You are on page 1of 11
org. ANA MAE BARBOSA a experiéncia de brasilia | simpdésio internacional de historia da arte-edut - ECA-USP HISTORIA DA Série AR’TE 2 / MAX LIMONAD Histéria da Arte-Educacio A Experiéncia de Brasilia I Simpésio Internacional de Histéria da Arte-Educagaio - ECA-USP organizagio: Ana Mae Barbosa Copidesque ¢ Revisio: Rogério Carlos Gastaldo de Oliveira 1. edigio, 1986 2000 exemplares Copirraite Ana Mae Barbosa Copirraite da presente edigfo Editora Max Limoned Ltda, R. Quintino Bocaitiva, 191, 4." Sao Paulo - SP Tel.; 35-7393 INDICE HISTORIA DA ARTE-EDUCAGAO ........... 00.0008 Ana Mae Barbosa A FORMAGAO DO ARTE-EDUCADOR NO BRASIL .. . Noemia de Aratijo Varela UMA EXPERIENCIA INGLESA Léa Eliot A HISTORIA DA IDEIA DE UTILIDADE SOCIAL NA EDUCAGAO DA ARTE E DO DESIGN - BAINGRATERRA a: Sian o6 ecevien aaa Gules cent David Thistlewood FAZER ARTE-EDUCAGAO FAZ UMA DIFERENCA NO MUN) ia 8 -tssencaes n4.4 olsiire pavaalesined stsletlon ets Robert Saunders AS ARTES NO VOCACIONAL. 0.00. cc eceeeneeeree ee Margarida Pinho MODERNISMO E ESCOLA DE ARTES EM MINAS ... . Ivone Luiza Vieira A EXPERIENCIA DE BRASILIA (Mesa Redonda) ...... O que me assustou nao foi o desconhecimento das Jutas tra- vadas no Brasil desde o século XIX por positivistas e liberais, para tornar a arte disciplina obrigatéria nos curriculos, nem o des- conhecimento das indmeras experitncias de implantagao de Arte na Es.ola, a partir da década de 20 no Brasil. O que me assustou foi descobrir que o professor de arte se pensa sem Histéria ¢ Histéria é importante instrumento de auto identificagao. Nao € por acaso que os colonizadores procuraram destruir a Histéria dos povos colonizados. Ignordncia da propria Histéria torna os povos mais facilmente manipulaveis. A Historia da Arte-Educagéo é importante para os profes- sores de Arte, porque somos um grupo caracterizado como uma minoria. Nés somos discriminados negativamente no sistema esco- Jar através de escasso ntimero de horas/aula, do excesso de alu- nos por classe, da pobreza de instrumental, da auséncia de finan- ciamento para material e estudos avancados, da negacdo de credi- bilidade académica e da suspeita de incompeténcia profissional generalizada. Como qualquer outra minoria que é habitualmente desconsi- derada, desenvolvemos uma auto imagem fraca e negativa. “Entao, como qualquer minoria, os Arte-Educadores preci- sam conhecer suas raizes, suas tradicdes, a heranga de sua pro- fissao, seus heréis e heroinas. Eles precisam conhecer acerca de seu passado, do mesmo modo que qualquer minoria precisa se or- gulhar deste passado e de si mesmo. Nossa profissao teve origem no tempo das cavernas e nés devemos nos orgulhar dela e do que nds somos” (Robert Saun- ders, 1984). E 0 trabalho de auto identificagio do Arte-Educador atra- vés da Histéria continuou, Em cada Estado e em cada Continen- te, grupos de estudos trabalham na coleta e interpretacao de da- dos durante dois anos. Nos reencontraremos na Bahia, para a in- tercomunicagéo de nossos achados e debates interpretativos du- rante o II Simpésio Internacional de Hist6ria da Arte-Educacao e Oficinas Experimentais. A FORMACAO DO ARTE-EDUCADOR NO BRASIL Noemia de Aratijo Varela * Agradego o convite para participar deste Simpdsio tao sig- nificativo e, de certo modo, sinto-me emocionada, pois 0 chama- do da Escola de Comunicagées e Artes, através de Ana Mae Bar- bosa, neste momento, representa para mim um ponto mais alto nos meus 30 anos de trabalho como arte-educadora, visando a for- magfio do arte-educador. ee & Ontem e hoje, procura-se penetrar nesta questfo bdsica — estar no Amago do processo de formagao do arte-educador, agin- do na busca de respostas. Cada vez mais, sente-se a necessidade de aprofundar uma tomada de consciéncia essencial quanto a esse Processo, 0 que exige, conseqiientemente, um constante pensar e repensar sobre a formacao do arte-educador. * Diretora técnica fundadora da Escolinha de Arte do Recife/Pernambu- co. Professora do Curso de Formaciio de Musicoterapeutas e da Pés- Graduaggo em Misica do Conservatério Brasileiro de Misica/Rio de Janeiro. Ex-membro do Conselho Mundial da INSEA para América do Sul ¢ Central, Sécia fundadora da Sociedade Brasileira de Educagio Através da Arte — SORREART — e membro de seu Conselho Consul- tivo. Na Escolinha de Arte do Brasil/Rio de Janeiro, de junho de 1959 a abril de 1982, ocupou varios cargos técnicos e pedagégicos. 11 O fato € que, muito embora se tenha o Curso de Licenciatu- ra em Educagao Artistica nos principais nticleos universitarios do pais, a despeito de algumas tentativas renovadoras, visando qua- lificd-los, ainda nao temos o Curso de Educacao Artistica com a estrutura e dindmicas mais indicadas & capacitagao de recursos humanos essenciais 4 Arte-Educagao. A arte no ensino de 1.° e 2.