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REPORTAGEM DE CAPA ALEX Com 500 mil habitantes, a capital do Egito Re ea mais importante do mundo antigo. Centro filosdfico, cientffico e artistico de exceléncia, Pocee amt ac Ren ttc sincrética de extraordindria vitalidade. Hoje, coma moderna arqueologia, Ferece(tTCeeseM Snead reconstituir esse Peer OOM cite petecKecwe aXe Ceokcel KOR nL por GRAZIELLA BETING Grey ‘© PLANO URBANISTICO DE ALEXANDRIA, Eat ee Se ee eee See ee eee es Cares Ce konto ce er ros Pere eae a.C. Fundagio de Alexandria C. Morte de Alexandre, o Grande 0 Prolomeu 1,0 Soter,prockama-se faraé do Egito o (© Museu e a Biblioteca de Alexandria 80 construidos 283 a.C. Morre Ptolomeu I, Soter. Seu filho, Ptolomeu Il,é coroado faraé inaugura o Farol de Alexandria, C. ClespatraVil assume o trono incendeiam a frota alexandrina,atingindo, possivelmente, parte da Biblioceca 30 a.C. Fim da Era Prolomaica,com © Suicidio de Cledpatra Vil ea anexagso do Egito ao Império Romano, sob 0 govern de Orivio Augusto. 391 Decreto do imperador Teodésio, ‘ordenando a destruigio dos templos pagios.€ 0 inicio do fim do Museu 6642 Tomada de Alexandria pelo general ‘Amr Ibn al-As, Inicio do dominio arabe 1303 Um maremoto destréio Farol 1477 Constructo do forte de Quitbay sobre as ruinas do Farol 2002 inauguracio da nova Biblioteca 34 Se eee Eee ea re permeados por jardins Projero do governo egipcio de cons- trugio de um dique, que inevitavelmente danificariao sitio arqueolégico,incentivou ‘© inicio das pesquisas. Em 1994, a equipe do Centro de Estudos da Alexandria (CE Alea), dirigida pelo arquedlogo Jean: Yves Empereur, iniciou um trabalho de recuperacio das peyas. Desde entio, campanhas de exploragio realizamese duas vezes por ano, e, até agora, o total de achados contabiliza 3 mil objets de cestarucria, arquitecura e decoracao. Todas aspecas foram repertoriadas, medidas, fo- tografadas, desenhadase reproduzidasem. moldes de silicone, para que, fora d’égua, 0s especialistas remontem o gigantesco quebra-cabega. Muitos desses achados es- tio hoje expostos num museuacéuaberto, ro Forte de Qaitbay, em Alexandria AA pesquisa submarina enfrenta miil- tiplas dificuldades: visibilidade limitada ppelas dguas escuras da bafa da Alexandria; acesso As pesas dificultado pelos 180 blocos de cimento, de 20 toneladas cada, imersos em 1993 para servit de dique; além de prejudicara localizagao exat objetos, remove substratos que faci riam sua datagio, Assim, 0s pesquisa: deparam com vestigios de todas as ép do Egito, de Ramsés II & expedic Napoleao Bonaparte. Além da equipe coordenad Jean-Yves Empereut, hd um outro g de mergulhadores pesquisando at ado por F Trata-se do time capitan Goddio, diretor do Instituto Ev de Arqueologia Submarina ¢ « da exposigao que se realiza em Ambos franceses, os dois exp tém perfis completamente difer Jean-Yves Empereus, reside xandria hé 20 anos, é um egip* prestigio internacional, espec ecultura helenisticas dire Centro Nacional de Pesquisas Cier (CNRS), da Franga, Ele rein as caracteristicas do tipico rq’ dirigindo as escavagies de ct estilo Indiana Jones. Ja Franck ( HISTORIA VIVA «JANE ad Se eri eee eee ea eincend Menten ements estudou administracao ¢ economia e foi conselheiro econémico da ONU e dos governos do Laos ¢ da Ardbia Saudica antes de tirar um ano sabitico para se dedicar, em 1983, a duas de suas paindes: mergulho ¢ histéria. Acabou fundando 6 Instituto Europeu de Arqueologia Submarina e, desde 199: vasto projeto arqueolégico na regido de Alexandria que tem, entre seus polpudos financiadores, a Hilti Foundation. Além das 500 pecas expostas em Paris, os melhores resultados obtidos acé agora foram a elaboracio de um mapa {que retraga os contornos exatos do Portus, Magnus de Alexandria (ver lustragto acima), a descoberta de um santuatio na