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IV - RELACAO SOLO-PLANTA Roberto Ferreira Novais” & Jaime Wilson Vargas de Mello” Departamento de Solos, Universidade Federal de Vicosa — UFV. Av. PH Rolls, s/n, CEP 36570-000 Vicosa (MG). Hnovais@ufv.br; jwvmello@ufy.br Contetdo INTRODUGAO 134 PROPRIEDADES FISICO-QUIMICAS DO SOLO 135 Fases do Solo ssn 135 Sistema Coloidal 136 Mineralogia da Fracao Argila sess 138 ‘Argilas Silicatadas.. 1238 Argilas Nao Silicatadas ~ Oxidos e HidrSxidos de Fe e de Al 143 Origem das Cargas Eletricas do Solo... 143 Cargas Negativas . 143 Cargas Positivas 144 Densidade de Carga 145 Adsorglo € Troca Ténic@ 145 Capacidade de Troca Cationica 146 Dupla Camada Diftsa oon 7 349 Caracteristicas da CTC do Solo 151 Capacidade de Troca Aniénica . 155 Fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade Tampao 157 Fator Intensidade set a 159 Fator Quantidade 166 Capacidade ou Poder Tampao de Nutrientes no Solo 167 ‘TRANSPORTE DE NUTRIENTES NO SOLO se 170 Introducio - 170 Fluxo de Massa, Fuxo Difusivo (Difusdo) ¢ Interceptagdo de Raizes see LT . Interceptacio de Raizes. 174 Fluxo de Massa 175 Fluxo Difusivo 175 Calagem e Fosfatagem se “ se ; 177 SBCS, Vicosa, 2007. Fertilidade do Solo, 1017p. (eds. NOVAIS, R.F., ALVAREZ V., V.H., BARROS, N.F,, FONTES, RLF, CANTARUTTI, R.B. & NEVES, J.C.L)). 134 Roserto Ferrera Novals & Jaime Witson VARGAS De MELLO Calagem e Fosfatagem “ 177 Anion Acompanhante - so 179 Contetido de Agua so . 179 Considerag6es un. sna ene ee 181 Compactagio do Solo 182 Idade da Planta oem “ sn 188 Interagao Doses de Nutrientes Versus Populacao de Plantas... 185 Consideragses Finais 186 ABSORCAO (AQUISIGAO) DE NUTRIENTES 186 Introdugio se 186 Determinacao das Constantes Cinéticas de AbSOTGAO soanny 199 Relagio entre as Constantes Km, Imax ¢ Cin ¢ a Absorgao de Nutrientes soe 192 Modelos Mecanisticos de Absorga0 a vse 194 ‘Anilise de Sensbilidade dos Modelos Mecanisticos de AbSOr20.sv-nnnssnnnvn-ennnnne197 LITERATURA CITADA ... 198 INTRODUCAO Neste capitulo, o solo é considerado como reserva, dreno e fonte de nutrientes para as plantas, a semelhanca de um sistema bancério que administra o dinheiro de seus correntistas, guardando-o, protegendo-o, liberando recursos quando solicitados e, de modo muito importante, evitando perdas. O solo como “sistema bancario” dos nutrientes tem cargas negativas e positivas de modo a proceder essa administragio, tanto dos cations como dos Anions, nutrientes ou nao, As cargas do solo ao lado da fotossintese sao considerados os dois fenémenos mais importantes para a existéncia da vida na Terra. A compreensao dos processos de liberacao de nutrientes, neste caso, quando um dreno como a planta o requisita, vai permitir a otimizacao dos nutrientes aplicados por meio de fertilizantes, sua mais eficiente absorco € utilizagao pelas plantas e protecao do ambiente, nao permitindo a chegada de grandes quantidades de nutrientes em suas 4guas superficiais. O suprimento de nutrientes para as plantas implica nao apenas seu contetido nos solos mas também seu transporte até a superficie das raizes para serem absorvidos. Portanto, solos compactados, deficientes em Agua, poderao ser férteis e as plantas neles cultivadas apresentarem deficiéncia nutricional por falta de transporte dos nutrientes até as rafzes. A chegada dos nutrientes junto as raizes nao é necessariamente garantia de absorcao plena pelas plantas. Ha espécies de plantas mais eficientes em absorver determinado nutriente que outras, para 0 mesmo suprimento externo pelo solo. Aavaliagao da eficiéncia de uma planta em absorver um nutriente, sua cinética de absorcao, 6, portanto, de importancia nos processos de selecdo de gendtipos nutricionalmente mais eficientes em condi¢6es diversas de crescimento. FerTiLipave 00 Soto IV = Retagho SoLo-PLanta 135 Assim, neste capitulo, séo tratados os trés componentes principais da relagao solo- planta: as propriedades fisico-quimicas do solo que 0 caracterizam como um controlador de suprimento e de perdas de nutrientes; os mecanismos de transporte de nutrientes no solo até as raizes e, por tiltimo, a cinética de absorgao ou aquisicdo de nutrientes pelas plantas. PROPRIEDADES FISICO-QUIMICAS DO SOLO Fases do Solo Um solo mineral, préximo & superficie, com condig@es fisicas étimas para o crescimento de plantas, apresenta, aproximadamente, a seguinte composicao volumétrica: 50 % de espaco poroso, ocupados por partes iguais de ar e de Agua, 45-48 % de sélidos minerais e 2 a3 e, por vezes, 5 % de matéria organica (MO). Tém-se, em média, entao, 50 % constituidos pela fase sdlida, 25 % pela fase liquida e 25 % pela fase gasosa (Figura 1). 5 Minerais 50% de 50% de poros 45-48 % particulas sélidas ae Figura 1. Composicao volumétrica média de um solo com boa estrutura. A fase sélida € constituida de agregados que se apresentam, até certo ponto, individualizados. Os agregados sao formados de particulas unitérias, cimentadas entre si por matéria organica, 6xidos e hidréxidos de Fe ¢ Al, silica, etc. As particulas individuais so obtidas apés a dispersao dos agregados. Limites de tamanho definem as partfculas como pertencentes a diferentes fracdes. Esses limites so estabelecidos pela classificagao de Atterberg ou classificagao internacional (Figura 2) Ferra fina + | ares] , neta agin | site | munto | At mmutto | cascatno fina " s grossa 0 0002 = 0020S 1 2 Limites de tamanho (mm) Figura 2. Limites dos tamanhos das partfculas dos solos. FERTILIDADE DO SoLo 136 Roserto Ferreira Novats & Jaime WILSON VARGAS De MELLO Sistema Coloidal Osolo pode ser considerado como um sistema disperso, uma vez que é constituido de mais de uma fase, estando a fase sdlida em estado de acentuada subdivisao. Ha, portanto, um sistema coloidal” no solo, constituido de particulas diminutas, de tamanho coloidal, minerais ou organicas, ou organominerais, como fase dispersa na solugao (ou no ar) do solo, como meio de dispersao. Nesse sistema, ocorrem reacdes quimicas, fisico- quimicas e microbianas da maior importancia no estudo dos solos. Nessa fase dispersa, 6 que se encontram as argilas. Como exemplo, além do solo, pode-se citar a presenca de sdlido (fase dispersa) em g4s (meio de dispersao), constituindo fumaca, poeira; de liquido em gas, constituindo névoa, ete. As particulas do sistema coloidal do solo apresentam as seguintes propriedades: a) Grande Superficie Especifica A superficie especifica refere-se & rea pela unidade de peso do material considerado (solo como um todo, fragao argila apenas, matéria organica, etc.) e 6, usualmente, expressa emm?g? A compreensao do significado pratico dessa propriedade torna-se mais facil ao se tomar um cubo com 1 cm de aresta, pesando 1 g, 0 qual tem uma superficie igual a 6 cm? e uma superficie especffica igual a 6 ¢m’ g’. Se este cubo for, inicialmente, dividido ao meio, paralelamente a duas de suas faces opostas, a superficie total dos dois blocos formados seré de 8 cm’, logo, com 2 cm? a mais do que 0 cubo inicial, correspondentes as duas novas superficies expostas pela divisao. Como 0 peso total dos dois blocos continua o mesmo, a superficie especifica total do material foi aumentada para 8 cm? g. Seo cubo for subdividido em 1.000 cubos, cada um com aresta igual a 0,1 cm, a superficie total destes cubos serd igual a 60 cm’, correspondente a uma superficie especifica igual a 60 cm? g 4, Se for subdividido em 1.000.000 de cubos, cada um com aresta igual a 0,01 cm, a superficie total serd igual a 600 cm? e a especifica igual a 600 cm? g? Deve-se, portanto, esperar grandes variagGes entre solos quanto as suas superficies especificas. Dentre os fatores responsaveis por essas variacées, encontram-se: * Textura. * Tipos de minerais de argila * Teor de matéria organica Em virtude do menor tamanho da fragio argila do solo, em relacao as outras fragdes, pode-se deduzir que esta fraao, de natureza coloidal, contribui em maior proporcao com o valor da superficie especifica do solo. Trabalho classico de Grohmann (1977) © Nos sistemas coloidais, componentes da fase dispersa (a fase constitufda pelas particulas) apresen- tam, pelo menos, uma de suas dimensées entre 1 um e 1 nm (1 nm = 10m), e encontram-se em uma segunda fase, 0 meio de dispersto (agua e ar, o meio pelo qual as particulas se distribuem) © m? = 10.000 cm* FertiLIDADE DO Solo IV - Retacho Sovo-PLanra 137 comprova isto, ao verificar coeficiente de correlacao positivo e significativo entre o teor de argila e a superficie especifica de amostras de diversos solos (Quadro 1). Amostras de solos que tiveram sua matéria organica previamente eliminada apresentaram superficie especifica variando de 8,1 m? g" de solo com 55 g kg” de argila a 63,8 m? g" de outro solo com 424 g kg” de argila (Novais, 1977). Quanto ao tipo de mineral de argila, sabe-se, por exemplo, que a caulinita apresenta superficie especifica de 10 a 30 m’ g", os 6xidos de Fe de 100 a 400 m*g", ea montmorilonita, no outro extremo, de 700 a 800 m’ g, segundo citages de Grohmann (1975). E de se esperar, portanto, que solos tropicais, que tém nos 6xidos e na caulinita os maiores constituintes da fragao argila, tenham menor superficie especffica, em geral, que solos de regiées temperadas, onde hé predominancia de montmorilonita e de outras argilas silicatadas mais ativas (Quadro 1). Quadro 1. Superficie espectfica dos principais componentes da fragio argila do solo Constituinte da fragdo argila Superficie especifica mig? Gibbsita 1-25 Anatasio 10 Caulinita 10-30 Goethita 30 Mica hidratada 1100-200 Clorita 100-175, Oxidos de ferro 1100-400 Silica amorfa 100-600 Silica-alumina amorfa 200-500 Vermiculita 300-500 Alofana 400-700 Montmorilonita 700-800 Matéria organica £7000 © Muito variével. Fonte: Grohmann (1975), A matéria organica, embora apresente, na maioria dos solos, teores relativamente baixos, contribui, significativamente, para o valor da superficie especifica do solo, gracas ao seu alto grau de subdivisao. O efeito da matéria organica sobre a superficie especifica do solo pode ser constatado no trabalho de Grohmann (1975), ao verificar que a superficie especifica de uma amostra de um horizonte Ap de um Latossolo Roxo, inicialmente com 90,3 m? g*, (equivalente a 180.600 km” ha", aproximadamente 1/3 da superficie do Estado de Minas Gerais ou quase a do Estado do Parand), caiu para 61,2 m’ g"' aps a eliminacao da matéria organica por oxidacéo com H,O,. Assim, um solo com maior teor de matéria