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CULTURAS VIAJANTES James Clifford Para comecar, uma citagao de Beyonel a boundary, de CLR. James (1984); (© toro passin, amigos ipo cam e novos ccupriam Scus gare. As relages de clas aha 46 muda ants que escobie qe agi aa ds bers oe impor, mse ovine, nfo age st Eau oom mis ce ‘vou vet, pa onde vei oem qe ito eli chagund ‘Ou comegur de novo, com hotéis. Conrucl (1957), nas primeiras paginas de Viton: "A época em que estamos acampadas como viajantes desnorteados em um hotel vulgar e sem sossega.” Em Tristes trépicas, Lévi-Strauss (1977) evoca um cubo de concreto fora dle escala posto no meio dla recémm-construida cidade de Goifinia, em 1937. £ seu simbolo da barbirie da civilizagio, “um lugar de trinsita, nil de residéncla’, O hotel como estagio, terminal de aeroporto, hospital e assim por dante: um ee ‘se passa, onde os ‘encontros so fugazes, arbitritios, Seu avatar mais recente: o hotel como crortatgpo! do modemo-no noyo “centro” cle Los Angeles, 0 Bonaventure Hotel, construido por John Portman, evocado por Fredric Jameson ent seu Influente ensiio "Pés-modernismo, ot a légics cultural do capitalismo tardio”. Os paterdes dé video da. Bonaventure recusami-se a interagir, merimente refletinds 2s redondezas; nao. hd aberturs, nenhuma entrada principal ‘ste axa flpicada originalmerseem James Clio (1982)"Taveling cultures a: NELSON, C. « GROSSBERG, L (org), Carel sudis.Londes: Routledge, pp 96-116. Tau de Pedro Maa Soares, 1, Do grega chins, tempo", pes “gat, Nai alan, oar exp o sigifietde de reclogiamo,(N do.) | | | 51 aparente; centro, um labirinto confuso de niveis frustra toda continuidade — 0 passeio namaivo de qualquer flaneur modernista (Ou para comegar com o "Informe das Bahamas", de June Jordan — sua estaclin em algo chamado Hotel Colonial Brtinico Sheraton. Uma mulher negra das Estados Unidos, em férias, confrontando seus inescapiveis privilégio e riqueza, encontros cesconfortiveis com gente que faz t cama ¢ serve 2 comida no hotel, reflexdes sobre as condigdes concretas para conexdes € aliangas humanas através de classe, raga, género e localizagdes nacionais. Comecar de nove, com uma pensio de Londres. Censrio de Mimic men ce Naipaul (1976), um lugar diferente de inautenticidade, exilio, transitoriedade, desenraizamento, (Ou novamente os hotéis parisienses, lares longe do lar para os surrealistas, pontos cle partida de viagens urbanas estranhas € maravithosis: Nadia, Canponds de Paris ~ lugares de colegio, justaposicao, encontro apaixonado ~ “Hotel des Grands Hommes". Comegar com os papéis de carta dos hotéis e cardipios de restaurante que forram (junto com mapas estelares) as caixas mégicas de Joseph Comell, Sem titulo: Hétel du Midi, Hétel du Sud, Hétel de TEtoile, English Motel, Grand Hotel de 'Univers, Beleza contica de encontros casuals ~ uma pluma, alguns rolamentos de esferas, Lauren Bacall. Hotel/autel? reminiscente de, mas ndo igual a ~ nenhum signo igual ~ altares reais-maravilhosos improvisados com objetos coletacios em cultas populares latino-americanos, ou os “altares” domésticos construidos por artistas chicanus contemporineus. Uma falha geul6gica global local, abrindo-se Ro potio de Cornell em Queens, cheia de souvenirs dle Paris, o lugar que nunca visitou. Paris, 0 Universo, ‘Queens, Nova York, 0 porto de uma casa comum, niimero 3708 da Utopia Parkway. Esta é, como dizemos com freqdéncia, uma “obra em progresso", obra entrancdo em um clominio muito amplo de estos culturais comparativos: as hist6rias diversas e interligadas de viagem e deslacamento no final do século XX? Este verbete esti marcido, autorizado e delimitado por trabalhos anteriores ~ inclusive . sstaret.trabathando hoje, a partin de minha: pesquisa histrlea Acredito que 0 trabalho ‘para onde vou nio se nto emt minha obra anterior quanto a situa e a desloca Talvex devesse comegar com uma conjuntura de viagem que veio, 10 menos para mim, ocupar um lugar paradigmatico. Chamo-a de “efeito Squanto". Squanto foi o indio que recebeu os peregrinos em 1620, em 