Ela nos Decifre Clovis Moura Pagina 53 Sobre a Ago Politica da Classe Operaria F. Engels Pagina 61 © Povo Ega de Queiroz Pagina 63 (0s erindores ee eriatura WY TEZNOS Op BYI9INZ INVENGAO DE MILITARES A“marchinha”’ carioca de anos atras per- guntava e respondia jocosamente: “‘Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral, foi seu Cabral’... Nos debates que atual- mente envolvem a nagdo sobre formas de governo falta o tom mordaz da ‘“‘marchi- nha’”’ para indagar: quem foi que inventou o presidencialismo, condenado por grande parte da populacao? N&o foi o povo, nem mesmo a elite pen- sante progressista. Surgiu com o golpe de forca dos quartéis que derrubou a monar- quia de origem portuguesa, em 1889, e co- piou arrevesadamente o regime governa- mental estadunidense de fins do século XVIIL. Mas nao apenas isso. Apareceu tam- bém a Repiblica, que nao correspondia se- quer A semAntica latina: res publica ou, no idioma nacional, coisa publica, algo criado para servir a coisa piiblica, ligado ao interes- se comum. Despontou igualmente a Federa- cao, que nunca funcionou, um mito cultua- do até hoje como objeto sagrado que nin- guém pode tocar. Afinal, quem inventou mesmo esse siste- ma esdrixulo de governo? Foram os milita- res, os marechais da década de 90 dos idos de 1800. Com a faca e 0 queijo na mao, tra- garam a rota que lhes convinha. Impuseram o presidencialismo, a reptiblica, a federacao de mentira. Nascia com eles o militarismo desenfreado que evoluiu até se converter nu- ma casta que se sobrepde a nacdo. Apoia- ram-se no positivismo de Augusto Comte, em moda na época, entre os militares brasi- leiros, doutrina idealista da historia que ne- ga a realidade concreta, material. O positi- vismo pregava, como forma de governo, a ditadura esclarecida, na pratica obtusa, obs- curantista. Isto calhava bem 4 mentalidade de caserna acostumada ao mandonismo au- toritario. Os generais nunca compreende- ram a republica e o presidencialismo senao como ditadura militar, acobertada por nor- mas pseudoconstitucionais, com ou sem ci- vis 4 frente do goyerno. E foi o que se viu. Em quase cem anos de aplicacao do invento politico dos generais, prevaleceu um sistema anacr6nico, inadap- tado a realidade nacional. Nao sobrou nada, tudo corroido e corrompido até os alicerces. Nem instituicdes, nem partidos politicos, nem autonomia dos Estados, nem moralida- de administrativa sobreviveram. Golpes e mais golpes. As Forcas Armadas puseram ¢ dispuscram, mandaram ¢ desmandaram ao seu livre arbitrio. Quando os governantes nao lhes agradavam ou nao lhes obedeciam completamente eram derrubados e la se iam para o exilio ou para a sepultura. E nem se diga que fossem governos progressistas, mas simplesmente partidarios da ordem civil or- ganizada. Nesse prolongado tumulto da vi- da brasileira nao faltou o festim maximo dos generais — vinte ¢ um anos corridos de ditadura militar que abastardou a nacdo e “OUUES, 4 Principios amarrou-lhe os punhos em favor do capital estrangeiro. O saldo positivo dessa incongruéncia foio crescimento da consciéncia democratica e nacional do povo, que deseja, como verda- deiro dono do pais, imprimir a Administra- cAo federal e a direco dos negocios piblicos a marca de suas aspiragdes mais sentidas, com destaque para a liberdade e a defesa da independéncia nacional. S6 nao vé quem nao quer. O brado de fora Sarney — criatu- ta dos militares — ¢ de Forgas Armadas em seu lugar, unicamente guardias das frontei- ras da patria, ecoa forte por toda a parte. Ninguém quer a repeticao de presidente im- perial, submetido aos generais, no sistema presidencialista falido. O Brasil exige novo sistema de governo. E quando o quadro vai-se delimitando, em prol da mudanca da forma de governo, eis que o atual presidente da Reptiblica de- clara 4 imprensa, para ampla divulgacdo, que o presideneialismo @ tradigao e vocagao nacional. Ja se viu? Tradic&o militarista, se nos permitem, de senhores do baraco e do cutelo que atropelaram durante cem anos a vida politica da nago. Vocacdo... Em que sentido? Predestinacao, pendor? Vocacdo de oligarcas, sobretudo de Sao Paulo e Mi- nas, que utilizaram a invencdo positivista dos generais para excluir 0 povo da ativida- de relacionada com 0 poder politico. O Bra- sil nao esta predestinado a ter futuro tao triste e humilhante — 0 de viver escravizado por opressores nacionais e estrangeiros. A verdadeira tradic&o e vocacao dos brasilei- ros €a da luta tenaz pela conquista da liber- dade, da independéncia da patria, desde Ti- radentes até a juventude tombada nas ruas, nos carceres, nas selvas do Araguaia no pe- tiodo de 1964 a 1979. Em vias de ser substituido, diz o homem do Planalto que o presidencialismo decorre da dimensao do pais. Se for grande tem de ser presidencialista. Nao faltava mais nada! Onde ficam, nas sandices sarneysianas, 0 Paraguai, o Chile, a Guatemala, a Bolivia, Honduras e Salvador? Deviam ter outro re- gime porque sao pequenos? Segundo ele, o conceito de sistema de governo deve ser geo- grafico, endo politico. Todavia, a forma de governo nada tem a ver com 0 tamanho do pais, mas com o carater da organizacao poli- tica da sociedade, com a implantacSo de meios que garantam a democracia e assegu- rem condig6es reais para o progresso social. O fascismo é também uma forma de gover- no, porém terrorista, representativa das classes mais reacionarias, inimigas do povo. No Brasil, o presidencialismo é uma monar- quia disfarcada que pune e submete os que aspiram a ser livres, que mantém o pais — imenso pais — no atraso, na ignorancia, na miséria, na dependéncia dos banqueiros in- ternacionais. inécuo envernizar o presidencialismo. Nao ha maneira de modernizar o que é defi- nitivamente arcaico. Isto vai para o lixo da histéria. E se se quer progredir e alcancar a democracia ha que enterrar, juntos, 0 siste- ma presidencialista ¢ 0 militarismo que lhe deu origem. Sao dois cadaveres insepultos que empestam o ambiente conturbado da nacdo brasileira, ansiosa de afirmar sua so- berania e renovar suas instituig6es, hoje em estado lastimavel. VIVA A GRANDE REVOLUCAO SOCIALISTA DE OUTUBRO! Joao Amazonas Principles Este artigo, escrito em 1977, foi publicado pela