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Narrativas da Desigualdade Memiérias, Trajetorias e Conflitos José Sergio Leite Lopes Marta Cioccari (Organizadores) Mauad X Digitalizado com CamScanner DE(S)ILUSOES BIOGRAR TCAs Anténio de Salvo Carrigo! Este artigo foi baseado em entrevistas realizadas ¢; A de panificacao e confeitaria do Servico Nacional de hon Fabiano, (Genai), entre novembro e dezembro de 2011. As e pidas como instrumento para pensar sua traj narrada, buscando articulacGes, paralel: Instrutor tendizagem Industrial As entrevistas foram conce- jetoria ¢ a maneira como seria 0S OU contradicées 2 entre a narrativa e sua posi¢ao atual de formacao de profissionais por meio desse sistema d le ensino profissionalizante. No entanto, 0 que se segue nao é um relato bem construido como Os fi- Ihos de Sanchez, por exemplo, em que Lewis consegue articular uma série de entrevistas sob a forma de blocos coesos de narrativas sobre a vida de seus interlocutores (Lewis, 1970). Tampouco temos uma autobiografia nos moldes das Memérias, de Gregério Bezerra (1969), ou a espécie de didrio que € Quarto de despejo, de Carolina de Jesus (1983), relatos ricos e espontaneos de pessoas especialmente sensiveis a este tipo de esforco intelectual. O que estara em jogo aqui, como se vera nas proximas paginas, nao é tanto a trajetéria percor- tida por Fabiano, com suas reflexdes e seus projetos, mas prop! ° ia narrada. Mais especificamente, procurarel corpo da maneita rio proceso de construcio de uma trajetori: explorar uma situacdo na qual essa narrativa ndo ganhou c como esperamos em nossos trabalhos. : minhas expectativas ¢ atuacao, portamento Quero chamar a atengao aqui para a minha : coon ‘ama critica 20 COM frustragdes, Em momento algum 0 que segue ¢ —— Pé: Doutorando em i Jo Programa de : Antropologia Social Pel Rio Social (PPGAS), Museu Nacional, Universidade Federal do a Todos os nomes foram trocados. 1 35 DE ‘Narrarivas DA DesiGuaLDa! a Digitalizado com CamScanner de Fabiano: no maximo, pode ser lido como uma autocritica as minhas préprigg habilidades de etnégrafo. Acredito que uma andlise sincera daquilo que, qe alguma forma, foi um facasso etnogtifico, pode ser bastante produtiva pars refletirmos sobre nossos trabalhos, inclusive os bem-sucedidos. Procurarei, aq. sim, pensar na situago mais do que no que foi dito, até porque o proceso , deu de tal maneira que seria impossivel separd-los. Conheci Fabiano durante minha pesquisa de mestrado, em 2010, que desen. volvi como aluuno do curso de padeiros do Senai. Foi ele o principal professoy dessa turma, acompanhando-nos desde as primeiras aulas de matemética até 4 pratica da oficina, passando por todo o corpo tedrico previsto no curriculo, Em parte pelo atribulado final de ano, que coincidia com uma etapa das Olimpfadas do Conhecimento, importante evento que coloca em disputa todas as unidades do Senai em cada area, mas também pelo préprio ambiente das aulas, nas quais muito se conversava sobre experiéncias relativas ao mundo do trabalho, nao realizei um esforco biogréfico mais intenso, adiado para possiveis desdobra- mentos da pesquisa. Tinha algumas informagées a seu respeito, mencionadas em diversos mo- mentos do curso, e acreditava que um investimento biogrAfico seria proveitoso para explorar algumas quest6es relativas a qualificagZo profissional. Sabia, por exemplo, que havia nascido em Vassouras (RJ), onde fora aluno do Senai, que havia vencido 0 evento que correspondia entdo as Olimpfadas e que havia tra- balhado como padeiro fora do Rio de Janeiro, antes de se tornar professor e vir para a cidade. Sabia, ainda, que tinha duas filhas, adotadas. Sua mae aparecia frequentemente em suas conversas, assim como algum irmo ou irmé e alguns sobrinhos. Tinha planos de crescer dentro do Senai e iniciara recentemente uma faculdade de pedagogia a distanci lado, soava como loucura. A ideia de abrir uma padaria, por outro Encontrei-me com Fabiano poucas vezes apés o fim do curso e a escrita da dissertacéo. Em meados de marco, fui ao Senai entregar cépias do meu traba- lho, recebidas com um misto de interesse e surpresa, e promessas de leitura € ios. Ja com o objetivo de produzir algumas entrevistas, tornei a vé-lo em novembro. As primeiras mudangas foram sentidas logo ao final da grande tampa que leva ao prédio. Enormes caixas de madeira envoltas em plastico che- mavam a ateng4o