° graus continua sem espaco, con- tinua a ser superficializada, sem uma linha filoséfica que lhe dé unidade e forga, ¢ o arte-educador sem o desempenho desejado — embora habilitado — sem horizonte e ainda sem assumir o papel de agente transformador na escola e na sociedade, A sensfyel diferenga, em relagéo hd dez anos atrds, é que, hoje, o professor e o licenciando da érea de Educacao Artistica reagem ou comegam a querer reagir e, nao conformados, pro- curam solugGes novas. Cria-se um clima de maior esperanga, pois, cada vez mais, surgirao os que, muito construtivamente, poderao pensar 0 que nao foi feito quanto & formagao do arte-educador, ¢ desse modo, revolucionar sua formagao em nivel de graduagao e de pés-graduacio. Mas, que devemos pensar da formagio do arte-educador? Quais as relagGes da arte com a educagfo que poderio melhor delimitar o lugar e a natureza do processo de formacao do arte- educador? O que dé mais a pensar sobre esta quest&o ¢ que ain- da nao foi pensado? Que € necessério desaprender para encon- trar o caminho mais sdbio que nos leve a elaboragio mais rica do processo de formagao do arte-educador? Na yerdade, precisamos de um caminho de sabedoria que nos conduza A apreensaéo de um processo de capacitaciio de re- cursos humanos mais auténticos, caracterizado por atitudes de desenvolvimento receptivo e,contemplativo. Caminho que, no mo- mento atual, sinto necessitar de “siléncio e trabalho”, no sentido que Sao Joao da Cruz deu a essas suas palavras, pois o discurso da formagao do arte-educador desdobrou-se. Inflou de tal modo que, hoje, percebo a necessidade crescente de se buscar outros pontos referenciais incentivadores de reflexaio para o préprio apri- moramento da educagao. Nesse sentido, a fala que nos vem do passado, de Sao Joao da Cruz, também nos convém como hori- 1. Cruz, Sao Joo da — Trecho citado in: Huxley, Aldous, Demé- nios da Loucura, Rio de Janeiro, Companhia Editora Americana, 1972. 12 zonte. Ela foi dirigida a um grupo de freiras queixosas, de que ele nao respondia as cartas por elas escritas onde, com todos os pormenores, relatavam seus estados mentais. E tiveram uma res- posta que nos serve de referéncia para repensar o processo de for- magao do educador. Resposta de conselheiro, mistico ¢ poeta: “Nao foi por falta de vontade que eu nao escrevi para vocés, por- que lhes quero muito bem; mas porque me parece que ja foi dito © necessério e o que est4 faltando (se qualquer coisa est4 faltan- do) nao s&o escritos nem palavras — a respeito do que ha, geral- mente, mais do que é necessério — mas siléncio e trabalho” (. “9 falar distrai, o siléncio e o trabalho concentram os pensamen- tos e fortalecem o espirito”’. Permitir-me-ei acrescentar mais uma indagagaio, que teve lugar ao longo de meu trabalho no campo da formagao do arte- educador, que ocupou espaco temporal mais expressivo, signifi- cando transformagao, luta, uma sucesso de conhecimentos que se ordenam numa dimenséo histérica. No mapeamento desses acontecimentos, qual se revelou como mais criativo, revestindo-se de certo nfvel de historicidade, coerente com o tema que me cabe apresentar? Importa, naturalmente, este repensar a histéria da forma- go do arte-educador em suas diversas alternativas ¢, neste senti- do, concentrei minhas reflexes nas imagens e fatos que para mim constituiu um exemplo ainda nao esgotado em sua acao for- madora, Poderd, por conseguinte, ter significado de complemen- tariedade, revelando o que se fez no campo da educacao nao-for- mal, em um espago auténomo e gerador de experiéncias na pers- pectiva da arte-educagao — o que se fez, de 1961 a 1981, na Es- colinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro. Escolinha fundada, em 1948, pelo artista Augusto Rodrigues, juntamente com a artis- ta norte-americana Margaret Spence e a professora Lucia Alen- castro Valentim. Assinalo, entretanto, que devo limitar minha contribuigio a ser dada numa perspectiva histérica, a aspectos para mim funda- mentais & formagao do arte-educador. Recorrerei a fontes diversas — memérias, notas, documen- tacao, entrevista, testemunhos — para evitar que fique no esque- cimento e tornar mais clara a imagem do tipo de formagao de re- cursos humanos que apresentarei, evidenciando sua fungao e sig- nificado no contexto da arte-educacao, no Brasil. 