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oe ee PoSCrtr meric rr} O Supremo Tribunal Federal tirou, um a um, todos os direitos dos presos envolvidos no'tumulto do dia 8 de janeiro. No caso de CeO ie Me Miele ea mC eR CRB Le) Por J.R. GUZZO [\\ Oye ac) Edigao 192 A tragédia chega ao Supremo @ xcuz0 Carta ao Leltor — Edigao 192 Um morto assombra o Supremo Morte anunciada co @ casrrancosra Um pais que respira Vitorla argentina Sco! Q) rsv1rnone cane A Imprensa do absurdo © PT determina quem sera protegido ou perseguldo nas redes 7 de outubro: a batalha pela verdade Um ano de Oeste Sem Flitro g [ANA PAULA HENKEL © maior desaflo Manual do heréI moderna @ (GUILHERME FIUZA Os apéstolos do apocalipse @ soeerro nor Legal, llegal, Irregular ou legitimo? Tons de cinzas no desmatamento Imagem da Semana: crise de fome no Chade ‘Lula gasta mals com o rico de que com o pobi ‘E preciso revisitar o passado recente para planejar o futuro’ | EDICAO 192 A tragédia chega ao Supremo Cleriston Pereira da Cunha é 0 primeiro cadaver da repressao ilegal comandada pelo STF aos ‘atos golpistas' de 8 de janeiro © o egimes que nao respeitam a lei, eliminam direitos individuais e suprimem liberdades pliblicas acabam, mais cedo ou mais tarde, entrando em contato com a morte. Nao ha como ser diferente. Uma decisao ilegal leva a outra, pior que a primeira. A decisao seguinte € pior ainda — e por ai se vai, numa reacao em cadeia na qual os autores das ordens $6 conseguiem dar sequéiicia a tima ac¢ao radical tomando outta mais radical que'a precedente. Como nao encontram nenhuma oposicao de verdade, e dispoem da forca armada para impor qualquer decisao, passam a agir como se nao tivessem limites. 0 resultado, inevitavel, é que vao perdendo cada vez mais o controle sobre as consequéncias dos seus atos. Uma violagao da lei, para manter-se de pé, exige sempre uma outra mais grave, e mais uma, € mais uma — até que alguém morre. E 0 que acaba de acontecer com 0 cidadao Cleriston Pereira da Cunha, um dos presos nos tumultos do dia 8 de janeiro em Brasilia. O Supremo Tribunal Federal foi tirando todos os seus direitos, um depois do outro. Acabou, agora, por Ihe tirar o direito vida (Leia também, nesta edicdo, as reportagens de Augusto Nunes e Cristyan Costa). Cleriston morreu por falta de cuidados médicos adequados no patio da penitenciaria da Papuda, em Brasilia — pouco antes de completar 11 meses de prisdo preventiva, sem julgamento. Sua morte nao foi um acidente que poderia acontecer a qualquer um. Com diabetes, problemas de circulacao ¢ hipertensao, ele nao poderia, pela lei brasileira, estar numa cadeia. Teria, obrigatoriamente, de estar num hospital, reeebendo os medicamentos indicados, nas doses certas e nos horarios corretos. Nao se trata de uma opiniao de quem “nao gosta do STE” ou da “democracia”, como diz o ministro Luis Roberto Barroso. Segundo informa um relatério médico oficial assinado e apresentado pela doutora Tania Maria Antunes de Oliveira no dia 27 de fevereiro de 2023, Cleriston corria “risco de morte por imunossupressao e infeccdes”. A médica pedia urgéncia no tratamento do seu caso, mesmo porque ele tinha perdido uma consulta marcada para o dia 30 de janeiro, por estar na prisao. JA tinha sido internado no hospital durante 33 dias no ano passado, para tratar da mesma doenca. Tinha de tomar pelo menos quatro remédios diferentes por dia c l J oo de perf do Facebook, enh 20") pose, sortiderte, com sua mulher, Edjane, e as dus has do casa o/Facehook Jo Ral Durante oito meses e meio inteiros, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, nao tomou conhecimento dessas informagées — e dos pedidos de soltura do réu para tratamento médico de emergéncia, feitos por seus advogados com base no relatério da doutora Tania. Cleriston, ao longo desse periodo, sofreu diversos desmaios e ataques de vomito, e teve de ser levado ao pronto-socorro da penitenciaria; seu estado tornou-se cada vez mais grave. A situagdo chegou a tal ponto que o préprio Ministério Public, encarregado de fazer a acusacao, pediu a Alexandre de Moraes que Cleriston fosse solto, agora no dia 1° de setembro. Como ja tinha acontecido com 0 relatério médico, o ministro ignorou o pedido do MP. Nao disse nem sim nem nao; apenas nao respondeu nada. Agora, depois de 285 dias de prisao sem ter sofrido condenacao nenhuma, e quase dois meses apés a solicitagao de sua soltura pelo MP, Cleriston morreu na Papuda. E aonde se chegou, enfim, pelo encadeamento de uma ilegalidade com outra, em gravidade crescente; ele nao podia ter sido preso, o inquérito do STF nao podia ter sido feito, sua prisdo nao podia ser mantida. Deu no que deu. Cleriston acabou se tornando o primeiro cadaver da repressio ilegal aos “atos golpistas” que vem sendo comandada desde janeiro pela suprema corte de Justia do pais — a maior aberracao ja ocorrida na histéria do Poder Judiciario do Brasil. A vitima nao morreu porque quis dar um “golpe de Estado”, como dizem os ministros, a esquerda nacional de alto a baixo ea maior parte da midia. Morreu porque o STF o deixou sem assisténcia médica durante os 11 meses seguidos em que esteve sob a sua custédia e sob a sua responsabilidade. Os ministros do STE quiseram matar o preso? £ ébvio que nao. E ébvio, também, que tomaram uma série de decisdes objetivas cujo resultado inevitavel foi a morte do cidadao que, segundo a lei, tinham a obrigacao de manter vivo — dentro das possibilidades da medicina, é claro. Foram avisados, por laudo médico das préprias autoridades, que 0 acusado corria risco de morrer. Nao fizeram nada, durante meses e meses. Ignoraram o MP. De quem é, entao, a responsabilidade legal pelo que aconteceu? E unicamente da autoridade publica que o mantinha preso e podia autorizar, ou negar, sua internacao no hospital. 