na entrada, ¢ a drea da oficina destinada a confeitaria estava desativada, pasando por reformas gerais. Dona Rita, a faxineira, me reconhe- ceu como ex-aluno. Perguntei por Fabiano e ela respondeu que estava em sala de aula. Disse que esperaria ali, que nao queria atrapalhar, mas ela nao me deu 352 ANTONIO DE Satvo Carrico Digitalizado com CamScanner 4 porta. “Jé falo coi een ose pateu a P J we m voce.” Convidei-me para assist nti. i 6 ir ott a, 0 que ele consentiu. Apés as instrucées para o Preparo da ci a0 final cae inte, conversamos sobre a turma atual, bem m, fa ciabatta no = 7 : aior do i a do prédio e, entdo, comentei sobre meu int ae S 'eresse em realizar uma on le chegou ao Senai, seus en o dia segui i nose Marcamos para dia seguinte, a tarde, pois ele nao daria aula. om ele, saber mais sobre sua vida, como el A pRIMEIRA ENTREVISTA Cheguei um pouco mais cedo e fui logo encaminhado por Maicon, funcio- nitio responsdvel pelo setor de estoques, para onde Fabiano estava: uma sali- aha escondida (aparentemente usada como um depésito de cadeiras), quente vcamo barulho do ar condicionado da oficina. Fabiano estava sentado em um tanto, usando um computador. Desculpei-me por chegar cedo e disse-lhe que sxperriao termino do que estava fazendo. Fabiano me disse para sentar “Vai filando ai... pode perguntar.” Insisti em que terminasse o que fazia, mas ele mio considerou a ideia. “Nao, nao, vai falando ai”, decretou Fabiano, enquanto rmanuseava incessantemente seu computador. Perguntei se se importava de que fosse gravada, e ele consentiu: “Sem problemas, claro”. Preocupado especialmente em ndo me perder em meio a uma profusdo de historias, procurei esbocar alguns topics que me interessariam previamente, isto 6, complementos para o que vi na pesquisa anterior. Como durante 0 curso episédios de sua vida eram trazidos para ilustrar a aula de maneira bastante es- ontinea, estabeleci uma estratégia de mencionar essas passagens n expectati- vade que Fabiano entrasse em maiores detalhes pudesse fazer as associacoes que achasse pertinente. . me surpreenden ¢ comecel um tanto A postura “dispersa” do professor cor o sua atengao se dividi quanto titubeante a entrevista, enquant computador, com grande margem para o tiltimo. ia entre mim € 0 ~B.. Veet aqui hd quanto tempo? Quer dizer no Sena? . ~ 16 anos. [resposta sucinta, com tom de «préxima!”, sem parat de oo usar o computador} ~ 16 anos? ~16 anos. ~E... Como professor? 353 [Nanpativas DA DEsicUaLDAPE Digitalizado com CamScanner ~ Como professor, entrei com... é, 16 anos, ~ Voeé entrou com 16 anos? ~ Nao, eu t6 no Senai hé 16 anos. = Como professor? = Como professor. ~ Mas vocé estudou aqui também, né? ~ Fstudei no Senai de Vassouras... Quando tinha 16 anos (tisos) (peque- na pausa). Ai depois eu participei de um torneio que hoje é chamado de Olimpfadas do Conhecimento, mas antigamente era chamado de Torneio de Formagio Profissional, Af eu fui e ganhei primeiro lugar do Brasil em 94, Ai logo depois disso eu entrei, em 95 eu entrei. = Entrou ld, ~ Laem Vassouras ~ Entrou dando a mesma aula? ~ Pando aula, a mesma coisa. Ai eu casei aqui e pedi transferéncia pra cd Ai vim morar aqui. = Iss0 foi quando? ~ Eu t0 aqui ha seis anos. Vai fazer sete anos jé que eu t6 aqui. Nessa uni- dade aqui. ~ Voeé... Voc® falow que conhecia a Natalia de ld, né? ~ Conheci a Natalia de lé, ~ Ela fazia o qué lé? ~ Chefe la. ~ Veio pra eé também? Todo mundo? = Veio pra cé também. silencio) ~ Voo® comegou a dar aula... Vc# entrou como aluno com 16 anos ej foi divto pra professor? ~ Nao, fui professor com 21. —Eeentre esse... ~ Tava estudando 1s. Terminando segundo grau... Estudei 14 dos 16 aos quase 18 af depois... [siléncio] = Vocé trabalhou em padaria? 354 ANTONIO DE Salvo Cannio Digitalizado com CamScanner shei em padaria, trabalhei em muitas pad oe lari: sue voc foi pra Manaus, né? 7 : Maas fui pra Rio Verde, na Perdigo, k parra do Pirai, que & mais perto... Trabalhei nsw ve supermercado _ yb Pl como foi parar nesses lugares? gow 150 60 pessoal que estudava lem Va oN ssouras 14, af 0 , af o professor me indicava, ey dou aula tu ia, Mas isso foi antes! [como que mudand {silencio, interrupcées] lo de assunto] Hoje asrespostas sucintas ee com minhas preocupacées entrevist- Embora simpatico, Fabiano limitava-se a responder di aa rat posivel, repetindo minhas prOprias aon he ae mas Mo espaco para elaboracoes mais alongadas, o que se on ee a farorrabalhar com sua biografiae apontava para um proeesso eee ome preparar para a entrevista tinha, sobretudo, dois autores em mente: gerauxe Bourdieu, que, cada um a seu modo, expressavam muito enfaicamente guns temores em relaco a0 uso sociolgico da narrativa biografica. De Bertaux, caegava uma preocupacdo com 0 foco da pesquisa, isto é, em ter claros os ob- iivos aos quai a entrevista 8 : oo fe referia? Bourdieu, por sua vez, para lidar com a “jJusdo biografica”, embora eu a visse sobretudo em seu carater produtvo, de concepgao €articulasso de categorins de pensamento.