You are on page 1of 33
Desafios do impresso ao digital: questOes contemporaneas de informacao e conhecimento Gilda Maria Braga e Lena Vania Ribeiro Pinheiro (Orgs) Pen timere w ee Did 0 Brasil edigées IBICT/UNESCO © 2009. Instituto Brasileiro de Informagao em Ciéncia ¢ Tecnologia (IBICT) ¢ Organizagao das Nagées Unidas para a Educagao, a Ciéncia ¢ a Cultura (UNESCO) Revisao: Francisco de Paula ¢ Oliveira Filho (IBICT) Ficha catalografica: Priscilla Mara Bermudes Aratijo (IBICT) Diagramagéo: Paulo Selveira Projeto gréfico e capa: Edson Fogaca D441 Desafios do impresso ao digital : questées contemporaneas de informagio ¢ conhecimento / Gilda Maria Braga, Lena Vania Ribeiro Pinheiro (Org.). — Brasilia : Ibict : Unesco, 2009. 432 ps 24 cm. Numero de classificacao atribuido & obra conforme a Classificacao Decimal Universal, 2* edigao Padrao Internacional, em Lingua Portuguesa. ISB) 78-85-7001 3-066-2 1. Recuperacao da informacao. 2. Conhecimento. 3. Informagdo em musica. 4, Inclusio digital. 5. Divulgacao cientifica. 6. Comunicagao. 7. Periédico cientifico. 8. Patriménio cultural. 9. Bibliotecas comunitarias. 10. Informagao cientifica. 11, Informagao tecnélogica. 12. Direito autoral. I. Braga, Gilda Maria. II. Pinheiro, Lena Vania Ribeiro. III. Titulo. CDU 025.4.03 Representagao no Brasil Instituto Brasileiro de Informagao SAS, Quadra 5, Blco H, Lote 6 ‘em Giéncia ¢ Tecnologia Ee, CNPgIBICTIUNESCO,o* andar 10670-942 —SrasialDF ~ Bal Ex CNPaRCIGHUNCECO, oendar Tol: (85 61) 2106-3800 7070-912 ~BrasilalOF ~ Brae Fax (5561) 3322-4251 Tel: (61) 3217 6360, Email grupoedtorial@unesce.orgbr ccc: 38.649.¢5170020-41 ‘SAS, Quacra 8, BlocoH, Lote, 9. MARCOS HISTORICOS E POLITICOS DA DIVULGAGAO CIENTIFICA NO BRASIL Lena Vania Ribeiro Pinheiro’ Palmira Moriconi Valério* Marcia Rocha da Silva* INTRODUGAO Na histéria da civilizagao, em diferentes momentos a divulgagao cientifica se manifesta, ainda que nao na forma como hoje é pensada ¢ praticada. Alguns autores, como o brasileiro José Reis, identificam atividades dessa natureza desde a antiguidade cléssica. Pionciro da divulgagao cientifica no Brasil, Reis aliou, em sua vida, tanto a ciéncia quanto as ideias ¢ ages para sua divulgagio, faceta de especial interesse para este artigo. Os conhecimentos gerados ¢ publicados por José Reis ¢ a literatura sobre a sua vida e obra compéem vasta bibliografia, que inclui a colegao Divulgagito Cientifica‘. O artigo de Gongalves (1998, p.76) reproduz idcias deste autor, algumas depois republicadas na Revista Eletrénica Espiral. Em ambas as publicagées, Reis manifesta sua percep¢ao de proximidade entre os sofistas ¢ a divulgagao cientifica. A razio seria seu método pedagégico ¢ “empenho em mobilizar, na populagao, 0 conhecimento, qualquer que seja ele’, transmitindo-o, de cidade em cidade até 0 povo. 1. IBICTIMCT. Dourora em comunicagio ¢ cultura, UFRJ. E-mail-lenavania@ibict br 2, FINEP, Doutora em cigncia da informagio, UFRJ. E-mail: moriconi@finep.gov:br 3. IBICT/MCT. Mestre em educagdo, UnB. E-mail: mar_sea@ibiet be 4, Esta série, editada por Gloria Kreinz e Crodowaldo Pavan, inclui aula de Gonsalves constivulda, segundo a autora, por “excertos da vastissima obra do professor José Reis” por ela compilados, anto que so reproduzidos centre aspas 257 Exemplos de iniciativas com fins de divulgagao cientifica surgem na histéria da ciéncia, de forma individual e dispersa, como em Galileu Galilei® (1564-1642). O grande fisico reconhecia a barreira da lingua, no caso 0 latim, 0 que impedia 0 povo de conhecer os desenvolvimentos cientificos. Galileu escreveu em italiano Didlogo sobre os dois principais sistemas do mundo, em 1624, e Duas novas ciéncias, no ano de 1636, adotando a forma de didlogos entre professor e aluno, 0 que evidencia finalidade didética, uma das caracteristicas da divulgagao cientifica. No entanto, Sanchéz Mora afirma que, “mesmo assim, a sua leitura exigia conhecimentos especializados ou cultura” (SANCHEZ MORA, 2003, p. 15-16). Ainda no século XVII, em 1686, outro marco seria o livro Entretiens sur la pluralité des mondes, de Bernier le Bovier de Fontenelle (REIS, apud GONGALVES, 1998, p.75), embora conste a ressalva de que cle escrevia para a elite, capaz de leitura nessa época, quando a sociedade, em geral, era analfabeta. Mulheres tiveram papéis de destaque nessa empreitada, dois livros merecem ser ressaltados, especialmente o de Jane Marcet, Conversas sobre quimica, de 1806, e Sobre a relagio entre as ciéncias fisicas, de Mary Sommerville, publicado em 1834, Como pode ser constatado, obras com fins de divulgagao da ciéncia adotavam a forma de conversas, cartas ou ligbes (SANCHEZ MORA, 2002, p. 24). Mais recentemente ¢ jd no século XX, Albert Einstein (1879-1955) teria sido convencido, segundo Massarani e Moreira (2001), a descrever sua teoria da relatividade, de forma simples, para ser compreendida pelo povo. Estes exemplos de divulgagao cientifica pelo mundo, assumindo diferentes formas, adequadas ao seu tempo, foram semeando a area até chegar ao est4gio atual, marcado por peculiaridades terminolégicas ¢ de abordagens, conforme veremos a seguir. Além disso, a ciéncia foi assumindo papel cada vez mais relevante na sociedade e o seu vinculo com a tecnologia se intensificou, o que é bem traduzido em apresentagio da recente coletinea Terra incignita: a interface entre citncia e publico. 5. Aspectos de divulgacio cientifica na vida de Galileu Galilei sio abordados por Brecht na sua bela pega de sobre este cientista, no entanto, por se ratar de dramaturgia, com possives insergbes de ficgio, deixa de ser analisada neste artigo, 258 a cigncia, que hoje exibe também a face de tecnociéncia, é 0 grande empreendimento do mundo moderno. Ela e sua parceira, agora inse~ pardvel, a tecnologia, habitam nosso mundo material e intelectual, presidem. boa parte das relagées econdmicas ¢ de poder entre os povos ¢ adentram nossas vidas individuais (MASSARANT ; TURNEY; MOREIRA, 2005, p-7). Considerando a importancia da area ¢ as questées esbocadas nesta intro- duo, o objetivo principal deste artigo ¢ estudar a divulgacao cientifica sob a abordagem histérica, a fim de identificar os marcos de sua evolusao ¢ institucionalizagao no Brasil, na perspectiva da natureza da area e de suas fungées sociais, econdmicas, politicas ¢ educacionais ¢ tendo por fundamento as discussées terminolégicas e os diferentes conceitos adotados em alguns paises. CONCEITOS DE DIVULGACAO CIENTIFICA NAS SUAS INTER- RELAGOES, CONVERGENCIAS E DISTINGOES ENTRE AREAS. Inicialmente, ¢ importante observar as variagSes terminoldgicas no tempo ¢ espago. No Brasil, o termo mais adotado ¢ divulgagao cientifica, usado também em lingua inglesa, embora simultaneamente seja utilizado popu- lar vagao da ciéncia, que é comum nos outros paises da América Latina. ‘Além destes, vulgarizagio da ciéncia ¢ expressio empregada na Franga, onde é publicada La Recherche, revista com tradigao em divulgacio cientifica. Um de seus editores, Pierre Thullier, ja falecido, esteve no Brasil, e sua presenca aqui foi marcante, quando ministrou curso sobre o estatuto social da ciéncia ¢ publicou trabalhos, incluindo artigo na revista Ciéncia Hoje, em 1989. Ao abordar os conceitos de divulgacao cientifica, duas dreas so centrais nesta discussdo, a comunicagao social ea ciéncia da informagao, que nortearao este tépico, no qual é também inclufda a linguistica, de forma breve. Cabem, inicialmente, observagdes sobre questées ¢ equivocos conceituais que cercam a divulgacao cientifica, um dos quais, mencionado por Reis, diz respeito a sociedades em desenvolvimento, como o Brasil (REIS, apud GONCALVES, 1998, p. 78). Nesses paises, atividades de extensio agricola ou sanitéria e informacées técnicas dessa natureza foram, durante muito tempo, confundidas com divulgagéo cientifica. As primeiras constituem “ ,orientagées sobre como fazer em determinadas situagées”, 0 que é diferente do ato de divulgar ciéncia. 