organica deverd ter maior superficie especifica que outro com menor teor, se outras caracteristicas, como tipo e quantidade de argila, forem mantidas constantes. FeRrTILIDADE DO Solo 138 Rogerto Ferrera Novais & Jaime Witson VarGas of MELLO A superficie especifica de amostras de solos (Quadro 2) é, normalmente, determinada com base na adsorcao monomolecular de substancias sobre as particulas do solo. S80 substancias préprias para este fim 0 EG (etilenoglicol), o EGME (etilenoglicolmonoetiléter) eo glicerol (Grohmann, 1975) Quadro 2. Superficie especifica de alguns amostras de solos, Classe de solo Horizonte Profundidade _-Superficie especifica om mgt Podz6lico Vermelho-Amarelo orto Bt 32-46 44.0 B2 + 46-58 610 Latossolo Roxo ap os 90,3 rS 13-43, 68.3 bar 43-70 82.3 Latossolo Vermelho-Escuro orto Bat 32-52 72.0 B22 52-80 98,0 Fonte: Grohmann (1975), b) Cargas Elétricas Propriedade muito importante de uma dispersio coloidal é a presenga de cargas elétricas. As particulas coloidais do solo, as argilas de modo geral, sao eletronegativas. Embora possam, também, conter cargas positivas, estas so, normalmente, em menor mimero que as negativas. Em alguns solos, com um grau de intemperismo bastante adiantado, pode-se encontrar maior ntimero de cargas positivas do que negativas; entretanto, tal situac4o nado 6 muito comum. Essas cargas elétricas proporcionam a adsorcao de fons de cargas opostas, retendo-os no solo, fons estes que, em boa parte, desempenham papel importante para 0 crescimento e desenvolvimento das plantas. ©) Cinética As particulas dispersas em meios liquidos apresentam movimentos (Shaw 1975). O movimento browniano ¢ caracterizado pelo movimento brusco, irregular e em zigue- zague de particulas individuais no meio de dispersao. Esse movimento deve-se & energia cinética das particulas. O movimento de difusao é conseqiiéncia da migracao de particulas de uma regiao de maior concentracao para oatra de menor concentracao. Hi, também, 0 movimento ocasignado pela forga gravitacional, responsével pela sedimentacao de particulas. Mineralogia da Fracao Argila Axgilas Silicatadas Dentro da fracao argila (particulas menores que 2 1m), as argilas silicatadas s4o os constituintes mais comuns em solos de regides temperadas, ainda nao sujeitos a um estadio avangado de intemperismo. FerTILIDADE DO SoLo IV - Retacko So.o-PLanta 139 As argilas silicadas sao constituidas de duas unidades estruturais basicas. Uma é 0 tetraedro de silica, formado por ligagdes de um atomo de Si a quatro Atomos de oxigénio: A outra unidade 6 constituida pelo octaedro de alumina, formado por um étomo de Ale seis dtomos de oxigénio: oO NZ al” o |e © Hidroxita (1-) © Oxigénio (2-) Os tetraedros podem ligar-se entre si, formando uma camada continua, seguindo duas direcdes no espago, constituindo a estrutura dos filossilicatos. A ligacdo dos octaedros entre si também dé origem a uma camada semelhante a anterior. Os cristais das argilas silicatadas sao constituidos de camadas alternadas de tetraedros e de octaedros, ligadas entre si por 4tomos de oxigénio comuns aos 4tomos de Si (tetraedros) eaos de Al (octaedros). O ntimero de camadas de tetraedros para camadas de octaedros, por unidade componente de um cristal de argila silicatada, 6 uma caracteristica basica de identificagao dos principais grupos de argilas silicatadas (Figura 3). Dentre as argilas silicatadas, destacam-se os principais grupos. a) Caulinita Caracteriza-se por um arranjo com uma camada de tetraedros e uma de octaedros, unidas entre si, rigidamente, pelos atomos de oxigénio comuns as duas camadas, constituindo uma unidade cristalografica. Unidades assim formadas se unem entre si por ligagdes de H, constituindo o grupo das caulinitas ou o grupo das argilas do tipo 1:1 (Figuras 45). Sao hexagonais e de tamanho grande, o que condiciona pequena superficie especffica, se comparada as particulas de argilas silicatadas do tipo 2:1 mais ativa, como amontmorilonita. As ligacdes de hidrogénio entre unidades cristalograficas se devem a0 pareamento de um plano de oxigénios, no topo da camada de tetraedros, com um plano de oxidrilas, na base da camada de octaedros. Estas ligacdes nado permitem a expansao da argila, posto que nao s4o admitidas moléculas de agua nestes espacos internos Fertiipace 09 Soto 140 Roserto Ferrera Noval is & Jaime Witson Varcas o¢ MELLO Figura 3, Disposicao das laminas de tetragdros e octaedros em duas unidades cristalograficas de uma argila silicatada 2:1. Fonte: Com permissio do Professor Joseph Stuck! (Universidade de Mlinois) Camada de tetraedros Unidade Camada de octaedros cristalografica Superficie | | | externa H H H distancia fixa | | | NY, Camada de tetraedros Camada de octaedros Figura 4. Representagio esquematica da argilas do grupo da caulinita (tipo 1:1). Caracteriza-se por unidades constituidas por um arranjo com duas camadas de tetraedros para uma de octaedros, ligadas rigidamente pelos atomos de oxigénio comuns 4s laminas. Sao também denominadas argilas do tipo 2:1. As unidades sao frouxamente igadas entre si por moléculas d’4gua ¢ cations na solugao, o que permite que a distancia entre elas seja varidvel. Como conseqienci, cations e moléculas podem-se mover entre essas unidades, o que proporciona tanto uma superficie total (a interna mais a externa) como uma superficie especffica bem maiores (Figuras 3 ¢ 6) do que para a caulinita, Com a hidratacao deste material, hé aumento da distancia entre as unidades, o que justifica a classificagao desta argila como expansiva. Com a desidratacao, ocorre o inverso: aquela b) Montmorilonita FeRTILIOADE 00 SOLO IV - Retacko Soug-PLanta 141 i eee} Cee ee Figura 5. Vista geral de “booklets” (pequenos pacotes de argila) de uma imagem de caulinita gerada pelo microscOpio de varredura, Foto: Disponibilizada pelo Prof. Keller (in memorian) da Universidade Missouri ~ Columbia, USA. distancia diminui, havendo uma contracao do material. Solos que apresentam contetido importante de argilas expansivas apresentam, geralmente, quando secos, superficie trincada, com fendas que contornam diferentes formas geométricas. Coma reidratagao, tais fendas desaparecem em virtude da expansao do material. Como toda a sua superficie apresenta cargas negativas, este colide revela elevada capacidade de adsorgao de cétions. Fertitioane 00 Soto 142 Roserto Ferreira Novas & JAIME WiLSoN VarGas 0€ MELLO upertole__ 2 —Comaad de cotredres , Camada de tetraedros ——} nor'en Supertice ‘Camada de tetraedros —__| Figura 6. Representacao esquemdtica das argilas do grupo da montmorilonita (tipo 2:1). o)llita O grupo da ilita, ou mica hidratada, apresenta a mesma organizacdo estrutural que a montmorilonita (tipo 2:1), exceto no que diz respeito As ligacdes entre as unidades cristalograficas. A existéncia de “deficit” de carga positiva na camada de tetraedro leva a um excesso de cargas negativas que sao neutralizadas, geralmente por fons de K, fortemente retidos entre duas unidades. Essas ligacdes diminuem intensamente a expansdo do material quando sujeito a hidratagao. A superficie de adsorcao catidnica é, conseqiientemente, menor do que a da montmorilonita. d) Outros Grupos de Argilas Silicatadas A presenca mais freqiiente de vermiculita (tipo 2:1), argila silicatada semelhante & montmorilonita, embora nao to expansiva como esta, em solos de regides temperadas, diz sobre sua menor resisténcia ao intemperismo, do que a caulinita, por exemplo, tao freqiiente em solos de regides tropicais. Nao obstante, a vermiculita é, de modo geral, mais resistente ao intemperismo em relago 4 montmorilonita. A principal diferenga entre estas duas argilas reside nas substituigdes isomérficas que se verificam na rede cristalina por ocasiéo da formagdo das estruturas minerais. A vermiculita apresenta substituigdo de Si por Al na camada de tetraedros, ao passo que a montmorilonita apresenta substituicdo de Al por Mg na camada de octaedros. Portanto, a presenca de Alem solo acidos, é fator de estabilizacao da vermiculita. Por outro lado, a lixiviacao de Mg dos solos tende a desestabilizar a montmorilonita. Daf a presenca eventual de -vermiculita em solos de regides tropicais, em detrimento da montmorilonita. Alids,néo é incomum encontrar algumas variedades de vermiculita com precipitados de hidrdxi- Alentre as unidades 2:1. Estas so denominadas de VHE (Vermiculitas com hidréxi entrecamadas). A clorita difere das demais estudadas por apresentar, além do grupo 2:1 de talco (com unidade cristalografica similar 4 da montmorilonita, mas com Mg dominando a camada de octaedros), uma camada adicional de brucita (Mg(OH),). Por essa raz4o, essa argila é conhecida pelo tipo 2:2 ou 2:1:1 (duas laminas de tetraedros, uma de octaedro e uma de brucita). A superficie especifica e a capacidade de troca catidnica sao semelhantes as da ilita. Fertiipave Do SoLo IV - Retacho Sovo-Panta 143 Argilas Nao Silicatadas ~ Oxidos e Hidréxidos de Fe e de Al Este tipo de material coloidal, também constituinte da fracdo argila, predomina, freqiientemente, em solos tropicais, misturado com argilas silicatadas, principalmente caulinita. Embora por simplicidade os 6xidos hidratados sejam representados por hidréxidos de Fe e de Al, AI(OH), e Fe(OH), suas estruturas quimicas sio mais corretamente referidas por {6rmulas do tipo Fe,O,xH,0 e Al,0,.xH,O. A gibbsita (Al,O,.3H,O) ea goethita (Fe,O,,H,O) sao os éxidos hidratados de Ale de Fe de maior predominancia na fracao argila. A hematita, quimicamente um 6xido de Fe nao hidratado (Fe,O,), é outro componente freqiiente da fracao argila, principalmente de solos tropicais. Esses 6xidos, de maneira geral, sao os principais responsaveis pela adsorgao anidnica, e também de alguns cétions, como 0 Zn, nos solos. O efeito desses 6xidos sobre a adsorgao de fosfatos em solos tem sido foco de varios estudos (Fox et al., 1971; Syers et al., 1971; Leal & Veloso, 1973; Lopes, 1977; Bahia Filho, 1982). Origem das Cargas Elétricas do Solo Cargas Negativas Como ja foi dito, ha no solo, em geral, predominancia de cargas negativas sobre positivas. Essa predominancia é expressiva em solos de regides temperadas, gracas presenca de argilas silicatadas mais ativas, por conseguinte mais eletronegativas. Por outro lado, nos solos mais intemperizados de regides tropicais, o predominio de cargas negativas tende a diminuir e, em alguns casos, até mesmo inverter com predominio de cargas positivas. As cargas eletronegativas do solo podem ter