0 STF negou. Xeque-mate. Naturalmente, o STF nao liga a minima para a morte de Cleriston ou de qualquer dos mais de mil cidadaos que estao sendo condenados a até 17 anos de cadeia por terem participado de um quebra-quebra. Por que ligaria? Nao ocorre a quase nenhum ministro que as suas decisdes envolvem seres humanos de carne, osso e alma ~ e, portanto, merecedores naturais de sentimentos como a compaixao, piedade ou cleméncia. A unica maneira pela qual Alexandre de Moares e a maioria dos seus colegas enxergam essas pessoas é como “bolsonaristas” —e na sua visdo de democracia bolsonaristas nao tém direitos constitucionais, nem de qualquer outro tipo. Se tivessem, no entender do STE, iriam “usar” seus direitos para acabar com 0 “estado democratico de direito”; nao podem, portanto, pretender a protecao da lei e do sistema judicial. Além disso, os ministros esto convencidos de que sao eles, e mais ninguém, que dizem o que 6 a realidade. Se decidem que um fato nao existe, esse fato nao aparece na Rede Globo — e, se nao aparece na Rede Globo, eles ficam com a certeza de que o fato nao existiu. “Cleriston? Que Cleriston? Nao temos nada a ver com isso.” uma coincidéncia realmente extraordindria que o primeiro cadaver do 8 de janeiro tenha aparecido justo agora, quando o Ministério dos Direitos Humanos acaba de publicar no Didrio Oficial a sentenga da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 2018, que condenou o Estado brasileiro pela morte do jornalista Vladimir Herzog, 48 oito anos atras. Herzog estava preso numa delegacia da policia politica do regime militar, em Sao Paulo, onde os inimigos do governo eram regularmente torturados; apareceu morto na sua cela, e as autoridades legais da época disseram que ele tinha se “suicidado”, sem nunca apresentar provas disso. 0 caso jamais foi julgado num tribunal brasileiro. Mas a CIDH, quase meio século depois, declarou que a culpa pela morte foi dos carcereiros. De quem mais poderia ter sido, se ele morreu enquanto estava sob a guarda da policia? O STF pode contestar, com indignacdo, que se compare um caso com 0 outro — mesmo porque a morte do jornalista foi um homicidio. Mas o fato concreto é que os dois morreram quando 0 Estado, que os havia prendido, era o responsavel por suas vidas. E possivel que o regime militar nao tenha querido matar Herzog; seus agentes queriam apenas torturar, mas erraram na dose e acabaram matando o preso. Como alguém poderia considerar que isso é uma desculpa, ou algum tipo de atenuante? Alexandre de Moraes e seus colegas também no tinham a intengao de matar Cleriston. Acham, com o apoio automatico do sistema de apoio a Lula, da maioria dos meios de comunicacao e da elite, que estéo punindo uma tentativa de “golpe de Estado” — embora nenhum dos acusados tivesse sequer um estilingue para derrubar o governo. Também nao causaram qualquer ferimento; ninguém precisou de um tinico e escasso band-aid em todo o disturbio. O preso do STF, certamente, nao foi torturado; s6 foi mantido na prisao quando havia um laudo médico avisando que ele corria risco de morte se nao fosse para o hospital. Nao existe como negar, portanto, que morreu por causa das decisdes que o STF tomou sobre ele —a pior das quais foi lhe negar, sem razao aparente nenhuma, o tratamento médico indispensavel. 0 STF nao quis o resultado. Mas nao ha ditvida de que foi a sua causa. “Os senhores sao as pessoas mais odiadas do Brasil”, disse o advogado Sebastiao Coelho, que defende um dos réus, na sessao que abriu o julgamento dos episédios do dia 8 de janeiro. Os ministros, na ocasidio, se mostraram revoltados; os bajuladores mais excitados chegaram, inclusive, a pedir “punicao” para Coelho. Mas a verdade é que, ao insistir num tipo de conduta que conduz a tragédias como a morte de Cleriston, o STF esta deixando junto a populacao uma imagem de crueldade que a Justica brasileira nunca teve. Isso, como dito acima, nao parece ser um problema para os ministros. Nao prestam contas a ninguém, tém o apoio da policia e das Forcas Armadas e apostam na covardia das mesas diretoras do Congresso para continuarem agindo sem correr nenhum risco. Transformaram a Rede Globo e quase toda a imprensa brasileira num departamento de propaganda politica — em perfeita simetria, alids, com o que faz o governo Lula. Vivem numa cépsula impermeavel ao Brasil e ao resto do mundo, protegidos por carros blindados, por segurancas que tém armamento pesado e por um isolamento fisico que lhes permite viver praticamente sem nenhum contato com o cidadao brasileiro comum. Suas sentengas sao a primeira, a segunda e a terceira instancias ao mesmo tempo; qualquer decisao que tomam passa mecanicamente “em julgado” e torna-se um “ato juridico perfeito”. =. * Justiga por Cleriston. 