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New Journalism

- Manifesto foi escrito em 1973 por Tom Wolfe:

• Reconstrução da história cena a cena


• Apresentação das cenas pelos diversos personagens
• Registro de hábitos, roupas, gestos e outras características
simbólicas dos personagens
• O lead é substituído por formas mais criativas que buscam
despertar a atenção e a curiosidade do eitor
“Hiroshima” (1946) – John Hersey
- Em 1945, os Estados Unidos utilizaram
bombas atômicas pela primeira vez na história
do mundo: o alvo foram as cidades japonesas
de Hiroshima e Nagasaki. Objetivo: forçar o
Japão a se render.

- A ação marcou o fim da Segunda Guerra


Mundial. Em Hiroshima, mais de 70 mil pessoas
morreram instantaneamente. A bomba lançada
em Nagasaki matou mais 40 mil pessoas.
Jornalismo Literário
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

No dia 6 de agosto de 1945, precisamente às oito e quinze da manhã, hora do Japão,


quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, a srta. Toshiko Sasaki,
funcionária da Fundição de Estanho do Leste da Ásia, acabava de sentar-se a sua
mesa, no departamento de pessoal da fábrica, e voltava a cabeça para falar com sua
colega da escrivaninha ao lado. Nesse exato momento, o dr. Masakuzu Fujii se
acomodava para ler o 'Asahi' de Osaka no terraço de seu hospital particular,
suspenso sobre um dos sete rios deltaicos que cortam Hiroshima; a sra. Hatsuyo
Nakamura, viúva de um alfaiate, observava, da janela de sua cozinha, a demolição da
casa vizinha, situada num local que a defesa aérea reservara às faixas de contenção
de incêndios;
“Hiroshima” (1946) – John Hersey
o padre Wilhelm Kleinsorge, jesuíta alemão, lia a 'Stimmen der Zeit', revista da
Companhia de Jesus, deitado num catre, no terceiro e último andar da casa da missão
de sua ordem; o dr. Terufumi Sasaki, jovem cirurgião, caminhava por um dos
corredores do grande e moderno hospital da Cruz Vermelha local, levando uma
amostra de sangue para realizar um teste de Wassermann; e o reverendo Kiyoshi
Tanimoto, pastor da Igreja Metodista de Hiroshima, parava na porta de um ricaço de
Kobi, bairro do oeste da cidade, para descarregar um carrinho de mão cheio de coisas
que resolvera transferir para ali por temer o maciço ataque dos B-29, que a população
aguardava. Uma centena de milhares de pessoas foram mortas pela bomba atômica, e
essas seis são algumas das que sobreviveram. Ainda se perguntam por que estão
vivas, quando tantos morreram. Cada uma delas atribuiu sua sobrevivência ao acaso
ou a um ato da própria vontade - um passo dado a tempo, uma decisão de entrar em
casa, o fato de tomar um bonde e não o outro. Agora, cada uma delas sabe que no ato
de sobreviver viveu uma dúzia de vidas e viu mais mortes do que jamais teria
imaginado ver. Na época não sabiam nada disso”.
“Hiroshima” (1946) – John Hersey
- Em seguida, o autor começa a narrar o que cada um dos seis
personagens faziam naquele momento, destacando a
singularidade de cada um e sua relação com o acontecimento;

- São seis histórias diferentes, que se cruzam e se encaixam em


vários momentos;

- Hersey consegue hierarquizar as informações, apresentando


os fatos de forma clara e atrativa, sob o seu olhar e presença;
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

- Os personagens são: Srta. Toshiko Sasaki, funcionária de


uma casa de fundição; Dr. Masakazu Fujii, médico que
possuía um hospital particular; Sra. Hatsuyo Nakamura,
viúva de guerra com três filhos (de 10, 8 e 5 anos); Dr.
Terufumi Sasaki, cirurgião que trabalhava no hospital da
Cruz Vermelha; Padre Wilhelm Kleinsorge, jesuíta alemão; e
Reverendo Kiyoshi Tanimoto, pastor.
“Hiroshima” (1946) – John Hersey
Capítulos:

- Um clarão silencioso (momento da explosão)


- O fogo (instantes logo após a tragédia)
- Investigam-se os detalhes (dias que se seguiram)
- Flores sobre ruínas (até um ano depois da bomba)
- Depois da catástrofe (adicionado posteriormente, em uma nova
edição)

Títulos literários, em vez de manchetes objetivas do


jornalismo
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

- Muitas reportagens foram feitas sobre a bomba, mas Hersey


apresentou uma perspectiva diferente, mais ampla, com foco na
humanização das vítimas: o ineditismo da obra está justamente
nessas pessoas, que deixam de ser “apenas” números.

“Quando escolher um tema, deve pensar em como sua


abordagem pode contribuir para a formação do cidadão,
para o bem comum, para a solidariedade” (PENA, 2006, p.
14).
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

Um ano depois da explosão a Srta. Sasaki era uma aleijada; a sra.


Nakamura vivia na pobreza; o padre Kleinsorge estava novamente
hospitalizado; o dr. Sasaki não dava conta do trabalho como antes; o
dr. Fujii perdera o hospital de trinta quartos que levara muitos anos
para adquirir e não planejava reconstruí-lo; o Sr. Tanimoto continuava
com sua igreja em ruínas e já não tinha sua excepcional vitalidade. A
vida dessas seis pessoas, que estavam entre as mais afortunadas de
Hiroshima, nunca voltaria a ser a mesma (HERSEY, 2002, p.93).
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

As crianças maiores se mantiveram em silêncio, porém Myeko, a


caçula de cinco anos, não parava de perguntar: ‘Por que já é noite?
Por que nossa casa caiu? O que aconteceu?’. Sem saber o que havia
acontecido (não soara o aviso de que o perigo passara?), a mãe olhou
em torno e, através da escuridão, percebeu que todas as casas tinham
desabado (HERSEY, 2002, p.25).
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

Ao longo da narrativa, fica explícito que a reportagem não poderia ter


sido redigida de outra maneira, sem as fontes testemunhais. Hersey
relata em várias partes da obra o que pensavam os personagens
sobre a explosão, suas dúvidas e incertezas. Também demonstra
casos extremamente singulares, que jamais teriam sido contados a
partir de outras perspectivas que não às das vítimas. Um exemplo é o
episódio da mulher que carregava seu bebê falecido e procurava
desesperadamente seu marido, negando-se a aceitar que o mesmo
também estava, provavelmente, morto.
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

Evidentemente o bebê estava morto havia já muitas horas. A


sra. Kamai se levantou de um salto ao ver o reverendo e pediu:
‘O senhor poderia tentar localizar meu marido, por favor?’. (...)
Sabia que não havia possibilidade de encontrar o marido da
jovem, ainda que o procurasse, mas quis animá-la. ‘Vou tentar’,
respondeu (HERSEY, 2002, p.47).
“Hiroshima” (1946) – John Hersey

Outro trecho que pode ser destacado é a descrição de Hersey sobre o


hospital da Cruz Vermelha no dia após a explosão:

O dr. Sasaki passara o dia inteiro sem sequer olhar para fora; o que via
dentro do hospital era tão terrível que não lhe ocorrera perguntar nada
sobre o que acontecera para além daquelas paredes. Tetos e divisórias
tinham caído; reboco, pó, sangue e vômito se espalhavam por toda parte.
Pessoas atingidas morriam às centenas, mas não havia ninguém para
remover os corpos (HERSEY, 2002, p.52). ]
Como não há tempo no Jornalismo diário, os repórteres sempre
procuram os personagens que já estão legitimados neste círculo
vicioso. Mas é preciso criar alternativas, ouvir o cidadão comum, a
fonte anônima, as lacunas, os pontos de vista que nunca foram
abordados (PENA, 2006, p.15).
Edifício Master (2002)

Documentário do Eduardo Coutinho sobre um antigo edifício em


Copacabana, com 12 andares, 23 apartamentos por andar, 276
apartamentos conjugados e cerca de 500 moradores.
https://vimeo.com/816898017
Obrigada! ;)

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