13 A existéncia, valor e forma de uma experiéncia que tomou forma e se objetivou no decorrer de vinte anos, sera, ent&o, o nticleo vital de toda a minha reflexao, como forma de educagio através da arte que se estruturou com muita autonomia, consti- tuindo um criador modelo de educagio, inspirador de transforma- ges na prética ¢ na teoria, no ambito da prépria educagao bra- sileira. Modelo vilido e ainda nao esgotado. Participei do processo dessa experiéncia, desde seu inicio rica em fatos, eventos € resultados, de 1961 a 1981. Ela me fez, faz e faré pensar em educacao — especialmente na formagao do arte-educador. REFLEXOES SOBRE O CURSO INTENSIVO DE ARTE NA EDUCACAO Para mim, nao é tarefa facil resumir a histéria do Curso In- tensivo de Arte na Educacao — curso que focalizo neste Simpé- sio — pois 0 acompanhei tao de perto como professora ¢ coorde- nadora, durante vinte anos, que receio nfo ter ainda a distancia necessdria para uma anélise mais objetiva. Nele coloquei toda a minha prépria experiéncia como educadora, em nivel existencial € tedrico. Na infancia, de infcio, tive uma escola bem tradicional, no interior de Pernambuco, onde aprendi a ler, escrever e contar — escola amoral, atendendo criangas e adolescentes, escola reunin- do varias séries do primério (1.2 grau). Mais tarde, j4 residindo em Recife, estudei em escolas piblicas, concluindo o primario, o gindsio e 0 curso normal num clima de reformas constantes: refor- mas de sistemas educacionais; cursos, programagao, metodologia. Epoca da influéncia da Escola Nova. Tudo isso resultou que tivesse um prim4rio mais rico em ex- periéncias, com professores recém-formados pela Escola de Aper- feigoamento de Pernambuco e, também, tivesse um curso normal a cargo de docentes humanistas, muitos j4 conscientizados das ne- cessidades de mudangas mais amplas no campo da educagao bra- brasileira. Lembro-me de alguns nomes — de mestres como Dr. Sylvio Rabello (psicélogo pesquisador), Dr. Estevao Pinto (antro- pélogo), Professora Eulalia Fonseca (criativa professora de dida- tica) que marcaram época pelos seus estudos, pesquisas e atuacao 14 renovadora. Penso que esse clima de reformas e transformagées sucessivas prepararam-me, muito naturalmente, para meu encon- tro com a educagao através da arte, em 1949, quando, pela pri- meira vez, visitei a Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro. Meu desenvolvimento com a Escolinha de Arte do Brasil me levou a integrar a arte no processo de educagéo do deficiente mental, na Escola Especial Ulisses Pernambuco, em Recife, de 1949 a 1957. E, também, a integrd-la na programagao do 1° Cur- SO que organizei, nessa mesma Escola, em 1953, destinado a pro- fessores interessados em educag&o especial. Neste mesmo ano, foi fundada a Escolinha de Arte do Recife por educadores e artistas — entre eles lembro Augusto Rodrigues, Ayrton Carvalho, Aloi- sio Magalhaes, Ana Paes Barreto — e passei, por conseguinte, a me dedicar, cada vez mais, & arte-educacéo, como professora ¢ diretora técnica fundadora dessa Escolinha. Assim surgiu, no Nor- deste, o espago onde, desde 0 inicio, trabalhamos visando melhor preparar 0 educador — sobretudo o professor do 1.° grau — des- pertando sua capacidade criadora, levando-o a descoberta da edu- cagao através da arte. Mais tarde, em 1954, Paulo Freire e Antonio Baltar, ambos nessa época professores da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco, indicaram-me para ensinar Didética do Desenho, no Curso de Professorado de Desenho dessa Escola. Foi- me permitido um novo campo de experiéncias e aprendizagem, onde encontrei o programa de minha disciplina inteiramente su- perado, tendo de refazé-lo, atualizando-o e dando-lhe a necessdria fundamentagaéo para uma nova linha de ago que reflitia a gran- de influéncia do Movimento Escolinha de Artes, do pensamento de Herbert Read e da contribuig&o teérica ¢ pratica de Viktor Lowenfeld. Era, como veém, uma iniciativa na arte de educar através da arte. Ousada ¢ sonhadora, nao resta duivida. Mas, muito cedo, humildemente, enfrentei as dividas que surgiram com a pratica, 0 estudo ¢ a critica, diante dos resultados. Toda essa visio e fazer em educacio, transportei para o Curso Intensivo de Arte na Educag&o, o novo curso criado em 1961, na Escolinha de Arte do Brasil. E que significado tem o Curso Intensivo de Arte na Edu- cagao? 15 Na busca de uma resposta citarei, inicialmente, partes da conferéncia que fiz, em 1972, ‘Criatividade na Escola e a For- magao do Professor” *, dando enfoques mais objetivos sobre o Curso Intensivo em questao: “Desde 0 inicio, a Escolinha — corpo e alma do artista Au- gusto Rodrigues — atuou em processo criativo. Intuicdo, fluén- cia € flexibilidade na descoberta da melhor forma de motivar e trabalhar a crianga foram seus primeiros passos e continuam ca- racterizando toda sua agao educativa”’, Em 1960, um acontecimento se projetou como fonte de no- vas experiéncias, Neste ano, a Escolinha aceitou para estdgio in- tensivo cinco professores de desenho e pintura vindos do Rio Grande do Sul, recém- saidos da Escola de Belas Artes ¢ que cs- tayam interessados em trabalhar em Escolinhas de Arte e, tam- bém, em escolas e colégios seguindo a orientagao da Escolinha de Arte do Brasil: Foram aceitos juntamente com sete professores do Rio de Janeiro, Bahia, Rondénia e Guanabara. As experiéncias e deba- tes programados reuniam estagidrios e professores, das 9:00 as 17:00 horas, porém, o dia de trabalho terminava quase sempre as 21:00 horas. Durante um més, aproximadamente, trabalhou- se de modo intensivo, visando-se