5:30 PM: 21 de nov 2028 ® 342mil @ Responder 2, Compartinar este post Ler 1,9 mil respostas Em compensacao, o STF se envolve numa situagao de dependéncia cada vez maior em relagéo ao governo Lula e as foreas que Ihe dao apoio. £ uma dependéncia miitua, pois o presidente, 0 PT € os seus partidos-satélites da extrema esquerda também dependem hoje do Supremo. Mas continua sendo uma dependéneia — para sobreviver, o STF precisa cada vez mais de Lula e de quem obedece as suas ordens. Como consequéncia direta disso, o tribunal esta operando, ja ha muito tempo, sem um cédigo legal ou moral: age e reage em funcao dos interesses do governo e dos seus. Que eédigo de conduta pode ter uma corte de Justiga que anula provas materiais de corrup¢ao, como a livre confissao dos culpados e a devolucao de bilhées de reais em dinheiro roubado — e, ao mesmo tempo, decide que nao é preciso nenhuma prova para condenar a penas de prisdo extremas os acusados do 8 de janeiro? O STF nao tem mais um mapa para indicar o rumo correto a seguir nas suas decisoes — o caminho da lei, da jurisprudéncia ou da reponsabilidade pelos efeitos praticos que provoca na ordem social, econdmica e politica do pais. Sem cédigo e sem mapa, fica também sem légica. Sai o raciocinio. Entra a forca O presidente do STF, Luis Roberto Barroso, sustenta que “as pessoas” criticam o tribunal porque “nao gostam” das suas decisdes, como a torcida nao gosta das decisdes de um juiz de futebol. Fica, diante do que disse e co que aconteceu, a seguinte pergunta: como ¢ possivel, dentro de qualquer sistema racional de pensamento, alguém gostar do conjunto de decisdes que levaram & morte de Cleriston Pereira da Cunha, por falta de atendimento médico, na prisao onde estava havia quase 11 meses —e sem ter sido jamais condenado por qualquer crime? Nao haverd resposta. Ha pelo menos cinco anos o STF se sente autorizado a nao dar resposta nenhuma a ninguém. 2 MA RE | EDIg¢AO 192 Carta ao Leitor — Edigao 192 Eleicao na Argentina, a morte de um preso esquecido pelo Supremo Tribunal Federal numa cela € os ataques a imprensa livre sao destaques desta edigdo oe HORDE < ouga este conteido readme © “peronismo” na frase. Juan Domingo Perén nao s6 governou o pais como inaugurou um modelo clientelista de fazer politica, que virou um regime e desembocou num partido — por muito tempo, o tnico no vizinho sul-americano. Outra marca indelével 6 0 autozitarismd. No tiltimo domingo, 14 milhoes de argentinos elegeram 0 excéntrico Javier Milei presidente. 0 peronismo levou uma surra. H 4 oito décadas, é impossivel falar sobre politica na Argentina sem ineluir o termo E evidente que a vitoria de Milei passa, sobretudo, pelo caos econémico de um pais que empobrece a cada ano, conforme mostra esta edicao. Mas o componente politico nao pode ser desprezado: o modelo derrotado pode ser considerado um “peronismo a brasileira”, encarnado pela dinastia dos Kirchner desde 2003. Milei foi vitima de ataques sorrateiros na campanha, reforcada as vésperas da eleicdo por marqueteiros enviados por Lula e pelo PT. Os métodos sao bem conhecidos pelos brasileiros. Mas Milei venceu, também, porque na Argentina nao houve interferéncia da Justica Eleitoral para desequilibrar o certame. “Na Argentina, os eleitores poem o voto de papel no envelope que recebem no local de votacao. Ao sair da cabine indevassdvel, o envelope é depositado na urna. Encerrada a vota¢ao, os votos sao contados preliminarmente ali mesmo, sob intensa fiscalizacao dos partidos. E um sistema aberto; o nosso é fechado”, escreve Alexandre Garcia. A viruléncia da esquerda contra os seus adversarios, inclusive na imprensa, nao € novidade. 0 que causa estranheza é justamente a complacéncia e a submissao ao PT das redacoes nestes tempos — até quando a vitima é um colega de profissao, sentado na cadeira ao lado. “Nosso jornalismo esta afundado numa de suas piores fases, e nao vai ser facil recuperar sua credibilidade. Mas é bom deixar claro: aqui ninguém quer qualquer tipo de regulacao, controle ou censura”, diz Dagomir Marquezi, um veterano em redacoes. No Brasil, o autoritarismo cruza a Praca dos Trés Poderes numa reta que liga 0 Palacio do Planalto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Sao dois Poderes que deveriam ser independentes, conforme a Constituico, mas que se aliaram contra o Legislativo, onde estao quase 600 representantes escolhidos pelo povo. Esse regime governa o Brasil em consércio — com o aval de uma parte da velha midia, regada por milhoes de verba estatal. Nesta semana, esse consércio recebeu mais um aviso de que jé foi longe demais. 0 até entao anénimo Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, que seria julgado num dos lotes de homens, morreu no presidio da Papuda. Ele foi esquecido numa cela pelo ministro Alexandre de Moraes, porque participou dos atos que terminaram em tumulto no dia 8 de janeiro. A familia de Cleriston esperava sua volta para casa havia meses, ja que ele nao fora sentenciado. 0 Ministério Publico pediu expressamente que ele fosse tirado do presidio por causa de comorbidades. “Manté-lo preso é uma sentenca de morte”, afirmou seu advogado. Era mesmo O STF produziu uma nota infame sobre sua morte. A tragédia chegou ao Supremo. E agora? “Nao havera resposta. Ha pelo menos cinco anos o STF se sente autorizado a nao dar resposta nenhuma a ninguém”, diz o artigo de capa, assinado por J.R. Guzzo. Boa leitura. REVISTA Co Creer ior CADAVER O Supremo Tribunal Federal tirou, um a um, todos os direitos dos presos envolvidos no tumulto do dia 8 de janeiro. No caso de Cleriston Pereira da Cunha, acabou por the tirar o direito a vida Por J.R. GUZZO a Revista Ooste, ed noel | EDIG¢AO 192 Um morto assombra o Supremo Cadaveres estendidos no caminho da Histéria nao sao removidos como uma pedra arrancada da encosta -« BOOOEE< fuga este contd readme ao foi por falta de aviso. Ja em janeiro, uma reportagem de capa de Oeste alertou para © cotidiano degradante imposto 4 multidao aprisionada por suposto envolvimento nos ataques As sedes dos