259 Quanto a conceitos ¢ definigdes, para Reis (REIS; GONGALVES, 2000, p. 36), divulgacao cientifica “...é a veiculagéo em termos simples da ciéncia como processo, dos principios nela estabelecidos, das metodologias que emprega’. Entre as contribuigées tedricas mais relevantes para a divulgagao cientifica, destacamos os conceitos introduzidos por Bueno, em sua tese de doutorado (1984, p.10-89) sobre jornalismo cientifico no Brasil, na qual 0 primeiro capttulo é dedicado aos aspectos conceituais, depois disseminados em artigos, incluindo um publicado apés mais de 10 anos (BUENO, 1995). Por sua vez, este autor retoma ideias de Pasquali, em termos dos conceitos difusao, disseminacao e divulgagao, ¢ estabelece os seus préprios, com certas variagSes. Divulgagao seria “... o envio de mensagens elaboradas, mediante a recodi- ficacao de linguagens criticas a linguagens omnicompreensiveis, 4 totalidade do ptiblico receptor dispontvel” (PASQUALI, 1978, apud BUENO, 1995, p. 1.421). Esta definicao é complementada por Bueno, na afirmativa de que esta atividade “pressupée a transposi¢éo de uma linguagem especializada para uma linguagem nio especializada, com o objetivo de tornar 0 contetido acessivel a uma vasta audiéncia” (BUENO, 1984, 1995). Bueno introduz um conceito intermedidrio de difusao cientifica, por ele proprio discutido e considerado de “limites bastante amplos, ”pois*... na prética, faz referéncia a todo ¢ qualquer processo ou recurso utilizado para veiculagao de informagées cientificas ¢ tecnoldgicas”: periédicos especiali- zados, bases de dados, sistemas de informacao, servigos de alerta de biblio- tecas etc. (BUENO, 1984, p. 14, 1995, p. 1420-21). Considerando a drea de atuagéo de Bueno, comunicacio social, este ¢ 0 momento oportuno e propicio para o encontro com a ciéncia da informagio. Pesquisadores deste campo, em pesquisas tedricas ¢ empiricas, apontam a comunicacéo como uma das areas interdisciplinares a ciéncia da informagio. Entre esses estudos epistemoldgicos, esto presentes tanto os de estudiosos estrangeiros, entre os quais Saracevic (1999), por exemplo, com sew artigo de 1999, quanto brasileiros, como uma das autoras deste trabalho, Pinheiro, em pesquisas de quase 15 anos que originaram artigos, 0 mais recente de 2006. Na ciéncia da informagio, o termo difusio corresponde a infraestrutura de informagio, servigos de informacao em geral, e ndo ha limites claros entre difusdo ¢ disseminago, se considerarmos as definigées. Disseminagao da informacao, conceito consolidado nessa 4rea, abrange servigos ¢ produtos de informagao elaborados com esta finalidade, af inclufdos bibliografias, indices, 260 resumos (abstracts), servigos de alerta em geral e, atualmente, bibliotecas virtuais ¢ digitais, repositdrios etc, Entre esses servicos, os DSI (disseminagao seletiva da informagao) produzidos a partir de perfis de usudrios caracteristicos da area ¢ até hoje muito adotados. Mesmo as definigées de comunicagéo cientifica, incorporadas & ciéncia da informagao, nao se restringem a produgao de conhecimento e sua comu- nicagdo entre cientistas, mas ao processo como um todo, af incluida a disse- minagio, com suas fases, desde as fontes primarias até a sua reestruturagao ¢ recompilagio em recursos secundarios e tercidrios, hoje apresentados em formatos impressos ¢ eletrénicos. Um dos cléssicos da rea, William Garvey, assim define comunicagao cientifica: Todo espectro de atividades associadas com a produgio, dissemi- nagio ¢ uso da informagio, desde a busca de uma ideia para pesquisa, até a accitagio da informagao sobre os resultados dessa pesquisa como componente do conhecimento cientifico (GARVEY, 1979). Meadows inaugurou, quando do langamento de scu livro classic, nos anos 1970, depois traduzido no Brasil, em 1999, um novo ciclo para a comunicagao de ciéncia, ao enfatizar a relevancia dos periddicos ¢ deixar claro que a comunicagao € téo vital quanto a prépria pesquisa. Meadows (1999, p.7) caracteriza a comunicacao como parte essencial do processo de investigacao cientifica, ¢ s6 por seu meio 0s resultados de pesquisa podem ser mostrados ao puiblico especifico. Observe-se que 0 reconhecimento da importéncia da comunicacéo da ciéncia como processo gera a terminologia comunicagio de ciéncia, poste- riormente reconhecida como comunicagio cientifica, tanto adotada como disciplina do jornalismo, na comunicagéo social, quanto pela ciéncia da informacao como subérea do conhecimento, ministrada regularmente a partir de 1977 no mestrado em ciéncia da informagao do IBICT. Um exemplo mais recente de delimitacao conceitual dificil diz respeito a dois termos: alfabetizagio cientifica (scientific literacy) € competéncia infor- macional (information literacy). O primeiro, segundo Durant, “é uma expressio em moda nos circulos educacionais dos Estados Unidos e Inglaterra” e se refere ao que 0 “ptiblico em geral deveria saber a respeito da ciéncia” (DURANT, 2005, p. 13), portanto, seu conceito é semelhante ao de divulgacao cientifica, Apresenta 261 abordagens distintas e tem significado préximo a “culeura cientifica” ¢ “compreenso puiblica da ciéncia” (DURANT, 2005, p. 14). Comperéncia informacional, estudada na ciéncia da informacéo desde a década de 1970 ¢ tradugéo mais adotada no Brasil, segundo Hatschbach (2002), também é denominada alfabetizacio informacional ou alfabetizacio tecnolégica. Outra autora, Dudziak, a define como “fluéncia cientifica ¢ tecnolégica ¢ no saber utilizar a informagio, criando novo conhecimento” (DUDZIAK, 2001) ¢ a relaciona ao papel educacional de bibliotecas ¢ bibliotecdrios. Certos conceitos apresentam aproximacao semantica e sao elaborados em dreas distintas, ¢ este € 0 caso de comunicacio cientifica ¢ divulgacio cientifica, conforme verificamos em alguns exemplos mencionados. Esta relagéo pode ser de complementaridade ou de extensao, quando um conceito é convergéncia de ideias ou prolongamento de outro, 0 que podemos verificar em Ramos: “A literatura sobre um determinado assunto nao compreende apenas os artigos cientificos, mas todos aqueles que o discutiram, interna ou externamente & producao académica, incluindo os artigos de divulgagéo cientifica” (RAMOS, 1992, apud VALERIO, 2005 p. 58). Outros termos de forte confluéncia conceitual séo divulgagao cientifica ¢ jornalismo cientifico. Alguns autores os consideram sinénimos, como José Reis, mas outros