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‘Organizador ‘Evaristo de Moraes Filho PUCRS/BCE HURT 101886 490-5, Cap-Brasi, Caslonagto na Foie ‘Ghaca ras ge Lito, SP erie Rieti renee! genase stato! EGS" Peale Ase, 97 i Ad emitas wots | 7) btosratia, 1 Come, Auge, B57 2 Soll 1. More Fo cpp—s01 Todioe para cxtlogs stemde: 1. Seeetola 301 EDICAO Traduco: Evaristo de Moraes Filho Copidesque: Mara R. Azenha Arbix. ¢ Maria Carolina de A. Boschi Coordenagto Editorlal: Paulo $. M. Machado Consultoria Geral: Prof. Floresten Fernandes Capa: Elifss Andreato Produgéo Gréfica: Virginia Y. Fujiwara Edigto de Arte: Eliazar F. Sales ‘Arte Final: Valdir de Almeida Chefe de Oficina: Geraldo Peinado Linotipiste: Antonio U. Domiencio Paginador: Toko Caputo Filho Forolito: Yanguer Studio Gritico Impressio: W. Roth & Cia, Lida. 1978 Todos os direitos reservados pela Editora Atica S.A. R. Bardo de Iguape, 110 — Tel: PBX 278-9322 (50 Ramais) ‘C. Postal 8656 — End. Telegritico “Bomlivro” — S. Paulo 2455196 1b. ‘ob lorlo8 ct Aw SUMARIO INTRODUGAO (por Evaristo de Moraes Filho), SELEGAO DE TEXTOS 1. Sociologia - Gonceitos gerais @ surgimento, 53 2. Metodologia das Ciéncias Sociais, 73 3. Estatica Social 104 4. Dinamica Social, 134 5. “Sociologia Histérica e do Conhecimento, 166 6. Sociologia Aplicada e Filosofia Social, 180 INDICE ONOMASTICO, 203 BIBLIOTECA © Textos para esta edicto extraidos de: Apelo aos Conservadores. Rio de Jantiro, Apostolado Positivsta, 1899. Catéchisme positviste. Paris, Librairie Garnier Fr., 1909. Cours de phitozophie positive. 6.4 ed. Paris, Schleicher Fréres, 1908/1934, Discours sur Yensemble du positivisme, Pati, Socité Positviste, 1907. Lettres d'A, Comte a J. St. Mill, Paris, Emest Leroux, 1877. Letres d’A. Comte dM. Valat. Paris, Dunod, 1870. Sysidme de politique positive. 5.4 ed. Paris, Société Positiviste, 1929. Synthase subjective, 1.4 ed, Pacis, nov. de 1856. Traité phlosophique d'astronomie populaire. 2+ ed. Patis/Rio/Londres, Apostolat Positiviste, 1893, INTRODUCAO Evaristo de Moraes Filho Licenciado em Filoso Livre-docente de Sociologia, Catedrético de Direito do Trabalho (UFRI), 1. Formagio da doutrina Em carta a Valat, seu anti- {g0 colega de Montpellier, data- i de 2 de janeiro de 1815, nos primeiros trés meses de Paris ¢ de Escola Politécnica, jd se revelava Augusto Comte a favor da Replblica, pela li- berdade € pela fraternidade, préprias da “sublime insurrei= io de 1789”, ¢ jé aludia aque- Jes que virdo a morrer vitimas do “devotamento & causa da razio e da Humanidade”. Nesta primeira depois da chegada a Politécnica, j& sob tuniforme, manifestava-se contra a restaurago dos Bourbons Ceseravidio © despotismo”), comunicando 20 amigo que nic cram raras as discussdes, muito vivas e profundas, nas salas’ de estudo, "sobre varios pontos de economia: politica”, Na carta seguinte, narra os acontecimentos parisienses dos Com Dias, a volta de Napolcao, a sua visita & Escola, a liberdade de que gozava a imprensa, permitindo que se formasse uma opi= nifo pablica livre e forte. Repele e Santa Alianca, como o fatia durante toda a sua vida, pelo que significa de conluio monérquico, pela volta 20 passado. Estas so as duas cartas anteriores ao desligamento da Escola, em abril de 1816. A despeito de certas leituras de caréter social, inclusive de economia, ndo rests a menor divide que o seu apren- dizado maior se deu depois de sua volta a Paris, a partir de 1817. 13 de outubro de 1816, livre do uniforme e do internato, fala das suas dificuldades econémicas ¢ do auxilio que the dio 0 general Camprédon ¢ Berard para a sua ida, como professor, pata os Estados Unidos. Esta estuante de entusiasmo e de alegriay festuda inglés, ansioso por partir “para a terra prometida”, para levar sua eigncia Aqueles “republicanos”, e conclui a carta abra- endo 0 seu destinatario “em Washington ¢ em Franklin”. A 29 de outubro encontra-se no mesmo estado de Animo em relagio aos Estados Unidos, com suas “belas instituigbes, fruto do génio ¢ da virtude”, Pouco depois, j4 aos 19 anos de idade, a respeito de mulhe- res, cita Voltaire — “a natureza € mais forte do que a teologia", — € conclui que ele poderia ter acrescentado “e mesmo do que fa razio”, Nesta mesma data, 12 de fevereiro de 1817, escreve sobre suas leituras: “Percorro Siret e Boyer, leio Monge e Lagrange, medito Condor- eet © Montesquieu”, Mas € pouco adiante que se vai encontrar um depoimento da maior significacho para uma tomada de posiglo social, ¢ que vale a pena ser transcrito: “A miséria piblica & enorme em Paris; 0 plio € muito caro, € receia-se mesmo que venha a faltar. Néo se pode dar um passo ra rua sem ter 0 corscio partide pelo aflitivo quadro da mendi- cidade; a cada instante encontram-se operdrios sem pio e sem trabalho, © com tudo isso, quanto luxo! quanto luxo! Ab, como & revoltante, quando a tantes individuos falta 9 necessério sbso- luto! A despeito da sfligdo geral, o carnaval € ainda bastante alegre, pelo menos, hi muitos bailes, piblicos © particulares ‘Ouvi mesmo dizer por pessoas bem sensatas que se dangou neste inyerno como nuncs. Quanto a mim, ndo posso imaginar como luma gavota ou um minueto: fagam esquecer que mais de trinta ‘il seres humanos nfo tenham o que comer. Nao posso imaginar que se seja tho indiferente, a ponto de se divertir loucamente fem meio & todos esses desastres. Os governos nio se incomodam ae mancira alguma com esta frivolidade, porque, segundo observagio judiciosa que ontem ouvi de uma seahora muito bo- rita, muito amével € que, no entanto, pensa, ‘quem danga néo conspira’, Esta expressio, que & mais profunda do que parcee, «da bem a chave das coisas.” Note-se que estas tomadas de posigio so anteriores a0 enicontro de Comte com Saint-Simon, que se vai dar em agosto. Ainda em fevereiro, ataca a realeza, e se considera “um pobre iabo mais do que suspeito de filosofia ¢ de liberalismo”, Comu- nica a Valat a publicacéo das Obras Completas de Voltaire © de Rousteau, excomungadas pelas autoridades eclesiésticas de Paris, {que ameagam com “penas eternas os editores, impressores © lei- ores". Seguado o jovem politfenico — “tal & felizmente 0 pro- sresso das luzes”, — todos riram dessa proibigio, que somente serviu para dobrat o nimero de subscritores das duas obras, Minhas Reflexdes, de junho de 1816, tm como subtitulo Humanidade, Verdade, Justica, Liberdade e Pétria, © constituem uma terrivel e violenta acusagio de denincia contra o terror braneo do ano anterior; contra Lufs XVIII, com sua carta outor- assim mesmo, nfo cumprida, os seus arbitrios, as suas ticanias, © com 0 crescente desaparecimento dos ideais de 89, como que preparando a volta ao ancien régime. E, na sltima linha: “Quem poderé defender a liberdade contra a monstruoss liga dos Reis e dos Padres?” E com esse espiito que Comte penetra nos circulos saint- -simonianos. Impressiona-se com o grande homem, que 0 recebe bem e Ihe vai proporcionar remuneracéo pela sua colaboracio durante algum tempo. Comte torna-se publiciste. Ambos estio de acordo em muitos pontos: é preciso acabar a Revolugio de 89, reorganizando a sociedade; somente a indéstria ser o caminho para a modemizagio da sociedade, transformando 0 relaciona- mento entre os homens, unindo-os num regime de liberdade para © nico dominio entéo possivel e desejével, o da natureza. A Politica deve tomar-se positiva, como as demais citncias, 20 mesmo tempo que a guerra deve ser proscrita. Para o jovem Comte, no entanto, ex-politéenico, era neces sério separar nitidamente @ teoria da prética, constituindo previae mente a filosofia social te6rica, a ciéncia abstrata das relagdes, hhumanas coletivas, porque, s6 assim, seria possivel dar unidade spiritual a todas as classes sociais, fazendo do poder temporal ‘uma simples sequncia direta e imediata do poder espiritual. Nao concordava com a orientagio religiosa ¢ mistica, do novo cristia- nismo, de Saint-Simon, com demasiada concessio & teologia, Néo concordava também com o seu programa imediatiste, sem a 10 prévia elaboragéo da ciéncia social, nica capaz de proporcionar ‘8 renovacéo dos costumes, das idéias, da moral, como medidas, pata reorganizar a sociedade, tirando-a da fase critica e encami- nhando-a para a sua organizacdo definitiva. Desde o seu primeiro optisculo, escrito em 1819, Separacdo Geral entre as OpiniGes e os Desejos, faz Comte baseat na opinitio pblica a indicagdo dos objetivos, porque, se nem sempre ela sabe (© que Ihe é necessério, “sabe perfeitamente o que quer, e ninguém deve pensar em querer por ela”. Agora, deveré caber exclusiva- mente aos especialistas em politica a indicagio dos meios para atingie esse objetivo. Em resumo: A opiniéo deve querer, os publicstas devem propor os meios de execugic, ¢ 0s governantes exceutar. Enquanto esas trés fungdes nto forem distntas, haveré contusio e arbitrio em maior ou menor grau, Numa palavra, quando a Politica tomar-se uma citncia positive, © piblico devera conceder aos publicisas, © thes