primeira vez na Europa, por ocasiao do 60° aniversario da Grande Revolucao Socialista de Outubro. Devido as circunstancias da época, de vigéncia da ditadura militar no Brasil, teve pouca divulgacao em nosso pais. Por conservarem as idéias nele contidas grande atua- lidade, republicamo-lo agora, quando a grande facanha dos revolucionarios proletarios russos completa 70 anos. Ha sessenta anos ocortia a maior revolugao da historia da Humanidade, a Grande Revo- lug4o Socialista de Outubro. Sob a direcao do Partido Bol- chevique e de seu eminente che- fe, Vladimir Hitch Lénin, o pro- letariado, aliado as massas po- bres do campo, derrubava o Poder da burguesia, destruia o império secular dos czares, cria- va a Republica dos Soviets. A bandeira vermelha da foice edo martelo, no Palacio de Smolny, em Petrogrado, anunciava o surgimento de uma nova época, a ¢poca de dominacdo de uma nova classe, oprimida em todos os paises capitalistas, a era das revolucées proletarias, da tran- sig&io do capitalismo para 0 so- cialismo. ‘A revolucdo nascia durante a guerra imperialista. Milhdes de trabalhadores das cidades ¢ do campo, famintos, extenuados por um conflito mortifero que ja durava quatro anos, revolta- dos pelo massacre originado da disputa entre poténcias capita- listas — responderam ao apelo dos bolcheviques e se levanta- ram em insurreicdo gloriosa que pés fim ao dominio barbaro das forcas reaciondrias. Pela pri- meira vez, assinalava Lénin, os escravos revidavam a guerra dos senhores proclamando abertamente: “transformemos esta guerra entre escravistas pe- la divisdo do saque, numa guer- ra dos escravos de todas as na- ges contra os escravistas de to- das as nacdes’’. O estrondo da queda de um dos mais antigos bastides da rea- &o estremeceu nao apenas a Riissia. Repercutiu no mundo inteiro, infundindo animo aos espoliados ¢ oprimidos. A aspi- taco sentida da classe operaria de sacudir 0 jugo da exploracao capitalista, o sonho milenar dos camponeses de se verem livres da opressao latifundiaria toma- yam-se, afinal, realidade para uma sexta parte da Humanida- de. A revolugZo foi saudada com entusiasmo e espirito de lu- ta. Espontaneamente, um pod: roso movimento de apoio e so dariedade aos revolucionarios da recem-surgida repiiblica so- yietica tomava impulso. Gre- ves, agdes de massas, revoltas ¢ insurreig6es traduziam por toda a parte o sentimento de rebeldia reinante no mundo do trabalho. Desde seus primeiros instan- tes, a revolucdo fez salar em pedacos os alicerces do regime teirbgrado. No curso de algu- mas semanas mudou completa- mente a fisionomia da velha Risssia. Os restos medievais fo- ram varridos de ponta a ponta como antes em nenhum outro pais se conseguira faz8-lo. Caiu a monarguia e seu sistema de castas privilegiadas, a terra foi entregue aos que nela trabalha- vam, a mulher adquiriu direitos iguais aos do homem, a religiao deixou de ser assunto do Esta- do. As nacionalidades ndo-rus- sas outorgaram-se suas proprias repiblicas e regides auténomas. Mas a revolucao nao se dete- ve nas tarefas de cunho demo- cratico-burgués levadas as ilti- mas conseqiiéncias. Como su- blinhou Lénin, estas reformas eram produto acessério da luta revoluciondria. A classe opera- ria, dirigida pelos bolcheviques, organizou solidamente o Esta~ do de ditadura do proletariado, instaurou a democracia para a imensa maioria do povo. Tri- lhando caminhos novos, iniciou as transformagoes socialistas da economia. As fabricas, as usi- nas, os bancos, o sistema de transporte passaram as maos dos trabalhadores. Os revolu- cionarios venceram os duros anos de fome e da completa de- sorganizacfo econémica, cau- sados pela guerra. Impulsiona- ram a eletrificacao do pais, cla- boraram os famosos_planos qilinguenais. A industrializacao desenvolveu-se a ritmos acelera- dos, teve lugar a coletivizacao da agricultura. Em menos de quarenta anos (até a morte de Stalin), prazo relativamente curto e dentro do qual sucedeu uma guerra devas- tadora, a Unido Soviética pas- sou por profunda metamorfo- se. De pais atrasado, transfor- mou-se num dos mais avanca- dos, com uma poderosa indiss- tria, uma agricultura moderna, uma eficiente defesa nacional. De nacao inculta, converteu-se num grande centro de cultura onde florescia a ciéncia de van- guarda. Sob o cerco capitalista, construiu um novo sistema de economia, alheio as crises, a in- flacao e ao desemprego. O pro- letariado e as massas campone- sas elevaram grandemente seu nivel de vida. Desapareceram os males da infancia abandonada e da velhice desamparada. A Unido Soviética constituiu- se num forte baluarte da revolu- ¢ao0 mundial, numa fortaleza Prinipios invencivel do proletariado. Fonte de inspiracao ¢ alento pa- ra os explorados e oprimidos, a URSS ajudava desinteressa- damente os povos em luta con- tra a repressao € as agressdes es- trangeiras. O Partido Bolchevi- que € a II] Internacional, criada por Lénin, nao mediam esfor- Gos na formacao das vanguar- das proletarias ¢ na difusao do marxismo-leninismo, guia ¢ ar- ma de combate para a liberta- co nacional e social. Eram o centro em.torno do qual se unia ‘© movimento operario ¢ comu- nista em expanséo ¢ cada vez mais ativo. Sem poder vencer a Uniaio Soviética nos planos econdmi- co, social ¢ politico, o capital financeiro internacional ajudou Hitler a chegar ao Poder e pre- parar a guerra contra a Patria do Socialismo. Mas a URSS yenceu também essa dura pro- ya. Com 0 apoio dos povos ¢ sob 0 comando sabio de Stalin, telefénica enfrentou a maior maquina bé- lica ja posta em movimento, derrotou os inimigos nazistas, dando valiosa contribuigéo a Inta emancipadora em todos os Continentes. Desse confronto entre 0 capitalismo e 0 socialis- mo, surgiu toda uma série de paises de democracia popular na Europa. O prestigio do so- cialismo estendeu-se mais ain- da. Nos anos de apos-guerra, 0 Estado Socialista cicatrizou ra- pidamente as feridas deixadas pelo conflito mundial, reorga- nizou sua economia e conti- nuou avangando em todos os terrenos. Tudo isso foi feito sob a dita- dura do proletariado. Hoje, quando a burguesia e seus lacaios esforcam-se para tentar desmoralizar o socialis- mo, para toldar os grandiosos éxitos