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POLIARQUIA PARTICIPACAO E OPOSIGAO ROBERT A. DAHL Preicio Fernando Limongi “Tradugio Celso Mauro Paciornik Pe DEMOCRATIZACAO E OPOSIGAO PUBLICA Dado um regime em que os opositores do governo nao possam se organizar aberta elegalmente em partidos politicos para fazer-Ihe oposigao em eleigGes livres. © id6neas, que condigées favorecem ou impedem sua transformacdo num regime ‘no qual isto seja possivel? Este é o assunto do presente trabalho. CONcEITOs Como 0 desenvolvimento de um sistema politico que permite oposigio, Fivalidade ou competigio entre um governo © seus oponentes é um aspecto importante da democratizagio, este livro trata, necessariamente, de um aspecto da democratizagio, Mas os dois processos — democratizagio e desenvolvimento da oposigio piiblica — no sfio, a meu ver, idénticos. Uma descrigéo completa das diferengas poderia nos levar & abordagem tediosa de um atoleiro seméntico, Para evitar este desvio, tomo a liberdade de indicar, muito sumariamente, sem muita explicagao ou elaboragao, alguns de meus pressupostos Parto do pressuposto de que uma caracteristica-chave da democracia 6 a continua responsividade do governo as preferéncias de seus cidadios, considerados como politicamente iguais. Nao pretendo levar em consideragio aqui outras carac- teristicas que poderiam ser necessérias para um sistema ser estritamente democra- fico. Neste livro, gostaria de reservar o termo “democracia” para um sistema Pousngun politico que tenha, como uma de suas caracteristicas, a qualidade de ser inteira- mente, ou quase inteiramente, responsivo a todos 0s seus cidadios. A esta altura, ‘no devemos nos preocupar em saber se este sistema realmente existe, existiu ou pode existir. Pode-se, seguramente, conceber um sistema hipolético desse género; tal concepgao serviu como um ideal, ou parte de um ideal, para muita gente. Como sistema hipotético, ponto extremo de uma escala, ou estado de coisas delimitador, ele pode (como um vécuo perfeito) servir de base para se avaliar 0 grau com que varios sistemas se aproximam deste limite terico. Parto do pressuposto também de que, para um governo continuar sendo responsivo durante certo tempo, as preferéncias de seus cidadios, considerados Politicamente iguais, todos os cidadaos plenos devem ter oportunidades plenas: 1. De formular suas preferéncias. 2. De expressar suas preferéncias a seus concidadiios ¢ ao governo através da agio individual e da coletiva. 3. De ter suas preferéncias igualmente consideradas na conduta do governo, ou seja, consideradas sem discriminagio decorrente do contetido ou da fonte da preferéncia, Essas me parecem ser entio as trés condigdes necesséris & democracia, ainda que, provavelmente, nao sejam suficientes. Em seguida, suponho que para essas trés oportu nnidades existrem para um grande niimero de pessoas, tal como o niimero de pessoas abarcado pela maioria dos Estados. ‘existent, a instituigbes da sociedade devem fornecer pelo ne rs Es indicadas na tabela 11 Parto ainda do pressuposto adicional de que as conexdes entre as garantias€ as trés oportunidades fundamentais so suficientemente evidentes para dispensar qualquer elaboracio adicional!, Examinando a lista de oito garantias inst deveriam nos proporcionai icionais, tudo indica que elas a avaliagéo mais de perto, porém, indica ue as oito garantias poderiam ser melhor interpretadas como constituindo duas imensées te6ricas ligeiramente diferentes da democratizagéo. 