diferentes origens: a) Dissociagao de Grupos OH nas Arestas das Argilas Silicatadas O grupo OH nas terminagées tetraedrais ou octaedrais, em faces quebradas das unidades cristalograficas das argilas silicadas, pode-se dissociar, gerando uma carga negativa. argila} on + OF === argilato” + Ho Verifica-se que com elevagao do pH do meio (solo) 0 equilfbrio é deslocado para a direita em razao da neutralizacdo dos fons H* liberadus na dissociagao do grupo -OH. Este tipo de cargas dependentes do pli € o tipo predominante em argilas 1:1, como a caulinita. b) Substituicao Isomérfica Durante a génese de argilas do tipo 2:1, alguns {tomos de Si dos tetraedros podem ter sido substituidos por Al, bem como o Al dos octaedros ple ser substituido por Mg ou por outros cations de valéncia menor que a do Al**. A substituicgéo do Si**, que se FeRTILIDADE DO SoLo 144 Roserto Ferreira Novais & Jaime WiLson VARGAS 0& MELLO encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas por AP, ira condicionar sobra de uma carga negativa, De maneira semelhante, uma carga negativa sera gerada pela substituicéo de um Al de um o¢taedro por um cation divalente, como o Mg”. Deve-se ressaltar que o ntimero de cargas geradas por este processo nao é varidvel com alteracées do pH do meio. ©) Matéria Organica Na matéria organica do solo, as cargas negativas originam-se, principalmente, da dissociagao de grupos carboxilicos e fendlicos, de acordo com as equagdes quimicas: em que R representa um radical, de modo geral, longas cadeias aliféticas ou eventualmente aromiticas. Verifica-se pelas equagdes que 0 equilibrio é deslocado para a direita, forma dissociada, com a elevacao do pH do meio, ou seja, com a neutralizagao da acidez. Cargas Positivas As cargas eletropositivas do solo tém sua origem nos 6xidos e hidréxidos (6xidos hidratados) de Fe e de Al, preferencialmente. Tal situacéo se dé de maneira mais significativa em condig&es mais Acidas de solo. rot Al-OH roN i +or | AIO" +H0 17 +H carga nula carga [pH = cz} negativa Esse esquema mostra que os 6xidos hidratados de Fe e Al podem dar origem a cargas eletropositivas, eletronegativas ou permanecer com carga neutra na superficie, dependendo do pH do solo. De modo geral, o ponto em que a carga dos 6xidos é nula corresponde a um valor de pH na faixa alcalina. Assim sendo, os éxidos de Fe e Al apresentam cargas positivas em solos 4cidos. © O PCZ (ponto de carga zero) é 0 pH em que o solo apresenta carga liquida nula. Seu valor € variavel de acordo com a natureza dos materiais trocadores de fons constituintes do solo. FerTiLIDaDe Do SOLO IV - Retacho So.o-PLanta 145 Densidade de Carga A densidade de cargas negativas é a quantidade destas cargas por unidade de superficie de um material. Pode ser expressa em mol, m?ou em C m?, Um mol de carga (mol,) negativa corresponde a 9,6485 x 10‘ C (coulomb). A caulinita tem 1,93 mC m?ea montmorilonita 1,64 mC m?. Adsorcio e Troca Iénica As propriedades de adsorcio idnica do solo so devidas, quase que totalmente, aos minerais de argila e 4 matéria organica do solo, materiais de elevada superficie especifica Essas particulas coloidais do solo apresentam cargas elétricas negativas e positivas, podendo adsorver ou “reter”, por diferenca de carga, tanto cations como anions. Essas cargas, negativas ou positivas, sio neutralizadas por fons de carga contréria, que podem ser trocados por outros fons da solugao do solo. Essa reagao de troca se dé entre fons da mesma carga. O fendmeno é conhecido como troca idnica e, depois da fotossintese, 6 0 processo mais importante para a vida na terra (Russel & Russel, 1973). As cargas negativas sao neutralizadas por fons eletropositivos, ou seja, pelos cations, que se denomina adsorgao catiénica. Na neutralizagao de cargas positivas pelos anions tem-se a adsorgao aniénica. Os fons envolvidos nesse processo de adsorgao ligam-se por eletrovaléncia ou por covaléncia as particulas coloidais do solo. Os cations mais envolvidos quantitativamente nesse processo sao: Ca", Mg™, Al, H*, K*, Na’ e NH,*, sendo o Ca**, comumente, o mais abundante em alguns solos, enquanto, em outros, 6 0 AI*. Alguns micronutrientes estao, também, sujeitos ao mesmo processo, embora em quantidades muito pequenas, se comparadas aos cations referidos anteriormente. Os fons adsorvidos as partfculas coloidais® podem ser deslocados e substitufdos, estequiometricamente, por outros fons de mesmo tipo de carga, dando-se uma troca idnica Como as cargas da fase sélida se manifestam na superficie das particulas coloidais do solo, hé estreita relagao entre o fendmeno de troca ea érea superficial dessas particulas. Essa drea 6 a superficie especifica do solo, expressa em m? g7 (Quadro 2). Assim, 0 fendmeno de troca idnica do solo, que é basicamente a expressao de suas propriedades fisico-quimicas, depende de sua superficie especifica e da densidade de cargas elétricas que se manifestam nesta superficie. Na solugao do solo, que envolve as particulas coloidais, os fons estéo se deslocando constantemente, a semelhanga de abelhas de uma colméia. A maioria das abelhas permanece na colméia, mas se distanciam de tempo em tempo para depois retornar (FNIE, 1974). Os fons em movimento representam os elementos em estado trocével ou dispontvel. Esquematicamente, o fendmeno de adsorgao e troca iénica pode ser representado pela equacoes: Particulas com dimensdes maiores do que as coloidais também podem apresentar cargas elétricas, porém em niimero limitado em razdo das suas pequenas superficies especificas. FeRTILIDADE DO SoLo 146 Rosenro Ferreira Novats & Jaime WILSON VARGAS D& MELLO (a) Troca Catiénica (b) Troca Anidnica a #) sot ) 2H,Po; Colside - 2 eletropositive. | +4H,PO, ——> +80; + 20H yor +] 2H.Po, Capacidade de Troca Catiénica Se uma solugao salina é colocada em contato com certa quantidade de solo, verificar- se-4 a troca entre os cdtions contidos na solucao e os da fase sdlida do solo. Esta reagao de troca se dé com rapidez, em proporgées estequiométricas e é reversivel. Por métodos analiticos, a quantidade de cétion que passou a neutralizar as cargas negativas do solo pode ser determinada. O resultado indica a quantidade de cargas negativas expressadas pela capacidade de troca catiénica do solo (CTC). Na determinacao da CTC do solo € importante considerar 0 pH em que a troca cationica se verifica. Isto porque, além das cargas negativas de cardter eletrovalente, existem também cargas de cardter covalente. Estas se manifestam, ou nao, de acordo com o pH do meio. Assim, parte das cargas negativas do solo (eletrovalente) é permanente, enquanto outra parte (covalente) é dependente do pH. A um dado pH, parte das cargas dependentes estar bloqueada por H: (ligages covalentes). Desta forma, a CTC do solo nesse pH ser dada pelas cargas permanentes mais aquelas dependentes de pH, porém livres do hidrogénio covalente, constituindo a CTC efetiva do solo, a esse valor de pH. E, quando se aumenta o pH do sistema, mais fons H" ligados a cargas dependentes do pH sao neutralizados, resultando em conseqiiente aumento da CTC efetiva do solo. Dentre os cdtions que neutralizam as cargas negativas da CTC efetiva do solo, incluem-se, principalmente, as bases (Ca?*, Mg”, K’, Na’ e NH,'), 0 Al e, também, cétions Hi’ ligados a cargas negativas da CTC de carater mais eletrovalente (tipo dcido forte). Ao conjunto dos cations que esto ocupando a CTC do solo, saturando-a, juntamente com as cargas negativas dos coléides denomina-se complexo sortivo (ou de troca) do solo. Quando se usa uma solucao salina nao tamponada, como KCI 1 mol L! ou CaCl, 0,5 mol L?, para a determinacao da CTC do solo, o valor obtido corresponderé & CTC efetiva. Por outro lado, se a solucao salina for tamponada a um definido pH, o valor obtido corresponderé & CTC total do solo naquele pH, englobando a CTC permanente ea CTC dependente do pH. Para determinar a CTC a pH 7,0, usa-se uma solucao tamponada de acetato de calcio 0,5 mol L”, ou de acetato de aménio 1 mol L”, pH 7,0 (Figura 7). FerTILIpADE DO SOLO IV - Retacko Souo-Puanra 147 pH do solo PHT. <— OTC permanente —+— CTC dependente de pH — am nH H « ca ca # 4: 4H # H ar H Hi H: # NAD Mg” Mg” H: cr # H H | cTcefetiva Figura 7. Representacao esquemética dos componentes da CTC de um solo. Alguns prinefpios basicos caracterizam a CTC. a) O fendmeno de troca é reversivel. Os cations adsorvidos podem ser deslocados Por outros, e, assim, sucessivamente. b) O fendmeno de troca é uma reacao estequiométrica, isto 6, obedece a lei dos equivalentes quimicos: um mol, de um cétion é trocado (substituido) por um mol, de outro cation. c) Eum processo rapido. Na determinacao da CTC, o tempo de agitacao do solo e solugao varia de 5 a 15 min. Muitas condigées do solo tém influéncia sobre a CTC, dentre as quais: pH, caracteristicas dos cations trocdveis, como valéncia e raio hidratado, concentragéo da solucdo e natureza da fase s6lida. Oefeito do pH se verifica, principalmente, sobre as cargas dependentes de pH, como ja se discutiu. Anatureza dos cations trocveisafeta a preferencialidade de troca no solo, de acordo coma densidade de carga dos cations, isto 6, Z/r, em que Z éa carga do fon er 60 raio do fon hidratado. Os cations que tém maior densidade de carga sao mais retidos nas cargas negativas do solo. Por isso, os cations polivalentes sdo geralmente mais fortemente retidos no solo. A seqiiéncia de preferencialidade de troca de cations para uma mesma concentragio foi estabelecida por Hofmeister, sendo conhecida como seqiiéncia de Hofmeister (Mengel & Kirkby, 1982), ou série liotrépica (Russel & Russel,1973). Esta seqiténcia é a seguinte: Lit < Nat < K* < Rb* < Cs* 6,00 AD emol, den $020 0,21-0,50 031 1,00 1,01- 2,00 > 2,00 CT Cvs (8 emo dv 080 “081-230 231 460 461- 8.00 > 8,00 H+ Alemol, dar 51,00 1,01-2,50 251 5,00 5,01- 9,00 > 9,00 CTCps9 (T) emal, dev? 1,60 1,61-4,30 431 6,60 861-15,00 > 15,00 v% 5200 20,1-40.0, 4,01-60,0 60,1 80,0 > 80,0 m% 5150 15,1-300 30,1- $00 $0,1- 75,0 >150 Fonte: Alvarez V. et al. (1999). eyo = 695411931 x 10 C? J m’* Fertipave po Soto 152 Roserto Ferreira Novars & JAIME Witson VarGas pe MELLO mais usado 0 valor T a pH 7,0 que € calculado somando-se as bases e a acidez potencial [SB + (H+ Al)]. Além dessas duas expresses, pode-se ainda citar o valor tao pH do solo (CTC efetiva), que é calculado somando-se as bases com a acidez trocavel (SB + Al), Os principios basicos do fendmeno de troca sao usados no processo de determinacao