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Margareth Rago (org.) Maria Clara Pivato Biajoli (or9-) MUJERES LIBRES 4o ESPANHA Publicaciones mvjerey libres “ Editorial 2 heres sejam telem- possam continuar vivos, inspirandl joteca Terra Livre € © cesta segunda ed edigio do livr ro A questio feminina em .do publicada em portugues en whol em Santiago (Chile), p mpliagao de horizontes para a publicagio ¢ um amplo nossos meios, de Liicia Sin- 1m espe Jembrar os nomes © nosso dever constante eres para que elas possam segul Nomes de mulber diante dos quais foram quue- las todas as agudezas da ironia; nomes de tires que sero como os de La Liber- sn Giménez, 0 ultraje mais negro na frente de nosso inimigos. Foram mais que mies, irmds€ as; foram simplesmente mulbe de uma consciéncia ree npanbei- afirmazies Biblioteca Terra Livre & Editorial Elewterio Sio Paulo / Santiago, Agosto de 2017 INTRODUGAO Mujeres Libres: anarquismo e feminismo na Revolucao Espanhola* Margareth Rago rupturas profundas que promoveu na ordem social da liberdade que re- nente com suas I, de expropriagio sestio das fabricas, oficinas, empres: intes e historiadores inda hoje, indignam-se I do processo e do qui 0s fascistas campos. Muitos mi a dimensio fut ide, vieram & tona, em grande antes, como Mercedes Comaposad: rez, Sara Berenguer, ou de cas, como Antonia nda muito jovem naqueles anos.’ Desde o final do mo, em 1975, elas puseram-se em ati 1s fragmentos perdidos do passado e montar 0 arquivo préprio quanto ascensio do General Francisco Franco, publicacbes e videos.’ ologia de documen- na, apre a8 protagonistas de uma das mais berdade de nossa tradicio, € suas recordagées, enten- ato mais préximo ¢ mais direto com arcou nao apenas aquela gera izagio Mujeres Libres osio da guerra civ 1995 MUJERES LIBRESt ANARQUISMO EF IGRO ESPANHOLA a opressio € 0 silencio em que viviam as m Lucia Sanchez Saomil nasce em Mad: na Companhia Telefonica de Barcelona ¢ du greves de que participa, adere & CNT ~ Confeder do Trabalho, de orientagio anarq participacio, escrevendo nos periéd Obrera © Tierra y Libert ns de 1935, al apresentamos -des Comapo: 0 destinado aos tra da CNT, em 1933, em que estes enfi le em aprender com uma mulher. E por esst arquismo, ou melhor, a ausén ado para o debate das quest6cs femi éprias mulheres. S -m 1902, tor- 0 Dra. Salud Alegre, na revista Ms istas, sobre os quais escreviam nos td e Solidaridad Obrena, revistas Estudios, Consciente ¢ Umbral, Revoltavam-se com as dificu ‘opressio sexual enfrentadas pel: bertirio, em ger las a participar do mundo pib| Vale lembrar que, desde meados do século 19, os anarquistas lo forte penctrasio social, Fun riando ateneus liberti ris, por toda a Esp: contundente & ordem burguesa, a0 obscurantismo religioso ¢ isio do Estado. Apesar de suas criticas as instiuices como a Igreja ¢ a familia, apesar dos ataques \ogamico indissoliv. pritica, a situagéo feminina continuava mente opressiva ¢ poucas melhoras hi anarquistas de autogestio da produsio, as criangas ¢ jovens, de emank ¢ As hicrarquias e as estratégias de poder que vigorava na sociedade ainda estavam longe de se tornar, mesmo que timi Logo que 0 pequeno grupo se constitui, encontra-se com ras companheiras, que também comecavai ar em Bar- Agrupacién Cultural Feminina, formada por anarquis- Grangel, professora racionali ante da Cuadrado. Rapidamente, novos grupos locais s40 Muitas sfo operdrias analfabetas; outras autod! be, ou formaram-se nos aten MUJERES LIBRES: ANARQUISMO E FEMINISMO NA REVOLUGKO ESPANHOLA Mujeres Libres ¢ das centenas de ageupamentos locais espalhados elas fundam o Casal de da Dona Traballadora, no Paseo a, em Barcelona, espaco cultural di aos cursos, lestras oficinas que realizam para cerca de 600 mulheres. No ro de Sans, nesta cidade, criam um Instituto nocturno, tam- chamado Mujeres Libres. Segundo um antincio publicado 1s de Aritmética, Graméi fia, Hist6ria, Contabilidade, Ciéncias Naturais, Anato- Desenho, cursos de Agricultura, Puericultura, m, Formagio de secretirias, Mecanografia, Taqui- ica na escola de transporte, entre outros oficios ionalmente oferecidos as mulheres, mesmo ssem uum largo espago no mercado de traba- experiencia do Grupo Mujeres Libre, as ram as lutas pela libertagio feminina e, n promover novos modos de cons- modos capazes de subverter os mulheres como esposas, mes, cerechess ibe cs libertérios, que huaram conservadora e preconcei- ros, folhetos ¢ “Consultério Psics , especialista em Psicologi s cartas dos/as trabalhadores/as, proc “bes para seus problemas sexuais ¢ sentimentais, recimentos sobre distirbios fisicos ¢ psicolégices. 5, pelos franquistas, s revistas Generacién Consciente, La Revista Blanca e Umbral, mnais Solidaridad Obrera, CNT, Tierra y Li- ndo suas concepgdes filosdfc as de Anton cesses dois importantes médicos libertérios ganham todo sentido, Nos, mulheres, devemes reconbecer 0 que tro xeram i nossa cultura, & nossa pripria forma- to 0s conhecimentos deses homens que nos re- conheceram ¢ batalharam também por nossos direitos. O proprio nome esco dia um espago préprio, [aRES; ANARQUISMO E FEMINISMO NA REVOLUGKO ESPANHOLA contexto de uma Espanha catélica, machista ¢ ultraconserva- imagem de Santa Mi icos burgueses, nbrosianas da degenerescénc havam as pros- tas. Esse pensamento predominava no mundo ociden ele periodo, e vale lembrar que até os anos 1970, nao ape- nénimo de prosticu- desdém. jos do século 20, nao era raro que costureiras, floristas, Joras das fabricas de tecido e artistas fossem ismo liberal vigente. s, que hutavam pel deixando inquestio- le ¢ da sexualidade dominances ibres chegou, algumas vezes, a declarar-se 1e se expressa nos préprios artigos lado, a propria ulher, dando-the 1a expressio fora do feminino, tratando de (os em que 0 discurso do Grupo aparece como aos nossos olhos pés-modernos, marcados pela que a cultura ganha na contemy ao inyocar uma natureza feminina diferenciada da ¢, por isso mesmo, capaz de trazer novas formas para . a0 mesmo tempo, por sua et lade, como aparece em virios ntimeros dessa publicacio, tores/as. Assim, enquanto defendiam nens, também ques- ungao essencial da mulher, de- que a mulber cuja vocagao nao for doméstica ¢ sua ampla realizagdo, a maternidade, ena as ‘mesmas facilidades que 0 homem para buscar cobteroutras opartunidades que dhe permitam conseguir sua liberagio econéraica.!? Sanchez Saom ser em que «1 istas, cujas lutas jpassavam 0 modelo de feminilidade imposto as mu- a maternidade aparece identificada negativamente pela mal. Diz cla: (..) recolhendo ao sentido tradicional da feri- nilidade, (aquelas organizagées) pretendiam que a emancipagéo feminina sb estava no fortalecimento daquele sentido sradicionalista ‘Mees Libres, m5. 