You are on page 1of 21
EPISTEMOLOGIAS NATIVAS BARRADAS PELA PRAXIS UNIVERSITARIA NATIVE EPISTEMOLOGIES BARRED BY TVERSITY PRAXIS Pedro Henrique da Silva (UEG) pedrohenriqueletrasufa@gmail.com hnttps://oreid.org/0000-0003-1122-3229 Bruno Rafhael Cesario Calassa (UFG) calassa(@hotmail.com https://oreid.org/0009-0004-0705-2572 RESUMO: 0 assunto deste trabalho é os saberes outros barrados pela praxis universitaria, Este trabatho tem 0 objetivo de refletir e discutir acerca da violéncia epistémica que alguns estudantes indigenas enfrentaram ao cursarem alguns cursos de mestrado académico no dmbito da Universidade Federal de Goids (UFG). Orientados pela perspectiva decotonial, analisamos a Resolucdo Consuni UFG n° 07/2015 para verificar se tal texto normativo assegura o direito de uso da epistemologia dos estudantes indigenas no ato da eserita das dissertacées. Empregamos a metodotogia da revisao bibliogréfica em conjunto com a andilise documental. Coneluimos que a Resolucdo Consuni UFG n° 07/2015 assegura o ingresso do corpo fisico dos estudantes indigenas, mas nao valida 0 corpo epistemoldgico dese grupo minoritario como conhecimento ciemtifico valido. Concluimos também que os Programas de Pés-Graduacao da UFG ainda néo conseguem estabelecer um real didlogo interepistémico capaz de minorar 0 poder colonialista exercido sobre as instituigdes de ensino brasileiras. PALAVRAS-CHAVE: resolugao Consuni UFG n° 07/2015; decolonialidade; epistemologia nativa; prévis universitéria ABSTRACT: The theme of this work is the other knowledge barred by university praxis. This work intends to reflect and discuss about the epistemic violence that some indigenous students faced while attending some academic master’s courses within the scope of the Federal University of Goids (UFG). From the decolonial perspective, we analyze the Consuni UFG Resolution No. 07/2015 10 verify whether such normative text ensures the right to use the epistemology of indigenous students when writing their dissertations, We used the methodology of bibliographic review in conjunction with documental analysis. We came to the conclusion that the Consuni UFG Resolution No. 07/2015 ensures the admission of the physical body of indigenous students, but does not validate the epistemological body of this minority group as Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 valid scientific knowledge. We also concluded that the Graduate Programs at UFG are still tunable to establish a real interepistemic dialogue capable of lessening the colonialist power exercised over Brazilian educational institutions. KEYWORDS: Conswni UFG resolution No. 01 university praxis 2015; decoloniality; native epistemology; J Introdugao A Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em 2002, destacou-se por ser a primeira instituigo de ensino brasileira a implementar mecanismos garantidores de acesso em seus cursos de graduagao a grupos socialmente inferiorizados. Tal pratiea é conhecida como politicas de ages afirmativas, Em 2003, foi a vez de a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UER) elaborar suas politicas de agdes afirmativas, sendo seguida pela Universidade de Brasilia (UnB), que, no mesmo ano, institucionalizou suas politicas e, ao mesmo tempo, consagrou-se por ser a primeira instituigio publica federal a regulamentar, de forma auténoma, ages de democratizagio de acesso e permanéneia para negros ¢ indigenas em seus cursos de graduacao, A Universidade Federal de Goi (UFG), em virtude de uma erescente mobilizagio interna dos movimentos sociais que almejavam iniciar processo de democratizacao da educagio superior publica, eriou, por meio da Resolugao n° 29/2008, o Programa UFGInelui para atender os estudantes negros, indigenas e quilombolas, assegurando-Ihes, assim, a reserva de vagas nos seus cursos de graduagdo, No intuito de ampliar a abrangéneia do processo de democratizacao das universidades piblicas, em 2015, a UFG aprovou a Resolugio Consuni UFG n° 07/2015*, documento que versa sobre ages afirmativas no ambito da pés-graduagio. Se, por um lado, nao ha controvérsias quanto a pritiea das agdes afirmativas, no se pode dizer que tais ages sto bem aceitas por determinados seguimentos sociais que, em seus discursos, intitulam-se como portadores legitimos do acesso ao ensino superior piblico. Ha tanto discursos que buscam legitimar o acesso as Instituigdes de Ensino Superior por parte de sujeitos que historicamente — em se tratando de Brasil - slo taxados como inferiores, quanto ha discursos contrarios. Conforme postulam os teéricos do discurso, com énfase nos trabalhos + Precisamos destacar que, no ato de escrita deste trabalho, © Conselho Universitério da Universidade Federal de Goi estava propondo altcragdes na Resolugdo Consuni UFG n° 07/2015. Para a construgdo deste trabalho, nos analisamos a ‘primeira’ versio da Resolugto, Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jan/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 derivados do Circulo de Bakhtin (1919-1929), como os de Barros e Fiorin (1994) ¢ de Fiorin (1988), € preciso identifiear com mais clareza as vozes ¢ ideologias em confionto sobre tal assunto, ou seja, os discursos favordveis a pritica de agdes afirmativas e os contririos. Fiorin (1988) chama a atengio para o fato de que a linguagem & a promotora da mediago entre os homens e os outros homens e entre o homem e a natureza, Além disso, a linguagem € 0 veiculo das ideologias, de modo que é possivel afirmar ser impossivel nao estar na arena de conffonto das ideologias que circulam na sociedade. Isso signifiea que, mesmo sendo consideradas um inestimavel ganho para os povos subjugados, as politicas de agdes afirmativas contém rastros dos discursos contritios a sua manifestagdo. Nesse sentido, entendemos que é necessirio refletir com mais perspicdcia acerca da aplicabilidade dessas politicas e, sobretudo, das epistemologias que subsidiaram a construgio das ages que promoveram a inelusio de grupos vulneriveis no ensino piblico superior. De nossa parte, entendemos que promover o ingresso fisico de negros, quilombolas ¢ povos originarios é diferente de garantir o ingresso da voz epistémica de que tais grupos de sujeitos sto portadores. Ha muitas pesquisas que foram desenvolvidas tendo como assunto geral as ages afirmativas no ambito das instituigdes piblicas brasileiras de ensino superior. A esse respeito, vale ressaltar as pesquisas desenvolvidas por Guarnieri e Melo-Silva (2007) por Iocélio Teles dos Santos (2012). Este, na condigdo de antropélogo, ocupou-se em investigar a visibilidade da produgio académica dos povos sub-representados, ao passo que aquelas, como psicélogas, objetivaram, em sua pesquisa, criar 0 que pode ser chamado de “embrionsria cartografia das vozes favordveis e contrarias as acdes afirmativas”. Orientados pelas recentes produgdes académicas de natureza decolonial, objetivamos, com este trabalho, refletir com mais agudeza acerea da Resolucdo Consuni n° 07/2015 da Universidade Federal de Gods, que trata das agdes afirmativas na pos-graduagao. A escolha de tal normativa, bem como de tal instituigdo especifica, deve-se ao fato de ser um local de nossa circulagdo. Nossas reflexdes gravitam ao redor da nogao de “apartheid epistémico”, conforme explica Rabaka (2010 qpud GROSFOGUEL, 2016, p. 28), softido pelos povos originarios que cursaram, recentemente, © mestrado nos Programas de Pés-Graduacio em Letras e Linguistica (PPGLL), Programa de Pés-Gradua¢ao em Antropologia Social (PPGAS) e Programa de Pés- Graduagio Interdisciplinar em Direitos Humanos (PPGIDH), todos da UFG. Tal reflexao iniciou-se, mais detidamente, a partir da leitura dos capitulos iniciais das dissertagdes de Gilson Ipaxi’awyga Tapirapé (Tenywaawi) (2020) e de Iranildo Arowaxeo’i Tapirapé (Kaorewygi) (2020). Segue parte do relato de Iranildo Tapirapé (2020) acerea da Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 relagio entre indigenes e nio indigenas em sala de aula durante um curso de pés-graduagio realizado na Faculdade de Histéria da Universidade Federal de Goiis: ‘Um dos fitos que nés percebemos, quando participdvamos das discussées nas aulas do Prof. Elias Nazareno, & que alguns dos nossos colegas de estudos de antropologia nao davan muita atengéo para as nossas opinides e pontos de vistas. Principalmente, quando falinamos das questées indigenas. Durante as nossas falas, eles ficavam cochichando entre eles, desrespeitando 0s nossos momentos de opinar nos asstntos, Apenas acreditamos que sd momentos e oporninidades de nds, enquamno [sic.] cestudantes Apvawa, representantes indigenas neste ambiente académico, colocarmos 05 nossos pensamentos, opinides e pontos de vistas, da maneira que nds engquanto[sie] indigenas pensamos, sentimos e percebemos os fatos, acaes ¢ os rmundos que existem em nossas voltas. Tanto € que no inicio das nossassic] aulas nesta disciplina @ que me refiro, ressaltamos diante deles que estudar no curso de ‘mestrado e junto com alunos maira (nao indigenas) era uma nova experiéncia para 1nés, assim como também para eles gue, pela primeira vez, estavam estudando com alguas alunos indigenas (TAPIRAPE, 1, 2020, p. $0, srifo n0ss0). \Vé-se, a partir do fragmento de Iranildo Tapirapé (2020), que os estudantes indigenas tém conscigncia de que sua posicao perante os fatos do mundo diferente dos maira. Nota-se, ainda, que eles no classificam 0s conhecimentos, nao atribuem valoragdes no sentido de hierarquizar os saberes, como € comum na sociedade dita civilizada. Seu ponto de vista € 0 de que a ciéncia dos ndo indigenas, em conjunto com os saberes indigenas, tem potencial para alavancar a produgio do conhecimento. Todavia, o relato de Iranildo Tapirapé (2020) também mostra que alguns marra nao consideram que a presenga dos indigenas possa agregar valor a0 mundo académico, o que pode ser considerado uma no aceitagio do conjunto epistemologico que tais seres possuem. ‘Nese sentido, considerando o universo da UFG como recorte, questiona-se: as politicas de democratizagio da pos-graduagao na UFG foram acompanhadas pela reestruturagio de suas 1s de matrizes curriculares e priticas pedagégicas capazes de promover a superagao dos desa incluso © permanéneia dos estudantes indigenas € 0 diilogo intercultural critico entre as diferentes epistemologias que atualmente permeiam esses espagos? No intuito de elucidar tal questo norteadora, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar e compreender, em perspectiva decolonial, como se constitui o eseopo das politicas afirmativas nos cursos de pos- graduagdo da UFG e, em que medida, essas agdes tém contribuido para minimizar ou acentuar as dificuldades relacionadas as diferengas linguisticas e epistemolégicas dos estudantes indigenas que ingressaram a instituigio apés a vigéneia da Resolugio Consuni UFG a? 07/2015. Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 De forma complementar, este trabalho tema intengo de analisar as natrativas e priticas académicas que versem sobre protec ao enfrentamento das desigualdades sociais, linguisticas ¢ epistemolégicas dos estudantes indigenas, a fim de identificar possiveis contradigaes frente 0s desafios & efetiva democratizagio do acesso e da permanéneia dessas vozes que sto discriminadas, como apontado no excerto de Iranildo Tapirapé (2020), Metodologicamente, partimos de uma anélise que problematiza 0 contetdo da Resolugiio Consuni UFG n° 07/2015 pretos, pardos e indigenas (PPI) no sistema de Pés-Graduagio siricro sensu da UFG. Tal que trata das politicas de acesso e permanéneia para problematizagio ocome tendo como guia a literatura referente decolonialidade, que foi fundamental para a redagio deste trabalho, Esperamos com a nossa pesquisa contribuir com 0 conjunto de reflexdes jé corporificadas em outros trabalhos académicos que também se propuseram a evidenciar que os saberes das populagdes minorizadas no devem ser considerados de menor importincia por parte dos que se julgam os verdadeiros criadores de conhecimento pelo fato de o pensamento e, por consequéneia, a produgio de conhecimento dos povos originarios serem de base cosmoligica, em que o ancio, o cacique ou mesmo os espiritos dos antepassados sio a referéncia usada pelos estudantes indigenas para a escrita de suas dissertagdes, por exemplo. 2 Notas sobre ages afirmativas Desde o inicio dos anos 2000, a universidade, sobretudo a piiblica, tem passado por amplas transformagdes que proporcionaram a democratizagio dos seus espagos. ‘Transformagdes no apenas de ordem estrutural, como as que surgiram com o advento do Programa de Apoio a Planos de Reestruturagio e Expansio das Universidades Federais (REUND?, que promoveu, desde a sua instituigdo em 2007, a ampliagdo do ensino superior piiblico federal coma criagdo de universidades, campus avangados (processo de interiorizagio das instituig6es), cursos e novas vagas, mas também de ordem socioecondmiea e étnico-racial por meio dos mecanismos de reservas de vagas, concessio de vagas extras e/ou acréseimo de bonus para grupos vulneraveis 2.0 Programa de Apoio a Planos de Reestruturagao e Expansto das Universidades Federais (REUNI) é um plano de reesiruturacio das universidades federais que prevé, como uma de suas principais diretrizes, que as universidades contempladas desenvolvam “mecanismos de inclusio social a fim de garantir igualdade de ‘oportunidades de acesso e permanéacia na universidade pbliea a todos 03 cidaddios” (BRASIL, 2007, p. 10), Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jan/julho, 2023 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 Para Gomes (2011), as ages afirmativas téma finalidade de estimular a discussao sobre areivindicagdo de direitos essenciais como a equidade e a dignidade. Para a pesquisadora, essas politicas so importantes, pois promovem a diversificagdo das universidades piblicas e do acervo de saberes ja instituidos a partir do momento em que essa diversidade passa a eompor esses espacos de producio de conhecimento. Nesse sentido, o conceito empreendido pela autora enaltece o poder transformador das ages afirmativas na educagao superior, que trazem em si a possibilidade de se refletir sobre uma nova pedagogia: a “da diversidade”, que concebe a produgdo de saberes outros e possibilita 0 surgimento de didlogos epistemologicos. Atualmente, segundo Feres Jiinior e Daflon (2015), os discursos que criticam os procedimentos de execucio das politicas, sob o argumento de que as politicas sfo ineficazes ou meramente atenuantes, so 0s que mais tém se intensificado, Um dos fundamentos contririos mais contundentes que foi apropriado no Brasil, mas que surgiu na India, diz respeito a ideia de que as politicas beneficiardo apenas a parte que detém melhores condigdes socioecondmicas dentro dos grupos contemplados. Contudo, esses pesquisadoreslestudiosos justificam que esse argumento ndo se sustenta em evidéncias