2. O autor fu wm jo de palavrs:em francs, ie, hott” eal, “alae So pronuncinds Ja mesma mans, [N-oT.f 3. Gastar de apace especialmente o etinulo que recebi do trabalho de qua pessoa: Daniel Defer, May Louse Prat, Lee Drummond {Caren Kupan, Sun loci formativa no se eee devidement as citagbesdet trabalho que registrar oma vriedad de ours vides especies, Sou igualmente gato aos paleipats do Seminiro do eutono de 1990 na Luce Faculty da Universidade de Yale, onde pe desenvolver esas ida preliinares rum stoner de rigor amistoso,Assciae sempre aqelastmosfersprdiva a mew ante ro Whitney Humanities Conte, Peter Brooks. Plymouth (Massachusetts), njudou-os « superar um inverno rigoroso, ¢ falava bem inglés. Para imaginar 0 feito completo, € preciso lembrar como ert o “Novo Mundo” em 1620: era possivel sentir 0 cheiro dos pinheiros a 80 quilémetros da costa, Imagine cheg:r em um lugar novo como aquele e ter a experiencia fantistica de encontrar um indio Patuxent que scabara de voltar da Europa, Um “nativo" desconcertantemente hibrido, encontrido no fim do mundo: estranhamente familiar € diferente justamente nessa fumllardade no processda, O topos é cada vex mals comum na literatura de rem: ele praticamente organiza relatos “pés-modernos” como Video night in Katmandu, de Pico yer (2988). E me lembra de minha prépria pesquisa histérici sobre encontros especificamente:antropolégicos, revelam ter suas proprias propensOes “einogrificas” « himras interesennues de viagens. Znsiders-oulsidars ag eaiabores'e a#ples- dores, eles esto por af. As pessoas estudachas pelos antropSlogos raramente sio cisiras. Alguns deles, pelo tradicions especialistas ct longa dlistincia” (Helms 1988). Na histGria da antropologia do-século, antes aparecem prmieito como ratvos,emergindo depois como visjantes. Na vedade, coma vou suger adiante, eles sio misturas especificas dle dois papéis ‘ ‘Aemogniia do século XO uma prea que evolu a pir da viagem mocema = tomo ste Gaver nas desconfiada de certs estratégias localizacdoras na construgio € representagio de “culturas", Vou tritar de algunas dessas medidas locilizadoras na primeira parte de minha pulestra. Mas devo dlizer, de imedinto, que vou falar ‘aqui de um tipo ideal cle antropologia disciplinar da metade clo século XX, Houve excecoes, € essas estratégias ‘ormativas sempre foram contestadas. Mi "Todo foco ‘Sevan ttn opera psc ess ‘em fermos de quem? De que maneira a dlferenca signficativa é politicamente aticulada @ cont Quem determina onde (e quando) uma comunidade traga seus limites, nomeia quem esti dentro € quem esti fora? Sto questdes de amplo alcance. Meu objetivo, na primeira metade da palestra de hoje, €simplesmenté abrira questo de come ands cultural consti seus objets ~ sociedad, tigdes, comunidades, fentidades em fermos espaciais e mediante priticis espaciais especificis de pesquisi.’ Voltemos nossa tengo, por um momento, pari cuss fotografias préximas do chess ce aniorautas do Pacifico ocidental, de Malinowsky (1922), um dos poucos textos essenciais que estabeleceram a norma dlisciplinar moderna de um certo tipo de observagio participante. Esse trabalho de campo rejeltava’ um certo “4. "rica epi” ue expessto deriva de Mle de Coneau (198). Mina fie desind ir deceaFora,cbscureer ofto de que et sxmpe de cigs espgovemporus. Nas pluvas de Aine Rich (I ‘Vertwmbn Ci (1986). 53, estilo de pesquisa: viver entre os brancos, chamando os ‘informantes* para falar sobre cultura, um jtcampamento ou numa varanda,fazendo visitas 8 aldei © trabalho de campo que Malinowsky levou a cabo exigia que se vivesse 0 tempo todo na aldeia, que se aprendesse a lingua e que se Fosse umn observador Participante seriamente envolvido. As dus primeiras fotos de Angonautas mostram “a barraca do etndgrafo" entre habitagdes tobriandesas, Uma delas mostra uma pequena aldeia de praia, cenirio dis atividades maritima do fula que o livro narra. A outra mostra a cabana do chefe na aldeia de Omarakana, com a burriea do pesquisidor montac nits proximidades. No texto, Malinowsky defende seu estilo de moradia/pesquisa