baia de Abukir eo encontro das cidades de Heraklion ¢ Canope. Tudo a partir dos vestigios aftundados. Diariamente, mergulhadores das duas equipes atuam em um sitio submarino de 1,3 hectare. Empereur explora a regio abaixo do Forte de Qaitbay; Goddio fica ‘coma parte interior do porto. Essa divisio \Werre HISTORIAVIVA.COM.BR UMA CIDADE PLANEJADA NOS MiNIMOS DETALHES ‘O plano deAlexandria é um exemplo dda arquitetura helenistica e pode ser tomado como precursor da arquitetura romana. Com trasado ortogonal, esta dividido em cinco porgées, as klimata, faixas que cruzavam a cidade a partir do delta do Nilo, dvididas em quadras pela rmalha vidria. tinha duas vias principals, de 20 metros de largura,por onde passavam carruagens e cavalos.No cruzamento de- las ficava a 4gora,a grande praca publica. (Uma das principais construgées era 0 palécio real,com extensos jardins e par- ues, habilmente planejados,e contendo até um zool6gico. Na area real também estavam a famosa Biblioteca e o Museu, com uma estrutura similar ao campus dde uma universidade moderna. Parques, templos,gindsios e outros monumentos espalhavam-se por toda a cidade. Nos subiirbios ficavam 0 hipédromo e os cemitérios, com seus espléndidos mau- soléus, além de outros jardins. ‘As casas alexandrinas ocupavam, ‘cada uma, um lote de 2.500 m? ~ extre: _mamente espacosos até para os padrées atuais. A cidade possuia, além disso, sofisticado sistema de abastecimento de Agua, com canalizagées que traziam ‘gua proveniente do Nilo, e centenas de cisternas. Estrabio, que provavelmente visitou a cidade em 25 a.C., destacou © desenho unificado da nova capital: os palécios eram conectados entre si e aos edificios pablicos em torno do porto mediterrineo, dispostos, todos eles.em um espacoso jardim. Um verdadeiro espetaculo visual! MARIA CAROLINA SAMPAIO DE ARAUIO, psqusndor do Mana de ArgucogseEnlogn (MAE) da USP MARIA BEATRIZ BORBA FLORENZANO cords do Ltr de vor da Clann do MABUSP foi estabelecida pelas autoridades egipcias, aque concedem a autorizagao para as bus- cas, Ha quem considere tal demarc: estratégica j que Empereure Goddio sso vistos como rivais, ou “irmaos inimigos’ como os descreveu 0 jornal francés Le Monde. Se é verdade que ha disputa entre 0s dois arqueslogos, dé para dizer que eles esto, no minimo, empatados. Goddio ‘ostenta agora os louros pela exposicio Mas Empereur conta com o trunfo de ser © arquedlogo Tesouros Submersos”. «que descobriu os vestigios que comprovam, a existencia do famoso Farol. Considerado a sétima maravilha do mundo, o Farol, destinado a guiar os navegadores que se aproximavam da perigosa costa do Egito, foi um dos pela gloria da cidade. Enguida sobre a ilha de Phatos, ‘monumentos responsive de Cnidoa mando de ProlomeulI (Ptolomeu grande torrefoi constuida por Sosrat Sote?),ex-general de Alexandre que reinow sobre o Egito de 305 a 283 a.C., dando inicio A Dinastia Ptolomaica. A obra foi Berenice l,representada como a deusa Iss, Hipy. deus das chelas do Nilo, retirados do fundo do mar,em exposicio em Paris ape eay inaugurada por seu filho, Prolomeu II, jé que Soter morreu durante a construgio. Varios cronistas antigos registraram a existéncia do Farol. Entre eles, os célebres Estrabao e Plinio, o Antigo, A partir dos achados recentes,acredi {a-se agora que a torre tinha 135 metros de altura ¢ trés andares. © primeiro, de base quadrada; 0 segundo, octagonal; ¢ © tikimo, clindrico, com uma estétua de Zeus Soter no topo. Para que fosse visto de longas distincias, aleangando um raio de 50 km, supoe-se que, em seu topo, era queimada uma grande quantidade de Ienha oualgum outro combustivel, como a nafta. Mas nio se sabe a0 certo qual era © dispositivo que ampliava alcance dessa luminosidade, se lentes ou espelhos. ntre as principais descobertas do CEAlex esto um imenso pértico, que