13MO NA REVOLUGKO ESPANHOLA que centrava toda a vida e tado 0 direito da mulher em torno da maternidade, elevande sta fungio animal até sublimagées incom preensiveis, Nenbuma nos savsfez® Segundo 0 depoimento de Sara Berenguer, dado muitas dé- cadas depois, Mujeres Libres foi um grupo atuante dedicado & jomia feminina, mas nao tendo em vista excluie “a owint parte”, os homens. Segundo ela, ~ que se unit a um companheito e teve varios filhos e netos -, como um grupo revo- rio, este Iutow pela emancipagio dos dois sexos, em prol ito 20 aborto, além dos dircitos de acesso & 10 €& educagio, Se nao se pode generalizar todas as mulheres que se envolveram com a biografia das trés fundadoras, observa- ss teve um companheiro fixo, 0 escultor ra da Revista; Lucia viveu com sua ro, que defendia no se fixou com nenhum homem. po soam, hoje, com uma is préximos das aneo do que os fercedes Comaposada, no entanto, Mujeres Libres nfo ntidade feminista, mas um centro de eapacita mnos cultural, econémnico, social ternas em relacio & questio feminista, poli- 10 do “comunismo libert iros anarquistas, que, segundo se consideravam “o wmbido do mundo”. Em selagéo 4 comunidade de mulheres que ctiaram, todas s de solidariedade absolutamente todas as mulheres integrantes de MMLLL. havéamos feito da solidariedade i muther da Expanha um valor essencial. Tudo confessar-Ihes que, quando estive na Espanha, mulher espanhola me surpreendew doloro- isso & Igreja ¢, na vida privada, ao homem, ou filhos sua aceitagao «ka on colaborar com Mijees Libres: En com o desejo de que chegue contre’ mas breves impresses de mi yaganda pela Inglaterra. (~) 1a Goldman envia a0 “Mujeres Libres", em imeiro niimero, ha recente viager de Pro} Trecho da carta que Em grupo editor da revista ‘abril de 1936. [A GUERRA E NA REVOLUGAO. LHER N: y Q MA TORGANIZACAO "MUJERES LIBRES ANTECEDENTES softamos olhando os Fostoh prema Desde muito jovenss all cde nossas mi , nente justificada, eel afinco a raiz daqueles sulcos prof 0 rosto. vr a testa eo poucas YEIES OFOSEO? nv ‘entao, também classificavamos 2 io obstante, salvo raras excegOess condisio comum: a ignorat sma gosta bas cases eersdas OH de conl amente envelhecidos, ; mas profundam com um vernit, disfargava-se para clas eravidio, que no acacava dirt co em falsas bajulagoes- safogava 0 esp he om a emancipaio fecemos diversas OFS estabe os, por conta i recorrendo ao sent evenderam, Js prete 62 ro. A rebeldia jmpulsionava-nos @ fundos que corte heres em classes Tea, Bs veres, paren mente acl ‘Assim, comecimol ocRuro a feminilidade, pretendiam que a emancipagio feminina se en- contrava apenas no fortalecimento daquele sentido u a lista, que centrava toda a vida € todos os direitos da mulher em tomo da maternidade, elevando esta fungio animal a subli incompreensiveis. Nenhuma nossatisfez. A mais avangada buscava o diteito po- litico com prem sntando-se equivocadamente pelo sentido, que bem merece ser denominado masculino, da vida, Seguindo caminhos ja tilhados, pretendiam encerrar a mulher has mesmas jaulas em que, por séculos, vinham enquadrados os homens. Ao pretender sua emancipagi fo encontravam ou- tro caminho que o da escravidio com os mesmos conceitos que im lapidando, desde muitos séculos, a escravidso masculina a todo individuo. Romper com todos os lismos ¢ exaltar os valores caracteristicos da mulher, as diferengas espirituais ¢ temperamentais em relagao nerério, extrair dcla essa individualidade muito parti- nada a ser 0 complemento necessirio na edificagio do 's um reduzido nimero de companheiras, milicantes sta, e pretendiamos carregar cm nossos om- tesea tarefa que no tinhamos a pretensio de ter- nicio jf nos parecia um passo considerivel no "es, que outras, mais fortes ou mais capaci- sdetiam tomar a cargo. nos que, para o desenvolvimento de nossos cra um érgio de propaganda que siste- idéias até onde fosse possivel anos abslutamente independents de além de nos definie a grupo police, buscvames & 5 indicagio de um sey ler livre — que a 0 momen” havia sido carre- ‘a condigio da cequivocass jor dos éxitos. do feminino € n0s- de salvacéo dade, como se a ‘Nossos propésitos “Arevista despertou um vivo inte resins foram acolhidas como # Gn por milhares de mulheres foram coro esse no MU a esperanga Coo NASCEU A ORGANIZAGAO. SUAS CARACTERISTICAS jar a segunda parte de Tmediatamenss, comesames ¢ pan 9, A cargo de uma compar ye Snfereneias que foram pronunc quando anuncl a base mais am nosso projet rew um ciclo areneus libertiios, ie cultura que deveriam set Futuro, ecloditn © ‘anna lata sem trégeas Poderia parecer que 2 nos, quando, pelo contrarioy ava um irapulso mais favpriveis & nossa propagand jvamos a criag Tevante militar que ™erEt ce acontecimento arruinaria nn0ss0s pla ‘minhos distintos, 4 {0 eabria condisfes mais Theoperadamente,& guerna HANGS © mul ner precedents, em que © MONEE homens do lar, sem cempo pad fl talismos. O des rombnerfgjos da aucoridade defsty eas suas propia Forgas © Ob gadas a esolVeh ‘> problema gigantesco de 512 propria ex “icles dias, era como um sheira do grupo» OCF ads em varios fo de grupos npla de uma 280 NO rlhou a Espana em todos 08 oda que calvez pot Ge ado 2 nossa A heres & rut. AW ‘as mulheres coral asso a ser engolid golido pela torm oe nenta. Formavam-se preci ce ge g y i olatldnle Aladin do ines individual dependia da sataguarda do s Alri i fcr nem niguion St oe lo Filia 2 conscléncla, Gia problema soc ot chezia afinal, para elas, através do problet Parlin oc mae don San T Instantaneamente, C01 a dell ve aintanenmete, comefaram a desenvolvr se etic «clan, nas gic AasvARE GS sua ampla forn edad 6 elect mn a social: a solidarieds bia = ddecidimos extrair destas 1 ae Sige ealne ee jovas condigées codas as van: ies leat Sido objetivo, e comecamos, dé 5 clas um novo plano de arto, procurando, ‘ Acie ilies ¥ da emandlpafo Samloina pit ie ae da emancipagio feminina, parte in- Assim nasceu a 4 m nase a Onan Mies Libres carcterain mai ineesante so as Sepes de Ta eeepc ll de ce ca ado mache Gaben catesae mos as mulheres segui egundo seus conhecimentos, suas c ausente. Formam 9 ane Roman st sc ten om cone tais diretamente ligadas i spar desenvolvimento penpeniiis Trang, Sas Mel Coméaco ¢ , ServigosPablices¢ Brigada Mével. 