aprofundam as suas especificidades. Bueno, por exemplo, admite que os objetivos de ambos sao os mesmos, ¢ suas distingdes, marcadas pelas “... caracteristicas particulares do cédigo utilizado ¢ do profissional que o manipula” (BUENO, 1995, p.1422). Assim, o jornalismo cientifico seria 0 exercido por este profissional, mas a divulgacao cientifica pode ser atividade praticada por diferentes profis- sionais. No entanto, esta é uma polémica que continua, ¢ divergéncias sobre esta questéo esto postas para discussao, sobretudo sobre a autoria dos artigos de divulgagio cientifica do cientista ou do jornalista2, com questionamento sobre a capacitagéo do jornalista para o exercicio desta fungao, resposta que deveria vir do jornalismo cientifico. Bueno, em sua jd mencionada tese (1984, p.11-12), considera o jornalismo cientifico um caso particular de divulgagéo cientifica, efetivada pelos meios de comunicagao de massa, af inclufdos, além do jornal, a televisao, rdio e cinema, visio que se coaduna com a de outros estudiosos ¢ que pressupée diversas manifestagées de divulgacio. 262 Outra area que pode contribuir para a divulgacio cientifica, conforme mencionado no inicio deste tépico, é a linguistic, em termos de anélise do discurso. Coracini, por exemplo, com base em Mortureux, faz uma andlise de questdes semanticas ¢ de autoria ¢ considera a divulgacéo um “... discurso-segundo, derivado...*, 0 que “pressupée, evidentemente, um discurso-primeito, origem, fonte daquele...” (CORACINI, 1992). A autora tece algumas consideragdes sobre a etimologia de vulgarizagéo ¢ de divulgagio, ambos os termos contendo 0 vocdbulo “vulgo”, que corresponde a povo, plebe, popular, comum, ¢ observa 0 quanto ambos esto carregados de sentido pejorativo em lingua portuguesa. A discussio se dé em torno da metalinguagem ou “trans-crigao” da divulgacio em linguagem jornalistica ¢ da autoria do texto: cientista ¢/ou jornalista. A tese de Zamboni (1997, p.68-87, 128-162), mais recente, desenvolve- se apoiada nos fundamentos tedricos da anilise do discurso, no estudo das autorrepresentagées da divulgacio cientifica e anilise de textos de divulgacéo cientifica de origem distinta (de revistas e de jornal), nas suas variagdes. Contrariamente & Coracini, essa autora defende o discurso da divulgacio como novo, vinculado aos “discursos de transmisséo de informasio” (CORACINI, 1992), ¢ nao um discurso-segundo, produto de reformulagao de linguagem. Zamboni considera a divulgasio como um “género dis- cursivo especifico” ¢ “aurénomo em relacao ao género do discurso cientifico” (ZAMBONI, 1997, p.184-186). As questoes por ela discutidas afetam © problema entre cientista jornalista em relagio a autoria e podem amenizé-lo. PRIMORDIOS DA DIVULGAGAO CIENTIFICA NO BRASIL Nos tiltimos anos, a divulgacao cientifica no Brasil vem galgando espaco académico e politico cada vez maior. A preocupagio do governo brasileiro com a populacio menos favorecida, diretrizes voltadas as questées sociais, programas de incluso social, enfim, ages nessa linha tém propiciado 0 desenvolvimento de atividades com a finalidade de levar até 4 sociedade conhecimentos ¢ informagées sobre ciéncia ¢ tecnologia. Este reconhecimento nio pode passar ao largo da histéria das civilizagdes ¢ da prépria evolugao da ciéncia, ou de sua concepgao, néo somente teérica, mas de aplicagies. Com a revolucéo industrial, no século XVIII, houve necessidade de se levar, até os mecnicos ¢ outros profissionais, conhecimentos bdsicos sobre a 263 ciéncia para melhorar seu desempenho, o que exigia um tipo de divulgacao cientifica (REIS, apud GONGALVES, 1998, p. 76). A partir dai, circuns- tancias histéricas e significativas transformagées do mundo e da ciéncia, em particular, impulsionaram cada vez mais a divulgacao cientifica. O comeso da divulgacio cientifica no Brasil, tal como a compreendemos hoje, foi tardio, de acordo com Reis (REIS, apud GONGALVES, 1998, p. 77). Um olhar ao passado nos mostra que jd aparece um esboco de divulgacao cientifica no Brasil colonial, embora ainda de forma nao planejada e assiste- matica. Esta situagéo nao poderia ser diferente, uma vez que, conforme explica Schwartzman, até a fase inicial da Republica a atividade cientifica brasileira cra “extremamente precdria” (SCHWATZMAN, 2001, p. 66). Foi na segunda metade desse século, mais precisamente em 1874, a reformulacéo do ensino em nosso pais, com a criagéo da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, adotando o modelo francés. Nessa evolugao, no final do século XIX jé existiam intmeras instituigées de ensino e pesquisa. Assim, é natural que a partir dai ages de divulgacéo cientifica mais evidentes comegassem a surgir. Na abordagem histérica da divulgagao cientifica, em sua dissertacao de mestrado, Massarani (1998) foca o Rio de Janeiro, na década de 1920, petiodo escolhido por ser aquele em que a comunidade cientifica brasileira comegava a se organizar. Essa autora reconhece que a vinda da familia real para o Brasil e a fundagio da Imprensa Régia, em 1808, foram eventos decisivos para a impressio dos primeiros jornais, que jé inclufam noticias sobre a ciéncia. Entre os jornais que publicavam alguma informago cientifica, destacam-se: — A Gazeta do Rio de Janeiro, criada em setembro de 1808; = O Correio Braziliense, editado em Londres desde junho de 1808; — O Patriota, editado de 1813 a 1814 (MASSARANI, 1998). Posteriormente, Massarani publicou artigo com Moreira (2002), dando continuidade aos aspectos hist6ricos da divulgagio cientifica. Apés o periodo entre a Independéncia e a consolidacao do Segundo Império, novos jornais séo langados e alguns também incluem artigos relacionados & ciéncia: — MISCELANEA SCIENTIFICA, em 1835; — NICTHEROY, em 1836; 264 — MINERVA BRASILIENSE, em 1843 (MASSARANI; MOREIRA, 2002). Em texto publicado no volume 3 da série Divulgagao Cientifica, de autoria de Reis e Gongalves (2000, p.7-9), Reis, em documento por ele denominado “depoimento”, aponta intimeros nomes de cientistas brasileiros, suas atividades e publicagées que justificam a sua incluséo entre divulgadores da ciéncia. Entre os quais, Joio Ribeiro e Roquete Pinto, pela criagao de revista de divulgacio do Museu Nacional, artigos pioneirismo na radio- difasio em nosso pais, ¢ Miguel Ozério de Almeida, cuja obra est reunida S, apud REIS: em A vulgarizacao do saber e homens e coisas da ciéncia (RE GONGALVES, 2000). A linha demarcatéria para o inicio de publicagao regular de noticias na imprensa brasileira sobre cincia € 0 principio do século XX, quando jornais passam a incluir esse tipo de matéria. Em contrapartida, no mundo todo, fatos cientificos de grande expresso e impacto, como o langamento do primeiro satélite russo, 0 Sputnik, em 1957, tiveram como consequéncia a duplicacao do espaco dedicado & ciéncia nos jornais norte-americanos, além dea cigncia também passar a ser manchete (GONGALVES, 1998, p. 76-77). INSTITUCIONALIZAGAO DA DIVULGAGAO CIENTIFICA NO BRASIL A insergao da divulgacao cientifica no Brasil ¢ decorrente de um novo panorama mundial de C&T, conforme ressaltado em diferentes t6picos deste trabalho. Albagli, por exemplo, em artigo sobre o