concretas, jd que as politicas afirmativas de recorte racial, em sua maioria, ja estavam dispostas de forma a coibir esse tipo de situagdo e que a lei de cotas trouxe dispositivos em seu texto que intervém para coibir essa possibilidade, Os indigenas, como outros grupos socialmente exeluidos, tém um histérico de lutas em prol da criagdo de politicas publicas que atendam as suas especificidades e que valorizem suas linguas, seus saberes e suas culturas. Por meio da mobilizagio de movimentos sociais, esses povos conquistaram o direito de propor ages destinadas a0 fortalecimento e a valorizacao de suas culturas e do seu pertencimento étnico e a garantia de insergao segura na sociedade nao- indigena. Para Baniwa (2019, p. 179), a diversidade étnica, linguistica e cultural das comunidades originarias esta constitucionalmente garantida, ja que 0 artigo 231 da Constituigdo Federal de 1988 legitima “as organizagdes sociais, as tradigdes, os costumes, as linguas e seus territérios tradicionais” e 0 artigo 210 prevé o reconhecimento das “linguas indigenas, assim como seus processos proprios de edueagao [...] para fins de processos educativos, escolares ou no”. Essa diversidade étnica, cultural e linguistica dos povos indigenas péde ser comprovada por meio do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) em 2010 que, segundo Baniwa (2019, p. 187), “relata a existéncia de 305 etnias ou povos (comunidades definidas por afinidades linguisticas, culturais ¢ sociais) que utilizavam 274 linguas distintas”” Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 § Quanto a democratizagio do acesso de estudantes indigenas na UFG, destaca-se a importineia do curso de Licenciatura em Educagao Intercultural por contemplar preceitos de interculturalidade critica e de transdisciplinaridade em sua matriz curricular, o reconhecimento da diversidade sociocultural dos povos indigenas e a garantia do seu direito de acesso 4 educag3o superior. A primeira turma do curso de Licenciatura em Educagio Intercultural da UFG, em 2007, foi composta por 59 indigenas pertencentes a sete povos distintos (Gavito, Guarani, Javaé, Karaja, Karajé-Xambiod, Tapirapé, Tapuia e Xerente). Acerca da constituigio estrutural do curso de Licenciatura em Educagao Intercultural da UFG, ¢ oportuna a fala de Herbetta (2019. [p. 4]) © NTFSI ¢ constituido por curso de graduagio ¢ de pés-graduacdo no nivel de especializagao. Atualmente, conta com cerca de 300 professorxs indigenas dos estados de Goids, Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins e Maranbfo, pertencentes a 27 distintas populagdes, entre elas, os Kealio, Apinajé, Javaé, Karajé, Guarani, Xambiod. Canela, Gavito, Guajajara, Juruna, Krikat, Tapirapé, Nerente, Mehinak Kamayurd, Kayap6, Kuikuro, Timbira, Waurd, Xavante, Xacriabé e Tapuia. Hi cerca de 150 professores indigenas formados em nivel de graduacio e 100 em nivel de especializagio. Herbetta e Nazareno (2020) ressaltam que o curso de Educago Intereultural da UFG foi concebido para concentrar politicas de resisténcia, afirmagao de identidade étnico-cultural e desobediéneia epistémica. Sobre os objetivos do curso, os autores coneluem que, diferentemente dos demais cursos de graduagio da UFG, o de Educagio Intercultural é “um ambiente acolhedor, nfo somente do ponto de vista humanistico, como também politico epistémico, favorivel a afirmagio de suas diferengas” (HERBETTA; NAZARENO, 2020, p. 74), pois os estudantes indigenas tém suas linguas, culturas e saberes reconhecidos, movimento que resiste & colonialidade do saber que silenciou suas linguas ¢ subjugou seus conhecimentos. lapso temporal entre a primeira turma do curso de Educagio Intercultural da UFG (2007) a promulgagao da Resolugo Consuni UFG n° 07/2015 compreende um periodo de ito anos, Pode-se pressupor que, para a consolidacao da resolug4o mencionada, as vozes dos estudantes indigenas, em especial, teriam uma representatividade mais acentuada, afinal, a Liceneiatura em Educagio Intercultural possibilitou a manifestagdo do conjunto de saberes dos povos indigenas niio no formato académico tradicional, ms sim no formato de utilidade pritica para os indigenas. Todavia, podemos adiantar que as vozes das representagSes indigenas no ato de criagao da Resolugao Consuni UFG n° 07/2015 nao ecoam de modo consistente. Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 2.1 Motivagées para a formulagio da Resolugio Consuni UFG n° 07/2015 Conforme Dias (2017), a Resolugéo Consuni UFG n° 07/2015 é¢ fruto das experiéncias nos Programas de Pés-Graduagio da Antropologia Social (PPGAS-UFG) e de Direitos Humanos (PPGIDH-UFG), em virtude das constantes reprovagdes de candidatos negros, indigenas e quilombolas nos seus processos seletivos. Tal fato impulsionou a comunidade académica da UFG a refletir acerca da necessidade da criagiio e adogio de mecanismos mais cficientes para o ingresso de individuos pertencentes a segmentos étnico-raciais discriminados historicamente. De modo mais especitfico, os primeiros passos para o desenvolvimento de wna proposta surgiram, segundo Herbetta (2018), apés a reprovagio de Ercivaldo Damsdkekwa Xerente, estudante indigena egresso do curso de Licenciatura Intercultural da UFG, no processo seletivo do PPGAS-UEG. Segundo Herbetta (2018, p. 307-308), a prova tedrica 4 qual Ercivaldo Damsokekwa Xerente foi submetido, “cobrava um dominio de literatura antropoldgica, a partir da leitura de alguns textos indicados previamente e, também, a escrita dissertativa, tipica da academia” jé a exigéncia de uma lingua estrangeira estabelecia “uma politica linguistica universitéria que, dentre outras coisas, exclui contingentes populacionais especificos, apontando para uma politica que desvaloriza a diferenca, impondo obsticulos a determinados contingentes populacionais”. Para o autor, a reprovacao de Ercivaldo Damsdkekwa Xerente foi consequéncia dos procedimentos imprecisos do proceso seletivo e evidenciou a necessidade de discussdes acerca da necessidade da elaboragao de politicas de acdes afirmativas nos programas de Pés- Graduagao da UFG. No ano de 2014, 0 Programa de Pés-Graduagio em Antropologia Social da Universidade Federal de Goids (PPGAS/UFG) propés um edital coma previsio de reserva de vagas para candidatos em situagdo de vulnerabilidade. Contudo, tal pretensio foi proibida pela procuradoria da UFG sob a alegagao de que a edigdio de que um edital isolado poderia ensejar questionamentos dos demais programas de pés-graduagao da universidade. Por esse motivo, segundo Herbetta (2018), houve uma ampla mobilizagio de professores, sobretudo da Faculdade de Cigncias Sociais (FCS), apoiados pela Pré-Reitoria de Pés-Graduacao da UFG, para a criag3o de uma resolugfio que contemplasse todos os programas de pos-graduacio da instituigao. PPGAS-UFG elaborou uma minuta que foi submetida a Coordenagio de Pesquisa e Pés-Graduagiio da UFG (CPPG/UFG) ainda em 2014 e, no ano seguinte, ao Conselho Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jan/julho, 2023 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 Universitario (Consuni/UFG). No intuito de ampliar a democratizago do ensino superior, em 25 de abril de 2015, a UFG aprovou a Resolugdo Consuni UFG n° 07/2015, que dispde sobre a politica de ages afirmativas para pretos, pardos e indigenas nos cursos de pés-graduacio stricto sensu da UFG. © proceso de discussio, deliberagio e aprovacio da Resolugdo Consuni UFG n° 07/2015 foi pautado por