7 dia das secées mostram claramente icadas; somente a Brigada Mov : funciona uma escola teérica ¢ pritica de dire¢io, na qual recebem_ la cod struc = € nfo se sabe 0 que adi cio cerca de quarent pa nous So eee nao se sabi ; 1 mais, se a apaixonada atencéo que tém as disci see 1m apoio decidido e sneramos ide reservas emer de Madri encor fo cariter senciais, federacio Local eficaz. Rstes grupo preparam-se formand se profisionalment®> csperando a hi Pera mao chegue suncel ~ em GN A tqerna, 20 vt PATS a frente os bragos nasculinos, faga necessiria StS entrada nos iéncia eo interesse que mostram os Jugares de trabalho Teansportes tec neon bed fe professores. O sindicato de vo ingreso em nosis snes € 9 ene eee ae poréin, ce dae oe presenta encontra-se este a jue, entre 05 mai decay do Sindee do mamaboeeh desta- sporte, a0 que veausa antifascist. tivemos de lutar com fas incenpreragies dis “a condigio impose Pal abso ineresseesoidariedads OF ise ocularemes ques 80 PrnlR'Sy talver muitos no quei Wo queiram reconh cer seu verdadeiro aleance. Dentro de poucos poucos dias, as companheiras da Segio de Satide imuitas dificuldades por caust ddas indimet torcidas que uns € oNt#S faziam de nosso «rabalho: Fram que eracsvamos de Hae UY onganismo comesario também © erencias ab- ndicato do ramo. ritico, apoiadas igualmente iat de il te p gestdes diretas da Organiza existe um grande ntimero_ Algans sup stabelecer COnco! Organizagio com wna SND ES jer somente 0 proble= companheiras trabalhando ja pela (os remuneradlos, outras genetosai umente como volut iam nossa “encarregada de reso ‘Comove profi profundamente medit 0 abismo q) jue as préprias fade empregoss agénci tea econdrmico da mulher. Tada nos fez vals nem cOnssEE desviar-nos de 108508 bjetivos. As veres WOPeTamOS om eeistencia passva de a res abriram entre suas vid ie orale ‘como ocorre com Se a nao im com quanto ardor ald epa de ontem e de hoje. Com- rea, insistimos © ssa dedicasio- Je supenato'se ati n-se causa comum, qui ' oe nossa Organizaio 16m a penal bem tne Ye eles aru ae cont i finda ¢ conra com. um fsPSvE vndeleo de companeiFas Drrptenirresbeal shen rit daretialbtor vr rom de nosso trabalhos ara! toma consciencia Evol" eres: ada for- Hiro cenido de responsabilidad a 1d fab as eastern AE ere achagle a0 velho conceito da galante a “Goontia e attra com OT iy PLENO TRABALHO algumas comesaram & mecal cdevernos fate aaxituidas nossas Segoe ronal ¢ outas 6 a de Transport iio prestes 2 OF es, se bem que dicaro Unico ia ¢ ceve Ma profi , destacarse instrugio e ainda creio que 20S mente al- nos involuntatiament®s vJeste trabalho. Vamos dar breve s de nossa Organizagao thé um comité responsivel d s administragio ¢ todas as qe Alongamo~ diesviamos do objeto le trés comp: suées de aguas outras Bi ‘A sua frente, seu cargo ura e propaganda. role deste comité,, mente 05 eB ras que tem a funcionam outros sub-comic intes aspectos: Trabalho, Solidariedade pro-Muyjeres Libres © ‘Auxilio Moral 3 Frente. rearte ocupar-se das aividades deses dois ikimos sub- Heo esti claramente definido pelo seu noms © so em ingressos regulares de nenbuma Mfr contribuigées em. dinkeiro &s com> panheiras que oferecem generosamente suas iOS ‘quando, 3s rare, no tém nenhum meio de mubsisténcia. A Comissio de Sotidariedade se encarrega de administs junto aos sindicatos> oe neus e ourras entidades, donarivos OF subvengoes que permic tam o desenvolvimento de nosst Organizasio- 'h Comissio de Auxitio Moral, rccém- meios trata de adquitir artigos 4%© POSS ipesos combacentes € ela mesma SE propoe, foportunas, a distribuitos nas frentes. Essas si as cara aio. Os projetos apos de culcura € 08 thos ocupamos aqui para ‘m, por causa da gue de que as circunstin orientagio, cult Sob o contr tés que atendlem exclusivar ‘Nossa Organizagso forma. Nao se pode Pe pelos mesmos representar Um ‘em condigées para ni destacadas de nossa OM cenvergadura, ‘ais como OF 4, dos quais mi linha Jano creristicas ma de mais ampla Tiberatdrios de prostituis Mio rornar mais extensas ess ra, relegados a0 segundo wigs nos permitam desenvol¥elO8, svar sem marcat aquis uma Yee mall ‘trabalho, encor nteamos eth (0 queremos termi para 0 nosso Lucia Sanchez Si CNT, 0531, Madri, 30/0 68 es de todas oe demonstrou praticamente qualidade de suas aptidées, em todos os ramos da atividade mana. Apenas nas camadas so , 10s dizer, revelando a exceler se amulher é superior ou inferior, afi can cain A aero eA on de maior ou menor peso dk flab epbal ove cheno is inferiores, onde a culeura Fi niko se discute, como no indu- ve imprimem um card eam aréter peculiar 3 eriatntay‘de- com ete acividades nd canipa sta es coria em seu aspecto fisiolégico, e pretendem extrair da mesma. Que ma, Que MUJERES LIBRES. + é diferente? De acorddo. Embora calvez essa diversidar © cruro ose deva tanto & natureza como ao meio ambiente tnuuhen Pontus eguime de wp conven eee ee camarada Vazquez. Como pode " rurcza arrchatada ¢ violenta dele, d di -gagio da outra; via mulher em relagio a0 ho- cla; a gravidade dele, & agudeza di aera erate seer com a do assalariado em relagio 20 burgués? val i ie Relea edes casein wid te Voce esquece que os interesses ‘do patrio € do operitio sie yrcionalmente em sua constitu Soe sc ympativeis, enquanto qué s do homer da Vocé pode comy ens posts, sio incompativels,enquanco abs © jomem & precrlla gE gue Ks halher ~ que sio os interesses da ‘humanidade, da espécie = so de wilen SS Ua EavGccras a RAGITODE da ymplementares, melhor dizendo, sso um ‘mesmo? Somente icagao do futuro, ¢ que ra eurdo sistema atual podem existt inecteS de sexor vga de todo pono, coma concepsio anargustt davida ‘Voct pode conceber um burgues dizendo que hé que €t par os