A Ascensio da Grécia — 155 A Idade Areaica: aprox. 800-500 A, C, Nessa Idade Arcaiea, que sucedeu & Era Obscura de confusio © apalpadelas, comegaram a tomar forma as instituig6es © atitudes caracteristicas da sociedade helénica, A sociedade dessa época nio 6 fGcil de compreender, pois era diversificada, complicada ¢ mu- tivel. Constituiu, porém, 0 alicerce sObre que mais tarde se ergueu a civilizacio grega clissica, e nesse periodo de comegos podem ser pesquisados aquéles fatores que iriam dar eterno brilho & cultura grega, assim como aquéles que iriam limité-la e empand-la COLONIZACAO GREGA. — Um dos mais importantes de- senvolvimentos désse periodo foi a difusio de colénias gregas, em ampla extensio, pelas terras em tomo do Mar Negro e do Me- diterrineo; por exemplo, Bizdncio foi fundada pelos gregos de Mé- gara em 658 A.C. As fércas que se achavam por tras dessa expan- so eram simples, embora numerosas. A principal causa politica era a antiga organizacio aristocritica da familia que predominava entre os gregos. Sob ésse regime, direitos ¢ privilégios ficavam em mios dos membros das grandes familias e, em especial, dos homens mais velhos dessas familias, Os jovens enérgicos ¢ ambiciosos, impacien- tes por fazer nome e fortuna, cram assim obrigados a partir para terras novas. Férga mais poderosa era 0 descontentamento econdmico. A me- dida que as condigdes se tornavam mais ordenadas, para o fim da Era Obscura, a populagio aumentava e isso produzia eae de terras. Como a maior parte dos terrenos ja era de propriedade das grandes familias que tinham a supremacia politica, ¢ como nao se achassem elas dispostas a abandonar o que tinham, muitos dos gregos iam para o exterior A busca de campos novos que pudessem chamar seus. Outros motivos econémicos estavam também envolvidos. Por exemplo, certos gregos empobrecidos emigravam a fim de prestar servicos como mercenarios, a convite dos ricos reis do Oriente. Outros emigravam para valer-se de oportunidades no comércio ou em mine- ragées no exterior. Col6nias foram instaladas do extremo ocidental do Mediterraneo 20 extremo oriental do Mar Negro. O Proponto e o Euxino, como os chamavam o Mar de Marmara e o Mar Negro, atraiam tuitos estabelecimentos, assim como 0 litoral da Asia Menor e as costas setentrionais do Egeu, ¢ ainda as ilhas espalhadas pelo mar nessa regiao, Talvez a mais sedutora de tédas as terras abertas aos gregos Z a do Ocidente, Muitas colénias existiam na Italia do sul, que _ a chamada Grande Grécia, e na Sicilia, Entre as mais notaveis ‘ coloniais havia Siracusa, Naxos, Cumas, Nedpolis, Tarento is. Mas havia também numerosas coldnias gregas ainda mais tees comcamscetpara 0 oeste, até mesmo na costa oriental da Peninsula Thérica e na costa meridional da Gilia, A mais notavel destas era Massilia, a Marselha de hoje. Bese tenso e amplo esfdrgo colonizador teve surpreendentes rc sultados. Primeiro, deu aos gregos novas fontes de riqueza para suplementar os magros recursos de sua terra natal, Com a riqueza, © niimero dos gregos aumentou e suas incursdes através dos mares Se fizeram em numero cada vez maior. Com o trafego maritimo, adquiriram conhecimento de outras terras e mais tarde desenvolve- ram um coméreio que se espalhou em térno de todo o Mediterraneo. Com 0 actéscimo do comércio, brotaram violentas rivalidades econd- micas, que por vézes resultaram em guerra entre as pr ‘Oprias cidades gas rival Fic. 58 — Moedas Gregas, A esquerda, verso ¢ reverso de uma tetradracma de prata de Atenas, 480-470 A.C., mostrando a cabega de Atena e 0 mocho, Teeitonas e o nome abreviado da cidade. A direita, verso e reverso de um tlectro (liga amarelo-clara de ouro ¢ prata), no valor de um térco de estdter, provivelmente fabricado na Lidia, na primeira metade do século VI A.C. 'h série a que pertence esta moeda é uma das mais antigas cunhagens gregas (Sociedade Numismética Americana). desenvolvimento do comércio levou ao uso da cunhagem de moedas. Isso possibilitou que uma economia baseada no dinheiro suplantasse o incémodo sistema das permutas. Mas o incremento do comércio, produzindo maior demanda dos produtos da agricul- tura, também aoe a maior uso de escravos. Além disso, criou uma nova classe de ricos endinheirados. Esses desenvolvimentos trouxe- ram consigo fermento e alteragio para a ordem social, como veremos pouco adiante, neste capitulo e no seguinte. 