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Qual o professor da lingua materna ~ ou de Lingiiistica ~ que n freqiiéncia extrema, destinatario de perguntas como: an -Professor, 0 que € certo dizer: “colmeia” ou “colméia”? “Alpe! “alpargata”? “Xérox" ou “xerox”? Os professores ~ ¢ nem precisam ser professores de nue “comunicagao ¢ expressdo” — estao constantemente as yoltas com perguntas assim, feitas por seus alunos Sao estudantes que nao esto simplesmente preocupados com 0 proximo exame, mas ‘mostram evidente preocupagao cm que suas dividas sejam dissipadas para sempre. Que resposta dard 0 professor? O lingilista esta muito a vontade para res- ponder dentro de suas visdes da lingua, mas © professor da lingua matema tem a responsabilidade de preparar 0 aluno para uma atuagao onde The sera cobra- da a forma “certa” ¢ corrigida a ‘errada” que eventualmente ele use. Pode a Lingiiistica dar alguma ajuda 20 professor? ‘A Lingiiistica nao foi a primeira disciplina a tomar a lingua como objeto de observagao. estudo ¢ descri¢ao. pois essa atividade é bem mais antiga do que ela. Com o seu surgimento, porém, essa atividade foi realizada de maneira do a observagiio cientifica e isto marca a diferenga maior, colocando de um la ingilistica ¢. do outro, a observagdo da lin- apresentagao da lingua feita pela Li gua feita anteriormente ou feita nos dias de hoje mas seguindo essa tradi¢io. Esses estudos tradicionais sobre a lingua surgiram com preocupagoes normativas, ou seja dado que a realidade lingiiistica se apresentava de manei- ra muito variada ha ia a preacupagao de estabelecer um padrio, uma norma. um defeito a ser cor A yariagao da lingua era assim vista logo de saida como rigido, um mal a ser ‘combatido. Sabendo-se que toda e qualquer lingua é muito diversificada, compreende-se a extensao do problema enfrentado pela descrigiio tradicional. 0 Satie rar a palavia “lingua” & realizar um exerccto 0 0 que chamanios de “lingua”, diganios lingua porwet, Sts para designar um vaio « mo bem definide cot rape vio, ‘subdividindo em subgrupos até ¢ implica alguma diferenciagdo lingtistica. determinando : grupo, ou dialetagdo. Grupos afastados espacialmente, ongas distancias, inevitavelmente desenvolverao ETE fen tados darao a separagao da si jedade es Beatin e cpio pee a diferenga de idades socioecondmicos, a especializagaéo pro! d a je a s 4 se mencionou, ainda estéo pouco | sexo, além de outros fatores que, como Ja x Ds 5 por exemplo, a diregdo da mobilidade nitidos, embora jA percebidos como, social dc 0. : Os. Eeeupes de usuarios de diferentes variedades podem ser reconheci- dos, mas estabelecer fronteiras entre eles, ou soja, determinar as fronteiras dia- letais, é tarefa muito problematica, atingindo até mesmo subgrupos que. por algum aspecto, apresentam fronteiras bem nitidas, como no caso da dialetagao por diferenga de sexo. Evitando entrar em um terreno de extrema complexida- de e que até Ihe parecia cadtico, a descrigao, tradicional seguiu 0 caminho oposto € que servia a seus fins: procurou estabelecer uma norma c, assim, obter uma descrigao aproveitivel no ensino da lingua. Apresentou entdo como homogéneo um quadro que, na verdade, ¢ fortemente heterogéneo. Reduzia 0 objeto em causa, mas tomava a descri¢’o menos problematica. Alids, essa fic- cdo da homogeneidade lingiistica. titil, como se viu, foi assumida também pela Lingiistica. Ja Saussure. com vistas a solidificar a autonomia da Lingiis- tica, propos uma forte redugiio do objeto a ser descrito. Deixou de lado 0 que mais variava (a fala, a atividade lingiiistica, o uso da lingua) para a observagao de objeto menos instdvel: a /angue (0 sistema, 0 conjunto de convengées lin guisticas) entendida como coletiva. Ja nos nossos dias, 0 gerativismo de Chomsky também deixou de lado 0 uso do sistema (chamado de