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© conteiido desta obra implica esforco de explicacio da. riqueza da vida e da expressio littirgica da Igreja e resposta aos problemas que a prittica da liturgia enfrenta. Sao com certeza muitas as obras publicadas sobre a matéria nos anos pOs-conciliares. A celebragdo na Igreja nio pretende ser “uma a mais”, Alem de oferecer em um tinico volume 0 estudo de todos os Pontos ¢ questées importantes sobre a matéria, tratados por especialistas qualificados e reconhecidos, responde a um, projeto global ¢ unitirio sobre a matéria litirgico-sacramen- tal, cujas duas primeiras partes jé foram publicadas antes (vol. I: Liturgia € sacramentologia fundamental, Loyola, 1990; vol. II: Sacramentos, Loyola, 1993); apresenta € desenvolve os temas de forma logicamente sistemética, a partir de uma metodologia comum; revela, ao mesmo tempo, ‘unidade criteriol6gica basica, dentro da variedade ¢ riqueza do campo de pesquisa dos diversos autores. Esperamos que 0 esforgo realizado para essa obra conjunta possa dar seus frutos, prestando servico a especialistas € professores, a estudantes de teologia e pastores, para melhor conhecimento ¢ constante renovacdo das comunidades e da Igreja inteira. ISBN: 85-15-00158-1 BN: 85-15-01940-X ta 5 3 DIONISIO BOROBIO =e Ole J. Lopez, J. Aldazabal E. Aliaga J. Bellavista G. Ramis R. Gonzalez BP Labres J.M. Canals J. A. Goenaga J. Castellano P Fernandez A. Lara A CELEBRACAO NA IGREJA 3 Ritmos ¢ tempos da celebracio Ps, iigses Loyola A CELEBRAGAO NA IGREJA I Liturgia e secramentologia fundamental A CELEBRAGAO NA IGREJA IL Sacramentos ‘A CELEBRAGAO NA IGREJA IIL Ritmos e tempos da celebracéo Dionisio Borobio (Organizador) J. Lépez - J. Aldazabal - E. Aliaga - J. Bellavista - G. Ramis ~ R, Gonzdlez - P. Uabres - J. M. Canals - J. A. Goenaga - J. Castellano - P, Femnéndez - A. Lara A CELEBRACAO NA IGREJA I RITMOS E TEMPOS DA CELEBRACAO Teaouto JOAO REZENDE COSTA peter digoes Loyola ‘Titulo original: TA CELEBRACION EN LA IGLESIA Ut, Ritmos y tiempos de la celebracién © Baiciones Sigueme, S.A., Salamanc ISBN: 84-301-0955-2 (obra completa) ISBN: $4-301-1123-9 (vol. IID) 1994 Revisio Adail ¥. Sobral Maria Stela Goncalves Renato da Rocha Carlos Diagramagio Telma dos Santos Custédio Edigées Loyola Rua 1822 n° 347 ~ Ipiranga (04216000 Sio Paulo, SP Caixa Postal 42.335 ~ 04299-970 Sao Paulo, SP @ (or*11) 6914-1922 Fax: (O**11) 6163-4275 ‘Home page ¢ vendas: www.loyola.com.br ‘e-mail: loyola@ibm.net Tados os direitos reservados. Nenhuma part desta obra pode ser reproducida ou transnitida por qualquer Jorma efou guaisquer meias (letrOnico ou mecdnico, Incluindo forocdpia e gravagdo) on arguivada em ‘qualquer sistema ou banco de dados sem pernissdo fcrita da Ediora. ISBN: 85-15-00155-1 (obra completa) ISBN: 85-15-01940-X (vol I) © EDIGOES LOYOLA, Sto Paulo, Brasil, 2000 Prélogo. Siglas de colegdes ¢ revista. Documentos do Concilio Vaticano II. Rituais ¢ documentos litirgicos Pés-Vaticano II Abreviaturas consnne Introdugao (Dionisio Borobio) PARTE | ANO LITGRGICO — CICLOS E FESTAS 1 SUMARIO u 13 19 at 2s “Two sactano, Tauro urixcico # ausréuo ve Cristo (J, Lépez Marti). 31 1. 0 tempo como realidade significativa 2. 0 tempo na Biblia... 3. O tempo na liturgia... = 4. 0 valor sacramental do tempo litirgico. 5. 6 7. A festa, tempo privilegiado... 0 calendario festivo critic . Teologia do ano littrgico 2 Dosasco, 0 pia po Sennox (J. Aldazsbal) 1. A compreensio dos primeitos séculos ... 32 35 37 43 45 50 55 67 69 3 ‘© ripuo rascal (B, Aliaga), 93 1. Perspectivas histérico-pastorais . 94 2. Inicio do triduo pascal: a quinta-feira santa 102 3. 0 primeiro dia do triduo pascal: a sextafeira sant... 106 4.0 segundo dia do triduo pascal: 0 sibado Santo carson 110 5. 0 terceiro dia do rito pascal: a vigiia pascal na noite santa. Domingo da ressurteigao: 0 dia de Cristo, 0 Senhor warn 12 4 A gbmwouncisms ascat (J. Bellavista)... 11 1. Bvolugao historca.. tai 2. 0 tempo pascal dos cristaos.. : i 127 3. A celebragdo litigica do tempo pascal. sons 136 5 PREFARACKO PARA A PAscoA: A quansswa (J. Bellavista) 1. Evolugdo historic... 143 143 2. Significado teolégico 150 3, Celebragdo litingica da quaresma. 155 6 ‘Ano Lirtaico: Cicto po Apvenro — Nara — Evtranta (G. Ramis)... 161 1, Nota hist6tica onninenenes sen 162, 2, Explicacdo histérica 166 3, Teologia do advento 14 4, Festas do tempo de natal 179 5. Notas pastorais sobre advento-natal-epifania... 