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Estudo do Comportamento Térmico de Espumas Flexiveis de Poliuretano durante a Fase de Cura ‘Victor Manuel Fernandes Peixoto Dissertagdo apresentada a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para obtengao de grau de Mestre em Engenharia Mecdinica Porto Novembro 2000 1 RESUMO Foi estudado 0 comportamento térmico de blocos de espuma flexivel de poliuretano, durante a fase de arrefecimento, em armazém fechado. ‘Na base deste estudo encontram-se dados experimentais recolhidos na Empresa Cordex, 8.A., que se dedica & produgao deste tipo de materiais. Foram usadas correlagées para os coeficientes de transferéncia de calor entre as superficies externas dos blocos ¢ 0 ar adjacente. Foi modelada a gerago interna de calor através de uma equago semi-empirica. Fizeram-se simulagGes para situagdes de temperatura ambiente diferente (Verdio ¢ Invemo) © para espumas de diferentes densidades. Paralelamente foi elaborado um estudo paramétrico onde se analisa a diferente sensibilidade do modelo a alguns pardmetros, tais como, dimensio da malha, temperatura ambiente constante, diferentes dimensdes dos blocos. © modelo revelou simular com boa aproximagio 0 comportamento térmico dos blocos de espuma, em fase de arrefecimento, fornecendo resultados consonantes com os medidos experimentalmente. m ABSTRACT ‘The thermal behaviour of flexible polyurethane foam, during the cooling phase, in a closed storage room, was studied. On the basis of this study are experimental data gathered in the company Cordex S.A., which is dedicated to the production of this kind of material. Correlations were used for the heat transfer coeficients between blocks’ external surfaces and the adjacent air. The internal heat generation was modeled through an empirical equation. Simulations were made for different ambient temperatures (Summer and Winter) and for different densities of foam. A parametric study was elaborated to analyse the model’s sensibility to some parameters, such as the mesh dimension, the ambient temperature and the blocks’ different dimensions, The model revealed a good approximation by comparison with experimental results obtained for the cooling process of foam blocks. RESUME Ona étudié le comportement thermique des blocs de mousse flexible de poliuretane, pendant la phase de refroidissement, dans un lieu fermé. A la base de cette étude, données expérimentales recueillies a l'entreprise Cordex S.A., que se dédie a la production de ce tipe de matériaux, ont été utilises. On a utilisé des corrélations pour les coeficients de transfer de chaleur entre les surfaces externes des blocs et I’air adjacent. La génération inteme de chaleur a été modelée a travers d’une équation semi-empirique. On a fait des simulations pour des situations de différente température ambiante (Bté et Hiver) et pour mousses de différentes densités. Parallélement on a élaboré une étude paramétrique od on analyse la différente sensibilité du modéle & quelques paramétres, comme la dimension de la maille, la température ambiante constante, les différentes dimensions des blocs. Le modéle simule avec bonne approximation le comportement thermique des blocs de mousse en phase de refroidissement. Indice I—Introdugio 1.1 - Espumas flexiveis de poliuretano 1.1.1 - Mercado actual 1.1.2 - Reacgdo quimica 1.1.3 - Principais reagentes 1.14 - Processo de fabrico 1.1.4.1 ~Max Foam Process 1.2 ~ Objectivos e estrutura da tese IL- Modelo Numérico 2.1 — Deserigfio das equagdes gerais para resolugo do problema 2.2 - Método de elementos finitos em condugio de calor 2.3 — Programa FET 2.4 — Correlagdes € coeficientes de transferéncia de calor IL — Resultados do modelo numérico 3.1 —Condigdes de aplicagtio do modelo 3.1.1 — Condigdes ini 1 — Temperaturas iniciais +1, — Cura em armazém fechado 3 — Dimensfo dos blocos 4~ Tipo de piso suporte 5 — Vizinhanga dos blocos 6 ~ Modelo nfio extensivel a caudas ¢ cabegos 1.1.7-Index 2 Dimenstio da matha usada 3 ~ Geragdio interna de calor 3.2 —Instalagiio experimental 3.3 — Aplicagtio do modelo e comparagéio com resultados experimentais 3.3.1 — Simulagdo 1 ~Condigdes iniciais, 2. Outputs 3.3.2 ~ Simulagaio 2 — Condigées iniciais 17 17 20 30 32 39 39 39 39 40 40 4l 42 42 42 42 44 46 48 48 48 50 58 58 60 3.3.3 — Simulagio 3 3.3.3.1 — Condigdes iniciais — Simulagiio 4 3.3.4.1 — Condigées iniciais 3.3.4.2 — Outputs 3.4 — Estudo de sensibilidade da malha IV -Conelusées 4.1 - Conelusdes 4.2 — Trabalhos futuros Bibliografia Anexos vl 68 68 70 B 8 80 88 96 96 99 101 103 vil Agradecimentos Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a0 Professor Armando Oliveira o inquestionvel apoio demonstrado na orientagiio deste trabalho, o qual sem a sua contribuigo nao teria o rigor ¢ a qualidade desejados. ‘Agradego aos meus pais ¢ ao meu irmao pelo suporte afectivo e paciéncia concedidos nestes 2 anos. Agradego aos irmaios Guindeira, Paula e Mario pela sua presenga ¢ apoio constantes, em especial ao Mario, pelo espirito de camaradagem permanente. Um agradecimento especial a Natacha Pinho, pelo apoio nos momentos certos. Por fim, agradeco a todos os colegas da Secgio de Fluidos ¢ Calor, sobretudo a0 Jorge Facio ¢ Joio Souto ¢ Miguel Salgado, pela disponibilidade e bons momentos passados. vill Nomenclatura: A, B—constantes. B, - porgiio de fronteira adiabatica q% =0; (im). B, - porgio de fronteira onde existe convecgio : q7 =a(T,, —T); (m). Br porgao de fronteira onde existe fluxo de calor imposto 4” = g7 ; (m). B, — porgao de fronteira com temperatura imposta; (m). ¢y— calor especifico; (J/ kg K). C - matriz de capacidades (envolve densidade e calor especifico do material); (ki/m°K) C &- vector contendo a taxa de energia acumulada em cada sistema nodal; (ki/m’s).. g—aceleragiio da gravidade; (m”/s). gy - vector de geragio (envolve a taxa de energia gerada dentro de cada sistema nodal); (W/m). Gry, — Numero de Grashof. hy - vector de convecgéo (envolve 0 coeficiente de transferéncia de calor ¢ a temperatura ambiente na fronteira); (W/m’K). H.- matriz de convecgio (envolve o coeficiente de transferéncia de calor na fronteira); (Wim’K). L—comprimento caracteristico; (m). Nuy, ~Nimero de Nusselt. Pr—Niimero de Prandit. Ra— Numero de Rayleight. q~ gerapdo interna de calor (por unidade de volume); (Wim’). res ~ Beracdo de calor residual; (Wim s). emy ~ calor transferido por conveegio; (W). na — calor transferido por radiagao; (W). y= vector de fluxo de calor (envolve o fluxo de calor na fronteira); (W/m). ” 7), - fluxo de calor total que entra na dérea A através da fronteira B (por unidade de rea); (Wim?) K - matriz de condugdio (envolve a condutibilidade térmica do material); (W/mK). t~ tempo; (s). 8 - derivada de ty em fung&io do tempo, em cada n6; (K/s). 1K ty — vector temperatura (contém a temperatura em cada nd); (K). T- temperatura; (K). Tan — temperatura ambiente; (K). Tamb mea ~ temperatura ambiente média; (K). T,, Tsup — temperatura superficial; (K). Ty (t) - temperatura do vértice ino momento ; (K). y —posigiio de coordenada vertical. x~posigilo de coordenada horizontal. xy -representa a notagio xy-x). W, (xy) - fungdio de peso ou de aproximagiio do né i que 1 no nd ie zero nos outros 1nés, variando linearmente de 1 até zero ao longo dos elementos frontais opostos, a0 nd i, «1 - coeficiente de transferéncia de calor por convecgaio; (Wim? K). typ =—2— ~ difusividade térmica; (m/s). Dee ) ~ coeficiente de expansiio térmica, a presséio constante; (1/K). P Byer = camada limite vertical; (m). v - viscosiodade cinemética; (m’/s). 