da CTC de um solo ou de um material qualquer: 1) Agita-se uma amostra de solo, de peso ou volume conhecidos, com uma solugao de KCl 1 mol L7: oR zy ar =] Kare -|K KK Amostra ./ ca" + Ke! Kr + ca de a ‘ egg ag mEeERO colo =| Mai (solucio) Ko Mg + “aexer ary wow (solugdo) Nat Ko Nae 2) Os cations deslocados, bem como 0 excesso de KCl em solusao, sao filtrados. No filtrado, podem ser determinadas as bases Na*, Ca” e Mg”, que, adicionadas ao K', determinado em outra extracao, dao a soma de bases (SB). Também nesse filtrado determina-se Al. Outra alternativa ¢ filtrar e lavar o excesso de KCl ea seguir: 3) Agita-se a amostra recuperada do filtro agora com uma solugdo, que contenha outro cétion, CaCl, 0,5 mol L", por exemplo: -| K Amostra | + cach, > clea + K’ + Excesso | solugao} de Cacl, solo « (solugao) (solugao) oa « cal 4) Filtra-se a suspensao e analisa-se, quantitativamente, o K* em solugao, deslocado pelo Ca®*. A quantidade de K* analisada, em cmol, kg” de amostra do solo (quando a medida foi em peso) ou cmol, dm (quando a media foi em volume), corresponde a sua crc. Para separar as contribuigdes de CTC permanente e CTC dependente de pH, utilizam- se solucdes extratoras (caso do KCI 1 mol L* no primeiro passo), em diferentes valores de PH. Historicamente, foi Schofield (1949) quem verificou que a CTC de uma argila © Utiliza-se, atualmente, nas redes de laboratérios de anélises de fertilidade de solos do Pats, de preferéncia, volume de solo, para uniformizar a forma de medir 0 solo no campo, tendo-se, como base, um hectare = 2.000.000 din’. FerTiLipave Do Soto IV - Retacko Sovo-Puanta 153 caulinitica eleva-se de 4 para 10 cmol, kg" com a élevacao do pH da solugao extratora de 6,0 para 7,0. Oacréscimo no valor da CTC com a elevacao do valor do pH foi denominado CTC dependente de pH (CTC pH-dependente) No pH da solusao extratora correspondente ao do solo, tem-se a CTC efetiva, que éa CTC permanente mais parte da CTC pH-dependente que se manifesta até o pH do solo. Os dados do quadro 6 mostram que, em todos os trés solos, a contribuigao da CTC pH- dependente até pH 7 ou até pH 8 foi bastante significativa, principalmente no primeiro e tiltimo solo, considerando o maior contetido de matéria organica, material que apresenta CTC tipicamente dependente de pH. Quadro 6. Valores de CTC de trés solos (horizonte A.), em trés valores diferentes de pH da solucao extratora e contetido de matéria organica dos solos pH de determinagie da CTC Sole rinagde G3 CTC __aatéria organica PH Solo pH 70 pH So mols kg? ———— eke Argissolo Vermelho-Amarelo 4a 3.32 naa 52 Latossolo Vermetho-Escuro textura média 158 34 $22 139 Latossolo Vermelho-Ecuro textura argiloss Lal 5,62 8.96 353 Fonte: Hara (1974) b) Soma de bases (SB) A soma de bases (SB) é calculada somando-se os teores de Ca”, Mg, K" e, quando disponiveis, Na’ e NH,’ trocdveis. Nos solos cidos de regides tropicais, como os do Estado de Minas Gerais, os cations trocéveis Na’ e NH,’ geralmente tém magnitude desprezivel. ) Saturagao por bases (V) A participacao das bases no complexo sortivo do solo, expressa em percentagem, é conhecida como saturagao por bases (V). 100 Para este calculo, usa-se a CTC a pH 7,0 (valor T). d) Acidez trocavel A acidez, trocdvel 6 representada pelo Al” e, com menor participagao, por outros cAtions de hidrdlise écida, como Mn, Fe” e Fe mais o H’ que faz parte da CTC efetiva. Como, em geral, a participacéo do H’ é pequena em relacao a acidez trocavel (Al* predominantemente), este valor é também chamado de Al trocavel. Os cdtions de cardter Acido, omo 0 Al, sao considerados como acidez trocdvel porque, em solugao, por hidrélise, geram acidez, de acordo com as seguintes equacées simplificadas: Fertitipave po Soto 184 Roserto Ferrera Novais & Jaime Wison Varcas 0¢ Meio Al’ +3H,O <= Allon], ¥+3H" Fe” +3H,O = Fe [OH], ¥+3H" e) Acidez potencial A determinagao da acidez potencial (a pH 7,0) ¢ feita, usando-se, como extrator, uma solucao tamponada de acetato de ¢élcio 0,5 mol L”, pH 7,0. Esta acidezinclui H + Al (H" trocavel, H de ligagdes covalentes que ¢ dissociado com a elevacao do pH, predominante, de modo geral, da matéria organica, Al* trocdvel e outras formas de Al- aquelas parcialmente hidrolisadas como AIOH™ e Al(OH),*). A maior parte do H provém das cargas negativas dependentes do pH. Esta fragao é chamada acidez dependente do pH. A participagao do Hem geral é maior do que das formas trocaveis do Al. Uma outra denominagao usada para a acidez potencial é acidez tituldvel (Wutke & Camargo, 1972), certamente inadequada f) Saturacao por alum{nio (m) A saturagao por Al, representada por m, é calculada pela expresso: APY “ 100 CTC, Observa-se que m éa percentagem de Al trocavel (Al) na CTC efetiva (valor t) do soll. Informacées sobre os valores de T, SBe V de um solo podem indicar o tipo de mineral presente na fraco argila e possfveis problemas na sua utilizagéo, bem como sobre 0 procedimento adequado a ser tomado para otimizar sua utilizacao (Quadro 7). Osolo A, com valor baixo de T, deve ter sua fragao argila constituida de caulinitae 6xido de Fee de Al, argilas pouco ativas, se o teor de argila do solo nao for muito baixo (solo arenoso). Outro aspecto provavel é a existéncia de baixo teor de matéria organica neste solo. A adicao de matéria organica a este solo para aumentar, pelo menos temporariamente, seu valor T, poderia ser recomendada. valor de V é médio, ea percentagem de saturacao por Al” (in) é baixa, em razao dos baixos valores de Al’ (Quadro 7). Quadro 7. Valores de pH, Al*, SB, t, H + Al, T, Vem de amostras trés solos Solo PHno ar so ' (Han T v = emo, kg* —— A on 19 20 ir 33 58 5 5 7 10 207 50 60 v @ © 65: 00 100 109 10 10 on ° FeaTIlipave po SoLo IV - Retacko Soto-PLanta 155 Osolo B, muito écido, tem baixo V; logo, alta participacao da acidez potencial (H + Al) no complexo de troca, podendo apresentar alta percentagem de saturacao por Al (m). Para uso agricola, deveré ter 0 seu pH elevado por meio de calagem, o que ird causar aumento dos valores de SB e V, aumentando, conseqiientemente, o seu pH e diminuindo o valor de Al** ede m. Os valores de Te SB indicam que o material constituinte da fracao coloidal é mais ativo, provavelmente com teor de matéria organica mais elevado neste solo, embora apresente poucas bases no seu compiexo de troca. solo C apresenta-se em boas condig6es quanto ao seu complexo de troca e caracteristicas com ele relacionadas. No quadro 8, para ilustragao, so apresentadas as medianas de algumas das caracteristicas discutidas, obtidas a partir de andlises de 518 amostras de solos sob vegetacao de cerrado (Lopes, 1975). Quadro 8, Medianas dos valores de pH, SB, Al, CTC efetiva, me matéria organica de 518 amostras de solos sob cerrado do Brasil Central Piiu,o sB AP: CT Carat m Materia organica ~ cemole dm? —|____ * gkgt Mediana 5,0 02 0.56 1 59 22 © No pH do solo (extrator KC11 mol 1"). Fonte: Lopes (1975) Capacidade de Troca Aniénica A capacidade de troca aniénica é definida como o poder do solo de reter anions na fase s6lida, numa forma trocével com outros anions da solugao. Entretanto, a manifestagao desta propriedade nao é tao caracterfstica quanto a troca catiénica, isto é, nao sAo atendidas tao perfeitamente as condigées de rapidez, reversibilidade e estequiometria. Por esta raza, a troca aniénica é mais freqiiente e convenientemente denominada adsorgao aniénica, sugerindo um processo mais complexo do que a simples troca. Um aspecto particular do comportamento de certos anions no solo € a adsorcao especifica. Por este proceso os Anions sao retidos pela fase sdlida, por meio de ligaces fortes (covalentes), passando a fazer parte da estrutura da micela, em sua superficie. Este tipo de adsorgdo é de baixa reversibilidade e é bem conhecido para o P, sendo 0 principal responsdvel pela fixacdo de P no solo, principalmente nos solos ricos em 6xidos e hidréxidos de Fe e Al. Uma reacdo desta natureza é aqui apresentada de forma simplificada (Mengel & Kirkby, 1982): on ° Feo Sf = TN? _4™ IAN SN I Fe i ° + +O +H,0 | Fe. FERTILIDADE Do SoLo 156 Roserto Ferrera Novats & Jaime Witson VARGAS o£ MeLLo O anion que pode deslocar o P da fase sélida do solo com maior eficiéncia € 0 silicato (H,SiO,). Em segundo lugar, vem o sulfato (S0,*). O nitrato e cloreto nao tém, praticamente, poder de substituir 0 fosfato. Pode-se dizer que a retencao de nitrato ¢ cloreto no solo se dé por adsorgao nao-especifica, que tem carater reversivel. Da mesma forma que a CTC, a capacidade de adsorcao de anions dos solos também pode ser determinada em laboratério. Para tanto utilizam-se, usualmente, curvas de adsorgao conhecidas como “isotermas de adsorg4o”. Uma das mais utilizadas para anions do solo, de interesse na nutricao das plantas, é a isoterma de Langmuir, a qual permite determinar a capacidade maxima de adsorcao do anion em estudo, como, por exemplo a capacidade maxima de adsorcao de P (CMAP) e de sulfato (CMAS) (veja capitulos VIITe X) . Essas isotermas sdo obtidas adicipnando-se solucées com concentragées crescentes do anion a um volume de solo conhecido. Apés o equilibrio, determinam-se as quantidades de anion que ficaram retidas na amostra do solo. Vale salientar que a técnica nao permite distinguir a quantidade adsorvida daquela que é retirada da solucao por reagées de precipitagao. Portanto, a capacidade maxima de adsorgao deve-se, na realidade, a fendmenos de adsorsao e de precipitacao do anion em estudo. A capacidade maxima de adsor¢ao de Anions varia com as caracteristicas do solo, notadamente seu teor e tipo de argila, podendo atingir valores bastantes elevados para solos muito intemperizados com altos teores de argila. Bahia Filho (1982) obteve valores de CMAP variando de 0,22 a 1,26 mg g? de P para Latossolos do Planalto Central do Brasil. Estes valores correspondem a uma retencao de, aproximadamente, 1.000 a 6.000 kg ha” de P,O, na camada aravel. Resultados obtidos por Dias (1992) ilustram o efeito do teor e tipo de argila na CMAP e CMAS de amostras de Latossolos (Quadro 9). Verifica-se que 0 solo MS, com menor teor de argila, apresenta valores de CMAP e CMAS menores em relagao aos demais solos, mais argilosos. A comparacao entre os solos PT (mais argiloso) e PC evidencia a importancia do tipo de argila na capacidade maxima de adsorgao, visto que o solo PC, apesar de conter menor teor de argila, apresenta maior capacidade de adsorcao em relagao ao solo PT. Quadro 9. Teores de