caracterizava a entrada do Farol, ea estitua colossal de Ptolomeu I, em trajes e para- mentos de faraé. Segundo Empereur, a estérua de Prolomeu figurava 0 lado da estétua da rainha Berenice I, representada como adeusa fsis, recupera- da das dguas nos anos peer 1960. O casal real davaas figura em moeda_boas-vindas aos v ot iupeatatads Ao longo dos séculos, ns varios es danifica- ram 0 Farol. Acredita-se que o “golpe de misericérdia” tenha sido 0 maremoto de 1303, quando a Sétima Maravilha ruiu definitivamente, No final do século XV, ‘o sultfo Al-Achraf Sayf ad-Din Qait Bay cconstruia um forte sobre as ruinas do Fa- rol, para proteger a cidade de uma temida invasio otomana. De certa forma, todo 0 material que ruira antes, com os terremo- tos, acabou preservado no fundo do mar. E.aos poucos vem sendo recuperado pelos dos queamam ahistoriaea cultura, GRAZIELLA BETING Shomer 36 arquedlogos escafandristas Parafelicidade | | A capital CULIURA da Antigitidade Alguns dos maiores intelectuais do mundo antigo trabalharam no Museu de Alexandria, com o supor do extraordindrio acervo de textos da Biblioteca por ROBERTO DE ANDRADE MARTINS HISTORIA vVa «ANE _d fodos conhecem a imporcincia do pensamento grego para a forma- fo da cultura e da ciéncia ocidentais No entanto, ao mencionar 0s “gregos", geralmente confundimos a Grécia com desenvolvimentos da cultura helénica que ocorreram fora do mundo grego. Alguns dos mais importantes mate- maticos, astrénomos e até graméticos da Antigiiidade trabalharam em solo afticano, na cidade de Alexandria, m uma extraordindria instituigg0 de Pesquisa, o Museu, e como suporte do maior acervo de documentos reunidos cm todaa Antigitidade, a Biblioteca. A edificagao do Museu ¢ da Bi- blioteca parece ter sido iniciada entre 300 ¢ 290 a.C. por determinagio de Prolomeu I, que convidou para tutor WYrW HISTORIAVIVA.COM.BR de seu filho um fil6sofo instruido no Liceu criado por Aristételes, Straron de Lampsacos (aprox. 320-270 a.C). Concedeu também asilo a outro disci- pulo da escola aristotélica, Demetrios de Phaleron (aprox. 345-280 a.C.). A ‘medida que as magnificas construgdes de Alexandria progrediam, Prolomeu, Straton € Demetrios conceberam a idéia de um centro de estudos inspira- do na escola de Aristételes, porém em scala superlativa, Havia diferengas importantes entre 0 Museu de Alexandria e seus protétipos atenienses. As grandes es- colas filoséficas gregas surgiram por iniciativa individual, esua manutencio dependia dos recursos pessoais dos mestres e da generosidade dos disci pulos. Em Alexandria, a0 contrari © apoio estatal direto, com recursos quaseilimitados, atraiu pensadores de virios outros centros ecriou condigbes de ensino e pesquisa sem paralelo no mundo antigo. © Museu tinha salas ou anfitea- tros onde os estudiosos se reuniam para palestras e discusses, bem como dependéncias destinadas a estudos astronémicos, dissecacio de cadaveres animais e humanos, e outras inves- tigagdes cientificas. Reunia também uma cole¢ao de aparelhos utilizados em pesquisas épticas, astrondmicas ¢ de outros tipos. Matemitica, astronomia, geografia emedicina mereciam atenso especial ‘Mas histéria, filologia, literatura, artes coutras disciplinas humanisticas eram igualmente praticadas no Museu. A criagao das primeiras graméticas € diciondrios parece ter resultado de tais cestudos. Uma das atividades do Mu- seu era produzir verses “definitivas” de antigos textos gregos, como os de Homero, Hesfodo e outros poetas, dos quais havia exemplares confitantes. © Museu foi dorado de uma bi- blioreca, que cresceu e se tornou uma entidade independente. A Biblioteca de Alexandria foi a primeira institui- io estatal do género. Continha livros (manuscritos em papito e, posterior mente, em pergaminho), mapas, cat tas de politicos ¢ pensadores e outros documentos. A maior