Trés Poderes ocorridos no dia 8. Em fevereiro, os esquecidos de Brasilia foram lembrados em letras maitisculas pela capa desta revista. Assim seria nos meses seguintes: em sucessivas edicdes, Oeste informou que nas celas dos presidios da Papuda e da Colmeia havia mais de uma tragédia em gestacao. Se nao faltaram adverténcias, todas esbarraram na arrogancia do Supremo Tribunal Federal, na omissao do Poder Legislativo, no descaso do Ministério Piiblico e na amnésia abjeta da imprensa convencional. O que faltou foi compaixao, respeito & lei, direito de ampla defesa e 0 devido processo legal. Continuaram no earcere portadores de doengas crénicas implorando por cuidados médicos, mulheres septuagenarias, centenas de inocentes enearcerados sem julgamento, brasileiros de todas as idades algemados pelo medo. O ministro Alexandre de Moraes inventou a meia liberdade: gente libertada por falta de provas nao se livrou da tornozeleira eletrénica. Como escravos alforriados mas acorrentados ao pelourinho por decisao do antigo senhor, espalham-se pelo Brasil inocentes confinados em espacos estabelecidos pelo SuperJuiz. Nao hd uma tinica e escassa evidéncia de que cometeram algum crime. Mas nao votaram em Lula. Portanto, sofrem de bolsonarismo. E bolsonarista é 0 judeu do Brasil. Nao importa se depredou 0 Congresso ou se apenas foi orientado pelo general Dias a buscar a melhor saida. Todo bolsonarista merece cadeia. BY cavgustosnunes : Seguir & ; ‘Augusto Nunes @ x 0 Estado brasileiro e os ministros do STF devem ser responsabilizados pela morte de Cleriston Pereira da Cunha. Assim como aconteceu no caso de Vladimir Herzog, nao adianta tentar sepultar a verdade. Os fatos nao morrem 8:42 PM - 23 de nov de 2023 @ 10,9mil @ Responder 1, Compartithar este post Ler 292 respostas Oua morte, ensinou nesta semana o surgimento do primeiro cadaver na maior captura em massa registrada na Histéria. Era questao de tempo, confirma a reconstituicao do crime. Preso preventivamente ha mais de dez meses, Cleriston Pereira da Cunha morreu de indiferenca. Apelos de advogados, pareceres do Ministério Publico, a angistia de parentes, o evidente agravamento do estado de satide — nada comoveu o ministro Alexandre de Moraes. 0 condutor de todos os inquéritos pareceu surpreso com a noticia. Nao deveria. Tampouco pode simular surpresa com outra obviedade: o morto estava sob custédia do Estado. Nem tem o direito de antar-se com as cobrancas que apenas comecaram. Um cadaver inesperadamente estendido no caminho da Histéria nao é removido como a arvore decepada pela tempestade, ou a pedra que a enxurrada arrancou da encosta. 0 peso do morto nao é avaliado em quilos: toneladas intangiveis impdem bruscas mudancas de rota. Em julho de 1930, 0 politico paraibano Joao Pessoa foi morto por um desafeto inconformado com a divulgacao de cartas trocadas com a amante. A bala enderegada ao invasor de intimidades foi transformada no disparo que matou 0 candidato a vice-presidente da chapa liderada por Getulio Vargas, derrotado meses antes por Julio Prestes. E tornou inevitavel a revolugao que sepultou a Reptblica Velha. Politica Estadéo x stadaoPoltica- Segui Em uma audiéncia feita no fim de julho pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Cleriston Pereira da Cunha, que morreu na Papuda nesta segunde-feira, 20, afirmou que ele softia de problemas de saide dentro do presidio, com desmaios e falta de ar. 0 preso também disse que chegou a... Mostrar mais Preronoe? Bg 5:23PM. 21 de nov de 2028 ® 64 mil @ Responder t, Compartithar este post Ler 886 respostas Em agosto de 1954, o suicidio de Getilio Vargas adiou por dez anos a chegada ao poder da frente formada por militares ¢ lideres civis incapazes de digerir 0 retorno ao poder do ditador que comandara 0 Estado Novo. Deposto em 1945, o presidente eleito cinco anos mais tarde pelo voto popular decidiu que deveria escolher entre o despejo humilhante e 0 tiro no coragao. No momento em que apertou o gatilho, estava a poucas horas da cadeia. O gesto silenciou as comemoracées dos inimigos vidos por transformarem o pedido de licenga em rentincia ao mandato. “Ele acabou com a nossa festa”, resumiu Affonso Arinos, lider da oposi¢ao antigetulista na camara dos Deputados, naquele inicio da manha de 24 de agosto. No mesmo dia, centenas de milhares de 6rfaos do lider depredaram as redacdes de todos os jornais do Rio, ferozes adversdrios do morto. “Aquela imensidao de gente nao gritava o nome de Getuilio”, lembra 0 jornalista Samuel Wainer em suas memérias. “O que se ouvia era um uivo doloroso. Dizem que a morte politica sé ocorre com a morte fisica. O impacto do suicidio foi tao grande que Getilio seguiria influenciando os rumos do Brasil.” Agosto da 1054, eontonas de milhares do ros do lider Getila Vargns dapredaram as redagies de tados a ornais do Ro | Foto: Re Em outubro de 1975, 0 assassinato do jornalista Vladimir Herzog num porao da policia politica convenceu o presidente Ernesto Geisel de que era hora de enfrentar extremistas dispostos a ultrapassar todos os limites da vilania para abortar o processo de abertura em andamento. A imprensa mandou as favas a censura prévia e noticiou o que os carrascos tentaram transformar em outro suicidio. Geisel visitou Sao Paulo para comunicar pessoalmente ao general Ednardo D’Avila Mello, comandante da mais poderosa concentragao de tropas do pais, que nao toleraria uma segunda afronta. Barroso usou a expressao “um cidadao brasileiro” para ocultar a identidade do prisioneiro morto na Papuda, Ja deve ter constatado a inutilidade do truque. Cadaveres tem nome e sobrenome. A pedra no caminho do STF se chama Cleriston Pereira da Cunha Em janeiro de 1976, o operario Manoel Fiel Filho morreu em circunstancias semelhantes as que envolveram a execucao de Herzog. 