a andlise da experiéncia Esco- linha de Arte do Brasil em sua estrutura e dinamica em seus pro- cessos € técnicas, em seus principios fundamentais. O debate es- clarecia como integrar arte no processo educativo, e qual a forma de fundar e fazer funcionar uma Escolinha com mais éxito e ain- da como melhor preparar o educador para a avaliagao de sua ex- periéncia em classe. Nao havia propriamente professores-alunos € mestres. Estavam todos envolvidos no didlogo e nas experién- cias criativas. A conferéncia e o livro eram apenas instrumentos para esclarecer o processo em marcha em seus aspectos educati- vos” (...) Foi uma experiéncia-matriz de resultados surpreenden- tes, soma de 12 anos de atividades”, Experiéncia que nos apontou uma nova modalidade de cur- so: em tempo integral, estruturado com mais profundidade, con- 2. Varela, Noemia de Aratijo — “Criatividade na Escola e a Forma- gio do Professor”, in Arte & Educagao (Jornal da Escolinha de Artc do Brasil), ano 1, n° 12, julho de 1972, 16 gregando interessados de todo o pais. Em 1961, a Escolinha de Arte do Brasil organizou o primeiro Curso Intensivo de Arte na Educagao (CIAE), inspirado em seu Estagio de 1960, constando, também, de sua programacao o I Seminario de Arte e Educacao r ela realizado e do qual todos os professores-alunos do-CIAE ‘oram ativos participantes. . Conseguimos, a partir de 1961, organizar e ministrar, anual- mente, um a dois cursos intensivos, que foram, seguidamente, re- estruturados em seu nticleo experimental prético e te6rico, am- pliados em sua carga horSria, atualizados quanto a seu corpo na medida de seu contetido, interesses e necessidades dos alunos ¢ do meio ambiente, onde trabalhavam em seus Estados e outros ises. Bs Creio haver necessidade de ressaltar mais algumas caracte- risticas desse Curso, apuradas no decorrer de seus primeiros dez anos e ainda marcantes até 1981. Poderéo gerar reflexdes com- parativas na busca de uma nova forma de capacitacao do profes- sor, a partir de experiéncias realizadas no Ambito da educacao formal e nao-formal: . *& um curso (CIAE) provocador do que chamamos pronti- dao para mudangas, muitas vezes bem sensiveis — seja no pro- prio professor-aluno, seja em escolas e outras instituigdes — alar- gando, estrategicamente, dimensées da personalidade e estenden- do as fronteiras da experiéncia nas Escolinhas de Arte. Como exemplo, citamos apenas a rede de Escolinhas de Arte do Rio Grande do Sul, onde funcionam Escolinhas como entidades pri- _ vadas ligadas a Universidade (Universidade Federal de Santa ria e Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Escolinhas ada pela Secretaria da Educacio e Cultura do Estado, bem como as que so apoiadas pelo governo municipal (:..) Lembra- mos, também, 0 harmonioso trabalho da Escolinha de Arte del Paraguay, fundada somente em 1959, que conseguiu hé alguns anos motivar a integragéo da arte no sistema educacional para- guaio (...) Nao recebendo o Curso Intensivo apenas professores titulados e leigos, caracteriza-se, também, pela sua abertura para artistas, artesfos e estudantes de arte; psicdlogos e professores de Pedagogia, juntamente com alunos dos cursos de Psicologia e de Faculdade de Educacéo — motivando o impacto e a descoberta do outro, em sua originalidade e poder criativo, em seus condi- cionamentos e pobreza de expressdo simbdlica. Na verdade, o : 17 Curso Intensivo € apenas o comego de um lon; OCeSSO - paracaio do professor criativo (...) E um eieacnibian Te descoberta jamais completo, estimulando atitudes pela reformu- lagao e reavaliagao de experiéncias (...) A equipe de professores do Curso Intensivo vem sendo formada de modo singular ¢, mais uma vez, Augusto Rodrigues, na época, inovou quando, na pro- cura da solugéo para formé-la, chamou nao somente o professor titulado e com experiéncia de alto nivel, mas também, conquistou para essa equipe o artista, o artesao, 0 critico de arte, o jornalista, © técnico de futebol, o poeta, o cientista e todo equele capaz de alargar a percep¢ao do professor-aluno. A diversidade de forma- ga0 do staff de professores e a heterogeneidade do grupo de pro- fessores-alunos tem constituido fonte de renovacao e transforma- go desse curso (..) Proyoca o uso da imaginagao na meta da orga- nizagao de experiéncias construtivas. E um aprender fazendo, que se fundamenta em estudos sobre Arte, Educacao e Psicologia, e no enfoque dos principios filosdficos basicos para uma melhor compreensao de como educar pela arte (...) A prdtica criativa através das artes plasticas, danca, teatro, miisica e outras formas de expressio artistica foi ampliada, desde 1970, com estudos so- bre arte na perspectiva de um desenvolvimento estético do pro- fessor-aluno €, também, através da integracio de experiéncias que, focalizando meios © processos educativos, desse aos alunos do curso a oportunidade de desenvolverem projetos globalizado- res