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Pagina [36 DOSSIE RESENHA/BOOK REVIEW: PINAFI, Tania. Hist6ria do Movimento de Lésbicas no Brasil: Lésbicas contra a invisibilidade e 0 preconceito. Saarbrucken: Novas Edigées Académicas, 2015. 130 p. Sheila dos Santos Nascimento” Submissio: 31/07/2016 Revistio: 01/08/2016 Aceite: 01/08/2016 Resumo: Esta resenha foi produzida para a disciplina Género e Sexualidades do Programa de Pés Graduagio em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Género e Feminismo — PPGNEIM, no semestze letivo 2015.2 da Universidade Federal da Bahia-UFBA. © Gradnada em Licenciatusa em Citncias Biolégicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. Contato: sheilanascimento.bio@gmail.com. Nutecea Revista Hipatese, Ttapetininga, v. 2, a. 3, 2016. jaa | 362 “Histéria do Movimento de Lésbicas no Brasil: Lésbicas contra a invisibilidade e 0 preconceito” da psicdloga Tania Pinafi traz a trajetéria do movimento de lésbicas no Brasil partindo da formacio do primeiro grupo organizado de mulheres homossexuais no final na década de 70. © livro apresenta 11 partes, antecedidas por um breve texto de agradecimento da autora seguido pela introducio, 7 capitulos e 3 subcapitulos, as considerac6es fimais, referéncias bibliogrificas ¢ anexos, Pinafi buscou em sua obra narrar a historia do movimento de lésbicas no Brasil a partir da trajetéria do primeiro grupo organizado de lésbicas do Brasil, que surge ao final da década de 70 Pinafi traz na introducio de seu livro que para a léshica é colocada a condicio de mulher por nascer como um sujeito do sexo feminino assim “valores, condutas, anseios lhe sio transferidos e por ela serio introjetados, em maior ou menor medida, a0 longo de sua vida” (p. 3). Estas construgdes se deram dentro de uma perspectiva sécio histérica onde o homem ocupa uma posicio de referdncia entre os sujeitos E através do olhar da psicologia sécio histérica que Pinafi nos traz que o surgimento dos movimentos veem de uma necessidade pré existente que est alicercada em construcGes historicas que sio transformadas ao longo da histéria. Pinafi utiliza como objeto de sua pesquisa o primeiro grupo de lésbicas organizado para entender as necessidades da categoria no Brasil colocando que as mudancas vivenciadas em sua trajetéria possibilita uma descrigio linear da historia do movimento. Dentro da introducio, Tania Pinafi traz o subcapitulo “Coasideracdes sobre 2 condi¢zo da mulher” onde a autora traz um breve histérico da condicio da mulher desde a Antiguidade Classica até consolidacio do sistema Capitalista, para entender a dupla discriminacio sofrida pela lésbica, por ser mulher ¢ por ser homosexual, considerando aspectos sécio-histéricos que envolvem as lésbi s, também trazendo © pensamento feminista como questionador dessas Nutecea Revista Hipatese, Ttapetininga, v. 2, a. 3, 2016. jaa [363 construcdes histéricas em tozno das mulheres aponta suas contribuicdes no Jevantamento de um pensamento emancipador para as mesmas. A autora busea evidenciar, em sta obra, os pontos de interseccio “do sujeito lésbico e feminista” (p.10) importante para a demarcacio do lugar das mulheres que compunham o primeizo grupo lésbico organizado, 0 Lésbico Feminista (LF). A emersio do LF se dé dentro do Movimento Homossexual brasileiro, por esta razio, a autora coloca a importincia de entender a construcio histérica deste espaco. A participacio das lésbicas dentro do Movimento Homossexual ¢, posteriormente, Feminista resulta das identificacdes entre eles, e foram de valor significativo, mas devido a pouca sensibilidade As especificidades lésbicas, 0 contato com estes grupos