argila e capacidade maxima de adsorgao de fosfato (CMAP) e de sulfato (CMAS) em amostras de trés Latossolos brasileiros Solo Caracteristicas Ms: rr Pc Argila (g kg”) 140 590 350 CMAP (mg em? P) 0330 0,940 1,640 CMAS (mg em? S) 0,008 0,30 0,220 TMS = Latossolo de Monte Santo; PT = Latossolo de Patrocinio; PC = Latossolo de Paracatu Fonte: Dias (1992). FertiL}oane 00 SoLo IV - Retacko Sovo-Puanra 157 As cargas positivas do solo, responséveis pela adsorcao anidnica, sio, normalmente, dependentes do pH do meio. Diminuindo o pH, aumentam as cargas positivas do solo e a adsorgao anidnica aumenta. Fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade Tampio As plantas absorvem os nutrientes, na forma de fons, da solugao do solo. Por sua vez, na fase sélida é que esté a reserva desses fons. Estes so repostos para a solugao quando sua concentracao é diminufda, decorrente da absor¢ao pelas plantas ou de alguma perda (veja capitulo VII). au solos} fon (a) <= Joni) (solugao) E importante, portanto, conhecer o teor de nutrientes em solucdo, a reserva desse teor na fase sdlida e 0 poder de reposicao para|a solucao, pela reserva da fase sdlida. Estas trés grandezas, inte-relacionadas, determinam a disponibilidade do nutriente e sdo denominadas Fator quantidade (Q): 6a reserva do fon disponfvel na fase sdlida do solo, trocdvel como 0 Ca*, Mg”, K* ou labil como para P, mas em equilibrio com sua concentracao na solucao. Fator Intensidade (I): € a concentragao, ou, mais precisamente, a atividade do fon na solugao do solo. Fator capacidade ou poder tampao: é a relacao entre os fatores quantidade e intensidade, dada faixa de concentracio (atividade) considerada (AQ/Al) (Figura 9). -———— | (Fator Intensidade) Q (Fator Quantidade) Figura 9. Relagio entre os fatores quantidade (Q), intensidade (1) e capacidade ou poder tampaio (FC) de um nutriente no solo. FERTILIDADE DO SoLo 158 Roserro Ferrera Novais & Jame WiLsoN VarGas oe MELLO Observa-se que 0 solo A tem maior FC ou é mais tamponado que 0 solo B (AQ/Al do solo A > AQ/AI do solo B). Na pratica, pode-se dizer que, para a mesma dose de P (Q), por exemplo, aplicada nos dois solos, o aumento da concentragio de P em solucao (I) seré maior no solo B do que no A. Uma possibilidade para justificar isto seria o solo B ser mais argiloso que 0 solo A, mantendo-se a mesma qualidade de argila (atividade) para ambos 08 solos. Outra maneira de representar a inter-relacdo entre os fatores I, Qe Q/Ié por meio de um sistema de vasos comunicantes (Figura 10).. Verifica-se, nessa representagio, que a quantidade trocavel ou Labil (adsorvido), do elemento EF est em equilibrio com a quantidade em solugao deste elemento. A tubulacéo que liga esses dois compartimentos representa I/Q, ou 0 inverso FC; logo, quanto maior 0 diametro da tubulacao, menor o FC para 0 elemento (caso do solo arenoso) em relacéo a. um menor didmetro (solo argiloso, como comparagao). A quantidade total de nutriente no solo disponivel a planta é igual a Q + I. Como o valor de I é muito menor que 0 de Q, nas determinacées de Ca trocavel ou de P-lébil de um solo, que representa medidas de Q,acontribuicao de I pelo seu valor muito pequeno, nao altera para fins praticos 0 valor deQ. A quantidade maxima que pode atingit Q do elemento, em dado solo, é dada pela CTC desse solo, para elementos trocdveis com ligagao eletrostatica, como para Ca**, Mg”, K-, Na’ e pela capacidade maxima de adsorgao do elemento (CMAE) por esse solo, para elementos labeis, com ligagées covaléntes, como 0 P e Zn, dentre outros Oequilfbrio entre Qe I indica que, quando o solo tiver seu valor maximo de Qde um elemento, ele teré também seu valor maximo de I; logo para Q igual a zero, I também sera igual a zero. O cultivo sucessivo de dois solos Norte Americanos (Quadro 10) de modo a causar-Ihes a exaustao do P originalmente existente indica uma concentragao de P em _-+Planta “. Perdas Figura 10. Inter-relagdes entre os fatores quantidade (Q), intensidade (1) e capacidade ou poder tampao (CF) de nutrientes no solo, numa representacao segundo vasos comunicantes. CTC = capacidade de troca catiénica; CMAE = capacidade maxima de adsorsao do elemento Ee N-Q = nao-labil ou nao-trocavel. FERTILIDADE DO SoLo IV - RetacKo Sovo-PLanta 159 solucdo (I) decrescente com os cultivos, como também mostram os valores de P pelo Mehlich-1 (aproximacao de Q). Observam-se valores iniciais mais altos de Ie de Q no solo com 6,4 % de argila (Norfolk) que naquele com 42,4 % de argila (Georgeville) e com quedas mais rapidas de ambos os fatores no sdlo menos tamponado, com menor FC, Norfolk, dado seu menor teor de argila. Quadro 10. Alteragées nos valores de fésforo em solugao ¢ pelo extrator Mehlich-1, em amostras de dois solos, um com 42,4 % (Georgeville) e outro com 6,4 % de argila (Norfolk) submetidos a cultivos sucessivos Georgevitle Norfolk caltive roe ae cach @) Meblich-t (Q) each Meblich-t (Q) mg lt me dm mgt mg dm? Iniciat ona 15.0 1.60 1684 Cultivo oa2 135 133 1535 2° Cultivo au ns 125 1339 3° Cultivo oat 104 0.69 mis 4 Cultivo oa0 92 ose 108,1 5° Cultivo 0.09 8a 067 817 6° Cultivo 0.07 70 049 690 7° Cultivo 0.07 6a 037 594 9° Cultivo 0.08 54 031 558 Média 10 96 ot 10446 Fonte: Novais (1977). O diametro da tubulagao (Figura 9) sera muito maior para elementos adsorvidos por troca idnica que para aqueles adsorvidos por covaléncia. O “transporte” indica que, para uma planta absorver um nutriente, nao basta que o solo seja capaz de cedé-lo; é necessario que o nutriente seja transportado desde a solucdo, prximo as particulas sdlidas do solo, até & solucao junto a raiz. Fator Intensidade : a) Solucao do Solo Os processos fisicos, quimicos e bioldgicos do solo sao altamente dependentes de sua fase liquida aquosa. Na auséncia de agua nao hé vida e, portanto, nao hé solo, mas fragmentos ou residuos produzidos pelo intemperismo fisico de rochas e minerais. Esse deve ser o material encontrado em Marte, assumindo, de fato, a inexisténcia de égua, ou mesmo em regides continuamente congeladas da Antédrtica, onde a 4gua, predominantemente na fase sdlida, permite apenas a formacao incipiente de solo. Fertiipave 00 Soto 160 Roserto Ferrera Novals & Jaime Witson Varcas be MELLO Os nutrientes na solucao do solo poderao ter suas concentracées diminuidas pela absorcao pelas plantas que podem também exsudar nutrientes minerais e compostos organicos para a solucao do solo, enriquecendo-a (Figura 11). A lixiviagao de K mesmo da planta viva também ocorre, tornando-se um suprimento do nutriente para a solucdo do solo. A solugao do solo pode ter ganhos de nutrientes por meio da aplicaco de fertilizantes minerais, organicos, fixagdo livre ou simbistica do N, atmosférico, e pelas. chuvas (Quadro 11). Os nutrientes na solucao do solo estao em equilibrio com os colides do solo, minerais e organicos, que podem fixd-los (K fixado em argilas silicatadas 2:1; P fixado em formas nao-labeis, etc.) ou formar complexos estaveis com a matéria organica do solo (Cu 6 um exemplo classico). Os nutrientes em concentracées elevadas, que ultrapassam o produto de solubilizagao, podem ser precipitados, a partir de suas formas idnicas da solugao do solo. HA perdas dos nutrientes da solucio do solo por meio da erosdo, lixiviagao e perdas gasosas pela desnitrificacao, volatilizagao de NH,, de CO, da respiracao de C organico dissolvido na solucao do solo, CH,, H,S, estes dois gases em solos submetidos a baixo potencial redox (inundados por longos periodos de tempo, por exemplo). Pianta g Bs | _tmenaste [Colas miners | gs Colsides organicos| 82 | Gineratzaqac’ 2 Perdas a Univiagao ©, NO Ne Ne CH, Ne Hs Figura 11. Interfaces da solugio do solo (fase liquida) com as fases mineral e organica, com a planta, e ganhos e perdas de seus componentes pelos mecanismos mais importantes envolvidos. FerTitioave Do Soto IV - Retagho Soto-PLanta 161 Quadro 11. Ganhos de nutrientes e de s6dio, pela chuva e atmosfera, em plantios clonais de eucalipto na regiao litoranea do Estado do Espirito Santo Macronutriente Micronutriente kg ha ano? g ha"! ano N 19,2 B 59,2 P 03 Fe 126,7 K 62 Zn 96,6 ca 19 Mn a7 Mg 16 cu 38,7 s ma Elemento kg ha! ano® Na 202 Fonte: Neves (2000). De modo geral, as rochas e minerais submetidos a intemperismo séo uma fonte de nutrientes constante para a solucao do solo, podendo atuar como dreno, fixando-os na sintese de novos minerais. Os residuos organicos ea microbiota podem pela mineralizagao enriquecer a solucao do solo ou empobrecé-la pela imobilizacao de elementos pelos microrganismos. Asoma de cations e Anions na solucao do solo é, de modo geral, inferior a 10 mmol L* (Quadros 12, 13 e 14). A solugao do solo é também constituida por compostos organicos dissolvidos (Quadro 15). b) Atividade e Potencial A concentragio de um elemento (fon) na solugao do solo pode ser corrigida para atividade idnica. Tal correcao ¢ feita por meio das equacdes de Debye ~ Huckel (Adams, Quadro 12. Valores de pH e composicao da solugao de amostras de solos dos Estados Unidos Solo pH Ca Mg OK" Na’ NH NOY CY HOY 80," Total rom § Textuamédie 582 817 OS Acido 39 40k OO 8B OR, OBB Fonte: Adaptado de Russel & Russel (1973). FeRTILIDADE 00 SOLO 162 Roserto Fearcina Novats & Jaime Witson Varcas of MetLo Quadro 13, Valores de pH e composigio da solugaio de uma amostra de Latossolo Vermelho distrofico tipico do Estado do Rio Grande do Sul, submetido ao plantio direto e convencional Sistema de cultivo pH Ca" Mg” Nat NH at Noy PO Total COD — —_|_~ —mmole L? ——_______ _ Plantio direto 54 1,006 8255 On 1.50 0,0039 01944 Plantioconvencional 5,5 05 03 04 O17 0161S 02s 7.67320 © Al total em solugao: AI mais formas inicas parcialmente hidrolisadas [AIOH, AKOH),).° COD = earbono organico dissolvida Fonte: Meurer &Anghinont (2000) : Quadro 14. Principais constituintes inorganicos da solucao de solos, agrupados segundo amplitudes de concentragées em que se encontram com freqiiéncia Amplitude de concentragao (mmol L) Constituinte §§ ——____ “HPI eee <1 109 310 307210 Cations Ce, Ni Cae, Poe Fer, Mn, Zni* Cur, NH, AP* (Cah, Mgt, Nas, K* Anions CO, HMOr HaPOv, FHS: HCOr, Ch, S0¢ Fonte: Adaptado de Shwab (1998). Quadro 15, Principais constituintes orgnicos da solugao de solos, agrupados segundo amplitudes de concentragées em que se encontratn com freqiiéncia em condigdes naturais Amplitude de concentragio (mmol L") <107 wat urboidratos, fendis, proteinas, alcoois, sulfidrias Acidos carboxilicas, aminoscidos, agticares simple Fonte: Adaptado de Shwab (1999). 