de atividades artisticas e outras dreas de estudo (...) O traba- tho foi feito por educadores e pesquisadores, bem como experién- cias de releyo no campo da educacao artfstica, sfo incorporados na programacao do curso para a atualizacao e incentivo da for- magao do professor-aluno (...) Nao formamos o professor espe- cializado em arte, mas indicamos ao educador o caminho para a mudanga, a fim de descobrir, se lhe convier, a sua especializacao. Por muitos anos, no Brasil, o CIAE foi o tinico curso desti- nado a professores de todos os graus de ensino — o que nos per- mitiu, de certa forma, incentivar e descobrir a criatividade do © educador brasileiro: “Seu processo criativo (do Curso Intensivo de Ar - cago) e aberto atraiu o artista e o estudante de Sree possivel sua integragéo em Escolinhas e Escolas, como educado- res, Foi criado um novo mercado de trabalho para o educador. O artista transformado no artista professor, inserido numa outra 18 forma de trabalho criativo, capaz de captar sua sensibilidade, pen- samento ¢ ago criadores para a renovaciio da escola”. Na conferéncia que fiz durante o Encontro do Movimento Escolinhas de Arie, realizado no Rio de Janeiro, no perfodo de 17 a 21 de julho de 1972, tive ainda a oportunidade de ressaltar © quanto tinhamos necessidade de reestruturar 0 Curso Intensivo de Arte na Educagao. Hoje, decorridos 12 anos, ainda se faz mais premente essa reestruturacao que, infelizmente, nao foi objetivada. Vale a pena lembrar 0 que foi por mim colocado, naquela ocasiao, em seus aspectos mais vinculados & reforma do Curso Intensivo: “As implicagdes decorrentes da aprovacao da Lei 5.692/71, tornando obrigatéria a educagao artistica no ensino de 1° ¢ 2° graus, aumentaram a procura do Curso Intensivo de Arte na Edu- cago (...) E, desde abril passado, juntamente com outros direto- res, professores e conselheiros da Escolinha, demos os primeiros passos para essa reformulagaio (...) Ha idéias em germinagao para essa reforma que apresentaremos em linhas gerais (...) O Curso deve conservar seu cardter de processo aberto ¢ criativo, e ser ministrado com o minimo de 850 horas de atividades (presente- mente, 0 curso de quatro meses, tem 510 horas de atividades) (...) Precisamos de um curso regular, anual, oficializado, funda- mentado em nossa experiéncia no que tenha de construtivo e coe- rente com nossa politica educacional. Precisa ser ministrado em dois ciclos para atendermos educadores do pafs e exterior; ¢ con- tinuarmos recebendo professores nao titulados (no 1.° ciclo) ar- tistas, outros profissionais ¢ interessados (...) O primeiro ciclo seria estruturado em bases semelhantes ao CIAE-70, 71 € 72, apés a necessdria reavaliaciio. Desse modo, continuaria com seu caré- ter informal de iniciacio, propiciando o desenvolyimento criador e a formaco de atitudes basicas ao ensino criativo (...) Esse pri- meiro ciclo serviria de campo para a gradativa selecao dos candi- datos ao 2.° ciclo (do CIAE), onde chegariam mediante proces- sos de auto-avaliacao, trabalhos praticos e tedricos, valendo cré- ditos ou pré-requisitos, desde o 1.° ciclo, para a conquista do cer- tificado de um curso de nfyel superior, em sua etapa final (...) No 2.° ciclo do CIAE, o aluno teria, de preferéncia, 0 acompa- nhamento e andlise de sua experiéncia criativa e de sua prética de ensino; pesquisa, estudo da teoria da arte na educacio, conhe- cimento bdsico sobre estética e, ainda, aprofundamento no estu- 19 do da psicologia da criatividade, da percepedo e da aprendiza- gem (...) Na yerdade, estamos procurando a mais adequada res- posta para a formagao do professor na Escolinha, sem privé-la de sua liberdade e direito de sempre se renovar e criar; sem mini- mizé-la na atmosfera esponténea que a caracteriza’ Essa proposta de reestruturagao do CIAE nfo se concreti- zou. Cristalizou no 1.° ciclo, desde 1971, tendo 400 horas-ativi- dades, sendo ministrado semestralmente. Mesmo assim, atendeu a 1200 alunos, aproximadamente, no perfodo de 20 anos, proce- dentes de todas as regides do Brasil, vindos da Argentina, Uru- guai, Chile, Paraguai, Peru, Venezuela, Honduras, Panama, Por- tugal, Franga e Israel, Seu corpo docente contou com professores, artistas, pesqui- sadores como: Anisio Teixeira, Helena Antipoff, Augusto Rodri- gues, Ferreira Gullar, Nise da Silveira, Abelardo Zaluar, Liddy Mignone, Edison Carneiro, Cecilia Conde, José Maria Neves, Fayga Ostrower, Carlos Cavalcanti, Clarival Valladares, Léa El- liott, Maria Helena Novaes, Therezinha Lins de Albuquerque, Eliana Barbieri, Ana Mae Barbosa, Onofre Penteado Neto, Vania Granja, Orlando da Silva, Marilia Rodrigues, Lais Aderne, Isa- bel Maria de Carvalho Vieira, Samir C, Meserani, Hilton Aratijo, Tlo Krugli, Pedro Dominguez, Maria Fux, Silvia Aderne, entre Outros que colaboraram para o enriquecimento dessa experiéncia. A Ultima programag&o que elaborei para a Escolinha de Ar- te do Brasil, em fins de novembro de 1981, previa a realizagao do 2.