182 7 Oummas zstas Do Senor (R, Gonzalez) . 185 1. Solenidades méveis 186 2, Festas em dias fixos. 193 Conelusio . 197 8 O cunto 4 Santa Mana, Mar ne Deus (P. Llabrés) .. 199 1. No inicio, meméria de Maria na celebracdo do mistério de Jesus... _ 200 2 Primeiros vestigios do culto a Masia 201 3. A influéncia expansiva do concilio de Beso 202 4, 0 culto a Maria na Idade Média 206 5. As festaslitirgicas mais modernas em louvor a Maria... 210 6. 0 culto a Maria na renovacio da liturgia do Vaticano 11 213 7. Prineipios teol6gicos e pastorais do culto a santa Maria. 218 9 0 carro aos santos (P. Llabrés) 223, 1, O culto aos mértises 224 2. 0 culto aos santos ndo-martres ... 228, 3, Do culto local ao culto universal. 230 44.0 reconhecimento eclesial do culto aos mrtires ss 234 5. 0 culto aos santos na Idade Média wa 237 6, De Trento ao Vaticano It. 239 70 ealto dos santos na lturga renovada a partir do Vaticano TI 241 8, Teologia e pastoral do culto aos santos 248, 10 Pastorat, bo aNo LirGxaico (D. Borobio) 1, Problematica pastoral do ano litirgico 255 2, Pastoral do ano litingico e mistério de Jesus 287 3. Ano littirgico, evangelizagao € catequese eee 250) 253 4, Pastoral do ano litingico ¢ participacio celebrative . 261 5, Pastoral do ano litingico e religiosidade popular o- 262, PARTE tt LUTURGIA DAS HORAS a ‘A oracho Na Biaua (J. M. Canals) . 267 1. Israel, “povo que sabia rezat” .. 268 2, Jesus, orante sob o reinado de Deus. 279 285 3. A oragao na Igreja primitiva . Conclusio .. 289 2 ‘A ORAGAO DA COMUNIDADE CRISTA (s6es. IL-XVI) (R. Gonzalez) . 291 1. A comunidade apostélica e o ideal da oragéo ininterrupta...... 291 2. Otago ao ritmo das horas ¢ seu sentido 296 303, 3. As primeiras estruturas do oficio divino... 4, A celebragio e a estruturagdo do oficio completo 308 5. Celebragio do offcio com solenidade e em privado. 312 3 |As VERSA REFORUAS DO OFCO bo sés. XVI Ao Vancano Tl (. A. Goonaga) 317 1. Primeira aproximacio.. 317 2, Plano de estudo. 321 3. Quadro comparativo 323, 4. Leitura do quadro comparativo. ve 924 4 ‘TROLOGIA £ ESPHUTUALIDADE DA LITUROLA DAS HORAS (J. Castellano) 337 1. Sentido teolégico da prece cristi 338, Conclusao a = 375 2, A liturgia das horas, louvor eclesial do mistétio salvific0 wun. 376 Conclusio 397 5 Sextibo DAs BSTRUTURAS DA LITURGIA DAS HORAS (J. A. Goenaga) nnn 399 1, Estruturas ¢ teologia 399 2. Sentido da estrutura horéria e de cada hora 1 405 3, Sentido da estrutura normativa 12 6 FBLEMENTOS VERBAIS DA LITURGIA DAs HoRAS (P. Fernéndez) .. 419 1, Elementos constitutivos . 420 2, Blementos complementares 469 7 PASTORAL DA LTURGIA DAS HoRas (D. Borobio) ATT 1. Situagdo ¢ colocagdes atusis.. amr 2. A pastoral da liturgia das horas na renovagao do. coneiio Vaticano I 479 3. Da teologia d pastoral da liturgia das horas. 481 4, Liturgia das horas, catequese e pedagogia oracional socom. 485 PARTE I (OS SACRAMENTAIS 1 Consncragio DAS VIKGRS F PROMSSHO RELGIOSA (G. Rais) snne 491 1, Esquema da celebragio dos dois rita .numennenaninnns 492 2. Bstudo ¢ anzlise dos textos vue 493 3. Estudo dos formulérios das miss3 0... son 803 4, Teologia da virgindade e da vida religiosa . $06 5. Historia do rito de consagragdo de virgens e de profissio religiosa a= eo 508 6. Aplicagdes pastorais nnn os 509 2 ‘A DEDICAGKO DE TOREIAS & ACTARES (A. Lata) wn si 1. Da Biblia & liturgia da dedicagao a soon SUL 2, Desenvolvimento histérico e formagao do rito 514 3. O novo ritual (197) = 518 Conclusio 521 3 ‘As nénchos (J. Lépez Martin)... 1. As béngdos 2. As hengdos na liturgia romana... 3. O Ritual de béngéos atual. 4, Teologia da celebragdo da bén¢ao... 5. Pastoral das béngios Indice temtico PROLOGO A litwrgia € a mais viva realidade ¢ expressio da vida da Igreja que, por meio dela, revela sua identidade reconhecida, sua esséncia renovada, Na liturgia, 4 Igreja fez experiéncia de seu sere existir. Ela 6 a prépria Igreja em sua mais densa relagio simbélica com Deus ¢ com a totalidade de si mesma. Essa liturgia poderd ser interpretada, configurada e posta em agao de uma forma ou de outra, com uma ow outra atitude. Mas, acima de suas vicissitudes e pluralismes e gracas precisamente a eles, aliturgia &¢ continuard a sero simbolo mais rico da vida crsta, a forma mais original que nés, fits, temos para expres sar a salvagdo que nos foi dada ¢ a esperanca que nos inunda. 