* jxar Jevar pelo fluxo de in~ ler o que seria o verdadeiro foco dda pesquisa. De § de Carolina de Jesus © Gregorio Be" 1 vezes, nos vemos diante de ‘Ambos apontam, enfim, para 05 Tiscos de se dei teressantes narrativas e perdi fato, narrativas bem construidas como as zeta possuem uum forte poder de sedusio & Po segundo 0 autor, permite SPT ‘colocar 0 sujeito ividades em evidéncla, pretudo, os objetivos do ‘pesquisador 0 foc0. Como umn fim: N30 € O ide comparagoes © 1 biogréfico”, q¥e suas subje! ; ae defenda 0 chamado “enfoau eo nocivo & anélise € Ol Nio se ae 1999) deixa claro que $4, s felato em si, (e dar voz ao sujeito, simplesmentey tomande se ues Vetificage J, mas as informagoes que se podem ‘extrair dele par 3s, construir modelos de andlise. —~ ir a insufici éncia desse fo is na concepsao de t Je coes na pesquisa sociol dos sucessivo 7 2a nb a vida ohne procura denunci ih, iaso biog” pautada pid, que, no que conceyn 3 le sting essencia so & “gs estat eee das relag site dos ours agentes envolvidos 0 5 possiveis”. (1996, p- 190) 355 Naanarivas DA esiGuaLDar® Digitalizado com camScanner dificuldades semelhantes as que enfrentamos ao tentar lidar com grandes obras literdérias, dificuldades que passam pela definicfio do que deve ser estudado ¢ mesmo como inser-las em nossas pesquisas. Mas 0 que fazer quando 0 que ocorte € justamente o oposto, isto é, quando o biografado aparentemente se" nega a produzir uma narrativa com tais qualidades? E certo que, tal como alertava Bertaux, mesmo as mais bem acabadas obras no se realizaram sem qualquer trabalho mais intenso tanto do narrador quanto do pes- quisador (Bertaux, 1999). E uma fetichizac4o da biografia, o apagamento de suas condigdes de produgao, outra face da ilusdo biogréfica apontada por Bourdieu, que, se pode de fato ser ttil em diversos momentos da exposi¢ao de uma pesquisa, deve seralgo consciente, na medida em que todo o trabalho envolvido na sua produo 6 também bastante revelador de uma série de quest6es. Desse _fo que ele possa iluminar aspectos importantes da situacdo em questao, Mais especificamente, uma compara¢io entre as dindmicas das aulas no Se- nai e as da entrevista pode revelar-se produtiva: de que maneira experiéncias vividas eram trazidas durante o curso e de que maneira surgiram nas entrevis- tas? Utilizando os termos de Florence Weber, quais so 0s “efeitos dos deslo- camentos das pessoas, dos objetos e das relagdes de um contexto de percepeio a outro” (2009, p. 259). CONTEXTOS DISCURSIVOS Uma das caracteristicas marcantes do espaco da formacao de padeiros no Senai € uma profusao de conversas que se misturam ao contetido previsto € ditam 0 ritmo das aulas. Uma aula sobre diferentes tipos de farinha logo se torna pretexto para que Fabiano conte um episédio de sua vida, uma historia * que presenciou ou que soube por alguém. Um aluno faz um comentério a res peito de uma experiéncia em sua pizzaria, e Fabiano conta outro episédio de sua vida. Outro aluno pode pegar 0 mote e trazer uma questo, complementada Por Fabiano, e assim sucessivamente, tornando improdutiva uma separacao en- tre conversas e aulas, 0 contetido “formal” e a informalidade das conversas. O ritmo lento das aulas tedricas e as frequentes Pausas promovidas pelo preparo de um pao fornecem um contexto especialmente proveitoso para s¢ trocarem experiéncias e conselhos sobre a profissio. 