como uma maneira (relativamente) discreta de compartlhar « vida dos que estio sendo estudad verdade, co tia. o.na 0.” Ble também reivindicava uma espécie de panopticismio, Nao : de procurar os eventos importantes la vida dos trobrisndeses, rituals, confltos, cums, feitgos, mores etc: “Eles aconteciam dante de meus préprias olhos, nt porta ce minha cust, por assim dizer™ op. cit, p. 8). (Sob esse aspecto, sera interessante discutira imagem/tecnologia da barraca da pesquisa mobilidade, suus paredes finas, que proporcionam um “dentro” oncle cadernos de anotagoes, comida ® uma miquina dle escrever podiam ficar, uma base de operigdes minimamente separada da “agio")? quando vemos essis fotos de barricas em aldeias, podemos colocar questdes diferentes: que nao os deixam sozinhos). Quem esti fo centro da aldleia? Quais sio as localizagdes politicas portante que a tenda de Malinowsky esteja perto da cast de um chefe. Qual chefe? Quais 1. Entio, a imagem “Aldeias” habitadas por “nativos" sto lugares demarcados particularmente aproptiadas para a visitagio intensa dos antropélogos. De hd muito que servem de centros mapedveis, habitivets para a comunidacle e, Pot extensilo, para a Ycultura”. Depois de Malinowsky, 0 traballio de campo entre os *nativos” passou a ser realizaclo como uma pritica de co-residéncia em vez de viagem, ou mesmo de visita. E que lugar mas natural part viver com um povo, do que em sua prépria aldeia? (A localizagao da aldeia, poderia acrescentir, em “pont”. Lembrem-se de que, nas grandes feiras mundiis ~ St. Louis, Paris, Chicago, S20 Francisco — as Populagdes nativas foram exibidas como aldelas nativas, com habitantes vivos.) A aldeia era uma unidade 5. Para uma visto das pede a brraca como linia doce pritens deer, ver Cliord (1990, p67). 34 administrivel. Ela oferecia um maneira de centralizar uma pritica de pesquisa e, ao mesmo tempo, servia Sinédoques simples aldeia/cuitura estilo, em larga medida, *fora de moda” na antropologia atual, Como disse Geertz, os antrop6logos nio estudam aldeias, estudam em aldeias, E cada vez mais, poderia acrescentar, ro estudam em aldeias, mas em hospitais, laborat6rios, bairros urbanos, hoigis de turismo, o Getty Center. Essa tendéncit poe em questio uma configuraglo modemnista/urbana do objeto “primitivo” cle estudo como rornantico, puro, ameagado, arcaico, simples, € assim por dante, Mas, apesar dt saida das aldeias liters, permanece a nogio de campo de trabalho como um tipo especial le moradia locallzada. E evidente que s6 se pode ser observador panicipante em algum onde. Como esse lugar cle trabalho € demarcado no espaco € no tempo? A questo triz 2 luz uma localizagia mais persistente: “o campo". Estou preocupado com a maneira como esse conjunto espectfico de priticas diseiplinares Gonstrangimentos espaciais ¢ temporais) tendeu a se confundir com “a cultura". De que forma sio demarcadas, temporal. ¢ < ‘ 2 hlguma serie, como um “tabonnério", um gar de cbservarto experi aa Mais EES °° ‘cruelmente positivista, hoje. E contradtério: 0 campo também tem sido considerado~ desde a épaca de Boas um ‘rito de passagem", um lugar de iniciagio pessoal ¢ profissional, de aprendizacto, crescimento, provaglo fe coieas semelhantes. Surpreendem ax muneiras fortemente ambiguas coma a experi@neia an a experimento dle campo foram prefiguradas. (© termo francés expérience nos serviria melhor, aqui.) E nos perguntamos que tipos especificos de viagem e moridia (onde? por quanto tempo?) e interaglo’ Com quem? em que Tinguas?) cormaram possivel que uma certa gama de experiencias fosse compiitadh como mrabaibo dle camp 0s cttérios disciplinares mudaram desde os tempos de Malinowsky, ¢ continuam muddando. ‘Talvez sejatitil considerar “o campo" ao mesmo tempo como um ideal metodalégico € um lugarconcreto de atividade profissional. © campo do antropélogo € definido como um lugar de moradia deslocada ¢ de trabalho produtivo, Desde a década de 1920, um certo tipo de experiencia de pesquisa, a observaglo participante, foi concebido como uma espécie de mini-imigracto. O trabalhador de eampo € *adotado", “aprende” a cultura ¢ a lingua, © campo é um lir longe de casa, um lugar de moradia, Essa moradia inclui trabalho e crescimento, o leseavolvimento da competéncia pessoal e “cultur!”