4 A ASCENSAO DA CIDADE-ESTADO GREGA A Cidade-Estado Grega ; Os niicleos econdmicos, sociais e politicos em tdrno dos quais se iam desenyolyendo essa prosperidade e essa expansio eram as 156 — Os Eyeus e os GregosA Cidade-Hstado Grega — 157 cidades-estados gregas, Tal forma de organizagio politica nao era nova, pois {4 existira de modo algo semelhante entre os egipcios e 0s mesopotimicos, A cidade-estado, todavia, teve significagéo espe- cial na ascensiio da eivilizagio grega, porque foi a um tempo a unidade politica visivel a que pertenciam as mais nobres aspiragées de responsabilidade social ¢ © conceito politico-social em volta do qual se focalizavam os ideais gregos de cidadania, individualismo e eriatividade cultural, Como a maioria dos sistemas politicos, a cidade-estado grega foi produto da histéria e do meio ambiente. Sua origem remonta a pent sociedade da Acaia, que Homero descreveu. Nessa socie- dade, a unidade bisica era 0 cla patriarcal, composto dos que des- clap tog as cata cliDerecpsihcla50 juntavam para formar uma associagio hereditaria conhecida como inmandade, O passo seguinte foi a unidio de varias irmandades para formar uma tribo, 0 que Ihes aumentaria a fdrga em ocasiéo de guerra. Como os homens da tribo necessitassem da protegio de mu- ralhas, construfram bastides fortificados, em que se refugiavam nas épocas de necessidade, Com a melhoria da sorte da tribo, o chefe, ou rei, erigia uma fortaleza mais chamada polis, Em volta dessa cidadela sur; as hal dos que serviam o rei, © mais tarde ésse estabelecimento tornava-se uma cidade, no sen- tido as hoje damos a essa palavra, O nosso vocdbulo politico pro- vém da pélis grega, ‘A sociedade dessas cidades da Acaia era dominada, como deve ser lembrado, pelos chefes dos clas. Controlando 0 poder de seu dirigente, que era rei, havia um conselho consultivo de chefes me- nores, Havia também uma assembl¢ia dos comuns, mas pouca era a sua autoridade, Mudanga social vicissitudes da Era Obscura, quando. conquis- pS (ONeAiaie gies oaaee tae deena aie hock Spelipeita Ata Monae? No samiueglacitcrc ce aoe er i, ia leat tees comcamscetle nobre revoltar-seah A Cidade-Estado Grega 159, ra preciria, portanto, a posigiio dos espartanos ¢ niio demorou muito para que sua seguranga fdsse ameacada, Pouco depois de 650 A.C, séria revolta irrompeu na Messénia, sb conseguindo os espartanos sufocé-la apés anos de selvagem luta. A fim de se pro- tegerem contra outra surprésa semelhante, os espartanos reorgani- zaram sua sociedade, fazendo dela um Estado militar. Considera- ram-no inevitavel para poderem sobreviver. Isso, porém, significava tornar-se Esparta um acampamento armado e os espartanos tiveram de dar adeus a qualquer desenvolvimento futuro das artes da paz que produzem uma cultura rica, Na reorganizagao de sua sociedade — obra atribuida ao legis- lador Licurgo — 0 individualismo foi varrido e a vida familiar implacavelmente submetida aos moldes prescritos pelo Estado. $6 as criangas sadias podiam viver, sendo as enfermas condenadas A morte, Na idade de sete anos, os meninos eram retirados de suas familias, adestrados em severo curriculo de exercicio militar e sub- metidos a provagées que os enrijeceriam como temiveis guerreiros. Somente Thes eram ensinados os elementos da leitura e da escrita, visto como os demais assuntos tinham pouca utilidade bélica. Aos inte anos comegava o servico das armas. Até os trinta, todos os homens viviam em acampamento e, até a idade de sessenta, perma- neciam sob disciplina militar, O casamento era considerado apenas como 0 método oficialmente aprovado de produzir material para o exército. Mesmo os homens casados continiavam, durante 0 periodo de seu servigo militar, a tomar suas frugais refeiges em conjunto, & moda do exército, em vez de em casa. As