2 - condutibilidade térmica; (W/m K). p- massa volitmica; (kg/m*). Capitulo I —Introdugao 1.1—Espumas flexfveis de poliuretano 1.1.1 - Mercado actual © desenvolvimento de espumas flexiveis de poliuretano e as suas aplicagdes representam um dos maiores sectores no campo da quimica aplicada, normalmente conhecido como tecnologia de reacgées de polimeros. A infinidade de aplicagdes para estes produtos contribuiu e conduziu a uma inegavel methoria na qualidade de vida humana. Dada a sua disponibilidade numa vasta gama de durezas, resiligncias e densidades, as espumas flexiveis de poliuretano oferecem niveis de conforto humano (e protecgfo a objectos inanimados) dificilmente atingidos ‘com outro tipo de material. So consideravelmente mais resistentes & degradagdo do que as antigas espumas de létex e mais facilmente utilizéveis na indistria de estofagem e seus derivados. ‘A maioria das espumas flexiveis aleangam os consumidores através da sua utilizagio na produgo e acabamento de produtos mobiliérios, colchoaria, vestuario e industria automével. Na generalidade, os consumidores beneficiam do uso deste tipo de material em praticamente todas as formas de assento (cadeiras, sofés, bancos, etc...) De um modesto inicio comercial na década de 50, tem-se assistido a um desenvolvimento sustentado, assumindo hoje a 6* posigdo entre os produtos de matriz plistica mais vendidos, Embora no inicio 0 crescimento tenha sido bastante lento (limitagGes técnicas que impediam produgdes em escala), as vantagens oferecidas pela aplicag&io destes novos plésticos foram-se tormando cada vez mais evidentes. O volume total de vendas centrava-se nos 120 milhdes de contos em 1960. Em 1970 esta indistria excedia jé os 450 milhdes de contos, atingindo na década de noventa os 2000 mithdes de contos, Ver figura 1, [1 | Evolugao do mercado de Espumas de | Poliuretano: Sy 5 160 | BE Ss Milhoes d Figura 1 ~ Evolugdo do mercado das espumas flexiveis de politretano. 1.2 - Reacgio quimica _ quimica de poliuretanos baseia-se em reacgdes de isocianatos com hidrogénios ctivos. Isocianatos so componentes que tém um ou mais grupos de isocianato ltamente reactivos (-N=C=0), Este grupo reage com atomos de hidrogénio que se ncontram ligados a atomos mais electronegativos que 0 carbono. Os principais ‘omponentes deste tipo com maior importancia para a quimica de poliuretanos neontram-se discriminados a seguir + Aminas «Agua * Acido Carboxilico . ‘Ureias © Uretano * — Amidas ‘A reactividade do grupo isocianato pode ser explicada considerando as suas principais estruturas possiveis - 6 R-N-C=0< R- A densidade de electrdes é maior nos étomos de oxigénio e menor (mais reduzida) no tomo de carbono, Este facto conduz a uma maior carga “ligante” negativa nos 4tomos de oxigénio, uma maior carga positiva nos atomos de carbono ¢ uma carga negativa intermédia nos étomos de azoto. A reacgdo normal envolve essencialmente 0 estabelecimento de uma ligagao dupla entre 0 carbono € 0 azoto. A formagéo de espumas flexiveis de poliuretano é um processo complexo envolvendo virios reagentes e pelos menos duas reacgdes distintas: © Polimerizagio ‘+ Reacgdes de produgio de gis Polimerizacio: A reacgo de polimerizagao ocorre entre um isocianato e um alcool: 2 =0+ R'-CH, -OH—*-+R- N-C-O-CH, -R' pa 2 Este processo é exotérmico. O hidrogénio ligado ao étomo de nitrogénio no grupo Uretano reage com 0 isocianato formando o grupo Alofanato. @ Q R-N-C-O-CHz-R'+R-N=C2Q —45 R- N -C-0-cH-R Teoctana Tove —4____ Oe Trevano N-H Alofanato A formagao do grupo Alofanato constitui reacgées sucessivas a altas temperaturas, Reacgdes de Produgio de G: Para obter espuma, o polfmero de poliuretano deve ser expandido ou “soprado” através da introdugdo de bolhas de gas. ‘Uma fonte conveniente e eficaz de gis consiste no diéxido de carbono produzido na reacgo entre 0 isocianato e a agua. Q R-N=C=0+ H-O-H->|R-N-C-OH |-+CALOR+CO2 +R-NH2 Tsocianato ‘Agua H nina kd Acidocarbamico produto intermédio desta reacgdo € 0 Acido carbar 0 que, tecnicamente instavel, se decompée numa amina ¢ em didxido de carbono. A difusio de CO; através de bothas (previamente nucleadas), origina a expansio do meio, normalmente conhecido como “crescimento de espuma”. Reacgies posteriores da amina com isocianato adicional origina a ureia: 2 R-N2C=0+R'- NH, —*4R-N-C- Isocianato Amina et Ureia ‘A expansio pode também ser conseguida através da adigao de liquidos ndo reactivos com baixos pontos de ebulig#o. Os agentes expansores mais comummente usados so 08 clorofluorcarbonos, metanos ¢ triclorometanos. A vaporizagio destes liquidos pelo calor libertado das reacgSes exotérmicas produzem moléculas de gas que se difundem no meio, provocando a expanséo deste iltimo. 1.1.3 - Principais reagentes: ‘As formulagées subjacentes as espumas flexiveis de poliuretano contém normalmente varios ingredientes seleccionados para atingir o desejado tipo de espuma. A tabela 1 apresenta 0s reagentes mais comuns € as suas tipicas concentragGes utilizadas na produgio deste tipo de espumas. Tabela 1 -Reagentes mais comuns nas formulagdes de espumas flexiveis Componentes Pereentagem (em relagio ao polio!) Poliol 100 ~ AguaassssSsS—=S@Y 15-55 Silicones 05 - 25 ‘Aminas O1 - 10 ‘Agentes de exp. auxiliares 0-35 | sCAditivos S| Varidvel Tsocianato| 25 - 75 Poliol: o poliol é a fonte de hidréxidos ou grupos de isocianatos reactivos. As caracteristicas finais da espuma dependem fortemente da estrutura do tipo de poliol utilizada, Cerca de 90% do total de espumas flexiveis produzidas tém origem em poliois do tipo polieter. Isocianato: 0 isocianato constitui a fonte de NCO grupos que reagirdo com grupos funcionais de poliol e Agua. Todos os isocianatos usados industrialmente contém pelo menos dois grupos de poliois por molécula. Na produgao de espumas flexiveis 0 isocianato mais usado ¢ o conhecido Tolueno Diisocianato (TDI). ‘A quantidade de isocianato requerido para reagir com poliol, 4gua e outros aditivos 6 calculada em termos de equivaléncia estequiométrica. Esta quantidade teérica estequiométrica pode ser ajustada para valores superiores ou inferiores dependendo do tipo de espuma desejada. A razo entre quantidades de isocianato usada relativamente @ quantidade teérica necessaria é conhecida por index, Quantidadede Isocianato usada Isocianato Index = ee SS ee Quant. estequiométrica necessdria «100 Variages no index conduzem a pronunciados ¢! sna dureza final da espuma. Este aumento de dureza esti directamente relacionado com 0 aumento de ligagdes covalentes cruzadas, resultando num maior consumo de grupos de isocianato reactivo. Na produgdo de espumas flexiveis, o indice de isocianato varia normalmente entre 105 ¢ 118. Neste intervalo, a dureza da espuma pode ser controlada. Em geral as espumas tomam-se mais duras com o aumento de index. Existe no entanto um ponto acima do qual nfo se conseguem aumentos de dureza, penalizando no entanto as outras propriedades fisicas, tais como densidade, resisténcia 4 compressio, ruptura a0 alongamento, médulo de elasticidade, porosidade, etc. Isto deve-se a0 facto de os grupos de isocianato em excesso reagirem com a Agua, libertando mais calor, vaporizando aditivos e promovendo uma difusdo mais consistente destes voléteis ¢ do COr produzido, Se a este facto for adicionado também um excesso de agua contida no ar que entra (em substituigaio do CO: que se difuunde para a vizinhanga), a formagio de bolhas de gis sera tao intensa que @ expansfo da espuma ocorreré a uma taxa muito superior 20 endurecimento das paredes das células em formagdo conduzindo ao colapso da espuma. Agua: a dgua constitui a fonte de hidrogénio activos. Isocianato reage com a agua formando COs e moléculas de poliureia, Silicones: a maioria das espumas de poliuretano sto produzidas com a ajuda de silicone. A presenga de silicones assume varias fungdes, entre as quais © Redugio de tensdes de volume a superficie * Provocar emulsbes de reagentes por si sé incompativeis + Promover a nucleagio de bolhas durante a mistura © Estabilizar 0 crescimento da espuma reduzindo forgas que se concentram nas paredes finas das células, Esta tltima propriedade ¢ sem diivida a mais importante, pois os silicones impedem a unido das células em crescimento antes destas atingirem a forga (rigidez) suficiente através da polimerizagao de forma a tornarem-se auto-portantes, Ver figura 2 [1]. Figura 2 — Geometria real e aproximada de células de espuma flexivel. Sem este efeito a unidio continua das células em erescimento conduziria ao colapso total da espuma, ‘Além disto, os silicones controlam também 0 grau de abertura das células € 0 respectivo “timing”. Catalisadores: em geral todos os poliremos contém pelo menos um tipo de catalisador. Entre os mais usados distinguem-se as aminas e os organometais. Varias combinagdes de catalisadores poderto ser usadas de forma a estabelecer um ptimo balango entre as reacgdes em cadeia (isocianato com hidréxido ¢ as reacgbes de expansio (isocianato com Agua)). A taxa de formag&o do polimero ¢ a taxa de formagio de gés tém de ser balanceadas de forma a que este ultimo se difunda eficazmente no polimero em formagio (estado gelatinoso), mas permitindo no entanto que as paredes das células desenvolvam rigidez suficiente de forma a manterem a estrutura sem colapsarem, Aditivos: varios aditivos podem ser incorporados nas formulagdes de forma a obter propriedades especificas no produto final Os mais comuns: * Pigmentos: varios tipos