alcancados pelo proleta- tiado a fim de minar a sua cons- ciéncia de classe e desvia-lo da Lénin nos primeiros dias da Revolugao ordena os marinhelros da frota do Baltico a tomarem a esta luta conseqiiente, é importante destacar o significado concreto da revolugao proletéria na Rus- sia, O gigantesco salto que ela representou no desenvolvimen- to da Humanidade. O socialis- mo deu provas irrefutaveis de sua imensa superioridade sobre © capitalismo. A vida compro- you cabalmente a viabilidade da edificacéo da nova sociedade. Os operarios mostraram que podem viver sem patroes e sem explorac&o, so capazes de or- ganizar e dirigir com sucesso to- da a atividade da nacao. ‘Nao por acaso, os imperialis- tas empenharam-se a fundo pa- ta solapar e destruir o socialis- mo na URSS, o que consegui- ram, combinando a presséo ¢ a chantagem externa com 0 tra- balho de seus agentes, do tipo de Tito, e a acdo interna antile- ninista dos elementos de menta- lidade capitalista, da espécie de Kruschov, Brezhnev, Suslov cia. Frineipics Com a morte de Stalin, as grandes conquistas da classe Operaria sofreram grave revés, regrediu 0 socialismo. Isto nao se verificou em conseqiiéncia de um ataque direto e do exterior por parte dos paises capitalis- tas. A experiéncia historica j& havia demonstrado que o impe- rialismo, por mais feroz e agres- sivo que fosse, ndo tinha condi oes de abalar e derrotar o inex- pugnavel reduto do proletaria- do. O golpe partiu de dentro, do seio das fileiras operarias, onde se tinham emboscado ini- migos de classe. Utilizando a demagogia ¢ in- dicando falsas perspectivas, es- ses inimigos, personificados na camarilha kruschovista que as- cendera pot meio de sujas ma- nobras a posigdes importantes na direcéo do Partido e do Es- tado, revisaram 0 leninismo em questées essenciais, ¢ destrui- ram a verdadeira organizacaéo de vanguarda da classe opera- tia. Inicialmente, concentraram seus ataques em duas direcdes: contra o nucleo dirigente do Partido e contra o marxismo-le- ninismo, este representado por Stalin, fiel discipulo de Lénin, porta-bandcira das idéias revo- lucionarias. O nucleo dirigente foi arrasado através de golpes baixos, inclusive com o empre- go do Exército. Sob o disfarce de combate ao culto 4 persona- lidade, Kruschov e seus sequa- zes enlamearamasobras ¢ a me- méria daquele que esteve A frente do partido e do Estado durante um longo periodo de construg&o do socialsimo, que havia conduzido a Unio Sovié- tica, de vitoria em vit6ria, a uma situagdo invejavel. Stalin, depois de Lénin, foi a figura mais destacada ¢ brilhante da Revolucdo Proletaria. Teorico e pratico de grande merito, soube orientar-se com acerto nas cir- cunstancias mais adversas, pre- ver os acontecimentos e sortear todos os obstaculos 4 marcha da revolucao. Kruschoy e sua camarilha, as- sim procedendo, abriam 0 ca- minho para o retorno ao capita- lismo, para a difusdo do revisio- nismo contemporaneo. O XX Congresso do PCUS, em 1956, foi um marco na esca- lada da traicao. Elaborou uma linha oportunista que afetava 0 movimento operario ¢ comunis- ta mundial. De acordo com essa linha, a revolugdo deixava de ser 0 centro da estratégia revo- lucionaria. Seu lugar passava a ser ocupado pelas proposigoes de tipo pacifista: 0 caminho pa- cifico, parlamentar; a competi- Sho pacifica; ¢ a coexisténcia pacifica kruschoviana. O argu- mento para justificar essa mu- danca era 0 aparecimento na arena internacional de uma no- va correlacio de forgas fayora- vel arevolucao. Argumento in- coerente porque se a revolucdo torara-se mais forte nao havia razdo para abandonar a senda até entao seguida que lhe gran- jeara poderio, Ihe assegurara grandes vitorias, e buscar outra trilha na qual as foreas progres- sistas ingressariam enrolando as bandeiras revolucionérias. Essa linha oportunista trans- formava as vanguardas do pro- letariado em destacamentos so- cialdemocratas, nacionalistas. ‘Ao invés de partidos combativos, Principles 9 temperados na luta de clas- ses, capazes de fazer a revolu- do € conquistar o poder politi- co, passavam a ser agrupamen- tos destinados 4 colaborac&o com a burguesia, sustentaculo do capitalismo. Em congressos posteriores, 0 PCUS fundamentou toda uma doutrina antileninista, uma su- posta nova via para o comunis- mo na URSS. Semelhante dou- trina consagrava a liquidagio do Estado de ditadura do prole- tariado cuja existéncia os classi- cos do marxismo-leninismo re- putavam indispensavel, até a passagem ao estagio do comu- nismo. Para substitui-lo, os re- visionistas indicavam um pre- tenso Estado de todo 0 povo. Desaparecia também o carater proletario do Partido. Este se convertia numa organizacao sem cunho social definido, 0 Partido de todo 0 povo. Palmilhando o caminho da traicdo, Kruschov, Brezhnev et caterva nunca deixaram de ace- nar com a bandeira leninista, de dizerem-se partidarios do co- munismo, defensores do Estado socialista. Ainda agora t&m o despudor de comemorar cinica © pomposamente a passagem do sexagésimo aniversario da revo- luo que renegaram ha mais de vinte anos. Sua conduta é de uma hipocrisia sem limites. E is to no € acidental. Eles sabem que o leninismo e 0 comunismo penetraram na consciéncia das massas. Precisam manter_ no rosto a mascara de leninistas para enganar os trabalhadores. Do contrario, seriam enxotados como porcos imundos dos pos- tos que ocupam. Mas essa mas- cara ndo poder se manter por muito tempo, deteriora-se cada vez mais. Chegara o dia em que os farsantes sairao a forca da cena politica. Seréo amontoa- dos como residuos despreziveis nas lixeiras da Historia. Tornaram-se evidentes as de- sastrosas conseqiiéncias da vira- gem empreendida na URSS. AONDE CONDUZIU — ALINHA OPORTUNISTA Passadas duas décadas desde que Kruschov e seus apanigua- dos adotaram o revisionismo, pode-se ver com clareza aonde conduziram os ataques a Stalin € ao marxismo-leninismo, aon- de levou a linha oportunista do XX Congresso do PCUS. Leva- ram a negacdo total da Grande Revolugao Socialista de Outu- bro, a divisao e ao esfacelamen- to do movimento operario e co- munista mundial. Um sulco de lama ¢ sangue, um montao de vilezas e traiges deixou o krus- chovismo nos paises outrora