mégas podiam ficar no lar com suas maes, mas também eram adestradas para ser fortes e ativas, de modo a se tornarem adequadas mies de soldados espar- tanos. Eram copay por seus maridos — que também ferret ssa tavam seus excelentes cavalos e seus bravos caes de caga. arregimentacao inexoravel inculcava nos espartanos austeridade soal, abnegacao da individualidade e devotamento desprendido ao Estado. E realizava sua finalidade de desenvolver um poderio mi- litar irresistivel. Raras vézes, porém, na histéria, foi o grande poder usado para tao pequenos objetivos construtivos. A organizacao politica désse Estado militar exemplifica 0 con- servadorismo dos espartanos, pois Esparta nunca se desenvolveu muito além da etapa da sociedade homérica. Esparta manteve a antiga instituigZo da realeza, mas de forma insélita: havia dois reis hereditérios, Havia também um conselho, chamado gerusia, consti- tuido dos dois reis e de vinte e oito homens de mais de sessenta anos de idade, que eram eleitos vitaliciamente, e um colégio de cinco magistrados, chamados éforos, eleitos para mandatos de um ano, Além déles, tinha Esparta uma Sainatlde popular, a apella, compreendendo todos os cidadios maiores de trinta anos, mas essaFic, 59 — Pintura no interior de um “kylix’ (taga) espartano. Sexto século A.C. Aqui, nas figuras em préto sobre fundo branco, 0 tei Arcésilas, de Cirene, coldnia espartana na Africa, obseroa a pesagem de mercadorias — possivelmente “silphion”, planta am- plamente wsada na dieta grega, A cena ndo 36 ilustra 0 crescente Comércio da Grécia como 0 realismo crescente na arte. Os animais de estimagdo do rei sd notivelmente — ¢ humoristicamente — bam desenhados. (Cabinet des Médailes, “Biblioteca Nacio- nal”, Paris”). ‘assembléia nunca teve muito poder. Os éforos e a gerusia domi- vam 0 govémo ¢ exam, ambos, bastides do reacionarismo. O es- médio pertencia a um grupo privilegiado, em comparagio ‘os periokoi e os ilotas, mas, nao obstante, estava sujeito ao Jominio dos nobres influentes que controlavam o eforado e a gerusia. "A conquista da Messénia nao saciou a fome de terras e poderio nos, de modo que ja no sexto século A.C. éles fizeram para conquistar a Arcidia, Falharam e, daf por diante, iu outro método em sua arrancada para o poder: co- ‘a organizar a Liga Peloponésia. Nominalmente, era esta uma fa entre as cidades do Peloponeso, todas em pé de igualdade; ca, Esparta era o poder dominante e a Liga tornou-se um para difundir a influéncia espartana na Grécia, ituigdes ¢ a cultura de Atenas contrastavam agudamente Esparta. A sociedade espartana cra simples ¢ dedicada sA Gidade-Hstado Grega — 161 a um sé objetivo: construir um exército, A sociedade ateniense, por outro lado, era complexa e constantemente mutivel, tendo mui- tos alvos, Podem ser éstes sintetizados como o cultivo equilibrado da vida do corpo, da mente e do espirito, Como se explica essa impressionante diferenca? Para achar a resposta, devemos olhar as condigées em que evolveram as duas cidades, Em Esparta, como vimos, as condigdes sociais exigiram que os espartanos desenvolvessem um poderio militar capaz de protegé- los contra seus vassalos, e ésse poderio também Ihes deu um ins- trumento eficiente para travarem guerras no exterior. Em Atenas, © ambiente social era de molde a encorajar os atenienses a culti- varem suas capacidades culturais e permitia que os cidadaos pen- sassem livremente © se expressassem individualmente. A histéria primitiva da Atica langa considerivel luz sdbre os desenvolvimentos ulteriores. Durante 0 periodo das invasdes dos aqueus, um povo conhecido como Jénio emigrara para a pequena peninsula abrigada denominada Atica. Os jonios chegaram como colonos pacificos, néo saqueadores, e logo se mesclaram com os habitantes nativos. Assim, nao houve divisao biliosa entre conquis tadores ¢ conquistados, como na Laconia. Depois, na época das invasoes déricas, teve a Atica a boa sorte de nao ser perturbada, e désse modo, nessa regio, a antiga civilizagdo miceniana sobreviveu relativamente intacta. Deixada em paz, rh a Atica desenvolver-se