temas que perpassaram pela garantia constitucional de autonomia universitéria, erradicagiio da pobreza e da desigualdade, principio da democratizagiio da educagao € fungio social do ensino superior. O texto normativo regulamentou politicas de reserva de vagas em um ntimero de 20% para os grupos minoritiios, contudo nio previu agbes concretas e eficazes relacionadas is suas permanéncias, como sera mostrado mais adiante. Apés a adogao da Resolugéo Consuni UFG n° 07/2015, 0 estudante Ercivaldo Damsdkekwa Xerente teve condigdes de ingressar no mestrado do Programa de Pos-Graduagio Interdisciplinar em Direitos Humanos da UFG. Segundo Herbetta (2018, p. 330), 0 estudante Xerente defendeu com louvor, no final de 2016, sua dissertagio de mestrado intitulada Processos de educagio akwé e os direitos indigenas a uma educagio difereneiada: priiticas educativas iradicionais e suas relagdes com a pritica escolar, cujo objetivo foi o de “compreender as relagdes entre 0 seu o seu [sic] modelo proprio de educagio, baseado na oralidade, e os modelos e priticas educativas escolarizadas, baseadas na escrita” (XERENTE, 2016, p. vi). E preciso também mencionar que outros estudantes indigenas ingressam na pos- graduagao da UG apés a aprovacdo da Resolugdo Consuai UFG n° 07/2015, sendo alguns deles: a) Leticia Jékahkwyj Krahé: mestranda pelo Programa de Pés-Graduagdo em Antropologia Social. Titulo do trabalho: Pjé ita jé kim ma ité ampé ky jakrepej: das possibilidades das narrativas na educagao escolar do povo Krahé. Ano da detesa: 2019; b) Koria Valdvane Tapirapé: mestrando pelo Programa de Pés-Graduagio em Antropologia Social. Titulo do trabalho: 4 formagao do corpo e da pessoa entre 0 Apyawa - resguardos, alimentos para os espiritos transigdo alimentar. Ano da defesa: 2020; ©) Tilio Kamér Ribeiro Apinajé: mestrando pelo Programa de Pés-Graduagao em Antropologia Social, Titulo do trabalho: Mé ixpapxai mé ixaihpumunh mé ixujahkrevés teritério, saberes e ancestralidade nos processos de educagio escolar Panhi, Ano da defesa: 2019; Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 4 d) e) 2) hh) i) dD k) Afonso Tiikwa Xerente: mestrando pelo Programa de Pés-Graduagao em Antropologia Social. Titulo do trabalho: Jknd kat6, Isitro n@i akwe krsakrtamndze dasipséwa Katé kan psékwaindri, Dandhikwa - a corrida de toras curtas e longas entre 0 povo Akwe Xerente no Dasipé-festa cultural, Ano da defesa: 2020; Fabio Ubre’a Abdzu: mestrando pelo Programa de Pés-Graduacio em Antropologia Social. Titulo do trabalho: “Podem quebrar 0 maracé, mas nao vaio quebrar nossa tradico”: Datsimadzébré, ritual xavante de iniciagio dos Danhohuiwa e dos Wapré. Ano da defesa: 2020; Gilson Ipaxiawyga Tapirapé (Tenywaawi): mestrando pelo Programa de Pos- Graduacio em Letras ¢ Linguistica. Titulo do trabalho: Takara: centro epistemologico e sistema de comunicagdo césmica para a vitalidade cultural do mundo Apydwa. Ano da defesa: 2020; Iranildo Arowaxeo’i Tapirapé (Kaorewygi): mestrando pelo Programa de Pés- Graduagio em Letras ¢ Linguistica. Titulo do trabalho: Lingua Apyawa: constragdes oracionais em contextos comunicativos diversos. Ano da defesa: 2020; Michael Ra "Wa Tsa “e’Omo"Wa: mestrando pelo Programa de Pos-Graduagio em Antropologia Social, Titulo do trabalho: Danhénd. Ritual de passagem A’uwé Uptabi (Xavante), Ano da defesa: 2021; Eneida Brupahi Xerente: mestranda pelo Programa de Pés-Graduagdo em Letras © Linguistica. Titulo do trabalho: Letramentos do viver Akwe. Ano da defesa: 2022; Caetano Tserenhi’ru Moritu: mestrando pelo Programa de Pés-Graduacao em Letras e Linguistica, Titulo do trabalho: Histéria da introducdo da escrita entre 0 povo A uwe 022: Anténio Luiz Wa’ Awe: mestrando pelo Programa de Pos-Graduagdo em Letras ¢ Uptabi (Navante auréntico). Ano da detes Linguistica, Titulo do trabalho: Aspectos linguisticos e culturais no processo de formacito do homem Xavante na Aldeia Sangradouro - Mato Grosso — Brasil. Ano da defesa: 2022. Para Venturini (2019), ainda é ineipiente o nimero de pesquisas que analisam a adogdo das politicas de ades afirmativas e a sua insergao nas agendas dos Programas de Pés- Graduagio e dos Orgios Federais responsiveis pela condugao e avaliagio do sistema nacional de pos-graduagio, como a Coordenagio de Aperfeigoamento de Pessoal de Nivel Superior (Capes) e 0 proprio Ministério da Educago (MEC). Apesar dos avangos proporeionados pela implementagao da Resolugdo Consuni UFG n° 07/2015, é necessairio refletir acerca de algumas Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. 10 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 questdes importantes que no foram contempladas de modo profundo no texto inicial, como, por exemplo, 0 modo de ser dos povos indigenas. Tal nogio pode ser mellior compreendida a partir do seguinte relato de Gilson Tapirapé (2020, p. 36): “Quando se trata em estudar e morar na cidade, estamos tratando de uma cultura em que a base de vida é o dinheiro, sem isso nada funciona”. A sociedade dos povos originarios vive sob outro modo de subsisténcia, sob outro regime econdmico que precisa ser levado em consideragio. Além disso, ha a questo do acesso a0 conhecimento, pois $6 nao imaginava que o mestrado era tio puxado, Muitas leitwas ¢ na maioria das ‘vezes os textos em linguas estrangeiras, como inglés ¢ espanol. Bem que alguis ‘tempos atras meus amigos da Educagao Tutercultural me falaram: Valteir Nerente, que fez mestrado da UFT, e Renato Krahd, que também fez nesta Universidade. E um ‘curso dificil ¢ muito diferente daqueles (Licenciaturas) com que estamos acostumados. Ao ter contatos com 0s textos, precisei lidar com a sensagao incdmoda, a de perceber ‘que no seria capaz. de aprofundar © desenvolver meus conhecimeatos com. certas questdes da vida académica como gostaria. No inicio, achei que precisaria de um intérprete ao meu lado ac longo do curso para poder realmente comecar a entender 0 ‘mundo da leitura académica, porque nada faz sentido estudar sem ter dominio de esctitas. Sinceramente, me senti inferiorizado © analfabeto, uo inicio, por 80 conseguir ler textos em inglés e espanhol, pois a maior parte dos textos que estudei durante disciplinas obrigatérias sio escritas com essas linguas, porque sobre muitos, assuntos nfo tem nada escrito em portugués. So linguas com que no tenho contatos © que nao tenho dominios. Portanto, acabou, muitas vezes, influenciando negativamente com minha participacao nos debates. Ll Como sabemos, 0 que vale na academia é o conhecimento dito cientifico, ideias de grandes autores. Sto escritores colouizadores que no levam em consideragaio diversidades existentes no universo, Entdo, procurei usar a oportunidade muitas vezes, para coutrapor, pois a ciéncia nfo é tinica: existem varias ciéncias, assim colocando em debates couliecimentos especificamente dos Apyawa. Com esse tipo de debates os maira uo est2o acostumados, mas sim, seguir modelo padrio, ‘Sem diivida a presenga minha ¢ do meu primo Kaorewygi os incomodava, pois nao € comum ver estudantes indigenas na Pés-Graduagao. Afinal, somos de outro mundo, ‘onde a realidade & outra, Temos costumes de nos posicionar diante dos fatos (TAPIRAPE, G., 2020, p. 37) Esse longo relato serve para ilustrar a imposigao epistemologica quanto ao modo de fazer cigneia do ‘homem branco’, A partir da fala de Gilson Tapirapé (2020), podemos compreender que a visio que 05 povos indigenas tém de ciéneia ¢ diferente da perspectiva dos maira, Estes primam pela teorizagio, pela abstrago de conceitos, pelo desenho racional de formulagdes conceituais, a0 passo que aqueles, ou seja, os povos indigenas, dio énfase para 0 que um aneio ou um especialista em artesanato falou. © que os povos originérios entendem como referéneia de conhecimento nfo esta escrito, pois ¢ uma fonte orginica’, De acordo com Gilson Tapirapé (2020), © modo de referenciacao usado pelos povos originarios nfo desvalida a pesquisa, pois os pesquisadores indigenas estio buscando fontes de conhecimento que, dentro da cultura dos povos Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jan/julho. 