assunto, afirma: O progresso cientifico-tecnolégico incorpora-se ao rol de questdes que integram o dominio da esfera publica, sendo nela institucionalizada; por outro lado, ciéncia e tecnologia passam a constituir-se em bens mercantis, ao mesmo tempo disponibilizados ¢ protegidos no mercado global (ALBAGLI, 1996, p.396). Esta autora complementa seu pensamento afirmando que “nesse contexto torna-se crucial 0 modo como a sociedade percebe a atividade cientifica ¢ absorve seus resultados, bem como 0s tipos e canais de informagao cientifica a que tem acesso”. A divulgacio cientifica no Brasil deve muito a José Reis, falecido no ano de 2002 e citado no in{cio deste artigo ¢ em todo o seu decorrer. Além de sua propria produsao, muito tem sido escrito sobre Reis ¢ 0 seu papel na intro- dugio ¢ implantagéo da divulgacao cientifica no Brasil, bem como sao 265 intimeros os reflexos de sua forte atuagio, como a criago, em 1992, do Nuicleo José Reis de Divulgagao Cientifica, na Escola de Comunicacio Artes da Universidade de Sao Paulo (NJR/ECA/USP), ¢ 0 Prémio José Reis de Divulgagao Cientifica, do CNPq, atualmente na sua vigésima oitava edigao. A trajetéria da divulgagao cientifica em nosso pafs ¢ 0 caminho para sua consolidagio podem ser atestados pelas revistas em circulagao, associagées pfofissionais, projetos ¢ por atividades criadas ¢ expandidas em instituigdes ptiblica brasileiras. Valerio (2005), uma das autoras deste artigo, em sua tese de doutorado, defendida no Programa de Pés-Graduagio em Ciéncia da Informagio (IBICT/UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro), trata de periédicos cientificos eletrénicos e novas perspectivas de comunicagao e divulgacio para aciéncia. No capitulo sobre a institucionalizagao da 4rea, a autora faz amplo mapeamento ¢ sistematizago dos principais eventos da divulgagio cientifica, indicadores da sua consolidagao, a comegar pela formagao de recursos humanos, nos quais s40 gerados conhecimentos. Embora os cursos regularmente oferecidos em nosso pafs ainda sejam em pequeno niimero, a primeira cdtedra em divulgacao cientifica no mundo aprovada pela Organizagéo das Nages Unidas para a Educagio, Ciéncias Cultura (UNESCO), em janeiro de 2005, tem por sede o Niicleo José Reis de Divulgagéo Cientifica (NJR) (VALERIO, 2005, p.60-70). Também em Sao Paulo, na cidade de Campinas, na UNICAMP, foi implantado em 1994 0 Laboratério de Estudos Avangados em Jornalismo (Labjor), cujo objetivo € desenvolver pesquisas em jornalismo cientéfico, formar recursos humanos para a Area, graduagao e pés-graduagio lato sensu em jornalismo cientifico. Em termos de revistas sfo ressaltadas as seguintes: — revista Ciéncia Hoje, langada em 1982, ¢ Ciéncia Hoje das Criangas, em 1986, das mais importantes, ¢ ambas as iniciativas sto da Sociedade Brasileira para 0 Progresso da Ciéncia (SBPC); — revista Galileu, da Editora Globo SA (Organizagées Globo), em agosto de 1991, inicialmente com o nome de Globo Ciéncia ¢ “numa linha mais cientifica do que a atual e da sua concorrente Superinteressante, editada pela Editora Abril”; = Scientific American Brasil, em 2002, publicada pela Editora Duetto, que também langou Histéria Viva, praticamente ao mesmo tempo que Nossa Historia, revista publicada pela Fundagao Biblioteca Nacional; — Nexo, revista de difusio cientifica editada pela Faperj para divulgar os projetos financiados pela Fundagao, porém com curta duracéo; — arevista Pesquisa Fapesp, langada em 2001 (VALERIO, 2005, p. 60-70). Independentemente dos periédicos, livros também foram langados, alguns especialmente para criangas ¢ jovens, com titulos provocativos, como O neurbnio apaixonado e Aventuras de um neurbnio lembrador, de Roberto Lent, professor titular de neurociéncia do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciéncias Biomédicas da UFRJ. Esse autor também publicou Cem bilhoes de neurénios, contendo conceitos fundamentais da neurociéncia, Hé ainda publicagées de outra natureza, como o Pequeno manual de divulgagao cientifica, de 1999, de Cassio Leite Vieira (VALERIO, 2005, p. 65). O grau de profissionalizagao da area pode ser aquilatado pela existéncia de duas associagées, a ABJC - Associagao Brasileira de Jornalismo Cientifico, fundada em 1977, ¢ a ABRADIC - Associagio Brasileira de Divulgagao Cientifica. A primeira teve José Reis como primeiro presidente ¢ promove congressos bienais. A segunda é mais recente ¢ também tem a figura de José Reis como propulsora, pois foi criada em junho de 2001, quando estavam sendo plancjadas as comemoragées pelos 94 anos de José Reis, no Nuicleo José Reis, Nessa ocasio, foi percebida a necessidade de existéncia de “... uma associagéo que atuasse de forma permanente para discutir questées ligadas & divulgasao cientifica” (VALERIO, 2005, p. 60-70). Entre os projetos, ha os de alcance nacional, como o Ciéncia as Seis ¢ Meia, que comesou no Rio de Janeiro ¢ depois se estendeu a virios estados do pais, cujo objetivo é promover, regularmente, a divulgacio ¢ discussio de temas atuais da ciéncia. Outros projetos foram criados visando a diversificagao de piiblicos nao especializados e especificos, como 0 Ciéncia Jovem, feira criada em 1994 pelo Espaco Ciéncia, em Recife, explorando atividades, experimentos ¢ mostras interativas com o ptiblico. . O fortalecimento e a expansio da divulgagao cientifica so comprovados por iniciativas em instituicées puiblicas brasileiras, algumas englobando tanto a ciéncia quanto a divulgacao cientifica, umas mais antigas e outras mais recentes, apontadas por Valerio (2005, p. 66-70): 267 = no Ministério de Cigncia e Tecnologia (MCT), 0 Museu de Astronomia ¢ Ciéncias Afins (Mast) ¢ 0 Museu Paraense Emilio Goeldis — 0 Museu de Ciéncia e Tecnologia da PUC, de Porto Alegre; — 0 Estacéo Ciéncia, centro interativo de ciéncias, da USP; = aCasa da Ciéncia, da UFRJ; — 0 Museu da Vida, da Fiocruz. Entre estas instituigdes, 0 Mast deve ser ressaltado por duas razées, Em primeiro lugar, por ser uma das pioneiras na divulgagao cientifica do Brasil. Fundado em 1985 pelo CNPq, com o propésito inicial de preservar a meméria do conhecimento cientifico, foi posteriormente vinculado ao MCT Segundo Cazelli (1992), a partir da década de 1950, houve algumas tentativas frustradas de criar museus de ciéncias no pais, uma das quais foi iniciativa de José Reis, em 1954, de um museu de ciéncias para a cidade de Sao Paulo. Com esse objetivo, ele elaborou o texto “Por que um Museu de Ciéncia?”, no qual expés, de forma bem estruturada, a sua concepgao de muscu de ciéncia, que serviu de fundamento para a criacio do Mast, no Rio de Janeiro. ‘A segunda razo para destacar 0 Mast pela ampliagio ¢ diversidade de ages com a finalidade de promover ¢ estudar a divulgacéo ¢ a educagéo em ciéncias. Atalmente, sio intimeras as atividades que esse Museu promove para a populacao, desde ciclos de palestras de astronomia a observagées do céu, sessbes de planetirio inflavel e exibigdes de filmes cientificos a programas como Brincando de Matematica, Ciéncia Animada e Cozinhando com a Quimica. Entre o final do século XX inicio do XXI, destacamos ainda, no Brasil, produtos e servigos de divulgacao de ciéncia ¢ tecnologia criados na internet =o site de divulgagao cientifica Ciéncia Hoje on-line, do Instituto Cigncia Hoje, apresenta noticias exclusivas da atualidade cientifica do Brasil ¢ do mundo (htep://cienciahoje.uol.com.br/materia/view/386); — 0 ScienceNet, da Universidade de So Paulo (USP-Bauru), desenvolvido em parceria com a Universidade do Sagrado Coragéo, promove a cultura da divulgagao da ciéncia, por meio do jornalismo cientifico (http://www. sciencenet.com. br/); — 0 Portal de Jornalismo Cientifico, da Comtexto Comunicagao e Pesquisa (htep://www,jornalismocientifico.com.br), editado pelo jornalista ¢ também 268 presidente da Associacao Brasileira de Jornalismo Cientifico (ABJC), Wilson da Costa Bueno. Essas trés iniciativas em meio cletrdnico, juntamente com o CanalCiéncia, do IBICT, contemplado no item 4.1 deste artigo, sio pioneiras no pais em iniciativas de divulgacao cientifica e tecnolégica na rede mundial de compu- tadores. No plano das politicas ptiblicas, nao pode deixar de ser ressaltada a criagao de um Departamento de Popularizacéo ¢ Difusio da Ciéncia, na Secretaria de Ciéncia e’ Tecnologia para Incluséo Social (Secis), no Ministério da Ciéncia e Tecnologia, criada por decreto sancionado em 9/6/2004. © Departamento € chefiado pelo fisico Ildeu de Castro Moreira, cuja atuacéo no campo da divulgacao cientifica é significativa, especialmente em ages nas politicas puiblicas € na produgio de literatura para consolidacao ¢ expansio da area, Esse Departamento, entre suas atividades, lidera a realizacao da Semana Nacional de Ciéncia e Tecnologia. As comemoragées retinem atividades muiltiplas ¢ simulténeas, em todas as regides brasileiras, promovidas por érgios do MCT, instituigées de ensino ¢ pesquisa de outros ministérios, secretarias estaduais e municipais, enfim, entidades de diferentes reas ¢ instancias, com 0 objetivo de divulgar ¢ popularizar a ciéncia ea tecno- logia para a sociedade em geral e, assim, contribuir para a inclusao social. A cada ano, a Semana Nacional tem um tema central, que pode representar um problema universal ¢ contemporineo na ciéncia e tecnologia (como a temética agua, em 2005), um inventor ¢ inovador, por exemplo, Santos Dumont (tema de 2006) ou uma questdo cientifica ou tecnolégica signifi- cativa, neste caso, evolugio e diversidade (tema de 2008), com destaque as teorias pioneiras de Charles Darwin e Alfred Wallace. Suas ideias afetaram profundamente os paradigmas cientificos da época ¢ foram além, pois mudaram a visio de mundo do cidadao, pela introdugio da discussao sobre as diversidades bioldgica ¢ ambiental que afetam particularmente a sociedade brasileira, ‘Ao mesmo tempo, consta-se a insergéo do Brasil nas discusses interna cionais sobre divulgacao cientifica, tanto que em 2004 foi realizado, no Rio de Janeiro, o Workshop para a Popularizacao da Ciéncia e Tecnologia, pro- movido pela Organizagio dos Estados Americanos (OEA), em parceria com 0 MCT etendo o Mast como responsivel pela execugio do evento. Reunindo debatedores de 11 paises, seu objetivo foi revisar as politicas estratégicas de ciéncia e tecnologia do continente americano, abordando quatro linhas de 269 discusséo: aumento da competitividade, inclusao social, preservacao da meméria e formas de apropriagéo do conhecimento (VALERIO, 2005, p. 68). Entre as mais recentes iniciativas que comprovam a institucionalizagao da divulgacéo cientifica no Brasil, nao pode deixar de ser destacada a implan- taco, em 2004, do Comité de Divulgagao Cientéfica (DC), no ambito da Coordenagao do Programa de Pesquisas em Ciéncias Humanas e Sociais do CNP4, direcionado a cientistas de qualquer campo do conhecimento, jorna- listas e comunicadores, educadores, artistas ¢ Areas afins, desde que se dediquem ao tema foco do Comité. No ambito dos institutos de pesquisa do MCT, o Centro Brasileiro de Pesquisas Fisicas (CBPF), no Rio de Janeiro, que atua primordialmente na investigacao cientifica basica e no desenvolvimento de atividades académicas de pés-graduagio em fisica teérica e experimental, foi o vencedor do Prémio José Reis de Divulgacéo Cientifica de 2006. O prémio foi o reconhecimento de um projeto gréfico moderno, por meio de félderes desenvolvidos em linguagem acessivel pelo cientista fisico Joo dos Anjos. A série ‘Desafios da Fisica para o Século 21’ (http://mesonpi.cat.cbpf-br/desafios!) aborda assuntos como biofisica, cosmologia, neutrinos, particulas elementares, raios césmicos, entre outros, consistindo em material de divulgacao cientifica e de apoio didético altamente relevante para estudantes ¢ professores do ensino médio. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecudria (Embrapa), instituicao do Ministério da Agricultura, Pecudria ¢ Abastecimento, vem, desde 1998, lancando iniciativas de divulgagio, com a transmissao televisiva de informa- ses agropecudrias, agroindustriais ¢ florestais & populacéo, por meio do programa ‘Dia de Campo na TV” (http://www.sct.embrapa.br/diacampo/ diacampo.htm). Em 2004, com foco na promogio do crescimento rural sustentavel ¢ na qualidade de vida dos jovens rurais ¢ agricultores familiares, a Embrapa (Informagao Tecnolégica) criou ainda o ‘Prosa Rural’ (hetp:// www.sct.embrapa.br/radio/index.htm), um programa via rédio que, devido ao sucesso, estendeu- se a diversas regises do pais. No limiar do século XXI, cada vez mais diversas instituigdes de pesquisa, algumas sem experiéncia anterior, vém adotando priticas a fim de dispor os conhecimentos gerados em seus laboratérios para a sociedade brasileira. Temas até entao debatidos pelas comunidades cientificas ¢ tecnolégicas como a ciéncia ¢ a tecnologia do nanomundo e as pesquisas em genética, 270 com uso de células troncos, embriondtias ou nao — ¢ que apresentavam dificuldades de aproximagéo com o puiblico hoje se revelam em cenério mais aberto ao entendimento e debate. O projeto NanoAventura (heep://www.mc.unicamp.br/nanoaventura/), por exemplo, iniciativa impar do Museu Exploratério de Ciéncias de Campinas, que agrega pesquisadores e professores da Unicamp ¢ do Laboratério Nacional de Luz Sincrotron (LNLS/MCT), com apoio do Instituto Sangari e da Prefeitura Municipal da cidade, tem sido uma dessas experiéncias inovadoras. Para atender a escolas de ensino fundamental ¢ médio e também ao puiblico em geral, nasceu como exposicao interativa ¢ itinerante, apresentando, com criatividade, conceitos de nanociéncia nanotecnologia. Outro exemplo atual € 0 Centro de Estudos do Genoma Humano (hetp://genoma.ib.usp.br/), coordenado pela doutora Mayana Zatz, no Instituto de Biociéncias da USP, que confirma a aproximagio da comu- nidade cientifica com o public leigo. Com o objetivo de tornar a genética mais acessivel & populagdo, este Centro oferece desde aconselhamento genético a cidadaos que apresentam doencas genéticas a materiais de apoio didatico, em um projeto educativo ¢ de difuséo que atua junto a professores e alunos de ensino médio. Entre as instituigées brasileiras que se voltaram para a divulgacao cientifica ainda no século XX, esté também o IBICT, em atividades mani- festadas de duas formas: no ensino e pesquisa e na prestacao de um servigo cletrénico, um portal de divulgagéo cientifica, 0 CanalCiéncia, ambos enfocados nos préximos itens. A DIVULGAGAO CIENTIFICA NO IBICT No mestrado em ciéncia da informasao, criado em 1970 pelo IBICT, érgio do Ministério de Ciéncia e Tecnologia, com mandato académico da UERJ, posteriormente convénio, a disciplina Comunicagéo Cientifica foi introduzida pela professora Hagar Espanha Gomes em 1977 ¢, por sua impor- tancia, no perfodo 1982-83 tornou-se obrigatéria (PINHEIRO, 1997). Na década de 1980, Heloisa Tardin Christévéo, que na ocasiao era a professora responsavel por essa disciplina, iniciou uma linha de estudos em divulgacéo cientifica, terminologia baseada, sobretudo, em fundamentos teéricos da tese de Bueno (1984). 