1971, 1974). Apés a obtencao da atividade (a) de um fon, pode-se fazer uma transformacao adicional de sua concentracao ativa em potencial do fon na solugao do solo. Essa situacao pode ser comparada a presenca de certa atividade de H’* (a,,,) em concentragao (mol L) na solucao do solo, por exemplo, ay, = 10% mol L#. A acidez da solugdo poderia ser expressa dessa maneira ou, como normalmente ¢ feito, por meio do potencial de H (pH). © A avaliagao da atividade de um fon em solugdo pode ser feita com a utilizagdo de eletrodos seletivos (em potencidmetro), que medem potencial como pH, ou por uma série de célculos teéricos que, a partir da concentracéo de todos os fons nessa solucao, permite estimar a atividade do fon em questo. Todavia, nao se tem, ainda, um eletrodo especifico para todos nutrientes como para fosfato. FerTILIDADE DO SoLo IV - Retacho Soto-Puanta Oque se faz é, apenas, a transformacao matemética: pH Tog ans Para atividade de H* igual a 10* mol L”, o potencial de H, ou pH pH = -log 104 =4,0 Deve-se lembrar que com o aumento da ay, (aumento da acidez) hé uma diminuigao do pH. Essa relaco ¢ titil aos iniciantes nas interpretagdes da relacdo entre potencial de nutriente e crescimento de planta. A relacdo direta entre concentragao de H,PO,, por exemplo, na solucao do solo e crescimento de planta, é semelhante a existente entre a atividade de P (aH,PO, ) na solugao do solo e 0 crescimento, mas inversa quando essa atividade é expressa em termos de potencial (pH,PO,). Com 0 aumento do valor do potencial de P, menor concentracao de fosfato estaré 4 disposicao da planta, logo 0 crescimento deverd ser menor. A utilizacao de atividade no lugar de concentragao analitica do elemento em solucao 6 justificdvel pelo fato de que as reacdes ¢ equilfbrios qu{micos baseiam-se em atividade (Adams, 1974). O significado prético de ter a concentragao de um elemento em solucao, expressa em atividade (a) e nao apenas em concentragao analitica [C], é que (a) varia com as concentragées dos demais fons em solugao e [C], necessariamente, nao. Assim, quanto maior for a concentracao desses fons em solucdo, maior seré a forca idnica" dessa solugao, menor seré o valor de (a) do fon nela presente. A atividade de um fon é maior, aproximando-se de sua concentragao analitica, em solugdes muito dilufdas, tornando-se menor, medida que a forca idnica dessa solucao aumenta. Pode-se dizer que 1 mg L"de Al na solucao do solo pode ser téxico para uma planta, em um solo distréfico (menor ® Aqueles submetidos aos conceitos de atividade e de forca-iénica pela primeira vez sentem-se, com freqiiencia, nao sintonizados com o significado pratico desses conceitos. Como diversos outros conceitos tidos como académicos, eles so aceitos, mas nao assimilados ou entendidos. Temos utilizado em sala de aula um exemplo figurado que permite ao aluno facil entendimento desses conceitos. Pode-se considerar que uma crianga, A, brincando em um “playground”, terd sua ativida- de maxima quando apenas ela estiver presente. Todd 0 espaco e todos 0s brinquedos estéo a sua disposigdo, A medida que outras criangas aparecem, inica-ce uma restrigao A atvidade da crlanga A; espaco para movimentar-se e brinquedos so também ocupados por outras criangas. Com 0 aumento do niimero de criangas (aumento da “forca-inica”, com o aumento da concentragao de fons em solusio), a atividade da crianga A, ou de qualquer Outra erianca considerada individual- mente (atividade do fon A (A) ou do fon’X (X)), diminui. A atividade, varidvel entre criancas (algumas podem ser mais obesas, menos 4geis que oultras) como entre fons (pelas suas caracteristi- cas préprias), tenderé ao seu valor maximo quando q ntimero de criangas no “playground” tender para um (atividade do fon, tende a ter a mesma grandeza da concentracdo analitica do fon, quando a concentracao iénica-forca-idnica ~ da solucio tende para zero; nessas condigbes extremas (a,) = [C,} A crianca A no “playground” terd sua atividade também decrescida se uma ou mais criangas a assediarem muito por uma razao qualquer, restringindo-Ihe a atividade. Para o mesmo mimero de criangas no “playground”, a crianga A terd mais atividade se outras criangas a deixarem livre, sem assédio pessoal (“par-idnico ou compostos com baixa dissociacao”), limitando-Ihe a atividade. Aluminio na solugdo do solo teré sua atividade restzita pela presenca de outros fons em solucdo, como também pela presenca de alguns fons em particular, como SO,*, que forma par-idnico com AI", Ca®, ete. Portanto, a atividade de fosfato, por exemplo, em solugto dependera das caracteris- ticas do proprio fosfato (tamanho-iénico e valencia), da concentragao de outros fons em solugao (forca-idnica) e da formacio de pares-idnicos. FeRTILIDADE DO SoLo 164 Roserto Ferrera Novais & Jaime Witson VARGAS DE MELLO forga idnica), e que esse valor critico de toxidez sera maior, talvez.2 mg Lde Al, se o solo for mais rico em nutrientes (maior forca idnica) (Foy, 1974). As concentracées analiticas [C] erfticas de 1 ou 2 mg Lde Al, s¢ transformadas em (a), fardo com que os valores encontrados sejam teoricamente semelhantes (idem para potencial de Al ou pAl) nos dois solos. Para transformar a concentragao analitica de um elemento E em solugao [E] em atividade de E (E), 6 preciso estimar 9 coeficiente de atividade (f,) desse fon na solugao em que ele se encontra: (P); = f:LE] ay A solucio em que E se encontra é caracterizada pela sua forga iénica (u) ou intensidade do campo elétrico (Adams, 1971): BE %(BC,Z?) Q) em que C, é concentragao molar (analisada ou adicionada como um sal soivel a uma solugao nutritiva, por exemplo) de cada fon na solugao e Z, sua valéncia. Tendo a forca idnica da solugao, estima-se 0 coeficiente de atividade f: AZ tog p--AZ # 9 tea Bul? ® em que A e B sao constantes dependentes da temperatura (a 25 °C, A = 0,509 e B diz respeito ao solvente; para dgua, a 25 °C, B = 0,329); a, é uma constante relacionada com 0 tamanho do fon, (Quadro 16). Quadro 16. Tamanho de fons (valor empirico) de diferentes cations e anions em gua fon Tamanho 7) NEV‘, Rb*, Cs* 25 K*, CI, NOx 3.0 On, F 35 HaPO¢, SO, COs, HCOs, Na 4.0 HPO? POF 45 si, Ba 5.0 Li", Ca®*,Cu™, Zn", Mn 60 Me” 8,0 HY, Al” 90 ‘Th, Zr" 110 A= 01 am Fonte: Adams (1974). Fertilipave po Soto IV = Retacho Sovo-PLanta 165 Exemplo da atividade e do potencial de Ca® (ac, ¢ pCa) em uma solucdo com 0,01 mol L de CaCl, ¢ 0,02 mol L" de NaNO,, Calculo da forca iénica da solugao: = % (0,01 x 2° +2x 0,01 x 1? + 0,02 x 1? + 0,02 x 1°) = 0,05 mol L* CAlculo do coeficiente de atividade de Ca ({c,) na solucao: 0,509 x (0,05)! log fgg = SPS 7005) osisasis 146.0 x 0,329(0,05)" fc, = 10°55 = 0,4832 Esse valor indica que apenas 48,32 % do Ca* na solugao encontra-se na forma ativa. Cleulo da atividade de Ca (Ca) na solucao: (Ca) = 0,4832 x 0,01 mol L" = 0,004832 mol L? Calculo do potencial de Ca pCa =- log 0,00483 = 2316 0,00832 log Ocalculo do potencial de fosfato (0,5 pCa + pH,PO,) no solo, na verdade na soluao do solo, é apresentado por Novais & Smyth (1999). Quando ha formagao de pares idnicos, diminuindo a atividade dos ions envolvidos, ha necessidade de um calcul iterativo, em que aproximagdes sucessivas sao calculadas para chegar aos coeficientes de atividade e forga iénica inicialmente desconhecidos (Adams, 1974). Quando diversos pares iénicos sao envolvidos, esse tipo de clculo torna- se extremamente trabalhoso, quando nao se dispde do auxilio de programas de computacao préprios, como 0 GEOCHEM-PC (Parker et al., 1995). Um exemplo freqiiente de par idnico é CaSO,'; outro importante quando se fala sobre gessagem e toxidez de Al 60 AISO,". Esses pares idnicos fazem com que as atividades estimadas desses fons sejam inferiores aquelas em que esses pares nao sao considerados, Outra possibilidade, quando st extrai a solucao do solo, é estimar sua forca iénica a partir da determinacao de sua condutividade elétrica (Jallah & Smyth, 1995). Esses autores encontraram relacionamento linear entre forca idnica da solucao de amostras de solos, estimada pelo GEOCHEM-PC, e respectivos valores de condutividade elétrica, facilmente determinada (R? = 0,96, para 52 observagdes). Em termos praticos, pode-se dizer que a elevada toxidez causada as plantas pelo Al trocvel em subsuperficie de solos de Cerrado, no primeiro ano de cultivo, quando 0 i valor da concentracao analitica do Al [Al] em solugao encontra-se préximo do valor de sua atividade, decorrente da baixa forca iénica da solugdo do solo nessa condi¢ao, FerTILIDADE D9 SoLo 166 Rosenro Ferreira Novas & Jaime Wrison Varcas oF MELLO decresce com os anos de cultivo com a descida no perfil do solo de anions como Cl, NO;, SO,*, e com eles cations acompanhantes provenientes de fertilizantes aplicados superficialmente. Assim, a troca idnica da solugao do solo aumenta, decrescendo a atividade do Al (Al), mesmo que sua concentragao analitica permaneca semelhante aquela inicialmente encontrada, fazendo com que a toxidez causada pelo Al seja amenizada. Por raz6es semelhantes, as comparagdes entre resultados de trabalhos de pesquisa, de modo a se estabelecer uma concentracao de Al t6xica para uma espécie de planta sio impréprias. A utilizagao de diferentes solucdes com concentragées também diferentes entre os trabalhos tem como conseqiiéncia forcas idnicas distintas, nao permitindo chegar a uma mesma concentracao téxica de Al para a mesma planta, nas diversas solucées. Portanto, em uma solucao nutritiva com maior forga idnica, a concentracao téxica de Al seré maior que a encontrada numa outra solucio com menor forca inica. Da mesma forma, a comparacao entre diferentes solugdes (forcas idnicas) quanto A resposta positiva ao crescimento da planta (nivel critico), causada por nutrientes, torna-se possivel, quando as concentragOes analiticas criticas desses nutrientes sao transformadas em atividade ou potencial, anulando o efeito da forga iénica. Fator Quantidade O fator quantidade é uma medida do elemento trocavel do solo como Ca™, Mg”, K", AI", das andlises de rotina de fertilidade, independentemente do extrator utilizado no pats: Mehlich-1 ou Resina de Troca Catidnica ou, com mais freqiténcia, Resina mista (aniénica mais catiénica). Também para elementos, como P e Zn adsorvidos ao solo preferencialmente por covaléncia, com troca de ligantes, a Resina de Troca Iénica (RTI) pode ser considerada 0 método de determinacao do fator quantidade