so- cialistas ¢ no antigo movimento proletario. Como a peste que contagia, o revisionismo con- temporaneo enfermou boa par- te do organismo antigamente revolucionario, Ate a morte de Stalin, os po- vos de todo o mundo podiam contar com o apoio € a ajuda desinteressada da Uniao Sovi tica, Moscou era a capital do mundo proletario-revoluciona- tio, Os explorados e oprimidos acreditavam na URSS, em Sta- lin, no PCUS. E sentiam como suas as vitorias obtidas na cons- trugo do socialismo. Hoje, em parte alguma predominam tais sentimentos. A Unido Soviética de pais socialista transformou- se numa superpoténcia social- imperialista em disputa, com os Estados Unidos, da hegemonia mundial. O Exército Vermelho, de tradicdes libertadoras, pas- sou a tropa de ocupacao de pai- ses vizinhos e peca fundamental do agressivo Pacto de Varsovia. Em vez de baluarte da revolu- ao, a URSS € agora um esteio da contra-rev slugao. Onde es- tende suas garras, ameaca a in- dependéncia nacional, implanta a espoliacao imperialista, esta- belece bases militares. O inter- nacionalismo foi _substituido pelo nacionalismo feroz, chovi- nista, de grande poténcia Atualmente, nZo so os povos que se voltam para a Unido So- viética, mas governos reaciona- tios € antipopulares em busca de “ajuda”, de investimentos, de negécios armamentistas, de entendimentos destinados a’ es- vaziar © movimento revolucio~ nario — da mesma forma que se dirigem aos Estados Unidos, a Franca, 4 Alemanha, a Ingla- terra, ao Japao. A grande maioria dos antigos partidos proletarios, fundados sob a égide da III Internacional, que chegaram a ser partidos de massas, prestigiosos, dirigentes respeitados da luta pela revolu- go nacional ¢ social em seus paises, converteram-se em oportunistas de alto bordo. O revisionismo sovietico forneceu a base teorica ¢ ajudou politica- mente essa conversio. Adap tando-se 4s proposi¢oes pacifi cas de Kruschoy, evoluiram com rapidez para posicoes re- formistas, social-democraticas, nacionalistas e¢ chovinistas. Abandonaram a linha proleta- ria, como linha supostamente dogmatica, e adotaram uma orientac&o burguesa, de colabo- racao de classes. Hoje, sao des- carados bombeiros da luta so- cial, os mais ardentes defenso- res do capitalismo, fabricantes de formulas miraculosas para salva-lo da derrocada final. O movimento operario e co- munista mundial cindiu-se pro- fundamente. Na atualidade, representado pelos Partidos que se mantém fiéis a0 marxismo-le- ninismo — que resistiram 2 li- nha kruschovista ou se recons- tituiram na luta contra o revi- sionismo contemporaneo. Os Partidos que seguiram as teses revisionistas nZo podem de ne- nhuma maneira manter lacos estreitos, internacionalistas consegiientes, e tracar de modo independente objetivos comuns porque isto entra em choque com os interesses nacionalistas que eles representam e defen- dem. Cada um deles, servical da burguesia de seu pais, atua se- gundo as conveniéncias dessa burguesia. Os soviéticos esfor- gam-se para manter a aparéncia No Smoini conversando com soldados da Guarda Vermelha Princiiios u de unidade entre tais partidos. Periodicamente, convocam reu- nides ¢ tiram documentos con- juntos. Mas essas reunides ¢ ¢s- ses documentos, ao contrario da unidade, revelam as profun- das divergéncias existentes, em particular, entre os partidos di- tos comunistas dos paises impe- rialistas e o da Unido Soviética. Um dos resultados mais cho- cantes da perfidia kruschovista foi a reabilitacdo dos traidores da causa proletaria. A chamada comunidade socialista, Krus- choy, Brezhnev e seus parceiros trouxeram — como nao podiam deixar de fazer — os renegados do socialismo. Ja em 1954, as- tuciosamente, Kruschov rein- troduzia Tito nas fileiras inter- nacionais do proletariado. “Querido camarada Tito’, com essas palavras ele iniciava a recuperagdo de um agente des- carado do imperialismo, que destruiu o Partido na lugosla- via, fuzilou revolucionarios au- ténticos ¢ fez, antes que nin- guém, seu pais abandonar o so- cialismo e retroceder para 0 ca- pitalismo. Desde entao, a apro- ximacao a Tito passou a ser in- dice esclarecedor para se avaliar com seguranca a conduta dos que se afastam do caminho re- volucionario. Seguiram-se ou- tras reabilitacdes, como a de Gomulka na Polonia, oportu- nista e nacionalista empederni- do gue a classe operaria polone- sa teve de escorragar alguns anos depois de entronizado pe- los soviéticos. As complicadas acrobacias li- terarias de Brezhnev, Suslov e cia. tentando impressionar co auditorio sovietico e mundial sobre falsos éxitos conseguidos com a linha revisionista, nao conseguem esconder a dura rea- lidade. Tal linha conduziu a fracassos evidentes, a corrup- go da consciéncia de classe de boa parte do proletariado, a re- negacao do movimento revolu- cionario, A transformacao de paises socialistas © de partidos perarios em seguidores do ca- inho capitalista. Tudo isto vem reforcar ainda mais a conviccdo dos revolucio- narios proletérios da justeza do caminho de Outubro, -impde a necessidade de sua defesa para tomar vitoriosos os ideais do comunismo ~OUNICO E VERDADEIRO CAMINHO- Ainda que os revisionistas e oportunistas tenham maculado com seus ataques, suas infamias ¢ deturpacées a revolucdo ¢ o socialismo, € impossivel obscu- recer 0 esplendor da Grande Revolugao Socialista de Outu- bro. Ela continua indicando o imico e verdadeiro caminho pa- Ta a emancipacdo da classe ope- raria, para a construcao da so- ciedade sem classes — a socie- dade comunista. Os ensinamentos de Lénin e de Stalin, gigantes do pensa- mento e da acao revoluciona- tios, 0 exemplo do periodo de efetiva construcao do socialis- mo na URSS, permanecerao eternamente vivos, incutindo audacia e espirito de decisao a todos que anelam o término da exploracao e da opresstio, que desejam enterrar definitivamen- te 0 apodrecido sistema capita- lista em suas diferentes formas. O caminho de Outubro estara sempre na ordem do dia ate que essa magna tarefa tenha sido cumprida em todo o mundo. Outubro @ o caminho prole- tario-revolucionadrio em seus miltiplos aspectos — o da luta de classes conseqiiente; o da edificacao de um verdadeiro partido revolucionario; 0 da elaboracao e