desempenho) ¢ bem separado do objeto de suas preocupacées. O que a Lingiiistica de Chomsky tinha como objeto era a com- peténcia do falante nativo, objeto logo entendido como os universais lingilisti- cos, a faculdade da linguagem. Caberia A Sociolingitistica (area interdisciplinar onde se estudam as rela- g6es entre os fatos lingilisticos ¢ os sociais) enfrentar o problema da variagdo dentro da mesma lingua. Para os sociolingilistas 0 quadro de variagiio deve ser apresentado em toda sua complexidade. Mais ainda, para Labov a variagiio no ¢ 0 caos que tantos viam, pois ela, também ela, é sistemati A realidade, portanto, é que toda lingua varia mesmo; que toda lingua € heterogénea; que o ‘objeto que chamamos de /ingua néo passa de um conjunto ___ de variedades, de dialetos; que descrigdes apresentando a lingua como homo- ssam “erros” e apenas se fala em a norma; tinica norma: diferente passa a ser “errado”. Dai as perguntas: 0 que ¢ certo? ‘ou “mortandela”? “Abobrinha” ou “aboborinha”? Estas estiio mostrando fatos que vao interferir no aprendizado: _ Oprimeiro é que o aluno aceita a autoridade da escola, representada pelo 1 . Professores de longa carrcira admitiram que raramente uma Tespos- ta ao aluno (mesmo resposia simplesmente prescrevendo uma realizagdo € proscrevendo outra, sem maiores explicagdes) seguida de uma segunda per- gunta: ¢ por qué? Portanto, aceita sem discutir, nem pedir explicagdes. Segundo; 0 aluno demonstra assim uma predisposi¢do para aceitar a visto escolar sobre a variagio lingiiistica. Aquele acatamento da autoridade da escola ¢ esta predisposig’o para accitar os valores escolares so reflexos no aluno do que acontece fora do universo escolar. Afinal. aquelas perguntas sio feitas também fora do mundo escolar, as vezes por pessoas que © professor julgaria afastadas de maiores preocupagdes con! os valores escolares em rela- Gilo a seu proprio desempenho, Em relate aos dependentes. porém. ¢ dbvio 0 consenso de que silo enviados a escola para, cntre outras coisas, aprender a falar “certo” Terceiro: em conseqiéncia, o aluno mostra ter assumido a visio preseri+ tivo-proscritiva da escola ¢ tende a admutir que havendo variagdo, uma reali- zagiio deve ser a “certa” ¢ as outras “erradas ‘Ou seja, ha um geral reconhecimento, sem qualquer discussdo, da aulori- dade da escola, que ndo apenas os cducandos acat mas todos. até mesmo 0s professores de lingua matena. Todos crendo que a posigéo assumida pela escola em relagio a variagdo lingiistica tem base em sdlidas investigagdes € analises. O que niio ¢ verdad. Havendo variagdes, documentadas as variantes, o linguista interessado nelas procuraria ver como se distribuem, ou, em outras palavras, procuraria ‘yer em que ambientes clas ocorrem, quais os scus usminos, etc Come resulta ee 0 para indicar lingtisticos. Para tal fungiio seraio empregac’ tude, Como os dois termos tero um paee ahr -dualizado, convém que este ponto seja bem esc! a on Na linguagem dos Ieigos os termos crenga © a pales i ralmente usados como sindnimos. Os dicionarios regi f Saas diferengas entre os significados © também as sobreposigoes. Crenga seria uma convicgdo intima, uma opinido que se adota com fé e certeza. Para deixar bem claro que se trata de uma apropriagao do blip uma ea i il fica, que se Jara, sem anilise, sem validade cientifica ou filoso!t ue se $ ha a ‘uma forma de assentimento objetivamente insuficiente, jd foi usado na literatura lingilistica 0 nome “superstigdio”. Assim. terlamos supersticdes lingiiisticas. estabelecidas. como as demais, “sem base na realidade™, “sem pensar na necessidade de examinar objetivamente para comprovar ou negar validade™.' 