de pigmentos poderdo ser usados de forma a obter coloragao ¢ tonalidades de espuma muito diversas. Entre os mais usados encontram-se didxido de titinio, dxido de ferro, éxido de ordmio, ete + Estabilizadores anti-UV: todos os poliuretanos baseados em isocianatos arométicos tendem a ficar amarelecidos com a exposigao & luz. Este tipo de manchas constitui um fenémeno superficial e nao tem implicagdes para a maioria das aplicagSes. Agentes protectores de luz do tipo “hidroxibenzotinol”, dibutil de zinco, podem ser usados de forma a aumentar a estabilidade & luz solar. ‘* Agentes catalisadores: Algumas espumas destinam-se a embalagens, vestuério € outras aplicagdes onde € desejado minimizar a resisténcia eléctrica de forma a que as cargas eléctricas acumuladas sejam minimas, Este facto é normalmente conseguido através da adigao de sais de metal, acido carboxilico, esteres de fosfatos, etc. Estes agentes tornam a espuma inerentemente mais condutora ou entéo aumentam muito a absorg4o da humidade do ar. 1.1.4 — Processo de fabrico Distinguem-se actualmente dois sistemas distintos de produgao de espumas flexiveis: ‘* Sistema continuo — produgio continua de produtos semi-acabados (normalmente em ttinel), sendo posteriormente, maquinados em dimensdes inferiores. © Sistema descontinuo ~ injecgdo da mistura reagente em moldes ou cavidades, originando produtos cujo formato se aproxima muito do final, O sistema continuo é 0 método de produgio mais antigo. A mistura de reacgio ¢ colocada sobre um filme de papel rolante, que a encaminha para um sistema de transporte, o qual controla a dimensto final do paralelipipedo em expansao. Dentro do sistema de produgo continuo distinguem-se trés processos principais: 9 © “Vertifoam Process” — processo de expansio na vertical + “Crow-Block Process” - expansio lateral, apoiada em tapete rolante. A mistura reagente cai directamente no filme de papel, no havendo calha de pré- expansio, Ver figura 3 [2] Rav . MATERIALS ‘TRAVERSING. MIXING HEAD ‘OPERATOR'S __ PLATFORM Figura 3 - “Crow-Block Process”. As patedes laterais foram omitidas para fixcilitar a visualizagio, “Max Foam Process” ~ provavelmente 0 processo mais usado em todo o mundo na produgio de blocos de perfil rectangular. Ver figura 4 [3] Points ‘HORONTAL CONVEYOR THOM PARER FVE-SECTION FALL PLATE Figura 4 - “Max Foam Process”. As paredes laterais foram omitdas para facilitar a visulizagto {As plantas fabris de produglo de espumas sio muito semethantes entre si, A tipologia mais normal centra-se em 5 areas distintas: 10 * Zona de armazenagem de matérias primas - nesta area so armazenados os Figura 5 — Cistemnas de poliol (Cordex S.A.). * Zona de produsiio de espumas, - nesta sec¢Ao so misturados os reagentes dando-se inicio & reacg&io, Existem vérios tipos de méquinas misturadoras, A figura 6 apresenta o painel de comandos de uma delas. Figura 6 ~ Painel de comandos de Max Foam Hennecke. u * Zona de cura — depois de produzidos os blocos so armazenados em armazém, onde decorre o processo de arrefecimento, tal como esquematizado na figura 7 Figura 7- Armazém de cura © Zona de armazenagem de blocos ~ depois de arrefecidos, os blocos séo armazenados em pilhas. * Zona de corte (fabricasiio) — nesta Area os blocos sfo maquinados em Iaminadoras ou méquinas de comando numérico, originando produtos de diversos formatos, para diversas aplicagdes, tal como exemplificado na figura 8. 12 Sent Figura 8 — Laminagem de blocos em placas destinadas ao fabrico de colchdes. Procedimentos de proteceio ao fogo implicam que estas areas estejam fisicamente separadas, incluindo mesmo sistemas de transporte entre elas, que deverdo também estar isoladas através de barreiras ao fogo. As zonas que potencialmente apresentam riscos elevados de incéndio sio as zonas de cura (e anexos), pois ¢ aqui que se atingem as temperaturas mais elevadas de todo o processo. Segundo Oertel [2], para temperaturas superiores a 215 °C poderdo surgir focos de ignig&o, sobretudo nas zonas centrais dos blocos. Estas reas de fabrico deverfio ser caracterizadas por um sistema de prevengéo ¢ combate ao fogo, tais como sensores térmicos ¢ detectores de fumo, barreiras anti- fogo e portas estanques, “sprinklers”, etc. Extintores de CO2 tém provado ser bastante eficazes neste tipo de incéndio. Agua também poderé ser usada desde que em abundancia, 13 1.1.4.1 - Max Foam Process: Provavelmente o processo de fabrico mais usado na produgao de blocos de espuma. ‘As matérias primas sfio conduzidas até uma cabega de mistura (6000 rpm). O liquido resultante é encaminhado para uma calha, onde Ientamente se dé o inicio da reaceo. Esta mistura comega entao a transbordar para o exterior da calha, caindo a um nivel inferior sobre um filme de papel circulante que esté apoiado numa estrutura metalica articulada (“fall plates”), Alterando a configuragio, ou seja, o Angulo destes “fall plates”, o perfil de crescimento da espuma pode ser alterado [4] A espuma, que vai expandindo no sentido inferior, atinge o tapete horizontal em forma de bloco completamente expandido, Em termos laterais, a espuma contacta os lados do tinel aderindo a um filme de papel rolante Na fase terminal do tinel encontra-se uma serra que corta em blocos mais pequenos, nas medidas desejadas, tal como exemplificado nas figuras 9 10 [5]. Figura 9 — Linha de produg&o de espumas flexiveis de poliuretano, segundo o processo “Max Foam”, u Figura 10 ~ Parte terminal do tunel de fabrico. Estes blocos destinam-se agora ao armazém de cura. Os blocos de espuma sujeitos a estudo, neste trabalho, foram produzidos segundo este processo, que constitui o processo de fabrico da empresa Cordex S.A. 15 1.2 - Objectivos e estrutura da tese objectivo desta tese centra-se no desenvolvimento de um modelo numérico que traduza o arrefecimento de blocos de espuma flexivel de poliuretano. Pretende-se estudar de forma concreta o comportamento térmico dos blocos durante a fase de cura (arrefecimento) em armazém fechado, de forma a conhecer-se o perfil normal de arrefecimento deste tipo de material. Deste modo poder-se-o detectar e identificar desvios anormais sobretudo aquecimentos bruscos que podero conduzir a auto- ignigGes com consequéncias gravissimas para as plantas fabris. Aexisténcia de um tal modelo traduz-se em beneficios evidentes para o processo de ‘monitorizagio e acompanhamento dos armazéns de cura, constituindo uma ferramenta muito titil na prevengio e detecgao de focos de incéndio. O modelo numérico apoia-se no método de elementos finitos em condugao de calor, método este que foi implementado no programa informatico FEHT — Finit Element ‘Heat Transfer. Foram modelados 0s coeficientes de transferéncia de calor em causa, fluxos de calor através de segmentos de fronteira individualizados ¢ evolugdes de perfis de temperatura com 0 tempo, com o objective de comparagio com resultados experimentais para 0 processo em causa, Foi ainda modelada a geragio de calor interna através de uma fungao exponencial semi-empirica. © Capitulo I apresenta de forma genérica 0 mercado actual das espumas flexiveis de poliuretano ¢ as principais reacgdes quimicas inerentes ao processo, sendo este iltimo também referido em pormenor. No Capitulo I pretende dar-se uma aluséo ao modelo numérico proposto, discriminando as equagées gerais inerentes resolugao do problema e as correlagdes e coeficientes de transferéncia de calor utilizados. H ainda apresentado o método de elementos finitos (aplicado & condugdo de calor) que esta na base do programa 6 informético usado. Este capitulo inclui ainda um conjunto de outputs gerados pelo proprio modelo. © Capitulo II esta orientado para a coneretizag#o do modelo, discriminando as condigdes de aplicagao e validago do mesmo, assim como a instalagiio experimental Sto também elaborados alguns estudos paramétricos que conjugam diferentes factores inerentes a0 modelo, © Capitulo IV inclui conclusdes e algumas consideragdes de optimizagio do processo de arrefecimento. a Capitulo Il— Modelo Numérico 2.1 = Descrigiio das equagdes gerais para resolugao do problema 0 objectivo mais importante numa anélise de condugio de calor é 0 de determinar 0 campo de temperaturas num meio, resultante das condigdes impostas as suas fronteiras. Pretende traduzir-se assim a variagdo da temperatura no meio, e uma vez conhecida esta distribuigio, 0 fluxo de calor em qualquer ponto do meio ou superficie pode ser caleulado pela lei de Fourier. A abordagem para determinar a distribuigdo de temperatura comeca pela definigao