271 Nos anos 80, 0 Brasil estava saindo de uma ditadura e depois de 20 anos passava pela fase da chamada “abertura gradual”, 0 que se efetiva a partir da anistia aos presos ¢ exilados politicos e da primeira eleicao para presidente da Reptiblica, em 1985. Sao tempos de passagem para democracia, ¢ néo por acaso a primeira Agao Programada em Informagéo Cientifica e Tecnolégica (ICT) é claborada nessa fase ¢ publicada em 1984. Naturalmente, a informagao e comunicacao, vitais nesse processo, so pensadas com amplitude de publico, de usudrios. A democratizagio da informagao ¢ da comunicagao, a socializagao do conhecimento ¢ todos os processos com fins democraticos ganham forca. Assim, as circunstincias histéricas nacionais foram solo fértil para a divulgacao cientifica em nosso pafs, hoje fortalecida pelo enfoque social do atual governo. Devemos reconhecer que a criagéo de érgios do porte da Capes e CNPq, em 1951, foi decisiva para a implantagao de cursos de pés-graduagao brasi- leiros, nos anos 1970, ¢ o fomento & pesquisa em C&T. Estas agées foram fortalecidas pela implantagao da Finep, em 1971, além das fundagGes esta- duais de pesquisa. No ambiente académico, estudos nesse campo, no IBICT, deram origem a primeira dissertagao na area da divulgacio cientifica, de autoria de Patricia Hernandez Cafiadas (1987), analisando as revistas Ciéncia Hoje e Ciéncia ¢ Cultura, nas intersegdes de comunicacao ¢ divulgagio cientifica, sob a orientagao da professora Heloisa. Muitos anos depois, a revista Ciéncia Hoje voltaria a ser tema de dissertagio (VILHENA, 1998), sob a orientagao da mesma professora. 3sses fatos parecem indicar que a pesquisa em divulgacao cientifica, no mestrado em ciéncia da informagao, ocorreu como natural consequéncia, desdobramento ou extensio da comunicacio cientifica. No inicio dos anos 90, duas dissertagdes sobre divulgacao cientifica foram defendidas, uma de Angela Guedes (1991) ¢ outra de Rose Leite (1991), ambas também orientadas pela professora Helofsa. Na primeira, foram analisadas as cartas recebidas por telespectadores do programa Globo Ciéncia e, na segunda, num estudo de caso sobre o Museu Paraense Emilio Goeldi, foi analisada a “difusio da ciéncia moderna em instituigées de ciéncia e tecnologia”. A partir dai, as discusses ¢ orientagées sobre divulgagao cientifica se ampliam no mestrado em ciéncia da informacao, com a participagao de mais 272 professores, entre os quais Gilda Braga ¢ Lena Vania Pinheiro. A primeira orientou Hirata (1994) ¢ inicia, juntamente com a professora Heloisa, um projero denominado Saci, para “socializagao da informacéo: desenvol- vimento de metodologias para a sua efetivacao; estudo aplicado as areas de ciéncia da informagio e da satide”, especificamente hanseniase. Este Projeto teve sua primeira fase desenvolvida de marco de 1995 a julho de 1996, foi renovado até fevereiro de 1999 e deu origem a primeira tese de doutorado sobre divulgacao cientifica, de Leite (1999), cuja dissertagao de mestrado, jé citada, vinha na mesma linha, tendo como orientadoras as duas pesqui- sadoras ¢ coordenadoras do Saci, Além desta, a dissertacao de Reis, “A comu- nicagio da informagéo em hanseniase ¢ a questao do estigma sob 0 ponto de vista do discurso da midia” (REIS, 2000) insere-se no ambito do Projeto. A disciplina Comunicagao Cientifica passa a ser ministrada por Lena Vania Pinheiro, que também inclui no curso a divulgagio cientifica, daf o comego de suas orientagées sobre esse tema, sendo a primeira, de Ramos, em 1992, “A divulgacao da informagao em Energia Nuclear: ideologia, discurso ¢ linguagem”, tratando especificamente do acidente radioativo com o césio 137, em pesquisa que abrangia tanto a comunicagéo quanto a divulgacio cientifica. Outras dissertacées continuaram a ser apresentadas nessa linha, como a de Gonzales, em 1992, focada no piblico leitor de divulgagio, ¢ de Braga (1993), tendo como tema o jornalismo cientifico em redagées de jornais, em estudo de caso de O Globo ¢ Jornal do Brasil. Na década de 1990, rica em pesquisas sobre divulgasao cientifica, ainda seriam apresentadas mais trés dissertagdes: de Silva (1995), tratando de conceitos de disseminacio da informacéo ¢ de divulgacao cientifica, em Satide Coletiva e aplicando métodos bibliométricos, no caso, a Lei de Zipf (frequéncia de palavras no texto); de Vilhena (1998), j4 mencionada, ¢ a iltima do perfodo, de Massarani (1998), também citada neste artigo. Massarani deu continuidade aos seus estudos, dedicou-se & divulgacio cientifica e vem apre: ntando produgao cientifica significativa nessa dea. Nos anos 2000, foram desenvolvidas duas dissertag6es sobre divulgagio cientifica, em ambientes distintos dos até entao estudados: uma tendo por foco as agéncias de noticias ¢ assessorias de imprensa (CHAVES, 2001) ¢ outra, no mesmo ano, de Cardoso (2001), em museus de ciéncia e tecno- logia. A pesquisa mais recente é a tese de doutorado de Valerio, base pata o 273 tépico Institucionalizacéo da divulgagao cientifica no Brasil deste artigo, que levanta a hipétese de uma possivel aproximacao dos ptiblicos nao especializados ¢ especializados, a partir das tecnologias de informacéo ¢ comunicagio, Sobre periédicos cientificos eletrénicos e novas perspectivas de comunicacio e divulgacao para a ciéncia, parte do seguinte pressuposto: ...as redes eletrénicas, por meio de sua expressio maxima, a internet, tem ampliado a audigncia da ciéncia publicada nos periddicos cientificos, configurando-se uma nova situagao de aproximagio de piblicos especia- lizados © nao especializados constituindo uma nova audiéneia, num fendmeno de convergéncia de puiblicos (VALERIO, 2005). Assim, 0 objetivo principal de sua pesquisa foi “verificar como a comunicacao ¢ a divulgacio cientificas entrelagam-se com 0 advento das novas tecnologias de comunicagio ¢ informacéo, especialmente em relagao ao ptblico” (VALERIO, 2005). Como a produgéo de dissertagées e teses em divulgagio cientifica no IBICT diminuiu, nos tiltimos anos, deve ser explicado que este fato é decor- rente dos problemas enfrentados pelo Programa de Pés-Graduagio em Ciéncia da Informacio, cujo convénio nao foi renovado com a UFRJ, ocasionando a suspensao da selegao de alunos em 2002 e 2003, tendo as atividades retomadas na segunda metade de 2004, com a Universidade Federal Fluminense (UFF). Por conseguinte, como mecanismo de consolidagio ¢ ampliagao das pesquisas nesse campo foi institufdo no IBICT, em 2005, 0 Grupo de Pesquisa Comunicacio ¢ Divulgacao Cientificas, no qual a divulgagao cientifica, popularizagao da ciéncia ou vulgarizacao cientifica é estudada na sua fungao politica, social, educacional e cultural, bem como a passagem do discurso da comunicagao cientifica para divulgacao cientifica, ¢ seu papel na socializagio do conhecimento, universalidade de acesso & informagao e inclusio social (hetp://dgp. cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo jsp2grupo=00266070N4DU78). © Grupo é coordenado por pesquisadores do IBICT e integrado por mais de 20 membros, entre estudantes (mestrandos ¢ doutorandos), técnicos assistentes de pesquisa e oito pesquisadores oriundos de diferentes insti- tuigdes, entre as quais Finep, Universidade de Brasilia (UnB) ¢ Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). 