denominado, para estes casos, formas labeis desses elementos, formas do fon adsorvido a fase sélida do solo, mas em equilfbrio com sua forma na solucao do solo. OP fixado da forma nao-Labil (”ndo-trocavel”), por ndo se encontrar em equilfbrio como P em solugao, nao pode ser considerado uma forma de fator quantidade de P, e, portanto, nao-disponivel as plantas a curto prazo. Autilizagao de RTI ou mista, como um método de determinacdo de Q para elementos como o P, tem ressalvas, uma vez que com apenas uma extracao, como se faz na andlise de rotina do “disponivel”, extrai-se apenas parte do labil, em torno de 50 % (valor variavel entre solos) do total extraido pela somatéria de extracdes sucessivas. Para extratores quimicos como 0 Mehlich-1, 0 P extraido do solo é considerado uma medida de Q; erros podem ser grosseiros, uma vez que formas nao-labeis de P no solo podem também ser extraidas, de modo particular naqueles solos ricos em P ligado a Ca (P-Ca), para os quais este extrator nao é recomendado (veja ¢apitulo VIII). Uma das maneiras de medir Q de elementos retidos com maior energia nos solos, como P, Zn, S, é a utilizacao da técnica da diluicao isotépica, em que 0 elemento marcado adicionado a um solo, como oP, troca lugar com 0 P-labil ("P) do complexo de troca. Quanto maior a diluicao do *P da solugao pela troca com oP labil, ocupando seu lugar, maior o valor de Q deste elemento no solo. Valores E, Le A de nutrientes sio medidas de suas formas lébeis, ou Q, no solo (veja capitulo VIII). Fertit}oave 00 SoLo IV - Retagho So.o-PLanta 167 Capacidade ou Poder Tampio de Nutrientes no Solo Quando se falou sobre cargas do solo no inicio deste capitulo, criou-se a figura do sistema bancdrio como andlogo a esta caracteristica do solo. Dada a intima relagao entre cargas do solo e a capacidade ou poder tampao, como ser visto nos capitulos de acidez do solo e de P, pode-se adicionar mais um componente ao “sistema bancério”: 0 cliente 0u 0 usuario do banco. Esse sistema pode ser representado da seguinte maneira: PIE Banco +Poupanga <—— Dinheiro em espécie Esquema 1 (P) (©) Este esquema é semelhante ao do solo para um nutriente qualquer, como 0 Ca* no exemplo: (ait) solo} ca” —— ca" Esquema?2 (Q) ” Portanto, no sistema bancério, o cliente A (avarento) pode manter o seu dinheiro quase todo ou todo na poupanga, enquanto o cliente B (perdulério) coloca pouco dinheiro na poupanga, mantendo a maior parte em espécie no bolso, para ser gasto. Ha um equilfbrio entre poupanca e dinheiro em espécie, para cada cliente, em que a falta de dinheiro em espécie faz com que 0 cliente o recomponha recorrendo a poupanga e vice- versa: entrada de dinheiro em espécie faz com que parte dele migre para a poupanca. Ha um equilibrio entre os dois compartimentos (poupanga e dinheiro em espécie). Assim, a relagdo P/E do Esq. 1 pode ser considerada uma medida de “miserabilidade” de um cliente do banco: quanto maior P/E mais miseravel (avarento) e o contrario, menor P/E, numa comparacio entre clientes, mais perdulario. Voltando ao solo (Esq.2), hd 0 Ca” retido no complexo de troca adsorvido as cargas negativas (fator quantidade - Q) em equilibrio com o Ca em solugio (fator intensidade-1). O equilfbrio define a relaco Q/I que é uma medida do fator capacidade (FC) ou poder tampio (PT) de Ca em determinado solo. No solo A, 0 Ca” pode-se encontrar quase todo no complexo de troca, enquanto, no solo B, 0 Ca®, pode-se encontrar quase todo na solugao do solo. Para o solo A a relagéo AQ/Al é muito alta, 0 que indica um solo com elevado FC ou PT, caracterizado por ter muitas cargas negativas (CTC efetiva alta), o que é préprio dos solos mais argilosos (particularmente aqueles com argilas mais ativas, como as silicatadas do tipo 2:1 e, ou, com maiores teores de matéria organica). Adicionando uma planta ao Esq. 2: Parte aérea a planta a acpore ft Solo $ ca Scat SO ay Esquema 3 (Q) 0 FERTILIDADE DO SoLo 168 Rowerto Ferreira Novars & Jaime Witson VarGas oF MELLO Observe que hé dois drenos (solo ¢ planta) para a mesma fonte, 0 Ca™ na soluao do solo (1). No exemplo do sistema bancério, o cliente poderia ter a opgo de colocar 0 dinheiro na poupanca ou empresté-loa um amigo. Certamente, o amigo teria menos sucesso em obter o empréstimo com o cliente A (avarento) do que com o cliente B (perdulario). No solo, a planta vai encontrar menos Ca® na solugao de um solo com maior FC (0 argiloso, por exemplo) que no solo com menor FC (solo arenoso) para os mesmos valores de Q + lem ambos 0s solos. Para 0 caso do Ca*, a planta nao sera desfavorecida em relagao ao solo porque todo © Ca* do complexo de troca ir recampor 0 Ca® da solugao, A medida que este for absorvido pela planta. Esta nao-concorréncia enfre solo e planta pelo Ca* nao se verificou, quando ocorre, nao tem efeito pratico significativo independentemente do FC ou PT do solo, uma vez que a ligagao do Ca* com as cargas negativas dos solos se dé por ligagao iénica ou eletrovaléncia, com muito baixa energia de adsorgao. O mesmo modelo ocorre para o Na’, K', Mg” e para anions, como 0 Cl'e 0 NO, Por outro lado, a competigao entre solo e planta por nutriente, com predominio do solo sobre a planta, ocorre para nutrientes anidnicos como o fosfato (H,PO, e HPO,*) e, em menor grau, para 0 sulfato (SO,*) ¢ para cations como os micronutrientes metalicos de modo geral; como bons exemplos: Zn.e Cu. Todos esses nutrientes s4o adsorvidos ao solo por ligacdo covalente, com troca de ligantes ou adsorgao de esfera interna (Meurer, 2000). Nesse caso, as elevadas quantidades do elemento adsorvido e a elevada energia de adsorcao desses elementos com os coléides do solo fazem com que a reversibildiade do processo (dessorcio) seja restrita, limitada, e, com freqiiéncia, nao atendendo a demanda da planta mesmo em solos com elevados valores de Q. Essa condigao caracteriza valores de Q/I, FC ou PT, tao elevados que o dreno planta é colocado em prioridade inferior ao dreno solo. Pode-se adiantar que suprir NO, , K*, Mg** e Ca” via solo (fertilizantes ou corretivos) a.uma planta é uma tarefa simples porque o solo nao compete com a planta pelo nutriente adicionado, embora possa perdé-lo por lixiviacao; o mesmo nao pode ser dito para aqueles nutrientes como P, Zn, dentre outros, com os quais se pode estar fertilizando mais 0 solo quea planta. Para estes nutrientes com elevados valores de FC ou PT, em comparagao Aqueles fracamente adsorvidos, como as bases em geral (Ca, Mg” e K*), com baixos valores de FC ou PT, as doses de fertilizantes sao dependentes desta propriedade do solo ~ os mais argilosos deverao receber doses maiores para que a planta tenha algum. excedente para si. Para contornar ou minimizar o problema, esses nutrientes sao aplicados mais localizadamente, de modo a diminuir 0 contato com o solo (0 dreno indesejavel pelo seu poder excessivo), e suas fontes idealmente utilizadas na forma granulada. No caso do primeiro grupo, como nos de K" e NO,_, as perdas poderao ocorrer por lixiviacdo, devendo-se, com freqiiéncia, parcelar o nutriente durante o ciclo da cultura para compensar as perdas; no caso do F e Zn, como exemplos, embora presentes no solo (praticamente nao sao lixiviados), eles s40, em grande parte, fixados tornando-se menos acessiveis as plantas. FeRrTILIvADe 00 SoLo IV - Retacio Souo;PLanta 169 E quais as grandezas do FC ou PT para alguns dos nutrientes de cada um desses grupos? Assumindo que um solo tenha 62 mg dm (2 mmol dm?) deP pela RTI, 30 mmol, dmv? (15 mmol dm”) de Ca® e que esse solo tenha|em solugao as concentragées de 1,0 e 0,0039 mmol L” de Ca** e P, respectivamente (Quadro 13), pode-se estimar o PT ou CT para cada um desses nutrientes: 15 mmol dm FC s= “Timmol E77 = 15 mmol dm” / mmol L* 2mmol dm ; FC; = 950039 mmol? 512.8 mmol dm® / mmol L* Nesse exemplo, observa-se que o FC para P é 34,2 vezes maior que 0 FC para Ca. Calculo semelhante para K, em um solo com 78 mg dm* deste nutriente (2 mmol, dmv") 0,8 mmol L” em solug3o (Quadro 13), chega-se a uma FC, = 2,5 mmol, dm? / mmol L", valor 205,1 vezes menor que o de P. Uma medida de FC ou PT de solo é necessaria a interpretago de resultados de andlise de rotina de fertilidade de solo, de modo particular para o teor de P disponivel do solo pelo extrator Mehlich-1 e para a recomendacao de calagem pelo método do Al e Ca** + Mg** do solo (Alvarez V. et al., 1999 ; Alvarez V. & Ribeiro, 1999). Como resultados do teor de argila do solo nao sao, freqiientemente, dispontveis para esses fins, desenvolveu- se o método do P-remanescente, sensivel ao teor e & qualidade da argila do solo, como uma medida do FC ou PT do solo (Alvarez V. et al., 2000). E uma determinacao muito mais simples e de menor custo que a andlise textural e é incluida como uma das determinagées fundamentais das andlises de fertilidade do solo de rotina para o PROFERT- MG (Lopes & Alvarez V., 1999). Esta andlise nao é inclufda na rotina de laboratérios que utilizam a Resina na determinagao de P diponivel, resultado nao-varidvel (na verdade, pouco variével) com 0 FC ou PT dos solos, como também nao 0 é a determinacao da necessidade de calagem pelo método da saturacao por bases, ambos os métodos adotados no Estado de Sao Paulo, por exemplo (Raij et al., 1996). O método do P-remanescente envolve a agitagéo de uma solugao de 60 mg L” de P, em uma solugao de CaCl, 0,01 mol L* com a amostra de solo, numa relagao de 1:10 de solo-solugao (v/v) por 1 h. No sobrenadante, determina-se 0 P da solugao de equilibrio. A concentragao de P dosada (P-remanescente) é a diferenca entre 0 adicionado (60 mg L) eo adsorvido pelo solo Com o aumento do FC ou PT da amostra do solo, oP que vai permanecer (remanescer) em solugao € dosado; quanto maior o seu valor (mais préximo de 60 mg L”), menor o FC ou PT (solo mais arenoso, por exemplo) e, quanto menor esse valor, tendendo para zero, mais tamponado € 0 solo (mais argiloso, por exemplo) Orelacionamento dos valores de P-remanescente de diferentes amostras de solos e medidas da FC ou PT destes solos, como teor de argila (Figura 12), € apresentado no trabalho de Freire (2001). FeRTILIDADE 09 Soto 170 Roserto Ferreira Novats & Jaime WiLson VarGas De MeLLo ef = 52,44 -0,9646"x + o,0080"%' R= 0,747 Re Vi enite 80 78% de arate 4 z = % £ fa» Ore Reet ° 20 40 60 80 100 Argila, % Figura 12. Valor de f6sforo remanescente (P-rem), de acordo com 0 teor de argila em diferentes amostras de solo. Fonte: Freire (2001). TRANSPORTE DE NUTRIENTES