concederd necessariamente, em Politica, a mesma confianga que atualmente concede aos astrénomos, quanto 2 Astronomia, ‘08 médicos, quanto & Medicina, etc, com esta diferenga, entre- tanto: 20 piblico exclusivamente hd de competir 0 objetivo © 4 diresio do trabalho,” Encontra-se aqui o germe de toda a futura concepedo social de Comte: a) a possibilidade de poder a Politica (Sociologia) vir 2 ser uma cigncia positive como qualquer outra; 5) a indispen- savel divisio entre teoria (poder espiritual) e a prética (poder temporal); c) confianga do pablico nesses publicstas, ou seja, nos novos cientistas sociais No segundo opisculo, Sumdria Apreciagdo do Conjunto do Passado Moderno (1820), mais de indole hist6rica que sistemética, precisa Come 0 sentido evolutivo da sociedade do seu tempo, comparando-a com a que acabava de sucumbir-com © movimento de 89. O antigo sistema "era formado pela combinagio do poder espiritual, ou papal ¢ teolégico, com 0 poder temporal, feudal ou militar”, A constituig&o definitiva desses poderes ocorreu nos séculos XI € XIT. Assim como se formaram na mesma época, devem igual- mente desaparecer a0 mesmo tempo. “io podendo o poder temporal ser substituido por outro poder de natureza diverse, sem que anéloga substituigio se realize no poder espiitual, e reciprocamente". " No mesmo instante em que acabavam de se constituir, nos séculos XI e XIL, ali também surgiram os germes da sua destruigéo, com ‘a emancipagéo das comunas, no poder temporal, com a intro- ‘dugfo das cigocias positivas’ na Europa pelos arabes, no poder ‘spiritual. As artes 08 oficios, ow seja, a indistria, devem substituir 0 poder feudal ou militar; ao mesmo tempo que & cigncia positiva deve substituir 0 poder teolégico. Essa, a marcha natural do desenvolvimento da sociedade medieval, cuja luta aberta iniciowse no século XVI, sendo que os quatrocentos ou quinhentos anos anteriores consttufram o periodo de esplendor do sistema feudal teolégico. Com a Reforma, deu-se © primeiro ataque contra o temporal, sendo que o século XVII assistiu ao ataque geral ¢ decisivo contra o antigo sistema. Como se encontravam os dois sistemas em 1820? Quanto ao poder spiritual, nao havia mais doutrina, j& que estavam extintas ou rested a extinguir-se todas as crencas que the serviam de base. ‘Quanto ao poder temporal, estava reduzido a um sé dos seus ramos, 0 poder do rei, apenas com a forga estritamente necesséria para manter a ordem até 0 estabelecimento do novo poder, E coneluia, quanto ao antigo sistem: “Deixo a cada qual julgac, em face desta exposiglo, se 2 nizagio do novo sistema é uma coisa urgente, © se os artistas, Os centstas © 0s artesios no cometem o maior erro despreo+ cupando-se a este respeito Artistas, como se sabe, significavam, ao tempo de Comte, os téenicos, 08 exercentes de atividades de ciéncia aplicada, Na segunda parte do ensaio, quanto 2 instalaglo do novo sistema, Comte jé se vai assenhoreando das teses centrais da sua propria filosofia social. Desde 0 século XI vinhe-se processando fa mudanga, mas no segundo um plano prévio, premeditado pelos cientistas, artistas e artesios: “Em nenhuma época obsdeceu o aperfeigoamento da civilizasio 1 determinada marcha assim combinada, concebida antes por ‘um homem de génio e adotada pela massa.” Pensar a0 contrétio foi o grande erro dos legisladores e fil6sofos da antigiidade, © prossegue: “Ainda que esta forge derive de nés, nfo ests em nosso poder subtrair-nos sua influéncia ou dominar-lhe a aglo, como néo demos, & nossa vontade, modificar o impulso primitive que faz cioular nosso planeta em torn0 do sol.” 2 ‘Somente os efeitos secundatios ficam sujeitos a vontade do homem, consistindo a liberdade humana em tomar consciéncia dessa marcha natural, acelerando-2, acttando-a ou retardando-e, mas somente 03 seus efeitos secumddrios, nem fatalismo cego nem otimismo voluntarista: “Tudo o que podemos € obedecer a ssa Ici (nossa verdade! providéncia) com conhecimento de causa, dando-nos conta da marcha que ela nos prescreve, a0 invés de sermos cegamente impelidos por ela; e, digamos de passagem, & nisso que consis tirh precisamente © grande sperfeigoamento filos6fico reservado a époce tual.” Mas, s6 se poderia chegar a esta verdade a pasteriorl, © nfo @ priori. A Politica somente pode ser_uma ciéncia positiva, baseada em fatos observados, cuja exatido sejageralmente re- conhecida, quando se conseguir ligar, por meio de uma hipétese, todos os fatos que Ihe servem de fundamento, E isso 36 se tornou possivel depois da existéncia de uma civilizagio muito desenvol- vida, com o estabelecimento de um sistema de ordem social, ‘admitido por uma populacdo muito numerosa, composta de varias grandes nagSes ¢ com uma duragdo mais ou menos longa de tal sistema, $6 assim pOde surgir uma teoria baseada nessa grande ex- periéncia, A‘ est 0 ex-politéenico de posse de todos os elementos para ‘a criagdo da Sociologia como ciéncia positiva, Em carta « Valat, quatro anos mais tarde, diziathe que “hd leis to determinadas para 0 desenvolvimento da espécie hhumana como para a queds de uma pedra”. Jé aparéce no ensaio de 1820 a ordem de positividade dis cién- cias, a partir do século XVIT, isto 6, “ng ordem natural que deviam seguir para tal fim, ou seja, nna ordem do grau maior ou menor de suas relagdes com 0 hhomem Foi assim que a Astronomia em primeiro lugar, a Fisica em seguida, mais tarde a Quimica, ¢ em nossos dias’ enfim a Fisiologia [Biologial, constituiram-s¢ cigneias positivas, Esta re- Yolugio encontra-se” plenamente efetuada em todos os nossos conhecimentos particulares, ¢ tende, evidentemente, a operar-se agora na Filosofis, na Moral e na Politica, sobre as quais a influéneia das doutrinas teol6gicas ¢ da metafisica jf foi des- traida 20s olhos de todos os homens instrufdos, sem que, todavia, sejam ainda fundadas em observagdes. E a diniea coisa que falta 0 desenvolvimento espiritual do novo sisterma social" 3 ‘Assim, para Comte, a tarefa do seu tempo consistia em tomar positiva a ciéncia social, completando a evolugéo natural da positividade da série das outras ciéncias anteriores. J4 se fencontrava aqui 0 esbogo de sua classficagio das ciéncias, to- ‘mando a proximidade do homem como ponto de referéncia Estava igualmente delineada a tipologia evolutiva, como formas de dominagio ou de relacionamento humano na sociedade: 0 tipo militar e 0 tipo industrial. A lei dos trés estados, dada por cele como a descoberta da primeira lei verdadeiramente sociolégica, jd se achava também subentendida nas exposigdes anteriores. O seu conceito de liberdade & maneira hegeliana e marxista, relative fe no absoluta, af se encontra, como a consciésicia ou o conheci- mento da necessidade, com modificagdes secundérias, dependendo 0 éxito da agdo humana na compreensio exata do proceso, capaz assim de acelerar 0 parto do tempo, Como jé havia sido notado por Saint-Simon, e praticamente por todos os bons espititos da época, deu-se unta profunda mudanca, com a Revolugao de 89 © com a industrializagdo, no tipo de relagdes entre os homens, que, tornados livres, deviam unir-se para o dominio de natureza em proveito de todos 0 desenvolvimento da seo sobre natureza mudou a diresio desse sentimento de dominagao, transportando-o para as coisas (© desejo de comandar transformou-se gradativamente no de fazer e desfazer a natureza a vontade. (...) Fm titima andlise © principal desejo de quase todos 0s individuos nfo é atuar Sobre © homer, mat sobre a natureza.” A tipologia das relagbes sociais na nova sociedade pos- -revolucionéia 6 toda outra. No regime teolégico-militer, 0 povo era dominado, sob comando; no industrial, orientado, sob diregao; naquele, stidito; neste, societério. Economicamente, © regi passa a ser cooperativo ou associativo, onde “eada individuo obtém um grau de importincia © de beneficios proporcionais 2 sua capacidade ¢ 20 seu capital”. ‘A subordinagio do trabalhador j4 ndo se dé diretamente diante do proprictério ou do detentor do capital, e sim diante dos seus cchefes imediatos: agricultores, manufatureiros ¢ comerciantes. Por ‘outro lado, j& pescebendo o surgimento do tecnocrate, escrevia Comte: “Uma classe intermediéria surgiu entre os cientistas, os artistas 08 artesfos — a classe dos engenheiros; e, desde esse momento, 14 POde-se considerar a combinago das duas capacidades (cient fica e industrial). Tornouse cada vex maior, a tal ponto que hhoje, na opinigo geral dos cientistas ¢ dos artesios (embora em ‘menor grau nesta tkima), 0 verdadeiro destino das ciéncias ¢ ddas artes € de se combinarem para modificar @ natureza em beneficio do homem, umas estudando-a para conhect-la, © as ‘outras splicando esse’ conheciment As novas idéias cientificas, em si mesmas e pela sua aplicagao nna pritica (industria), criaram uma sociedade diferente, em sua estrutura ¢ em sua organizagéo. O povo, que trabalhava, queria aprender us novas téenicas, precisava estudar, “bem mais vido de instrugdo do que os