1 Algumas desis relagiessfodicutdas em meu tabalho A Preface to Democrat Theory, Chicago, University of Chicago Press, 1956, pp. 63-B1, e em Robert A. Dahle ChalesE. Lindblom, Pofaee, Economics and Welfare, New York, Harper, 1953, Caps, 1011 26 ewoceaTizagho & oPosicho PUBLICA ‘Tabela 1.1. Alguns requisios de uma democracia para um Para oportunidade de Forse peters TT Te prefers aimee conidradas conta cdo governo ‘grande nimero de pessoas ‘Sto necessirias as 80 institucionas: ites garantias 1 Liberdade de formar © aderir @ organizas ges Liberdade de expressio Di a 3, Direito de voto 4, Diteito de Ideres politica disputarem apoio s. Fontes alternativas de informagso THe aa Re narra Spm ee Literide de exresio Ditto devoro pole par capo polos Dito de idee pons dpe apoio Fons aliemtvas do nfomagto Eleigées livres eid@neas Liberdade de formar e aderir @ organiza gées 2, Liberdade de expressio 3. Diteito de voto 4, Elegibiidade para cargos pibticos 5. Diteito de lideres politicos disputarem apoio 5a, Direito de lderes politicos disputacem 6. Fontes alterna 5 de informagio 7. Bleigdes livres e iddneas 8. Instituigbes para fazer com que as politicas ‘governamentais dependam de eleigGese de ‘ulras manifestagées de preferéncia. 1. Tanto historicamente como no presente, os regimes variam enormemente nna amplitude com que as oito condigGes institucionais estao abertamente dispont- veis, sio publicamente utilizadas ¢ plenamente garantidas a0 menos para alguns membros do sistema politico que queiram contestar a conduta do governo. Assim, uma escala refl \do essas oito condigSes nos permitiria comparar regimes dife- ” poumnouts rentes segundo a amplitude da oposigio, da contestagio publica ou da competigao politica permissiveis*, Entretanto, como um regime poderia permitir o exercicio da oposigao a uma parte muito pequena ou muito grande da populagio, certamente precisaremos de uma segunda dimensio. 2. Tanto hist6rica como contemporaneamente, os regimes variam também xa proporgio da populagio habilitada a participar, num plano mais ou menos igual, do controle © da contestagio & conduta do governo. Uma escala refletindo a amplitude do direito de participagao na contestagio piblica nos permitiria compa- rar diferentes regimes segundo sua inclusividade. O direito de voto em eleiges livres e iddneas, por exemplo, participa das duas dimensdes. Quando um regime garante este direito a alguns de seus cidadios, ele caminha para uma maior contestagio piiblica. Mas, quanto maior a proporcio de cidadios que desfruta do direito, mais inclusivo é o regime, A contestagio piibliea e a incluso variam um tanto independentemente, A Gra-Bretanha possufa um sistema altamente desenvolvido de contestacao piblica no final do século XVIII, mas apenas uma mindiscula pareela da populagio estava plenamente inclufda nele até a ampliagio do sufragio, em 1867 © 1884, A Suica possui um dos sistemas mais plenamente desenvolvidos de contestagio piiblica Poucas pessoas provavelmente contestariam a visio de que o regime suigo é “altamente democritico”. No entanto, a metade feminina da populagao suiga ainda estd excluida das eleigdes nacionais. Por contraste, a Unido Soviética ainda no ossui quase nenhum sistema de contestagio piblica, apesar de possuiro sufrigio universal. Na verdade, uma das mudangas mais impressionantes deste século tem sido o virtual desaparccimento de uma total negagio da legitimidade da participa ‘eo popular no govern, Somente um punhado de paises nio tem conseguido garantir uma volagio pelo menos ritualistica de seus cidadios, ¢ de manter 20 ‘menos eleigdes nominais; mesmo os ditadores mais repressivos geralmente se dizem favorsveis, hoje em dia, a0 legitimo direito do povo de participar no governo, isto 6, de participar na “administragao”, ainda que no na contestacao pablica, dispensivel dizer que, na falta do dircito de exercer oposigao, o direito de “participar” 6 despido de boa parte do significado que tem num pats onde existe a conlestagio pablica. Um pais com suftigio universal e com um governo totalmente tepressivo certamente proporcionaria menos oportunidades a oposigdes do que um [Nese livo, 0s lenmos beralizaio, competisio