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Cone Etna laity Siqueita = PAN rye - FADERGS Denise Hausen = CEP de PA Regina Zilberman = UFRGS Claudia Perrone ~ UFSM ‘Miriam Gross ~ UFSC Diaiton G. de Souza - PUCRS Theobaldo Thomaz = UFCSPA Rose Gurksi - UFRGS Coordenagio Editorial Rosana Nora Laura Alagla Revisio Maria Teresa Coelho Capa, desenhos e postais Calo Mascarello ¢972q Cunha, Eduardo Leal. ( que aprender com as transidentidades : psicanalise, género ¢ politica / Eduardo Leal Cunha. - Porto Alegre : Criagdo Humana, 2021. 160. Inclu bibliografia. ISBN 978-65-86298-01-7 1, Psicandlise. 2. Transidentidade. 3, Genero. 4. Psicani politica. 1. Titulo, a COU 159.964.2 (Bibliotecaria responsavel: Sabrina Leal Araujo ~ CRB 8/10213) Editora Criagio Humana Rua Mostardeiro 157/1006 - Moinhos de Vento chingao WuMANA Eyal etaahumansG hepa : com Facebook: Criacao Humana Editora Instagram: @criacachumana www criacachumana.com br Congidevacées preluninares percurso que me levou ao encontro com as experi- éncias transidentitarias se iniciou, na verdade, com uma interrogacado da propria psicanalise, do lugar que ela ocupa na cultura e na sociedade contempo- raneas e do papel que desempenha - ou pode desempenhar - na transformagao dos nossos modos de viver juntos. Em termos mais objetivos, o ponto de partida deste trabalho pode ser localizado em uma investigagao, iniciada ainda na primei- ra década deste nosso século, sobre usos contemporaneos da cate- goria de perversdo, especialmente em leituras criticas da sociedade e da cultura, nas quais 0 adjetivo perverso/a ocupa lugar central. Por isso, os supostos desvios da norma sexual - que consti- tuem historicamente o objeto inicial da teoriza¢ao psicanalitica em torno das perversdes ~ foram, desde o principio, um objeto privi- legiado de minhas pesquisas. Ao longo do tempo, as dissidéncias em relagdo ao binarismo de sexo/género se tornaram particular- mente importantes por dois motivos principais: em primeiro lugar, at enunciada por significantes « # e transgénero, s¢ tornou, ng oa gebates tanto Na PSicanilicg a. a antropologia - quanto ng q ar, a inha propria experiéncjg cline rm segundo IUEHE 3 Tada por auestdes de geen ificativaTD mento psicanalitico, Primeitg » ecialmente 2 partir da Wuestag, fo. S] le familias, que Provog 3 te publi m ra valet ai See ae 2 relVingy ; re - muitos psicanalistas ® 90 dever, de dizer 2 reece i ©5528 Deg direito, ov MesMY on sobre como se CONST Uma fama ae oneeus deseios: € am na cena académica, migis ; r 4 St Bees Cee ida, irromPe ivindicai ca Logo em 54 pessoas trans, reivindicando 9 gir4, i ano juridi ¢ politica, as auto’ 5 reconhecimento no Ee S us idico _ a 4 existéncla plena ¢ 4 tio ¢ do sexo, NO reels vil io 30 mes, 5 do nome ProP! diagndsticas, percebidas a Jassificagoes usando class 1" subjetiva, ¢ afirmando at es sua experiéncia subjetiva, Perem, do patologizaé - aito a enunciar a verdade sobre seu préprio conpg, - riamente © direito muitos psicanalistas ocuparam espacos ibe entio, mais uma ee situados além de suas escola € associag cos, incluindo at demandas ¢ as pessoas que as Sustentayam” para interpretar at contra estas pessoas € demandas, um a Se pereeabearo sobre 0 sexo € a subjetividade, ber pretensamente oe go foram, de modo algUM, 05 tinicos a ga, Os psicanal a asses movimentos, suas reivindicagSes ¢ arg rem ee a nos tltimos anos, de maneira relativamente mentos, de mod® I ices com tradicao cultural significativaments global, mesmo em Pi 0, por exemplo, o Ira, de um modo oy q, diferente da nossa, vs - transexual, transgénera, transidengy, ax Sear ocupou um lugar central tanto nos debates ditos cientificos quanto na cena politica. — Como pesquisador dos lagos entre psicanaliss) Cultura © soe ciedade, interessado especialmente no significado, efeitos e alcance 07 cen 05, objet? nedicina ais, especie is a forma¢a0 d declaradas 12 politicos da teoria ¢ da clinica psicanaliticas, me senti de certa for- ma obrigado a investigar tal centralidade. Procurei fazé-la lancando inicialmente duas questdes bastante simples: 0 que se passa na ex~ periéncia transidentaria que a faz ocupar lugar hoje to importante no debate politico? Por que as dissidéncias de género se tornaram um objeto central da clinica € da teoria psicanaliticas, tornando-se também uma via privilegiada pela qual muitos psicanalistas procu- raram se inscrever na cena publica? Tais questdes guiam, implicita ou explicitamente, cada um dos capitulos deste livro. Mas, se esse foi o primeiro caminho que me levou ao encontro das transidentidades, nao foi o tinico. Digamos que foi a via teérico- politica. Uma segunda via de aproximacao se fez em minha clinica, Pois, nos Ultimos quatro anos, fui levado a escutar pessoas, em sua maioria jovens, que vivem experiéncias de dissidéncia em relaco 4 norma bindria de género; primeiro, no ambulatorio de acolhimento a pessoas trans da Universidade Federal de Sergipe ¢, em seguida, no Servico de Psicologia Aplicada da mesma universidade. Por fim, para além desses motivos enunciados como prin- cipais, talvez pelo seu carater académico e profissional, ha ainda outro, suplementar, que se articula de muitas maneiras aos dois primeiros, mas tem cardter distinto: por diversas circunstancias, inclusive de carater estritamente