de um volume de controlo infinitesimal onde se identificam os processos de transferéncia de calor relevantes ¢ se introduzem as equagdes de transferéncia apropriadas. O resultado & uma equago diferencial cuja resolugéo, com as condigdes fronteira aplicadas, representa a distribui¢ao de temperaturas no meio. Consideremos um meio homogéneo no qual existem gradientes de temperatura e no qual a distribuigao de temperatura T(x,y;2) esté expressa em coordenadas cartesianas. ‘Vamos entio definir um volume de controlo infinitesimamente pequeno dx - dy — dz. Para formular a primeira lei da Termodinamica num certo instante de tempo vamos entio considerar os processos de energia relevantes neste volume de controlo. ‘Uma vez que existem gradientes de temperatura, havera transferéncia de calor através, de cada uma das superficies de controlo. As taxas de condugdo de calor perpendiculares a cada uma das superficies de controlo, nos pontos de coordenadas x, y €2 sto simbolizadas pelos termos qa dy € dh Tespectivamente. As taxas de condugdo de calor, em cada uma das superficies opostas, podem ser expressas numa expansio em série de Taylor, desprezando os termos de ordem superior & primeira aq, oq, ag 4 ale Gove = 44 Bete Iya = 4 Gore = Het Gee (1) 18 Traduzida por palavras, a equagdo anterior afirma simplesmente que a componente x da taxa de transferéncia de calor no ponto x + dx é igual ao valor da componente em x mais o produto da variagio da taxa em relagdo a x por dx. Dentro do meio pode haver também ume fonte de energia que proporciona um termo associado a taxa de geragio de energia térmica, Este termo € representado por: EB, =q-de-dy-de Q onde q éataxa de geragio de energia por unidade de volume do meio (W / m’) Além disso pode ocorrer modificagao na quantidade de energia térmica acumulada pelo material no volume de control, Podemos entio exprimir este temo de acumulagio de energia como: ar By, = poe, de dye 8) at ar, “ack os tae onde pe,-G- éa taxa de variaglo, com 0 tempo , da energia térmica intema do meio, por unidade de volume. Usando-se as equagées anteriores pode entio exprimir-se a conservagao de energia: th, +E, =E, 4) onde E, e E, constituem respectivamente entradas e saidas de energia. Substituindo com as equagdes 2 ¢ 3, obtemos. Int y+ or 4 dedyde— 4 de ~Upriy * Uerde = PEp 5 Pedy (6) Fazendo a substituigo das equagées 1, obtemos: — Oe ge — Me gy 24s or & - dy — Fit + qed = pe, dey © ‘As taxas de condugdo de calor podem ser dadas pela lei de Fouri “hae ® ar he ded 8) Vs ay (8) ar =r dedy he dedy ©) onde cada componente do fluxo de calor foi multiplicado pela area da superficie infinitesimal de controle, a fim de se obter a taxa de transferéncia de calor. Aplicando as equagdes 7, 8 € 9 na equagio 6 e dividindo pelas dimensdes do volume de controle (dx, dy, dz), obtemos a or or +22) sa-0e, (19) Esta equagdo é a forma geral em coordenadas cartesianas, da equagdo de difusdo de calor, também conhecida como equagio geral da condugio de calor ¢ constitui 0 instrumento tedrico basico para a andlise da condugo. A partir da sua solugfo podemos obter a distribuigao de temperaturas T(x,y,2) em fungdo do tempo. 20 2.2 - Método de elementos finitos em condugio de calor Muitos problemas de transferéncia de calor nio podem ser resolvidos analiticamente devido a complexidade geométrica ou das condigdes fronteira Como alternativa surgem métodos numéricos que apresentam solugées muito aproximadas para estes problemas, de entre as quais, 0 método de diferencas finitas e 0 método de elementos finitos. Em ambos os métodos, a equagiio diferencial de condugio de calor que se aplica com determinadas condigdes fronteira, é transformada num sistema de equagdes, as quais so resolvidas através de fungdes aproximadas para a distribuigdo de temperatura. No método de diferengas finitas, discretizagao espacial do problema, usando um conjunto de nés seguido da aplicaco de balangos energéticos aos segmentos entre os mesmos nés, resulta num sistema de equagées que ¢ resolvido de forma a obter a temperatura em cada ponto No método de elementos finitos a equacdo diferencial é transformada na forma de integral, Uma aproximag&o numérica do integral resulta num sistema de equagdes diferenciais. Em ambos 0s métodos, quanto maior for o mimero de nés (pontos) usados na discretizagio do dominio, maior é a aproximagao da solugao. No entanto para o mesmo numero de nés, o método de elementos finitos permite solugées genericamente mais exactas [7]. Por outro lado, a escolha deste método prende-se com a possibilidade de utilizagao de elementos triangulares na discretizagao espacial, permitindo boas aproximacdes a geometrias nfio._rectangulares, possibilitando uma uma adaptacio ficil a geometrias complexas. que distingue o método de elementos finitos é 0 conjunto de fungdes de forma que silo utilizadas para, por combinagio linear, aproximar as fungGes desejadas. a Assim, em vez de se utilizarem fungdes definidas explicitamente para todo 0 dominio, as fung&es utilizadas sao obtidas a partir de aproximagGes locais em parte do dominio (clementos finitos). Nas formulagdes que resultam de outros métodos de aproximagao existentes, hé que invariavelmente proceder a uma integragio no dominio. No caso de elementos finitos, essa integragdo é feita elemento a elemento ¢ tudo se passa como se as fiingdes de forma fossem definidas em todo o dominio mas assumindo apenas valores diferentes de zero em partes desse mesmo dominio. 0 método das diferengas finitas & motivo, ainda hoje, de preferéncia em Areas sobretudo relacionadas com a mecanica dos fluidos, ou mesmo associado ao método dos elementos finitos para a integrago na varidvel tempo, mas este iiltimo é, sem diivida, o mais poderoso e versatil, razio pela qual concentrou, nas iltimas décadas, as atengdes da maior parte da comunidade cientifica que desenvolve a sua actividade na area da Mecénica Computacional. ‘A equagio diferencial de condugao de calor bidimensional pode ser escrita (em coordenadas cartesianas) como: é oT a oT or 2 [x2 |\4 2], l+q-pe,==0 ay zl zr) al 5) Tere Esta equago constitui um caso particular da equagao 10, deduzida no capitulo 2.1 0 objectivo é resolver a equagio anterior numa area A, especifica ¢ bem definida por uma fronteira B, fronteira esta caracterizada por determinada condig&o (conveccao, fluxo de calor ou temperatura) e condigdo inicial. Ver figura 11 n Figura 11 — Elemento de érea A delimitado por fronteira B. No método de elementos finitos, a equagdo diferencial ¢ transformada na forma integral, Uma aproximagaio numérica do integral conduz a uma solugo eproximada, A transformagio ¢ feita multiplicando a equagdo 1 por uma fungio arbitraria_f (xy) ¢ integrando no dominio A. peolEOE gee rngawe ‘4 A solugdo exacta, T (xy.t) implica que o termo entre paréntesis recto fosse zero para qualquer x, y ¢ t. Uma solugdo aproximada implica que o integral seja zero nalguns pontos do dominio A, embora esta solugdo ndo tenha necessariamente que satisfazer a equagio em todo o dominio de A. A resolugo da equago 2 inicia-se integrando os dois primeiros termos por partes © rearranjando a equago de forma a obter Gls pest tears fh =[[Fadedy+ffazas (13) A 3 " Onde Yn é0 fluxo de calor total que entra na area A através da fronteira B. A fronteira B, avaliada no dltimo integral da equago 13 pode ser separada em B=B,+ Br+ By + Be «ay Substituindo no tiltimo integral da equagZo 13, podemos rescrevé-la tendo em conta as, condigoes fronteira “irre, racay +f] % or Ln a= ax ox Gy oy. WF ade dy+ [fa(T,-T)ds+ f fatds+ | fands a i an as) ‘A fungdo de aproximago f, tem de ser seleccionada, pois deverd ter valor zero a0 longo da fronteira (com temperaturas especificadas) de forma a que o iiltimo integral na equacdo 15 seja zero. ‘Até ao momento néo foram feitas aproximagoes, ‘Na aproximagao ao método de elementos finitos usada no FEHTT, nés ligados através de segmentos de recta sdo usados para obter uma aproximagao 4 fronteira B. A fronteira real é substituida por um poligono aproximado. Sao usados nds adicionais ligados (sempre) por segmentos de recta para obter uma discretizagio da regio A através de elementos triangulares. Ver figura 12. ‘A vantagem na utilizagdo destes elementos reside na facil adaptag&o a geometrias complexas. Assume-se que a temperatura no seio de cada elemento triangular varia linearmente entre as temperaturas dos trés vértices (nbs) que constituem 0 mesmo elemento. Assumindo uma variagGo linear da temperatura em cada elemento, as isotérmicas