0 reincidente Ednardo foi imediatamente aposentado. Paciente, Geisel teve de esperar até agosto de 1977 para destituir o general Silvio Frota da chefia do Ministério do Exército e da linha-dura fardada. Oficialmente, Frota foi punido por um general-presidente. Os fatos ressalvam que por tras da condenacao a queda havia dois cadaveres. Esses exemplos reiteram que, em determinados momentos, os mortos governam os vivos. aul | Fete O comunicado lido nesta quarta-feira, 22, por Luis Roberto Barroso informa que o presidente do Supremo Tribunal Federal ignora essa licdo antiga como o mundo. Ele nao enxergou — ou finge nao enxergar, o que dé na mesma — a espécie de obstaculo que obstruiu nesta semana a rota tracada por Alexandre de Moraes, com 0 apoio militante da maioria dos ministros e 0 endosso silencioso dos dissidentes de picadeiro. Barroso usou a expressao “um cidadao brasileiro” para ocultar a identidade do prisioneiro morto na Papuda. Ja deve ter constatado a inutilidade do truque. Cadaveres tém nome e sobrenome. A pedra no caminho do STF se chama Cleriston Pereira da Cunha. Pior: a morte liberou a vitima da arroganeia assassina para divulgar em videos as dentncias que foi proibido de fazer enquanto viveu. Moraes ordenou que a morte de Cleriston seja investigada. E desnecessario. Basta conferir os trechos do inquérito que resumem as tentativas de impedir o homicidio culposo. Ou espiar 0 video em que o condenado a morte identifica o mandante do crime. Esta tudo la. exons de Mores, Lie Roboro Barroso, Dies Tol oGimar Mendes, miisos do ST | Foo: STE/SCO. | EDIgA0 a2 Morte anunciada O que mais seré preciso acontecer para interromper a marcha da insensatez e a crueldade dos ministros do Supremo Tribunal Federal? @ crermncoen -* DOOOne< fuga este contd readme ® @ esde 0 inicio do ano, Oeste relata numa jornada praticamente solitaria na imprensa brasileira o martirio dos mais de mil presos do 8 de janeiro. Foram dedicadas oito capas ao tema, além de uma série de reportagens sobre a agonia dos detidos no carcere do Supremo Tribunal Federal (STF). Direitos fundamentais, amparados na Constituicao, foram viclados. Centénas de pedidos de advogados, familias destrocadas e do proprio Ministério Publico Federal foram ignorados. Agora o STF tem um cadaver para carregar ao longo da Histéria — e nao foi por falta de aviso. Nesta semana, Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, flagrado pela policia dentro do Senado no dia 8 de janeiro, morreu no presidio da Papuda, no Distrito Federal. Oficialmente, ele sofreu um mal stibito enquanto tomava banho de sol no patio. Deixou a mulher, Edjane, e duas filhas, de 22 ¢ 19 anos, que tinham esperanca de reencontra-lo depois da tarde de janeiro que terminou de um jeito que ninguém gostaria. Sem experiéncia com comércio, a dona de casa Edjane toca ha meses, sozinha, a distribuidora de bebidas da familia. Desde a prisdo de Clezao, como ele era conhecido, ela tem sido amparada por familiares de Brasilia, onde mora, e familiares que sairam da Bahia para ajuda-la. Cleriston Pereira da Cunha contou que tnha vasculte agua, que ofaia desmaiar tr fa fesiio | Foto: Reproducso/Titter X/8Pros Justi¢a omissa A morte de Cleriston era uma tragédia anunciada desde fevereiro deste ano. Naquele més, 0 advogado Bruno Sousa pediu um habeas corpus (HC) ao STF com base no “estado de satide delicado” de seu cliente. O HC caiu na mesa de André Mendonca, que citou a Simula 606 da Corte para sequer apreciar 0 pedido. Em linhas gerais, o dispositivo impede um juiz de desautorizar colegas — no caso, Alexandre de Moraes, que foi quem determinou as prisoes. Mendonca, porém, tinha outras saidas para resolver o caso, segundo 0 entendimento de Vera Chemim, advogada constitucionalista e mestre em Direito publico administrativo pela Fundacao Getulio Vargas (FGV). O direito a vida se sobrepde a entendimentos do STF. Paraa jurista, Mendonca poderia ter procurado Moraes, a fim de encontrarem uma saida para o problema, ou recorrido a propria presidéncia do tribunal. Um novo pedido de liberdade foi feito ao STF em maio deste ano, em virtude de “risco de morte” de Cleriston, dessa vez diretamente a Moraes. No processo, a defesa relatou a batalha do empresirio contra sequelas deixadas pelo coronavirus no ano pasado: mulltiplos vasos e miosite secundaria. Conforme um laudo médico, a covid-19 culminou numa internacao por mais de 30 dias. 0 advogado advertiu Moraes de que, desde que fora preso, Cleriston nao havia se medicado apropriadamente, “correndo o risco iminente de sofrer um mal suibito”. Em uma audiéncia virtual em julho, Cleriston reafirmou o diagnostico ao relatar ter sofrido sucessivos desmaios e falta de ar durante o periodo que passou na Papuda, | ee Estado © x stadaoPoltica - Seguir Em uma audiéncia feita no fim de julho pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Cleriston Pereira da Cunha, que morreu na Papuda nesta segunda-feira, 20, afirmou que ele sofria de problemas de satide dentro do presidio, com desmaios e falta de ar. O preso também disse que chegou a... Mostrar mais arnt Bld 5:23 PM - 21 de nov de 2023 ® © 64m —@ Responder t, Compartithar Ler 886 respostas 0 Ministério Publico Federal (MPF) acolheu o argumento e pediu a liberdade condicional de Cleriston