polities, polis competitivn,contestagio piblica © ‘pesigio pla sio usados inlierentemente para aludir a esta dimensio, e regimes eom wma lassiticago relativamente alta nessa dimensio so feqientementerelerios como regimes eompeli- DEMOCRATTZACIO £ oPOsICKO PuiaLicA Pafs com um sufrégio limitado mas com um governo fortemente tolerante. Conse- Giientemente, quando os paises sio classificados exclusivamente de acordo com sua capacidade de incluso sem levar em conta as circunstincias ambientes, os resultados so anémalos. No entanto, desde que tenhamos em mente o fato de que a abrangéncia do “sufrigio” ou, mais genericamente, de que o direito de participar indiea apenas wma caractetistica dos sistemas, caracteristica essa que s6 pode ser interpretada no contexto de outras, ela € dtil para distinguir regimes por sua capacidade de inclusio. Consideremos, entéo, a democratizagio como formada por pelo menos duas dimensGes: contestagéo piblica e direito de participagio (figura 1.1). A maioria dos leitores certamente acredita que a democratizacio implica mais do que essas duas dimensdes; mais adiante discutirei uma terceira dimensio. Mas proponho que se limite a discussio aqui a essas duas. Pois a questio, creio eu, jé esta colocada desenvolver um sistema de contestacio piiblica no é necessariamente equivalente A democratizagao plena, Para demonstrar mais claramente a relagdo entre contestagio piblica democratizagio, coloquemos as duas dimensées como na figura 1.23, Como um regime pode ser teoricamente localizado em qualquer lugar no espago limitado Pelas duas dimensdes, fica imediatamente evidente que nossa terminologia para regimes € quase inapelavelmente inadequada, pois se trata de uma terminologi invariavelmente fundada mais na classificagio do que no posicionamento relativo. Figura 1.1 Duas dimensdes tedricas de democratizagio enka) — in cpg i Uma lista de 114 parses ondenados segundo essas duns dimensses seri encontrada no apéndice A Tab. Ac PounRoun O espago encerrado por nossas duas dimens6es poderia certamente ser subdividido em qualquer ntimero de células, cada uma delas recebendo um nome. Entretanto, os propésitos deste livro tornam redundante uma tipologia elaborada, Em vez disso, permitam-me fornecer um pequeno vocabulério — razodvel, espero — que me permitiré falar com suficiente precisao sobre os tipos de mudangas em regimes que pretendo discutir. Chamarei um regime préximo do canto inferior esquerdo da figura 1.2 de hegemonia fechada. Se um regime hegemdnico se desloca para cima, como no caminho I, ele estaré se deslocando para uma maior contestagio pablica. Sem esticar demais 0 assunto, poderiamos dizer que uma mudanga nessa diregio envolve a liberalizagio do regime; alternativamente, poderiamos dizer que 0 regime se tora mais competitivo. Se um regime muda no sentido de proporcionar uma maior participagio, como no caminho II, poderiamos dizer que ele esti ‘mudando para uma maior popularizagio, ou que esté-se tornando inclusivo, Um regime poderia mudar a0 longo de uma dimensio ¢ no da outra, Se chamarmos, uum regime préximo do canto superior esquerdo de oligarquia competitiva, entio 0 Figura 1.2. Liberalizagio, nclusividade e democratizagio Otigarguias competitivas Liberaizagio “eontesingio bic) Hegemonias inelusvas Inclusvidade (participa) perourso I representa uma mudanga de uma hegemonia fechada para uma oligar- quia competitiva, Mas uma hegemonia fechada poderia tornar-se também mais inclusiva sem liberalizar, isto é, sem aumentar as oportunidades de contestagio pliblica, como no percurso Il. Neste caso, 0 regime muda de uma hegemonia fechada para uma inclusiva. | | DENOCRATIACKO & OFOSICAO PoBLICA A democracia poderia ser concebida como um regime localizado no canto superior direito, Mas como ela pode envolver mais dimensGes do que as duas da figura 