rabalhaclores? Pos se pensa que 0 anarquist’s enquante Vogico que oprima a mulher ral como 0 ‘burgués oa Jo ouviclo gritar “ha que emancipar a m8 no nao dizer-Ihe “comece por voce mes ‘ulher comegou a tarefit de 4 faz tempo que am! 15 o crue salemos que a Humanidade vai fazendo dor € nio nos interessa lembrar iro fururo com a sido de outra maneir: seu caminho & custa da propria ‘pasado, mas sim forjar © preset na mulher, a Humani are e afrontat ‘dade tem sua reserva su- amigo eine certeza de que, por" prema, um valor inédito capaz de muda pela lei de sua prpria Pitureza, todo o panorama do mundo. © feminismo foi ero de erat fins que Ressurreicio do Feminismo? B: co pela guerra, dando & mulher mals do que pedia a0 eactmente em uma forcada substtuicdo masculing ‘Um femni- pismo que busca sua expressio fora do femining, TA ndo de rides e valores estranhos nso nos inceressas € UN? meivo, de dentro para fora, expressio de exo diferente do com- assimilat vi femninismo, mais subst ‘um modo, de wma nacureza, de wm comp! plexo, da expressio e da natureza ‘masculinas. Por acaso, declaracio de guerra? Nio, nio. Compenetragio de intereses,fusdo de ansiedades, afi de cordial idade na busca sins no comm, Desejo de dar wida.o sensdo de ea ve the falta, ¢ de onde provém todos os Mas isto & mais do que feminismo. mo sio dois termos de mesma proporsis jsta francés, Leopoldo Lacour, cunhow & ismo integral. falta de integridade ¢ seus males, Feminismo ¢ masculi- Jnfalguns anos, um expressio exats: EDITOR! Cunruns pocuMENTAcho SOCAL consequentemente, por falta de + cvlizagho est’ ameagada de afundac. A espécies PaFs fe dois clementos, masculino ¢ fernininos écie se desenvolve, © se, na igual os dois elementos nnecessita d alinos £od8 08 rida em que nos encontramos & rvs nase: Po histtiCOs ree pilidade da mulher 9 deve is Vicia, de rudeza, de inflexibilidade, vi ‘mas sim ina cate sentido feroz pelo qual uns se .¢ dos outros; a Huma idade s toda resp fe mune protagonists ANARQUISHO | POLITICA | GUERRA uyenes uroRes tenho o projeto para servir O triunfo do proletariado espanhol & sua chance d ua chance de so- ambigdo vai mato mais longes breviveneia ide criar wm érgdo independente, exclusivamente aos fins que me proponbo. Fa- aremos disso mais tarde. (“Solidaridad Obrera”, 8/11/1935) ‘A Federacio Nacional M: fujeres Libres Mujeres Libres, XI mts da Revolusto, 1537 como surge a ideia de criar uma revista com o nome de “Mujeres Libres” aqui, portanto, que, meses mais tarde, nascer REVOLUGAO E CONTRAREVOLUCAO. Anvista _Em nossos dias, abundam os discursos.E, dloutors Amparo Poch y Gaseén, as colaboradora eneusiasma- 0: “distin SPM oece cake eA Se ee ompetentes com quem, depois de muito trabalho, pide Aue, sea dito com dor de nossa parte, So encima eac rojo, num florida eluminoso més de maiode 1936, cs oguahths e sDdacoce” ott wis Eanealeacane io feliz do Congresso de Saragoga, onde a CNT eon is francamente cor Ao natural jévelho “Hi que ganar a guera, co como Cee frases que nos fazem tremens “Hi iat, en os Comités’, ¢ se diz que nao é obra revol ae iar a cea ¢ a industria, Em uma palava, neg ot 0, Sob a palavea de ordem de “obeditneta cage, que [Em Madi, Lucfa encontrou em Mercedes Comaposada © a € dos dois seguintes ¢ de meiro néimero apa idénccx; 0 Ginico que muda vue figuram no centro, como recolhidos ta pelo titulo “Mujeres Libres” na forma se. podese ler: Cultura ¢ Documen- nas numeradas. Redagio: ose excessivamente da am -, ins aga internacional ‘Amparo Poch y Gascén ¢ 11 ar 0 povo, precisamente quando o Re z vo, Precisamente quando oproetariade mundial coras, exceto © Editorial que cher Saornil pigina interna ¢ anunciam, 18 receri no dia 15 de cada més. No mt primeiro mim Ue juno, em seu ndmero 2, esquecemse de colocar a data guns artigos ¢ nas colunas da “Revisit 36, que acusa recebiment0 He Blanca” do més de junho dk 80 MUJERES LIBRES jindicatos para que moderem sua atuagio, ”. Quer recomendagies 4 nada menos do que isto: “As Organizagées pa dizee que agora existem Organizagdes patro disso — e isto é 0 pior — sio levadas em com ‘Alardeia-se o temor & nufna econds nio fosse a conseqjién: rialista, Pretende-se debilitar a aio dos bustecé-la, quando sio eles precisamente com sua atuacio revolucionsria, lev 1 guerra para a Revolucio; revolucionaria larmos, a contra-revolu- ralmente 0 pensamento, que néo possa ser aproveitada nem explorada por ninguém, E se nos disserem que néo sio habilidades, que todos esses 8, devemos colocar-nos em alerta, conceitos sio reais € 50 porque entio é contra-revolugio que age. Lucia Sanchez Saornil - Horas de Revolucidn — editado pelo Sindicato Unico do Ramo de Alimentagio de Barcelona, 1937, pp-30-31 LEN FEMINISMO E MORAL SEXUAL conscientes colaborem com esta obra na qual MUJERES LI- BRES colocam todo seu entusiasmo emancipador e construtivo. Revista Mujeres Libres, 095, dia 65 da Revolugio AGOES CONTRA A PROSTITUIGAO, do sexo, e dela, esse Ieilao nas ruas ou porém é, por sua vez, consolador; porque se ajustamos & pi ide de seu significado verdadeiro, veremos de re- pente envilecerem as pessoas respeitiveis, ¢ afundar-se-o na ver- gonha umas quantas i ‘our menos acreditadas... assunto deveria, também, ser considerado em sua verdadeira € somente seu esquema tomatia luemos, entio, com a idéia vulgar e parali- Fo: troca por qualquer coisa, distinta do amor, de carfcias que s6 se devem a0 amor, ‘Como st LuTA CONTRA A PROSTITUIGKO Ten use acabar com a pros se manifestado, em virias ocasi6es, tas ocasi6es, também adotou a regulamentati ctiadora de impostos melhor ou pior apro deixou-se estar, ignorou-se, quis-se ignorar a pr 127 MUJERES LIBRE: Tudo isto foi ind sua vitalidade se nutte das das. A prostituigéo acabard, como efeito te ‘no consolidadas em nossos costumes, mi ccessarem estas mesmas pot uma Revol sabemos quando se far. AGOES FFICAZES CONTRA A PROSTITUIGAO [As ages contra 2 pro diversas ¢ insuspeitas,em sen Jo, ¢ que é a base das agées contra a pr 1c vive em independéncia econdmica recebe ‘um pagamento, ainda que seja entendemos que o tinico trabalho que dé dit lade, nao aqueles set los, outorgados em beneficio de um individuo e isolados do sruismo pelos muros do lar. Por isso, t ia, desse fic io de sempre: afastada da produgio e sem que os deveres da traba- ito algum. E uma verdade axiom: lota cos da dona de casa se excluem mutuamente, Revista Mujeres Libres, 0°11 LOR forma dlogio, desses dois primeiros nimeros. © niimero 3 do 10 aparece na data prevista, antes que se blevagio fascista. eae seas o primeiro editorial reflete, com toda a clareza, 0 que se ropdem ¢ o que jiram: “Orientar ti d Lana Sects ‘Orientar a agao social da mulher, ina como jornalista e como poctisa, desde iro poema a0s 20 anos, envia uma repor- tagem desde a estepe cas ‘0 novo exptio em Castel Com sua agudeza de " ae no denuncia 0 se- terminar a edigio das obras de Eric Miihsam, mints ainda, nos tobiogrific: profissio”, a su ‘companheiras consegue mobilizé-las ¢ ganham: émio! 5 mas 0 prémio! serd para algumas e para ela: sua mudanga para Valé i ore (Nota das aurora) Valencia que €edicado em 1996 pe — Bos MUjeRts LIBRES socialista ponderado e honesto, que Emill Salue evoca 6 tu aaa Viner de revoluionariz punts bstavics del district cing No mimero 3, desde Cartagena, Carmen Conde inics sis colaboragéo, sob 0 pseudénimo de Florentina, sobre ‘0 delito poesia que se vai expondo em quase todos os nmeros GS é @ inconfundivel e muitos de nés nao du Jos a ea, além dos Editoriais ¢ de outros tra- ferem a revista uma personalidade anar~ altamente critica. Lucia Sanchez Saornil nessas frases Passam os dias, ese néo ainda wina decepedo, sum ligeiro temor comeca a morder nossa fé (JA instirughes que nasceram espontanea- mente do pov vito sendo podadas ¢ abatidas ipelo fia cortanze da disiplina, Homens ¢evi- fas que vimos rodar sob o vendaval do 19 de Estdvamos apenas em fevereiro de 1937. Nesse mesmo 270» eaditado por *Marjeres Libre”, aparece o folheto de Lueta: “Flo- tas de Revolucién”(62 paginas). Sao crinta ¢ és artigos dos pri- fos meses de luta, alguns da revista, os outros, penso eu, de CNT”. Mais tarde, recolhem-se suas poesias no folheto “Ro- mancero de Mujeres Libres”(30pes). Foram igualmente reolhidos em folhetos vitios dos tabs- Ihos que a também excelente escritora € doutora Amparo Poch y Gascbn hava iniciado, desde 0 mimero 1 de “Magers Libr ‘com “Nifio’ ¢ “La Ci 1937, resto. 1936. ocruro Sanatério do otimismo, em que a Dr’. Salud Alegre ironiza com humor a ide, 05 fatos € 0s novos costumes. E uma nio ter encontrado o folheto “Esquemas”, de Mercedes Coma- ns sobre as coletividades de Mary 1, Aurea Quadrado, ‘um de Suceso Portales, Ada Mart aia esquecidas, como Maria Pérez Yuste, Ui Centros de documentagao consultados: Frangais d'Histoire Sociale, Tea Conta Hemeroteca Municipal de Madrid Archivo Historico Nacional ~ Salamanca Arquivo Privado de: José Fontanillas la revolucién espagnol 9 Anconia Lola Benavent. Sara Berenguer DEPoimentos ANTONIA FONTANILLAS BORRAS trio de correspon: Unido de C do, da Primcira Internacional na Espanha; co-comunismo ~ segundo que dedicou & mi ocasido da passagem de Malac for, ocorreu por oc. 175 MupeREs ees. in Borras Jover (1845-1894) ea jas conversas com lo a0 meu av6, M: Vol Malatesta, digo que se foi influenciado por on , reve de ser na primeira viagem, porque os primeiros perié- La Justicia Humana (1886) © Tierra ibertad (1888-1889), fundados por Emilio Huges e Martin ce een bem antes da segunda viagem de Malacesta a Espanha, em 1891. Precisamente nesta iltima publicacio, se- gundo cita Hugo Fideli em sua Bibliografia de Malatesta, aparece ira versio espanhola do célebre folheto de Malatesta, En- c franceses que, naquela época, cruzavam facilmente a fronteira, ae re ie eithoges scone nos dois se tim aus biogmafia de Malatesta, slata que est he contou, cm sus la orla do mar, conversando com Cafiero © iam chegado 3 ideia do anarquismo co- fi dar muita relagio Embora o que precede nio pareca gua com o tema da mulher na Revolugio Espanhola, no undo, sim, 0 cem, pois esta se produzido ou nio teria tido ‘o-mesmo cariter, se nao tivesse sido precedida de de histéria e de propaganda anarquista, que dinamizou o movi- ‘mento operitio. ‘Nase em Barcelona, em 1917, no vetho Baitro do Raval, 176 DEPOINENTOS libertéria. Da minha infancia, conservo imagens ¢ fragmen- tos de relatos trdgicos que, por forca de tanto esc prestivamos muita atengio. Meu avd, que se si so em 9 de maio de 1894, vitima da repressio consect atentado de Paulino Pallés contra 0 Capitdo Geral lunha, Martinez Campos, em 24 de setembro de 189. ge ume Processo de Montjuic, do qual se cumpre o c neste ano de 1996 € que horrorizou o mundo com su rados. Ele arrancou gritos de protestos nhecida agitadora revolucionéria Teresa Claramunt que, companheiras dos tor rados e detidos por ocasizo da Bomba de Cambios Nuevos (7 de junho de 1896), que um louco irresponsével deixou na passage: de uma procissio, causando varias vitimas, foi transferida 20 fi sendo a tinica mulher processada, Salud foram maltratadas pelas fi junto com Concepcidn Vallvé e Teresa Maymis além das h Ihagées, deixaram para minha avé, uma menina de 7 an nha tia, de quem nasceu um menino na prisio (..) ¢ para po- yerilos deixaram-nas air para casar no pi i horas antes de seus companheiros serem fuzilados: ‘Toms Ascheri, jovem francés filho de pais italianos residentes em Marselha, personagem central dessa cragédia, que vi minha avé ¢ Luis Mas, companheiro de mi di de maio de 1897. Muitos outros haviam sido condenados {g85 penas, entre cles, Juan Bautista Ollé, companheiro de tia Antoni escapou do ‘que foram confinadas por serem menores. ‘Tambés ‘outras presastiveram a mesma sort obtigadas a exilarem-se em outro p. v7 Mojenes usar presos libertaclos, entre eles, Federico Urales, refugiado primeito em Londres, onde se uniu & ledad Gustavo; logo seguiram para Paris, para Urales regressar clandestinamente dar 1898) Cute iar Gr Mad ade a paginas do EI Progreso, primeiro, e em seguida desde La Revista Blanca, funda- da por eles com esse fim, empreenderam a grande campanha até conseguir a liberdade de todos os condenados por esse processo cos que ficaram da repressio de 1893. E uma pequena sintese de tum processo, que merece ser recondado agora que se cumpre seu centendtio, e porque vem ao caso de sua conexéo com minha fa- Claro, isso faz parte dos relatos ouvidos, porém, sobretudo ico cempo depois. de minha infincia