356 ANTOMIO DE Satvo Caanigo Digitalizado com CamScanner agicpasio nessasredes dscursivas faz parte da form ‘o, mas também - e sobretudo mento de distingao fomentad a de modo muito menos i ago de um habit -se it 7 : Fefere a um habitus da qualifi- Por tals trocas. Falar sobre o pas- impactante do (1989, 1990, 1992), por exemplo, & a eee a a: gnificado, suas expectativas e projetos, °°" APS -opsio a off per sen io ul embo peak esi sibigeS pmo pesquisador, esse é um contexto bastante etl, & medida que que seen com mts aelidadee espontnidade. Mesno qu cao assunta we edsido por mim el seria rapkdament incorporad apopiao d was inceressantes € reveladoras sobre uma série de processos em curso yee certo rlaxamento, bastante iti no sentid de dssolver preocupacées se opostasinterferénciasexcesivas do pesquisador em seu campo, conser sf assim 0 fescor de associagSes motivadas pelos préprios “natives”. fabiano, por sua vez, assinsi como os demais professores, trazia elementos desua vida 0u reflexes sobre a profisséo com certa abundancia. Essas passa- gens, porém, ndo eram aleat6rias, tampouco levavam a longas divagagSes: uma sla sobre higiene motiva um comentario de uma aluna, e Fabiano menciona um episbdio cotidiano: Mas voce ve, o que a gente vé por ai... descuido, despreparo... Uma vez eu entrei numa padaria onde me sai um infeliz de bermuda e chinelo, todo sujo. Eu virei pra atendente e perguntei: “Vem cé... Quem & ele?”. Bla virou ”". “Entao suspende o pao.” Outra vez disseram pra néo ”, Nao dé, né? Voces e disse: “O padeiro me preocupar, que “ele nao é padeiro, é s6 ajudante nio vao mais conseguir entrar em padarias, e nao s6 por saber fazer plo. ‘erto nfo conseguimos fazer errado... Ai voce ve Depois que sabemos 0 ¢: 850. esse tipo de coisa. JA bati de frente com muito dono de padaria por i E mercado? Trabalhando em mercado, a gente ve cada coisa nojenta.. Eu sempre dizia pra todo mundo pra ficar longe, ndo comprar I. A.luna comenta que é um absurdo e uma falta de respeito com 0 cliente, € Fi eek ’abiano prossegue com outra historia: Claro! Gente, se vocé parar pra pensar e observar as coisas que acontecem..- Vocés vao ver quando sairem daqui... 0 perigo que € come? na rua. Eu tava com a minha irma e minha sobrinha saindo do cinems © parei numa barraquinha dessas de cachorro-quente. Tinha s6 uma pesso2 vendendo, Preparando tudo e recebendo o dinheiro.Elas pediram os dels, 68 urd 357 [Nararivas DA DESIGUALDADE Digitalizado com CamScanner i i vendo, A mulher com aquele dinheiro entre 08 dedos, pegando sasicha motho, batata... ¢ dava o cachorro-quente, pegava o dinheito com a mig, e continuava a fazer outro assim, na maior tranquilidade. Na hora que, montou o meu ¢ foi me dar eu falei “Nao, nG0 quero nao”. Ai comeca: “py, que io?” Eu disse que a mao dela tava suja, aquelas notas eram imundas A‘ vera minha irmé falar que eu sou chat, fresco... Mas eu t8 certo, que tava errada era. a dona do cachorro-quente! Se ela quisesse comer, problems dela, eu falei, “Aqui eu nfo como”. Agora eu passo por Ide a mulher me Mas 6 inevitavel. Vocés vao olhar de cima a baixo, yer olha com cara feia. 08 gestos, a higiene, os cuidado: Se as conversas giram em torno do salétio, ele investe em outro epise, sua vida para refletir sobre as condigdes de trabalho: Mais que salério, o que vale € o respeito, as condigdes de trabalho, Aqui tem quiproqué, mas tem respeito. Por exemplo, férias em marco: tem que ser que nem escola. Que que adianta tirar férias sozinho, sem os filhos, afa- milia? Se o trabalhador nao se da bem com a familia, nao trabalha bem. Tem que lembrar que é uma pessoa, que chora, sente dor, tem uma familia... Se © patrdo nao enxergar isso, fica essas briguinhas de patrao e empregado, Voce vé, eu trabalhava em um lugar que eu fazia hora extra quase todo dia, © outro que trabalhava comigo também. Mas nés dois tinhamos outros empregos depois, e nao dava pra ficar até mais tarde ld, Um dia o patréo mandou ev ficar e eu disse nao. Af ouvimos que ndo ajudamos a empres Tem que saber dos direitos... os seus ¢ os dele. Nao se trata de um investimento biogrifico de grande folego, mas de pequenas intervencOes que ilustram e dao sequéncia a certos assuntos. No entanto, essas pe- quenas historias revelavam-se muito esclarecedoras ¢, articuladas posteriormente, Particularmente boas para se pensar varios temas relativos aquele contexto. Foi baseado nessas associaces que pensei nos rumos que procuraria nas entrevistas. No entanto, a situagio que encontrei era bem diferente. Se 0 encadeamento de temas era feito de maneira dinamica no curso, 0 formato da entrevista pareceu engessar essa criatividade. Focada exclusiva € exaustivamente sobre a biografia, esse voltar-se a si mesmo, a entrevista s¢ ostrava Pouco produtiva na comparacao. Nao apenas nao esclarecia