274 A divulgacio cientifica no ambito do IBICT, iniciada com estudos ¢ pesquisas no Programa de Pés-Graduasao em Ciéncia da Informacio, foi complementada pela prética, com a criago do portal CanalCiéncia, a ser abordado no préximo tépico deste artigo. CANALCIENCIA O portal CanalCiéncia ¢ relativamente novo — considerando o seu plane- jamento (2000) ¢ implantagao (2002) até os dias de hoje -, tem pouco mais de cinco anos, mas apresenta uma trajetéria evolutiva diferenciada na sua vinculagéo departamental, equipe ¢ contetidos de informacao. Assim, os aspectos histéricos ¢ institucionais s4o apresentados inicialmente, numa sintese, seguidos de seus objetivos, tal como expostos atualmente, junto com a descricao ¢ andlise de informagao de suas bases de dados. A relevancia dessa iniciativa, projeto brasileiro de divulgacao cientifica na internet, pode ser aquilatada por sua escolha, em outubro de 2003, quando ainda era recente, para representar o Brasil na categoria eScience, do World Summit Award, prémio da Cipula da Sociedade da Informacao, como melhor exemplo de e-contetido e criatividade. A indicagio foi da Associagéo de Midia Interativa, e 0 CanalCiéncia foi classificado em 11° lugar, entre os 56 e-Science finalistas do mundo, e em 2° lugar na América Latina. Origem, planejamento e desenvolvimento Um portal de divulgacio cientifica comegou a ser planejado, no ano de 2000, pela bidloga e divulgadora da ciéncia Gloria Malavoglia, que o expés a Secretaria de Coordenacao das Unidades de Pesquisa do Ministério da Ciencia e Tecnologia (Secup/MCT). Inicialmente restrito as pesquisas cien- tificas e tecnolégicas realizadas nos Institutos do MCT, a sua implantagio ficou a cargo do IBICT, na ocasiéo sob a direséo do doutor Eloi de Souza Garcia ¢ da doutora Marisa Basilio Medeiros Brascher (vice). Para 0 seu come¢o, foi empreendida, nese mesmo ano, uma estratégia de sensibilizacéo que incluiu reunises com os institutos de pesquisa ¢ apresentagio do projeto em eventos técnico-cientificos. No ano seguinte, 2001, com o objetivo de debater amplamente o projeto- piloto, o IBICT organizou uma reuniéo e convidou 25 pesquisadores ¢ especialistas na area de jornalismo e divulgacio cientifica de todo 0 Brasil. ‘Ao mesmo tempo, foi expandida a apresentagéo do projeto a outras regides brasileiras, como 0 Nordeste, com a promogao de reunides técnicas e tecno- logicas com instituigées de competéncia nessas dreas. 275 Depois de implantado, ocorreu a sua primeira apresentago em evento, na III Conferéncia Mundial de Jornalistas Cientificos da International Science Writers Association (ISWA), realizada no Brasil e organizada pela Associagéo Brasileira de Jornalismo Cientifico (ABJC), em Sio José dos Campos, Séo Paulo. Em 12 de dezembro de 2002, 0 portal foi lancado oficialmente no IBICT, com a denominacao atual, CanalCiéncia (http://www.canalciencia.ibict.br), pelo entéo ministro de Estado da Ciéncia ¢ Tecnologia, Ronaldo Mota Sardenberg. A partir dai, os mecanismos para difusio do CanalCiéncia tiveram se- quéncia, em 2003, com novas visitas a instituigdes brasileiras ¢ com apresentacdes em diferentes eventos cientificos, incluindo na reuniao da SBPC. Gloria Malavoglia, que criou o CanalCiéncia, deixou de pertencer & sua equipe a partir de abril de 2004, quando a execucao do portal ficou sob a responsabilidade de Marcia Rocha, integrante da equipe e servidora do IBICT em Brasilia, desde maio de 2003. Por iniciativa da nova equipe, em 2004, ainda em Brasilia foram empreendidas ages educativas de cardter experimental em escolas do Distrito Federal, tanto para alunos quanto professores do ensino médio, entre as quais as realizadas durante a I Semana Nacional de Ciéncia ¢ ‘Tecnologia: Brasil, Olhe para o Céul, Estas estratégias interativas, hidicas ¢ participativas respondem & dupla preocupagao do IBICT, de estreitar ¢ intensificar a relacéo entre educadores ¢ divulgadores da ciéncia ¢, ao mesmo tempo, orientar alunos e facilitar suas buscas e acesso a informasao eletrénica na internet, de acordo com o histérico do Portal. ‘Tratando-se de um instrumento de divulgacao cientifica, o CanalCiéncia naturalmente busca conquistar como usudrio todo e qualquer cidadao brasileiro, recorrendo a palestras, exposigdes, videos, pecas teatrais, mostras ¢ oficinas, em atividades presenciais ¢ interativas que procuram unir cultura carte a ciéncia e tecnologia para inclusio social. Estas ages concretizaram-se, sobretudo, nas Semanas Nacionais de Ciéncia e Tecnologia (2004, 2005), oportunidade em que so ampliadas « parcerias, ¢ em eventos comemorativos como 0 Dia Mundial da Ciéncia pela Paze pelo Desenvolvimento, celebrado pela Organizagao das Nacées Unidas para a Educagao, a Ciéncia e a Cultura (UNESCO). 276 Em maio de 2006, 0 CanalCiéncia passou a ser desenvolvido na Coorde- nagao de Ensino, Pesquisa , Ciéncia e Tecnologia da Informacao do IBICT, no Rio de Janeiro. ‘Assim, nas Semanas Nacionais de Ciéncia e Tecnologia de 2006 e 2007, jd nesta cidade, o CanalCiéncia continuou participando desses eventos, desenvolveu atividades em parceria com 0 CBPF/MCT e de interiorizacio, nos municfpios de Paracambi ¢ Quissama (RJ), neste segundo municipio, por engajamento no projeto de pesquisa Janelas da Cultura, coordenado pela professora Isa Freire, do Ibict, além da extenséo dessas atividades em Paiaid para a Biblioteca Comunitéria Maria das Neves Prado, no municipio de Nova Soure (BA), em decorréncia do projeto de pesquisa do professor Geraldo Prado, também do IBICT. Outro prolongamento das agdes do CanalCiéncia tem sido realizado em parceria com a Embrapa, unidade Amazénia Oriental, por meio de projeto para a “disponibilizacao dos conhecimentos e das priticas que podem contri- buir para o desenvolvimento sustentavel ¢ o fortalecimento da agricultura familiar, com inclusio social”, Os resultados da pesquisa ‘Desenvolvimento e validagao de estratégias participativas de recuperagao de éreas agricolas ¢ isando a pastagens degradadas na Amaz6nia’ sao difundidos amplamente, melhores préticas culturais (sustentaveis) a serem adotadas pelos agricul- tores (hetp://www.canalciencia.ibict.br/pesquisas/ pesquisa. php?ref_ pesquisa=228). Objetivos, estrutura e contetidos informacionais Os objetivos do CanalCiéncia, tal como expressos no Portal, s40 os seguintes: “O objetivo principal do CanalCiéncia ¢ divulgar as pesquisas cientifi brasileiras relevantes, desenvolvidas em universidades, centros ¢ instituigdes de pesquisa, em dreas prioritérias de ciéncia, tecnologia & inovacao”. Na divulgagio cientifica, a linguagem especializada é transformada em linguagem de ficil compreensio, e 0 processo de fazer ciéncia é explicado com clareza, de forma a possibilitar a apropriagéo social do conhecimento cientifico ao cotidiano da sociedade brasileira. Com esta ferramenta a servigo da cidadania, 0 IBICT espera contribuir para a diminuigao de barreiras ¢ lacunas existentes entre a minoria privilegiada, rica em informagao e conhecimento, ¢ a maioria excluida tecnolégica, social e culturalmente. 