ociosos de nossos saldes, porque seus trabalhos the fazem sentir, a cada instante, 4 necessidade dela. Em toda parte onde tem encontrado possibi. lidades de estudar, ele o tem feit Os novos chefes passaram a ser, no espiritual, os cientistas, e, no temporal, os industrisis. E completava Comte: “Esta confianga do povo na opiniéo dos cientistas é absoluta- Mente da mesma ordem, embora muito mais ampla, do que a dos cientistas entre si. Os mateméticos eréem diatiamente nos fisiotogistas sob palavra, e, reciprocemente, eada um deles em suas classes respectivas.” Dai partiu Comte para outra idéia, que Ihe seré cara pelo resto da vida: a dos perigos e prejuizos do dogma da liberdade de consciéncia, que representou o seu papel critico no combate ‘0 teologismo, mas que se tornard nocivo na construgéo da nova doutrina orginica, tinica capaz de reorganizar o caos da sociedade individualista e liberal do seu tempo. Como acontece nas outras iéncias, 20 constituit-se positive a Sociologia, cabe somente aos seus clentistas — como jé insinuara no escrito de 1819, distin- guindo as opinides dos desejos — a indicagio dos dados da ma- téria, objeto de seus estudos, interdita qualquer discussio ociosa “Proclamando a soberania de cads razio individual, esséacia desse dogma & impedir 0 estabelecimento uniforme de qualquer sistema de idias gerais, sem © qual, no entanto, nio ha sociedade, ‘pols, qualquer que ssja o grau de instrugio a que possa elgum dia chegar a massa dos homens, é evidente que a maior parte ddas idéias gerais, destinadas a se tornarem comuns, somente ppoderé ser admitida por eles em confianga, © nfo por demons. rages... Nao hi liberdade de conscigncia em Astronomia, Fisi 62, Quimica, Fisiologia, no sentido de que cada individuo acharia 15 absurdo no eter, em confienga, nos principios estabelecidos, nessas cigncias, pelos homens competentes, Se o mesmo ndo se dé em Politica, € porque, tendo desaparecido os antigos principios, ¢ nfo estando ainda formedos os novos, no hi, verdadeiramente falando, neste intervalo, principios estabelecidos. Mas, converter este fato transitério em dogme absoluto © eterno, fazer dele um principio fundamental, evidentemente procla- mar que a sociedade deve ficar sempre sem doutrinas gerais.” Este trecho & do Plano dos Trabathos Cientificos Necessérios para Reorganizar @ Sociedade, de 1822, 0 mais extenso da mo- cidade, republicado em 1824, sob o titulo de Sistema de Politica Positiva, € que deu motivo a0 seu rompimento com Saint-Simon. Apesar de haver proclamado em 1817: “tudo é relativo, eis o ‘énieo principio absoluto”; apesar de admitir Descartes, com a sua divida metédica, como 0 precursor ¢ um dos iniciadores da Filosofia Positiva, era manifesta em Comte, desde a mocidade — talvez pela sua formacio matemética —, a tendéncia para a dogmatizacio, que vai crescendo & medida que envelhece. No ensaio de 1826, Consideragdes sobre 0 Poder Espiritual, cescreve’ “O dogmatismo € 0 estedo normal da inteligéncia humana, aquele pera o qual tende, por sua natureza, continuamente € em todos os. géneros, mesmo quando mais parece afasar-se dele. O ceticismo nada mais 6 do que um estado de crise, resultado inevitivel do interregno intelectual que sobrevém, ne- cessariamente, todas as vezes em que 0 espirito humano é cha- mado 2 mudar de doutrinas, 20 mesmo tempo que € 0 pensivel empregado, quer pelo individue, quer pela espécic, para permitir a transigio de‘um dogmatismo para outro, © que consttui a dniea utilidade fundamental da dtvida, ‘A desordem ¢ a anarquia do seu tempo consistiam exata- mente, segundo ele, nessa confusdo de principios, com a base da sociedade j6 industrial, mas ainda sob a dirego de muitos dogmas € idéias teolbgicos © metatisicos, principalmente na educagio na moral. As ciéncias do homem encontravam-se voltadas ainda para dogmas absolutos, naturais ou sobrenaturais, baseados em providéncias, entidades ¢ esséncias, quando se devia cuidar da existéncia social do presente. Assim, seria impossivel atingir-se a reorganizasto da sociedade sem que todas as cincias houvessem alcangado 0 estado de positividade, tornando homogéneo o conhe- cimento humano, constitutive doravante do nova poder espiritual. 16 Com total consciéncia da crise do seu tempo, de uma revolugio em pleno desenvolvimento, que ndo terminava nunca, spontava Comte na Fisica Social (Sociologia) como ciéncia positive, a Sinica que faltava, o meio de poderem os homens conhecer 0 passado ¢ dele extraic @ linha evolutiva que os levaria a um futuro certo e inequivoco. Era preciso sair do empirismo no campo social ¢ politico, construindo-se um sistema de doutrinas gerais, fundadas nos mesmos métodos das demais ciéncias, ja admitidas como positivas, no confundindo 0s governos e os POvOS Os seus descjos com a realidade. Com objetivos préticos nascea a Sociologia na obra de Augusto Comte: conhecer para gir; compreender para reorganizar. Da Sociologia € que viria 0 sistema novo de idgias gerais, orginico, capaz de encaminhar @ mudanga na sociedade pés-revolucionéria para uma nova orga- nizago, sem contradigBes nem conflitos capazes de levécla 2 anarquia e a destruigio. Em carta a seu amigo Valat, de 25 de dezembro de 1824, encontram-se estes dois propésitos exemplarmente reunidos: “Estou convencido de que a sociedade cairé em dissolugio se daqui a duas ou trés geragées nfo se conseguit formar uim c6di- 20 de opinides politias e morais admitide sem contestagio por todas as classes; e, em segundo lugar, estou também firmemente persuadido de que se nfo se conseguir formar uma doutrina que preencha todas a6 condigdes necessiras, tratando a politica como cidneia fitica, ndo se aleangard por outro meio aquele objetivo, Estes dois pontos parecem-me evidentes, e constituem a base e todos os meus trabalbos.” Assim, desde essa época, anterior & publicagdo do Cours (1830/1842), convenceu-se Augusto Comte de que tinha uma rmissio a cumprir, como tarefa propria do século XIX, de regene- ragio da ciéncia ¢ reorganizagio da sociedade do seu ' tempo. Embora separando itidamente a teoria e a pratica, © poder spiritual © © poder temporal, colocou desde o inicio aqueles dois objetivos como a razéo de ser de sua propria vida. Dizia em carta a Valat, de 28 de setembro de 1819, aos 21 anos de idade: “Meus trabalhos sio ¢ serio de duas ordens, cientificos e pol tices. (...) Eu faria muito poueo caso dos trabalhos cientificos, se no pensasse perpetuamente na sua utilidade para a espécie, preferiria entio decifrar logogrifos bem complicados. Tenho soberana aversio pelos trabalhos cientificos nos quais nfo per- cebo claramente 2 utilidade, quer direta, quer afastada 7 Nao se pense, contudo, que Comte caiu num praticismo imediatista, & maneira dos empiristas do seu tempo, por ele eriti- cados duramente, e motivo do seu rompimento com Saint-Simon, como divergéncia doutrinéria fundamental. Fiel & sua orientagic de que se fazia necessério construir primeiro a teoria da sociedade € de que néo hé agio sem especulagio prévie, viu-se obrigado a comegar realmente do inicio, com 0 balanco de todo 0 conheci- mento humano anterior 4 admissio da Sociologia como ciéncia positive, Esta vai ser a matéria do seu Cours de philosophie positive, que the custou doze anos de elaboragio, publicado em seis volumes de 1830 a 1842. 2. Filosofia Positiva As idéias de Comte sto produto direto de sua época, como acontece, de resto, com todos os sistemas de Filosofia, Com a revolugdo industrial em franca realizagéo, em pleno florescimento das cigncias experimentais, péde Augusto Comte tentar # sintese geral_dos conhecimentos do seu tempo. Era muito recente © retumbante 0 triunfo da Fisica, da Quimica e de algumas teorias, bioldgicas, para que no se sentisse atraido 0 espfrito de um aluno da Escola Politécnica, em busca de um novo poder espiritual, capaz de trazer tranqlilidade © ordem & sociedade de seus dias. Nada mais aspirou a filosofia comtiana do que ser um simples comentério geral, bem informado, dos dlkimos resultados das ciéncias positivas s cientistas entregavam-se demasiado as suas especializagbes, fechados, isolados, sem uma doutrina epistemoldgica bésica, in- formativa e esclarecedora de todas elas. Esta fungéo passaria a ser preenchida pela Filosofia Positiva, como a filosofia geral das diversas ciéacias particulates. Como sistema geral das concepsdes hhumanas, consideradas estas unicamente como coordenadoras dos fatos observados, tal & 0 coneeito inicial da Filosofia Positiva, ocupada somente com as leis dos diversos fendmenos naturais (€ sociais), com abandono dos “sublimes mistérios” das eausas, primeiras ou finais, das entidades ¢ das esséncias. N&o se con- funde com as ciéncies, nem Ihes usurpa os objetos préprios de pesquisss, procura somente considerar cada uma em suas relagSes com o sistema geral, sob 0 duplo aspecto dos métodos essenciais € dos seus resultados principais. Serve-thes de base permanente, 18 relacionando-as entre si, m gerais ¢ fundamentais. te a elaboracéo de principios Nao chega, contudo, a ser monista essa Filosofia, baseada ‘num principio nico, uma Gnica lei, explicativa de todos os fenémenos. Bastahe a homogeneidade da doutrina do conjunto dos conhecimentos adquiridos, relativamente as diversas ordens de fenémenos naturais. A nica unidade é de método, 0 qual se enriquece & medida que se vai aplicando as diversas ciéacias, da mais simples & mais complesa (a Sociologia; mais tarde. na segunda carreira, Comte colocaria a Moral no pice, confundindo-a teoricamente com a Antropologia, o estudo do homem total). Dizendo-se nfo-materialista, ndo admitia Comte a explicagéo de uma cigncia superior pela ‘inferior, reduzindo o fendmeno mais complexo ao mais simples. De uma ciéncia para outra hé uma certa criagdo sintétice de algo novo, segundo os diversos planos fenomenais do universo, que se apresenta pluralistico a0 espirito humano. A nica sintese possivel é subjetiva, e no objetiva Classificagaio das ciéncias e método Adotando dois critérios, um histérico € outro sistemético, mostrava Comte que, antes da Sociologia, cinco ciéncias jé haviam alcangado 0 estigio de positividade, isto é, j4 se utiizavam de métodos positives nas suas pesquisas, com’ sufciente elaboracio de wma teoria geval explicativa de seus respectivos fendmenos, Eram elas: a Matemética, a Astronomia, a Fisica, a Quimica e Biologia. Coincidiam os dois critétios, de vez que se alinhavam numa série histérica de advento de positividede, 20 mesmo tempo que se iam aproximando cada vex mais do homem. Por outro lado, observava Comte que, @ medida que ascendia na escala classficatéria, decrescia a generalidade de cada qual, enquanto Ihe aumentava a complexidade Rigorosamente, a classiicagdo comecava. pela Astronomia, admitida 2 Matemética como uma espécie de légica geral de todas as outras ciéacias, O célculo, em sentido amplo, conside- ado desde as simples operagées numéricas até as mais altas combinagies da anilise transcendence, & puramente instrumental. ‘Nada mais é, no fundo, do que uma “imensa extensio admirével da I6gica natural a certa ordem de dedugdes", Considera Comte somente as ciéncias abstratas, ¢ nio as suas manifestagbes concretas. Interessa-lhe @ ordem’ de genera- lidade da explicagio e da coordenacdo dos fatos de cada ume, Elas vio surgindo e sendo admitidas na positividede segundo fordem que essas especulagées mantém com os fenémenos dados nna experiéncia, Numa palavra, a ordem das ciéncias abstratas deve reproduzir a ordem real na qual s40 condicionados esses fendmenos, A medida que as ciéncias se aproximam do homem, tornam-se mais complexas ¢ menos gerais, a0 mesmo tempo que Se enriquece © seu instrumental metédico, fe Para Comte, método ¢ doutrina sio insepardveis, conside- rando como metatisica a possiblidade de se estudar a teotia geral do método, excluido da sua aplicacao em cada uma das ciéncias, positivas, £ no seu “uso efetivo", € na “agio” que 0 método deve ser considerado; “nas (suas) diversas grandes aplicagdes jé verificadas”, € que se pode estudar ¢ avaliar 0 aleance real de cada método, Mais tarde, disia Dilthey, nesta mesma ordem de idéias: “Com 0 método acontece a mesma coisa que com uma faca: € preciso provar se corta" Assim, somente 20 final de todas as suas aplicagdes as diversas igncias, € que 0 método positivo se toma verdadeiramente conhecido em seus aspectos importantes, “porque cada uma delas possui, por sua natureza, a propriedade exclusive de desenvolver especialmente qualquer dos grandes procedimentos l6gicos dos quais se compée 0 método”. A observacio, a experimentagio, a comparagio, a classfi- cagto, a filiagio hist6rica (nas ciéncias sociais), constituem os instrumentos para a obtencéo ¢ ordenagio dos dados reais, que, reunidos em hipdteses de trabalho, acabam por se constituir na ciéncia propriamente dita, 4 distinguia Comte entre fatos signi- ficativos e fatos ndo-significativos para o conhecimento cientifico. Afastava-se do empirismo e do racionalismo, pois se nio ha teorias sem fatos, também nfo ha fatos sem teorias gerais que ‘05 informem; sendo ambos insepardveis. Por isso mesmo nem todos os fatos sdo televantes ou significativos: “Se de um lado toda teoria postiva deve necessariamente ser fundada em observagdes, & igualmente sensivel, de outro lado, ue, para entregarse a ‘observagio, nosso espfrito necessita de lume teoria qualquer. Se, contemplando os fenémenos, fo os relaciondssemos imediatamente a alguns principios, nfo’ somente nos seria impossivel combinar essas observagées isoladas, e, em cconseatiéncia, nada concluindo dai, como seriamos inteiramente incapazes de’ seté-los; c, na maioria das vezes, 0s fates néo seriam percebidos sob nossos olhos.” $6 existe cigncia quando se conhecem os fendmenos por suas relagbes constantes de concomitincia ¢ de sucesséo (leis), advindo dat a possibilidade de previsto. Por af distingue-se a verdadeira cigncia da simples erudigo que acumula maquinalmente os fatos sem aspirar a deduri-ios uns dos outros" Mais tarde, diria Henti Poincaré que, assim como um monte de pedras ado constitui uma casa, um aglomerado disperso de fatos nfo constitui a ciéncia, E Simiand dava a férmula definitiva no campo das ciéncias sociais: “nem teoria sem fatos, nem fates sem tcoria”. A Sociologia Tudo isso devia ser trazido para 0 estudo dos fenémenos sociais, ¢ neles aplicado, para que se pudesse atingir 0 estado de positividade cientifica. Somente com a Fisica Social se completari a hierarquia das diversas ciéncias, utilizando-se a nova ciéncia de todos os métodos anteriores, e mais um: 0 método hist6rico, de filiagdo histérica, mediante 0 qual se observa a heranga cul- tural das diversas geragdes humanas. Nisso o homem se distingue dos animais, pela sua dimenséo social e, sobretudo, historica. As demais cigncias ficariam, elas proprias, incompletas sem 0 coroa- mento da hierarquia pela ciéncia social, que thes vai emprestar 0 seu método especial de filiagio histOrica, permitindo-Ihes uma visio evolutiva e global, tirando-as do plano puramente metafisico ¢ absoluto para relacioné-las permanentemente com a prdpria historia humana, sempre relativa a cada época do seu desenvolvi mento, Era a isso que Augusto Comte chamava “regencracio das cigncias”, essa tomada do homem total, individual e social, como medida de todas as coisas, como critério de validade ¢ de utilidade dos conhecimentos cientficos. a ‘Tentativas de tornar clentifica a Sociologia 4.1.1. Matemética — Apesar de ex-palitéenico, professor ¢ autor de estudos geométricos, afastava Comte a pretensio dos mateméticos, a comegar por Condorcet, de erigit « ciéncia social ‘baseada em seus ensinamentos. Tinha os ge6metras como espiritos cestreitos e limitados, demasiado especialistas, incapazes de uma vviséo hist6rica e coletiva do fendmeno social. O objeto de sua cigncia era o mais simples € 0 mais geral possfvel, praticamente aplicével a todas as pesquisas cientificas, mas sem que thes poss bastar ou que as possa substituir, No sexto volume do Cours (1842), lembra Comte que nfo se deve cofundir 0 bergo com 0 trono: a Matemética foi a primeira ciéncia a atingir a positividade, por isso mesmo, é a mais geral das ciéncias. Pelo mesmo motivo serve a todas elas, mas no as substitui, Cada ciéncia deve obter ‘0 conbecimento dos seus dados reais, ligando-os entre si mediante leis, baseada em observacdes dos seus proprios fendmenos. A. Matemétice, como instrumento dedutivo, dé-lhes maior certeza ¢ preciséo, mas nfo os substitu. H& muito de imponderdvel, de ‘qualitativo e de tendencial, que escapa & mera quantificacio. 4.1.2, Biologia — Embora imediatamente anterior & Soc Jogia, no quedro geral das cifncias, a mesma coisa pode ser dita da Biologia (a prinefpio, chamada por Comte de Fisiologia) Com ela, sem dévida, iniciam-se os estudos do mundo orginico, ‘em contraste com 0 inorginico; d4-se quase um salto qualitativo, com 0 “enriquecimento do real", de tal forma considerével que cchega mesmo a constituir um ponto critico na filosofia natural, Vérias nogdes novas — que nio serdo estranhas ao vocabulé da Sociologia — surgem aqui, tais como as de consenso, de hierarquia, de meio, de condigdes de existéncia, de relagio entre estética e dintmica, de 6rgio e de fungio. Dé-se também uma inversio de método, devendo-se partir da sintese para a andlise, do todo para as partes. Os fendmenos vitais fazem parte de um sistema funcional, inextricével e complexo, distinguindo-se dos fendmenos mecinicos passiveis de fragmentacéo ¢ de isolamento. A vida se recompée a si mesma, como auto-organizagio. Mas, no estudo do homem, a Biologia abrange as suas mani- festagdes orginicas como animal entre os demais, vivendo. 