ao STF. 0 érgao é responsavel por denunciar os réus do 8 de janeiro na Corte e também por pedir a soltura dessas pessoas. “O término das audiéncias para a oitiva das testemunhas de acusacao e defesa e a realizacao do interrogatério configuram importante situacao superveniente que altera 0 cenario fatico até entao vigente, evidenciando que nao mais se justifica a segregacAo cautelar, seja para a garantia da ordem publica, seja para conveniéncia da instrugao criminal, especialmente considerando a auséncia de risco de interferéncia na coleta de provas”, afirmou 0 Ministério Publico. Mesmo assim, Moraes nao apreciou 0 oficio encaminhado. “A sensagao que temos é de que o ministro nem sequer leu os pedidos de soltura que fizemos”, disse 0 advogado Bruno Sousa, em alusdo as oito agdes que protocolou na Corte, informando a situagao de Cleriston. Além disso, entre outras fragilidades do processo, o defensor afirmou que, embora seu cliente tenha sido preso no Senado, nao ha provas de que tenha participado da quebradeira. Essa ponderacao tem sido feita pelos ministros Nunes Marques e André Mendonca, em casos do 8 de janeiro que ja foram levados a julgamento. Marques ressalta que a acusacao feita a multidao que invadiu os prédios puiblicos naquela data se enquadra em uma classificacao denominada “crime impossivel” — ou seja: sem armas mAo, nao haveria nenhuma possibilidade de destituir o governo Lula. Assim como Marques Mendonca tem adotado essa interpretacao, acrescentando a ressalva de que nem todos vandalizaram os bens pitblicos naquele dia. Ha pouco mais de um més, Mendonga levou ao plenario fisico do STF 0 caso de duas mulheres, cujas defesas sustentam que ambas no teriam condigdes de vandalizar 0 patriménio em razéo da idade, porte fisico e bons antecedentes criminais. Outro ponto importante nessa tragédia é que, mesmo na hora da morte, houve negligéncia com Cleriston. Isso porque a Papuda nao tinha desfibriladores e cilindros de oxigénio no local. 0 atendimento médico levou 40 minutos para chegar depois de o empresario passar mal, segundo a Defensoria Publica do Distrito Federal (DP-DF), que visitou o presidio um dia apés a tragédia. Cleriston ja estava morto quando a ambulancia chegou. 0 documento da policia do Distrito Federal ressaltou o despreparo dos agentes, que demonstraram “desespero” tao logo o detendo caiu no chao enquanto tomava banho de sol. Cadaveres em gestacao A repercusso da morte de Cleriston fez com que Moraes concedesse liberdade condicional a alguns presos que ja tinham pedido de soltura encaminhado pelo Ministério Publico. Mesmo assim, atualmente, 116 permanecem detidos por causa da baderna de 8 de janeiro, alguns correndo o risco de morrer. A despreocupacao do STF fica mais visivel quando nem a Corte sabe informar quantos, do total, sio homens e mulheres, ou a quantidade de doentes Mesmo os réus que conseguiram a liberdade condicional hd alguns meses poderiam ter morrido em decorréncia de alguma comorbidade no periodo em que ficaram presos. A professora aposentada Iraci Nagoshi, de 70 anos, é uma delas. Solta em agosto, ela teve sucessivas crises de ansiedade, por oito meses, somadas as doencas que ja vinham sendo tratadas antes de ser presa: diabetes, hipertireoidismo e dislipidemia (gordura no sangue). Hoje, a ex-professora faz fisioterapia trés vezes por semana para recuperar os movimentos do lado direito do rosto, paralisado por causa de traumas associados As noites na Colmeia (ala feminina do complexo penal). No entanto, o término das audiéncias para oitiva das testemunhas de acusagao e defesa e a realizagao do interrogatorio CLERISTON PEREIRA DA CUNHA configuram importante situacao superveniente que altera o cenario fatico até entao vigente, evidenciando que nao mais se justifica a segregacao cautelar, seja para a garantia da ordem publica, seja para conveniéncia da instrugéo criminal, especialmente considerando a auséncia de risco de interferéncia na coleta de provas. Assim, considerando © atual quadro fatico exposto somado a liberdade provisoria concedida a outros denunciados, igualmente vinculados ao Inquérito 4922/DF,-o pleito defensivo merece acolhida, haja vista a identidade de situagdes. processuais, nos termos do art. 580 do Cédigo de Processo Penal. Do mesmo modo, cabivel a imposigao cumulativa das seguintes medidas cautelares: ho de pedido do MPF om favor da soltura de Clea, fet de setembro deste ano | Foto: Reproduvac Ante 0 exposto, o MINISTERIO PUBLICO FEDERAL manifesta-se pelo deferimento do pedido de liberdade provisoria a CLERISTON PEREIRA DA CUNHA, cumulado com as medidas cautelares diversas da prisao. een ett tenn tn, Treche de pedido do MPF em favor Foto: Reprodugé Shure de Clezéo, feto em 1 Em setembro, o STF sentenciou 25 pessoas a penas que variam de 14 a 17 anos, em regime fechado, mais pagamento de “multa solidaria” sobre um montante de R$ 30 milhées. As decisdes desconsideram histérico de doencas, como o de Jorginho Azevedo, de 62 anos, agricultor gaticho de Torres. Ele tem lesdes na coluna e quase dez enfermidades. Ha meses, dorme em colchao impréprio e se alimenta mal. Apesar de sua advogada, Shanisys Virmond, protocolar pedidos pela liberdade e informar que ele nao esteve no Quartel-General do Exército, em Brasilia, como argumentou Moraes e outros ministros, Azevedo foi condenado a 14 anos de prisdo e permaneceré na Papuda. © cacique Serere Xavante cumpre condicional, com tornozeleira, por supostamente praticar “atos antidemocraticos”. Ele sé pode se locomover em um raio de 4 quilémetro. Por isso, esta impedido de receber tratamento em um centro médico adequado distante de Aragarcas (GO), onde vive atualmente. 