° ciclo do CIAE — a ser promovido mediante conyénio com © Conservatério Brasileiro de Musica, no segundo semestre de 1982, como um curso de especializagao em nivel de pés-gradua- Go. Foi esta a minha tltima contribuicéo para a revitalizagio desse curso. Em minha opiniao, o que mais caracterizou 0 CIAE em seu decurso, foi estar centralizado no vigor do ato de criagao, mobi- lizando o impulso exploratério de seus alunos, levando cada par- ticipante a explorar potencialidades emotivas e expressivas das linguagens artisticas, fazendo-o pensar © repensar em arte ¢ edu- cagao, no contexto cultural. Creio que devo acrescentar algo mais que registrei recentemente, uma vez que estamos querendo a transformagao da Licenciatura em Educag@o Artistica. Seu renas- cimento e n@o sua morte. Refiro-me a quatro depoimentos: um deles de um jovem licenciando em Educagao Artistica, que co- 20 i em 1979, quando fazia o CIAE; outro, também de uma Reese da Relea a6 Artistica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os outros dois, ean a bieees merci mais experimentados por serem: de uma pesquisadora ¢ ex-alun: do piineiro Curso Intensivo realizado pela Escolinha, em 1961; e de uma professora de psicologia — com muita vivéncia em sua disciplina que se integrou no corpo docente do Curso Inten- sivo de Arte na Educacao, em 1976. Inquieta e insatisfeita com auséncia de ensino criativo na Universidade, essa professora esta seriamente inclinada a fazer seu mestrado na drea da arte-educa- gao, de certa forma, influenciada pela sua experiéncia na Escoli- nha de Arte do Brasil. A$ is Esses testemunhos dispensam maiores comentarios e estao, intimamente, relacionados ao problema da formacao do arte-edu- cador. ‘Depoimentos referentes ao Curso Intensivo de Arte na Edu- cago: Pesquisadora M.C.G. * — “Curso equacionado de forma mais ampla porque buscou integrar o trabalho criativo do professor em sua tarefa docente quanto a processos de aprendizagem do aluno; quanto a sua busca de juizo critico; ao seu desenvolvi- mento como individuo; em referéncia a sua propria independén- cia e quanto ao que a Escolinha chamou de “criatividade”’. Curso que mostrou a importancia da arte no fazer humano — em todo o fazer humano. Funcionou como um norte, como espago anteci- patério e introdutor de uma educagao criadora”. d * Formagao em nivel universitdrio no Brasil e nos Estados Uni- dos, ex-professora da Escolinha de Arte do Brasil — década de 60 — do Curso de Atividades Artisticas para criancas; ex-aluna do CIAE-1961. E.F. ** — “No CIAE encontrei um programa de formacao que funcionou como o mais importante em toda a minha vida, até agora. Sinto que este curso funcionou como uma conquista de vida nova. Saf de uma fase ¢ entrei em outra: de desenvolvimento individual. Me reeducou, dando-me a perspectiva de ser um arte- educador. Me situou em relagao & vida, Nao foi um processo de aprendizagem de técnicas ou de informacdes. Muito mais: um fazer intuitivo e prazeiroso e nfo apenas a aquisica0 de conheci- mentos sobre arte-educacéo em v4rias dimensdes. Foi todo um 21 questionamento sobre o fazer criativo. Um encontro com pessoas e realidades que até hoje me mobiliza a pensar e tomar inicia- tivas. Por exemplo: o CIAE me levou naturalmente, ao Curso Hee eee ¢, também, a assumir meu trabalho como art plastico. Tive interesse e coragem de fazer um estégio na Escolinha de Arte do Brasil — sete meses de trabalho em rites de criangas maiores ¢ menores — o que me permitiu participar de outras experiéncias semelhantes, fora da Escolinha. Conquis- tei, mais tarde, novos espagos de trabalho e assumi compromissos que alargaram minha vida. Hoje, estou inquieto com o meu tra- balho como educador e artista. Nao serd a habilitacio que con- quistarei do Curso de Educagao Artistica que me trar4 o tipo de crescimento que desejo, seja como educador, seja como artista. Somente serei um artista e um educador criativo, na medida em que partir de meu préprio esforco e construir, por mim mesmo, meu processo de crescimento”. ** Licenciando/ 4.° pertodo do Curso de Educagéo Artistica/ Instituto Metodista Bennett. Fez 0 Curso Intensivo de Arte na Educacao/ Setembro de 1979 a Janeiro de 1980. Ex-projessor da Escolinha de Arte do Brasil: do curso de atividades artisticas Para criancas. Artista Plastico. Perguntei-lhe entao, diante de seu testemunho: “Pensa em fazer mais tarde, uma pdés-graduagao em sua 4rea de estudo? Sua resposta: E.F. — “Quanto a um curso de pés-graduagao, no futuro? Penso que, de qualquer forma, antes terei de trabalhar muito mais ¢ durante mais tempo, a partir de meus interesses vitais sem quais- quer preocupagoes imediatas com uma pés-graduagao. Precisarei de tempo ¢ espacgo para experimentar, pesquisar e s6 entao pode- rei fazer opgdes quanto a outros estudos sistematicos”. Professora E.0.B. *** — “O