20 mesmo planeta, tendo as mesmas necessidades sométicas © deles istinguindo somente pela sua maior complexidade. Os aspec- atdmicos ¢ fisiol6gicos da vida mental ficam compreendidos nna Biologia, mas os seus aspectos ideativos, de psiquismo superior, inclusive até as suas faculdades afetivas e volitivas, estas ficam para 0 estudo sociolégico do homem, como membro de um grupo, ois nele se originam ou, pelo menos, séo revelados pela vida associativa e hist6rica, A Sociologia seria impossivel sem a prévia constituigéo cientifica da Biologia, mas a primeira nfo surge diretamente da segunda; hé um plus qualitatvo entre a humanidade © a anima- lidade, © qual se destaca sobretudo pela heranca cultural de uma geracdo a outra, A convivéncia humana, embora gracas a especial organizago do ser humano, faz com que se crie uma mais vida, alguma coisa de novo que no se encontrava antes nos individuos ‘solados. Assim, 0 objeto da Sociologia sio essas relagdes inter- -humanas, com todos 03 produtos, materiais e espirituais, que se criam € s¢ cristelizam de forma permanente ¢ transmissivel, de ‘uma geragio a outra, como verdadeiras categorias objetivadas. A certos respeitos, “a histéria da ivilizagio nada mais & do que a continuacio ¢ © complement indispensével éa histéria natural do homem’. Apeser disso, no entanto, “constituiria mal-entendido coneiuir daf que no seja necessério estabelecer divisio nitida entre a Fisica Social e a Fisiologia propriamente dita” (1822) A cincia social no deve originar-se da Biologia: “Numa palavra, a Fisiologia (Biologia) é, aos nossos olhos, a lnm e nfo a me da Politica” (1819). E, depois, combatendo os que querem reduzir @ Sociologia a Biologia: “Esta idéia € falsa, porque uma cigncia somente € positiva desde © momento em que repouse todas as suas bases na observagio dos fatos que the so préprios.” Mais tarde, iré dizer Durkheim que “um fato social nio pode ser explicade senfo por outro fato social (...) A sociologia néo 6, portanto, © anexo de nenhuma outra citncia; é, ela prépria, uma ciéneia distinta e aut6noma” 1895), 23 4.1.3. Economia Politica — Saint-Simon ¢ 0s economistas propriamente ditos ou os° reformadores sociais, antes ¢ depois dele, admitiam @ Economia Politica como a propria ciéncia social, tida como desnecesséria & criagdo de uma nova disciplina, bas- tando aquela para explicar ¢ organizar a vida humana coletiva. Comte, quando jovem, chegou a mostrar simpatias por essa tese, achando-a, porém, insuficiente ow incompleta, por Ihe faltar uma base geral, que fosse completada por uma “ciéncia moral positi- va", Achava, contudo, que se poderia “fazer enfim a verdadeira ciéncia politica fundada sobre as observagies econdmicas”. Os dois economistas que mais o impressionavam, ¢ de cujos ensina- mentos se serviu, eram Adam Smith e Jean-Baptiste Say. Além de no accitar os principios abstencionistas da econo- mia liberal, nfo concordava Comte com o isolamento ou a preponderfincia do fato econdmico diante dos demais fatos sociais, ‘a0 mesmo tempo que no concordava em admiti-lo como tinico fato social geral, dentro do qual se dissolveriam os demais. Quando da amizade com Saint-Simon, via ainda na produgio 0 fato social mais geral, bésico. No Cours (1839, v. IV), contudo, jd restringe um pouco essa primitiva opinif, 20 escrever: “Numa palavee, a progressio, quer politica, quer moral, quer intelectual da humanidade, € necessariamente insepardvel de sua progressio material, em virtude da fotima solidariedade métua que caracteriza 0 curso natural dos fendmenos socials.” Em 1845, em carta a Charles Dunoyer, insistia nas telectuais ¢ morais na anélise racional da vide voltando a afirmar o seu “invaridvel precetalégico sobre x neceside de jamais cindie os iversos aspctos soci todos expontaneamete solide” E, segundo Comte, somente & nova ciéncia, a Sociologia, poderia assumir este papel de compreenséo da totalidade do social, Tevando em conta todos os fatos sociais. 4.2, Metodologia Beneficia-se @ Sociologia de toda a metodologia jé utilizada ppelas ciéncias anteriores, desde a observagio, pasando pela experimentagdo, pela comparagdo, até o método, que the € pré= 24 prio, da filiagdo hist6rica, Toma-se aqui dificil a observaglo, a0 ‘contrério do que se passa no mundo inorginico, por se constituir ‘© homem, em sua convivéncia, no objeto de pesquisa. A despeito do rigorismo com que pregava a substituigo da imaginacio pela observagio, para que @ Sociologia se tornasse positiva, nio esque- ‘eeu Comte de ressaltar a importincia da primeira na elaboragao das hipsteses de trabalho © nos planos de reforma social. Menos do que na Biologia, nem por isso deixava experi mentagio de poder ser utilizada no campo sociol6gico, notada- mente nos estados de guerra ¢ socioptticos. Mas ¢ sobretudo na comparagio ¢ na filisgdo hist6rica que residem os pontos mais altos, especialmente esta tltima, da metodologia social. O método comparativo ¢ da maior utilidade quer no tempo, quer no espaco, estudando as diferentes épocas histéricas ou os diversos agrupamentos ou sociedades humanas no espaco. Para Comte, apesar de a série evolutiva da elite da humanidade (como costu- mava chamar a Europa Ocidental) constituir a linha mestra do seu sistema, poderiam ser encontradas ainda civilizagdes de povos iletrados ou atrasados, representativas dessas mesmas etapas. Aconselhava mais ainda: que se aplicasse 0 método comparativo no estudo das sociedades. animais, pois muita coisa tida como exclusivamente humana jé Id se encontra, Partindo deste con- selho, publicou Espinas, em 1877, Des Sociétés Animales. Mas era no método histbrico que Augusto Comte fazia repousar a singularidade da Sociologia, por ele confundids, néo taro, com a propria histéria ou com a filosofia da hist6ria.” Pre- gava um tratamento hist6rico alto, abstrato, com abandono do episédico ¢ do anedético, fixando somente a grande linha evoluti- va da humanidade através de suas épocas homogéneas e diferen- ciadas. Como numa bola de neve, vem-se scumulando ao longo da hist6ria a heranga cultural da humanidade, de geragio a geragio, como fato social, e que distingue a humanidade da animalidade, Pela observacio, mediante 0 método hist6rico, pode-se tracar a linha evolutiva, dominante, da humanidade, prevendo-se 0 futuro. Comte chega a escrever: “A ordem eronol6gica das épocas no é a sua ordem filoséica Em lugar de dizer: 0 passado, o presente ¢ 0 futuro, cumpre aizer: 0 passedo, 0 futuro e 0 presente. Nio é de fato, senso quando, pelo passedo, se concebeu o futuro, que se pode voltar unlmente ao presente, que néo € mais do que um ponto, de modo a compreender seu verdadero earéter.” 25 43, Estética e dindmica ‘A maneira biol6gica, divide Comte @ Sociologia em estitica ¢ dinfmnica, comparéveis & Anatomia ¢ a Fisiologia; uma estuda fa sociedade em repouso; 2 outra, em movimento, ‘Sto divisbes {que somente podem ser consideredas abstratamente, pois os dois aspectos se interpenetram ¢ se influenciam reciprocamente. A cestitica tem por objeto as condigées existenciais de dada sociedade, a sua estrutura propriamente dita. Estuda as leis de hharmonia social, a sua hierarquia, manifestadas na coexistéacia © ordenagio das classes ¢ dos individuos, De certa época em diante, passa Comte a identificar a estética social com a nogfo de ordem, vocabulo que vai dominar na sua segunda carreira, na fase do positivismo, com numerosas conotegGes politicas. Combate Comte a doutrina de Rousseau, do estado de na- tureza e do contrato social. O homem, por sua propria natureza pela sua longa inféncia, é um animal gregério. Desde o inicio vive em grupos, que se diferenciam medida que a vida coletiva se vai tomando mais complexa, © individuo somente pode ser compreendido e explicado pela. sociedade, sendo em.si mesmo uma abstracéo. A verdadeira célula social, segundo Comte, é a familia, uma espécie de microssociedade, que reproduz, em ponto menor, 0s fatores da sociedade global. Coloca-se entre « Biologia © & Sociologia, pelas suas funcdes, recebendo 0 novo sere 0 encaminhando ‘para a sociedade, através da heranca social. Sio grupos afetivos, de contato primério ¢ direto entre seus membros. E através dela que, pela linguagem, se toma o recém-chegado membro da sociedade. Ainda na estética, estuda Comte # diferenciacio social, que se vai torando mais complexa & medida que a sociedade se desenvolve. Por ela se estabelece a hierarquia social (Comte ainda no usa 0 termo estratificagao; embora chegue a classe ment). Papel preponderante representa af a divisio do trabalho social, que leva a solidariedade social, mas, podendo igualmente, pelos excessos da especializacao, conduit & desintegragdo social No ensaio de Durkheim, ainda hoje utilizado pelos sociélogos, Comte vem abundantemente citado (1893), Mas, a nogdo central ¢ fundamental da estética comtiana é 4 do consenso existente entre todos os fendmenos sociais. Desde ‘ Biologia, como se viu, alterou Comte o seu método cientifico, 20 declarat que, nos fenémenos de organizagio, deve-se partir da sfatese para a andlise, do todo para as partes, do sistema para os seus elementos, Tomads a sociedade como um todo global, inclusivo, dentro dela funcionam os diversos fatos sociais, sempre