4 os ‘Ja atitude seria uma disposigao. propdsito ou manifestagaio de intento ou propésito, Tomando-se atitude como manifestagao. pressio de opiniio ou sentimento, chega-se 4 conclustio de que nossas reagées frente a determinadas pessoas, a determinadas situagdes. a determinadas coisas seriam atitudes que manifestariam nossas convicgGes intimas, ou seja, as nossas crengas em rela- edo a essas pessoas, situacdes ou coisas. E ainda comum, porém, entre especialistas, nfo haver distingdo entre afi: tude e crenga. Os dois termos podem ser usados, alternando-se como sindni- mos, ou é empregado apenas o termo atitude. Neste tillimo caso, juntam-se no termo atitude trés componentes: afetivo (que tesponde pela avaliagdo — positi- va, negativa, ou neutra — de uma determinada situagao, pessoa ou coisa): cog- nitivo (as idéias sobre as causas ¢ as implicagdes do objeto em foco); conativo {as convicgdes sobre a maneira de agir em relagaio ao objeto). No decorrer das pesquisas para este trabalho experimentou-se um certo desconforto com 0 uso dos termos crenga e atitude com os significados que Possuem na linguagem comum, pois mostravam-se insuficientes para revelat oa ae i oe a i ean clicitar. Portanto, mais embara- Martin Fishbein fornece a ex i Sean en eee tr8s componentes (afeti a explicagao Para 0 problema, mostrando que 0S vO, Cognitive € conalivo) nao esto necessariamente is um objeto qualquer cair em trés posigdes muit trés diferentes dimensocs. Isto fica além do alcance das processos usados para medir atitudes, que produzem numeros vara refletir todos os trés componentes com um minimo aceitavel de Se o fato nao causa preocupagdes aos investigadores de atitudes, a causa esta ‘em que nao € normalmente alvo de seus interesses @ medigdo de trés compo- nentes. Eles estio, geralmente, querendo medir apenas um, ja que suas escalas quase sempre indicam avaliagdes, por um certo numero de sujeitos, de certos objetos. O termo alitude, entaio, embora apresentado como abrangendo todos os trés componentes, ¢ usado em trabalhos que sc interessam apenas por ava- liagGes. Conseqiientemente, apenas © componente afetivo é medido ¢ tratado pelos pesquisadores, ‘arremata Fishbein, como “a esséncia da atitude”.? | Procurando uma definigdo mais operacional de atitude. Osgood ¢ seus colaboradores inicialmente promoyeram um levantamento critico das muitas definigdes precedentes de atitude, Tomando por base concep¢ad comum de atitude, usada tanto na linguagem cientifica. como na linguagem dos leigos (apresentada aqui resumidamente em pi rior), terminaram: eles por identificar atitude com a dimensio avaliativa anigrafo ant .0 definido por to 6 sua localizagiio em um espag ‘a'um conceit atitude em relagao efinida como avaliativa.’ O significado de um conceit algum mimero de fatores ou dimensées. A @ sua projegao cm uma dessas dimensoes, d Essa colocacdo de Osgood ¢ colaboradores foi bem explorada por Fishbein, Inicialmente ele enumera as vantagens da definigao: trata atinde como um.conceito unidimensional; mostra que cada ponto no espaco seménti- a ‘um componente avaliativo: esta bem de acordo com a descrigao de ati- ie como uma predisposicéio para responder a um estimulo de maneira favo- el ou desfavordvel. eae como um conceito unidimensional, atitude fica sendo um termo (pela avaliagao sponder apenas pelo significado avaliativo de um objeto ou conceito qu que se faz, se é “bom”, se ¢ “mau” etc.). E excluido, assim, que nao influencie ha colocagao do objeto na dimensio ‘¢ seus colaboradores cs do raciocinio de Fishbein e Raven. que aqui ex feito da seguinte maneira: Todo 0 individuo pode néio somente avali r ou rio na existéncia do conceito, i", mas simultancamente CO! vel”, etc. O primeiro tipo de julgamento (que jé foi analisado aqui) ¢ considerado uma medida da dimensio avatiativa de um conceito ou, especificamente, uma atitude. O segundo tipo de julga= mento pode ser visto como ure medida estabelecida na dimensiio de probabi- Jidadle de um conceito, ou, especificamente, pode