que vi acontecer de mais alto e mais sério: o CIAE, que passava um conjunto de valores e atitudes. Cada Curso Intensivo era diferente, mas o basico em todos eles era a formagao do educador-aluno. Todos esses cursos sempre foram estruturados e reorganizados numa perspectiva de reno- vagao atualizagio bdsica 4 formagio de cada elemento dele participante — como aluno ou professor. Quero dizer que a atua- 22 ga0 do coordenador do CIAE centralizava-se na formacao do aluno e do professor, numa mesma atitude, mesma proposta de trabalho criador, acolhida, orientada, respeitada e crescida num processo dindmico de um constante inter-relacionamento criativo. Importa acentuar que, na relagéo com os professores, a coorde- nagao deixava espago para a contestacao e renovacao de valores de um acontecer indicador de mobilizagdo constante da realida- de, sempre devolvido ao professor-aluno”, Algumas reflexdes decorrentes de uma entrevista de 12 de julho passado, que tive a oportunidade de fazer com trés alunos do curso de Educagao Artistica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, poderao oferecer mais objetivamente a imagem deste curso, através de seus alunos, no momento atual. Ficou patente a Obvia insatisfagéo sempre detectada quanto ao que estao fa- zendo e recebendo, na Universidade, de acordo com a progra- mac&o oficial. O que me surpreendeu foi a reacado desse grupo — marcada por um propésito de firme e continuado trabalho na busca de renovagao e crescimento de seu curso — dentro de sua prépria Universidade que, de modo compreensivo, transformou- se no espaco permissivo a um tipo de reagao gerador de critica, trabalhado de modo bem construtivo. Nessa entrevista, estava interessada em saber o que real- mente mobilizara os alunos insatisfeitos a questionarem o Curso de Educacao Artistica que estavam fazendo, quais as sugest6es que poderiam apresentar para melhor qualificd-lo e como tinham chegado ao Projeto: 1.° Seminario de Educagio Através da Arte — por eles planejado e realizado, em maio Ultimo, na UFRJ, como culminancia de todo um movimento de protesto e procura de transformacao da Licenciatura em Educag&o Artistica. Esse movimento, na verdade, surgira em 1980, envolvendo desconten- tes com a situagao e desejosos de novas solugdes. O que desejo destacar, neste momento, é que j4 se esboga uma crescente reagao do licenciando em Educagao Artistica contra as limitagdes encon- tradas no processo de sua formag&o como arte-educador. Esses licenciandos, no periodo de greve dos professores, bem recentemente, conseguiram realizar com éxito, “pelos corredores da Escola de Belas Artes”, um semindrio dentro de sua Univer- sidade, Evento aberto a outras instituigGes congéneres, que res- soou como um protesto denunciador de uma realidade cada yez menos aceita. Nao querem um “Curso espera marido”, segundo 23 murmtrios dos corredores, conforme a informagao dada por uma das entrevistas. Estao lutando pela sua reestruturacéo através de reunides congregando alunos de todos os periodos do CIEA e mediante outras iniciativas como distribuigio de textos para de- bates, entrevistas com professores, participagao em outros eventos do campo da arte-educagio e, nessa linha de acaio, chegaram ao Projeto: 1.° Seminério de Educagio através da Arte, realizado no Fundao, de 28 de maio a 1.° de junho do corrente ano, Incans4veis, conseguiram registrar depoimentos e arquivar toda a documentagao sobre o trabalho por eles realizado desde 1983, na esperanga de que todo esse material arquivado possa gerar outras iniciativas semelhantes, mais ricas — contanto que fiquem como patriménio, como memérias, referéncias significa- tivas para outros estudos semelhantes, outras discuss6es e atua- ¢@o renovadora em fungao do curso de Educagao Artistica. Ressalto alguns enfoques dados por T.C.V., uma das licen: ciandas entrevistadas: “O momento € de insatisfacao (...) Ainda existem pessoas que procuram algo de decente. Estamos buscando fora da Escola © © grupo esté aprendendo (...) Estamos muito mais ligados a Escola de Belas Artes do que & Faculdade de Educacao. Acredi- tamos que mais cedo ou mais tarde chegaremos & Faculdade de Educagao para um embasamento pedagégico, mas a partir de um processo de amadurecimento. Antes desse embasamento é funda- mental esse encontro com a Escola de Belas Artes, com o pro- cesso artistico dentro da Escola de Belas Artes para a convivén- cia com oO processo criador”’. HA desejo de mudangas imediatas — evidentemente neces- sérias em relagdo ao Curso de Educacao Artfstica, expressos no movimento desencadeado por esses licenciandos. Sem comenté- tios, certa de que desencadeario leituras diversificadas, darei os objetivos desse 1.° Semindrio na integra e forma de como foram tedigidos no Projeto que se destinou ao “corpo discente do Curso gle Educac&o Artistica da Universidade Federal do Rio de Janei- ro”, como consta na introdugio desse documento *: 3. Projeto do 1.