. Os etnégrafos sto tpieamente Vinjantes que gostam de ficar e se entrincheirar (durante algum tempo), que gostam de montar um segundo lar/local de trabalho, Ao conteirio de outros viajantes, que preferem passar por uma série de locas, a maioria los antropélogos é caseira no exterior. © campo como pritica espacial €, assim, um estilo, uma qualidade & uma duraglio de moradia especiticos.” 6. evidome que as populagies relevantes nem sempre vm “Teehals” em alias esves. Ver CHiord (1988, pp. 230-233) pura as “Aijuldade de Margart Meud em “localiza” os Arapesh dis mortanhas a Nova Gund. +. Bvidememente, o pesquzadores de campo tamibém vio adit, Sua pata € um momento cil que aticula “gece spars do esque empca«elaboragto tees, pots de campo ¢ eer definitive (Clitford 1990, p. 63-6), Os etngrafos seme dram agua comunicativa. Nao € mais possivel contar com tradutores: € preciso falar € ouvir por si mesmo. Depois dt geragio de Malinowsky, a disciplina determinou “aprender a lingua” — o¥, a0 menos, “trabalhar local". 1ss0 nos leva a tum tema complicado: a lingua, singular, como se houvesse somente uma? 0 que significa aprencler ou usar uma lingua? O quanto podemos aprender de uma lingua, em poucos anos? Que dizer da “conversa para inglés ver", 0 tipo especifico de discurso para forasteiros’ O que dizer dos muitos tropdlogos que ainda confiam em tradutores ou explicadores para eventos, idiomas ¢ textos complexos? O 1 merece um estuclo completo que ainda ndo estou em condigdes cle oferecer. Porém, vate a pena apontar icia: cultura (singular) igual a lingua (singular), Essa equagio, implicita nas idéias nacionalistas de forma, umjetnGgrafo trabalhavemyounprendealgumapartediatlingua”. E isso nem mesmo arranha # questo das situagdes mulilingdes ou intercultura ‘Venho sustentando que a etnografia (nas priticas normativas da antropologia do século XX) privilegiou as relagdes de moradia sobre as dle viagem, Nao creio que precise me prolongar sobre as vantagens, em “profundiclade” de foco da compreensio, que podem se sterescentar a essas priticas de trabalho de campo. A observacio participante intensiva é pravavelmente a contribuigio mais duradoura da antropologia sos estudos humanisticos, e é adequacamente apreciada - mesmo por aqueles, como eu, que a julgam profundamente problemitica, 20 mesmo tempo cm que pedimos sua reforma € disseminaglo. Deixem-me continuar, entlo, a me preocupar com os perigos de construr a etnografia como trabalho de campo. [As localizagées dos objetos de estudo do antrop6logo em termos de um “campo” tendem a marginalizar ou a apagar varias ‘reas de fronteira, realidadles histéricas que escapam para fora do quaclro etnogrifico. Eis ‘aqui uma lista parcial. 1) © meio dle transporte é largamente esquecido ~ 0 barco, 0 jipe, 0 avitio dat missio etc, Essas tecnologias sugerem contatos © comércio sistemiticos anteriores € em andamento com lugares © orcas exteriores que no fazem parte do campo ou do objeto. O discurso da, etnografia (“estar 1A) est 2) Accapitalyo contexto nacional é apagado, E o que Georges Condominas chamou de o *préverrain’, todos aqueles lugares por onde se tem de pasar € com os quais, mantém-se relagio apenas para chegar & sua aldeia ou ao local de trabalho que seri chamado de campo. 3) ‘Também apagada: a universidade do pesquisudor. Especialmente agora que as viagens so mais ficeis até para 0s locas mais remotos, e que todas os tipas de lugares do *primeiro mundo” podem ser eampos Cigreas, limportincia 8 chegad, mas poucu para as pards. No entano,consderro abl de campo com ur forma de vinger, um peiten espacial muloal coloceo i (28 pont sols) da "earn" no quad, 5. Ames de avangar quero meneiona, quam asso, o embxetes de Hori Bhabha (1990) sobre as empoaliduesehistias dscrepames que no se somam a una Fnguatempafcltura ou nego homogénexs.Precisamos de uma genealoga catia da conexSo entre concios holsticos de cultura lingua enapdo. Ver Wolf (1982 p. 387) ¢ Handler (1987) pare alguns fos que enredam a anopologa, laborut6rios, eseritérios, escolas e assim por diante), as as e vindas do campo, tanto dos nativos como dos antropdlogos, podem ser muito freqUentes. 