2023 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 UL Cabe destacar, ainda, a questo da pouca criticidade dirigida ao pensamento tebrico europeu. E como se os “grandes autores” (TAPIRAPE, G., 2020, p. 37) no pudessem ser confrontados em suas formulagdes tedricas, cabendo ao *homem branco’, aos pesquisadores ocidentais apenas discutirem a compreenstio dos conceitos, tidos como verdades absolutas. Nesse sentido, a decolonialidade, enquanto enfientamento a toda e qualquer matriz de opressio, epistémica e lingnistica, por exemplo, ¢ de fundamental importancia para mostrar que “as universidades ainda so fechadas perante sistemas pluriepistémicos e pluriversidade cultural” (TAPIRAPE, K., 2020, p. 16). Em virtude do pensamento positivista da cigneia que esté na base das universidades, com destaque para as instituigdes de ensino superior piblicas brasileiras, a racionalidade moderna descartou, ou melhor, entende, por outras vias que nao a da ciéncia, a produgio de conhecimento vineulada ao plano cosmoldgico e/ou espiritual. Para Koria Tapirapé (2020, p. 24),"A universidade ainda é muito prematura referente aos saberes e conhecimentos indigenas’ como epistemologia, e nfo s6 como objeto de estudo a ser analisado pelo nao indigena 3 A proposta decolonial como subsidio para problematizar a Resolucao Consuni UFG n° o72015 Afinal, 0 que a decolonialidade estuda? Qual seria seu objetivo? Quais seriam seus propésitos? Quais as suas teses? Conforme Mignolo (2008, p. 250, tradugio nossa), ‘A tese € a seguinte: © pensamento de-colonial surgiu na propria fundaglo da modernidade/colonialidade. como sua contraparte.E isso aconteceu nas Américas, 00 pensamento indigena e no pensamento afio-caribenho, Em seguida, continuou na Asia € na Africa, nfo em relagdo a0 pensamento de-colonial nas Américas, mas em contrapartids 4 reorganizacio da modernidade colonial com o Império Briténico e 0 colonialismo francés. Um terceiro momento de reformulagdes ocorreu nas intersecdes dos movimentos de descolonizagao na Asia ena Africa, concomitantes & guetta fria 8 lideranga ascendente dos Estados Unidos. Desde o fim da guerra fia entre Estados Unidos © Unido Soviética, © pensamento de-colonial comeca a tracar sua propria gencalogia’ corigindrios, s40 consideradas importantes. Embora seja dificil para os no indigenas entenderem, tal modo de buscar subsidio para validar uma informacao representa o mesmo que. para nés, a busca de vazes de autoridade fem fontes escritas. Nesse movimento, hé uma critica implicita ao grafocentrismo, ao que é eserito sempre valer mais do que as fontes orais -o conhecimento transmitido entre as geragies. * No original: “La tesis es la siguiente: el pensamiento de-colonial emergié en la fundacién misma de la ‘modernidad/colonislidad como su contrapartida. Y eso ocurri6 en las Américas, en el pensamiento indigena y en 1 pensamicato affo-caribeiio. Contin luego en Asia y Affica, no relacionados con cl pensamicato de-colonial en las. Américas, pero si como contrapartida @ la re-organizacion de la modernidadicolonialidad con el inperio Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 B © posicionamento decolonial, conforme Mignolo (2008), busca evidenciar 0 modo como © sujeito subalterno foi silenciado desde © advento da modernidade/racionalidade ocidental que, mesmo apés o fim das administragdes coloniais no continente latino-americano, nunca reconheceu a produgio de conhecimento do sujeito nfo ocidental. Segundo o autor, os estudos decoloniais rompem com o paradigma de universalismo europeu, com as epistemologias pensadas em sentidos unilaterais, dominadoras ¢ que serviram para arquitetar todo o movimento de colonizagaio dos povos periféricos, Quijano (2005) compreende a decolonialidade como um movimento tedrico, ético & politico que questiona as pretensdes de objetividade do conhecimento cientifico europeu, mais especificamente o conhecimento das cigneias sociais que lidam com a questo da racionalidade e usam de uma falsa neutralidade quando utilizam 0 discurso politico-econémico-idealégico sobre a “invengio” da América e os desdobramentos decorrentes desse processo. Para Resende (2014), 0 movimento decolonial precisa ser entendido como um contraponto 4 tendéncia construida segundo a qual as nagdes dominadoras produzem teorias € os paises subalternos as validam sem promover questionamentos. Segundo a autora, ser decolonial nao ¢ rejeitar as criagdes tedrico-metodoligicas criadas pelos paises desenvolvidos, do norte geogrifico, para criar conceitos genvinamente oriundos dos paises subdesenvolvidos, do sul geogrifico. Nesse sentido, ao enfrentar © jugo imperialista, o grupo de intelectuais decoloniais tem o intuito de promover uma ressignificagio dos processos sécio-histéricos ainda vigentes, sobretudo, nas ex-colonias letino-amerieanas. Segundo Ballestrin (2013, p. 110), as propostas decoloniais podem ser demarcadas, sinteticamente, pelos seguintes pontos: ‘Dentre as contribuigdes consistentes do grupo, est&o as tentativas de marear: (a) narrativa original que resgata e insere a América Latina como o continente fundacional do colonialismo, e, portanto da moderidade; (b) importancia da América Latina como primeiro laboratério de teste para o racismo a servigo do colonialism: (©) 0 recoahecimento da diferenga colonial, uma diferenga mais dificil de identificagdo empirica na atualidade, mas que fundamenta algumas origens de outras diferengas; (d) a verificagao da estrutura opressora do tripé colonialidade do poder, saber e ser como forma de denuuciar e atualizar a continudade da colonizagio e do imperialism, mesmo findados o marcos histécicas de ambos os processos; (c) a perspectiva colonial, que fornece novos horizontes utépicos ¢ radicais para 0 da libertagao humana, em didlogo com a produgao de conhecimento. briténico y el colonialismo francés. Un tercer momento de reformulaciones ocurrié en las intersecciones de los ‘movimientos de descolonizacién en Asia y Aftica, concurrentes con la Giuerta Fria y el liderazgo ascendente de Estados Unidos. Desde el fin de la Guerra Fria entre Estados Unidos y la Unién Soviética, el pensamiento de- colonial comienza a trazar su propia gencalogia.” Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. 