1.2, ¢ como (ao meu entender) nenhum grande sistema no mundo real é plenamente democratizado, prefiro chamar os sistemas mundiais reais que estao mais perto do canto superior direito de poliarquias. Qualquer mudanga num regime ue o desloque para cima e para a direita, ao longo do camino TI, por exemplo, pode-se dizer que representa algum grau de democratizagéo, As poliarquias podem ‘er pensadas entio como regimes relativamente (mas incompletamente) democra- tizados, ou, em outros termos, as poliarquias so regimes que foram substancial- mente popularizados ¢ liberalizados, isto é, fortemente inclusivos e amplamente abertos & contestagio piblica. ‘Voces vio observar que, apesar de ter nomeado regimes préximos dos quatro cantos, o grande espago no meio da figura nao foi nomeado, nem esté subdividido, A auséneia de nomes reflete, parcialmente, a tendéncia historica de classificar regimes segundo tipos extremos; reflete também meu préprio desejo de e uma texminologia redundante, "regimes; na verdad, um nimero preponderante de regimes nacionais, aualmen ‘no mundo, possivelmente cairia na érea média, Muitas mudangas significativas em regimes envolvem pois destocamentos dentro de, para dentro ou para fora, dessa importante érea central, na medida em que esses regimes se tornam mais (ot menos) inclusives © aumentam (ou reduzem) as oportunidades de contestagio Pablica, Para me referir a regimes deniro dessa grande érea intema, apelarei eventualmente para os termos aproximadamente ou quase: um regime aproxima- damente hegemdnico oferece.um poueo mais de oportunidades de contestagio publica do que um regime hegeménico; uma quase-poliarquia poderia ser bastante inclusiva mas ofereceria restrigdes mais sérias & contestagio publica do que uma Poliarquia plena, ou poderia proporcionar oportunidades de contestagio piblica compariveis as de uma poliarquia plena e ser, no entanto, um pouco menos inclusivat A necessidade de usar termos como esses subseqiientemente, neste livro, atesta a utilidade da classificagiio; a arbitrariedade das fronteiras entre “pleno” ¢ “proximo” atesta a impropriedade de qualquer classificagao. Enquanto tivermos roblems temminol6gic ¢formidivel pois puree impossvel encontrar lermosjéem uso que no teagam consigo um grande carga de ambigitadee de significado adiional. O lelor deve fombrar 48608 ermos aqui uilizads so empregados a longo de tooo liveo, até onde me fo posavel, apenas ‘om os significados indiados nos panigiafos precedentes. Algunsleilores eerlamente tessa no {exmo poliarquia como alterativa para a palava democracia,masé impostnte mantersdistingiosnie "democracia como um sistema ideale os arranjosinsttucionsi qve devem ser cnsiderados com uma ” Pounrou claro que os termos sio meios tteis mas extremamente arbitrérios de subdividir 0 espago na figura 1.2, os conceitos servirio a nossos propésitos. A Questdo Recolocada A questio que abriu este capitulo pode agora ser recolocada da seguinte maneira 1, Que condigSes aumentam ou diminuem as chances de democratizagio de um regime hegem®nico ou aproximadamente hegem@nico? 2. Mais especificamente, que fatores aumentam ou diminuem as chances de contestagao piblica? 3, Ainda mais especificamente, que fatores aumentam ou diminuem as chances de ccontestacio piiblica num regime fortemente inclusivo, isto é, numa poliarquia? Qualificagoes Este livro trata, pois, das condigoes sob as quais os sistemas de contestagio pablica sio passtveis de se desenvolvere existir. Como a contestagao publica é um aspecto da democratizagio, este livro trata necessariamente, em certa medida, da democratizagio, como observei no inicio deste capitulo. Mas é importante lembrar que 0 enfoque aqui adotado exclui alguns assuntos importantes que seriam consi- derados numa anilise da democratizagio. *spécie de aproximagio impereita de um ideal, ea