parte das obras que li exisciam nao chegou até nés, pois a Biblioteca foi destrufda por um incéndio. Os estudiosos estimam que devia conter cerca de 700 mil volumes —uma cifra sé alcangada pelas maiores bibliotecas da atualidade A geometria de Euclides Um dos primeiros pesquisadores a auar em Alexandria, ainda sob Pro- Jomeu I, foi Euclides, um dos maiores mateméticos de todos os tempos. Ba- seando-se no trabalho de matematicos anteriores (especialmente os da escola de Plato, como Eudoxos e Theaete- 05), Euclides escreveu Os elementos, tratado imediatamente aceito como 0 mais completo ¢ perfeito texto mate- omundo, com pequenas altcragdes, até o século XIX. Além de Os elementos, outros es- ctitos de Euclides chegaram até nés: Optica, 0 mais antigo estudo sobre perspectiva, e Fenémenos, que analisa os movimentos das estrelas. 20 jd escrito, Foi utilizado em todo O primeiro astrénomo importante de Alexandria foi Aristarco de Samos (prox. 320-250 aC). Propés um sistema astronémico heli Gravura representando ofsico inventor Heron, de Alexandria Dera tey Interior da nova Biblioteca de Alexandria, naugurada em 2002, em homenagem a lendiria instituigio da Antiguidade, 0, em que o Sol permanecia imével enquantoa Terra se movia 2o seu redor Devido a essa idéia ousada, foi acusado de impiedade. Aristarco desenvolveu também o mais antigo mérodo para determinar a dist errae a Lua e comparar essa distancia com a cia entre a existente entre a Terra ¢ 0 Sol. Apenas em Alexandria teve inicio a pritica da dissecagao humana, ante- iormente proibida por motivos reli- giosos, por Herophilos de Calcedénia (aprox. 335-280 a.C.) ¢ Erasistratos de Ce0s (aprox. 304-250 a.C)) Herophilos estudou os nervos, percebendo a diferenga entre os sen- soriais ¢ os motores; identificou duas das membranas do cérebro; ¢ disse- cou o olho, dando nome a algumas de suas partes. Também apresentou descrigdes cuidadosas do figado, pancreas, intestinos, coragio e érgios reprodutivos. Introduziu a medida do pulso, utilizando um relégio de dgua, a clepsidra, associando a pulsagio & sade ou 4 doenga 38 struida por varios incéndios criminosos Erasistratos fer um estudo detalha- do do corasao, identificando as val- vulas € interpretando seu movimento como a causa do fluxo de sangue nas veias e de ar (pneuma) nas artérias. A geografia de Eratéstenes Natural de Cyrene, no Egito, Era- tdstenes (aprox. 273-192 a filosofia e matemética em Atenas e, em tomo de 244 aC., foi convidado por Prolomeu II] para fixar residéncia cm Alexandria, onde morou por cerca de 50 anos. Sua obra mais importante, infelizmente perdida, foi uma geografia mundial, em que define, de forma preci- sa, 0 tamanho do globo terrestre, Antes das conquistas de Alexandre, ninguém jamais criara um mapa com todos 0s territ6rios conhecidos. Realizou ainda importantes estu- estudou dos sobre astronomia, determinando a trajet6ria anual do Sol), a duragio do dia da noite em diferentes pontos do glo- bo, as distincias da Terra até a Lua e 0 ANOVA BIBLIOTECA ‘Quando Ptolomet | idealizou a célebre Biblioteca,pretendia reunir nela “os ros de ‘todos 0s povos daTerra”, Destruida por ums série de incéndios.a instituigdo permanece, noimagindrio coletivo como o mais formid. vel centro cultural de todos os tempos. Em 1998, 0 governo egipcio langou 2 ppedra fundamental da nova biblioteca, no ‘mesmo local da institu prolomaica,com © objetivo de devolver a cidade a imagem de centro da sabedoria. Batizada como Bibliotheca de Alexandria fol inaugurada er 2002.0 edificio de I! andares, que custou US$ 212 mithdes, tern 40 mil mi? de dre ‘com a maior sala de leitura do mundo, [Na entrada.a estitua faradnica de Proto meu la mesma que figurava no pértico do Farol deAlexandria,recuperada pelas buscas submarinas, recebe os vsitantes, dante de ‘um muro de granito no qual estio gravados alfabetos do planeta inteiro. Sol, eourras medidas importantes para a caracterizagao da esfera terrestre. Desde o século III a.C., os gover- nantes do Egito helenistico ordena- ram a realizagdo de grandes obras de engenharia, indicando a capacidade nao apenas cientifica, mas também tecnolégica da época. Sostratos de rnidos dirigiu a construgao do famoso Farol (ler na pdg. 35). Ctesibios (aprox. 