pessoal, tenho convivido bem de perto com pessoas autodeclaradas transgéneros, travestis, transe- xuais, que se afirmam nio bindrias ou simplesmente se mostram insatisfeitas com a divisdo, posi¢des, representacdes e papéis sociais de género atualmente disponiveis no mercado. Evidentemente, essa vivéncia de aproximacdo de experiéncias transidentitarias se soma ao meu préprio posicionamento social e minhas vivéncias como homem - e psicanalista - gay, produzindo efeitos significativos sobre minha escuta ¢ leituras das dissidéncias sexuais e de género e das possiveis articulagdes entre estas duas formas de transgressdo da moral sexual civilizada. Desse modo, os argumentos que o leitor encontrar4, nas pa- ginas seguintes, pretendem nio apenas levantar questdes tedricas 13 Ae eventuais caminhos Para 5 de poe obretudo, pa afetos Pelo as, mas Pea ocados pine Stes), de que foram P mn caminhada, mais soliday;, Que Jong dentidades OU, Mais Cxatame, i wyemn tomar em Considerag ic, ubversio do binarismo , on a homens ¢ mulheres ea deter nos estaveis ¢ definidos 5 % papéis forma preferencial para Pensar «. ju uma simultaneamente, refletiy sob, Ss ‘do recebemos alguém em nossge antes de qualquer coisa, The e indicar percurso quisas futur fato sien dizer gue 20} ria, a reflexao sobr' ee sobre a forma come By i as experiéncias de ra a ‘a divisao do 2 a solita - a classic nagao de lugares € uns ¢ outras - S¢ | lagos entre psicandlise © oque esta realmente Bees consultérios ¢ nos comp! ério escutar, a tomar a sér! a Tornou-se, portanto, fala, " d is a modo mais amplo, 1280 para inte, le impoténcia ~ da psicanilise na aty, éncia - ou 4 ROpat/OMUB Ss Pe tumamos chamat novas formas de Sub. alidade, frente 20 due or io mais simples, frente 20s mogo, jetivagaio ou, para dizer de odo ma esmo ¢ com 0 Outro, 4 elagao CO! - onan de rel minar a esta empreitada oe © aban. ae nos manter ae *ategorias que acabam Por F — Presos dono de pure cis Por isso, pensei que ee Hag Ht ni inicigg e 3 velhas Hae destacando 0 modo como es jomear =. nosso PeIcUrso, éncia de género. iénci dissidéncia de & experiéncias oor justificando 0 termo que aparece na cap, 0, » de tracao ¢ da fun¢ao paterna. de uma passagem se Mal-sy, ras de Bai ede asao, a5, Ue 8s isda Jos comp's norma pinaria de género See aproximadas das cose ¢ da perversao. oe sea, 0 que a Psicanatise e ‘asha ¢ 2 sua nee nao é escuta oy reconh, « teorias etioldgicas prét-a-porter e algumas categoria. nas quai ambas podem ser facilmente acomoda, daa Jemento central de praticamente toda leitura ot hgar que a psicanalise, como fendmeng Jamdko ~ mas, bre ob S as] sO mais importante, ng ciada, apesar de ser sod muitos aspectos 0 Eo ROS TE possibilca tecer uma ligagdo ore as dimensdes eae clinica ¢o lugar social ccupado pela maioria dos psicang, Ieeon Trota se da historia do hgar das sexalidades dissidentes, ng clinica a = teoria psicamalitica, 2 qual nos remete 2 categoria de al Detar, ver: STONA, Jose FER rea panama vas Sthtividodes, 2001), CO77R, 20e pe = sacs cbmarer do acolbimento ats dites transequals pela Danie & picanise ea dine ty 26 =e es OTe @, par wets desta, A Questia MOEA! @ seu Nar AO pen: SANE Ta pati’ elovia @ a LStIMelonallaagta da paleandline, PAS. DOTTIE, da thee ete que ten nO NAD, (NIONNR Fesominelas tearicas, elinteas @ potitiens, Aqui a historia de una supoata cilia das tranaktenticladen ie liga vliceratmente ao modo Como Se coMpreendiam as homosexualklades e, ag Meso tern: N\A ROKEAGHO sobre ax eqperitnelas transidentitarias se articula a wana serie cle eritioas a soctedtade eontemporinea, eve finde moral we pareve MMeRavEl, ToMando-se visivel, por everplo, na perturbar © TOHTOTARTa ¢ 0 Transexual! No primeito eda, que talver Poxsames denominar clinica, sodressaein a patologizacdo das transidentidade e a obsess pela dusea Por um mado de funclonamento psiquico particular, eomum aos ditos transexuals, o Que se desobra rapidamente na enunela ef de uma etiologia, uma explicagdo causal para o fendmene, em seral, associada d passageny pelo Fdlipo, Assim, pode-se dizer que, a0 se deparar com as transidentidades, © primeiro Movimento ope= rado pelos psicanalistas foi aproximaslas dos quadres elinicas eo nbeeidos ¢ da nosogratia Psiquidtrica; o segundo fol, por sua vex, encontrar sua razio em uma teoria da constituigho subjetiva ja es: tabelecida, De modo ue nada parecia haver de realmente novo, Com isso, desenharam-se historteamente duas chaves de lel: tura e deciframente das dissidéncias de género, ambas centradas no par diagndstico-etiologia, periéncia do campo da loucura, Derivada da nogio freudiana de re- pdio ou rejeicdo da realidade (Verwerfung), a forachisiio, categoria introduzida por Jacques Lacan, se refere a “um mecanismo que estas via na origem do fato psicdtico; consistiria numa rejelgdo primordial de um significante fundamental para fora do universo simbslico do 5 ROUDINESCO, titsabet th. A porte obscura de nds mesos: wma historia das perversas, Rio de Janeiro: Zahar, 2008, o, Ta] mecanismo estaria diretamente vinculado & estry, indiiduc’ subjetiv: , com a nee = a do vinculo esmagador Com 0 desejg sant da natureza para 2 cultura. her a passage™ eae ja teoria lacaniana do significante, a -se da seguinte cultura efetua-se . sifcante por chamar © filho re como