interdependentes entre si, num relacionamento circular funcional, evitando Augusto Comte as expresses de causa e efeito, Nenhum fato social pode ser observado isoladamente, tirado do conjunto, como pega independente; a0 contrério, sua identidade resulta da posigdo que ocupa no conjunto da estrutura social. Os fatos sociais se organizam e se alteram sempre de forma interdepen- dente ou solidéria, embora com velocidades desiguais. Enquanto a estética, em seu maior desenvolvimento, somente foi tratada no volume II do Systéme de politique positive (1852), @ dintmica vem tratada desde os primeiros opisculos da moci- dade, ¢ notadamente, nos volumes V ¢ VI do Cours (1841 ¢ 1842). Apesar de jd’ se utilizar dos vocébulos organizapdo social € mobilidade (dos individuos e das classes), como que confundia Comte a dindmica social com a propria Hist6ria, com a lei do Progresso, ou seja, com a lei dos trés estados. Como heranga direta do século XVII, principalmente de Condorcet, admitia Comte que 2 humanidade, a maneira do hhomem de Pascal, se encontrava em permanente desenvolvimento ou evolugéo, aprendendo sempre, progredindo sempre. Procurou afastar da noglo de progresso as conotagées melhoristas, per- feccionistas ou otimistas, em suma, qualquer valoragdo moral de elogio ou de censura. Quase nunca fiel a essa sua tese, € raro © escrito de Comte despido de abundante adjetivagio qualificativa fem torno dos tempos © dos homens que os viveram. Ninguém distribuiu mais elogios censuras. Para ele, assim, dentro daquela afirmagéo de que o futuro pode ser mais previsivel do que 0 proprio presente, considerava, como sua primeira grande descoberta de uma lei sociolégica, a lei dos trés estados, cujos germes jé se encontravam em D'Alembert € Condorest, no século XVIII A humanidade passa, sucessiva- mente, por trés estégios em sua evolugdo intelectual, de concepgio do mundo © da vida: teol6gico (fetichismo, politefsmo, mono- tefamo), metafisico © positive. Os dois primeiros so provisérios, sendo definitive somente o ultimo. O segundo, meramente nega- tivo, sem caracterizago propria, nada mais € do que uma ar alteragio do primeizo, 20 mesmo tempo que a passagem natural para o terceiro. Esta evolugao & surpreendida na série dominante dos paises ocidentais — constitutivos da elite da humanidade, — naguilo que tenha de mais objetivo e marcante, na linha da inteligincia © das idéias. Os estados evolutives podem coexistir, encontrando-se sempre tum minimo de positividade no mais recua- do fetichismo e muito deste ainda na mais avangada positividade (Comte vai readmiti-lo na sua utopia da cidade futura). Por ‘outro lado, nio sio idénticas as velocidades evolutivas de cada tum deles na mesma sociedade ou na mesma época histérica, ccorrendo defasagens e desequilfbrios enire eles. Com avancos e recuos — aqueles mais do que estes —, assim caminha a huma- nidade, como alguém que oscila no andar, ora para um, ora para ‘outro lado, encontrando-se no centro a linha média do desenvol- vimento. Dentro deste mesmo esquema, apresenta Comte 0 tipo mi © © tipo industrial, como os dois extremos caracteristicos do regime teolégico ¢ do regime positive. A expressto tipo ideal jf af aparece cunhada, neste e em outros t6picos andlogos. Essa tipologia j& era encontradica em Saint-Simon, como nota central da sua filosofia social. Vai cla aparecet, de certa mancira, em quase todas as tipotogias que a sucederam, da mesma natureza, n0 século XIX: em Spencer (militar ¢ industrial), em Sumner Maine (status e contrato), em Otto von Gierke (Herrschaft © Genossens- chajt), em Ténnies (comunidade ¢ sociedade), em Durkheim (sangdo penal e sangGo civil). Caracteriza-se 0 tipo militar pelo dominio da forga, da sangio fisica, pela guerra de conquiste, pelo comands irracional; enquanto o industrial se manifesta na livre cooperagio, na livre produsdo, na paz, ne sangéo moral, pela aceitago racional. Segundo Comte, jamais voltariamos a0 pri- meiro tipo, superado de vez depois da Revolugdo Francesa. Nopoledo, execrado pelo fildsofo, teria sido um retrégrado, mera- mente transitério. A resleza € a forma politica do primeito tipo, enguanto a repiiblica 0 € do segundo. Mas, que diria, hoje, 0 nosso fildsofo diante de todas as guerras ocorridas depois de sua morte, diante dos exércitos permanentes, profissionais e técnicos, fe, sobretudo, diante do complexo industrial-militar? Sendo de certa maneira fatal a lei dos trés estados (embora Comte diga ¢ procure provar que 0 seu sistema néo & fatalista, BIBLIOTECA antes, determinista), este € 0 sentido evolutivo de humanidade, inalterdvel € certo, mas trés podem ser os fatores modificadores essa evolugio, acclerando-s, retardando-a, modificando-a em parte, destacando ou evitando certos elementos do processo. Sao eles: 0 clima, a raga e a agdo humana (politica). Nao sio fatores fundamentais, sim meramente modificativos, alterando somente 0s efeitos secundarios do processo. O século caminha com cles ou a despeito deles, mas € melhor colocar-se sempre no sentido do espitito do tempo, Agora, os fatores de mudanca social, que forgam a mobili- dade social e a transformagao da organizacio, sio: 0 tédio, 0 suceder das gerages © © aumento da populagio. Pelo primeiro, Procura © homem mudar de condiglo, almejando e lutando por novas coisas ¢ situagdes. Pelo segundo, muda-se a composigdo da sociedade, com as afirmages e os propésitos das novas geracdes, que, a despeito da continuidade, importam sempre um minimo de mudanga em relago & geragio anterior. O ritmo de mudanga rende-se duragio da propria vida humans. Finalmente, pelo Terceiro fator, alteram-se 05 contatos sociais, aumentando a Comunicagio entre os individuos e os grupos, forgendo a divisio do trabalho social. © simples aumento do volume da populacdo faz com que se inctemente a diferenciago social, com um sem- fimero de novas fungSes ¢ de novas necessidades. © nosso Tobias Barreto, apesar de se haver afastado de Comte no inicio da décads de 70, costumava citar essa doutrina do tédio como fator de mudanga, diante do que chamava a pas- ‘maceira do Segundo Reinado, Francois Mentré refere-se a Comte abundantemente no seu livro’ sobre as geragies sociais (1920) E essa doutrina da populacio nfo € de todo estranha a criagao da morfologia social do L’Année Sociologique, de Emile Durkheim. Nio deve ser esquecida, a propésito, a eritica que Comte enderega a doutrine de Malthus. Ainda que sem a consciencia precisa ¢ desenvolvimentos pos- teriores, nllo se encontra ausente do pensamento sociol6gico de Comte a dislética na mudanga social, Estando o presente prenhe do futuro (Leibniz), cada sistema social, no mesmo instante que acaba de atingir seu préprio desenvolvimento, produz dentro de si mesmo as condig6es que he hao de negar e faz8-lo perecer. Dialética € a sua andlise histérica do aparecimento da moderni- eS eeeeeeeeeesteeeeueas Hee 29 dade em plena Idade Média, a partir do século XI, com as comunas ea ciéncia Grabe. Af aparece também uma viva descri- ‘glo da luta das classes, que recrudesceu a partir do século XVI. 4.4, Sociologia histériea e do conhecimento ‘A dinimica social de Comte, isto & a sociedade em mo- vimento ou em progtesso, confunde-se com o préprio desenvol- vimento hist6rico da humanidade. £ na histéria que se processa fa evolugo humana, fazendo com que o homem se tone cada vez mais humano, isto 6, realize a sua netureza humana, que nela se revela. Contudo, esta natureza & sempre a mesms, permanente. ‘A historia nada mais faz do que revelé-la, no a muda, nem & ria, As suas caracteristicas fundamentals estio presentes desde 0 inicio, partindo da sua organizagdo biolégica. Nisso.