sero assim rectas paralelas ¢ os gradientes de temperatura em cada elemento serio uniformes. © ponto fulcral na aproximag&o ao perfil de temperaturas reside na determinagaio da temperatura em cada no. 4 Figura 12 ~ Discretizagao da érea A em elementos triangulares. A solugao T(x,y,t) sera aproximada a um vector de n temperaturas onde n é 0 numero de vértices triangulares (nés). Dado assumir-se que a temperatura no ponto x,y (dentro de qualquer elemento triangular) varia linearmente entre os trés vértices, pode entio definir-se que & temperatura em qualquer ponto (de um elemento triangular) como: ‘Teuyst) © wiGy) Ti(t) + waGey) Tall) +... Waly) Ta) = W"QEy) (0) (16) Onde : Ti (t) € a temperatura do vértice ino tempo t. W, (x,y) é a fungao de peso ou de aproximagao do nd i que é 1 no nd ie zero nos outros nds, variando linearmente de 1 até zero 20 longo dos elementos frontais opostos a0 né i. A relagio matricial 16 ¢ as equagdes seguintes podem ser interpretadas assim: 25 we=(wio wa... Wal t [As fungdes de peso stio fungbes conhecidas de x e y, calculadas para cada elemento resolvendo 3 equagdes algébricas com a forma: T=CO+C0x+C0y a7) para os coeficientes C:, C2 e C3 em termos de temperaturas nos vértices. A fungao de peso no né i para a posigéio de x,y dentro de um elemento triangular composto por 3 nési, jek & a seguinte: . 1 0) (ea) Gy = 2,9, - 9, +X] as) onde a notagio xy representa. x-X1 AAs fungGes de peso para a distribuigdo de temperatura na equago 16 so conhecidas. As temperaturas nos nés tém ainda de ser determinadas. © proximo passo é substituir a distribuigdo de temperatura dada pela equagto 16 na equagao 15 para obter af ow, Fe Ai fren’ eavay off La s of oa | aca = SB fadedy+ f falt, -w"t)ds+ f fas ds | fards ay a Be Bs Bt Para uma fungdo singular f(x,y) a equagdo 19 serd uma equagdo diferencial ordinéria envolvendo n fungdes de temperatura desconhecidas Ts (t)s Ts ()y---»Ta(t). A 19 continua a ndo ser resolivel pois ha m temperaturas nao conhecidas mas apenas uma equacdo, No entanto, f(x,y) pode ser uma fungao de xy qualquer que satisfaga a restrigio de f(xy) = 0 ao longo da fronteira de determinada temperatura. ‘Ha uma infinidade de fungdes que satisfazem esta constrigio, Escolheremos n_fiingdes f independentes para serem usadas em 19, podendo estas ser representadas em notago matricial: S.09) iGo) S(% y= _ te 9), As fungdes f(x,y) sao arbitrarias. Diferentes escolhas para estas fungdes resultam em geral, em diferentes soludes aproximadas, O método de Galerkin aproxima fi(x.y) a Way) [6] Com esta definigao de f e rearranjando a 19 resulta: poral [raw ale= 20) ie Senet laa ffvqdedy+ fwol, ds+ Fwy ds 4 ie as Os integrais em 20 podem ser avaliados somando todos os seus elementos. Por exemplo para os integrais de érea {fk lavas => E--]ae dy en 27 A integragio de cada elemento individual é feita analiticamente dado que a forma de ‘W para cada elemento é a funcdo linear simples dada em 18. A integrago da equagéo 20 resulta num sistema de m equagdes diferenciais onde m é igual a n menos o niimero de temperaturas especificas nos nos. Estas equagbes so resolvidas através da decomposigao de Cholesky de forma a obter as temperaturas em fungdo do tempo [7]. Para problemas em regime permanente, o termo da derivada do tempo na equagao 20 igual a zero para se obter um sistema de m equagdes algébricas que so resolvidas para obter as m temperaturas desconhecidas (em regime permanente). © sistema de equagdes diferenciais resultantes das aproximagées descritas anteriormente pode ser escrito usando uma notagdo matricial: Ci+(K+H)t, =, +h, +4, (22) Desenvolvendo a equagio 22 assume-se que em cada instante de tempo t, a densidade, condutividade térmica e calor especifico so uniformes dentro de cada elemento triangular, embora possam variar de elemento para elemento. Os valores dos coeficientes de convecgao, temperatura e fluxos de calor na fronteira so considerados uniformes ao longo de qualquer segmento de fronteira, podendo também neste caso variar de elemento para elemento. Na determinagio de valores numéricos de C, K, H, gy , hy ¢ qy, 0 programa FEAT calcula a contribuigdo de cada elemento e de cada segmento de fronteira, adicionando- os, ‘Um elemento formado pelos nés i, j e k contribuiré para as filas i, j e k nas colunas i, jek om Ce Ke contribuiré para as filas i, j e k em gy. Um segmento de fronteira entre os nés i ej contribuiré para as filas i ej nas colunas i e j em He para as filas ie jemheq Se nao houver nés tendo temperaturas especificadas, a equagio 22 pode ser resolvida para as temperaturas nodais em ty. 28 Se houver nds cujas temperaturas estejam especificadas (ex.: nés ao longo de uma fronteira cuja temperatura & especificada), modificagdes & equagdio 22 devem ser feitas antes de resolver, para assegurar que t, conteré os valores corrects das temperaturas nodais definidas. No sentido da compreensio de alguns procedimentos do FEHT, é também conveniente pensar no estabelecimento de um sistema nodal adicionado aos elementos triangulares. Este sistema nodal é construido ligando o centroide de cada elemento triangular a0 ponto médio de cada um dos trés lados dos elementos triangulares. Ver figura 13. Figura 13 ~ Sistema nodal da area A. As entradas nos vectores na equagiio de elementos finitos (22) terdo assim energia significativa para estes sistemas nodais. Rearranjando a equagio 22 obtém-se: Ci+Kt,=g, +(h,-Ht,)+4, (23) 29 ‘A equagiio de elementos finitos n.° 23 pode ser vista como sendo derivada de um balango energético a cada sistema nodal. lado direito da equagio 23 € a soma da energia gerada dentro de cada elemento gy mais 2 soma da convecgio hy-Hty ¢ 0 fluxo de calor qy para o interior de cada elemento, Esta energia que entra em cada elemento tem de ser conduzida para elementos periféricos Kt, ou ser acumulada dentro do elemento C i. Para compreender como calcular fluxos de calor através da fronteira de uma dada regio € conveniente rearranjar a equag#o 23 movendo gy para © outro lado da equacio. Ci +K ty—gy = (by— ty) + qv (24) 0 lado esquerdo da equagio 24 envolve agora acumulag&o, condugdo € geragto de energia que ocortem na regia. O lado direito envolve fluxos de energia “entrantes” na fronteira devido a convecg&io ou outros fluxos de calor. Um vector qo que representa a energia entrada em cada sistema nodal, pode ser definido como: qo=C t +Kty—gy 25) e qo = (hy — Ht) + qv (26) Se nio houver temperaturas nodais especificas tanto a equagao 25 como a 26 podem ser usadas para calcular 0 fluxo de calor qo. 2.3 -O programa FEHT FEHT é um acronimo de Finite Element Heat Transfer ¢ foi originalmente desenvolvido para obter solugdes numéricas para problemas bidimensionais de transferéncia de calor (regime permanente ou transiente), [7]. Este software tal como 0 nome indica tem por base 0 método de elementos finitos. O programa esté estruturado em 3 fungdes essenciais: ‘© Definigao do problema + Caleulo © Output ‘A definigko do problema disponibiliza um ambiente de desenho (interface com 0 utilizador), no qual o “rato” é usado para definir o formato do material / problema a estudar (através de linhas de fronteira e linhas auxiliares intemas). Os elementos triangulares de dimensio arbitraria, necessirios no método de elementos finitos sio constituidos simplesmente “clicando” com 0 rato nos pontos finais das linhas, © programa monitoriza este proceso de forma a assegurar que as linhas nlio se cruzam, Findo este proceso de discretizagao parcial no qual se obtém uma rede (matha) triangular ¢ automaticamente disponibilizado um comando que permite a redugio (aperto) dessa mesma malha ‘A fungfo de definigo do problema fica completa com a definigiio de condigdes fronteira e, no caso de problemas de regime transiente, com as condigées iniciais Pode, ainda, incluir-se o termo de gerago interna de calor, constante ou variavel ‘A fungio de célculo verifica se todos os materiais que compdem o problema estio correctamente discretizados, se as propriedades, fronteira e condigdes iniciais esttio especificadas e bem definidas. Nos problemas transientes é dada a op¢do de escolha do método de Euler ou Crank- Nicolson [6] para resolugdo do sistema de equagdes algébricas, 0 tempo de inicio ¢ fim (de célculo) ¢ 0 intervalo de tempo de integragdo numérica. a1 0 programa FEHT disponibiliza uma vasta gama de saidas (outputs), E possivel assim visualizar as temperaturas em cada né, como também zonas igotérmicas representadas através espagos com cores ¢ faixas monocromiticas semelhantes. Podem também obter-se gradientes de temperatura e fluxos de calor em cada ponto particular do material (mediante a melha previamente definida). Salienta-se ainda que todos 0s dados podem ser obtidos no formato de tabela. No caso especifico de problemas dependentes da variavel tempo, pode ainda obter-se a evolugio da temperatura de qualquer né ao longo do tempo e também os fluxos energéticos através de qualquer elemento fronteira individualizado. E, assim, possivel neste tipo de problemas (transientes) acompanhar-se a evolugao do perfil térmico com o tempo. 