3 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 4 Concebemos que é preciso olhar © mundo também pela perspectiva de quem foi silenciado, de quem teve de aderir a uma cultura adversa sua, como & 0 caso dos povos origindrios. A universidade, ao proporcionar a entrada dos estudantes indigenas em seus cursos de pés-graduagio, toma-se, de fato, um espago voltado para amplas discussdes eriticas acerea de produgio e validagio de conhecimento. Expressiva parte do conhecimento, ou melhor, da cigncia 4 qual temos acesso é produzida por europeus ou norte-americanos e, por isso, as releituras de mundo propostas pelo pensamento decolonial analisam as relagdes de poder entre colonizador e colonizados. Frente a isso, os autores decoloniais sistematizaram conceitos que permitem analisar questdes, tais como a revalorizacio e a aplicagdo dos saberes ancestrais de povos no europeus. Conforme pontuado por Moritu (2022, p. 20), “Todos os conhecimentos que tinhamos devem ser repassados através do didlogo com o waradzu (ndo indigena) e na escrita. Chegou 0 momento em que nés, indigenas que estamos vivenciando o mundo do nto indigena por meio de estides,temos que passar as histérias coutadas para a escrita em lingua portuguesa. Assim, 0 mundo aio indigena poderd nos compreender no nosso conhecimento, da sociedade Xavante, como uma forma de dialogar com a universidade. Na minha opiniao, é de suma importincia © didlogo com a wiiversidade no sentido de transmitir nosso couliecimento de mundo indigeua de cada povo,seja na cultura ¢ ezeugas, ct. Pois, dentro da universidade ¢ que se encontram diferentes classes sociais ou de pessoas, ‘Neste sentido, € muito importante a nossa presenga indigena na universidade para tentarmos aos poucos expandir nosso conhecimento indigena e diminuir as visbes diferentes dos colonizadores. E sob a perspequitiva decolonial, em conjunto com algumas concepedes dos pesquisadores indigenas que defenderam suas pesquisas no PPGLL/UFG, que realizaremos uma reflexdo acerca da Resolugio Consuni UFG n° 07/2015. O texto normativo orienta como os Programas de Pés-Graduagio da UFG devem proceder para selecionar os futuros discentes indigenas. Em nossa concepeao, os corpos fisicos ingressam na Pés-Graduagio, porém o corpo epistemoligico nio, dado que a Resolugao desconsidera especificidades, tais como suas linguas, seus conhecimentos, seus modos de ser, sentir e compreender 0 mundo. 3.1 Resolucdo Consuni UFG n° 07/2015, A Resolucio Consuni UFG n° 07/2015 € composta por doze artigos distribuidos em cinco piginas. Partiremos de alguns excertos da Resolugio, como segue abaixo, para que possamos expressar melhor nossas consideragdes acerca da auséncia das vozes dos grupos ‘menos favorecidos no corpo do texto: Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jan/julho, 2023 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 14 Ll 1) que as politcas de agdes afirmativas no Brasil, compreendidas como medidas que ‘em como escopo a reparacto ou compensagao da desigualdade social e preconceitos ‘au discriminagdes raga no so concessdes do Estado, mas deveres que se extraem dos principios constitucionais, incluindo o objetivo de “erradicar a pobrea e a ‘marginalizacdo e reduzir as desigualdades socials e regionais” e “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raca, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminagao” (Ant. 3°, Incisos TIT e IV. da Coastituicao da Repiiblica Federativa do Brasil - CF), a igualdade material (Art. 5, Caput, da CF) ¢ a igualdade de condigées para o acesso e permanéneia na escola (Art. 206, Inciso I, da CF). Lol £) que a admissio de discentes para os cursos de pés-graduaco deve, sem prejuizo da qualidade académica e cientifica, atender a0 mandamento estatutirio da democratizacdo da educagao no que se a igualdade de oportanidade de acesso © condigao para permanéncia — e com a socializacao de seus beneficios. Lol Art, 3° 0 processo seletivo dos Programas de Pés-Graduagio sera regido por edital especifico, segundo os termos da Resolucio Geral dos Cursos de Pés-Graduacio da UFG, sendo garantida 4 coordenadoria, por meio do edital, a liberdade de definir critérios especificos para o ingresso dos discentes, considerando as especificidades das reas do conhecimento e as dietrizes do érgao federal de avaliagao e acompanhamento. Art 4° [..] § 1" Os candidatos pretos, pardes e indigenas concorrerao concomitantemente as ‘vagas reservadas e as vagas destinadas & ampla concorréncia, de acordo com a sua lassificagtio no proceso seletivo. ll CAPITULO Tl DAS ACOES NECESSARIAS A PERMANI PROGRAMAS DE POS.GRADUAGAO STRICTO SENSU Ait. 7 As Coordenadorias dos Programas de Pés-Graduagio poderdio definir explicitamente aces e atividades complementares que maximizem a possibilidade de ppermanéncia de alunos que ingressarem pelo sistema de cotas em seu corpo discente, realizando um acompanhamento continuo de todas as suas atividades no programa. Parfgrafo imico. Aplicam-se aos discentes que ingressarem pelo sistema de cotas as mesmas.regras aplicadas 20s demais discentes do PPG no que se refere a0 desenvolvimento de suas atividades conforme as diretrizes estabelecidas na Resolugao Geral da Pés-Greduacdo da UFG = regulamento interno do Progrania (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS, 2015, [p. 1-4]. grifo do autor). Inicialmente, antes de analisarmos os excertos supracitados, é preciso ressaltar que nao somos contrarios as politicas de agdes afirmativas, muito pelo contrario. Consideramos que 0 fato de a UFG ter estabelecido politicas de acesso e permanéncia para pretos, pardos e indigenas em seu sistema de pos-graduacao foi/é um avango de suma importancia. A Resolugo, ao prever a democratizagio do acesso em seus cursos de pos-graduagdo “sem prejuizo da qualidade académica e cientifica” (UIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS, 2015, p. [2]), reforga a Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jan/julho. 2023 ; DOI: 10.22456/2238-8915.131251 necessidade de que os estudantes, no caso os indigenas, assimilem pritieas educacionais procedentes de uma base eurocentrada de conhecimento para que sejam atendidadas as exigéncias académicas, Segundo Nalovu (2017), 0 campo de conhecimento do indigena é diferente do nio indigena, portanto, nfo se pode negar a existéncia de uma barreira epistémica, além da barreira de lingua que o indigena enfienta quando esta na universidade. Nao obstante essa realidade, imperioso reconhecer os limites da UFG, sobretudo de aportes financeiros necessirios para custear projetos e instituir politicas que contemplem todo o universo de especificidades sociais,linguisticas e epistemologicas da diversidade dos seus estudantes. A Resolugio reconhece o problema da diferenca e da desigualdade histérico-social existente no Brasil, contudo seu texto no deixa claro quais politicas podem compensar 0 distanciamento epistemologico, como, por exemplo, a adogio de politicas linguisticas que permitam aos estudantes indigenas produzirem seus trabalhos finais em suas linguas, afinal, conforme relata Gilson Tapirapé (2020, p. 37), 0 mestrado “E um curso dificil e muito diferente daqueles (Licenciaturas) com que estamos acostumados”. Na Licenciatura em Educagio Intercultural da UFG, por exemplo, os estudantes indigenas produzem conheeimento a partir de suas linguas, e nfo a partir de uma lingua estrangeira, no caso, o portugués brasileiro. Além disso, o foco da Linceneiatura em Edueacio Intercultural da UFG nio é debater teorias, mas favorecer os estudantes indigenas a produzirem um conhecimento que sera de uso pritico nas suas respectivas comunidades. A partir das narrativas dos estudantes indigenas, inferimos que a manutengao da pritica de uma educagao monolingue, com destaque para 0 portugués brasileiro, ¢ monocultural, que acaba por, segundo Pimentel da Silva (2017, p. 212), “fomentar a continuago de um ideal caleado apenas no pensamento Ocidental”, ou seja, a fomentar a permanéncia de uma ciéneia ocidental