0 indigena tem diabetes grave, do mesmo tipo que vitimou seu pai ha alguns dias Enquanto isso, milhares de vidas suspensas aguardam julgamento, a maioria em liberdade condicional e correndo o risco de pegar penas altissimas. Somados aos argumentos dos ministros Nunes Marques e André Mendonga, 0 advogado Claudio Caiavano observou que aqueles que continuam presos deveriam ter sido soltos, assim como os que usam tornozeleira eletrénica, porque um dos crimes que supostamente teriam cometido e que mantém a maioria na cadeia, o de incitacao, tem pena de trés a seis meses de detencao. “Ou seja, esto cumprindo uma pena além daquilo que a prépria lei prevé”, afirmou. cio Serere Xavants,conhecido com O comportamento de Moraes, de ignorar pedidos feitos pelas defesas, é também notado em outros processos, que nao tém necessariamente relagao com 0 8 de janeiro. Hé um més, o juiz do STF manteve a prisdo do ex-deputado federal Roberto Jefferson, que luta contra tumores no pancreas, testiculos, intestino, além de diabetes, hipertenso, depressao, insdnia e ansiedade. Jefferson esta detido em um hospital do Rio de Janeiro. O cacique Serere Xavante cumpre condicional, com tornozeleira, por supostamente praticar “atos antidemocraticos”. Ele s6 pode se locomover em um raio de 1 quilémetro. Por isso, esta impedido de receber tratamento em um centro médico adequado distante de Aragargas (GO), onde vive atualmente. 0 indigena tem diabetes grave, do mesmo tipo que vitimou seu pai ha alguns dias. Como Oeste alerta desde janeiro, e agora com a morte de Cleriston sem ao menos ter sido julgado, a questao dos presos do 8 de janeiro e demais alvos de inquéritos inconstitucionais precisa de uma solu¢ao. Se o STF nao fizer uma autocritica e rever o destino desses presos — e nao ha indicio de que vai mudar —, cabera ao Senado interromper essa marcha da insensatez. O Brasil nao precisa de outro cadaver. | EDIGAO 192 Um pais que respira Javier Milei derrota a esquerda 'kirchnerista’, afasta interferéncia de Lula na Argentina e mostra que os eleitores votaram pensando no bolso -* BOOOne< © esde o tiltimo domingo, é possivel encontrar uma dezena de teses na imprensa mundial sobre o que levou mais de 14 milhdes de argentinos a eleger uma figura tao excéntrica e diferente de qualquer outro presidente na sua histéria como Javier Milei. Uma delas é absolutamente certeira: os argentinos entenderam que, desta vez, 0 pais esta falido. Aos 53 anos, 0 “libertério” — como ele mesmo se define — e antissistema Javier Milei nao sera o primeiro presidente eleito alheio ao quase inevitavel “peronismo” (leia mais abaixo), que perdura desde a década de 1940 no vizinho sul-americano. Tampouco sera inédito um presidente assumir a cadeira diante de um cenario de desastre fiscal. A vitéria, contudo, mostra que até a camada dependente de programas sociais — metade da populagdo — entendeu que o pais acorda a cada dia mais pobre. Aalternativa a Milei no segundo turno era Sergio Massa, atual ministro da Economia, representante do “kirchnerismo” — que comecou com Néstor, morto em 2010, e passou pelos herdeiros do espélio politico: sua mulher, Cristina, e 0 atual presidente, Alberto Fernandez. O “kirchnerismo” é a vertente ideologicamente alinhada com a esquerda dentro do enorme espectro do peronismo. UATE FEB ern, Juan Domingo Pern e Domingo Mercante, em fevereira de 1946 | Foto: Wikimedia Commo 0 peronismo pode ser resumido como um movimento — justicialista — que se aproximou do sindicalismo e se tornou um regime. As duas marcas intocadas sao 0 populismo exacerbado e 0 autoritarismo. Tanto que uma das frases mais célebres de Juan Domingo Perén é: “Aos amigos, tudo; aos inimigos, nem a justica” — adaptacdo de “Aos amigos, tudo; aos inimigos, basta a lei”, de Maquiavel. Perén governou a Argentina duas vezes e morreu na cadeira de presidente. 0 peronismo perdura como um partido fragmentado em grupos, mas muito forte até hoje — s6 perdeu uma eleicao desde 2003. Mas nunca foi exatamente uma agremiacdo de esquerda nem de direita. Isso s6 mudou justamente com a guinada do “kirchnerismo”. Ao contrario do que acontece no Brasil, nao houve interferéncia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para desequilibrar a disputa. A contagem dos votos impressos foi agil e segura ‘Kirchnerismo’ Os governos de Néstor Kirchner e seus sucessores se aproximaram dos paises que integram 0 Foro de Sao Paulo. 0 principal aliado sempre foi o Brasil de Lula e de Dilma Rousseff. Nao a toa, Lula lamentou a morte de Kirchner, o “Pinguino” (“pinguim"), como um dos grandes amigos no continente, e prometeu continuar ajudando — especialmente com os cofres de bancos € empresas estatais — sua mulher, Cristina O interesse do petista sempre foi ter maioria no Mercosul, alimentando a ideia de buscar acordos internacionais em bloco com a Europa e depois com a China. Isso explica também por que Lula tentou se meter como nunca numa eleicao estrangeira. O petista enviou sua equipe de marqueteiros e injetou dinheiro para tentar eleger Sergio Massa. Num misto de megalomania e obsessao com Jair Bolsonaro, Lula nao sé foi pessoalmente a Argentina como achou que ociar Milei ao rival brasileiro fosse resultar em votos. 