ser visto como uma crenga Surge, porém, um problema com essa definigdo aparentemente U0 espe~ cializada de crenca. Uma definicao assim, que parece apenas dizer respeito 4 probabilidade de existéncia de um ot xcluiria um tipo de crenga que muitos estilo interessados cr d do em vista tudo 0 que ja fot exposto aqui, nilo pode ser conf 4 Nas pesquisas realizadas para este trabalho, por exe tas preliminares © nag observagdes sistematicar ‘cia do objeto, mas isto nélo em termos s cet, comprovat, & existéncia concreta do ‘ica, As sondagent das crengas dos sujcitos s¢ onan ob ee ram na medida em que clo objctiva dessa existe Funcionavam apenas como ho para se chegar so chjetive Gaui documentacio da variante. Por outro lado, hav w nic resse em comheeet a crengas dos sujcitos ware os obyctos cm cama. pow ¢ cate tipo de CRG que mais naturalmente csta relacionado as abtudes cm rekagho a Objet: A renga ou a descrenca de um individuo m cusstnce de oom dado objeto di RorMalmente, pouca ou ncnhure informasto a reypevto da powmo em que ele coloca 0 objeto dentro da dimem.to xahatya Em outras palov ms, th ommgat cognitive diz néio do objeto (por exemplo, se “existe” ou as rel ‘enlre 0 objeto em causa ¢ Outros Objetos. | imo aspecto, de grande importincia para estas investigagdes, nao caberia em uma definigdo extremamente especializada, que s6 dissesse respeito 4 existén- cia ou nfo do objeto. Ou, colocando o problema mais ao centro de nossos interesses aqui, por exemplo, 0 relacionamento estabelecido pelo sujeito entre ‘9 objeto lingitistico em causa ¢ um outro (lingilistico ou nao) cuja posi¢éo dentro da dimensdo avaliativa, dada pelo sujeito, fosse conhecida pelo inyesti- gador. Fato que. como € ficil perceber, seria de grande utilidade. Dado um certo objeto, um sujeito pode ter varias crengas a respeito de seu relacionamento com outros objetos ¢ nao se vé a menor motivagdo para ‘usar outro termo que nao crenga a fim de designar, por exemplo, um tipo de iééia linetistica, adotada por um indiyiduo, do género “para falar bem o portu- ‘gués € preciso saber latim”. Compreendendo 0 pi roblema, para dar conta da situagao Fishbein e Raven estabeleceram uma distingo entre crenga em ¢ crenga sobre um obje- to, levando em conta essa “crenga na existéncia de uma relagao” entre um objeto ¢ algum outro objeto, qualidade etc. Mas deve ser entendido que as varias crencas nas relagdes entre um objeto € outros objetos ou qualidades — que eles chamam crengas sobre — no escapam a defini¢do de crenga proposta por eles. Da mesma forma que na crenga em um objeto (dizendo exclusivo Tespeito a existéncia do objeto), na crenga sobre 0 objeto (relacionada a natureza do objeto, a sua maneira de istir) 0 que esté em jogo ¢ também a dimensio de probabilidade de um conceito. Na crenga sobre, 0 que 0 sujcito assume niio é a “probabilidade” ou “improbabilidade” da existéncia do objeto, mas a “probabilidade” ou “ nprobabilidade” de seu relacionamento com outros objetos. ___ Ficando assente que tanto a creiga en como a crenga sobre se referem 4 dimensao de probabilidade, 0 termo crenca é definido, da mesma forma que 0 termo atiude, como um conceito unidimensional, pois continua dizendo res- peito apenas a “probabilidade” ou “improbabilidade™, seja da existéncia de um certo objeto, seja da existéncia de uma certa relagao. Me Sins: a Jevando, por exemplo, tanto o sujeito como: a concluir que larieilcrn ligagdo com coisa seni de fato verdadeiro que fortes hibitos de orientacdo emocional exi fam de maneira to auténoma, to isolada de outros processos psicolégicos de {al forma que néo podem ser nem justificados, nem explicados por aqueles q ‘OS possuem? A pergunta é de autoria de Rosenberg.