0 Vaticano I ¢ a reforma litirgica por ele desencadeada foram os motivos principais de uma nova consciéncia litirgica, cuja consolidagao esté em processo de decantacao. Passadas as reacies da “primeira inocéncia” ou os conflitos da primeira reagao (extremismos de diversos tipos), estamos no momento propicio para que esa reforma produca seus melhores frutos. Os diverses “mavimentos" ou “correntes de opinido”litirgica do pertodo pis-Vaticano It (dessacralizagao-secu- larizacao, socializacdo-politizagao, evangelizacao-catequizacae, adaptacao- -criatividade, simbolismo-festa, intimismo-experiéncia, ecumenismo-unidade...) contribuiram sem divida para methor discernimento, para melhor riqueza de sentido, nas diversas dimensies e exigéncias da celebragéo. Cremos que essa situagao nova e essa contribuigio enriquecedora devem ser assumnidas com rigor numa visio renovada da liturgia e dos sacramentos. As con- trituigées que jd nas ofereceo confronto da celebragao litirgica e sacramental com a situagao atual da Igrejia, com a agit pastoral, com as ciéncias humanas, com a configuragizo socal, com a instancia ecuménica ... nd podem ficar & margem de ‘uma compreensio integral e verdadeiramente renovada da liturgia. De todos esses pontos nasce a necessidade de nova stneselitirgica e sacra- ‘mental que destaque, atendendo as exigéncias do moment, os valores permanen- n Prélogo tes ¢ ponha em relevo os centros de sentido, pondere a diversidade ¢ o pluralism, ddefenda a identidade sem abafar a vida, ajude a verdadeira “recepeao” ativa e consciente,saiba unir a liturgia condita com a liturgia condenda, articule de ‘modo unitdrio¢ coerente a totalidade litirgico-sacramental, oferea, enfim, res- posta a sensibilidade e reivindicagdo simbélica do homem atual. Essa é precisamente a tarefa que um grupo de liturgistas ¢ teéloges dos sacramentos quis empreender ¢ realizar, a servico da Igreja ¢ como respasta necessidade por todas comumente sentida. A obra que apresentamos ni € propo- sigdo de uma pessoa, mas exigéncia de uma “Associacio” (des profesores de liturgia da Espanha: Associagao Espanhola de Professores de Litwrgia [AEPL]); nizo é mérito de um tinico autor, mas trabalho de uma equipe que soube unir seus csforgos ¢ superar dificuldades com esperanca ¢ dedicago DIONISIO BOROBIO (Coordenador responsavel) AAS “AcBibl ‘AcCat ‘AcPast ARH ‘AHD AKG LW ‘AnCan, Ang ‘Ani Ant APhil ‘AsamSe ‘ASCSR “AssembSeign ‘AtCont Bib Bileb BiLit BiVichr BLE BolHToae BIBib BThAM BThom SIGLAS DE COLEGOES E REVISTAS ‘Acta Apostolicae Sedis, Roms, 1909s. ‘Actualidad bibliogréfica, Barcelona, 1964. -Actualidad eatequética, Madri, 1960s. ‘Actualidad pastoral, Buenos Aires, 1968, ‘Archivium franciscanum historicum, Florenga-Quaracchi, 1908s, Archives d'histoire doctrinale et littéraire du moyen age, Pars, 1926s. Archiv fir Kulturgeschichte (Leipzig), Miinster e Colonia, 1903ss. Archiv fir Liturgiewissenschaft (antes: JLW), Ratishona, 1950ss. 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Yelda, Madi, 1966ss Zeitschrift far alttestamentlche Wissenschaft, Berlim, 1881s. Zeitschrift fir katholische Theologie, Insbruck-Viena, 1877ss, {Zeitschrift fr die neutestamentliche Wissenschaft und die Kande dr alteren Kirche, Giessen 1900ss, Berlin 1934ss, Zeitschrift fir Theologie und Kirche, Tibingen, 1891ss o DM EN DOCUMENTOS DO CONCILIO VATICANO II Inter mirifica. Decreto sobre os meios de ee social Nostra ects Desai sobre trelado ds Iga om a relies ndo- aa re ae oi a OUTROS DOCUMENTOS PONTIFICIOS Jommunio et progressio. Exortagio pastoral de Paulo VI (18.5.1971) Cac rade Exo ie Jo Pao (1610197) Dives in misericordia. Enciclica de Joao Paulo II (30.11.1980) Byangeliinuntiand, Bxortagio de Paulo VI (812.1975) Eeclesiam swam, Eneiclica de Paulo V1 (6.8.1964) Faniliaris eonsortio, Bxortagio de Joao Paulo Tl (221.1981) LE Laborem exercens. Bnciclica de Joao Paulo It (149.1981 Mat Mater et magia, Enc de oso XI (141985) OA Ocepesine adveies. Carta apstlica de Paulo VI (145.1971) pulorum progresso. Bneiclica de Paulo VI (26.3.1967) PT Pacem in ters. Bneicliea de Joao XXII (114.1963) QA Quadragesimo anno, Eneiclica de Pio XI (15.5.1931) RH Redemptor hominis, Eucilica de Joao Paulo (43.1979) RN Rerum novarum. Bncieliea de Ledo XIN (155.1891) __ RITUAIS E DOCUMENTOS LTERGICOS POS-VATICANO II RB Ritusl do batismo de criancas (15.5.1969) RICA Ritual da iniciagdo crit de adultos (6,1.1972) RC Ritual da confirmagio (22.8.1971) RP