32 2.4 — Correlagdes e coeficientes de transferéncia de calor 0 arrefecimento (cura) de blocos de espumas flexiveis de poliuretano processa-se em recinto onde praticamente nao existe movimento de ar. Podemos ento considerar que nao ha velocidades forgadas, embora existam correntes de convecgdo na massa do fluido (ar) adjacente aos blocos. Estamos assim perante um caso de conveccio livre ou natural. ‘Vamos considerar a definigao de coeficiente de expansdo térmica: 1a 1/90 27) Pp ( #) : ey Esta propriedade termodinémica do fluido mede a extens&o da variacao de densidade em fungdo de uma variaglo na temperatura, a pressio constante. Os efeitos de conveegao livre dependem obviamente do coeficiente de expansaio Dos diversos parfimetros que governam o escoamento ¢ a transferéncia de calor na convecgio livre, salienta-se o mimero de Grashof ~ Gri 3 or, « #2 =TDE on y Este mimero indica a razdo entre as forgas de ascensio e as forgas viscosas do fluido. Permite-nos também, depois de conjugado com o mimero de Reynolds, avaliar a menor ou maior importincia dos efeitos de convecgio livre e convecgao forgada no processo de transferéncia de calor. Existem variadas solugdes das equagées da camada limite na conveceao livre laminar sobre uma superficie vertical. Uma das mais utilizadas resulta da integragio do muimero de Nusselt local sobre um comprimento L de superficie, [8]: 33 (29) E importante notar que as camadas limite na convecgdo livre n&o se limitam a escoamentos laminares, Os escoamentos na convecgdo livre _originam-se normalmente, de uma instabilidade térmica, Isto é, os fluidos mais quentes ¢ mais eves deslocam-se verticalmente para cima em relago aos fluidos mais frios e mais pesados, Porém & possivel 0 aparecimento de instabilidade hidrodinamica, ou seja, perturbagdes no escoamento, que sendo amplificados poderio conduzir a uma transigdo de regime laminar para turbulento. Esta ocorréncia de transigdo pode ser traduzida em termos de niimero de Rayleigh, que é na realidade o produto entre os mimeros de Prandlt e de Grashof. Para placas verticais o mimero de Rayleigh critico ¢ [8] gB(T,-7,)x’ vo. Ra=Gr.Pr= = 10° (30) Resultam assim expresses que incluem ja fenémenos de turbuléncia, tal como @ apresentada por Churchill e Chu, para todo o dominio de Rayleigh [8]. — 387Ra,* Nu lems 0.387Ra, | [feted] GB) No caso de placas horizontais, com superficie quente para cima, configuragio esta muito semelhante as condigdes reais (parte superior do bloco a arrefecer), originam-se escoamentos (correntes) de fluido ascendentes, A conservago de massa faz com que uM © fluido quente que sobe da superficie seja substituido por um fluido descendente mais frio, proveniente do ambiente, tornando atransferéncia de calor mais eficaz. So muito usadas as correlagdes sugeridas por McAdams para placas horizontais [8] 0.54Ra,"* (10° s Rar < 10") (32) Wu, =0.15Ra,"? (107s Ra; s 10"') 33) ‘A taxa total de transferéncia de calor (exeluindo o fundo do bloco em contacto com 0 solo em que hi condugao) € igual @ soma das taxas térmicas transferidas por convecgio ¢ radiagao. tot = eon + Grea G4) Gp 22 AT ~Tag) 48.6 A(T ~ (35) Rearranjando a equagdo 35, obtemos: One = [oe +86 (T+ Tag) (1? + T'ow)|(T Tan) G6) Gof ae wat ‘Assim a0 coeficiente de transferéncia de calor por convecgao adiciona-se um termo que contabiliza as perdas de calor radiativas, Tal como referido anteriormente, os blocos permanecem em armazém fechado todo 0 tempo de arrefecimento. Vamos considerar que o mecanismo principal de tronsferéncia de calor é 0 fenémeno de convecgéo livre ou natural para o ar envolvente. Partindo deste pressuposto vamos entio estudar o tipo de escoamento, correlagées adequadas, respectivos coeficientes de convecgao e camada limite. Superficies Verticai ‘Analisando o N° de Rayleigh para determinar o tipo de escoamento na camada limite Bag ~ Tas)” Voy Ra =Gr*Pr= e usando as seguintes condigdes iniciais Tap™ 52 +273 = 325 K To = 11 +273 =284K Usando as propriedades do ar para. a_‘temperatura 304,5 K ~ 300 K,, & pressio atmosférica: 2 J =1007 Iey g versa mf ranean Wf, gb Ry = 8535000 ay =nsao* m// Pr=0.107 38 G0) média de O Ne de Rayleigh critico € de cerca de 10° estando por isso este escoamento no limite da transigiio. No entanto, esta definigdo de limite de transigdo refere-se a placas lisas, cuja superficie é homogénea e regular. Em termos reais, a superficie externa dos blocos reveste-se de uma textura bastante porosa ¢ rugosa acentuando assim esta condigao de turbuléncia do escoamento. Consideramos assim que se atin (lados) dos blocos. um regime de turbuléncia nas superficies verticais Nesta ordem de ideias a correlag&o apropriada para o N.° de Nusselt sera (8]: 7 GB) ON. de Rayleigh apresentado anteriormente, foi calculado para uma temperatura superficial inicial (dos blocos) de 52 °C', que constitui a temperatura no momento zer0 (inicio das medigdes - note-se que neste momento zero a temperatura no centro dos blocos ronda os 157 °C). Como durante o processo de arrefecimento, a temperatura superficial vai diminuindo, o N. de Rayleigh vai por isso, também diminuindo e consequentemente 0 coeficiente de conveceiio de calor. Este coeficiente a. varia entdo com a temperatura superficial dos blocos. Atendendo a este facto, usou-se assim um a variével nos célculos de transferéncia de calor no modelo, Ou seja: py . 0.825 +, o3e7___,{ SBE | (r_r,, 4] x wale |v Gay L 14(0%9)"] 7B) | J 67) Substituindo para as condigbes iniciais wee a= [o.s2s+ 7.539 (T — Troms mie ye] 0.0219 G8) A expresso 41 constitui assim 0 coeficiente de conveegdo para as superficies verticais dos blocos e constitui parte integrante das condigdes fronteira nestas superficies, Dever-se-é incluir 0 termo radiative de forma @ completar as mesmas condigdes fronteira 7 Superficies Horizontais (topo dos blocos): ‘Atendendo a definigiio do N° de Rayleigh, concretizado para uma temperatura inicial de 52°C, obtemos um valor cuja ordem de grandeza é 10”. Note-se que mesmo para a temperatura final (que ¢ a minima passivel de se atingir durante este processo), o N° de Rayleigh mantém-se nesta ordem de grandeza Ento a correlagao a usar para o célculo do N.° de Nusselt é [8] Nia, .15Ra,"? (107s Ra, < 10") 63) Este N° de Rayleigh ira também variar durante 0 processo de arrefecimento Substituindo com equagao 34, obtemos: yh = O15 R,.° x= 9) a XT G9) que substituindo com os dados do problema: = 1.776 (T Tops pte (40) ‘A equagio 40 constitui 0 valor do coeficiente de convecsao (varivel com o decréscimo de temperatura) para as superficies horizontais superiores dos blocos Deverd incluir-se ainda o termo radiativo. Camada limite vertical: No sentido de posteriormente analisarmos a disposigao fisica dos blocos no armazém (e se a distancia entre eles vai ter implicagdes em termos térmicos), vamos calcular a camada limite vertical. TA temperatura superficial de 52 °C constitui a temperatura inicial para a maior parte das espumas produzidas nesta empresa, No entanto, para outro tipo de espumas, esta temperatura poderé ser diferente, tal como exemplificado no capitulo 3.3. 38 Usando a definigao de camada limite 32 (41) Gi e considerando o N? de Grashof- Gr=4 ve = 9.196x10" obtém-se entio 5 = 0.0334 m que constitui a espessura da camada limite nas superficies verticais, para as condigées 39 Capitulo II — Resultados do modelo numérico 3.1 - Condigdes de aplicagio do modelo Encontram-se a seguir enunciados alguns pressupostos que estio na base da elaboragao deste modelo. 