muito mais algumas passagens que eu conhecia, como algumas delas perdiam muito em certo tipo de atencao a determinados detalhes. Quando o tipo de motivaga0 358 ANTONIO DE Satvo Carrico Digitalizado com CamScanner guna passou, por exemplo, uP ia Fai ' pm curso que havia feito em ou a de uma insatisfaca i 3 insatisfacao de um aluno em relaggo institui¢ao para um i um isolay “vida” igo pasado como fEm, a5 tespostas passeram de menos gu fui 4 dar um curso de pizzaiolo, Cheguet lie perguntei pra di irctora, n rdbom, onde esto as apostilas? Bla disse que no tinha, Como nao tinh, , - Como no eu vou dar aula como? Mas t4, né, tudo bem. tinha, Al eu pedi os ingredi ‘ ‘ ingredients: linguica, atum, essas coisas. E ela vem me dizer que tinha s6 mussarela, que nio ia comprar essas coisas néo, Eu ia passar uma semana fazendo pizza de mussarela? Mas o pior nao ¢ isso: ndo tinha nem cozinhal A gente ja ter que sair de la, ir até um outro lugar pra usar uma salinha com forno, um cubiculo. Ai eu falei que nao, tirei meu time de campo. Nao d: : Para um resumido e, talvez, desinteressado: = Dei aula na Faetec® e jé dei uma aula no Senac -E como é que... — Faetec porque eu me inscrevi no... me inscrevi né, no site da Faetec e... comecei a dar aula. ‘A maior dificuldade era transformar a entrevista novamente em um diflogo no quel eu pudesse observar ¢ escutar, no interrogar, usando os termos de Weber (2009), preservando assim as iniciativas de classificacao € dominio sobre suas palavras em detrimento de “respostas-espelho” das questbes e expectativas projetadas que, infelizmente, predominavam. Eevidente que nao foram apenas momentos de frustragio c repetigéo. Em alguns instantes, Fabiano voltava-se para mim (ou para si) ¢ elaborava um pou- co mais suas respostas. Vejamos alguns desses momentos: = Como foi essa passagem [trabalhando em padarias]? cu precisava trabalhar em padaria, eu precisava..juntar ave tinhade Imente diferente. Pra poder me técnica com a pritica dos padeiros. Que é total jo aluno assim... dar dica mes- formar um profissional completo ¢ poder falar Pr r - mo de como é a vida lé fora, né, nfo s6 aqui, fazer pao aqut émole, ne, aqui é {cil fazer pao. Quero ver fazer pao Ié fora. ‘Aigracas a Deus, pra mim foi timo. — Fundagdo de Apoio a Escola Técnica (Faete0) Servico Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). [Nannarivas DA DEstGUALDADE 359 Digitalizado com CamScanner EDS, ‘i OS = Voeé jd queria dar aula? Desde. = Queria, sempre quis. = Antes de fazer 0 curso? _ No, antes de fazer 0 curso eu 86 estudava, Hoje eu trabalho e faco fa. culdade, = Vocé aprendeu tudo aqui. ~ Aqui, nfo fazia nada em casa néo. Fazia coisa boba, de fazer bolo, af todos ‘os meus irmaos faziam, né? —E como & que vocé chegou ao Senai para ter aula como aluno? _ Bu fui fazer inscrigfo. Eu fui fazer inscricao I em Vassouras pro curso de mecinica, na verdade, af néo tinha mecanica, 6 tinha padaria. Ainda bem, ‘Ai fui fazer padaria, Ai eu gostei mais. = 0 curso era igual, continua igual? ~ Nio, hoje é muito melhor. Muito melhor. Hoje é mais técnico o curso, tem muitas coisas que nfo ensinou na minha época, que ensinam hoje, que a gente tem que estudar pra isso, pra poder... Porque o mercado de trabalho foi exigindo cada vez... 6... pessoas mais qualificadas, entendeu? Ento hoje vocé sai daqui pronto para ser um técnico da Bunge, da Pullman, pra tra- | balhar na Wickbold, trabalhar nessas empresas é... de porte muito maior, né., mas... — Por que vocé saiu das padarias? Parou... — Porque eu ndo gosto de nada que me prenda, Eu nao gosto de ficar fazen- do a mesma coisa todo dia. Vendo a mesma cara todo dia. E assim, padaria a gente trabalha em padaria, a gente acaba ficando muito preso, né, muito preso. E eu nfo queria ficar preso. ~ Preso como? ~ Ficar preso em... vocé fica limitado, em fazer aquilo, e vocé nao consegue expandir, criar coisa nova... Nao dé, Padaria é coisa mais... é muito limitado. ~ Vocé nao tinha a sua padaria, né? Vocé... ~ Nao, nio tive padaria, nao, trabalhava... trabalhei... & Endo quis? ~ Nao, ndo quero. Jé quis uma época, hoje em dia ndo quero mais nao. Néo quero acordar cedo, no quero perder noite de sono, nao quero perder fim de semana, nao quero perder feriado, nao quero nada disso. Té bom. Do 360 ANTONIO DE SaLvo CaRrico pee _ Digitalizado com CamScanner jeitoque t,t bom. aqui tem tudo isso? _Tem, tem tudo isso, tem