Ritual da peniténcia (212.1973) RM — Ritual do matriménio (19.3.1969) RO Ritual do ordenagio do digcono, do preshitero do bispo (15.8.1968) CCE Ritual da sagrada comunhio e do culto da eucarstia fora da missa (1973) RLA Ritual para instiie adlitos eadmitir candidatos ao diaconado e presbiterado, para a promesss de observar o eelibato (38.12.1972) RER Ritual da profissio religiosa (2.2.1970) RCV Ritual da consagracdo das virgens (31.5.1970) RBnA Ritual da béngio de abade ou abadessa (9.11.1970) RDI Ritual de dedicacio de igrejas e altaes (29.3.1977) RBO Ritual de henglo do leo dos catocimenos ¢ enfermos ¢ da consagrago do crisma RUE Ritual da ungo e da pastoral dos enfermos (7.12.1972) RE Ritual de exéquias (15.6.1969) OGLH Ordenagio geral da liturgia das horas. OGMR Ordenagdo geral do missal romano (3.4.1969). Alc: Normas universais sobre o ano litirgico e sobre o calendério (14.2.1969). InsMS_Instrugdo “Musicam sacram” sobre a musica sagrada (15.3.1967). InsEM_Instrugéo “Eucharisticum Mysterium’” sobre o culto da eucaristia(15.5.1967) InsAP _Instrugdo “Actio pastorals" sobre missas para grupos particulares(15.5.1968), InsMD Instrugao “Memoriale Domini” sobre comunhio na mio (29.5.1969) InsIC Instrugdo “Immensae Caritatis” para faciitar a comunhio sacramental em algumas cireunstincias (29.5.1973). InsID Instruglo “Inaestimabile donum” sobre algumas normas acerca do mistério eucaristico (174.1980). Me Diretério para missas com criangas (22.10.1973). a ac. AG. art art. cit, at av cx. bb, cap. caps, cic cf ac. of eds. ep. fr ibid id loc. ct. LXX es ano, artigo antes de Cristo Acdo Catéliea artigo artigo citado Antigo Testamento audiovisuais can, canon comunidades de base cerca de, por capitulo(s) Codex iuris canonici confira, vejase depois de Cristo editor, editado editores epistola fragmento ‘no mesmo Tugar © mesmo introdugdo Iugar citado versio grega do AT pars os Setenta ‘meios de comunicago socal op. cit. p.pp. par, px rd. Rit. sd sd. 8. Th, supl Vat. ¥ vol. vols. Vulg ABREVIATURAS nots, imero Novo Testamtento bra citada vaginas) Datla, parégrao por exemplo prdlogo quaesto Aistico ritual fem data seuine(®) séeulo(s) sem data eto Summa theologica suplemento versiculo(®) Vaticano verb gratia votumie(6) Valdata: ve Bota lating da INTRODUGAO Dionisio Boroblo vida do homem é permanéncia vital com alternancias carregadas de sucesso temporal. O que chamamos de “tempo” nao é, por conseguinte coisa vazia, mas realidade plena, ambito de sucesso da vida e simbolo car regado de sentido. O tempo é sfmbolo da vida em movimento, da duracéo ¢ permanéncia, da historicidade que acontece, da transitoriedade perecedoura, a laboriosidade e do descanso, da sucessdo que se alterna impossivel de se conter, da pulsagao césmica e estacional. Por todas essas caracteristicas, 0 tempo sungiu nos diversos povos, culturas ¢ religides como realidade sagrada, carregada de mistério € mensagem, Ievando a diversas sacralizagbes mitico- -rituais, em relacdo seja com a sucessio das estagbes (Solsticios) seja com as, alterndincias de sol ¢ lua, trevas ¢ luz, dia ¢ noite. Por essas mediagdes mitico- -rituais 0 homem sempre tentou por em comunhao o divino ¢ o human, 0 tempo e a eternidade, buscando proteger-se da ameaca das forgas maléficas (itos apotropaicos) ¢ atrair para si a forca divina salvadora (tos esotéricos, heros games. A novidade biblico-crista ndo repousa apenas em novo hotizonte esca- tol6gico que se descortinow, 0 qual implica concepsio “linear” diversa da concepcéo “eiclica” do tempo, mas também em novo contesido soteriol6gico diverso daquele com que parecia carregado o tempo de que estévamos falan- do. O sagrado do tempo néo mais se alia tanto a ciclos eésmicos como a acontecimentos histéricos. O tempo eésmico passou a ser agora tempo soteriolégico dotado de dinamismo e horizonte escatol6gicos. Assim 0 é por- que para a fé biblico-risté o tempo é sempre tempo com Deus, semeado de acontecimentos salvadores e tecido por uma histéria de salvagdo. Histéria que chega a seu climax, & sua plena realizacdo escatoldgica e & sua maior densi- 25 Introduedo dade salvifica em Cristo ¢ sobretudo em seu mistério pascal. Cristo é verda- deiramente 0 kairos que inunda o chronos com o éschaton de sua salvacao. O tempo alcanca toda sta plenitude salvifica na pascoa de Jesus. Nela encontra- mos 0 eixo que divide o tempo em um antes e um depois, 0 centro que 0 articula e ordena em