voltam 4 minha me- 5 anos € parece-me que coincidiu com 0 a Adelfa, um bebé de apenas um ano. ltar a imprensa clandestina. Foi a primeira vez que conheci a prisio de Barcelona, acompanhando minha mie. Aparece-me a cena do locutdrio ¢ até algo da conversa. Outra visto €a de um lockout; 0 est idinha na rua, aguardando tempo tempo para levar pao e carvao, ete. O tem: po dos Sindicaos lives, organizados pelos putes para asas- sinar os operirios e destruir a CNT. Triste época do ‘pistolei- rismo”, que teve de ser replicada pelos grupos da organizagio, Dele, 0 que recordo é ter-me inteirado quando mataram Sal- vador Segui, a uns duzentos metros de onde viviamos ¢ quase debaixo da sacada, onde vivia o excelente companheivo e amigo de meu pai, Tomas Herreros, que era, 20 mesmo tempo, seu 178 DEPOIMENTos domicilio, sede do petiddico ¢ da editora Tierna y Libertad, rua Cadena, 39 (..). Meu pai conhecia ‘Teresa Claram! é entrou em relagio com minha mie, Jé entio, pios do século, minhas tias ¢ meus pais Outubro de 1925 — Foi a grande Minha mae, com seus quatro filhos sem haver pisado na escola. Nao sci se fol a situacéo d. owa enfermidade de meu itmo maior, nao bem repo ‘meningite, ea circunstincia de achat-se ali minha tia S va de Luis Mas e, em seguida, de Octavio Jahn, um fra igente e precoce agitador e propagandista, cuja vida fo ‘uma aventura interessante ¢ longa para se contat, O futo é nos estabelecemos no Anahuac, alguns meses depois que Ascaso € Durruti o deixaram. Embora nunca tivesse ouvi muitos anos depois, fquei sabendo que haviam frequs mesmo circulo de amizades em que fomos parar. Meu pai aleangou um ano e meio depois. Penso que todos esses antecedentes puderam favorecer meu interesse pelas ideias (anarquistas), porém, sobretudo, foi minha Paixio pela leitura, desde que aprendi a ler. Possivelmente, me contagiou o vieus da minha anos mais velha do que eu. Uma vez, me meti com 0 Germinal ou A Terra, de Zola ¢ cla ‘me disse que eu era muito pequena para lé-lo. Talver nao tivesse anos. Quando liquidamos toda a literatura novelistica que havia em casa, que era tudo o que publicava La Revista Blanca e out cditoras, como Eirudies, ow entio, desde a Argentina, edigbes po- de clissicos russos ou franceses, entéio, nos metemos co todo tipo de romance, que era abundante na » na Avenida Uruguay, «2s quadras do Zocalo, a imensa praca no eoragio da M Ali, naquela cay Mujeres sees 0 racionalista, que Casa del Obrero Mur 1ca para relizé-la, gragas a0 pacto firmado com \ctuz, fevereiro de1915). Em apoio ao Governo \po Sanitério Acrata’, embora duvide m dlizer essa palavra, que na par- cela reservada aos que pertenceram & COM. Recebiamos a Novela Libre e La Novela Ideal que nos le- vava apenas meia hora de Ieitura. Hoje, nos pareceriam ne ingénuas, ou pueris; néo obstante, naquela época, considero a faram uma fing edcatva dé sna eA necessidade de lutar contra a ndo, a0 mesmo (8 sexos que pertenciam as “Juventudes Libertérias”, ou entio, ae dali a geral um nome, como o do Ateneu do Clot “Sol Vide", cujas excursdes apareciam freqiientemence. Tam- lo 0 Atcneu “Fatos”, do Bairro do Rat muitos outros. Ver tudo isso nas paginas da revista despertava- ia por nio poder compartilhé-lo. ‘A educagéo sexual nao era um tema que abordassem meus pais, Com maméc, jear-se muito, por- que além do mais, foi ficando surda como meu avé. Potém, na hhavia de tudo, néo apenas Sociologia ou , aos 14 anos, chamou-me a atengéo um. 180 Iniviacién Sexual), de G. M. Besséde. Obra mui reflete as conversas dos pais com seus filhos, me nas, dos 3 aos 20 anos. Emprestei-o a uma comp: se, maior do que eu, que me devolveu dizendo: “Po! isto2” Como se fosse um Embora ele s6 chegasse que & mulher ou & moga quer dizer, que soubesse ler e que tivesse um espirito des curioso, nio faltavam oportunidades para se auto-ed cultivar seu @ corrente neomaleusiana’ iniciada na Franga, por Pa através da revista e de pul imada também por José Prat, de se publicaram vitios folhetos, especialmente sua conferéncia A Las Mujeres. Propugnava-se, pois, a maternidade conscience ¢ limitada e ilustrava-se sobre os meios de evitar a gravidez, corrente foi-se ampliando, tornando-se mais variada e sugestiva com © aparecimento em Aleoy, em 1923, da eck vista Generacién Consciente, da qual seu edicor Luis Pastor, o incomparivel doutor Isaac Puente, mai conhecido talvez por seu tio divulgado folheto EY Comum Libertario, Ele foi o motor dessa revista, colaborando em gos, com seu prdprio ‘ou como “Um médico rural”. Artigos ci mulher, contracepgio, amor, sexo, temas sociais. Nés, devemos reconhecer que trouxeram 3 nossa cul tanto mais porque pese & st divulgadora, a seus livros ¢ intimeros 181 Mujeres tuners, sendo que em junho cumpre-se também seu centendrio e, como ome >, assassinado pelos fascistas em le foi o jovem ec especializados em psicossexualidade foi 0 j r Felix Marti Ibaiiex. Escrevendo p rventude, publicou ainda uma novela estupenda, a que mais me impactou, Yo Rebelde. E sobre 0 tema da juventude, que busca um sentido para sua vida. Pese a qual em geral, a menta- lidade no meio li 10 de evolu- nda, em outros Ambitos sociais. Por exemplo, © afiez sobre educagio sexual foi criticado, ‘slo €, menos foi tratado duuas ou trés veres na Estudios, ios era algo tabu € del Abor refoi Vo Uma ci idade de regressar para a Espanha. Era em prineipios de 1933, minha mae, como de costume, havia ido a sede da rua Mes d de casa, onde se reuniam os companheiros anarquistas mexiex- a duas quadras “Casa del Obrero da CGT mexicana em mundo, a0 que parce, unt quant, Os meicnoe sad cabo de dois ou txés dias, porém, os estrangeiros foram mantidos incomunicaveis ¢ logo, logo, foram deportados para seus paises respectivos,aplicando-se-thes 0 famoso artigo 33. Assim, meu pai, José Fontanillas, e Roman Delgado, companheiro galego, irrompeu levando toda 182 antigo magonista e quem, anos antes, acolhera no “r dirigiam Durtuti e Ascaso, foram ambos embarcad. panha. Um ano depois, chegivamos nés a Barcelo: pelo Consulado espanh Como desde menina me acostumasse ao cheiro da uido da imprensa e como havia praticado um pouco, do uns meses na Qt tes de partir e, nio quer © rumo de todas as minhas primas costureiras, orientei me 50s