3.1.1 - Condigées iniciais: 3.1.1.1 — Temperaturas iniciais © desenvolvimento deste modelo teve por base dados reais recolhidos na empresa Cordex SA. Todo o sistema de aquisiglio de dados, composto por sondas (termopares), conversor (Logger) e software sto periodicamente calibrados, procedimento este integrado no sistema de certificagtio de qualidade existente na empresa (EN NP ISO 9002). Dado haver um diferencial de tempo entre 0 momento zero da reacgdo € 0 inicio da recolha de dados, que poderé variar de 1 2 3 horas, os blocos no momento de introdugio das sondas, apresentam j& um diferencial térmico considerével (@ temperatura nao é homogénea em todo o bloco). Hé assim perdas de calor continuas desde a mistura inicial dos componentes (inicio da reacgio) até & introducdo das sondas ( inicio da recolha de dados), perdas estas traduzidas por transferéncia de calor para as paredes do tinel de fabrico, para o ar durante a fase de transporte via empilhador desde a saida do tiinel até a0 armazém e j4 dentro do armazém, vio transferindo calor para o ar e para o solo (laje em betao). As condigdes iniciais foram assim obtidas através de uma recolha de dados directa, isto 6, foram-se introduzindo varias sondas (todas alinhadas) faseadas em termos de distancia ao centro do bloco, como a seguir esquematizado, na figura 14. 40 Sondae Espuma Nr Lage Figura 14 ~ Colocagao de sondas para obtengao de dados experimentais. Este proceso de recolha de dados referentes as temperaturas iniciais foi bastante penalizado pela existéncia de apenas 3 sondas (termopares) disponiveis para 0 eftito. De um total de 8 sondas operacionais, 5 eram necessérias para controlar a temperatura do ponto central de 5 blocos inerentes & produgdo do dia. Este procedimento faz parte de uma das normas de seguranga existentes na empresa, No sentido de acompanhar o gradiente de temperaturas existente no instante inicial, foram feitas interpolagées entre nds sucessivos, de forma a que a malha traduzisse fielmente o referido gradiente térmico. 3.1.1.2 - Cura em armazém fechado Todas as corelagdes e consequentes coeficientes de transferéncia de calor foram obtidos tendo por base a cura dos blocos em armazém fechado, Este facto conduz a um modo de transferéncia de calor designado por convecgao livre ou natural, cujas caracteristicas térmicas foram apresentadas anteriormente. Considerou-: e assim um armazém extenso, sem aberturas e com pé direito de 6 metros. 3.1.1.3 - Dimensio dos blocos. A dimensio dos blocos deveré forcosamente ser tida em conta para cada simulagtio. A dimensao standard é 2 x 1.2 x 1.22 metros ¢ constitui cerca de 90 % da produgao desta empresa. 41 ‘No entanto foram feitas simulagdes com outras dimensdes, 3.1.1.4 — Tipo de piso suporte: 0s blocos em cura apoiam directamente na laje do armazém. Esta laje ndo tem qualquer revestimento (superficie lise) ¢ encontra-se normalmente limpa, podendo assumir-se que existe contacto directo entre os blocos e a laje. Foi considerada uma laje com as seguintes caracteristicas A= 1.512 Wim K p = 2200 kg/m? c= 879 Wkg K Em relagdo as temperaturas iniciais, considerou-se uma temperatura média da lage de 14°C. Os lados e fundo da laje foram considerados fronteiras adiabiticas, Assumiu-se uum coeficiente de transferéncia de calor por convecgao, entre a laje e 0 ar de 5 W/m" kK. Em termos de modelo, o programa FEHT assume que a superficie de contacto é homogenea e regular processando-se a transferéncia de calor nesta zona, por condugo pura. Ver figura 15. Convecstio Conversa Conveesio ‘Condugior Figura 15 - Bloco de espuma, em cura, pousado sobre laje regular. 42. 3.1.15 - Vizinhanga dos blocos: Os blocos a ser controlados termicamente sdo segregados da restante produgfio para uma zona bem delineada. Dentro desta zona, os blocos controlados, so relativamente afastados, mantendo-se distncias na ordem dos 30 centimetros entre eles, no havendo por isso interacgao entre as camadas limite térmicas de diferentes blocos 3.1.1.6 — Modelo nfio extensivel a caudas e cabecos: A parte inicial e final de cada produgdo designa-se respectivamente por cabego cauda, A espuma resultante deste “blocos” considera-se normalmente espuma no conforme, com aproveitamento util muito reduzido Este tipo de material representa o infcio / fim da mistura de componentes (reagentes), momento em que as bombas so ligadas / desligadas e comegam a debitar pela primeira / tltima vez. Dai os reagentes no estarem nas quantidades correctas (estequiométricas) originando espumas com caracteristicas diferentes das. especificadas. Estes “blocos” sio assim caracterizados por geragdes internas de calor muito variéveis (¢ diferentes do histérico dessa mesma espuma) obtendo-se perfis, térmicos completamente variaveis de produgao para produgii. O modelo no prevé estes casos. 3.1.1.7 - index: 0 excesso de Isocianato usado implica uma taxa superior de reacgdo com o poliol, Agua e outros aditivos. Este facto vai ser responsavel por uma maior libertago de calor, que poderd ser aumentada por niveis clevados de humidade relativa. Todas as recolhas de dados obtidas que esto subjacentes a elaboragdo do modelo referem-se a produgées com formulagées caracterizadas por index de 108, que ¢ 0 valor habitual (de index) para este tipo de espumas. Variagdes no index conduzitto obviamente a variagbes no perfil térmico dos blocos. 3.1.2 — Dimensiio da malha usada ‘A malha seleccionada para este modelo, apresentada na figura 16, garante uma cobertura muito fiel dos gradientes de temperatura existentes, g Figura 16 - Malha usada na simulag&o do modelo A dimenstio da malha devera traduzir delimitar cleramente zonas de diferentes temperaturas, contendo um nimero suficiente de nés que possam “varrer” e englobar © gradiente térmico existente no interior dos blocos. Malhas muito largas, tal como exemplificado na figura 17, originam reparticdes muito deficientes das temperaturas internas, conduzindo a resultados finais bastantes desviados da realidade, Este tipo de malhas congregam zonas internas isotérmicas demasiado extensas, onde na realidade existem diferengas de temperaturas consistentes. Ke Figura 17 -Exemplo de malha “larga” Malhas muito reduzidas exigem um numero muito elevado de dados experimentais, para a introdugio das temperaturas inicias, dados estes impossiveis de obter com 0 sistema de aquisigio de dados experimentais usado (relembro que a empresa s6 dispunha de 3 sondas disponiveis para o efeito, num total de 8; as restantes 5 eram usadas para controlar termicamente outros blocos — note-se que cada produgao é constituida em média por 400 blocos de 1.2x1.22x2 metros). ‘Assumiu-se entZo uma malha, tal como esquematizado na figura 16, cuja reparticaio de ns fosse bem suportada pelos dados experimentais ¢ que traduzisse de uma forma bem aproximada os gradientes existentes. Os n6s foram espagados a uma distancia média de 12 centimetros, com areas internas médias dos elementos triangulares de 0,006 m*, permitindo uma distribuig&o muito razoavel de temperaturas no seio do ‘material, Reforgou-se 0 nimero de nds na parte inferior do bloco (junto & zona de contacto com a laje), de forma a poder-se seguir com mais pormenor, a evolugao das temperaturas nesta zona. De entre as varias simulagdes executadas com diferentes malhas, a usada (representada na figura 16) foi a que permitiu obter resultados mais préximos dos medidos. Redugdes na malha néo conduzem a resultados mais consistentes, apresentando no entanto uma pequena tendéncia para “arrefecimentos” mais rapidos dos nés centrais. Este facto deve-se essencialmente a uma redugao das zonas de elevadas temperaturas em detrimento de temperaturas médias mais baixas. Ao accionar 0 comando de redugo automética da malha existente no software usado, 0 programa assume variagdes lineares entre dois pontos (nos) de diferentes temperaturas, procedimento este inerente a0 método de elementos finitos, Em termos reais esta variagio é fortemente nao linear, existindo temperaturas elevadas até zonas muito préximas das extremidades No Capitulo III sto apresentadas simulages com diferentes configurages de malhas. 