dinamismo escatol6gico, o sentido que’o enche de vida ¢ poder salvador. Néo somente Cristo “acontece” no tempo, mas veio o tempo a “acontecer nele” (cf. a vigilia pascal), e ele é também o tempo. A cristologizacdo e pascoslizagéo do tempo que nele aconteceu no permite mais que haja tempo nao-cristol6gico ou nao-pascal. O tempo tem de falar ‘agora inevitavelmente de Jesus Cristo, e os que eréem nele no mais poderio separar seu tempo do tempo de Jesus Cristo. Consciente dessa realidade, a comunidade crista quis expressar o misté- rio desde seu inicio. Para tanto, foi pouco a pouico orgattizando e institucio- nalizando, de acordo com a diversidade de lugares, tradigdes e épocas, o que chamamos de ano litirgico e de liturgia das horas. Essas duas realidades litdngicas resultam de longa experiéncia da Igreja, de permanente vivéncia comunitéria do mistério, da necessidade irresistivel de expressdo em formas cultuais. A dltima etapa, que marca a atual pulsagao da Igreja com respeito 8 essas realidades litirgicas, & o Vaticano Il (SC, caps. IV-V), assim como também os documentos em que se plasma a renovagao conciliar: 0 Calendério € missal romanos ¢ a Ordenagdo geral da liturgia das horas. Trata-se de renovacio que busea, como € dbyio, a fidelidade ao sentido, a coeréncia com 68 principios litingicos e a adaptagdo as necessidades e situagées. Cremos que em conjunto as grandes contribuigées da renovacao litingica desse periodo podem set resumidas nos pontos seguintes: (1) Centralidade pascal: todas as celebragées e festas se referem a péscoa como centro que Ihes confere sentido e até mesmo produz a configuragéo litngica; (2) hieraquizagao Jestiva: reordenam.se as diversas festas em fungdo de sua prioridade e verdade: piiscoa, dia do Senhor, as festas do Senhor, de Maria, do santos...; (3) recuperagao ritmico-temporal: restauram-se 0 curso tradicional das horas ¢ 0 tempo mais préprio para as celebragbes; (4) abertura comunitdria: tanto o ano litdrgico como a liturgia das horas ordenam, exigem e promovem a participa. 40 da comunidade inteira; (5) impregnagao sacramental: tanto 0 ano litiirgico como a liturgia das horas constituem presenga do Cristo orante e sacerdote, que faz. presente sua obra redentora por essas mediagées culturais; (6) pluralidade celebrativa: em ambos os casos abre-se a possibilidade de diversas celebragées que estendem ¢ remetem sobretudo a celebracdo eucaristica. A renovagao litirgica do Vaticano I mostra especialmente toda a sua qualidade ¢ amplidéo na liturgia das horas e no ano litirgico. Muitos séo os assos dados na pratica correspondente. Mas também sio muitos as desafios ‘apresentadas que permanecem sem resposta, por exemplo: a Igreja propoe ‘simbolos celebrativos que nosso mundo secularizado tem dificuldade de com- 26 ee Inrodugao render ¢ assumir para expressar sua fé, orar ¢ celebrar; a liturgia das horas ano Ltingen supdem rtmose tempos de clebracao gue dfiimente 9 encaixam nos ritmos ¢ tempos impostos pela atual ordenagio do trabalho, rnuma sociedade consumista das mil ofertas para o tempo livre; a impregnagao césmico-estacional e a divisio de dia ¢ noite, que constituem marco funds- mental para as celebragies que a Igreja propde, jé nao o séo tais para as celebragées que costuma fazer 0 homem atual; a centralidade pascal e a or- denagio de celebragdo que propde a Igreja respondem a “sensibilidede litdrgica”, mas nao levam muito em conta a “subjetividade devocionel” do ovo, que continua necessitando de esferas de criatividade e de formas novas para expressar sua sensibilidade religiosa, suas tragédias e emogbes. Sem diivida, o conteido desta obra implica esforgo de explicagao dessa riqueza que indicamos € resposta aos problemas que sugerimos. Si com certeza muitas as obras publicadas sobre a matéria nos anos pés-conciliaes. ‘A nossa ndo pretende ser “uma a mais”. Além de ofereoer em um tinico volume o estudo de todos os pontos e questdes importantes sobre a matéria, tratados por especialistas qualificados ¢ reconhecidos, tem de especifico que responde a projeto global e unitério sobre a matéra litirgico sacramental, ccujas duas primeiras partes ja foram publicadas antes (vol. I. Liturgia ¢ sacramentologia fundamental; vol. II. Sacramentos); apresenta e desenvolve os temas de forma logicamente sistemética, a partir de metodologia comumn; revela, ao mesmo tempo, unidade criterioldgica bésica, dentro da variedade riqueza