You are on page 1of 8

SANT’ANNA, AFONSO ROMANO DE.

ANÁLISE ESTRUTURAL DE ROMANCES


BRASILEIROS
(PETRÓPOLIS:VOZES,1973)
O CORTIÇO
Conjunto 1: cortiço, simples. Elementos têm constituição primária. Nível
da natureza. Instinto.
 
Conjunto 2: casa do Miranda, complexo. Nível da cultura. Regime de
trocas.
 
- os dois conjuntos mantêm entre si um conjunto de trocas.
- movimentação de Romão é para sair do solo puramente biológico e
instintivo e entrar numa organização social regida por um sistema
jurídico e político representativo da Cultura.
- a mesma estrutura que opõe a casa de D. Antônio de Mariz aos aimorés,
em O Guarani: o cortiço está para os aimorés, assim como a casa de
Miranda está para a casa de D. Antônio.
- no conjunto 1, a maioria é de pretos e mestiços, e os outros acabam se
comportando como a maioria (Jerônimo, Pombinha).
- coletivismo tribal [cortiço é sinônimo de colméia].
- no cortiço, seres primitivos, animalizados, que os nivela por baixo,
identificando-os.
- o crescimento do cortiço é horizontal, uma reprodução por “meiose”, que chega
a 95 moradias.
- seu crescimento esbarra na verticalidade do conjunto 2.
 
- no conjunto 2:
- Miranda é gerundivo de miror, admirar: o que deve ser admirado, evidente.
- Miranda assiste de cima aos festejos e as brigas no cortiço.
- Estela (estrela)
- Zulmira;
- Henriquinho (rico, poderoso)
- Botelho – seu nome significa parasita, praga. É um intruso no conjunto 2, e por
isso pode ser o intermediário do casamento entre Romão e Zulmira.
RELAÇÕES INTERNAS DE CADA CONJUNTO (endógenas)
 
- as soluções dos conflitos no conjunto 1 são sempre através de violência e morte:
1) Bruno / Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia se encontra com
Henriquinho, a solução é a destruição da casa e a expulsão da mulher;
2) Jerônimo / Firmo: briga de porrete e navalha, e assassinato de Firmo;
3) Romão / Bertoleza: ao se ver traída, Bertoleza rasga a barriga, derramando as
vísceras no chão;
4) Rita / Piedade: xingam-se com nomes de animais, reafirmando o primitivismo.
 
- as soluções dos conflitos no conjunto 2 se dão através de trocas de objetos e dons:
1) Estela / Miranda: a mulher entra com o capital, e o homem com a sua gerência;
2) Botelho sabe das relações entre Henriquinho e Estela, mas não fala, porque
precisa agradar ao marido e à mulher para permanecer na casa;
3) Miranda tolera as infidelidades de Estela por causa do dinheiro.
A primeira circunstância que vai preencher a sua transformação é a descoberta da
hesitação sentimental do ferreiro Bruno. Bruno fora vítima de um escândalo: a
sua Leocádia teve uma relação sexual com o Henriquinho no meio dos bambus
e bananeiras e tudo em troca de o Henriquinho lhe presentear com um
coelhinho branco: O escândalo assanhou a estalagem inteira (...) (60)
No entanto, com o tempo a ira de Bruno se arrefeceu e este procurou Pombinha,
que sempre lia cartas ou as escrevia Numa pequena mesa, coberta por um
pedaço de chita, com o tinteiro ao lado da caixinha de papel, a menina escrevia
(p. 45). Esta mesa é emblemática do determinismo. E agora aquele homem,
embrutecido pelas exigências de seu trabalho com o ferro, solicitava em
soluços que Pombinha pusesse na carta para Leocádia que Eu esqueço tudo! (p.
96). A reação de Pombinha foi ficar impressionada pela transformação da voz
dele (Idem) e ela viu as lágrimas escorrendo-lhe pela barba.
Esse fato, bem como os outros outrora vivenciados, se insinua em sua estrutura
psicológica: De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de
donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes
mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor. (p.
45) Nela despertará um outro valor: a mulher pode mais do que o homem,
como se lê na passagem: Ah! Homens! Homens! (p. 97)
O SISTEMA DE TROCAS (exógeno – entre os conjuntos)
- Romão / Miranda: Romão tenta escapar do nível horizontal, perseguindo
títulos de nobreza, para sobressair da massa.
- o muro é o símbolo do confronto entre os dois conjuntos. É o limite entre a
selva e o jardim, entre a natureza e a cultura.
- no final, os dois sistemas partem para um sistema de alianças, através do
casamento de Romão e Zulmira, que efetiva a passagem, a “troca”.
 
- alterações nos personagens:
1) Romão: elemento vitorioso na seleção das espécies. Ele se modifica e
ascende na escala social.
2) Miranda: sua posição de baronato se mantém e ele atinge o baronato.
3) Jerônimo: depois de atingir o máximo de sua posição de assalariado, entra
em degenerescência.
- linha ascendente: Romão;
- linha estável: Miranda;
- linha descendente: Jerônimo.
 
- no entanto, para cada personagem, também, cada grau a mais (cada avanço social) corresponde a um
degrau abaixo na degradação moral:

1) Romão:
Visconde
proprietário da avenida
proprietário da estalagem
proprietário do cortiço
proprietário do terreno
vendeiro
falseia alforria de Bertoleza
rouba materiais
rouba Domingues e Libório
2) Jerônimo: no início é comparado a um Hércules. Chega com ideais de
ascensão. Vai se envolvendo com o novo ambiente, e sucumbe ao sol dos
trópicos através dos sentidos: se entrega à música brasileira (audição) e
esquece os fados portugueses;
não resiste à dança da Rita Baiana (visão); entorpece-se com o aroma da Rita
(olfato) e critica o cheiro de Piedade; prefere o café e a cachaça, em vez do
chá preto da mulher (paladar).
 

contramestre
faz lajedos briga com Firmo
faz paralelepípedos mata Firmo
quebrador de pedras deixa a família
colono miséria

You might also like