aplicacdo de uma estratégia e tatica marxista-leni- nista; o da incompatibilidade e irreconciliabilidade com o oportunismo de todo 0s tipos; 0 do internacionalismo coerente; © da construcao do socialismo apoiado nas proprias forcas. ‘Ao adquirir consciéncia de sua miss&o historica, a classe operaria organiza-se ¢ luta de modo independente para derru- bar o capitalismo, destruir sua maquina estatal e criar 0 Estado de ditadura do proletariado. Recorre & violencia, imnico meio de lograr seus fins. Até hoje, a vida demonstrou nao existir ou- tra maneira de alcancar a eman- cipaeio social. A via pacifica, reformista, da ‘‘paz social” e colaborago de classes ajuda a manter o sistema capitalista, a decompor 0 movimento revolu- cionario. Para dirigir com acerto e até o fima luta por sua total eman- ipagao ¢ para livrar toda a so- ciedade da exploragao do ho- mem pelo homem, a classe ope- raria necessita de um Partido efetivamente revolucionario, que se oriente pelo marxismo- Ieninismo. Esse Partido nao tem nada de comum com os partidos sociais-democratas ou revisionistas, que sao partidos burgueses com etiquetas prole- tarias. O auténtico Partido Co- munista € a forma superior de organizacao do proletariado, estreitamente vinculado a sua classe ¢ as massas populares. Em suas fileiras ingressam tao somente as pessoas de vanguar- da, comprovadas na luta. Rege- se pelo centralismo democratico — que € o oposto do centralis- mo-burocratico dos partidos oportunistas — ¢ por uma disci- plina consciente, obrigatéria para todos os seus membros. Tal partido revolucionariza per- manentemente suas fileiras, nao da margem a burocratizacéo nem admite em seu scio corren- tes diversas portadoras de con- cepcdes nao-proletarias. Tendo como guia a ciéncia social mais avancada, o proleta- tiado elabora e aplica uma es- tratégia e tatica revolucionaria que lhe permita cumprir com éxito sua miso histOrica. Lé- nin formulou uma correta es- tratégia e levou a pratica uma ttica rica de ensinamentos, ampla e revolucionéria. Ampla sem ser seguidista, capaz de agrupar as grandes massas des- contentes em torno das bande’ ras do Partido; revolucionaria sem ser aventureira, apta a cle- 12 var a consciéncia de classe dos trabalhadores © conduzi-los a tomada do Poder. A estratégia ea tatica revisionista — da via parlamentar, da competicao pa- cifica, da coexisténcia pacifica kauschoviana — serve 4 manu- tengao do capitalismo. Tam- bém a teoria dos Trés Mundos, difundida como inovacao cria- dora, contiibui para sustentar a ordem capitalista, submete o proletariado aos interesses das forcas reacionarias. No plano mundial, nao podem existir duas, trés estratégias proleta- rias. Nem apenas uma a servico de um ou de alguns paises. Nao seriam reyolucionarias, mas burguesas em toda a extenséo da palavra. A orientacdo justa, marxista-leninista, é internacio- nalista conseqiiente, revolucio- naria nas palayras ¢ nos atos, afiancadora da unidade de pen- samento e de acao do proleta- riado mundial. E impossivel garantir a uni- dade de pensamento e de acao e tomar vitoriosa a revolucao — como indica o exemplo de Ou- tubro de 1917 — sem 0 combate intransigente aos oportunistas de todo género. O oportunis- mo, seja sob a forma do revisio- nismo, do reformismo, do so: al-democratismo, etc, @ mani- festacao da ideologia burgues: 0 germe desagregador das fil ras proletarias. E incompativel e antagénico com os interesses da classe operaria. Marx e En- gels, Lénin ¢ Stalin combateram sempre e ardorosamente todas as tendéncias oportunistas, con- vencidos de que esse era um meio eficaz de fazer avancar as idéias revolucionarias e de asse- gurar o carater classista do mo- Vimento operario © comunista. Todos os oportunistas, defen- dendo suas posigdes antiprole- tarias, consideram o combate aos seus pontos de vista errd- neos como intransigéncia ¢ sec- tarismo. Na atualidade, jul- gam-no disparatadamente ‘co- mo “esquerdismo”’ stalinista, blanquismo ¢ até mesmo trots- quismo. Sua visdo ¢ deformada pela otica direitista com a qua! enfocam as criticas dos auténti- cos marxistas-leninistas. Pouco importa, todavia, sua maneira de reagir. E imprescindivel re- velar toda a podridao de suas concep¢oes, sobretudo porque se cobrem impudentemente com os nomes de Marx e En- gels, de Lenin e de Stalin. O que e alheio ao marxismo-leninismo deve ser atacado sem contem- plagdes. Isto faz parte da luta revolucionaria contra o impe- rialismo e a reacdo. Os verdadeiros marxistas-le- ninistas nfo podem manter-se indiferentes ou neutros em face das posicées de direita que sur- jam em qualquer pais no seio do proletariado, Porque embo- ta sendo nacional na forma, o movimento operario e comunis- ta € internacional pelo seu con- tetido de classe. O proletariado mundial, conscio de sua missio libertadora, constitui um so destacamento de luta, alinhado numa vasta frente de batalha contra o capitalismo. O interna- cionalismo proletério é funda- mental para garantir a unidade e a ajuda miutua entre os dife- rentes agrupamentos da classe operaria de modo a possibilitar a vitoria da mesma causa, da causa universal da ditadura do proletariado. O auténtico inter- nacionalismo forja uma linha comum de atuagao, baseada na variedade de situacdes concre- Revolusio Socialista de Outubro Prineiplos 43 tas de cada pais ¢ de cada Parti- do, fundando-se no interesse nico do proletariado como forga social antag6nica @ bur- guesia. Todos os trabalhadores so chamados a cerrar fileiras em defesa dos paises socialistas. E estes nao podem deixar de apoiar a acao e os partidos re- volucionarios em qualquer par- te do Globo. Lenin indicava que ser internacionalista era fa- zer 0 maximo do que se possa realizar num so pais (onde triunfou a revolugdo) para asse- gurar 0 desenvolvimento, 0 apoio, o despertar da revolugdo em todos os paises. Os denomi- nados caminhos nacionais, es- pecificos, para o socialismo, se- guidos em paises que abando- naram o internacionalismo, de- ram como resultado a transft magao desses paises em ‘“ndo- alinhados’’, ‘‘neutralistas’’, “terceiromundistas’’, ctc. No caminho de Outubro, ul aterm te LEST) Pesannouns Baap BCEA EM 44 Amigos inseparaveis destaca-se como questao