que oferecem os diversos autores. paerimos que oesforg realiado ara eta obra conjunta poss der seus frutos, prestando servigo a especialistas e professores, a estudantes de teologia e pastores, para melhor conhecimento e constante renovacao das comunidades da Igreja inteira. Dionisio Borobio Coordenador da edigao a PARTE | ANO LITURGICO CICLOS E FESTAS 1 TEMPO SAGRADO, TEMPO uTERGICO E MISTERIO DE CRISTO J, Lépez Martin 'odo ato humano se realiza no émmbito de duas coordenadas essenciais, 0 tempo eo espaco. A celebracio da Igreja também se insere nessas co- ordenadas, mas com a particularidade de influir de certa forma sobre elas. O ‘tempo e 0 espaco destinados & celebracdo tém o valor simblico e manifestativo de todos os sinais da liturgia. Tém inclusive valor prefigurativo e profético, pois em toda celebracdo, sobretudo na eucarstia, estamos em busca do “tem- 0” de Deus e fomamos parte na liturgia celestial que secelebra na cidade santa de Jerusalém para a qual nos dirigimos (cf. SC 8). © mistério salvifico celebrado na liturgia impregna de santidade — sacralidade cristi — 0 tempo e 0 espaco da celebracio, independentemente dos motives coneretos que determinaram a escolha do momento e do lugar fem que se retine a assembléia para celebrar. O mistério acontece dentro das coordenadas histéricas da comunidade congregada, No primeiro volume desta obra jé se deram pinceladas sobre 0 tempo € o lugar da celebracao.! Trata-se agora de expor a teologia do tempo da cele- bragio e do ano litirgico, como tema prévio aos diversos ciclos ¢ festas que o integram. Escolhe-se 0 tempo da celebracao* de acordo com o calendério litirgico da Tgreja, seja no dmbito geral do rito romano ou de outro rito seja no campo 1. D. Borobioe outros, A celebrag da lgrja J larga €sacramentologa fundamental, Sto Paulo, Edgdes Loyola, 199, 2. Sobre esse toma vejam-se of mmerosexpecsis de Cone, 162 (1981); LMD 65 (1961); 133 (1978) 147 e148 (1981); RL 87/2 (1970) eos estndos de VV.AA, Cristo lv, apie sempre, aL ee Ano litirgico — Ciclos ¢ fests particular de determinada diocese ou familia religiosa. O calendério baseiase ha sucessio natural dos dias, semanas e meses, expressando porém os dias determinados ema que a comunidade crista celebra com sagrada recordagao a obra salvifica de Cristo (cf. SC 102). Nesse sentido, constitwi expresso organizada do ano litirgico, de maneira que nele se assinalam antes de tudo 0s domingos a méxima solenidade da pdscoa, e todas as restantes solenidades, festas ¢ memdrias, 08 ciclos ltirgicos, os aniversérios da Igreja e do bispo e as férias. Existem ademais outros ritmos de celebracdo, marcados pela historia ¢ pela tradigéo popular de cada lugar, como as festas dos padroeiros, os dias de romaria e peregrinacio etc, e obviamente pela vida da comunidade e de seus ‘membros: batismo, matrimdnio, consagracao religiosa, béngaos, exéquias. Mas esse segundo calendério de celebracao deve levar em conta o primeiro, que garante a uniéo com toda a comunidade eclesial e constitui a referéncia aos dias e tempos determinados pela Igreja para tornar presente o mistério de Cristo nas comunidades ¢ levar a cabo a progressiva introdugio de todos os seus membros na vida divina (mistagogia) 1. O tempo como realidade significativa Uma das nogées mais complexas e ricas que tem o homem, ¢ pelo mes- ‘mo motivo uma das mais dificeis de explicar, é 0 tempo. O tempo é a medida de todas as coisas quanto a sua duragio. Ele nao é somente magnitude ma- temética expressa em horas, minutos e segundos, ou em dias, meses e anos. Esse tempo homogéneo, marcado por ritmo e altemnancia, assinalado por crondmetros ou pela posigdo dos astros, nao passa de sinal ou referéncia do verdadeiro tempo, a duragdo das coisas. No relogio todas as horas sAo iguais, no calendério nao ha distingao entre os dias ¢ os meses, Sucedem-se uns a0$ outros inexoravelmente, Tudo isso néo passa de uma dimensio, resultado de observacao ¢ célculo; € 0 tempo matemético que, enquanto baseado no movi- ‘mento do universo, se chama tempo césmico? Bari, 197%; C. Andronikot, “Le temps de la liturie”, em VV.AA, Eschaologie et lw Conferences Saint Serge 1984, Roma, 1985, 1783; M. Berlano,"Kairés. Tiempo salifico", RET 54 (1974) 3:35; H. Bourgecis © outros, experince drétenne du temps, Pars, 1897, L. Bouyer, Brito y et hombre, Bacelons, 1967, 185200, C. Castro, Sentidoreligiua det ituria, Madi, 1964, 541-554, 0. Cullmann, Cristo y tempo, Barcelons, 1968; M. 