também foi marcado pela presenca do machismo e da lesbofobia Em “A imprensa homossesual brasileira nos anos 60 e 70” ¢ “A formacio do primeiro grupo homossexual organizado” Pinafi vem destacando como 0 surgimento dos primeizos jornais produzidos e direcionados ao piiblico homossexual no Brasil na década de 60 foi importante para o surgimento dos primeizos grupos homossexuais organizados. Porém, cabe destacar o que pode ser considerado uma negligéncia da imprensa homossexual a0 piiblico lésbico, j& que as publicacdes destinadas 4 este grupo, surgiram a quase duas décadas depois Pinafi destaca que o primeizo grupo de homossexuais organizados, o SOMOS-Grupo de Afirmacio Homossexual, nascido em 1978, foi incialmente formado por homens gays e comecou a agregar mulheres Iésbicas um ano depois, em 1979. Tao logo que comecaram a compor este espaco, esas mulheres identificaram as marcas do machismo no grupo como um todo, o que trouxe 4 emersio pela construcio de um espaco especifico. Surge entio, o subgeupo Lésbico-Feminista (LF), em junho de 1979, formado por algumas das lésbicas que compunham o SOMOS. Nutecea Revista Hipatese, Ttapetininga, v. 2, a. 3, 2016. jaa [364 Os conilitos vivenciados pelas mulheres do LF nao pararam por ai, suas primeicas participacées em eventos mistos feministas ¢ homossexuais foram importantes para 0 fortalecimento da militincia lsbica, entretanto, as divergéncias tornou a caminhada das lésbicas bastante espinhosa Em “Lésbico Feminista no feminismo: a sexualidade em questo” vem contar de forma mais detalhada a esperiéncia das militantes do LF no espaco feminista II Congresso da Mulher Paulista (II CMP), em 1980. Segundo Pinati, além da intensa disputa politico-partidéria decorrente do recém instituido multipartidarismo no Brasil, que trazia discursos que colocavam as pautas feministas em segundo plano, houve discriminacio vinda das mulheres heterossexuais que estavam a ignorar os questionamentos das lésbicas. O capitulo “Antecedentes do I Encontro Brasileiro de Homossexuais” dialoga com “O proceso de formacio do primeiro grupo lésbico” contando a historia da construgio do I Encontro Brasileiro de Homossexuais ¢ como a participagio das lésbicas nesse espaco foi importante pasa que elas colocassem em evidencia suas pautas e denunciassem 0 machismo nos movimentos homossexuais mistos. As lésbicas ali presentes expuseram a importincia de organizarem-se separadamente e, um més apés o fim do evento, as lésbicas publicam uma carta no Jornal Lampiio da Esquina, explicando seu desligamento do grupo SOMOS. as lésbicas ¢ outros homossexuais saem do grupo e formam entiio os dois novos Grupo Lésbico Feminista e 0 Grupo Outra coisa: Agao Homossexualista, No capitulo “O processo de formacio de primeizo grupo lésbico” vem sendo abordada a pasticipagio das Lésbicas no I Encontzo de Homossexuais Organizados, nos dias 4 € 5 de abril de 1980. Contando com espacos especiticos as Iésbicas levantaram as pautas: a busca de uma identidade homossexual € 0 movimento homossexuual quanto ao machismo, reproducio de papéis sexunis, a participacao das lésbicas e a diferenca numérica entre homens e mulheres. O Nutecea Revista Hipatese, Ttapetininga, v. 2, a. 3, 2016. jaa | 365 desenrolar do I Encontro de Homossexuais Organizados foi crucial para a formacio do independente Grupo Lésbico-Feminista. No subcapitulo “Primeiros passos do Grupo Lésbico Feminista”, Tania Pinafi vem abordar a trajetéria do agora auténomo Lésbico Feminista. Por compartilharem intersec¢des referentes & homossexualidade e de género com o Movimento homossexual e Feminista respectivamente, as lésbicas estavam em constante trinsito