tudo isso, ~Teo mundo Ede Sobran, de Visouras Oden eu dell. Eu éque nfo tenho pacéncia Assim eu nay cou dotipo, cues que no asc pra fica inca em algun hugor ses Por i Engenho Novo pra Matic. Pra mim a vida 6 feta de que td sempre me movimentando pra li ¢ sou muito desassossegado, mui 880 eu mudei aqui do movimento, eu tenho coisa dreto, entendeu, eu tenho que té fazendo - ‘um monte de coisa ao mes- ro tempo. Mas eu sou assim desde pequeno, ‘ desde crianga. A tendéncia é fcar mais velho e ficarpiot:Fica desassosseg : ado... T4 sempre estudando, fazendo alguma coisa nova, entendeu? ~ Voce conheceu ele [o filho recém-adotado] onde? ~ Num projeto de apadrinhamento que eu fui convidado, Ai no inicio eu no queria, porque eu nao queria apadtinhar um menino de 13 anos, por causa das meninas. Af eu fui convencido a conhecer ele, Ai conheci ele, ja era. Ai fol amor & primeira vista. E ele é rouito tranquildo, tranguiléo mes- ‘mo, tranquilio... Tem boa indole, entendeu? Né? Algumas criancas da ado- s#o passam por um processo muito interessante que € eles tinham tudo pra nao valer nada. Porque & muita rej io, né, que eles sofrem. Primeiro do paie da mae, depois da familia... Porque se chega a ir pra adogio é porque nem a familia quis, nem de um lado nem de outro, né? Entdo alguns, né, a maioria, tinha tudo pra num ser... [para ser] pancadio da ideia, e nao sio. Preferiram seguir um outro lado, o lado certo, entendeu? E isso eu admiro Muito. Porque... tanto elas quanto ele passaram por coisas que eu nunca Passei enquanto crian¢a, nem nunca vou passat, porque nfo sou mais crian- S@ ento nfo vou mais passar pelo que eles passaram, né, e conseguiram sair vivos disso. Com sequelas, claro, ninguém passa por um... por uma ex- eriéncia dessas de abandono familiar sem ficar com mégoa, né, ficar com magoa, né? Mas... passaram vivos... iss0 que cu acho legal. Mas fora isso ‘4 tudo tranquilo, tudo bem... tudo bem... tudo bem... Eu a estressado, brigo mermo, dou uns berros mermo... Ai sae correndo, af depois eles Voltam, normal, normal. Coisas de familia mesmo, normal. ~~ E quer ter mais filhos? ~ Nao, meu filho, ja falet até... Jé sacaneei a juiza lé no dia que fui falar do [Nanaarivas Dé DesicuALDADE 361 Digitalizado com CamScanner nosso filho lé falei assim: “TO ligado! T6 ligado”. Quero mais filho nao. Tras j4 6 0 suficiente. Na verdade eu queria quatro, mas ndo quero mais na (risos) E eu queria quatro filhos, voce acredita numa coisa dessas, loucura? Dois meninos ¢ duas meninas. ~ Ah, 36 falta uma menina agora! ~Néo, nao falta mais nada... nao... ndo... nao... no... Da pra rire pra chorar trés filhos, que ¢ isso. E muito dinheiro, Ant6nio... € muito dinheiro. Ima- gina ele vindo agora, é tudo... que era pra elas agora é com ele também, né? (...) Mas é assim mesmo. Daqui a pouco passa tudo isso, eles to grandes, vao nem querer saber de mim, v4o querer morar sozinhos, querer casar, arrumar, dorme suja, dorme sujo... Af jé era... af jf era.. Voce ja casou, nao, né? Té enrolando ainda? Muito embora o efeito de reuni-las por escrito, uma apés a outra, longe do res- tante da conversa, dé uma impressao diferente, essas poucas “ilhas” de uma ilusao biogréfica mais acentuada em vez de esclarecer ou produzir algum sentimento de que a conversa estava rendendo do ponto de vista da pesquisa e, sobretudo, no que se refere a este investimento biogréfico, se tornam ainda mais frustrantes. E inte- Tessante como os “sempres” se manifestam em relagao a profissio de professor, as- sociados a elaboragbes sobre o gosto pela panificacdo em detrimento da confeitaria, que, em outro momento, relaciona com a casa, ou ainda suas formulacées sobre 0 sentido da vida como movimento e uma esséncia “desassossegada”. Mas o cardter esporddico e descontinuo dessas falas mais aponta para as dificuldades do restante da conversa do que se impée como solugdo. De qualquer forma, Fabiano parecia elaborar mais seu discurso quando estabelecia nao um eixo temporal ligando even- tos passados ao seu presente, mas quando tomava certos temas como objeto de Teflex4o, Mesmo ao falar de seus filhos, ele logo deslocava a narrativa de detalhes de seu passado para uma andlise da condi¢éo do adotado. Com efeito, apenas reportando cuidadosamente a uma pesquisa mais ampla ede maior duracio, esses elementos poderiam ser articulados de maneira séria. Simplesmente construir uma biografia a partir desses relatos ou isolé-los de todo um contexto que de forma alguma se manifesta em uma entrevista ndo seria somente dificil: seria um erro, pois perderiam muito de suas possibilida- des de significagao. Inserindo-os na pesquisa, associados a uma observacao € participacao ativas, porém, tornam-se pontos de partida interessantes ou pros- seguimentos importantes para se compreenderem as dinamicas da qualificagao | Profissional e desse tipo de ensino em particular. 