privador da mae, psicose, essa Nessa perspectiva ¢ no ambito d: transicSo edipiana da natureza p2) maneira: sendo a encarnacdo do si por seu nome, o pai intervém junto 2 est ane dando origem ao ideal do eu na crian¢a- estruturagio no se da." : ansicao de género, impossivel, pois a a so se dardo Para muitos, ha de fato algo de louco = tr vista como a colocacio em ato de um desejo do i P mudanga esperada ¢ a recusa da realidade aoe eee Canaee na aparéncia. Em algum lugar, nos Orgaos internos, sae ee aa mos ou em algo que muitos denominario simplesme neo corpo, 0 sexo designado no nascimento, definido po! ames aah ei mais proxima de Robert Stol- Temos ai duas tradi¢6es: aquet i ee om a categoria de narcisismo ocupa lugar es cane de Colette Chiland, os ee ae bee © narcisismo € a descrigao dos estados-limite, i - a ee en™: a tradi¢So propriamente lacaniana, na es pea raclusio ¢ a um destino infeliz do Complexo i oe es ee Nos dois casos, a heranca de um passe oP a nea sinua de modo insidioso ¢ a referéncia clinica € 0 Baptiste. Vocabulario de psicandlise, Si0 Paulo; PONTAUS, Jean-Baptiste. Vo mirio de psicanalise. Rio de Janeiro: Jor. sabeth: PLON, Michel. Di , 1968; STOLLER, Robert. A experién- fanalystes par les transsexuels. Revue $77, 2005 eas smento lacaniano em tomo das transidentis Permalismo: uma questio do nosso tempo € para ee yan? pOl-19, 2011; ARAN, Marcia. A transexua- Goer do sistema sexo-pnero. Agora - Estudos em Teo entrada em cena da fungdo pa. verdadeiro, definido por Robert Stoller, nos anos 1960. Um per- sonagem bastante distante da pequena Sasha ou das milhares de mulheres € homens trans ou pessoas autodeclaradas queer ou ndo bindrias, com as quais chegamos a cruzar nas ruas sem nos darmos conta. Uma segunda chave de leitura aparece com referéncia 4 per- versio € a uma sociedade perversa, numa articulagdo entre transe- xualidade, midia, discurso da ciéncia, neoliberalismo e espetdculo, que ainda € recorrente, como nos mostram alguns dos argumentos utilizados contra a “propaganda trans”. Um paréntesis: parece-me inevitével comentar 0 quanto é curiosa esta acusa¢ao 4 midia por supostamente glamourisar pesso- as trans, quando, na verdade, elas continuam a aparecer predomi- nantemente nas paginas policiais dos jornais como vitimas de vio- léncia, ou em programas mundo cao da televisdo, como marginais ou motivo de escdrnio, vendo seus direitos serem repetidamente desrespeitados. Isso, no entanto, nao parece incomodar tanto os colegas; o que incomoda ¢ o transexual feliz, que contradiz sua te- oria ¢ recusa sua caridosa ajuda e compreensio. E, de todo modo, nesse contexto de suposta espetacularizacdo € perigosa proliferacao de dissidéncias de género que Henri Frignet Nos propée a separaco entre o transexual, de estrutura psicética, € © transexualista, sintoma do funcionamento social e que se vincu- laria a perversao.' Enquanto o primeiro nos remete a psicopatolo- gia ¢ se articula a uma perspectiva classica de leitura da chamada transexualidade; 0 segundo nos remete ao campo da cultura e da sociedade, embora fique pelo meio do caminho, na medida em que nao mostra reconhecer a dimensao histérico-cultural da propria psicanilise ¢ 0 carater situado de suas formulacdes. Ou seja, temos, a partir dessa brevissima apresenta¢gdo de formu- lagdes importantes em torno da experiéncia trans presentes na Psicandlise de matriz lacaniana, duas vias privilegiadas de aproxi- macio: para o dito transexual verdadeiro, para quem a cirurgia de FRIGNET, Henry. O transexualismo. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2002. 35 =e sere 2 Se om 2 se SO samp Rae Go Tasseal FaRTeED, SMT Sethi cremmgeciss TE ome. ROL pein, © shane com os ENE mmowimento Seaninista ¢ 2 PH seeqde on! & sua ghema de weer do que resakade dito da nde somtormadade 2 neema tear aad Sas Saas 2 pscamalke, que marca ete sagan cn hastorioa, fea, a ie a Sn Reteromormatictiinds, © Gut Cortamnente St at Dew oo fate de que sees ea pect Baton cba ee cane do eet Eat segunda, ¢ ragmiamemte. o thee se destaca para oc 2 Stierenqa cate ot seams © seu Dagar coene famdamente da orden: sombolica 2 qual ait Sdos. Neste shomenta, © que esti em jogo € grasnitica > stoma sexo-género™ ROTTS pen Nant Pbaneltas con paticober ne Beall cneeas ma 2 gun ainda aparece extremaments wncwllade a nocde Se performativadade bem come & cmtia da x comerocndida por Bath, wo aicabe purus dcieoeinigunh oases Se comfrontarem com os textes mais a oe © Gestaque maior prowavelmente deve ser dado a Paul B Pr © 2 questio do cardter Gicursive, ow real do seme experigncia do compo que aparece ainda em pri ni modo, 2 dita teovia queer se ve peat de Judith Butler ~ ¢ epecifi per IT a (Gender (reuiie), publicado originalmente em 1990 ¢ em 2003, na sua versio brasileira - com ne : Monique Wittig, Teresa de L . ee —— De tode modo, 2 resposta da psicanillise serd a brevets Tera frequentemente, mais uma vez, a catego- Tiss psicopetoldgicas como principal arma, destacande-st ai a Kicia ‘pas encrumiitadss do genero (Dussertacdo de mestrade), Programa de Pee Graduacdo Pacanaiise: Cinica ¢ Calnuma, UFRGS, 202%, 37 pensamento sobre género, em particutay | + COMO AISCUTSO PEFVEFSO, marcado pela afirmacig , rectusa dda morte ¢ da castraglo". Discurso gy, no mais do que o reflexo do mundo capitalista neoliberal, Se sod 0 imperative de um goz0 sem limites, NO qual eae achat: jas simbélicas ¢ tomamos distancia do real pendemos as em limites”. 