colonizadora, ¢ 0 principal desafio enffentado pelos estudantes indigenas que ingressam na P6s-Graduagio stricto sensu da UFG. Tal fato fica mais evidente a partir do relato de Gilson Tapirapé (2020, p. 34-35), Entre as trés etapas de seletiva de mestrado em estudos linguisticos a prova escrita (segunda etapa) é a mais dificil. Como sabemos, escrever um texto dissertativo bem: estruturado jé é dificil, imagina dois textos dissertativos dentzo de quatro horas, porque cram das questdes ua prova, Naquele momento fique no total desespero, nao onseguia eserever ¢o tempo passava [...] Mas também a primeira questao era mais complicada, foi um texto poético e era para interpretar com olhar critica e linguistico. Ler um texto postico jé é fora do comum ¢, quando se trata de interpretacdo de um texto desses, torna-se mais dificil ainda Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 18 Baniwa (2019, p. 69) observa que as politicas afirmativas, ou melhor, as politicas piiblicas voltadas aos povos indigenas exibem contradigdes profundas, Os povos indigenas possuem seus processos educativos proprios, em alguns casos nuit distintos das escolas nao indigenas, estimulades pela legislagio brasileira que thes possibilita uma educagao escolar especifica e diferenciada, Como o indigena que estudou em uma escola especifica, bilingue, intercultural e diferenciada (curriculo diferenciado), que foi alfabetizado na sua lingua matemma e tem esta como primeira lingua pode concorrer em pé de igualdade com outros estudantes que estudaram em escolas regulares de lingua portuguesa em processos seletivos ou mesmo em aulas ministradas unicamente na lingua portuguesa? Como se pode perceber. ha uma incoeréncia e contradieto na politica quando, ao mesmo tempo em que reconhece 0 dircito especifico ¢ diferenciado aos poves indigenas, limita ou impede o exercicio ppleno desse direito impondo uma uniformizagio no acesso a outras politicas piblicas dde seu interesse De acordo com o excerto acima, é possivel afirmar que as politicas de democratizagaio do acesso nas universidades piblicas viabilizaram a entrada de grupos vulneraveis, contudo seus saberes permanecem subordinados ao conhecimento cientifico, ou seja, a universidade permanece estruturada na heranca eurocéntrica da colonialidade. Para Baniwa (2019, p. 95), No entanto, a despeito dos discursos ¢ das teutativas de reconhecimento da sociodiversidade brasileira, 0 Estado e 0s distintos governos insistem em continuar 0 discurso ea prética mitarista da sociedade brasileira: uma s6 lingua, ume s6 cultura, ‘uma s6 histéria, um so povo, mma s6 educagdo, uma sé cigncia. Mesmo quando se trata de espacos institucionais voltados para promover a diversidade, a incusto & entendida e praticada no sentido da homogeneizacao dos diversos. dos diferentes, 0 ‘que acaba sempre em detrimento dos diversos mais vulneriveis do ponto de vista das correlagdes de forgas politicas, como sio 0s povos indigenas, que continvam mio representados ou sub-representados nos espacos de tomadas de decisdes. Baniwa (2019) reforga que as nogdes de colonialidade do poder, do ser ¢ do saber manifestam-se no meio universitirio de modo homogeneizador, inclusive na forma como as politicas afirmativas so pensadas, pois contribuem para inferiorizar/subalternizar grupos como indigenas, negtos ¢ quilombolas ¢ é nesse sentido que afirma que os povos sio sub- representados nos espagos de tomada de decisdes. Segundo Dias (2017), o racismo epistémico tem sido responsivel pela estratificagao de campos de saberes hierarquizados e se consolida nas distintas reas do saber quando as racionalidades afiodescendentes e indigenas estio ausentes, sub-representadas ou estereotipadas. Para a autora, a universidade acaba por privilegiar teorias € pensamentos eurocéntricos, dado que a formagio dos professores é baseada predominantemente nessas perspectivas. Em resposta a esse sistema opressor, a decolonialidade prima pela valorizagao do conjunto de saberes que os povos originérios possuem ¢ que podem contribuir, em didlogo com o conhecimento cientifico, com ideias para a solugdo de problemas atuais que o conhecimento cientifico nfo tem conseguido resolver. Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 Boaventura de Sousa Santos (2003) trabalha com o termo epistemicidio em muitos de seus escritos e esclarece que tal termo é um processo de deturpagao da racionalidade, cultura e civilizagao do outro. E nesse contexto, é imprescindivel levantar a discussio do epistemicidio pelo fato de tal conceito observar que, além da necessidade de promover a ressignificagiio dos espacos, preciso remodelar os saberes académicos, tendo em vista o ingresso de um novo perfil de estudantes. Para o autor, 0 epistemicidio & mais devastador do que 0 genocidio cometido pelos europeus durante a colonizacdo do continente americano. 4 Conclusao A Resolugiio Consuni UFG n° 07/2015 é um ganho no émbito das politicas de ages afirmativas, porém, por si s . no estabelece normas para que haja uma relagio sélida entre culturas diferentes, como, por exemplo, as dos indigenas e nao indigenas, na intengio de fortalecer e incentivar a produgao de novos conhecimentos que sejam de natureza local, € nao reprodugdo de conhecimento produzido em solo europeu, por exemplo. A Decolonialidade, entendida neste trabalho como o enfrentamento da matriz colonial de poder, reproduzido no meio académico em miltiplas dimensdes, desde o aparato institucional (Resolugo Consuni UFG n° 07/2015, por exemplo) até o contexto micro de sala de aula — como relatado por estudantes indigenas que defenderam dissertagdes de mestrado no ambito da UFG -, permite evidenciar que a prixis das universidades piblicas brasileiras, em especial, ainda barra a circulacao das epistemologias indigenas no ambiente académico, isto é, no concebe o conjunto epistemolégico dos povos originarios como sendo de natureza cientifiea Nesse sentido, 0 pensamento decolonial possibilita que pesquisas sejam realizadas na intengdo de evidenciar como se estrutura a heranga colonialista, no caso deste trabalho, que & contriria a0 conjunto epistemolégico dos povos originérios cujas historias ¢ experiéneias sociais foram distoreidas ou, mesmo, apagadas. De nossa parte, entendemos que a melhor maneira de promover um didlogo interespistemolégico é no s6 escutando a voz dos povos indigenas, mas também validando como cientifico seu modo de construir conhecimento. As teorias formuladas pelo ‘homem branco” sio concebidas como mais adequadas para abordar e elucidar as complexidades sécio-historicas presentes em outras regides do mundo, Como resultado, o escopo da atividade académica nas instituig6es de ensino ocidentalizadas & em grande medida, limitado a assimilagao dessas teorias derivadas das experiéncias e dos desafios enfrentados em uma regio especifica do globo, com suas priprias caracteristicas Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. 