essen- cial a construcdo da sociedade socialista. Essa construcdo so tera éxito se for dirigida pelo partido do proletariado, arma- do da doutrina marxista-leni- nista, e se se apoiar fundamen- talmente nas préprias forcas. As traigées titista, soviética ¢ outras ja demonstraram o quanto é perigoso afastar-se da rota leninista no cumprimento dessa tarefa. Sob 0 pretexto de inovar e de corrigir erros ficti- cios, os revisionistas ingressa- tam'na senda do capitalismo, acobertado pelas antigas for- mas socialistas. Surgiu uma no- va classe que usufrui da mais valia produzida pelos opera- rios. Enquanto na Unido Sovié- tica a grande massa do proleta- tiado leva uma vida modesta, os burocratas, os administrado- res, os técnicos, os oficiais su- periores das Forcas Armadas gozam de privilégios, de altas remuneracdes, do conforto bur- gues. Na Iugoslavia, ha mais de 700 mil desempregados ¢ a in- flagdo reduz o nivel de vida dos que trabalham. Mas Tito ¢ seus iguais vivem a tripa forra. Apos a vitoria sobre o capitalismo, ha sempre a possibilidade de um retorno ao sistema de explora- (a0. Por isso, faz-se indispensa- vel manter em toda a plenitude a ditadura do proletariado, re- volucionarizar permanentemen- te a sociedade, combater 0 bu- rocratismo e exercer 0 controle operario. Impée-se reduzir gra- dualmente as diferengas essen- is entre a cidade e 0 campo, entre o trabalho manual eo in: telectual, no permitir que flo- rescam as desigualdades acen- iuadas de salarios. Necessario ¢ também, como sublinhava Lé- nin, que os Partidos operarios no Poder prestem contas ao seu povo ¢ @ classe proletéria mun- dial, do trabalho que realizam, dos exitos ¢ das dificuldades, fornecendo dados e elementos que permitam uma apreciacaio da marcha da edificagéo socia- lista, Na Unido Soviética e em outros paises revisionistas os dados reais e de conjunto da vi da econdmica, social e partid ria so omitidos ou falseados para impedir que a classe opera- ria tome conhecimento da gui- nada para o capitalismo. Somente 0 caminho de Outu- bro abre horizontes revolucio- narios, enriquece 0 marxismo- leninismo, alimenta de idéias transformadoras da sociedade 0 espirito combativo das massas proletarias. Sessenta anos se passaram desde a faganha imortal do pro- letariado russo, dirigido por Lé- nin e pelo herdico Partido dos bolcheviques. Este grandioso feito continuara inspirando os trabalhadores de todos os Con- tinentes. As forcas revoluciona- rias, com os marxistas-leninis- tas a frente, persistirao no rumo indicado pela Grande Revolu- ¢&o Socialista de Outubro. Nin- guem conseguira impedir a 15 marcha inexoravel da sociedade atual para o socialismo cientifi- co. A bandeira invencivel de Marx, Engels, Lénin e Stalin ja- mais sera enrolada. Hoje ela es- ta nas maos firmes dos comba- tentes de vanguarda, na Albania socialista e em todos os rinc6es do mundo onde se combate pela libertag4o nacional e social dos povos. Viva a Grande Revolucdo So- cialista de Outubro! Marxismo Doutrina viva e cientifica « Lénin * Titulo da redagdo de PRINCIPIOS. Publicado originalmente sob 0 fi- tulo “Algumas particularidades do desenvolvimento hist6rico do mar- xismo” no “Zvezda”, numero 2, de 23 de dezembro de 1910. Extraido de OBRAS COMPLETAS, Vol. XVII, Ed. Akal — Madri — Espanha. Principios 17 Nossa doutrina nao é um dogma, mas um guia para a agao Nossa doutrina — disse Engels em seu nome ¢ no de seu ilustre amiga — nao é um dogma, mas um guia para a acdo. Esta tese clas- sica sublinha com notavel vigor forga de expressdo um aspecto do marxismo que freqiientemente se perde de vista. E a0 perdé-lo de vista, fazemos do marxismo algo unilateral, disforme, morto, arran- camos sua alma viva, minamos suas bases teOricas cardeais: 2 dia- lética, a doutrina do desenvolvi- mento histérico multilateral e cheio de contradigdes; debilitamos sua ligagao com as tarefas praticas determinadas da época, que po- dem mudar com cada nova vira- gem da historia. E em nossos tempos, entre os que se interessam pelos destinos do marxismo na Rissia, encontra-se amide gente que perde de vista justamente esse aspecto do marxis- mo. Mas deve estar claro para to- dos que nos ditimos anos a Rissia passou por mudangas muito brus- cas, que modificaram com rapidez e forca extraordinarias a situacao, a situacdo politica e social, que é a que determina de mancira directa ¢ imediata as condigses da acto e, por conseguinte, as tarefas da aco. Nao me refiro, é claro, as ta- refas gerais e fundamentais, que nao mudam com as viragens da historia se nao muda a correlacao fundamental entre as classes. E de uma eyidéncia absoluta que essa tendéncia geral da evolueao econd- mica (¢ nao s6 econémica) da Ris- sia nao alterou a correlacao funda- mental entre as diversas classes da sociedade russa, Mas as tarefas da acdo imediata e direta sofreram neste periodo uma mudanca muito profunda, porquanto mudow a situacao poli- tica e social concreta; por conse- guinte, também no marxismo, co- mo doutrina viva, no podiam dei- xar de passat a primeiro plano tintos aspectos dele. No marxismo, como doutrina viva, nado podiam deixar de passar a primeiro plano distintos aspectos dele. Para aclarar esta idéia, observe- ‘mos quais foram as mudangas con- cretas da situaco politica e social nos tiltimos seis anos. Diante de 1nOs se destacam em seguida os dois uriénios em que se divide esse pe~ riodo: um, que termina até overdo de 1907; o outro, no verdo de 1910, Do ponto de vista puramente teér £0 0 primeiro trignio se distingue pelas rapidas mudancas nas carac- teristicas fundamentais do regime politico da Riissia, com a particu laridade de que a marcha dessas mudaneas foi muito desigual, a amplitude das oscilacdes foi muito grande para ambos os lados. A ba- se econdmica e social dessas mu- dancas da ‘‘superestrutura’’ foi a acao de todas as classes da socieda- de russa nos terrenos mais diversos (atividade na Duma e fora da Du- ma, na imprensa, nas associacoes, nas reuniGes etc), uma aco {20 aberta, imponente ¢ massiva como poucas vezes registra a historia. Pelo contrario, 0 segundo trié- nio se distingue — repetimos que nos limitamos ao ponto de puramente tedrico, ‘‘sociologico’” — por uma