4 mengulhar num imaginario s ee Tal recusa radical do pensamento queer, embora tenha ocupa. do até bem pouco tempo uma posigdo claramente hegeménica no psicanalitico, nao foi, entretanto, em nenhum momento, os de aproximagao foram feitos desde o até hoje. Neste sentido, vale desta~ 2, Juan Bau~ de REET, defininds 0 nos ESTAS HE go mmpaceirel ¢ PERT campo uninime ¢ alguns esforg micio ¢ continuam a ser feitos num primeiro momento, autores COMO Javier Sae: ear, 23”, Tum Dean® ¢ Nestor Braustein", que se dedicaram de modo ou chamar tiltimo Lacan, rticular ao estudo do que se convencion Es ar Mais recentemente, ¢ importante levar em consideragto que esse esforgo de aproximagio vem no apenas da pstcandlis oom foce em leituras das férmulas da sex agdo ¢ na centralidas : las nagies de gaze € de sinthoma, mas também do campo ee: valen- do destacar as posic&es de Teresa de Lauretis ¢ de Lee Ede ce A ameira, criadora da expressio Teoria Queer, visita, €m um Texto, relativamente recente, as formulacdes de Jean Laplanche em tor. no do sentido do sexual em Freud ¢ das mensagens enigmiticas e imconscientes que as criangas recebem sobre sénero + © segundo, 2 da compreensio lacaniana da pulsao de morte e da néennes, n. 74, p, 61a de, sexualidade € politica, ntais. Rio de Jac categoria de gozo, para construir uma critica radical da sociedade contemporinea em uma perspectiva queer". Em comum entre autores dos dols campos, temos a preocu- pagilo em reconhecer a importdncla de certas formulagées freudo -lacanianas para a histéria das reflexdes sobre sexualidade e género €, 0 que talvez seja mais importante, um esforgo de releitura da psicanilise, que procura afirmar a sua poténcla subversiva tanto para a despatologizagiio e legitimacdo das formas contemporaneas de experiéncia do género ¢ da sexualidade quanto para o enfren- tamento da racionalidade identitéria, alvo preferencial do pensa- mento queer. Por fim, 0 terceiro eixo, aquele que destaca certa continuida- de entre as leituras psicanaliticas do homoerotismo e das transi- dentidades, é central em nosso trabalho e, de certo modo, orientou inicialmente a escrita deste livro. Ele indica duas questdes vitais para a nossa discussio: primeiramente, o lugar estratégico da di- mensio moral nesse debate, pois muitos dos perigos representados hoje pelos ditos transexuais, j4 foram antes associados aos peri- gosos homossexuais, inclusive em relagiio a satide e ao futuro das nossas criangas. Ainda no registro da ética, esta aproximacio entre homo e transexuais, em que ambos parecem tocar as fronteiras do mons- truoso, traz para o primeiro plano a discussao sobre os limites do que pode ser pensado como humano e sobre o que a psicanalise pretende ou pode dizer sobre esses limites. E por essa porta, aparentemente lateral, que o problema do estatuto da diferenca sexual ganha uma outra dimensio, na medi- da em que entram em cena questdes como as da existéncia ou nio de invariantes antropoldgicos, de uma antropogénese ou mesmo de uma antropologia e de um humanismo ancorados no pensamento psicanalitico, que permitem que a saia da pequena Sasha seja per- cebida como uma grande ameaga & humanidade. “EDELMAN, Lee. No al futuro. La teoria queer y la pulsion de muerte, Madrid: Editora Egales, 2014. Kindle Edition, 39 fm segundo lugar, ¢ importante transitentidades se articula ao Probles a manutencdo do que denomin Perceber como a leitura ma do homocrotismo, ma oO model, z asiban ee sexy. 4 violéncla do que outros ¢ se movendo na direSo do que Lippi ¢ Manglier denominam uma psicandlise inclusiva. A psicandlise tem certamente procurado se reposicionar nestes debates ¢ ndo se pode negar o ntimero crescente de publicagées a Tespeito do tema, em diversos paises, inclusive no Brasil, mas mut- tas vezes a impressdo que temos, ao trabalhar com a maioria destes textos, ¢ que, paradoxalmente, as experiéncias transidentitarias pa- ronormatividade recem nao constituir 0 verdadeiro objeto da discussao ¢ que 0 foco, na verdade, € posto sobre a teoria, de modo que o debate, no fundo, se dé em torno da atualidade da psicandlise e da pertinéncia de suas formulagées tedricas, para dar conta de novas modalidades da expe- riéncia subjetiva que, afinal, podem no ser tdo novas assim. Com isso, muitas vezes, a reflexdo sobre as transidentidades cede rapidamente lugar a discussées mais amplas sobre a nocao de género, sobre a diferenca sexual e sua relacdo - mais ou menos fun- damental ou indissocidvel - com a ordem € a lei simbélicas, sobre 0 impacto do discurso cientifico sobre as subjetividades contempo- raneas, quanto ao carter discursivo do género ¢ do sexo ou quanto aos limites de uma concepgao da sexualidade e das diferencas entre homem ¢ mulher referida a cultura, etc.. Tais deslocamentos explicariam por que, por exemplo, nos intimeros artigos publicados recentemente no Brasil sobre o tema, al. ow seja, a idela frequente slo do Desdobramentos contempordneos Tais mudancas trouxeram algumas novas questdes € posi. “onamentos ao debate psicanalitico que, agora, tem claramente come Principal objeto no campo do género ¢ da sexualidade, nig mais 0 feminino e