362 ANTONIO DE Satvo CaRnico zg — Digitalizado com CamScanner outro fator deve ser levado em conta: jiagées de falar da vida (¢ de trabalho) Quando combinamos a entrevista nao disc qualquer ideia de local alternativo, Fabiano 9 local da entrevista, Quais as im- No préprio ambiente de trabalho? Uutimos essa questo. Sem esbocar apenas sugeriu um dia e horéti ‘ ae hordrio em que estar no Senai sem que desse aula, Dada minha experiéncia produtiva no Jocal, também nao pensei em sugerir nada diferente, pois via ali um ambiente propicio para esse tipo de abordagem, No entanto, a atitude do professor durante a conversa mostrava que, ainda que nfo estivesse dando aula, aquele néo era um momento de lazer ou mesmo ocioso. Perguntei-Ihe o que estava fazendo, na tentativa de preencher um dos vazios constrangedores e até mesmo para tentar constrangé-lo, de certa forma: preparando aula aqui...”. Se para a pesquisa de mestrado o curso resolveu uma oposigao que se mostrava complicada entre duas ldgicas excludentes, a da pes- quisa ¢ ado trabalho, minha posico atual, como pesquisador apenas, acendia novamente a questo. Perguntas que, feitas durante as aulas, eram apropriadas e desenvolvidas nesse ambito, provocando mesmo respostas interessantes € interessadas, agora disputavam sua aten¢do com seus afazeres profissionais. Frequentes interrupg6es tumultuavam 0 pouco ritmo da entrevista, sem maio- res esforcos por parte do professor para evitd-las ou contorné-las. Talvez nao seja coincidéncia, afinal, que boa parte das falas mais elaboradas tenha a ver justamente com questées relativas ao proprio mundo do ensino profissionalizante. Ainda assim, e sobretudo quanto a certos temas, a primeira entrevista me deu a sensacao de que faltava algo. Sentia falta de mais detalhes, de mais encadeamentos, e mesmo de certas informagSes que considerava ba- sicas sobre sua familia, sua formacdo e experiéncias profissionais. Além disso, ouvindo a gravagao, percebia claramente varios momentos em que eu poderia ter agido de maneira diferente, incentivando-o a prolongar certos assuntos a0 invés de retomar meu roteiro ou conduzindo mais incisivamente a conversa. Era evidente que deveria retornar com outra postura. SILENCIOS, NAO DITOS E LACUNAS: A SEGUNDA ENTREVISTA. nossas pesquisas nos deparamos com alguns tipos de “vazios” em nossos dados. Pollak, por exemplo, ao lidar com temas como & experiéncia concentracionaria, chama atencao para © lugar do siléncio e do no dito no processo de constituicio identitéria dessas pessoas (Pollak, 1989, Quando realizamo: 363, Nagnativas DA DEsiGustDADe Digitalizado com CamScanner —— >) cios de significado, que, através do silencio, dizem muito de certos eventos na maneira de conceber ou narrar uma vida e suas consequéncias no cotidiano. Outro aspecto do nao dito pode referit-se a um estado da relacZo entre 0 antropélogo e seus nativos. Certa desconfianca que se manifesta na selecéo de certas informacées ¢ na omissio de outras que, talvez, fossem relevadas em outra situagfo, etapa da relacéo ou pesquisador. Hi, enfim, as lacunas que no so mais do que lacunas: informagSes de que 0 pesquisador sente falta e que busca em novas conversas e observacbes. Essa "busca por informago no apresenta um final claro, no entanto, ¢ o pesquisa- 2 dor pode se perder na ansia de saber de tudo, de alcancar um saber totalizador © sobre seu objeto.” Afinal, quanta informacéo é o bastante para se escrever um artigo, uma dissertago, uma tese, ou para realmente compreender algo? Quan- do se esté realmente saturado num mundo em constante movimento? Quanto ao meu caso, nfo tinha diividas de que devia buscar mais informa- ges. Nao havia insistido o bastante, tampouco percebia sinais claros de uma omissao ativa. Determinado a obter mais detalhes, tornei a marcar uma conver- sa com Fabiano. Disse-lhe que gostaria de saber mais detalhes sobre algumas das coisas que ele mencionara, e combinamos um dia