NO SOLO Introducao A comparacio entre o comportamento de uma planta durante uma estacdo seca e aquele observado durante uma chuvosa permite verificar alteracdes bem distintas nesta planta. Os sintomas de deficiéncia nutricional que podem ser intensos em condigées de baixa disponibilidade de 4gua no solo diminuem em intensidade ou desaparecem durante 08 periodos chuvosos. Os lancamentos curtos do caule, quando em déficit hidrico, 40 seguidos de langamentos longos com © aumento da umidade do solo. Essa situagao é comumente observada no colmo de cana-de-agticar que, numa mesma planta, pode apresentar regides de entrends curtos alternadas com outras de entrends longos. EF facil verificar, ao acompanhar o crescimento da planta, a fntima relacao entre o observado ea distribuigéo de chuvas ao longo do ang. Como a deficiéncia de Zn é a responsdvel pelo menor alongamento celular observado nos entrenés curtos, pode-se deduzir que houve naquele solo, ondea planta cresceu, periodos de menor e de maior absorcao do Zn durante © crescimento da cana. Uma anilise de Zn disponfvel numa amostra daquele solo, a0 longo desse periodo, nao deverd acusar variagdes maiores, que justifiquem o observado. A medida que a raiz cresce num solo, ela absorve os nutrientes que, inicialmente, se encontram no trajeto de seu crescimento, Com o tempo, hé um decréscimo da concentracao desses elementos junto a superficie das taizes, a medida que eles sao absorvidos, criando- se um gradiente de concentracao entre esta regiao e aquela mais distante da raiz. Para que novo suprimento chegue & superficie de absor¢ao, torna-se necessério seu transporte até esse ponto, transporte que tem como veiculo a Agua FerTit}oape po SoLo IV - Retacio So.o-PLanta 171 Pode-se entender, conseqiientemente, que os elementos a serem transportados e absorvidos deverao estar na solugao do solo, em suas formas iénicas, para que o vefculo possa atuar, Um exemplo pratico da importancia desse transporte na nutricao de planta €0 Al que, em solos cidos, pode ser encontrado em solucao e ser transportado, absorvido e trazer problemas de toxidez para uma planta, e, quando precipitado pela calagem, jé nao entra mais em solucao, nao sendo, portanto, transportado e nao sendo, conseqiientemente, absorvido por essa planta. Fluxo de Massa, Fluxo Difusivo (Difusao) e Interceptacao de Raizes Dependendo do nutriente e de suas interagdes com o solo, dois mecanismos distintos so responsaveis pelo seu transporte no solo: * Fluxo de Massa e * Difusao Além destes dois mecanismos de transporte, ha um terceiro pelo qual a planta tem acesso ao nutriente. A medida que cresce no solo, a raiz encontra, ao longo da trajetéria, nutrientes que podem ser, entao, absorvidos. Este processo, denominado Interceptacao Radicular, embora seja conseqiiéncia do crescimento das raizes apenas, ele também, indiretamente, facilita aqueles dois mecanismos de transporte, principalmente a difusao, por diminuir as distancias entre os elementos e a raiz, de maneira mais intensa na sua regiao apical de crescimento, A quantidade de nutriente interceptado é aquela encontrada em um volume de solo igual ao volume de raiz. Assim, a contribuigao desse processo na quantidade total de nutrientes absorvidos pela planta é varidvel com o elemento e suas interacoes (ligacées) como soloe, evidentemente, coma quantidade de raizes por unidade de volume de solo, ou densidade de raizes. Embora o volume interceptado varie de 0,1 a 2 % da camada superficial do solo (de 0 a 15 cm), a quantidade interceptada de Ca, por exemplo, pode satisfazer aquela requerida por uma cultura (Barber, 1974), dada a grande concentragéo deste elemento no volume de solo (solucao) interceptado. De modo geral, considera-se pequena a contribuicdo da interceptagao de raizes comparada aos mecanismos de transporte, fluxo de massa e difusao (Quadro 17). Elementos que se encontram em maiores concentragGes na solucao do solo, como Ca, Nemesmo 0S, por serem retidos com menor energia na fase sdlida do solo que outros elementos, como o Zn e 0 P, séo transportados preferencialmente pelo fluxo de massa (Quadro 18). O fluxo de massa (FM) é consegiiéncia da existéncia de um potencial de 4gua no solo maior do que aquele junto a raiz. Esta diferenca de potencial que causa um movimento de massa da 4gua em direc & raiz, arrastando nela os fons que se encontram em solucio, é causada pela transpiragao da planta. Assim, o fluxo de massa segue o fluxo transpiracional da planta. Pode-se imaginar que condigdes que causem 0 fechamento de est6matos, como falta d’égua, deverao causar menor absorgao de Ca e de N entre outros de maior mobilidade no solo. Tecidos que apresentem baixa transpirac4o, como 0s meristemas das plantas e os frutos, como no caso do tomate, ficam em desvantagem, pelo Ca absorvido, com relacao as folhas jé desenvolvidas. FerTitipave pa Soto 172 Roserro Ferrera Novais & Jaime Witson Varcas o& MELLO Quadro 17. Teores médios de fésforo, potéssio e célcio na solugao de amostras de doze solos do Rio Grande do Sul e contribuigdo relativa da interceptagao de raizes, fluxo de massa e difusio no suprimento destes nutrientes para plantas de milho, em casa de vegetacao Nutriente _ Soluco do solo Interceptagio de raizes _Fluxo de massa Difusso mg L? ye Pp 035 35 26 93,9 K 124 bo 101 89,0 Ca 168,2 35.0 337,50 _ Este valor indica que, potencialmente, apenas 9 fluxo de massa Seria capaz de suprir, em mais de trés vezes, a quantidade de célcio absorvida pela planta. Fonte: Vargas et al. (1983). Em razao de elevadas concentragdes e de SO,* na solugio do solo, o FM é,na maioria dos casos, o principal mecanismo de transporte de SO,* as raizes. Em solos com elevado status nutricional, van den Ende (1973) observou que o FM era capaz de suprir SO,*, CI, Ca®, Mg®* e Na* em concentragdes superiores aquelas absorvidas pelas ratzes de tomateiro. Semelhantemente, Gregory et al. (1979) observaram contribuicao do FM quatro vezes maior que a quantidade de SO,” absorvida por plantas de trigo, em solos com elevada disponibilidade deste nutriente. Mesmo em solo muito intemperizado e dcido, mas com adequada disponibilidade de S, Prenzel (1979) observou que o transporte de por FM foi suficiente para que este nutriente se acumulasse ao redor das rafzes de faia (Fogus sylvatica). Em amostras superficiais de trés Latossolos de Minas Gerais, dois argilosos (LV- Paracatu e LVA-Vicosa) e um solo de textura média (LVA-Lassance), Silva et al. (1998; 2002) observaram transporte por FM, de forma geral, em quantidades de superiores as absorvidas pelas plantas de soja e de milho. Nesses solos, a concentragio de $ em solucio, 0 $ transportado por FM e o contetido de $ variaram de acordo com doses de S aplicadas aos solos (Quadro 18) Para as doses menores de S, em que o FM nao ¢ capaz de satisfazer a demanda deste nutriente pelas plantas, o transporte por difusdo completou seu requerimento, As plantas de soja precisaram de menor contribuigao de transporte por difusio do que as de milho. No solo de Vicosa, com maior concentracao de $ em solugao, a participacdo da difusao nao foi necessaria, contrariamente aos solos Paracatu e Lassance, para os quais a difusio foi necessaria. A participagao da difusio no transporte de $ para plantas de milho foi observada até a aplicacao de 40 mg dm’ de S nos solos de Paracatu e de Lassance, correspondendo as concentraces de $ em solugo de 10,9 mg L* (0,340 mmol L”), no solo Paracatu, e de 10,1 mg L" (0,316 mmol L”), no solo Lassance. Para elementos como 0 P que se encontra em concentrages extremamente baixas na solugo do solo, algo em torno de 0,05 mg L:" ou menor ainda em solos mais intemperizados, como os de cerrado (Bahia Filho, 1982), a contribuicao do fluxo de massa é muito peque- na, algo em torno de 1 % do P absorvido (Barber, 1974, 1980; Vargas et al., 1983). Fertitioape 00 SoLo IV - Retacho Sovo+PLanta 173 Quadro 18, Concentragio de enxofre em solucao do solo, de seu contetido nas plantas de soja e de milho e 0 transportado até as rafzes das plantas por fluxo de massa (FM) e difusao, em relacao as doses deste nutriente aplicadas em amostras dos solos de Vigosa, Paracatu e Lassance (MG) Deve Vicose Paraeata Lassance Ditw 5 Solusso Conteddo FM Solucto Contedde FM Soluio Conteudo FM Vices Parscatu. Lassance pda? mg” —ms/vaso— mg’ mg /veno— mg bv Soja 0 20 MS 339 AB 8S wa ma 555-789 8T | 106 4000s ase dm na? so fo 0378 ak OSS ROTO 160 M04 A895 A892 ww aE m 352 SRST km 2380 ee so 625s 02 at wR | 3a ma . 0248S SAS 5S fz 9B 87 - Fonte: Silva et al. (1998; 2002) Para aqueles elementos, como 0 Pe 0 Zn, que se encontram fortemente adsorvidos a0 solo e, portanto, com baixo teor na solugao, a difusao torna-se 0 mecanismo de transporte responsavel pela quase totalidade absorvida destes elementos. Este tipo de transporte ocorre quando a absorgao é superior a chegada do elemento & superficie da raiz, criando- se, assim, um gradiente de concentragao que proporciona a difusao dos nutrientes. Todos aqueles que tém um fogao a gas em casa jé devem ter sentido 0 odor do gés proveniente de vazamento. A intensidade desse odor vai depender do tamanho do vazamento, ou seja, da quantidade de gés liberada; vai depender também da distancia em que se esté do fogao, do labirinto, maior ou menor, entre 0 fogao e 0 local em que se encontra uma pessoa e de possiveis obstaculos entre esses dois pontos, como portas parcial ou totalmente fechadas. Quanto maior o yazamento, mais répida a percepcao do gas; semelhantemente, se mais préximo do fogao, como na cozinha, percebe-se 0 odor mais rapidamente; se mais distante, como na sala, demora-se mais. Se o labirinto ou tortuosidade entre o fogao e 0 local em que se encontra uma pessoa for maior, o gas vai demorar mais para chegar até ela. Se houver alguma porta fechada, que possa criar algum obstaculo ou impedimento & passagem do gés, demora-se mais ainda para percebé- Jo, ou, até mesmo, pode-se nao o perceber. Nesse exemplo do gas, verifica-se que se estabelece um gradiente de concentragao entre o local de alta concentracao, junto ao lugar de vazamento, ¢ locais em que a concentragao do gas tende a decrescer até os locais mais distantes, onde ele ainda nao esté presente. Quanto maior esse gradiente, quanto menores a tortuosidade de sua trajetoria eo grau de impedimento dessa trajet6ria, mais rapidamente o gas ser difundido até a pessoa. Assim FeRTILIDADE DO SoLo

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