o feminismo ou as homossexualidades, mas ag experiéncias transidentitdrias, ainda que Judith Butler permaneca sao raras as referéncias clinicas ¢, em sua maioria, o que encontra- como interlocutora privilegiada, ao menos no Brasil. mos é uma defesa da validade das formulacées freudo-lacanianas, Alem dos problemas relativos a articulagao entre género, raca em torno do sexo, ¢ do que se prefere chamar sexua¢ao, muitas € classe social, ganham agora destaque questdes mais especificas vezes articulada a recusa da no¢ao de género. Recusa que, a meu como o tema do analista safe*’: aquele que nao reproduziria, em ver, muitas vezes ganha o sentido pleno, ¢ estritamente freudiano, sua clinica, comportamentos discriminatérios ou patologizantes, de um desmentido%, 2 ¢stando atento a como alguns grupos sociais so mais expostos Nao se trata em absoluto de afirmar que estes temas sejam pouco relevantes; 0 que procuro apontar ¢ 0 fato de que tais discus P. Transexualidade. © corpo entre 9 SANTOS, Beatriz; POREVEL, normatividade € escuta ani Desmentido ou renegacio, em francés déni ou désaveu, em alemio Verleugnung. Ver: FREUD, Sigmund. Fetichismo (1927). In: FREUD, S. Obras Completas. Buenos Aires: Amorrortu, 2006, v. ¥ ; ¢ também: MANNONI, Octave. Eu sei, mas mesmo ©. Chaves para o imagindrio, Petropolis: Vozes, 1973, | p.9-34. 41 sts pose extar na werdade operands um. deslocamento em eho ao tema das Giseidncias de genera, de modo que no ¢! cieeareente a debater nilo, ao menos, de mancira a p mowes hithas ¢ emunciados tedrices ou a operar mudancas Deas Gm Mose Prdtica clinica. A weséncia de material Cinico, especie Gt amterioridade do teStico 5 com que mura Por sua ver, realimenta em relacdo a0 empitico g multas das elaboracies Propostas simplesmente p; SSKOMErEEA apoio na realidade. Um exemplo tocante é UM tex, Professora universitéria Sénia Alberti, no qual watora chega 2 dar m: ‘ais um ou dois exemplos, mas qualquer m pessoas trans, sabe que essa ndo é uma regra rapidamente as pessoas homen: jascadas na dedica_ Geste Evro, acho que estas me dariam licenca para dizer Atena Pais €ixos, y Psicanalitica mais recente: em primeiro lugar, ténci2 em uma linha de defesa radical ji mo que a psicose, por exemplo, dé lugar & histeria ou & perver- sdo™. Marcam este primeiro eixo, como vimos a partir da reacio 20 documentario francés, os alertas contra as consequéncias malignas dos tratamentos hormonais ¢ cirirgicos e seus efeitos irreversiveis, eventualmente desejem, em algum momento, reverter a transicio. Também € comum, como ja vimos, encontrar nesses autores 0 Ta- ciocinio de que as pessoas trans estio inteiramente submetidas 3 racionalidade liberal ¢ ao discurso da ciéncia". Em segundo lugar, autores do campo lacaniano, sobretudo, jovens, se dedicam, de modo particular, a uma releitura de Lacan, especialmente dos tiltimos anos de sua producio, ¢, em particular, das formulas de sexuacdo ¢ da no¢ado de sinthoma, que possibilitem uma leitura das questdes de género aberta 3 multiplicidade de ex- periéncias que surgem a cada dia, recusando o binarismo e apon- tando para uma escuta nao normativa™. Com isso, espera-se cer- tamente reafirmar a poténcia da psicanilise, a0 mesmo tempo em que se preservam suas referéncias tedricas fundamentais ¢ alguns Principios basicos, como por exemple, o privilégio dado & nocao de sexuacdo, no lugar de género. Em geral, destacam-se alguns temas especificos do ensino lacania- no quando se entra nessa discussdo: a transi¢io de um discurso Por exemplo: JORGE, Marce Antonio C: TRAVASSOS, teria na era da ciéncia ¢ da globalizagio. fundamental. 20 (2),p. 307-330, 2017. 'plO desse tipo de posicdo, no Brasil, ver: JORGE, Marco Antonio C: TRA- Natalia P. Transcmualidaie. O corpo entre o sujeito ¢ a ciéncia. Rio de Janeiro: por exemplo: COSSI, Rafael K. Transemualismo e psicanalise: consideracées para da eramatica falica normativa. A peste, v. 2, nl, p. 199-223, 2010; COSSL, Rafael DUNKER, Christian LL A diferenca sexual de Butler a Lacan: género, espécic € Emil. Im: COSSL RL (Org.) Faces do semucl: fromtriras entre ginero ¢ incomariente. Ske Paulo: Aller, 2019, p.99-127; AMBRA, P; LAUFER, Lauric : SILVA JUNIOR, N. Poychanalyse et normativité : la question cisgenre. ‘Méditerranéennes (En lig- Be), ¥. 97, p. 229-242, 2018; GHEROVICI, Patricia. A psicanilise est para MAREARS? Sf Sexo. Trivium: Estudos Interdisciplinares, vol.10, n2, p. 130-139, 2018; MARTINS, Ana Carolina BL; POLL, Maria Cristina, Tr norma sexual. A psicanalise © os estudes queer. Revista Subjetividades, Ed. Especial, p. 55-67, 2018. Natalia PA cpidemia trans: . Revista Latinoamericana de psicopatologia Ver, = trado no complexo de cag_ i en! E ym discurso ¢ 7 a centrado no Edipo re ve iseurs Caromia para 2 COMPTEENSg 50; cdo de ut tracio; a transi¢ ica, sintetizdvel em féy_ ferenca sexual como uma diferenga eres a anattaiee aaa atematicas que nada teriam 2 se ee eteactD mad aati mpreensio da diade mascun® aia ae eemaateee é mas como modos 4 identi u papéis de género, 2 create Reena aren nao estao piceessan eae que m se 2 s a Benin convencionalmente como home 0 crescente de psicanalistas que i {tica hegeménica ¢ bus- procura partir da critica 4 postura psicanalitica ete ie car uma articulagio efetiva entre psicanalise € i nto psicana~ tomando estes tiltimos como analisadores do pene a litico, capazes, por tanto, de interrogi-lo ¢ provocs: ‘ti 52, ’ tocritica e da mudan¢a”’. ; : i * Nesse contexto, ¢ importante registrar ainda, ° eae to, com toda a forca, do tema das identificacoes, ae proc i aia : i i ite psica- conferir embasamento tedrico a uma leitura propriamente P: nalitica da problematica identitaria. at aT Por fim, é preciso considerar que as mu ioe am apenas no movimento psicanalitico. Muito mudo mt 2 sane dos estudos de género nesses mais de ae ant ae ig icana de Gender Trou- i digo norte-america nos separam da primeira € rt ble. oa 0 debate com a psicanilise talvez pudesse ser pautado itacdo social, agora o que parece demanda de aceitagao so U Ea | firmacdo de uma anormalidade que Saat estar cada mais em jogo ¢ a afirm: ‘ e oloca em jogo nossa propria ideia de sociedade ¢ convoca @ sua decisivo a afirmacdo das transformacdo, Nesse sentido, torna-se Em terceiro lugar, ha um grup’ ARDI, Henrique C. A metafisica generificada da escuta psicanaliti- ssexualidade as transidentidades: psicana- ee aaa ie Pscandlise,n.54, p- 23-32, 2015; PORCHAT, Fe aera jucué, 2014; CAVALHEIRO, Rafacl; SILVA, Milena R. Psicanalise ¢ sae incius de genero: questées para além da diferenca sexual. Revista Subjetividades, SOS) co703, 3020, POMBO, Mariana. Diferenca sexual, psicanalise ¢ contemporac 2 dade novos dlspostivos e apostas tedricas, Revista latino-americana de psicopatologia pandamantal, 21 (2), p.545-567, 2018; BOURLEZ, Fabrice. Queer Psychanalyse: clinique ‘mineure et déconstructions du genre. Paris: Hermann, 2018. 44 dissidéncias de género, o trabalho de Paul B. Preciado, no que Ra- fael Leopoldo denomina giro tecnolégico do pensamento queer”. Com Preciado, teremos uma leitura das transidentidades que coloca em primeiro plano a categoria de biopolitica e os efeitos da tecnociéncia sobre os nossos corpos, enterrando, de uma vez por todas, qualquer referéncia a um corpo natural. Teremos também o combate franco pela transformagao dos nossos regimes de saber ¢ poder, com a producdo nao apenas de uma nova epistemologia que supere aquela fundada na diferenca sexual, mas de novas formas de existéncia, ou seja, de uma nova humanidade, o que da talvez um novo sentido ao medo sentido por alguns analistas, diante dos saberes e poderes dissidentes que procuram cada vez mais ocupar lugar em nossa sociedade. Questées que permanecem Podemos, sem diivida, reconhecer certos deslocamentos no modo como hoje muitos psicanalistas discutem as transidentida- des, mas isso, ainda que represente algum alivio, nos impée a tarefa de apontar continuidades e rupturas com o passado, bem como identificar as tarefas urgentes que nos aguardam. Certamente, o primeiro aspecto critico a ser apontado é a insisténcia, até hoje, em agrupar sob o termo transexual, de triste historia, uma multiplicidade de formas bastante diversas de dissi- déncia da norma bindria, uma verdadeira multiddo queer. Do mes- mo modo, muitas vezes a discussao ainda se reduz a classificagao diagnostica e ao lugar a ser ocupado por essas novas dissidéncias em categorias, cuja formulagio foi prévia ao seu proprio surgimen- toms LEOPOLDO, Rafael. Cartografia do pensamento queer. Salvador: Devires, 2020. Procurei, em outro lugat, estabelecer uma critica das principais formu naliticas em tomo das experiéncias transidentitarias, indicando alguns naquele momento, me pareciam problemiticos. Ver: CUNHA, Eduardo trans. Ou: por que psicanalistas tem medo de travestis? Periddicus, 1.5 2016. Para uma discussio atualizada, ver, por exemplo: STONA, José; FEB ‘bias psicanaliticas. Revista Subjetividades, 20(1), €9778, 20204 5 resistencia 2 propria ng 2 no trabalho de Clotilde z j cic de rebaixamenty é tomado como SP a por uma eel wal sua poeenc2 € svidade. Com isso, mo sjorizar 2 diferenca dos que, 20 inves de submetey ee colocaria 13 quEstaO 2 DEAS produziria rupture ¢ < a conta 60 Sea as identidades esta ¢ tam- social ¢ da Honneth - vemos, por xemP jéncia Ps pria norma ao explicitar sua insu hs cionament O problema desse posics si nica da nossa experi es ra de organizaga0 o no que Axel bém como elem : 2 juta politica, sendo um elemento decisiv® @ desen ¢ como lutas por reconhecimento”. * ‘2 ce eani 9 podemos ignorar que ha u ca Jégica, que marca as posicbes mascuin Seen canianas da sexuacao, € 2 ee ‘aise simbdlicos, que definem o éis sociais, ou recursos materials esimbélicas q S peeneeu sa sociedade. ulher, em nos: a . ay ser homem ¢ 0 ae que admitamos que 0 inconsciente no, me ja, mes mos qu ee rae ual binaria, isso N20 quer dize q ’ ja 2 aire ny, presente no discurso social € que produza fs iizam na prépria pratica analitica ¢ em a por exemplo, pelo machis_ Jasse. Dito de outro modo; mel 8 enorme entre ¢ feminina, nas formulas lac. nheca uma norma de género, efeitos, os quais se matel te suas instituigdes, muitas vezes marca j I mo, racismo ou simples preconceitos de analitica se configure como um permanente |, ela nao é, como instituicio ¢ tampouco € imune as relacdes eae Mesmo que a ética psi ; questionamento do discurso social como pritica, imune a esse discurso, de poder e opressdo que a atravessam.” mulher depois de Lacan. Belo Horizonte: EBp. cimento: a gramética moral dos conflitos sociais. Sig Lata por