entre esses grupos sendo muito questionadas sobre isso. A aproximacio com o Movimento Feminista acirrou os conflitos internos do LF, resultando em um sacha do grupo e o surgimento do “Terra Maria Opcio Lésbica”. Apesar das dificuldades 0 grupo continuow a cumprir suas pautas agora enfocando locais de concentragio lésbica, além de lancarem o Jornal “Chana com Chana”, que em 1982 vem ressurgindo em formato de boletim, apés dois anos estacionado devido a precariedades financeiras. Em 1981 as Isbicas do LF experimentam um _ importante enfraquecimento, porém permanecem a militando seguindo a corrente feminista e lésbica e fundam o Grupo Acio Lésbica Feminista No capitulo e subcapitulo “Grupo Agio Lésbica Feminista” e “Em busca de um feminismo lésbico” a autora vem descrevendo a trajetéria do Grupo Acio Lésbica Feminista do inicio ao fim da década de 80, Um afastamento das ésbicas para o movimento homossexual e feminista ocorze no inicio dos anos 80. Em 1982, uma intervengio no dia 8 de marco, dia Internacional da Mulher, demonstrou que 0 grupo apresentava-se imaturo ideologicamente naquele periodo, ainda que, durante 0 perfodo de afastamento, o grupo tinha buscado fostalecimento interno. A ceaproximacio com os movimentos, as experiéacias de periodos anteriores e com 0 movimento internacional foram amadurecendo a militincia favorecendo uma melhor compreensio das opressdes que as envolviam e possibilitando ea ex ploragio de outras possibilidades de combaté- las. Nutecea Revista Hipatese, Ttapetininga, v. 2, a. 3, 2016. O final da década de 80 expressou os resultados da reaproximacio das Iésbicas com o feminismo, em que as experiéncias diversas trouxeram novas perspectivas para o grupo, sendo decisiva para a substituicio do boletim “Chana com Chana” (em 1987) para o boletim “Um Outro Olhar”. Ademais, o Grupo Acio Lésbica Feminista deu lugar uma organiza¢io nfo governamental denominada “Rede de Informacio Lésbica Um Outro Olhar”, no ano de 1990. Estes dois grandes marcos do movimento de Iésbicas no Brasil trouxe uma nova roupagem ao movimento Iésbico que inicion-se na década de 90. Em “Rede de Informacio Lésbico Feminista” (RILP), Pinafi conta a trajetdria da militincia Iésbica na década de 90. Nesse periodo, a participacto das lésbicas em eventos da militincia homossexual brasileira. Nesses encontros, sua a composicio mista, foi um campo onde as convergéncias inevitavelmente afloraram-se. Neste contesto as lésbicas procuraram expor as assimetrias de género e fomentar a discussio acerca do assunto para pensar um movimento homossexual que contemple as Iésbicas. A autora destaca também que, nesta década, torna-se realidade financiamentos para organizacées envolvidas nas questdes sociais, o que foi de grande importincia para o desenvolvimento das mesmas. Porém, o campo de intensa disputa entre as liderancas dos movimentos nio favoreceu com que novos militantes adentrassem aos grupos, além de que o trabalhos com os projetos resultaram numa reducio considerivel do tempo de militincia, 0 que também pode ser contado como um fator de enfraquecimento da militincia Iésbica no pesiodo Nas “Consideracées Finais”, Pinafi faz um breve apanhado do que veio sendo abordado no Livro acerca da trajetésia do Movimento de Lésbicas € conclui problematizando o financiamento de projetos para aos movimentos sociais especificamente o quanto que eles © tronaram dependentes dos financiadores, visto que as atividades desenvolvidas por eles tornaram-se restritas As pautas pré-ceterminadas pelos editais de financiamento. Nutecea Revista Hipatese, Ttapetininga, v. 2, a. 3, 2016.

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