277 O CanalCiéncia é dirigido, essencialmente, a educadores, estudantes € jornalistas ¢ esta aberto aos demais publicos interessados ¢ aos cidadios internautas, conforme descrigéo no Portal. Como decorréncia de seus objetivos, o nticleo central do CanalCiéncia é constituido por pesquisas brasileiras em linguagem de divulgagao cientifica, complementado por dois importantes conjuntos de informagées: — Meméria da Ciéncia, inclufda em 2003 ¢ contendo 0 acervo histérico dos programas de radio ‘Tome Ciéncia e Encontro com a Ciéncia, produzides entre 1984 e 1989 pelo convénio SBPC / RAdioUSP / Radio Cultura / CNPg, cuja veiculacao de entrevistas, em MP3 ¢ Real Audio, é fruto de acordo para uso de sofiware ¢ edigao eletrénica, com a Biblioteca Virtual da Escola do Futuro da USP; = Notéveis da Ciéncia ¢ Tecnologia do Brasil, galeria de cientistas assim considerados por sua contribuigao ao desenvolvimento cientifico nacional que agregou as bibliotecas virtuais de pesquisadores provenientes do Programa Prossiga do IBICT ¢ posteriormente foi expandida com biografias resumidas, num trabalho mais sintético e diferente do desen- volvido pelo Prossiga ¢ baseado no livro Cientistas do Brasil. Trata-se de uma coletinea de entrevistas publicadas pela revista Ciéncia Hoje, da SBPC, langada nos 50 anos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciéncia (SBPC). Sao depoimentos de proeminentes pesquisadores ¢ professores, reunidos em mais de 800 paginas, que se destacaram funda- mentalmente no desenvolvimento cientifico ¢ tecnolégico do pais. © CanalCiéncia inclui, ainda, segées denominadas Diretério de Links ¢ Saiba Mais. A primeira trata-se de um servico organizado que cobre glos- sdrios, projetos educacionais, revistas, agéncias de noticias, museus ¢ centros de ciéncia etc., ou seja, portais, sites e outros tipos de paginas eletrénicas selecionadas, analisadas ¢ avalizadas por sua equipe. A segunda constitui também um servico de informacao sobre eventos ¢ cursos, livros e publicagées, concursos ¢ prémios, multimidia e videos etc., isto é, so atividades, recursos, materiais didéticos, entre outros, para praticas de ensino-aprendizagem em ciéncia e tecnologia. Ambos os pontos de acesso privilegiam produtos ¢ servigos de divulgagio ¢ popularizacio da ciéncia, com o intuito de otimizar buscas dos usudrios da internet, criando condigées favordveis ao reunir fontes confidveis de informagées, legitimadas por instituigées reconhecidas ¢ respeitadas no cendrio da C&T no Brasil. 278 Estagio atual do CanalCiéncia Como reflexo da vinculago do Portal a Coordenagéo mencionada, foi possivel aplicar métodos bibliométricos / informétricos as estatisticas do CanalCiéncia e efetivar andlises de informagio para o seu aperfeigoamento, neste caso, webmetria, para contetidos disponiveis na internet. Estes estudos resultaram na apresentagao do trabalho “Andlise de metrias para dimensionar © acesso, 0 uso e a repercusso do portal de divulgacao cientifica Canal- Ciencia”, no IX Congreso Brasileiro de Jornalismo Cientifico, realizado pela ABJC, em novembro de 2007, na cidade de Sao Paulo. O objetivo foi “ analisar o resultado da mensuracao ¢ avaliar os fluxos/acessos das infor- macies armazenadas a partir de dois programas estatisticos, Webalizer e AWStats (Advanced Web Statistics), implementados no servidor do CanalCiéncia” (SILVA; PINHEIRO, 2007). O resultado da coleta de dados sobre visitas anuais ao Portal, atualizado para o presente trabalho até 07 de julho de 2008, pode ser observado no Grafico 1, as isita Grafico | —Visita anual ao Portal CanalCiéncia 600.000 500,000 400.000 300,000 200.000 100,000 2002 2003 2004 2005 ©2006-2007 2008 Visita anual Fonte: Silva e Pinheiro (2007), atalizado, Conforme pode ser constatado, a visita vem em um crescendo acentuado, mesmo com as dificuldades operacionais enfrentadas, ultrapassando 500 mil visitas em 2006, com pequeno decréscimo em 2007. Outra forma de dimensionar o reconhecimento do CanalCiéncia é sua indexagao por diferentes instituigoes de C&T, que o incluem, em seus sites, tanto de divulgacao cientifica como de educagao. Alguns destes sio destacados por Silva ¢ Pinheiro: 279 a Rede de Popularizacéo da Ciéncia ¢ da Tecnologia na América Latina e Caribe (Red POP); a ComCiencia — Revista Eletrénica de Jornalismo Cientifico (LabJor ~ Unicamp); a Science and Development Network (SciDev.Net); a Rede Especializada de Ciéncia e Tecnologia (RECyT) do Mercosul; a Secretaria de Estado de Ciéncia, Tecnologia e Inovacio (Secti-RJ); © Portal da Educacéo Puiblica; o Portal da Fundagéo Cecierj (Centro de Ciéncias e Educagao Superior a Distancia do Estado do Rio de Janeiro / Consércio Cederj (SILVA; PINHEIRO, 2007). O alto indice de visitas esté relacionado & indexagdo do CanalCiéncia pelas instituigdes listadas anteriormente, uma ver, que muitas dessas “... aparecem entre os 20 enderecos externos que deram mais acesso ao CanalCiéncia” (SILVA; PINHEIRO, 2007). Além disso, outro fator que impulsionou o acesso ¢ uso desse Portal do IBICT foi a Plataforma Lattes, do CNPq, da maior importéncia para C&T nacionais, que traz na sua primeira pagina, desde agosto de 2003, a fotografia de um cientista brasileiro extraida dos Notdveis da Ciéncia do Portal, ea ilus- tragdo remete automaticamente ao CanalCiéncia (SILVA; PINHEIRO, 2007). NATUREZA, FUNGOES E IMPLICAGOES DA DIVULGAGAO CIENTIFICA: UM NOVO SENTIDO? ‘A natureza da divulgacao cientifica — em analogia ao que Reis (apud KREINZ, 1998) estabeleceu para o jornalismo cientifico ~ também é marcada por diferentes aspectos: politicos, ideolégicos, educativos, econémicos, comunicativos, sociais e culturais, aos quais acrescentamos os informativos. E, pois, neste cendrio multifacetado ¢ miiltiplo que a divulgacao cientifica deve ser estudada. ‘A compreensio da divulgacao cientifica no Brasil passa, sobretudo, pelo cenério nacional ¢ internacional de ciéncia ¢ tecnologia, com seus avangos ¢ profundas transformagées. E oportuno lembrar que a ciéncia, nas suas origens, estava fortemente relacionada as humanidades ¢ que foram as especializaces, no século 19, que trouxeram “...uma mudanga na linguagem cientifica’, criando dificuldades na comunicagao entre cientistas ¢ leigos, pela auséncia de uma linguagem comum (SANCHEZ MORA, 2003, p. 21). Em pesquisa publicada em 2000, Schwartman, jé citada, reconhece que “o cendrio internacional da ciéncia ¢ tecnologia mudou dramaticamente 280

You might also like