° Semindrio de Educagao Através da Arte (Introdu- s40/Objetivos/Programa/Comissio Organizadora). Promogio do corpo discente do Curso de Educacao Artistica — Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1984. 24 “Através do Projeto do 1.° Seminério de Educagéo Através da Arte, 0 corpo discente do Curso de Educagao Artistica, vem afirmar a necessidade de espagos alternativos de informagées, dentro da prépria Universidade.” “Por ser o novo Curso muito recente e de grande impor- tancia na formagio do cidadao que atuardé em nossa sociedade, acreditamos ser também de nossa responsabilidade a melhor ade- quacao de nosso trabalho 4 prépria realidade social.” “Para tanto, acreditamos ser essencialmente necessdrio que a propria Universidade permanega aberta a informag6es atuali- zadas e que estabelega espacos apropriados para a reflexao de nossos valores. Cremos haver assim estabelecido um verdadeiro canal de troca entre a Universidade (instituicao formal) e a.Co- munidade (instituigao informal), que facilitaré a nossa melhor formagao profissional.” “Para atingir nossos objetivos, projetamos 0 1.° Semindrio de Educagéo Através da Arte, enfocando variada tematica da Educagao Artistica, dando viséo geral deste trabalho.” “O Semindério realizar-se-4 de 28 de maio a 1.° de junho de 1984, no Saléo Muniz de Aragaio. Temos certeza que seré um evento de grande valia para toda a comunidade universitdria, assim como também, @ prépria sociedade em geral.” O entusiasmo, agao ¢ esperanga desses jovens ficam como exemplo de luta e desafio para todos nds, sobretudo, por terem sido capazes de encontrar uma forma de mobilizar sua Universi- dade, transformando-a num espago de reflexao e trabalho cons- trutivo na perspectiva da educacao criadora ao nivel de 3.° Grau. eabeoles Naturalmente que haverdé sempre necessidade de fortalecer nosso espirito e a arte-educagao. “Siléncio e trabalho” sero es- senciais — como também, penso eu, paixao — para o arte-edu- cador ganhar forca e terreno em seu campo de atuacao profis- sional, em sua existéncia. Fora da educacéo formal encontrar-se-4, sempre, espacos para cursos alternativos como o Curso Intensivo de Arte na Edu- cago, nao orientados por um programa bem definido conforme © modelo universitério. Nao faltaraé terreno para o curso que for construfdo com autonomia, susceptivel de se basear num curri- culo que encerre miiltiplas condigdes de realizagéo de programas 25 experimentais e criativos que nos leve a uma aproximagao, cada vez maior, do CURSO IDEAL, mais verdadeiro, que possa, no futuro préximo, ser realizado pela universidade para a habilita- g&o do arte-educador. Focalizei um curso-encontro, aberto ao didlogo e a desco- berta de plurimetodologias criativas — 0 Curso Intensivo de Arte na Educagao que ressaltou um conjunto organizado de rela- Ges significativas, no qual o arte-educador teve oportunidade de assumir sua existéncia e de cujo processo participou, acordando para a realidade da educag&o no pais. Creio que haver4 sempre lugar para cursos onde o educador em Jatu sensu desperte, faca © possivel e dé o melhor de si mesmo, repito, com “paixéo”, aquela que no dizer de Paul Feyerabend “faz surgir 0 compor- tamento especifico e este, por sua vez, cria as circunsténcias e idéias necessérias para a andlise e explicagao do processo, para torné-lo racional.” * eee Para terminar, penso que é preciso no substituir o tipo de formacao atual por outra, pois logo se mostraria precdrio e con- servador. Parece-me que o mais fundamental esté em se arquitetar a formagao do arte-educador a partir do principio que deva estar sempre em desenvolvimento, na abordagem dos fendmenos da sorte, da educagao, da filosofia, enfim, do conhecimento tedrico € pratico que a enriquega e fale das conquistas do homem como ser inventivo, fértil em sua imaginacao e capacidade de construir o mundo. Forme um arte-educador sempre a servigo do ser hu- mano e nao da instituigao. A luta contra o desgaste do processo de formacao do arte- educador, na verdade, ocorre no cotidiano de nossas vidas e deverd acontecer cada manha como um ato de criatividade, ge- rador de um novo curso para um novo homem. 4, Feyerabend, Paul — Contra o Método. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1977. 26 E que seré um bom professor? Creio que Herbert Read * deu a resposta que nos remete a uma constante reflexao: “... 0 bom professor nao é o produto apenas de uma educa- ¢ao formal. O bom professor é uma pessoa que tem certo tipo de personalidade e um certo tipo de relacionamento com seus alunos. E o caminho que marca a educagao que lhe for entregue dependeré dessa sua atitude caracteristica, dessa sua maneira de ser”. 5. Read, Herbert — Resposta dada a Victor Willing em “What kind of Arte Education”, entrevista publicada in: Studio Internacional Journal oj Modern Art, sctembro, 1966. 27

You might also like