reconheciment: ica generificada da escuta psicana. as. Salvador: Devires, 202, Um traco delicado de continuidade entre as leituras clissicas das transidentidades ¢ certas enunciagées atuais é a permanéncia do que chamei modelo da inversio sexual, ou seja, o modo como grande parte das leituras do género, ou mais genericamente do pro- blema de ser homem ou ser mulher, costuma ser articulada, ¢, em certa medida, dependente da questdo da orientacdo sexual, portan- to, sempre pensada, a partir da contraposicdo entre uma escolha de objeto homo e uma escolha heterosexual, afinal, “por muito tem- po, no discurso pés-freudiano, prevaleceram teorias que partiam de uma associacdo direta entre homossexualidade ¢ um apagamento ou negacio da diferenca sexual”. Talvez possamos atribuir tal colagem entre identidade de ge nero € orienta¢ao sexual, 20 menos inicialmente, 20 modo como na doxa psicanalitica a experiéncia do género ¢ indissociavel da his- toria das escolhas de objeto, ordenadas a partir do Edipo - o que podemos articular & recusa em incorporar a propria nocio de géne- ro ao instrumental psicanalitico e a insisténcia em preservar o par significante sexuacdo/sexuado”. O problema € que tal modelo aponta para a preservacao nao apenas da divisdo binaria, mas também da norma heterossexual, muitas vezes percebida como destino feliz de toda transicdo de gé- nero. Aqui, se anuncia uma questo tedrica importante: como pen- sar um eixo da relacao consigo mesmo, da experiéncia do corpo Proprio, sem referéncia direta ou relacdo de determinaco com o investimento erético em outros corpos. Serd que em nosso mundo atual 0 outro corporificado ainda € o principal mediador da nossa telacdo com nosso préprio corpo, ou mesmo com sua construcado? Por outro lado, procurei mostrar, em outro momento, como certas leituras da dita transexualidade dio sobrevida a visdes ultra- CAVALHEIRO, Rafael: SILVA, Milena R. Psicanilise ¢ dissidéncias de ginero: questdes Para além da diferenca sexual. Revista Subjetividades, 20 (3), «9793, 2020. p.4. BONFIM, Flavia. Problemas de genero e sexuacio. In: FERRERI, M.: HENRIQUES, RP. Género ¢ politica: derivas do feminino. Sao Paulo: Concern, 2020, p.49-66. CUNHA, Eduardo L. Sexualidade ¢ perversio entre © homossexual ¢ o transgénero: notas sobre psicanilise ¢ teoria queer. Revista Epos, 4 (2), 2013. 47 staca a dim alidades, nas quais se de: eth ensag escente normalizagao do homoerotismo, 3 s tenha agora s¢ voltado contra as peggy . ela jue, aa a plares da atualidade, como aqueles ¢ pa ais dest que antes supostamente © faziam cs caer ordemiaiay a castragio ¢ ameagam a genealogia, © parent répraini bélica, colocando em risco, em ultima instancia, 2 peo ia huma. nidade, ao abolir “a diferenga dos sexos ¢ de Be . a A questo, mais uma vez, nio parece estar referida exatamen. te a esta ou aquela experiéncia subjetiva particular, mas Sita} a0 que cada uma dessas experiéncias parece colocar em questao na teo. ria psicanalitica ¢ em sua concep¢ao do sujeito € da sociedade. Na medida em que os/as homossexuais aderem ao modelo da uniao monogamica e da filiagao, passam a incomodar bem menos do que aqueles ¢ aquelas que se dispdem a inscrever, no proprio corpo, a recusa A diferenca bindria dos sexos ou & filiacdo. E 0 fazem sem, temer ou mesmo desejando que seus atos ¢ desejos produzam Possi- veis efeitos sobre o que entendemos como ordem simbédlica € sobre © que concebemos como humano. Autores como Paul B. Preciadg e Jack Halberstan chegam a definir como horizonte ético-politicg de sua aventura tedrica e subjetiva precisamente a redefinicado dos limites do humano e a legitimagio de novas formas de existéncia, Por isso, nao é de modo algum banal que um dos motes da campanha contra as dissidéncias de género seja o alerta contra o risco colocado 3 humanidade, o que compreendemos ¢ podemos reconhecer como humanos, pela recusa da diferenga dos sexos ¢ pela perturbacdo dos fundamentos da nossa ordem simbélica. as das homossex! passad act moral, como se, com firia de certos psicanalista: as trans, que passam nao al Em Lacan, a diferenca sexual articulada a referéncia falica da acessq a ordem simbdlica. Ou se submete a isso ou se precipita no caos do “fora sexo”. Disso resultam severas chamadas 4 ordem do “legit; ROUDINESCO, tisabeth, Poychanayse et homosexualité:rélexions sur te dk vers, injure eta fonction patemnelle, Clinques méditerranéennes 2002/1, n, 65, p. 7a pe lle. Cliniques méditerranéennes 2002/1, n. 65, p. 734, 48 mo” ¢ do “h 0” numano” nos debates contempordneos sobre reconfigu races possivels d; 3 le, € inclusive jas normas no 1 Fy care campo da sexualidade, € inclusive Ao se posic fille a pele Se no debate em torno de Petite qielimaltteaeeee had aos alertas dos colegas franceses, evitando apaoeitieoeeees ana de Freud parecesse se manifestar no instincialautoniearlve user face mais sinistra, aquela de uma arecneae maligna a dispensar suas adverténcias proféti- cage MRE pores modernidade.”