4) Os locas eas relagbes de tradugio so minimizidos. Quando (© campo é uma moradia, um lar longe de cast onde se fala a lingua e se tem um tipo de competéncia ‘vernicular, os intermediirios cosmopolitas ~e as negociagdes complexas e freqiientemente politicas que estio cenvolvidas ~ tendem a desaparecer. Ficamos com observagio panicipante, uma espécie de liberdade hhermenéutica pare cercar situagdes sociais intemnas e externas, Em termos gerais, o que é elidido ¢ o mundo global mais amplo da importagio-exportacio cultural, no qual © encontro exnogrifico esti descle sempre enredado, Eu disse que as coisas estio mudando, Mencionaret, em seguida, alguns trabalhos etnogrificos recentes. E em virias criticas da antropolagia ~ respondendo, em parte, 108 levantes anticoloniais -, vemos 0 surgimento do informante como um sujito histériea complexo: nem um “tipo” cultural, nem um “individuo” Gnico. Por exemplo, em meu proprio trabalho Cf, Clifford 1986), entre outros, tem havido uma tentativa de questionar a transformagio dt narrativa oral para narrativa eserita, esconclda na rSpria palavra *informante”. © nativo fala, o antropélogo escreve. Sto suprimidas as fungdes de “escrever" ou inscrever" controladas pelos colaboridores incligenas. Minha tentativa de multiplicar'as maos ¢ os discutsos ‘envolvidos em "escrever cultura” no serve a afimmar uma democracia ingénua ce autoria plural, mas a afouxse 20 menos um pouco ~ 0 controle monalégico do escritor/antropdlogo executlvo eabrira discuss hierarquta cw negociagto de discursos da exnografia em situacdes cesiguals, dle muckinga de poder. Se 0 fato de penssir o assim chamaclo “informante" como escritor/inseritor sicode um pouco as cotsis, ‘0 mesmo acontece se 0 pensarmos como viajante. Em vatios artigos, Aju ‘contestou a5 camégasantpolicr de lar o pores toes cone. Ee lad ect to", ¢ aE mesmo de “aprisionamento”, mediante um processo de essencializagio representacional, o que chama de *congelamento metonimico", no qual uma parte ow um aspecto da vida de wrt’ povo passa it tepresenti-lo como tum todo, constituindo seu *nicho tedrico", num taxionomia antropolégica: fnclia igual a hierarquia, Melanésia igual a troca, e assim por diante, “Os nativos, povos confinados aos € pelos lugares {que pertencem, grupos no contaminaclos pelo contato com um mundo mals amplo, provavelmente nunca cexistiram” (Appadurai, op. cit, p. 39)? “Tenho sustentado que, em boa parte da etnografia tradicional, o etndgrafo localizou.o que é, na verdade, um nexo regional/nacional/global, relegando ais margens as relagdes externas € 03 deslocamentos ca cultura’, Isso esti sendo cida vez mais questionado, O titulo da soberba histéria etnografiea das ilhas Marquesis por Greg Dening (1980) € inclcativo: slanids and beaches: As praias, lugares dle interaglo de viagem, sto a metade da histéria. Europe and the people without bistory, de Eric WolF (1982), embord possa fazer pender a dialética cultural global/local um pouco demais para 9 Ido das determinages “externas” (globais), € um passo decisivo e influente adiante das nogdes de culturas integrals, separadas, Esereve ele: 9, Par indies arquoldgicos que api est conclso, ver Iv Rous (1986), Migrations in rhisry. 7 “Em vez de pensar os ainhamentos sociais como autodeterminantes, precisamos — desde 0 comego de nossas investigagées — visualizi-los em suas conexdes externas mikiplas” (op. cit, p. 367). Ou, em outro filo antropolégico atuil, considere-se uma frase de abertura da complexa obra de “entrecruzamento” antropol6- ico de James Boon (1990, p. ix), Affinities andl extremes ‘© que veio a ser chamado de cutur balinesa& wma invengo de ipl sores, uma formagGo hisiice, ura ders, una

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