em que haveria uma reunio a tarde, mas que estaria livre pela manha. Procurei rever minha estratégia e ter bem claro o que queria desta vez. Ao inves de apenas mencionar um marco (por exemplo, “quando chegou ao Se- = nai?” ou “vocé trabalhou em Manaus, nao?”), seria direto quanto as minhas intengdes. Como foi a tomada de decisio de se matricular no Senai? Quem <> _sugeriu? Quais eram os projetos ligados a essa escolha? Pediria para remontar ‘as suas primeiras impresses das aulas, alunos e professores, bem como as suas experiéncias em padarias. Pediria ainda detalhes sobre seu casamento (com quem se casou, onde conheceu, como foi a ceriménia), sua vinda ao Rio ¢ 0 processo de adogao de seus filhos, Nao levaria o gravador, Ao chegar ao local, no entanto, Fabiano logo se esquivou: “Aqui, Anténio, entrevista 0 Osvaldo! Hoje é ele! J falei muito j4.” Tentei recusar no inicio, mas Fabiano insistia. Como Osvaldo, que fora meu professor de matematica, se dispés a falar, acatei a sugestdo, ainda que a contragosto, mas avisei que ele no escaparia, 7 Bertaux (1999) refere-se a um “rango positivista” que permeia os estudos antropol6gicos. 364 [ANTONIO De Sa1v0 CaRRigo Digitalizado com CamScanner revista com Osvaldo, diferente daquela com Fabiano, contou com jen engao e colaboragao do entrevistado, que estabeleceu uma série de agbes entre diversas etapas de sua traet6ria, embora mantendo sempre reocupacdo em ser preciso ¢ sucinto nas respostas. Apds 10 minutos, spaior @ assodl certa PI entero om isso, voltei a procurar Fabiano. Encontrei-o em uma sala com outro prfessor edo “alunos olimpics", todos bastante ocupados com a prestacao Hf contas do seu treinamento em Vassouras, Fabiano parecia ainda menos fo- vedo e dsposto @ realmente ajudar do que da outra vez, Ameacei desist, mas oria S20 semprg nimo, por expor arolinas, Gregérigg 1 INAPLOS. Pelo con, Se a ilusdo biografica se refere a0 apagamento de uma série de condicig. nantes estruturais de uma narrativa que concebe um todo coeso a partir de um encadeamento temporal, a “desilusio biografica” imposta por essa experi cia, a0 contrario, evidencia todo o intenso trabalho envolvido na construcio de uma identidade narrada. Ambas as situagdes podem produzir boas Teflexdes, 6 verdade. No entanto, em geral, o que se es pera € se busca em uma etnograf quando estamos em campo, sio justamente aqueles momentos de felizes asse Giagdes ¢ encadeamentos criativos, preferencialmente através de tantes que soarao bem por escrito. frases impac. Enquanto Bourdieu se preocupa em excluir qualquer iluséo de seu método, 4 antropologia, 20 longo de sua historia, vem fazendo justamente Tas especificas de conceber realidades seu objeto de pesquisa, buscan em que “ilusées”, as manei- do cenas » sejam biograficas ou etnogréficas, se mostrem mais intensas Assim, buscamos os melhores narradores, os contadores de historias, aqueles Cujas entrevistas nos parecam mais “completas”, “consistentes” ou “ticas”, E preciso, enfim, que o pesquisador tenha em mente sew S objetivos e seus métodos, especialmente ao escrever suas obras, € isso implica uma reconsti- tuisdo e uma explicitagao (ao menos para o proprio pesquisador) das préprias “escolhas” em campo: Quem ou qual narrativa selecionamos para estruturar Rossas andlises? Por que ou qual o caminho que percorremos até seus usos? De que maneira utilizamos ou concedemos significados distintos aos dados que construimos € mesmo as pessoas com quem interagimos? Por fim, o que cada situacdo permite desenvolver de maneira mais fértil? Em que momentos € mais Produtivo fetichizar uma narrativa e em que momentos esse apagamento das condigdes de producao se revelaria improdutivo? No caso destas entrevistas, como procurei expor, ndo s6 nfo seria produtivo como nao seria sequer possivel tal apagamento, dadas as condigées de sua pro- dusao. Se dificilmente se poderia de fato algé-las a protagonistas de uma tese ou 368 ANTONIO DE Satvo CarRiGo Digitalizado com CamScanner ona anélise de maior folego, acredito que, ao men 12 05, e Gran ; onto produtivo as e1 itada + 88a situacd mo contraP PI Mpreitadas etnograficas que reali (C40 possa ser alizamos. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS sgRtAUX, Daniel. Less deve, Pars, Nathan, 1997 _ Elenfoque biogréfico: su validez metodol6gica, sus potenciaidad . lidades. Propo-

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