experéneia mostra, aredio, qu, quando o mesino texmo 6 usado par ambos, itrometem-se, na anilie, ama confusto desnecesirin + discusses Semanteasessencialmentejrelevantes. No exit oposto,otermo hegemonia nio é Inteiramente satsftri; enlanto, considerando-se o significado que he aria, otermo hegeménico paece-me mais apropriado do que hierirquico, monacrtico, absluista,aulocitco, desptica, autora, lotalitria ete. © wso que fag do termo *contestagio", em “contestagio piblia”, et bem dentro do 's0 normal (ainda que inustal) da Hingua ingles; em inglés, contestago significa contest, 0 que significa fazer de algo o objeto de dispta, discuss ow igi, e seus sndnimos mais prximios so Aisptar, desafar ou compelit, A uiliade do terme foi-me sugerida inicialmente,porém, por The Means of Contestation”, Government and Opposition 1, jam. 1966, pp. 155-174, de Bertrand de Jouvenel.O vso que Jouvene! faz € semelhante a0 meu eientico no do tevaw franeésque ele wsou no ‘tginal, signitieando débay, objection, confi, eppaition. No mesmo nimero desi revista, prem, Ghitafonesew (“Control and Conestation in Some One-Party States", pp. 240-250) ua termo cm seu Sentido mais estilo mas atualmente muito comum, como “o ani-sistema, posulados bisioos ¢ ermanentes de qualquer oposigio com base nas diferengas fundameniais, dicol6micts, de opiniso ¢ ‘edeologias"(p. 261), Esta uma definigio certamente mie rextrita do concito da que aque emprega gui, que Jouvenelemprega em seu ensio,penso eu, 2 a ewocrartaagho & oPosicio PUBLICA E conveniente pensar a democratizagio como consistindo de diversas trans- formagies histéricas amplas. Uma delas ¢ a transformagao de hegemonias oligarquias competitivas em quase-poliarquias. Este foi, essencialmente, 0 proces- 80 que se operou no mundo ocidental ao longo do séeulo XIX. Uma segunda éa transformagio de quase-poliarquias em poliarquias plenas. Foi o que ocorreu na Europa nas quase trés décadas que se estenderam do final do século pasado até a Primeira Guerra Mundial. Uma terceira é a democratizagio ainda maior de poliar- quias plenas. Este processo histérico coincide, talvez, com o rapido desenvolvi mento do Bstado de bem-estar democratico que se seguiu a instauragdo da Grande Depressao; interrompido pela Segunda Guerra Mundial, 0 processo parece ter-se renovado no final dos anos 60 na forma de répido crescimento das reivindicacées pela democratizago de uma grande diversidade de instituigdes soc ‘mente entre os jovens. ee a pere, quer aaa tetceira onda de eee mente se mostrari to importante quanto as outras. Na medida em que aconteceré apenas nos paises mais “avangados” e ajudara a configurar o cardter da vida nos paises “avangados” no século XXI, para muitas pessoas desses paises, a terceira ‘onda podera perfeitamente parecer mais importante do que as outras. Entretanto, maior parte do mundo continua aqui i 5» especial a. Uma outra dizia o , talvez, eram quase-poliarguias a um aleance razoavel da poliarquia plena. E nessas trés diizias de paises que a terceira onda deve ocorrer. A possibili- dade de algumas nio-poliarquias saltarem por cima das instituigGes da poliarquia © chegarem, de alguma forma, a uma democratizagio mais plena do que a hoje eexistente nas poliarquias, como os idedlogos as vezes prometem, parece remota & luz da andlise que se segue. Para a maioria dos paises, entio,o primeiro eo segundo estigios de democratizagao — € nao 0 teteeira — serio os mais relevantes, Na verdad, o enfoque deste livro é mais restrito do que uma anilise dos dois Primeiros estigios da democratizagio. Aludi a “regimes” e “sistemas de contesta- ‘Gio publica”. Mas até agora nao especifiquei o nivel de estrutura politica em que regimes e contestagéo piblica podem ser efetivos. Petmitam entio que enfatize imediatamente que a anélise lida aqui com regimes nacionais, isto