evolucdo tao lenta, que quase equivale ao estancamento, Nenhuma mudanga mais ou menos apreciavel no regime politico. Ne- nhuma ou quase nenhuma acdo aberta e ample das classes na maio- tia dos “‘campos” em que durante 0 periodo precedente esas acdes se desenvolveram. A semelhanca de ambos os pe- riodos esté em que a evolucao da Rissia foi, no curso de um e do ou- tro, como o era anteriormente, uma evolucdo capitalista, A con- tradigao entre esta evolucao econd- mica e a existéncia de numerosas instituigdes feudais, medievais, nao desapareceu, manteve se de pé sem atenuar-se, porém agravada pelo fato de que certas instituigées assumiram parcialmente um cara- ter burgues. A média e a grande burguesla, situadas numa posi¢ao de um liberalismo mais ou menos moderado, temiam as mudangas A diferenga entre os dois perio- dos € que, no primeiro, figurava ‘em primeiro plano o problema de qual ia ser 0 resultado das mudan- gas rapidas ¢ desiguais menciona- das antetiormente. O contetdo dessa mudancas, em virtude do ca- rater capitalista da evolugao da Rissia, tinha que ser necessaria- mente, burguas. Mas ha burguesia ¢ burguesia. A média ¢ a grande burguesia, situadas numa posi¢ao de um liberalismo mais ou menos moderado, temiam, por sua prd- pria situacao de classe, as mudan- as bruscas ¢ tratavam de conser- var importantes remanescentes das velhas instituigdes, tanto no regime bruscas. agrario como na “‘superestrutura”? politica. A pequena burguesia ru- ral, entrelagada com 0 campesina- to que vive “‘do trabalho de suas méos’’, devia aspirar forcosamen- te a outro género de reformas bur- guesas, nas quais fica muito menos espago as sobrevivéncias medie- vais. Os operarios assalariados, en- quanto mantinham consciente- mente uma atitude em face do que ocorria ao seu redor, nao podiam deixar de adotar ume posi¢ao defi- nida a respeito dese choque de duas tendéncias distintas, que, cir- cunscritas ambas no regime bur- gués, determinavam nao obstante formas totalmente distintas de tal regime, velocidades totalmente dis- tintas em seu desenvolvimento © distinto grau de sua influéncia pro- gressista. Assim, pois, a época do trignio passado colocou em primeiro pla- no, no por casualidade, mas ne- cessariamente, os problemas do marxismo que podem ser chama- dos problemas de tatica. Nada é mais errneo do que a opinitio de que as discussdes e divergéncias so- bre essas questdes erm disputes “de intelectuais””, uma “luta pela influéncia sobre o proletariado nao maduro", uma express’o da “adaptagio dos intelectuais a0 proletariado’’, como pensam os de foi precisamente por que esta clas- se tinha adquirido maturidade, que no pdde permanecer indiferente diante do choque das duas tendén- cias distintas no desenvolvimento burgués da Rissia, ¢ os idedlogos dessa classe ndo puderam evitar ex- por as formas tedricas correspon- dentes (de maneira direta ou indi- reta, como reflexo direto ou inver- so) a essas tendéncias distintas. No segundo triénio, 0 choque das tendéncias distintas do desen- volvimento burgués da Russia néo estava na ordem do dia, porque ambas foram esmagadas pelos ul- tra-reacionarios, obrigadas a retro- ceder, empurradas para dentro, ce- Jadas durante certo tempo. Os ul tra-reacionarios medievais no s ocuparam o primeiro plano, mas também inspiraram nas mais am- plas camadas da sociedade burgue- sa 0s sentimentos propagados pe- los de ‘Veji”, 0 espirito de abati- mento e de recuo. Nao foi o choque entre os dois métodos de transformacao da ve- Iha ordem 0 que apareceu a super- ficic, mas a perda da fe em qual- quer transformacao, o espirito de “‘submissao", de “‘arrependimen- to”, um entusiasmo pelas doutri- as anti-sociais, a moda do misti- cismo ete. A época do triénio passado colocou em primeiro plano os problemas do marxismo que podem ser chamados problemas E esta mudanga surpreendente- mente brusca nao obedece a casua- lidade, nem € resultado apenas da pressdo ‘‘de fora’’. A época ante- rior tinha agitado (0 profunda- mente camadas da populacio que por geracdes, durante séculos, ti- nbam estado afastadas, tinham es- tado atheias as questdes politicas, que se tornou natural e inevitavel uma “‘reavaliacao de todos os va- lores”, um novo estudo dos pro- de tatica. blemas fundamentais, um novo in- teresse pela teoria clementar, 0 abecé da politica. Os milhdes que se despertaram de pronto do seu longo sono ¢ se depararam com problemas importantissimos, nao puderam manter-se muito tempo nessa altura. Nao podiam conti- nuar sem uma pausa, sem voltar as questdes clementares, sem uma no- va preparac&o que Ihes ajudasse a “édigerir’” 0s ensinamentos, sem precedentes por seu valor, e a tor- nar possivel a uma massa incompa- ravelmente mais ampla marchar adiante novamente, mas agora de modo muito mais firme, mais consciente, mais seguro e com maior conseqténcia. A dialética do desenvolviento historico tem sido tal, que no pri- meiro periodo estava na ordem do dia a realizacao de reformas ime- Prineinles 19 diatas em todos os aspectos da vida do pais, e no segundo, o estudo da experiéncia adquirida, sua assimi- lacio por camadas mais amples, sua penetracdo, se se pode expres- sar assim, no subsolo, nas fileiras atrasadas das diversas classes. Precisamente porque o marxis- mo nao 6 um dogma morto, nao ¢ uma doutrina acabada, pronta, imutavel, mas um guia vivo para a aco, ndo podia deixar de refletir em sia mudanea assombrosamente brusca das condicGes da vida so- cial. Esta mudanca se refletiu nu- ma profunda dispersdo, divisio, em vacilagdes de todo ‘tipo, em uma palavra, numa crise interna Nao foi o choque entre os d sumamente séria do marxismo. A resistencia decidida a essa desagre- gacdo, a luta resoluta e tenaz em prol dos fundamentos do marxis- mo foi novamente posta na ordem do dia. Na época anterior camadas extraordinariamente amplas das classes que néo podem prescindir do marxismo ao formular suas ta- refas, o haviam assimilado de mo- do unilateral ¢ mutilado, apren- dendo de meméria certas “‘consia- nas”’, certas solucdes para os pro- blemas taticos, e sem compreender 08 critérios marxistas para essas so- lugdes. A “‘reavaliagdio de todos os valores” nas diversas esferas da vi- da social