285.2: utilizavam ar comprimido para bom bear éguae atirar projéteis& distancia do um a.C) produziu engenhos que aparelhos hidraulicos, inc instrumento musical precursor do rgio; e aperfeicoou a clepsidra. Heron (aprox. 10-70 d.C.) «ra balhou igualmente com aparelhos 05, incluindo autématos; fa bricou a mais antiga maquina a vapor. a acolipile; ¢ escreveu trabalhos sobre ‘ principios bisicos das maquinas « dois tratados de éptica Durante o periodo romano, que s¢ seguiu ao suicidio de Cledpatra VI! hidréul © A conquista da cidade por Orivio HISTORIA VIVA «JANEIRO 2097 ‘Augusto, Alexandria continuou sendo tum grande centro cientifico, Cliudio Piolomen (aprox. 90-168 d.C.) foi um dosexpoentes do Museu nessa época, ficdlebre por sua obra astronémica Biseando-se nos trabalhos de Apolé- bio (aprox. 262-200 a.C.) ¢ Hiparco (aprox. 190-120 aC), que também tnibalharam em Alexandria, elaborou agrande sintese da astronomia antiga, 9 Almagesto — como seria chamado em sua traducio arabe -, uma teoria completa dos movimentos do Sol, da Luaedos planetas, sob o ponto de vista geoetntico, isto é, considerando a Ter- raparada. Com poucas modificagses, areoria foi aceita até o final do século XVI. Prolomeu também ¢ conhecido porsua obra geogréfica, que descrevia mundo conhecido e continh mapas deralhados de todas as regises do glo- bo, sendo superado apenas no perfodo das grandes navegagocs. Omartirio de Hypatia Prolomeu destacou-se ainda fo estudo da dptica ¢ da teoria ‘matematica da mtisica. E escreveu 0 Tetrabibles. ou “livro quidruplo”, tumadas maisinfluentes obras sobre astrologia de todos os tempos, que foi accita até © Renascimento. Utiliza uma visio cosmolégica .C), Pappus (final do século IID) Theon (aprox. 335-405 4.C)), pai da famosa Hypatia Do século V em diante, nao hi registro de pesquisadores vinculados a0 Museu. Aparentemente, a destruigao do Mu- seu foi obra do BP fanacismo cristio. baseadaem Aristételes By No periodo roma- explica as influén- no, se desenvolve- sas dos planetas 2 fam em Alexandria @ partic das “qua- A correntes pagis como lidades basicas da matéria” (quente ¢ fio, timido e seco). Nos séculos se- Poy ere Suintes, trabalharam "EM €m Alexandria grandes $ Malemiticos como Dio- |) Ab 0 criador da élge- bragrega (aprox. 200-290 mento, Além disso, havia _Hypatia.a grande sibia ¥ «em suas dependéncias um WoséeuioV assassinada | ait ‘ 3 templo pagio dedicado ey 67 prsio dedicad © neopitagorismo © o neoplatonismo, a0 lado do gnosticismo cristao, Enquamo 0 cristianismo tornava-sea rligiio oficial de Roma, 0 Museu mantinha-se ‘como um reduo de filbsofos € cientistas que cultivavam, outras formas de pensa- Por crisios fansticos Wow sastonaviva.comsa Philadelpho, em visita 4 Biblioteca de Alexandria, Pincura de 1813,deVineenzo Camuccin,retratando 0 fara6 egipcio Prolomeu Il,cognominado as Musas, A instituigao nao sobreviveu por muito tempo apés 0 decrero do imperador Teodésio, de 391, ordenando a destruigao dos templos pagios. O assassinato de Hypatia (aprox. 