para as Artes Grificas e encontrei trabalho ei A Espan Iso. Pouco de chegarmos, famosa greve de Saragosa e 0 for gesto de solidariedade que se produziu a0 acolherem os dos grevis como sempre, estava em cont a sorte de entrar amigo Herreros, embora o periddico sofresse mui ros nfo pudessem ser pagos por 6 de outubro, revolu ‘Meus desejos de ingressar em algum atenew frustrados, Eu era muito timida e complexada para intiod me sozinha , por outro lado, minhas primas saiam com Brupo de jovens que, no verdo, iam todos os domingos & praia © no outono, faziam excursées. Terminaram por fazer tam teatro e bailes; porém, embora fosse agradével, entre cles sentia deslocada porque no pensavam com cu, se fizermos so as filhas e netas de Francisco Miranda, enteado de Ai Lorenzo, 0 avé do anarco-sindicalismo espanhol. ‘Mais ou menos assim, chegamos ao ano de 1936. Os fos, sobretudo os maquinistas de rotativa, ganhavam bon porque eram procurados ¢ cuidavam para que nio MuseRES Lines mogas, que éramos maioria, certa de cinquenta no total. Todo mundo estava de acordo, € nao sei por que, se foi idéia delas cou algo sugerido por algum jovem companheiro, 0 caso & que ‘me propuseram para ser delegada sindical de minha secéo que, como manipuladoras de papel, correspondia-nos a Segio técnica de Encademnagio do Sindicato de Artes Grificas que, naquela Epoca, maio de 1936, encontrava-se & rua Riereta, muito perto da Sio Paulo. Os “guillocinistas”, também ligados a esta segio, ‘nao me lembro se tinham seu préprio delegado, Cada semana, liquidava-se a cotizagio e traziam-me novos selos. Uma ver, vi anunciada na lousa: Assembléia de Litografia. E eu disse para as minhas companheiras: “Garotas, em tal dia haverd assembléia!” \Virias se animaram, mas s6 chamamos mesmo a atengio de meia diizia, cteio. Ai nao havia mais elemento feminino que 0 nosso. Depois das seis da tarde, quando saiamos do trabalho, no dia em que ia ao sindicato, procurava sempre interessar algu- porém, onde néo hé madeira... ‘ma jovem para acompanhar-me, O sindicato era, naquela época e hora, frequentado por muitos companhciros ¢ sempre havia algum jovem que se aproximava de nés par “Juvencudes Libertérias”, que, pelo visto, haviam comegado a funcionar no mesmo local. Eu nao dizia nada, embora tivesse intencio de afiliar-me. Entéo, ‘mostraram-nos a pequena biblioteca: avaliando-a, pensei com meus botdes: “precisa ver a que existe em minha casa!” Estava nessa quando chegou 0 19 de julho de 1936, Embora os milicantes combatentes, parece que jé no dor- ‘iam hé uma semana, atentos a0 que se temia, a sublevagéo fas- lade, estava no limbo ¢, naquele lindo domingo de julho, nao havia pensado em ir praia porque me havia safdo tum enorme furtinculo na axila, que dofa muito quando mexia © brago. A primeira imagem de que me recordo da rua onde viviamos, Rua Robador, 32, foi a de um homem, vizinho da mesma rua, que, com vor potente, anunciou: “Companheiros, 2 CNT ca FAI estio nas ruas!” Hoje, contudo, a0 esctever, 184 DEPoIMENTOS emocionam-me essas recordagées. Nao me lembro do que faria meu pai, sexagendrio € muito envelhecido, se foi ao jornal ou surdez; meus irmaos, 0 maior com os efeitos da meningite ¢ 0 pequeno, com seus dez anos, ec minha timidez, meus complexos e, sobretudo, meu brago ofa muito, ficamos todos em casa, vendo os acontecimentos da sacada, desde onde escutévamos a ridio da vizinha pronun- iar repetidamente uns anagramas migicos, que se algun tinhamos ouvido antes, era somente para denegt FAI. CNT-FAL... eram os principais protagonistas. Na n tum extremo e outro, logo pularam os trabalhadores? e leva ram-se barricadas. Viam-se as pessoas sairem de suas cas do bordel que existia em frente de nossa casa. Nao vi que se combatesse nas mesmas. © que havia que localizar er 05 “pacos” seguinte, a vizinha, assustada, me dizia que iam dinamitar Ata- razanas, ha mae, com s ver tes que, escondidos, atiravam contra © povo. No d imo teduto dos sublevados. Temia que a explosio hos atingisse. Mais tarde, papai apareceu com a primeira folha que publicou a “Soli”, Nela dava-se a triste noticia da morte de Ascaso e Cabterizo. Nao havia conhecido este nas Artes Griti- «as, jo outro haviamos cruzado um dia na Gran Via, indo a uma reunizo. Fiquei com muita pena, Creio que foi no dia 23 que saimos com minha mée para fa uma volta. Nas Ramblas, junto ao Sindicato de Metalur suns carros blindados, rapidamente improvisados p: partir para a frente, Por todas as partes, cram as que mais abundavam, embora se lesse também a UI (Union Hermanos Proleta No dia 24, vimos partir os primeiros caminhdes pat de Aragio, repletos de voluntérios, punhos para o al 185 ujeRes LipRes coragdes iam junto com eles. Creio ter sonhado, naquela noi- te, que eu também ia com eles, com Durruti no comando. Dias mais tarde, quando se preparou outra coluna, nds, todas as garotas, deixamos o trabalho: para irmos nos despedir dos “Aguiluchos de la FAI”, como eram chamados. Era corrente ver alguma mocinha aproximar-se de um miliciano para dar-ihe uum beijo de despedida. Jf era um outro ambiente que se res- pirava, mais natural, mais humano. Quebravam-se as barreicas dos convencionalismos. Apenas reintegrados 20 trabalho, um dos delegados, Vidal, ‘os reuniu em sua casa, Entre outras coisas, propés-nos despedir Eugenio, nosso encarregado e deles, por ser mau carsver, Pro- punha-se também a ser o porteiro de uma das casas do dono, Rieusset. Foi uma medida exagerada, pois nao poderia viver como porteiro, Era suficiente té-lo deposto do cargo. Convocou- Se 0 patrio, que estava passando férias em Ségaro. Recordo como foi comico seu aparecimento. A camisa aberta, sem gravata, pu- rho para o alto, dizendo: “Salve, companheiros!” Que comédia! ‘Tardou pouco para tomar o caminho de Villadiego e deixar tudo para tris. Deixou 0 getente em seu lugar. Logo ele que propos deixar 0 encarregado foi o que facilitou 0 aval ao patrio para ir- se. Fiquei sabendo disso muito tempo depois Contudo, a volta 20 trabalho nao podia colmar a inquie- tasio que eu sentia por dentro e tive minha pequena aventu- ra que gostaria de contar tal e qual evoco.hé quarenta anos, Chamévamos as erés Antonia; porém, uma cra a Betty, outra a Antonia e eu a Tony. Deixar que a