independente- mente. Foi bem utilizada essa oportunidade feliz, pois, ao findar o século VIII A. C., as varias comunidades pequenas da Atica estavam unidas sob a lideranga da cidade de Atenas. Esta havia organizado florescente trafico marftimo e uma Inerativa industria, que produzia principalmente cerdmica. Com a unificagao da Atica sob a soberania de Atenas, resolveu- se o problema politico da rivalidade entre as cidades da Atica. Mas um sério problema social permaneceu. A Atica, como outras terras gregas, herdara o sistema tribal da Era Obscura, Perpetuava éle a opressiva dominagio por parte das familias nobres, que sempre gera Juta de classes. Em Atenas, como na maior parte do resto da Grécia, os podéres do rei haviam sido tomados por nove arcontes, escolhidos entre a nobreza, e o conselho legislativo e judicidrio, chamado Areépago, era também dominado pelos nobres, visto ser constituido de ex-arcontes. Os donos de terras e trabalhadores mais pobres ficavam, assim, & mereé da aristocracia possuidora de grandes pro- priedades, Muitas pessoas comuns eram reduzidas & escravidio ou a uma espécie de servidio, Os nobres poderiam ter continuado a exercer 0 poder sdbre a massa do povo se nfo fossem duas condig6es a que ja nos referimos. Em primeiro lugar, Atenas nfo era, como Esparta, uma terra de abs. oes ‘ills a, tees comcamscetA Cidade-Estado Grega — 163 PISISTRATO, — As trés décadas seguintes foram, portanto, repletas de luta, que s6 cedeu quando Pisistrato se estabeleceu como tirano, por volta de 560 A.C, Nobre de grande capacidade, Pisis- trato € um excelente exemplo de tirano suave e benévolo. Para manter sua posigdo, teve de conservar 0 apoio popular e conservar os nobres em xeque. Eis por que foi levado a ajudar os amigos © a enfraquecer os inimigos da democracia. Pisistrato féz com que os aristocratas mais hostis fossem exe- cutados ou exilados: suas propriedades foram entao distribuidas entre os sem-terra. Féz também empréstimos aos camponeses e, de modo geral, protegeu seus interésses. Os pobres da cidade foram aju- dados por cuidadas obras piblicas, que nao sé Ihes melhoraram a condigao como embelezaram Atenas. Pisistrato foi um administrador tao habilidoso e amdvel que nao achou necessirio revogar a cons- tituigdo que Sélon ideara, Seu dominio, de cérca de trinta anos — estéve exilado duas vézes antes de sua morte em 527 A.C. — foi em geral benéfico para a cidade. Mas seus filhos mostraram-se in- capazes de levar avante a tirania e, logo depois que éle morreu, ficou aberto o caminho para maior avango da democracia. CLISTENES. — No tumultuado perfodo que se seguiu & morte de Pisistrato, alguns dos nobres tentaram desfazer as reformas que éle introduzira e as que anteriormente Sdlon fizera. A facgio de- mocritica, porém, achou entio um lider em Clistenes, que para- lisou a reagao dos aristocratas sem tentar fazer-se tirano. O resul- tado foi tornar-se Atenas a primeira democracia da histéria humana. Clistenes vin que 0 maior obstaculo & paz social e liberdade era o antigo sistema de tribos, compreendendo familias, inmandades e clas, Em conseqiiéncia, aboliu essas velhas tribos, estabelecendo hovas entidades politicas que, embora conservando os nomes tribais, hha verdade se baseavam em divisdes territoriais e nao em paren- tesco. Essa ousada inovagio atingiu na raiz 0 poder politico dos aristocratas. $6 poucas outras mudangas foram feitas na constituigio. Uma delas, que se revelaria importante, criou uma junta de generais (strategoi) ao Jado dos arcontes. Com o passar do tempo, os generais aleangaram poderio tanto nos negécios militares como nos civis_e © general-chefe tornou-se 0 lider politico da facgao no poder. Os generais eram escolhidos em tOdas as classes e, como podiam ser reeleitos, também podiam manter 0 cargo por longos periodos. Outra inovagio que tem sido atribuida a Clistenes 6 a curiosa pratica do ostracismo. De acdrdo com a lei, a assembléia popular podia marcar uma data, em cada ano, em que os cidadaos se reu- liriam para yotar a expulsio de quem Ihes aprouyesse. Os que tees comcamscettees comcamscet