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Martini, “La orginalidad del vempo dela Iglesia’ en la historia de la slvacn’, 2 a Templo sagrado, tempo lvirgico € mistério de Cristo 4) O tempo “interior” No entanto, no homem hé uma espécie de tempo “interior”, uma autoconsciéncia reflexa do devir de sua existéncia, que néo coincide com 0 ritmo e a velocidade marcados pelo tempo edsmico. Todo mundo experimen: ta, com o passar dos anos, a impresséo de que estes transcortem mais depres- sa, Diz-se também que o tempo mais “longo” da vida do homem é o de sua infincia, sobretudo o de sua primeira inficia: até os dois ou trés anos de vida. Mas ndo se esgota af a sensagdo que se tem do tempo. Para o homem que vive mergulhado no wniverso, sem ainda ter rompido os 1agos com @ natureza ¢ com a esséncia das coisas, 0 tempo possui dimensées diferentes, tendo cada instante valor distinto e préprio. Assim as horas do dia tém cada uma seu rosto: “Cada hora do dia tem sua tonalidade propria. Trés delas, porém, nos olham com rosto particularmente claro: a manha, a noite ¢ 0 rmeio-dia. Sao todas elas consagradas. A manha é um principio, o mistério da noite € a morte, a metade do dia é 0 duro presente, Tu te deténs, e o tempo inteiro se afunda, A eternidade te contempla, Fala a eternidade em todas as hhoras, mas € vizinha do meio-dia. Af o tempo espera ¢ se abre”* (© mesmo se pode dizer dos dias, dos meses e do decorrer das estagées. Cada um tem sua propria importincia e reflete um momento ¢ uta etapa da existéncia humana e da vida das coisas. O homem nao permanece indiferente diante do curso do tempo: uns dias Ihe sao favordveis e outros desfavoraveis, “fastos" ou “nefastos”. Desde as pessoas que s6 se ocupam com os aspectos comerciais do tempo (vencimentos, prazos etc:) ou com os aspectos climéti cos (se vai fazer frio on chover etc.) até as que ficam dependentes de seu hhoréscopo, cada qual tem sua forma particular de acusar a passagem do tempo e prevenir o que pode acontecer. Nisso 0 homem da grande cidade nao se distingue do camponés, nem 0 cientista do semicivilizado. O homem sem- pre pretendeu delimitar, conhecer na medida do possivel e enfrentar o tempo que esté por vir, em que alfo acontecers. Sunge entio uma nogao nova do tempo, uma caracteristica de determinados tempos ou momentos, algo que faz distinguir as porgbes do tempo em que acontece algo daquelas em que nao acontece nada, Surge ai a idéia de tempo sagrado em contraposicio ao tempo ordindrio e profano. Um ¢ outro no saem do tempo c6smico, mas tem-se & impressio de que o tempo sagrado é um espago citcunserito, um paréntese, uma incisio no devir das coisas, um instante subtrafdo & passagem inexordvel da existénciaS ‘om VAA, Avtes del Congreso Internacional de Teoaga dl Vaticano I, Barcelona, 1972, 501- 506; J. Vermeylen, “Tiempo e historia en al AT", SelT 95 (1985) 203.211 44. R. Guardinicitado por van der Leeuw Fenamenaogi.., S76 5. Ch M. Bade, El mito del eterno rtorne, Mads, 1974; G, Fravet, La rama dard, México, 1979, 87.118. 2 Ano litirgico ~ Ciclos fests, 4) O “tempo sagrado” (© homem experimenta entio que se detém no meio do tempo, situan- do-se sob a influéncia favordvel e benéfica de um poder superior a ele que se manifesta nesse paréntese. O tempo sagrado significa o esforgo do homem ara romper a espiral inexordvel que o envolve e amieaca engolilo na morte. Apropria-se entdo do “tempo dos deuses", da eternidade, que no é tanto am tempo indefinido, quanto a seu principio e fim, como um tempo “maior”. O tempo sagrado € como uma imersdo do homem nesse tempo divino no qual vivem os deuses e criam o mundo. O tempo sagrado divino transforina-se em hierofania da atividade divina, que consiste na renovagdo e repetigio de um acontecimento mistico, singularmente da cosmogénese ou principio do mun- do. Por isso 0 tempo sagrado procurard reproduzir mediante ritos de todo tipo o mito original, e marcard ao mesmo tempo a passagem do tempo ordi. nério ao tempo hierofainico. O tempo sagrado, portanto, carrega consigo wma interpretagdo teligiosa do tempo csc, ietrpetaco lain numa primstsfe devote cong da natureza, a partir do significado mitico do renascer e renovar-se da nat. zeza na primavera, e, numa segunda que no anula a primeira, a recordagio calendérios, no 0 modelo que conhecemos mas de formas mais simples, acolhendo unicamente os tempos