é, regimes 5. Tate dealguns aspects da terceita em Vic the Revolution? Authority ina Good Society, New Haven, Yale Universiy Press, 1970, Pounrou fomados ao nivel do pais, ou, se quiserem, de Estado legalmente independente, ou, Para usar termos menos apropriados, da nagio ou Estado-nagio. Parte da anélise seguramente poderia ser aplicada a niveis subordinados de organizagio social e Politica como municipios, provincias, sindicatos, empresas, igrojas ¢ coisas assim; parte dela, talvez, poderia até ser relevante para as estruturas politicas que estio ‘emergindo com niveis mais inclusivos — virios tipos de organizagées intemnacio- nais. Mas a argumentagio 6 desenvolvida tratando especificamente de regimes nacionais. Novamente, isto seria uma grave omissao num livro sobre democratizagio, Mesmo da perspectiva da contestagao piblica, a omissio é importante. Isso porque uma observagio casual sugere que os paises diferem na amplitude com que Proporeionam oportunidades para a contestagio e a participagio nos processos no 86 do governo nacional, mas também de varias organizagies sociais e governamen- {ais subordinadas. Agora, no tocante ao grau em que as diferengas brutas nas caracteristicas gerais de unidades subnacionais parecem estar associndas a diferen- gas na natureza do regime nacional (se ele € ou nio uma poliarquia, por exemplo), tentarei levar isso em consideragio na anélise. Entretanto, seria razo‘vel insistirem que aanslise deveria ir bem mais longe. ‘Uma descrigao integral das oportunidades disponiveis para participagio e con- testagio no interior de um pats certamente exige que se diga algo sobre as oportunidades disponiveis no interior de unidades subnacionais. A extraordindtia tentativa de consentir uma grande dose de autogestao em unidades subnacionais, nna Lugoslavia, significa que as oportunidades para participagao e contestagio so maiores naquele pais, apesar do regime de partido tinico, do que, digamos, na Argentina ou no Brasil. Uma visio abrangente sobre o assunto exigiria entio que Se atentasse para todas as possibitidades sugeridas na figura 1.3. Com efeito, alguns erfticos recentes da democratizagio incompleta em poliarquias argume fam que ainda que as poliarquias possam ser competitivas em nivel nacional, ‘muitas das organizagSes subnacionais, particularmente as associagies privadas, sio hegemOnicas ou oligérquicas* Por importante que seja a tarefa de se abordar, além da descrigio do regime nacional, as unidades subnacionais, creio que a tentativa de examinar um nimero ‘muito alentado de paises exigiria a esta altura uma andlise tio complexa ¢ encon- 6 Gt, em particular, Gram McConnell, Private Power and American Democracy, New York, Knopf, 1966; Henry S, Karel, The Decline of American Pluralism, Stanford Sanford University Press, 1061, 5, em cxts medi, também Robert Paul Wolf, The Poverty of Liberalism, Boston, Benson Presa 1968, Dewocearizacdo £ oPosi¢éo PoBLICA (raria problemas de dados tio catastrSficos que tornariam a empreitada altamente wsatisfat6ria. Em principio, as organizagdes subnacionais certamente poderiam set Figura 13 Uma ordenagio hipotética de paises segundo 15 oportunidades disponiveis de contestacio O regime nacional Baixo Alto Alto un Organizagies subnacionais Baixo v " |. Regimes integralmente “liberalizados” ou “competitivos”, "Competitive em nivel nacional, hegeménico no interior de rganizagées subnacionais, Competitivo dentro de organizagées subnacionais, hegeménico em nivel nacional '% Estruturas poitcas integralmente hegemdnicas. localizadas ao longo das duas dimensées ilustradas nas figuras 1.1¢ 1.2. Entretanto, © problema nao é simplesmente localizar paises no espago hipotético sugerido pela figura 1.3, Primeiro porque aquele espaco diz respeito apenas a uma das duas

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