**, Silvia Lippi fival queens sue eer na direcdo de uma psicanilise inclu- Aenea cones médico ou a ldgica binaria. narias de muitos psi a parc cea aaa ‘esmo certa posicdo, ainda he- Sadi 5 ig0s © padrdes de inteligibilidade vigentes, Quem sabe, consig: an amos, com i: i nalise que escape & eae duals por fim, uma psica- narratiy iD Pessoa querida, alegre eRe A Sofrimentot eseja, como disse uma : irmativa, mais dedi ; edicada ao impossf possivel € peer! 2018. p.553. is 2021. p35 Dispontwlen an 2021. e amental, 21 (3), ratrick Dysphorique t s://lundi.am/Dyspho atin 273, 02 fev oi-meme Acesso em: 08 mar Acero da nmopdloga Eva lou ese fee 29 mo recondigurecd nannies Por influtncia Ga peleantliee sdcpatay pecans aaa Zahar, 2011, ‘amor nos mpos do capitalismo. Rio de J 490 WHR AHN NORA sae certian QUIRES pg, a ane Re HRN ees JAMMANECEN, ses Re WR go HE VE ~ Re wn 12 gente © q ait Aa RES Og, HRT vache geeateae PE gs 0S anniting aw Wee : gargas RO 8 NS BRONN. & UNE HQ oe os RS es NARS. canto AETOS, Rg an antes Teach Aes a RANIITRTAE gy q x ‘3 nw’ wae AHO ANAS AG A se . ann sera, E ainda 8 Ree ees CONN NEG, gy a ac rarem ere ea i. ~ RE PNCOPATTARTA, Ng, aay Tae @ HHAVERTES, ENO foMe * seneias HE jg FEUNTTMTANRLES COM, HoARNess Warokoata ainda hoje, Ni Lee . eto assim, HA Prion, sas “ ayy velagdo & aliversidade i se nade eM Cortelaty 3 pAUlattla QUE 2 pgigg, e e que ainda que ngo Ko maken FF = Naa ossenualidade como a ures 8 Se sicossenualidade maig war istico-etioldgica a . Sevestigenee < Da invests ahnico-politica perspectiy go & aqui, estender 0 debate sobre o qu: Meu proposito ai aS ispomos pode ou nao dar conta aco tedrico de que 18 gener, mostrar - OU Negar ~ 9 mem muito menos discutir em & zs de dissidéncia de experséncias = Jor das formulas da ex ANCONA, C: PORCHAT, py fas e queer no Brasil e ng 50 Wella © penaamente lacantane ATOR IPOU © Gicer OU Re apresenta COME SA CONTIGO de poraibilidade, No Hagar deste tipo de disevande, Interessacme estabelecer Wuna Poxlgde analitiea aberta A ereuta das transidentidades @ das Novilades Que elas eventualmente carrenam, de mode que posiae res CONTE Ha, produgde de expagos de enunelagde, noe quals os suleltos Lnplicados neasas experiénelas possan eonstrulr sua proprla elaboragdo do que se passa em AeUS COFpoR e eM sta Vidas, Asante OU NAO as ferrAMentas tedel @ simbolicas que a paleande lise possa oferecerthes, Anteressaame tamben pensar como a construghe de novos discursos sobre génere na Psleanalise nos aludam com a decifragde de outros Enigmas, come Aquele relative aos lagos contempordneos entre processos de subjetivagdo, lita politica e modes de organtsae go social, Acredito que muitas das reflexdes atuais sobre sexo e género, inclusive por seu cardter tantas Veres utdpico, podem ser a base de Ama nova tessitura das articulagdes entre Psicanalise e politica, que nao operem pela redugdo do politico ao psicoldgico, como teme Satatle, mas permitam, explorar o fato de que, na atualidade, as transformagdes sociais, eo que poderiamos chamar emancipagdo, tornamese indissociaveis de mudangas das formas singulares de existéncia, o que significa alteragdes profundas do que entendemos come individuo ou mesmo como humano, Um passo decisive Resse percurso sera, nfo custa insistir, a renunela a qualquer Preocupagio diagndéstica ou etioldgica, O pri- vilégio dado & Psicopatologia, para além dos seus efeitos nocivos, como a estigmatizagio, nos remete automaticamente a preocupagio etioldgica e, entao, jd nao queremos escutar como o sujeito enuncia a sua experiéncia, mas sim saber como afinal aquilo aconteceu, Ou seja, além do risco de tomar definitivamente o sujeito que vive uma experiéneia transidentitaria como alguém marcado por SAFATLE, Viadimir, Maneiras de trai ‘nsformar mundos. Lacan, politica e emanetpago. Belo Horizonte: Auténtica, 2020, 31 v i » Aunamey, a gen, a Me Conatrugdo add 7 és y tem hole 0 » aujetto seu Ny ay nao é nada or todos modos hege ou seja, comp > a uma Pe quilo com que aS disgy mais do que aspeetos bie nos, Considerando ainda articu tar 1a efetiva escuta dag why n ‘ i a, oy # leOrVIg jie POSXO PLO mM tr ta e resumni IssdO 80, tay a diseu Oe rspectiva pate, Iinico-politica dag tivagdo, entreng, un nicos de ordenas OS PrOCESS Og numa dimensig ATECE INE, POTTANED, que | nmuirmly, dence Jay UF postedes que poem na verted asa ave freriten det batho, as quale permitirdo avangar, ao mesmo tempa, em nossa compreenade ian dlistdénetan de genera e na diseu by usar Que a psleandiive pode oeupar no munde eontemper vesponcendo ds critioan que Nos Ko feltae pelos movimentos tran HON AULOFES oH extidos cle RénerO © Estudos queer, Kem AdOLAr PO lodes clefensiva ¢ efetuando uma autoeritica necessdrta ¢ JA Kandla Sao ela 1) Deinar defnitivan lado eategorian « tranne Xualidade @ transexualisme e, corm | Nowa final Mente em questdo nosso vineule com a priquiatria do écuilo dexenove @, ao mesmo tempo, nosso lugar no lxpositivo médico-terapauticn contempordneo 2) Recusar qualquer postcdo soberana da paleandlise em relagdo ao saber e abrir definitivamente mao da vonta: de de enunciar a verdade universal ¢ definitiva sobre 0 SeXO, © stifelto Ou o que quer que sea 3) Realtzar uma ercolha que me parece ser, ao mesmo tempo, uma tarefa ético-politica urgente: ou usar a pal canalise para sustentar e defender as formas atualmen. te possivels de existéncia e de organtzagéo social ov dedicarmos ao impossivel e fazer, do espaco analitico, ‘uM campo para a producilo ¢ legitimacio de existénelas outras e também de novos modos de vivermos juntos

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