370-415 d.C.) também esti associado A luta religiosa. Seguidora de Ploti- no € lider da escola neoplaténica de Alexandria, no final do século IV, cla escreveu importantes obras sobre Filosofia, matemética ¢ astronomia. Sua popularidade como professora de filosofia (¢ talvez de magia) parece ter sido © principal motivo pelo qual foi assassinada em via pliblica por fandti- s, que a desnudaram e lapi- daram com conchas até a morte, Esse trigico evento tornou-se o simbolo da destruigao da longa tradigao filoséfica cientifica de Alexandria. o a ROBERTO DE ANDRADE MARTINS é fco «profesor dl Unversiade Eada de Camps (Uriamp),dedkando-se a peaqusas sobre Niners ‘3 ctncia Doutor em loge e flava da cee pela \Uniamp € pésdoutor em itr da én pols wives de Onford e Cami nga Dey A filosofia da NATUREZA alexandrina Os sibios da grande metrépole harmonizaram o estudo dos fendmenos naturais ea Contemplacao espiritual, dando contribuigao decisiva ao desenvolvimento da ciéncia Estitua de ‘Arsinoe Il, representada como Afrodice,a deusa do amor, saindo das ondas, séeuloIllaC. por AMANCIO FRIACA fo século Illa.C., Alexandria superou ‘Atenas como centro de erudigao produgio de conhecimento, Foi também ‘em sua rea de influéncia que apareceu, no comego do século I d.C., 0 hermetismo, ‘expresso na Hermeriaa, um corpo heterogé- ‘neo de escrits,atribuidos ao ou inspirados pelo legendario Hermes Trismegistos. O Corpus hermeticum é a mais difun- ida coletanea da Hermeriaze consiste em ‘uma compilacao tania de textos esbocados nos séculos Ile III dC. Séo 15 livros, 20s quais foram acrescentados os Fragmentos de Stobeus eo Logos teleos, umm texto que sobreviveu, em traducio latina, durante toda ldade Média ocidental. Desse modo, © homem culto medieval jamais perdew contato com a corrente do hermetismo. No entanto, 0 Corpus hermeticum em sua ‘otalidade's se tomouamplamente conhe- ‘ido depois de sua tradusio pelo filésofo neoplaténico florentino Marsilio Ficino, em 1463, esuaimpressio, em 1471. A par- tir de entio, tomou-se uma das obras mais influentes no Renascimento, inspirando a filosofia, as cincias eas ares. Hermes Trismegistos é chamado de “urés vezes grande” (Trismegistos) pelo seu conhecimento dos “trés mundos’, ‘expressio que pode ter virias conotagbes. ‘Uma delas diz respeito aos “tres reinos’ d naturcza: mineral, vegetal eanimal, Pocém ‘em nivel mais profundo, refere-sea0s “tr: niveis de realidade”: 0 mundo factual ‘© mundo intermediitio e 0 mundo dos principios. © conjunto de saberes artic: lados pelo hermetismo envolve, portanto © reconhecimento de que a realidade se presenta em niveis diferenciados e que &- tes podem se relacionar uns com os outros © visfvel com o invisivel, a matéria com 0 cspirito. © hermetismo comporta aind. uma dimensio pritica, propondo um con- junto de mé:odos para que o ser humano transforme a natureza easi proprio. Desse modo, na concepsio do ho- mem cukto medieval ou renascentista, ¢ no contexto da civilizacao ocidental,o hhermetismo pertenceria & “terceira via dda busca da verdade. A primeira adviria da autoridade das rcligioes estabelecidas baseando-se numa revelacio divina que transcenderia o conhecimento meramente humano. A segunda decorreria da aucor dade da razio, confiando na observagio < argumentacao humanas ¢configurando cestratégia da filosofia racional eda pesquis cientifica. A tercera, finalmente, se basearis nna autoridade da experiéncia espirivs! pessoal ou iluminasio interior, podend HISTORIA VIVA «JANEIRO 200 Esttua de um sacerdoce segurando 0 vaso funeririo de Osiris e duas esfnges.pecas submersas temlocal onde havia um santuirio a sis, na ha de Antirhodos por conveniéncia, ser denominada “gno- se" (palavra que significa conhecimento) ~embora haja grandes controvérsas sobre alegitimidade de definir gnose como um fnémeno tinico. ‘Apesar de ser possivel acomodar perfetamente as tés vias em um quadro Ainico, houve, 20 longo da histéria, nows- tas contradigées ¢ enfrentamentos entre ds A gnose, em especial, sempre sofreu Athosilidade das outras duas abordagens. Enguanto a filosofa racionalista a acusava deobscurantismo, asautoridad Aconsideravam um perigo para Nao se deve confundira gnose com 0 ftostcismo cristo, que ¢ apenas uma de