‘ que a langa para Tespon- ‘der de modo negativo: ocasionalmente ha quem possa, de fato, parecer experi- ‘Mentar emogdes persistentcs que aparecem de mancira inexplicavel sem ‘base. Mas, quando alguma “explorago profunda” ¢ feita, seja através de livre _ ssociagdo, seja através de uso de hipnose ou narcose, logo se descobre tanto oO Significado do padrao emocional como seu relacionamento com outros proces- — ‘Sos psicologicos. Bons exemplos dessas orientagées emocionais aparentemen- fe. mas ndo verdadeiramente, isoladas podem ser encontrados nas classicas fobias descritas pela psicopatologia. ‘Mas, quando interrogamos Pessoas a respeito de suas antipatias em: telagdo. @outras pessoas, objetos. objetivos ou conceitos, 0 comportamento tipico dessas Pessoas € dar razdes para suas habituais preferéncias ¢ aversdes, geralmente sob a forma que . em linguagem técnica de Psicologia, é conhecida sob 0 nome de. “cogni¢40”: crengas sobre como o objeto apreciado ou detestado é telacionado a Oultos objetos estimados ou detestados, i . Eee nee ‘ 2) Crengas sobre as caracteristicas, qualidades ou atributo 3) Crengas sobre 0 relacionamento do objeto com outros: on 4) Crengas sobre se 0 objeto favorece ou prejudica a chegada ty: abjetivos ou a obtengao de valores desejados; 5) Crengas sobre 0 que se deve fazer em relagao ao obje 6) Crengas sobre 0 que se deveria ou nio permitir ao objeto, Usando-se manifestagdes de crengas lingiiisticas, os exemplos poderiam seros seguintes. todos relacionados ao objeto “lingua portuguesa”: 1) O portugués dos jovens do tem gramiatica, 2) O portugués ¢ sonoro; 3) O portugués é igualzinho ao espanhol: 4) O portugués nao favorece 0 discurso filosdfico; 5) O portugués deve ser preservado com rigor: 6) O portugués deveria ser adimitido como lingua oficial tinica da ONU- Em todos esses casos 0 conccito é uma afirmativa de relagéo, uma expresso em que se associa um objeto (X) com um outro objeto (Y). Essa associagéio de (X) a (Y) deve ter muito a ver com a posigéo em que 0 sujeito coloca tanto (X) como (Y) dentro da dimenséo avaliativa, ou seja, coma atitu- de do sujeito em relagdo a (X) eem telagdo a (Y). Relagdo entre crenga ¢ atitude componente avaliativo, deve- Jago a todos os conceitos ou Aceitando-se que todo conceito possui um Se concluir que as pessoas tém uma atitude em rel objetos. Assim, em uma expresso de crenga do tipo, por exemplo, “o portu- gués tem grande unidade”, o sujeito tem nao apenas uma atitude em relagdo a (X), 0 objeto da crenga (“o portugués”). mas também tem uma atitude em rela- 40 a (Y), 0 objeto relacionado (“unidade”), Como as atitudes podem ser de, 0s (Positivas, negativas ou neutras). dai se infere que qualquer bjeto possui um aspecto avaliativo positive. negative ou ») O objeto da atitude ¢ associado positivamente com um conceit tramente avaliado; 3).0 objeto da atitude ¢ associado Positivamente com um conceito n tivamente avaliado: 4)0 objeto da atiude ¢ associado negativamente com um conceito posi tivamente ay; 5 5)0 objeto da atitude ¢ associado negativame Uamente avaliado; 6) 0 objeto da atitude ¢ associado ne tivamente avaliado. Cada uma dessas expressdes de crenca implica uma atitude favoravel (Casos | e 6), desfayoravel ’ (casos 3.¢ 4) ou neutra (casos 2 ¢ 5) em relago a0 objeto da atitude. E evidente. porém, que s6 se poder saber que uma dada xpressdo de crenca revela uma atitude favoravel ou desfavoravel se for tam- bem conhecida a mancira como 0 sujeito avalia © conceito relacionado, Exemplo tirado de uma sala de aula: o professor e um aluno esto em grande aordo na expresso da crenga “portugués é uma lingua dificil”, Nao obstante, 8 atitude que os dois possuem em relagio ao Sbjeto da crenga (“portugués”) mao € a mesma, dada a avaliacao diferente que fazem do conceito telacionado (uma lingua dificil’). O professor valoriza a dificuldade, ser “di nte com um conceito neu- ‘gativamente com um conceito nega- I”, que exige “conhe- aluno “sem base”, jamais , aS atitudes de professor € mbém sao Opostas as atitu- a expressiio da crenga é exatamente aluno sao opos des em relacao igual. tas. E, dado o tipo de expressao, tar 0 objeto de crenca. Mas de atitude: variavel hipotética, "um individuo relacionadas a um dado objeto. de crenga, isoladamente, serve apenas eae mas é uma indicadora de atitude. A atitude mest Uma es : ‘um aspecto parcial, Mm L pode ser ‘abstraida a partir das muitas creneas que um individuo possui. série de crengas j4 foi estudada pelos especialistas, fornecendo apoio de que todas as crencas de um sujeito sobre um objeto sto ‘unportanies determinantes de sua atitude em relagao ao objeto. ‘O conjunto total das crengas que tem um sujeito sobre um objeto consti- tuj um sistema de crengas. Todas essas crengas sobre 0 dado objeto possuem ‘um aspecto avaliativo, ou seja, cst4o associadas a uma atitude. Assim, crengas e atitudes aparecem interrelacionadas ¢ isto, como ja tem sido demonstrado, de forma sensivel ¢ dinamica: a mudanga cm uma parte do sistema acarreta ‘mudanga em outra parte. Varias pesquisas produziram evidéncias de que a ati- fade de um individuo pode ser mudada, se forem mudadas suas crengas sobre o objeto. Rosenberg’ mostrou que no sc pode dizer simplesmente que as cren- gas so determinantes d crencas também podem ser vistas como conseqiéncias de atitude, com lificagao de evolugao de crengas devida a mudanga de atitudes, ou S 5 na atitude podem determinar mudangas de crenga. Fishbein sugere uma tcoria do relacionamento entre as crengas sobre um objeto ¢ a atitude cm relagdo a esse objeto que. em linhas gerais, seria a Se- guinte: 1) um individuo assume muitas crengas sobre um dado objeto (c isto sig- nifica que ele associa, positiva ou negativamente, a0 dado ‘objeto mui- las caracteristicas diferentes: atributos, valores, conceitos, objetivos); 2) associada a cada um desses objetos relacionados a0 dado objeto de crenga esté uma resposta avaliativa mediata: uma atitude; 3) essas respostas avaliativas sio consideradas em seu conjunto (fica sendo um detalhe técnico explicitar como isto € feito); 4) essa resposta avaliativa ja obtida ¢ entdo associada com 0 0 atitude (por um processo de mediacdo): ic atitude, mas que as a exempl mudanga bjeto da 15 Mies ail Te’AGd0 a0 objeto € o aspecto avaliativo daquelas crengas. A a \ Pode entdo ser prevista a partir do numero, da forga ¢ do aspecto das crengas do sujeito a respeto do objeto da atimde’ 7 Esta é a fundamentagao que autoriza, neste trabalho girando em tomo fatos lingitisticos, a interpretacao das atitudes dos sujeitos expostos 4 ¢: como sintomas de adogao ou rejeigdo por esses sujeitos das crengas sobre os objetos em causa. A escola como sujeito de crengas A escola, termo que. como JA se viu. tem aqui um significado bem amplo, é um sujeito que, como qualquer outro sujeito, possui crengas sobre objetos ¢ atitudes em relacao a eles. F mbora os objetos de crencas escolares ndo sejam necessariamente de natureza lingilistica, 0 interesse deste trabalho: Volta-se para 0 iltimo tipo de objeto. Crenea sobre um objeto ja foi definida como a assun¢o da probabilidade ou improbabilidade da existéncia de uma certa relagiio entre o objeto da Crenga € outro objeto (conccito, valor, objeti- Yo). O objeto da crenca aqui se quer Scja de natureza lingilistica, mas 0 concei- to relacionado pode ser de natureza lingiiistica ou nao. Voltando & formulagio ja apresentada, (X) seri sempre objeto de natureza lingiiistica, mas (Y) nao ° ser necessariamente. Portanto, dado um Certo objeto lingiiistico, a escola rela- ciona a ele um grande nimero de Conceitos diversos ¢ a cada um desses con- ceitos relacionados ao objeto de crenga € atribuida uma Posigdo dentro da dimensio avaliativa: a escola tem uma atitude em re! IGIO aos conceitos rela- cionados. Esse seria 0 grande Sistema de crengas lingtiisticas assumido pela escola, Esse grande sistema formado pelas Crengas assumidas objetos lingiiisticos, que, Por economia, ¢ também erengas escolares, é a maneira como a Pela escola sobre tae um dado sujeito tem sobre a é sempre a escola, 0 sistema escolar. 