festivos que enquadram os diversos trabs, lhos do campo: a semeadura, o comego e o fim da cei, a colheita dos frutos 0 calendério primitivo nio é 0 medidor do tempo, mas 0 indicador do poder ue se manifesta nele. Por isso, os calendérios primitivos exam simplesmente talendérios das festas ¢ dos tempos propicios para o homem, de acordo com © ritmo da natureza e a passagem das estagées, O tempo sagrado aparece como tempo “que retorna” a cada ano, 20 contratio do ordindcio que se desvanece. E reversvel, circular, recuperivel cada vez com sua carga idéntica de poder e hierofania. S6 aparentemente 6 interrompido pelo tempo ordindsio, mas cada tempo sagrado € soliditio de outro. Assim, ao longo dos anos, continuam os momentos hierofinicos constituem um continuo retorno ‘Mas hid outro significado na reiteragdo dos tempos sagrados: seu signi- ficado de renovagio, de comeco e de xetorno & origem, a0 tempo divino ¢ Primordial onde vivem ¢ trabalham os deuses. Note-se que néo uma volta 8 eternidade mas ao comego do tempo do mutido e do homem, do cosmo, ao Primeiro instante real do tempo, Esse significado esta presente em todo tem. o sagrado, mas hi uma festa em que ficam mais claros esses aspectos, Falo da festa do ano novo, na qual se renova o mundo e se reencontram a pureza ¢ 8 forea original de todas as coisas. Cada ano novo traz consigo tim tempo a Templo sagrado, tempo lisirgico e mistério de Cristo novo, um cosmo novo." For isso, por ocasido dessa festa, recordam-se os mitos cosmogénicos da origem do mundo ¢ com diversas ceriménias tenta-se reatualizar 0 sagrado tempo dos inicios. O homem quer assim situarse de novo naquele tempo criador e por iss0 realiza um ritual de destruigdo e de renovagao, de morte e de vida. “E fécil compreender por que a recordacao desse tempo prestigioso obcecava 0 homer religioso, por que este se esforga- vva periodicamente para inconporar-se nele: in illo tempore mostraram os dew- ses 0 apogeu de seu poderio, A cosmogonia é a suprema manifestacao divina, o gesto exemplar de force, superabundéncia e criatividade. O homem religioso esti sedento do real. Por todos os meios esforca-se para instalar-se na frente 4a realidade primordial, quando estava 0 mundo in statu nascendi.”? ‘A concepcio primitiva do tempo-cosmo inclui, portanto, a idéia da re- generagdo do tempo, do eterno “retorno”, da eterna repetigéo do ritmo fun- damental do universo: destruigao (caos) e criagao (ordem). Essa idéia print tiva contém uma visio circular do tempo, conhecida também pela cultura ‘grega: “Segundo a célebre definigdo platdnica, o tempo que determina e mede a revolucao das esferas celestes é a imagem mével da eternidade imével, que imita desenvolvendo-se em circulo, Por conseguinte, o devir eéstico em sua totalidade e, portanto, a duracio deste nosso mundo de geracao e corrupgdo se desenvolveré em circulo ou segundo uma sucessio indefinida de ciclos em cujo transcurso a prépria realidade se faz. ¢ se desfaz, conforme lei e alterna- tivas imutaveis... Nenhum acontecimento é tinico nem se apresenta uma s6 vez (por exemplo, a condenagao e morte de Sécrates), mas se apresentou ¢ se apresentard perpetuamente; os mesmos individuos apareceram, aparecem € reaparccerio a cada volta do circulo sobre si mesmo. A duragio césmica & repetigao e anakikléis, eterno retorno”™.® 2. O tempo na Biblia “Uma das datas mais importantes da histéria da religido é a mudanga das festas naturais israelitas em comemoragdes de datas hist6ricas que séo também apariges do poder e agdes de Deus. Quando a antiga festa do passah, ligada aos tabus da festa lunar e da primavera, se transformou na celebragao da bondade de ‘Deus na saida do Egito, comecou algo totalmente novo.”® Produzit:se, com efeito, nna histéria de Israel uma mudanga na concepgiio do tempo sagrado. Nao s6 ‘quanto a salvacio ou incidéncia favorével ao homem do tempo sagrado, mas ‘também, sobretudo, no modo de conceber a realizagio da salvagao nele. Como 6M, Blade, Lo sagrada., 8s. Told, sid, 81 8. Ch, Puech, “La gnose et le temps", BranosJahybuch 20 (1952) 60-81, 8.G, vand der Loeuve, Pnomensloga. 378 35 a Ang litirgico — Ciclos fests vimos, 0 homem destréie renova 0 cosmo mediante a evocagio ritual do mito da cosmogénese, sentindo-se protagonista e heneficiério desse processo regenerador do tempo ao imitarritualmente o fazer divino. Nesse aspecto pro-

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