esttela das recordagées nos traga os eflvios de horas gratas ¢ emocionadas, de momentos dlgidos de nossa vida, de episédios inesquectveis da juvencude é semti-se vibrar ¢ aumentar as energias para o presente. Um cenirio: Barcelona, 1936. Um cilido més de agosto € las ¢ promissoras também aquelas jornadas revolucionétias que sacudiam grande parte do solo hispano. qualquer da cidade, Condal. Dele dois ou trés mocinhos aprendizes, imberbes a Partiram com as primeitas colunas até todos el agto. Juve Tosa eatrevida, o fulgor do ideal prendido ne thr eb ‘no peito a coragem e a insia de abater os que se havi do para afogar suas liberdades. ZTrés mocinhas decidiram seguir scu exemplo, dh comtagiadas pelo fervor revolucionério daqueles dias nascida num lar libertirio, por algo mais que wincomodan, to por dentro e a empurrava, por cima de seu pacifismo, 'mas e ainda de seu temperamento pusilanime do criangs, a enfrentar como tantos outros o perigo e deh jumto a cles, a libercade ameacada de seu povo. Decididas entusiastas irromperam nas Ramblas, 6 asseio barcelonés ¢, nfo querendo dar preferéncia a um ou ‘0 anagrama, subiram a0 primeiro centro de alistamento thes apareceu no passeio, coztespondente ao PSUC. © Que tipo de arma vocts mansiam,curta on larga”, pergun- taranlhes depois de formulae sua petigfo, Estas se interrogaram com o olhar ¢ determinaram: — “Curea.” Nao sabendo mencire penhuma dels, pensaram que ess fatia menos dan. se foram, com a convicsio de que os h Ramblas abaiso, na de Santa Monica possibilidade de serem ticei dellers,estava Sindicato de Transporte‘Terresre ¢ Maritim d CNT, anunciando uma expedigéo para Maiorca, Nova decepeio. Néo admisiam mulheres, Havia apare alguns casos lamentéveis, principalmente de conti prefetiam que elas companheiro Juan Yagie, que ia & frente da expedigio, N int©, como as mocinhas estavam decididas a 187 uyenes Lines sério e decidido, mudou de opiniao e disse que seria mais brando se elas trouxessem um aval do seu sindicato. Como alma que leva das de sua missio e de responsabilidade, elas se sent Em seguida, seguiram-se dias de impaciéncia, de espera de que saisse a expedicio. Por fim, uma noite, parecia que ia final- mente. O barco sairia de madrugada. Prepararam suas coisas. Deram-lhes uma manta, um roupio e alpargatas brancas. Fariam arte do equipamento sanitatio. ‘ Rath zadas, manta ao ombro, acompanharam-nas a fe da Plaza Real, em busca de comida. Uma aco- punhos para 0 140 sairia até 0 dia seg E com 0 novo amanhecer, a alegria, se quebra. O pai seus olhos. sem validez efetiva : Juan Yagiie, 0 valoroso militante do Sindicato Maritimo, morto depois na frente de Huesca, na tomada do Estrecho Quinto ou Monte Aragio, fica s impega Ele, antes téo refratdrio as mulheres, sentia-se 185 mocinhas. companheiro presenciava emocionado a cena ¢ as ligrimas, 188 Deroimentos cava formas Ramblas, elevava seu olhat aquela sacada onde viveu horas inesquectveis e, for -lo, parecia-lhe ver de novo fulgurar o gr NT SINDICATO DO TRANS! ar muito, Regressa 2 que chi se na que passou a De delegada sindi representar as garotas no Comité do Controle, onde ‘20s reunfamos aos sibados de tarde, quando nio trabalhévamos, © que nao quer dizer que quando houvesse algum problema, a durante o trabalho. ram-se alguns poucos salérios burocréticos mais ele- vados, porém isso, a0 fim ¢ a0 cabo, nio resulcou em proveito esta: nio € po nossa se¢io no Sindicat antes do moviment vam pelo tempo que es se nada, Houve muita desi outros, era a ago que se desenrolava na diam rebaixar as at es que se conferiam a 139 MUJenes LiBRES Controle, tendo em conta os tempos revolucionérios, ¢ outros permaneciam curtos, muito curtos, limitando-se quase a um controle de saidas e entradas no livro de Caixa. O nosso era bem _mais desse tipo. Inclusive uma ver, recusaram a ideia que tive de expor no mural uma bela decisio das Federacoes de Indistria ue havia aparecido em Tierne y Libertad. Como estivamos fartas, um dia ocorreu-nos, a outra com- panheira ea mim, ir até 0 Conselho de Economia e consultar se sctia possivel coletivizar a Empresa. Estava ali um companheiro que quis convocar uma assembleia geral; creio que embora jo- sgasse contra nds o fato de haver capital estrangeiro na Empresa, isto teria sido possivel se tivéssemos chegado a cem emprega- dos ou a uma certa porcentagem de votos que nao obtivemos. ‘Algumas foram embora da Empresa e eu também disse a meu pai, que havia se aposentado do Solidaridad por causa de set estado fisico, que falasse por mim a Nieves Nunez, 0 Admin trador, p quem ele quisesse. E foi assim que pass a trabalhar na Administragio do Solidaridad Obrera. De 18 a 21 pesetas por sem: em outras nento, contou uma companheira que deixou a litografia pela fibrica, também se pagava o salirio nico, todos por igual. Jé na Solidaridad, onde estivamos, como se diz, em. «asa, no me ocupei de cargos; ia ao sindicato para pagar e isso cra cudo. Fiz minha militincia nas “Juventades Libertitias de ‘Artes Grificas”, no momento em que as coisas se normalizaram, € se reconstitufram as “Juventudes” no mesmo local do Sindi- caro. Desde a primeira assembleia, propuseram-me um cargo no Secretariado, embora eu néo estivesse sozinha. Nao sei se € porque me achavam com cara de séria. Como 0 que havia sido nomeado sectetério me chamou 4 parte e insistiu comigo, deixei-me convencer e ali, naquela pequena sala que nos detam no principio, naquele ex-convento apropriado no n.69 da rua do Hospital, sentada em meio a tantos rapazes, eu, toda timida, 190 DEPOINENTOS colhava desesperadamente para a porta, vendo se aparecia por uma silhueta fem Por fim, veio alguém que nos v assiduamente: Marina Herreros. 25. As assembleias de delegados ficavam, as vezes, entre os partidrios da AJA (Alianca Juvenil Antif nfo cram, ou entio, por outros motivos. Eu, entio, et quietinha ~ quem me acreditard agora? — e gostava mais dos gritavam menos. Ali também me abordou, um dia, 0 secr Federico G. Ruffinelli, que quetia convencet-me 1 aceite cargo no secretariado. Eu, com meu complexo de inferioridade considerando sempre que nao estaria & altura, disse-he que 1 « quando houve a Assembla ealguém props meu nome, quis

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