é estética a teoria comtiana da natureza humana, Ela se manifesta, no entanto, ao longo da historia, fazendo vir A fuz as notes mais altas da humanidade, em confronto com @ animalidade. © home. € sempre um ser histérico, que s6 se conhece através da hist6ria Duas frases signficatv “No se pode explicar » humenidade pelo homem, mas antes o Thomem pela humanidade Para vos conhecer, conhecei a histéria” Quer isto dizer que Augusto Comte transfigura a teoria do conhecimento em sociologia do conhecimento, fazendo da huma- nidade 0 sujeito coletivo desse conhecimento, sempre relativo, segundo as necessidades ¢ as solugdes de cada época, Com estas idéias, antecipou-se Comte & obra de Dilthey sobre critica histérica da razao, mostrando que © espitito nao é algo de fixo e jimutével, sempre com a8 mesmas categorias. As fungées psicolé- sicas do’ homem — inteligéncia, sentimento ¢ agio — deve ser ‘estudadas pelas. obras do proprio homem, historicamente realize- das, Passava a Sociologia a ser a verdadeira ciéncia do espfrito umano, porque 0 seu estudo, estético ou dinamico, compreende ttn o siecle da rao pica como 0 esnvelineno” da. razio tebrica Com uma nogio muito nitida de periodizacio histérica, per cebeu Augusto Comte a existéncia de épocas histéricas, homo- geneamente caracterizadas, nas quais se organizam ¢ interagem 0s 30 diversos fatos da convivéncia humana. Vishumbram-se nelas Princfpios médios evolutivos, tendenciais, que thes apontam o sentido da mudanga social. As cifncias, as artes, o instrumental prético de produgio recebem as mesmas notas ténicas, denuincia- doras de que pertencem 20 mesmo todo, Numa permanente interatividade entre a teoria e a pritica, exigem as necessidades individuais © coletivas solugSes novas para problemas novos, fazendo com que a ciéncia e a sua aplicagéo constituam fatores igualmente importantes dessa mudanga, num sistema circular de concausas. Incentiva-se com isso 0 espitito inventive, néo sendo Licito conceber um génio criador fora de sua época. Tudo 0 que 6 necessério existe, afirma Comte, emprestando a vida social 0 Papel de acumulagéo ¢ de transmissio da cultura técnico-cien- tifica, HA uma correlago perfeita entre a industria, a estética e a ‘igncia propriamente dita, consideradas em conjunto, como objeto dos estudos sociolégicos, tinicos capazes de relacioné-las entre si e de Ihes dar uma destinagéo também social ou humana. O hhomem s6 se desenvolve na hist6ria e s6 nela & compreendido, como ser situado que : do seu tempo, da sua época, das suas condigdes concretas de existéncia social. As formas de governo nko podem ser admitidas como de valor absoluto, valem pelo que significem em determinada época, pelo pape! que desempenharam, segundo 0 estégio de civilizagzo ¢ orgenizagio social em que aparecem. Ainda nos opisculos (1825) “No basta sentir, de maneira geral, que a cultura de nossa inte- ligéncia 6 6 possivel na soeiedade e pela sociedade. © preciso reconhecer, ademis, que @ natureza e extensio das relagSes socias determinam, em cade época, o caréter € a velocidade de AOSSOS progress espirtuais, e reciprocamente.” 4.8. Sociologia Aplicada ¢ Filosofia Social — Religiio Antiliberal © antiindividualista, pregava Augusto Comte a intervengo do Estado na vida econdmica e na organizagdo social. Embora limitado, muito pode e deve fazer o tegislador em prol dessa melhor organizacdo, com medides que acelerem o seu | advento, revelando as mais altas qualidades da natureza humana, | para melhor convivéncia social. A desordem e anarquia originam- a se da auséncia de regulagéo positive. B preciso haver plano, controle, que se inicia pela formagdo de uma sélida e forte opinio pablica, através de ampla liberdade de pensamento ¢ de discussio. Comte tinha especial ojeriza pela imprensa didria, que seria substi- tuida por simples boletins informativos, cartazes ou aniincios. Liberdade com responsabilidade era a sua diretiva, devendo cada lum assinar os seus eseritos, com data, local de nascimento © enderego. A educaglo deve ser universal, abrangendo todas as classes da sociedade e todos os ramos do conhecimento humano, desde a Matemética & Moral. $6 assim teriam todos as mesmas coportunidades, ricos e pobres, burgueses © proletirios, fazendo com que melhor se diferenciassem as vocacGes e aptidées pessoais, vindo cada qual a ocupar na sociedade o Iuger que Ihe fosse mais, adequado. Adepto da evolugio gradual, lembra Alvin Gouldner que 0 Aadjetivo mais clogiativo em Comte € “espontineo”, dat té-lo classiticado entra os seguidores da organizagdo social do tipo “natural”. E restritiva essa classiticagdo, pois Comte foi dos pri- meiros a destacar o papel da organizacdo racioval na nova vide industrial que surgiu depois de 89, crticando exatamente o estado de potira em que jaziam os individuos, como ilhas, na sociedade liberal. Contudo, no admitia seltos na evolugéo da natureza nem da sociedade, um estado nascia do anterior “sem comporter ne- nhuma criagio”. O homem somente € livre na medida em que compreende ¢ consegue colocar as leis naturais a seu servigo; caso contrério, nada mais the resta sendo sc resigner. A mudanca social, sem saltos, processa-se dentro da ordem, condiglo in- dispensével para 0 progresso; sem ordem, néo hd progresso, ¢ vice-versa. A doutrina positiva, segundo Comte, somente possivel depois da Revolugio Francesa, vé na liberdade’o instrumento do rogresso, “mas concede diretamente A ordem a preeminéncis que the convém Apresenta-se, a um tempo, defensora da ordem ¢ garantidora do progresso. Conservar, melhorando, quando possivel “0 espitito positive tende, além disso, a consolidar a ordem pelo esenvolvimento racional de uma sébia resignacio diante dos rales politicos incurdveis.” 32 Na pritica, revela-se o sistema positivista como conservador, tal f ojeriza que tinha Comte pela anarquia, & maneira de Goethe, também conservador, que preferia antes’ praticar uma injustica, a softer a desordem.’ Desde a mocidade, com 0 Ministro Ville, até os anos 50, com o Senador Vieillard, antigo professor de Luis Napoledo, apresentava-lhes Comte a doutrina positivista como a Yiniea capaz de, mantendo a ordem, enfrentar os subversivos, impedindo a revolugdo violenta € permitindo 2 melhoria pacifica da sociedade francesa, Adversério do sufégio universal, da monarquia, absoluta ou constitucional, das assembléias, via na repablice o estado normal da humanidade, com supressio do parlamento, unicamente neces- sétio pata @ elaboracio do orcamento. As leis deviam ser de competéncia do executivo, com o desaparecimento da hipScrita distingdo entre leis @ decretos. Entusiasmou-se em 1830, em 1848, fazendo as pazes com Arago, ministro de Estado na oportunidad, © sobretudo, em 1851, quando do golpe de Luis Napoledo. Por esse motivo, durante 0 ano de 1852, separou-se Littré de Augusto Comte, que haveria de arrepender-se do apoio ‘que deu prematuramente a0 futuro Imperador. Via no proletariado ¢ na mulher os dois agentes mais capa- citados para compreender e aceitar 0 advento do positivism, pelo seu no comprometimento com os interesses constituides da Durguesia e por ndo terem recebido educacio oficial. A burguesia hhavia chegado ao fim, nada mais tendo a fazer na historia, mas, enquanto 0 regime positivista néo pudesse ser implantado pela falta de completa unidade de idéias e de costumes, a ordem pre- cisava ser mantida, a fim de que se evitasse mal maior, com recrudescimento da reago ou com a vit6ria das utopias subversi- ‘vas. O exército permanente, transformado, poderia ser utlizado nessa manutencdo da ordem. Contudo, desesperava-se Comte diante da incompreensdo das classes dominantes, que demoravam em ver na sua doutrina a nica saida para a situagao, errando, por outro lado, 20 impedir, pela violéncia, a livre discussio das idéias. No regime transitério, enquanto néo se pudesse adotar o regime positivsta, seria a repiblica francesa dirigida por uma ditadura de tr@s proletérios positivistes (e Comte jé tinha seus nomes © seus assentimentos): 33, “a trangiilidade 36 seré solidamente estabelecida na Franga, quando 0 peder for ocupade por governadores proletétios”. Mas, @ questio social ¢ toda a crise social eram mais de natureza spiritual ¢ moral, do que propriamente de natureza material, ‘sem perturbar a economia geral, a reotganizagfio mental, inter- pondo hebitualmente uma comum autoridade moral entre os ‘operirios e seus chefes, ofereceré a sinica base regular de uma conciligio eqiitativa pacifica de seus principais conflts, quase sbandonada hoje & brutal disciplina de um antagonismo ppuramente material” (1839), A favor do casamento indissoldvel ¢ da viuvez eterna, da hheranga ¢ da propriedade, via nesta uma “instituigfo fundamen- tal”, embora devendo sofrer sérias ¢ profundas limitagBes no seu uso’ em proveito da coletividade. Sendo toda riqueza social em sua origem, social também deve ser 0 uso da propriedade, que nio pode ser unt direito absoluto. Em seus escritos de 1851 ¢ 1855 distinguia Comte entre comunismo ¢ socialismo. Via virtudes em ambos quanto a0 diagnéstico da sociedade burguesa, mas deles discordava, princi- palmente do primeiro, quanto a terapéutica. Apreciava os “nobres sentimentos” dos comunistas, que prestavam “um servigo funda- mental” na critica & propriedade burguesa. Evoluindo para o positivismo, até 16, “devem os proletérios aderir a0 comunismo, como tinico éraio ‘que possa hoje colocar © manter, com irresistivel energia, a questio mais fundamental”, fixando @ atengio geral sobre esse grande assunto, “que o empitismo metafisico © © egoismo aristoctético das classes ditigentes afastariam ou desdeahariam sem tal epelo con- tinuo". A nova filosofia nfo teme 0 comunismo, cujo nome nada mais “indica diretamente do que « preponderincia fundamental do sentimento social”. Entre 0 comunismo © o individualismo, como duas aberragdes ‘contrérias, nfo hesita 0 positivismo em ficar com o primeiro, essando ambos com a sua vitdria, mas enquanto esta conciligdo, atualmente insttuida, nfo estiver realizada, a si politica pode obter mais assisténcia ‘dos comunis- tas do que dos individualist 34 Os proletérios so 0s tinicos revolucionérios doravante importan- tes, arrematava, “Os individuatistas e os letrados preferem o regime parlementar, que