conduziu & “revisa0” dos fundamentos filosdficos mais abs- tratos e gerais do marxismo. A in- flugncia da filosofia burguesa em seus mais diversos matizes idealis- tas encontrou expressdo na epide- mia machista(*) que eclodiu entre os marxistas. A repeticao de “‘consig- nas” aprendidas de meméria, mas nao compreendidas nem medita- das, conduziu a uma ampla difu- séo da fraseologia oca concretizada na prética em tendéncias que nada tém de marxistas, em tendéncias pequeno-burguesas como 0 ‘‘otzo- vismo” franco ou envergonhado, ou como 0 reconhecimento do “‘ot- zovismo"’ como “‘matiz legitimo’’ do marximo. métodos de transformac¢ao da velha ordem o que passou & superficie, mas a perda da fé em qualquer transformagao, o espirito de “submissao”, de “arrependimento”, um entusiasmo pelas doutrinas anti-sociais, a moda do misticismo etc. Por outro lado, 0 espirito dos de ““Veji"’, 0 espirito de reniincia, que abarcou as mais amplas camadas da burguesia, penetrou também na tendéncia que trata de enquadrar a teoria € 0 trabalho pratico marxis- tas no leito da ‘‘moderagao e da es- crupulosidade”. Do marxismo nao testa ai nada mais que a fraseolo- gia com que se revestem esses ra- ciocinios sobre “‘hierarquia”’, ‘‘he- gemonia”, etc., completamente im- pregnados com o espirito liberal. Este artigo ndo tem o propésito de analisar esses raciocinios. Uma breve referéncia aos mesmos é sufi- ciente para ilustrar tudo 0 que se disse com referéncia 4 profundida- de da crise pela qual atravessa 0 marxismo, e sua relaedo com toda a situacao econdmica ¢ social no periodo atual. Nao & possivel se es- quivar dos problemas que essa cri- se coloca. Nada pade ser mais per- nicioso ¢ sem principios que deixa- los de lado valendo-se de frases. ‘Nada é mais importante que reunir todos os marxistas que compreen- deram a profundidade da crise ¢ a necessidade de combaté-la, em de- fesa dos fundamentos tedricos do marxismo e suas teses basicas, des- figurados desde os pontos de vista mais opostos ao estender-se a in- fluéncia burguesa entre os diversos “‘companheiros de viagem’ do marxismo. A resisténcia decidida a essa desagregacao, a luta resoluta e tenaz em prol dos fundamentos do marxismo foi novamente © triénio precedente despertou camadas tao amplas para a partici- pacdo consciente na vida social que so muitos os que, pela primeira vez, comecam agora a conhecer 0 marxismo. A imprensa burguesa posta na ordem do dia. fomenta nesse sentido, muito mais que antes, os equivocos e os difun- de com muito mais amplitude. A desagregacZo do marxismo @ parti- cularmente perigosa nessas condi- ¢6es. Por isso, compreender as ra- 20es que tornam inevitavel essa de- sagregac4o nos tempos que atra vessamos € nos unirmos para combaté-la conseqiientmente €, no sentido mais direto e exato da pala- vra, a tarefa do momento para os marxistas. * Refere-se a Emst Mach (1836-1916) — fisico © ivo, um dos fundadores do empiriocr lista subje }s0fo austriaco, idea: icismo, que Lénin sub mete 2 demolidora refutacao em “Materialismo e Empiriocriticismo”. A PILHAGEM FINANCEIRA : TRACO DO IMPERIALISMO NOS DIAS ATUAIS * Haroldo Lima ** * Parte de um estudo fF publicado elo autor eaace. 1 do Partido comune do Brasil a AssembIéia Nacional Constituinte. Primi OS 21 A divida externa brasileira na atualidade o insirumento mais efe~ tivo ¢ brutal pelo qual o capital es- trangeiro saqueia 0 Brasil. E 0 da- do mais flagrante da dependéncia de nosso pais ao exterior. O problema atinge diversos pai- ses que, por causa destas dividas, esto impedidos de se desenvolver. Alguns ja sc acham privados da autodeterminacao ou estado com suas soberanias aviltadas. A divida externa nao ¢ um fend- meno novo. Existe desde os pri- mérdios do capitalismo. Apresen- ta, contudo, nas décadas recentes, conotacao particular de excepcio- nal importancia. Os que se colocam no terreno cientifico da andlise econdmica buscam situar problema da divi da no contexto geral da economia capitalista mundial. Para tanto € necessario. reportar-se A andlise marxista do capital e, a partir dai, acompanhar o desenvolvimento dos fatores que caracterizam as di- vidas externas atuais. Da livre concorréncia ao Monopolio Em 1867 Marx publicou o Livro Ide O CAPITAL. Nas décadas de 60 € 70 do stculo XIX 0 capitalis- mo competitivo atingiu o seu de- senvolvimento maximo. Embora antes de 1860 ja se registrasse a existéncia de monopolios capitalis- tas, foi no final do século XIX eno inicio do século XX que ''os cartéis se converteram em uma das bases de toda a vida econémica”’, ¢ 0 “‘capitalismo se transformou em imperialismo” (Lénin, ““O Impe- rialismo, Etapa Superior do Capi- talismo”). (1) Com esta obra de Lénin, publi cada em 1916, 0 pensamento mar- xista_ desenvolveu-se, acompa- nhando a evolucao que se efetivara na base econdmica da sociedade. Enquanto ‘‘O CAPITAL”, de Marx, expe em profundidade as Ieis gerais do capitalismo, em “O IMPERIALISMO...” Lénin iden- tifica, SO anos depois, as particula- ridades da etapa superior, mono- polista, do préprio capitalismo. Hoje, transcorridos mais de 70 anos desta publicagao, a base eco- némica monopolista do sistema permanece a mesma em suas linhas gerais. Vivemos, ainda, a época do imperialism estudada por Lenin. E por isso que sua obra apresenta espantosa atualidade. Mas o capitalismo, hoje, adqui- riu também importantes particula- ridades. Uma delas é a forma que iomou € 0 papel que passou a ter a divida externa, como um dos me- canismos primordiais da espoli 40 imperialista. Monopolio e Capital financeiro surgimento de nova etapa no capitalismo — a etapa imperialista — comega com a concentragao da produg’o e do capital. Assim criam-se 05 monopélios. No setor industrial, a concentracao da pro- duclo leva ao aparecimento do ca- pital monopolista industrial; e no setor bancario ocorre fenémeno equivalente. A fungdo originaria dos bancos era a_intermediacao dos pagamentos. Uma Fungo se- cundaria. A medida que a econo- mia mundial foi se desenvolvendo © as operacdes bancarias se multi- (2) “O famoso truste do petroleo dos EUA, a Standard Oil Com- pany (ESSO) foi fundado em 1900”, documenta Lénin, 2 s 2

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