suas manifestagdes. Outra manifestagio ~ jf vimos ~ ¢ o proprio hermetismo. Este, ao contririo do gnosticismo cristo, Permaneceu’ parte das profundas mudan- ‘#squemarcaram a transigio das eligioes Pagis para o cristianismo ¢ manteve uma atid francamente positiva em relag atureza. © hermetismo admitia a exis facia de miltiplos planos de realidade ©a posibilidade de uma progressio do Conhecimento através deles: das coisas Visiveis para as coisas im era para o intelecto. A confianga que os cos depositavam no conhecimento ern sIsTORIAVIVA.COM BR dda natureza, como uma etapa no process de reunificagao com o Um, se opunha totalmente a0 pessimismo preponderante no gnosticismo cristio, que identificava 0 mundo material com o “mal Essa diferen- «ga deenfoque é muito importante, no 6 para histéria das religides como também paraa historia das ciéncias, poisum triunfo completo do gnosticismo, com sua repulsa pelas coisas deste mundo, teria sufocado 0 conhecimento cienifco. Outras correntes de pensamento da época também se opunham 3 recusa do mundo proposta pelo gnosticismo cristo. Referimo-nos especialmente ao estocismo, a0 neopitagorismo e20 neoplatonismo. O hhermetismo interagiu bem com todas das. Cabe mencionar ainda a alquimia, que ‘ocupa importante posicio no conjunto da Hermetica. Ela parece terse desenvolvido, a0 menos em sua forma ocidental,a partir dda nogio hermética de “simpatia’, que se manifesta, por exemplo, entre um metal e tum planeta. A alquimia ocidental foi uma técnica asociada 4 metalurgia €3 ourive- ido Bolos de Mendes passou a consideri-la uma “cigncia inépolis (sé. I, Sinésius (s6.1V), Olimpiodoro, o Jovem (Géc. VI), Estéfanos (56. VID, todos eles saria até 0 século I a.C, qu Zéximo de revelada consideraram a alquimia um exercicio spiritual, Figuras nucleares no desenvol- vimento da tradigao alquimica, esses im- portantes pensadores estiveram, todos les também, ligados & cidade de Alexandria, cui esplendor cultural atraia 0s fildsofos, GGentistas e artistas mais diversos. Para tais estudiosos, a perspectiva spiritual no excluia a atividade pritica Foram os alquimistas que criaram os pri ‘meiros laborarérios de pesquisa, com ins- trumentos, como a retorta, especialmente aclaptados i sua finalidade. Nao fosse pela teoria da natureza do hermetismo nio exis- tiriaa ciéncia como nésa conhecemos. Ao contririo do que sustentava o gnosticismo, co estudo da natureza nfo desviava o sibio dacontemplagio, Em vez de opostas, a¢0 (prixi) e contemplacio (theoria) eram en- tendidas como atividades complementares. Essa imagem da natureza (physi) em que interagem agio ¢ contemplacio é express cde modo vivo pelo grande filésofo neopla- t6nico Plotino (aprox. 205-270 d.C.), que também se educou em Alexandria. No capitulo 4 do tratado 30 das Eneadas, cle se refere poeticamente Ea Natureza, se the perguntasem por tema: que ela produz suas obras, responderia, caso consentisie em escutar e responder. “Melhor seria nao teres perguntado, mas compreenderes no silencio, como eu mesma son silencisa e ndo tenho o hibito de falar. O que deves compreender? Ino: que tudo 0 que éengendrado éa minha contemplagao, via no meu silencio, a coniemplagio que é pripria do meu principio. Eu mesma, nas- ida de wma contemplagao, tenho amor pela consemplagi, e crio 0 que é contemplado pla faculdade contemplasv ‘matematicos, com sua contemplagio, magam em mim. Os figuras. Mas eu no trago figura nenbuma. Ex contemplo,e as figuras do mundo ma terial sto engendradas como se saisem da ‘minha contemplagio” o Amincio Friaga @asrofsco« professor (4 Universidade de So Paulo. Doutor pea USP ‘pe doutor pela Universidade de Cambridge Ingaterra, fot orpantzador entre outros Innes, Ge ‘Astonom, une vibe do urea (Eduxp 2001), pelo ‘qa arhou o prémio jabs a

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