favorese 0 isolamento ¢ a ambigio; 20 passo que os comu: histas © 08|proletérios adotam a ditadura como mais adaptada a renovagio", © socialismo & uma expresséo mais feliz, que “accita 0 problema dos comunistas e repele sua soluglo", mas sua répida propagacio “inspira justos alarmes as glasses, cuju resistencia empirica cons- tui agora a nica garantia legal da ordem material. Os “verdadeiros socialistas” no hesitardo em aderit 20 positivis- mo, que os guiaré passando a ser o “socialismo sistemitico”, Mas, até 16, “a undnime reprovasio que inspiram essas utopias deve dispor 40 positivismo, que dorevante € 0 nico que pode prescrvar 0 Ocidente de qualquer grave tentativa comunista. ‘Fundando, enfim, a politica moderna sobre uma digna sistematizagéo da admiravel divisio esbocada na Idade Média (poder espritual © poder temporal), 0 partido construtor vem hoje satisfazer os ppobres, trangiilizando os ricos" ‘Tendo-se como adepto do partido progressista, construtor, chegava Comte a escrever, defendendo-se dessa valorizagio do sistema me- dieval: “Estamos demasiado cheios do futuro, para recearmos em algum tempo ser seriamente tachados de retorno 20 pasado.” Mas, na prética, como jé dissemos, colocava-se 20 lado da ordem. Sua bandeira era a verde, havendo rompido com os brancos, 0s azuis e, sobretudo, com os vermethos. Alguns trechos: “Deve-se deixar no desenvolvimento de nossa tempestuosa situa- slo © cuidado de dissipar, a este respeito, 0 torpor que mantém © empirismo e o egoismo das classes dirigentes (ou antes resis- tentes), Estou convencido de que o positivismo nio tardaré fem ser invocado em socorro da ordem, como & tinica doutrina capaz de enfrentar dignamente esse temivel confronto com 2 anarguia universal que se destaca cada vez mais no meio atual. (...) Numa palavra, podemos e devemos tornar-nos pot toda 1 parte os defensores sistemiticos da ordem fundamental, cujas condigées essenciais encontram-se hoje comprometidas pelas di- 35 versas doutrinas teolégicas © metafsicas. A familia, a proprie- dade, a religibo, etc, s6 podem ser serlamente defendidas pelos principios positivistas. Ora, nosso privilégio a este respeito co- megs a ser dignamente sentido pelos mais avancados e sinceros conservadores.” A Iota final seré entre © comunismo € 0 positivismo, que comeca 2 ser apreciado, “nio como um puro atrativo filosético, mas a titulo de garantis social, numa palavra, como © tnico preservativo sistemético contra © comusismo”. Sempre em’ busca da unanimidade e da completa unidade spiritual, jf havia Comte criado a Religido da Humanidade em 1847, depois da morte de Clotilde de Vaux em 1846. Comecava a sua grande utopia, coincidindo neste mesmo ano a perda da amizade de Stuart Mill, Para constituir 0 seu poder espiritual, criou 0 sacerdécio positivista, como classe especulativa € contem- plativa, sendo ele proprio o Grande-Sacerdote, com sede em Paris. Para expor a nova religifo, com culto, regime e dogma, escreveu © Catecismo positivisia, no qual 2 explanacéo ¢ a catequese vém feitas sob a forma de didlogo entre 0 Sacerdote ¢ a Mulher. Voltam algumas manifestagées fetichistas, passando a Terra (Gran Fetiche) a ser adorada como 0 nosso meio natural. A Humani- dade € 0 Gran-Ser, isto 6, “Yo conjunto dos seres, passados, futuros f presentes, que concorrem livremente para aperfeigoar a ordem universal”, ‘Inaugurou, para isso, um novo calendério, com novas festas comemorativas em homenagem 20s grandes vultos do pax sado, porque 0s vivos sio sempre ¢ cada vez mais governados pelos mortos. © novo regime, l'avenir humain, recebe as deno- minagbes sociolatria e sociocracia, Muito préximo do catolicismo, sua permanente admiragio, aconselhava 0 Sacerdote que a sua catectimena seguisse o seu exemplo: lesse diariamente a Imitacdo de Cristo, substiuindo 9 nome de Deus pelo da Humanidade, ‘onde 0 encontrasse. Religio posifiva, demonstrivel, nio-sobrena- tural, vitia em breve substituir todas as religides teoldgicas, anteriormente existentes. Esperava Comte jé estar pregando 0 positivismo na Notre-Dame antes de 1860, Sempre preocupado com a brevidade da vida humana, desejava arcentemente ver adoteda a sua religifo antes da sua morte, pois no se julgava tio ongevo como Fontenelle, que chegou acs cem anos. Terminava a quinta parte do Discours préliminaire sur ensemble du posit visme (1851): 36 “O sacerdote da Humanidade somente desenvolverd sua supe- Fioridade necessiria sobre 0 sacerdote de Deus, quando sua razio sistemética se combinar dignamente com 0 entusiasmo ¢o poeta, com a simpatia feminina e com a energia proletéria.” Como Grande-Sacerdote, casou, celebrou misses ¢ batizou, segundo 0 novo culto, Expediu circulares 2 mancheias para seus adeptos em todo o mundo, mantendo intense correspondéncia com discipulos e com alguns chefes temporais. Apelou para o Czar Nicolau I (20 de dezembro de 1852) € para o Reschid- -Paché, antigo grao-vizit do Império Otomano (4 de fevereiro de 1853). No ano anterior a sua morte, propés alianga ao Geral dos Jesuites contra a “inrupgio andrquica do delirio ocidental” (1856). 5. Conclusio As idéias sociolégicas de Comte acham-se expostas por toda f sua obra, mas de forma sistemética, principalmente, nos trés himos volumes do Cours (1839/1842) © no volume It do Systeme (1852), pate a estitica social, Procurou no Cours realizar “fo estudo dos fendmenos de Fisica Social numa disposi¢io de espirto tdo puramente especulativa como a que presidiu a0 nosso exame das outras cignciss fundamentas", tarde, quando de sua segunda carreira, a partir de 1867, nao dava Comte a mesma importincia as suas idéias teOricas de elaboragdo da sociologia, achando mesmo que 0 Cours deveria set lido por fim, somente pelos tebricos, chegendo até a desin- teressar-se da traducdo para o francés do resumo inglés que dele hhavia feito, em dois volumes, Miss Martineau. Para um Grande-Sacerdote, pregador de uma nova religiio entre os homens, haveriam de the parecer mortas ¢ mesquinhas, sem calor nem entusiasmo, aquelas nogées da fase da Filosofia Positive, Agora, j@ ele vivia no positivismo, $40 numerosas, contudo, a8 intuigdes sociclégicas de Comte, ainda hoje dignas de meditagio como pontos de partida. ‘Teve plena consciéncia da sua época, do que ela significava como revolugio geral para a humanidade, Com a. nova sociedade industrial, desapareciam as castes, surgindo uma nova estratificagio social baseada em classes. ar Otimista diante da ciéncia e da indéstria, percebeu, contudo, os seus abusos, mas no deixou de thes atribuir o papel fundamental nna nova organizagio delas emergente. Sé6 entdo se tornou possivel surgir uma nova cifncia, a dos fendmenos sociais, necesséria a0 estudo da realidade © a indicagio de possiveis solugdes para os problemas do seu tempo. Confundindo 0 factual com o norma- tivo, © sociol6gico com 0 filoséfico, mas sempre antiacadémi fez da Humanidade objeto da sua ciéncia social, como ciéncia universal, englobante, sintétice, Antiguerreiro e anticolonialista, colocou-se a favor da Espanha (na mocidade), da Argélia, da Inlanda, dos mares abertos, da igualdade de todos os povos ¢ de todas as rages, contra a diseriminagdo racial. O préprio Marcuse, ‘Go severo com o pensador francés, nfo pode deixar de escrever! “A este respeito, a soviologia de Comte transcende os limites a filosofia de Hegel. A teoria postive da sociedade no ve ranfo para confinar o desenvolvimento humano 905 limites dos Estados nacionais soberanos. A humanidade, no 0 Estado, & ‘© universal real, ou melhor, a tiica realidade”. © seu positvismo exacerbado, entretanto, como religifo, fez ‘com que ficasse na penumbra a parte mais significative da’ sua ‘obra, por ele j& considerada menor. Leopold von Wiese ¢ ‘Timothy Raison slo radicais a este respeito, G0 considerando em Comte sendo a filosofia social e os dogmas religiosos. Outros, porém, como Ténnies, Scheler, Freyer, Sorokin, Menzel, Barnes, Becker, Mumford, Echavarria, Friedmann, Ferraroti, Girod, Aron, para citar somente alguns, expdem com isen¢fo 0 pensamento socioldgico comtiano, no que tenha de sistemético, de criador e de original. Como eserevem Bames ¢ Becker, “hé poucos pro- biemas de teoria ou’ de histéria social em que nao tocasse”. Socilogo da unidade humana ¢ social, seu realismo sociolégico abrangia os problemas do sen tempo de forma sintética e universal ‘Vemos nele # Sociologia in statu nascendi, como ele mesmo o diz, bem préxima de sua prética, recém-saida do batismo, pretensiose fe algo dogmética, mas sem nunca perder de vista o destino humano como o drama que se desenrola na hist6ria, Muitas das pesquises da atual Sociologia analitica, puramente fética, sem dé- vida, teriam sido julgadas por Comte como meramente “ociosas”, Ninguém mais pode pretender que a teoria sociol6gica comtiana possa ainda vir a servir de instrumento conceitual de ‘trabalho para os cientistas sociais de hoje, mas a verdade € que

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