0 PT naufragou junto com 0 peronismo. Na campanha, alids, os emissdrios de Lula reciclaram uma tatica antiga eleitoral do PT: 0 discurso do medo. Em varias frentes, o modelo foi similar & campanha de 2014, sugerindo que 0 opositor acabaria com programas sociais e com empregos publicos. Milei concentrou sua forca nas redes sociais e em eventos a céu aberto. Ao contrario do que acontece no Brasil, nao houve interferéneia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para desequilibrar a disputa. A contagem dos votos impressos foi agil e segura. Milei respondeu a ofensiva de Lula dizendo o que pensava sobre ele em entrevista a um canal de TV peruano: “Um comunista, corrupto, que esteve preso”. E avisou que, se vencesse, nao se aproximaria do brasileiro. Eleito, convidou Bolsonaro para sua posse no préximo més. Eixo Politico @ x xopolitica » Seguir =B Javier Milei diz que, se eleito, nao se reunira com Lula. © argentino descreveu o presidente brasileiro como “um comunista” e corrupto. Pemenons 8:00 PM: 8 denov de 20% © @ 735 @ Responder, Compartithar este post Ler 288 respostas Lula certamente nao ineluiré mais Buenos Aires no calendario de viagens que faz pelo mundo com a primeira-dama, Janja da Silva. A despeito do poderio econdmico brasileiro ante os vizinhos do Mercosul — Argentina, Uruguai e Paraguai —, vai ter que deixar de lado sua fixacdo em comandar 0 bloco. 0 Uruguai, alias, se dependesse sé do desejo do presidente Lacalle Pou, jdestaria fora. Como o Chile mantém seus negécios de forma bilateral, resta a Lula buscar os amigos da Bolivia, Venezuela e Colombia. Outro entrave a vista, que ele mesmo criou, se chama banco do Brics (Brasil, Russia, india, China e Africa do Sul). Com o triunfo de Milei, a Argentina sera admitida? Lula fez enorme esforco para incluir o vizinho no grupo. Os demais integrantes demonstraram resisténcia — afinal, se trata de aceitar um sécio falido —, mas a caneta da chefe do banco, Dilma Rousseff, prevaleceu. PRESIDENTIAL VISIT AND INAUGURATION CEREMONY VISITA PRESIDENCIAL E CERIMONIA DE POSSE O peso da economia A Argentina é um raro caso de um pais rico que empobreceu. Em 1895, chegou a registrar 0 maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do planeta. Nos anos 1920 e 1930, uma expressao usual entre os europeus que desembarcavam na América do Sul era dizer “riche comme un argentin“ (“rico como um argentino”), o que causava inveja em franceses, alemies e espanhéis. A degeneracao da economia passou por muitas fases desde entao. Sofreu o impacto do regime populista de Perén, da distribuicdo desenfreada de subsidios 4s camadas mais pobres, do aumento do gasto piiblico e do inchago do Estado. Na virada do século, a economia argentina ruiu depois de bons anos de uma estabilidade chamada “uwno-uno", ou Lei da Conversibilidade, que zerou a hiperinflacao anual de 3.000%. A formula do entao ministro da Economia, Domingos Cavallo, foi a paridade cambial “délar- peso”. O pais também avangou numa agenda de privatizacoes, ajustes tributarios e abertura comercial. O entao presidente, Carlos Menem, usufruiu da popularidade. Mas 0 pesadelo estava no horizonte. 2 rankingdospoliicos © = ARGENTINA: 0 UNICO PAIS RICO QUE]. NSqUU STEN Tit sicko DA ARGENTINA No RANKING MUNDIAL DE PIB PER CAPITA Em 1885, a Argentina _- tinha.o maior PIB per capita do planeta wo 208 30" 408 7S = 001825 wD TS. 2000 209 17102 cures rankingdospoliticos A reconstrugo da Argentina terd que passar por uma profunda reforma no pensamento do povo e dos politicos. Em 1895 0 pais tinha o maior PIB per capita do planeta. Hoje, apds as péssimas decisées dos governos argentinos das Ultimas décadas, 0 percentual de populagao vivendo na pobreza ja passa de 40%. O UNICO pais rico do mundo a empobrecer. Ver todos os 434 comentarios PARTICIPACAO NO PIB Porcentual de cada pais no PIB total gerado na América do Sul em 1960 e em 2022 sn 9 12,1% @ 13% 0% - 5% 5% - 10% _10%-20% _20%-30% 30% - 40% Mais de 40% es || Fonte: World Bank, FMI Ocenario externo nao ajudou Menem com as crises em série na Asia, Russia, México e no Brasil. A moeda nacional perdeu forga ante o délar — e a divida externa crescente era calculada na moeda americana. 0 déficit disparou. As reservas cambiais acabaram logo. Houve fuga de capitais. 0 governo, entao chefiado por Fernando de la Rua, impés 0 “corralito*, o confisco das poupancas para tentar reter dinheiro no pais. O resultado foi o caos social, com uma onda de protestos e saques. 0 comércio fechou as portas. Numa cena inesquecivel para os argentinos, Fernando de la Riia teve de deixar a Casa Rosada, cercada por manifestantes batendo panelas, de helicéptero. A Argentina, entao, teve cinco presidentes em 12 dias. Em 2003, comecou a era Kirchner. Foi um periodo de 12 anos, interrompido por Mauricio Macri em 2015, e retomado depois por Alberto Fernandez e Cristina Kirchner — que s6 nao encabeca mais chapas porque esta as voltas com processos por corrup¢ao. 0 periodo tem como marcas 0 aumento desenfreado dos gastos publicos e o clientelismo. Como num tango, o drama da hiperinflagao retornou — vai chegar a 180% —, assim como a desvalorizagao da moeda, a divida externa, a falta de crédito e de reservas. Sergio Massa $6 concorreu neste ano porque Alberto Fernandez abriu mao de tentar a reeleigao — algo inédito na histéria. Segundo institutos de pesquisa, seu nome era rejeitado por quase 80% dos eleitores. O levantamento mais recente aponta que quase metade da populacao vive em condigdes de pobreza. O PIB encolheu 3% E impossivel afirmar que a era do peronismo chegou ao fim. Mas 0 “kirchnerismo”, ou “peronismo a brasileira’, provavelmente, sim.

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