9 termo ideologia significara a imagem que a escola ¢ 0 lingtiistico, que poder ser mais amplo ou mais restrito, ou das que cla estabelece entre 0 objeto lingitistico ¢ um outro objeto, que pode ser lingiistico ou de qualquer outra natureza. Na consideragdo dessa maneira como a escola vé os ‘objetos lingitisticos ¢ outros a eles associados, 0 uso do termo ideologia nao implica atribuigdio de sentido pejorativo, nem esta nocessariamente comprometido com juizos de valor. De que modo saber como a escola considera a linguagem. a lingua ou variedades de lingua em que tem interesse? O acesso a esse sistema de crengas escolares € feito através do cxame das expressdes de crenga apresentadas pelos clementos que ‘compdem o universo escolar, principalmente mentores, porta-vores reconhecidos e agentes, desde a ‘qutoridade que dispde sobre o ‘ensino da lingua até a mais modesta professora de primario, que tenta executar ‘as instrugdes que vém do alto. Ha expresses de crenga que sdo bem explicitas, como, por exemplo, as que podem ser levantadas nos documentos oficiais que apresentam quais Seam os objetivos do ensino da lingua. Muitas crengas. porém, nfo s¢ rani- festam assim t4o diretamente, mas, em determinadas situag6es, até a auséncia de manifestacdo pode implicar uma bem definida expresso de crenga. O Jevantamento das crencas escolares sobre a lingua no podera, portanto, limi- lar-se as expressdes de crenga ‘onde tanto (X) como (Y) estio muito bem caracterizados, assim como a ligagdo que € estabe! Jecida entre os dois termos. ‘Na verdade. levantar um conjunto muito amplo de crengas escolares é tarefa de enormes proporgdes. Neste trabalho, resultado de uma pesquisa indi- vidual, s6 foi levado em conta um dete: do grupo de crengas escolares, dizendo respeito a heterogeneidade lingilistica. Estudou-se, portanto, um aspecto bem limitado do universo de crencas escolares sobre a lingua. princi- palmente se se evar em conta que 0 foco principal do imteress= das investiga- g6es foi um grupo reduzido de variantes fonoldgicas. Eaaeo pai a ino prescritivo-proscritivo. : da” sofre presso cyolutiva vinda de baixo para lez vem o privilegiamento da modalidade escrita ¢ a LXIC imento da autoridade dos “bons” autores, certamente aque- icam com os padrdes prestigiados pela escola. (E a partir dai nao é 0 dialeto real das classes superiores) to da modalidade escrita ainda é muito vivo entre nds, ‘yer, por exemplo. através do cxame dos manuais de classe n uso € das expressées de crenga formuladas no meio colar. entrevistas preliminares realizadas com professores para a organ lisa que deu origem a este trabalho cra constante 0 apelo d orto- ra a justificagao da “superioridade” ou “Iegitimidade” de uma realiza~ icaem questo. Essa valoriza¢do da ortografia ref de que ide escrita precede a falada e ainda é capaz citar, em defesa de imento, manifestagao como a seguinte. relalivamente recente ¢ -veiculo de grande circulacdo: a esorita ¢, precisamente, a substituiggio da comunicagdo oral-auricular por frumento que independa da fala e do ouvid jue independa < ‘gulas ouvidas. Um bom orador, um camelé bem- vs artista de teatro...sio individuos altamente perigosos dentro ‘Escola é um jogo em que no vale a oralidade. Se o que fagamos um bom teatro, mas ndo o chamemos de fato, tendo-se em vista os compromissos originais da escola, ¢ coe- d modalidade escrita, pois ¢ modalidade menos vul- {elada aos ataques ¢ impactos das variedades nao prestigiadas

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