3.1.3 - Geragio interna de calor ‘Apés a formag&io dos blocos existem reacgdes continuas de grupos residusis de isocianato, poliol e agua, que se prolongam durante horas. Este tipo de reacgdes lentes, j4 em fase de cura, constituem uma fonte interna geradora de calor, que vai diminuindo a sua intensidade ao longo do tempo de cura, sendo 0 seu contibuto quase desprezivel ao fim de 12 horas [2] De entre as reacgSes existentes, a que mais contribui para a geragio de calor é a que ocorre entre 0 isocianato e a Agua. As partes de Agua constituintes das formulagdes si0 rigorosamente controladas, nao ultrapassando os 5 % de poliol utilizado. No entanto a humidade existente no ar adjacente, pode facilmente atingir 0 interior dos blocos activar reaceSes com grupos residuais, sobretudo em dias de humidade relativa elevada. Estas reacgdes dependem maioritariamente do index (excesso de isocianato existente) da percentage de humidade relativa do ar. No sentido de integrar este parametro no modelo, foi desenvolvida uma equagaio empirica, que pretende “acrescentar” 0 contributo térmico da geragio de calor de reacgdes residuais, contributo este significative nos instantes iniciais, mas decrescendo rapidamente com o tempo, Optou-se entio por uma equagao do tipo Tempox B onde A eB sao valores a determinar. Apés varias simulagées (tentativa e erro), obtiveram-se os valores para A ¢ B, para dois intervalos de humidade relativa diferentes: 20 res (Wim? 5) p/ Hum, Rel. < 70%; Index 108 tx4 35 A You = qi 8) p/ Hum, Rel. > 70%; Index 108 x Estas equages foram usadas nas simulagées efectuadas no Cap. 3.3 46 3.2 Instalagao experimental Existe actualmente na empresa Cordex S.A. um sistema de aquisigio de dados que permite monitorizar o perfil térmico das diferentes produgdes de espuma flexivel Este sistema € composto por varias sondas térmicas (termopares) conectadas a um “logger” (conversor) que digitalizando os dados, permite depois © posterior tratamento através de um software existente (EasyView 3), disponibilizando depois como output, virios grdficos ou tabelas que evidenciam o evoluir das temperaturas no interior dos blocos. E também registada a temperatura ambiente. O conversor, pega fundamental neste sistema, é 0 designado AAC-2'* que constitui um dos mais populares conversores analégicos para ASCII E um aparelho de grande resolugiio que conjugado com um PC-Logger Software permitiu a obtengdo de dados experimentais para o desenvolvimento e validagio do modelo em causa. O conversor AAC-2'* esté especialmente adaptado para recolha de dados usando termopares. Como é sabido, 0s termopares constituem sensores que nao necessitam de alimentagéo para fornecer um sinal. Apesar de serem altamente no lineares, este efeito ¢ contrariado através de uma linearizagdo interna no AAC-2'S. A voltagem termo-eléctrica ¢ medida (em mV) € ajustada para a temperatura da jungdo fria usada (+ 0.5 °C) de acordo com o tipo de termopar usado (compensagao da fonte fria), Este gjuste de voltagem ¢ depois usado como variével de entrada para a elaboragio de tabelas de linearizagao. 0 AAC-2'S dispde de 8 canais de entrada que esto indexados a uma determinada gama de entradas (imput-range) disponiveis: + 10V + 1000mV 100 mV 50 mV Todos os termopares de cada canal, dentro de uma gama deverdo obviamente ser do HW i ‘mesmo tipo. Cada canal de entrada comporta pelo menos 25000 divisées (considera-se divisto como a mais pequena alteragéo no sinal de entrada, perfeitamente distinguivel e legivel), 47 Em termos de resolugdo uma entrada na gama de 10 V tera uma resolugao de 0.4 mV. Resolugdo = 1H 25000 No caso conereto a gama de entrada foi definida para 50 mV permitindo uma resolugao de 0.1°C. Todos os termopares usados sfo do tipo “K” conduzindo a um intervalo de temperaturas legivel que varia entre 100°C até +1200°C. Os sinais de entrada sto depois convertidos e processados através do software EasyView 3 (PC — Logger Software) fornecendo grificos de perfil térmico como 03 apresentados nos anexos finais. ara cada tipo de espuma fabricado é estabelecida uma temperatura de alarme a partir da qual o sistema de protecgao anti-incéndio é activado. Esta temperatura é normalmente ajustada para valores 10 °C acima do valor esperado em fingdo do histérico do tipo de espuma em causa. Em qualquer tipo de espuma, a temperatura méxima de alarme nunca poder exceder 0s 165°C (evitando-se sempre a temperatura de auto-ignigiio dos blocos). 48 3.3. -— Aplicagio do modelo e comparagdo com resultados experimentais ‘A. seguir apresentam-se quatro sirmulagdes para quatro situag6es distintas representadas pelos anexos incluidos nesta dissertacao. 3.3.1 - Simulagiio 1 A simulagdo 1 estuda 0 comportamento térmico de um bloco de espuma durante a fase de arrefecimento, de 23 Kg/m’, com a dimensio standard (1.2x1.22 m), num contexto de Inverno (temperatura média ambiente de 12°C). Os dados experimentais medidos para a simulago 1 encontram-se no anexo | 3.3.1.1 ~ Condigées iniciais ‘As condig8es iniciais definidas para a simulagfo 1 encontram-se esquematizadas na tabela n® 2 e nas figuras 18 ¢ 19: Tabela 2 ~ Condigdes iniciais ‘Condigdes iniciais — Simulacao 1 Humidade relativa 72% Temperatura ambiente” Traduzida pela funcao: (elocidade doa nvolverte gal er) nb = 16 Dimensao dos blocos 1.22 x 1.2 metros Temperatura da laje ive Index 108 | Densidade 2B Kein Gerago de calor residual Gea =o (Whe) | txd : | Distincia max entre nbs = 0.12 m Tipo de matha Area max elementos triangulares = 0,006 m? 49. As temperaturas inicias esto representadas na figura 18. ne Figura 18 — Temperaturas iniciais dos diferentes pontos (nés) A limitagao em termos de grafismos do programa FEHT, no permite para a malha seleccionada ¢ tal como a figura 17 demonstra, visualizar as temperaturas individuais de cada né em ambos os materiais em simulténeo (bloco + Iaje). Pode, no entanto, obter-se uma ideia generalizada através da figura 19, onde se esquematizam as temperaturas, por zonas isotérmicas, no instante inicial or a eo 720 A 99.30 HE 00) Figura 19 - Contornos das temperaturas iniciais por bandas isotérmicas. 2 Algumas correlagtes do Cap 2.4 foram obtidas para uma Ty média de 12 °C. O programa FEHT ‘admite um nimero muito reduzido de caracteres nos campos destinados as equagBes que governam as condigées fronteira, obrigando a algumas simplificagSes, tal como a referida no inicio desta nota, # scala de temperaturas (em °C) 50 Foi elaborado um “Zoom” apenas ao bloco de espuma, representado na figura 20, de forma a obter-se uma visualizagao das temperaturas iniciais neste material. y © io II FO ap Ee i ‘e/ (EE) ©) ; © 3; ee =) 1) i) IC 6 OX =) Hee US 1 @) e JE) TC mt = (e} I ao) Em @ i EX ) S) He © @ ne @) yr a @ & NEN Ten Ge) 1 ‘ i OK Hen (ST eo ait ri ) SOIK ex =) 26 = ef ae ce esilesedese ene ese RG Re een meets Q ig ee Vedisakiedindiediedieakisobastustidrealadsen Waleska lea fo Wea Hing Hina Neda oo Figura 20 ~ Temperaturas inicisis do bloco. As condig6es iniciais apresentadas conjugadas com as correlagdes desenvolvidas permitiram obter os seguintes outputs, através da simulagio no programa FEHT: 3.3.1.2 - Outputs ¢ Temperaturas conjuntas (de todos os nés) ao longo do tempo A seguir apresenta-se a evolugdo geral da temperatura de todos os nés, em instantes de tempo diferentes. A primeira imagem de cada figura representa as temperaturas através de bandas isotérmicas com contomo e a segunda através de bandas isotérmicas continuas : ‘© Temperaturas no instante inicial: 100 20 2) ET © 20 Figura 21 — Temperaturas no instante inicial 52. © Temperaturas ao fim de 9 horas: 0 2.0 0 99.50 0 REL 7.00 Figura 22 — Temperaturas ao fim de 9 horas. 33 © Temperaturas ao fim de 18 horas 400 200 RR 720 ER 99.00 178.40 157.00 Figura 23 — Temperaturas ao fim de 18 horas A figura 24 representa a direcgiio dos fluxos de calor existentes ao fim das 18 horas. ees oer eee rope ee aaa eee ee eee eee eee eee eee eee wee eee Figura 24 - Direcgo dos fluxos de calor existentes ao fim das 18 horas. A soguir (figura 25) esquematiza-se o gradiente térmico ao fim de 18 horas, através de linhas isotérmicas, A temperatura das linhas vai decrescendo do centro para a periferia, Figura 25 — Linhas isotérmicas ao fim de 18 horas 38 As figuras seguintes, figura 26 e 27, apresentam, para 0 fundo do bloco (superficie em contacto com 0 solo), a poténcia dissipada e o somatério da energia transferida, ao Jongo das 18 horas. Energy Rate [0] 2ressa 235340 198117 2 156894 5 S is7670|- & maT + | see _—} i ° 18 Figura 27 - Energia transferida pelo fundo do bloco ao longo das 18 horas. 36 A figura 28 representa a evolugdo do ponto central (né n®° 513) ao longo das 18 horas. 170.9 = sts 1380 108.0 740 Temperature [°C] 420 100 —_ obo ao 012001800 «18.00 Figura 28 — Evolugio da temperatura do ponto central (nd 513) ao longo das 18 horas. A tabela_n.°3 permite comparar as temperaturas medidas com o sistema de aquisigiio de dddos e as obtidas através do modelo para as seguintes condigdes iniciais enunciadas anteriormente: Tabela n.° 3 - Valores medidos ¢ modelados ‘Visualizando graficamente através da figura 29: Comparagao de resultados | 200 160 J 100 50 ay —— 1°35 7 9 11 13 15 17 | Tempo (horas) | ‘Temperatura (°C) jelo Figura 29 — Temperaturas medidas ¢ modeladas ao longo de 18 horas.

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