8 DOI: 10.22456/2238-8915.131251 4 espaciais e temporais distintas. Tais teorias so consideradas como ferramentas universais aptas a serem utilizadas em diferentes localidades geogrificas, mesmo quando as experiéneias espaciais e temporais dessas iiltimas diferem substancialmente daquelas mencionadas anteriormente, A pluralidade de povos, de linguas e de culturas sempre esteve intrinseca em nossos espagos, entretanto é imperative que atualmente a defesa da phuralidade, em especial a dos saberes, ocorra de modo mais consistente, uma vez que os empreendimentos que buscam uniformizar as diferengas por meio de projetos homogeneizadores e universalistas tendem a ser intolerantes ao que foge ao padrio universalista. Portanto, & essencial enfientar a persistente influneia colonial do poder, que transforma a universidade em uma entidade que mereantiliza © conhecimento, hierarquiza formas de conhecimento e barra outras racionalidades e maneiras de compreender o mundo. REFERENCIAS BALLESTRIN, Luciana. América Latina e 0 giro decolonial. Revista Brasileira de Ciéncia Politica, Brasilia, n. 11, p. 89-117, maio/ago. 2013, BANIWA, Gersem. Educagao escolar indigena no século XXI: encantos e desencantos. Rio de Janeiro: Morula, Laced, 2019. BARROS, Diana Luz Pessoa de; FIORIN, José Luiz. (Orgs.). Dialogismo, polifonia, itertextuatidade: em torno de Bakhtin. Sao Paulo: Edusp, 1994 BRASIL. Ministério da Edueagio. Diretrizes gerais do Programa de Apoio a Planos de Reestrusuragao e Expansdo das Universidades Federais. Brasilia: DF: Ministério da Educacio, 2007. Disponivel em: http://portal. mee. gov.br/sesu/arquivos/pdf'diretrizesreuni.pdf. Acesso em: 06 mar. 2023 DIAS, Luciana de Oliveira, Pluralidade e interseccionalidade de saberes: agdes de combate ao racismo epistémico na pos-graduagao stricto sensu no Brasil. Jn: CONGRESSO INTERNACIONAL FOMERCO, 16., 2017, Salvador. Anais eletrénicos [...] Salvador: UFBA, 2017. [p. 1-10]. Disponivel em: tp://www.congresso201 7 fomerco.com.brresources/anais/8/1503768632_ARQUIVO_ Artis o-LucianaDias pdf. Acesso em: 02 mar. 2023 FERES JUNIOR, Joao; DAFLON, Verénica Toste. Ago afirmativa na india e no Brasil: um estudo sobre a retorica académica. Sociologias, Porto Alegre, v. 17, n. 40, p. 92-123, set./dez. 2015. Atica, 1988. FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. Sio Paulo: Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 ap GOMES, Nilma Lino. O movimento negro no Brasil: auséncias, emergéneias e a produgio de saberes. Politica & Sociedade: revista de sociologia politica, Florianépolis, v. 10, n. 18. p. 133-154, abr. 2011, GROSFOGUEL, Ramén. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistémico e os quatro genocidios/epistemicidios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, Brasilia, v. 31, n. 1, p. 25-49, jan./abr. 2016. GUARNIERI, Fernanda Vieira; MELO-SILVA, Lucy Leal. Agdes afirmativas na educagaio superior: rumos da discussio nos tiltimos anos. Psicologia & Sociedade, {s. 1], v. 19. n. 2, p. 70-78, 2007. HERBETTA, Alexandre. Consideragdes sobre processos colaborativos de co-teorizagio: dialogos entre 0 projeto Milpas Educativas e o Nicleo Takinahak¥ de Formagao Superior Indigena. Articulando e Construindo Saberes, Goiinia, v. 4, €59238, [p. 1-16], 2019. Disponivel em: https://repositorio.be.ufz.br’bitstream/ri/1$438/5/Artigo%20- 420A lexandre?%20Herbetta%20-%202019.pdf. Acesso em: 30 jun. 2023 HERBETTA, Alexandre Ferraz. Politicas de inclusio e relagdes com a diferenga: consideracdes sobre potencialidades, transformagoes limites nas priticas de acesso e permanéneia da UFG. Horizontes Antropoldgicos, Porto Alegre, ano 24, n. 30, p. 305-333, jan/abr. 2018. HERBETTA, Alexandre Ferraz; NAZARENO, Elias. Sofrimento académico e violéncia epistémica: consideragdes iniciais sobre dores vividas em trajetérias académicas indigenas. Revista Tellus, Campo Grande, MS, ano 20, n. 41, p. 57-82, jan./abr. 2020. MIGNOLO, Walter D. La opeién de-colonial: desprendimiento y apertura. Un manifiesto y un caso. Tabula Rasa, Bogota, n. 8, p. 243-281, enero/jun. 2008. MORITU, Caetano Tserenhi'm, Histéria da introducéo da escrita entre 0 povo A uwe Uptabi (Xavante auténtico). 2022. 114 f. Dissertacao (Mestrado em Letras e Linguistica) - Universidade Federal de Goiis, Faculdade de Letras, Programa de P6s-Graduago em Letras e Linguistica, Goiania, 2022. NDLOVU, Morgan. Por que saberes indigenas no século XXI? Uma guinada decolonial, Epistemotogias do Sul, Foz do Iguacu, v. 1, n. 1, p. 127-144, 2017, PIMENTEL DA SILVA, Maria do Socorro. A pedagogia da retomada: decolonizagao de saberes. Articulando e Construindo Saberes, Goiania, v. 2, n. 1, p. 204-216, 2017. QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. I: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e cigncias sociais. Perspectivas latinoamericanas, Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 117-142. RESENDE, Ana Catarina Zema de. Direitos e autonomia indigena no Brasil (1960 - 2010): uma anilise historica 4 luz da teoria do sistema-mundo e do pensamento decolonial. 2014. Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 ol 360 £ Tese (Doutorado em Historia) - Universidade de Brasilia, Instituto de Ciéneias Humanas, Programa de Pés-Graduacao em Historia, Brasilia, 2014. SANTOS, Boaventura de Sousa. Por uma concepcaio multicultural de direitos humanos. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org). Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro: Civilizagao Brasileira, 2003. p. 429-461. SANTOS, Jocélio Teles dos. Agdes afirmativas e educago superior no Brasil: um balango critico da producao. Revista Brasileira de Estudos Pedagégicos, Brasilia, v. 93, n. 234, p 401-422, maio/ago. 2012. TAPIRAPE, Gilson Ipaxi'awyga. Takara: centro epistemolégico e sistema de conmnicagio cosmica para a vitalidade cultural do mundo Apyénva. 2020. 140 £. Dissertagao (Mestrado em Letras e Linguistica) - Universidade Federal de Goids, Faculdade de Letras, Programa de Pés- Graduagio em Letras ¢ Linguistica, Goidnia, 2020. TAPIRAPE, Iranildo Arowaxeo'i. Lingua Apyawa: construgdes oracionais em contextos comunicativos diversos. 2020. 147 £. Dissertagio (Mestrado em Letras ¢ Linguistica) - Universidade Federal de Gois, Faculdade de Letras, Programa de Pés-Graduagao em Letras e Linguistica, Goiania, 2020. TAPIRAPE, Koria Valdvane. 4 formagao do corpo e da pessoa entre o Apydwa - resguardos, alimentos para os espiritos e transigao alimentar. 2020, 175 £. Dissertagdo (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal de Goids, Faculdade de Ciéneias Sociais, Programa de Pos-Graduagdo em Antropologia Social, Goiinia, 2020. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS. Conselho Universitario. Resolucdo n° 07/2015, de 24 de abril de 2015, Dispoe sobre a politica de agdes afirmativas para pretos, pardos € indigenas na Pés-Graduagao stricto sensu na UFG. Goiania: Conselho Universitario, 2015. Disponivel em: https:/files.cercomp uf. br/weby/up/630/o/Resolucao_ CONSUNI_2015_0007.pdf. Acesso em: 06 mar. 2023. VENTURINI, Anna Carolina, Agao afirmativa na pds-graduagao: os desafios da expansio de uma politica de inclusio, 2019. 320 £ Tese (Doutorado em Ciéneia Politica) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Sociais e Politicos, Programa de Pés- Graduagdo em Ciéneia Politica, Rio de Janeiro, 2019, XERENTE, Ercivaldo Damsdékekwa Calixto. Processos de educagiio Akwé e os direitos indigenas a uma educagao ciferenciade. préticas educativas tradicionais e suas relagdes com a pratica escolar. 2016. 87 f. Dissertagao (Mestrado em Direitos Humanos) - Universidade Federal de Goias, Faculdade de Direito, Programa de Pés-Graduagao Interdisciplinar em Direitos Humanos, Goiania, 2016. Artigo submetido em: 29 mar. 2023 Aceito para publicagio em: 17 jun. 2023 DOI: https:/dx.doi.org/10.22456/2238-8915.13 1251 Organon, Porto Alegre, v. 38, n. 75, jar/julho. 2023. DOI: 10.22456/2238-8915.131251 eh

You might also like