You are on page 1of 20

Estado e Democracia

O conceito de Estado de Direito

Locke defende, em sua obra “Segundo Tratado Sobre o Governo”, a


supremacia do Poder Legislativo, sujeito ao povo, poder esse que deve ser
exercido em nome do povo.

“Fazer lei é prescrever as normas, os preceitos que devem reger os homens


e as coisas, as autoridades e a sociedade em todas as suas relações; é
exercer a alta faculdade de regular todas as forças sociais, seu
desenvolvimento, os destinos públicos, de fazer a prosperidade ou a
desgraça do país” (Pimenta Bueno, Direito Público e Análise da
Constituição do Império. Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, 1958. p.
67)
Estado e Democracia

A relação entre o conceito de Estado de Direito, Representação e Democracia

Uma vez criado o Estado de Direito e garantido o princípio da Legalidade a


partir das Revoluções Liberais do Século XVIII, a preocupação dos pensadores
do Estado seria garantir que essas leis fossem realmente o reflexo da vontade da
sociedade.

“A ideia moderna de um Estado Democrático tem suas raízes no Século XVIII,


implicando a afirmação de certos valores fundamentais da pessoa humana,
bem como a exigência de organização e funcionamento do Estado tendo em
vista a proteção daqueles valores. (...) as grandes transformações do Estado e
os grandes debates sobre ele, nos últimos dois séculos, tem sido determinados
pela crença naqueles postulados” (Dalmo de Abreu Dallari, Elementos de
Teoria Geral do Estado, 33 Ed., São Paulo: Saraiva, 2016, Capítulo VI: Estado
e Governo).
Estado e Democracia

A relação entre o conceito de Estado de Direito, Representação e Democracia

Levando-se em consideração a necessidade de se aprimorar o Estado de Direito (leia-se.


“Estado das Leis”), a fim de que essas leis fossem o fiel reflexo da vontade da população,
surge a necessidade de essas leis serem feitas da forma mais representativa possível.

Surge então a idéia de REPRESENTAÇÃO, uma vez que na sociedade moderna, nem
todos podem diretamente elaborar as normas de um país. Pessoas escolhidas por todos e,
portanto, representando esse todo, passam a deter o PODER POLÍTICO de fazer as leis no
estado de direito.
Estado e Democracia
A relação entre o conceito de Estado de Direito, Representação e Democracia

A busca de uma melhor representação dos interesses da sociedade, a fim de que as


leis sejam um reflexo da “vontade geral”, fez com que os pensadores do Estado
moderno estruturassem o Parlamento como o Poder mais representativo da
sociedade e, portanto, o detentor do poder de fazer as leis.

“Dos três poderes, detém o Legislativo o privilégio de ser o mais democrático, por
que espelha os vários matizes da opinião nacional. Enquanto os titulares do
Judiciário são, com raras exceções, nomeados pelo Governo, e o Presidente da
República é eleito pelos partidos, que constituem a maioria absoluta ou relativa,
com exclusão dos demais, a escolha dos representantes do povo é feita por todas as
forças partidárias do país”. (Francisco de Sá Filho, Relações entre os Poderes do
Estado. Rio de Janeiro: Borsoi Editor, 1959. p. 81)
Estado e Democracia
Surgimento do Conceito de Estado Democrático de Direito

Um estado fundamentado na existência de um Parlamento verdadeiramente


representativo, cujos representantes são escolhidos diretamente pelo povo,
para elaborar as leis que TODOS deverão obedecer, é a essência da noção
do Estado Democrático de Direito.

Estado de Direito é o Estado da legalidade, da discricionariedade. O


Estado Democrático de Direito, por sua vez, é o Estado da legalidade onde
as leis são o reflexo da vontade da sociedade, que se expressa por meio de
seus representantes, aptos a elaborar o ordenamento normativo.
Estado e Democracia
A noção de representação política

Hodiernamente, é fato de que a democracia é o melhor regime que se pode


estabelecer para a condução de um governo realmente eficiente em termos
de representação social.

“É claro que o único governo que pode corresponder plenamente a todas


as exigências do estado social é um governo em que haja a participação
de todo o povo: em que qualquer cidadão, mesmo na menor função
pública é útil; que a participação deveria ser por toda parte tão grande
quanto permita o grau geral de melhoria da comunidade” (John Stuart
Mill. Considerations on Representative Government. Nova Iorque: Liberal
Alta Press, 1958. p. 55).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

O Sufrágio

Eleições = característica do Estado democrático de direito. Justiça e direito de quem será governado
escolher quem os governará

A atuação do povo como corpo eleitoral o transforma em órgão do Estado

“A conquista do sufrágio universal foi um dos objetivos da revolução francesa e constou


dos programas de todos os movimentos políticos do século XIX, que se desencadearam em
busca da democratização do Estado. (...) É necessário porém, ter-se em conta que a
expressão universal não tem, na realidade, o alcance que o termo sugere. Na
verdade, quando se buscou na França o sufrágio universal o que se pretendia era abrir
caminho para a participação política dos que, não sendo nobres, não tinham qualquer posição

assegurada por direito de nascimento.” (In Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral
do Estado, 33. ed, São Paulo: Saraiva, 2016, p. 183)
Estado e Democracia
A noção de representação política

O Problema da representação partidária no Brasil

Entre os anos de 1985 e 2001, mais precisamente a data de 6 de outubro de 2001,


quando se encerrou o prazo de filiação partidária, 846 parlamentares, entre titulares
e suplentes, mudaram de partido na Câmara dos Deputados. Segundo o cientista
político, em média, 28,8% dos que assumiram uma cadeira na Câmara dos
Deputados trocaram de legenda durante o mandato.
Há ainda outro dado interessante: um total de 138 congressistas (16,3% entre os
migrantes) trocou de partido pelo menos duas vezes em uma mesma legislatura,
outros 3,5% (30 deputados), pelo menos três vezes, enquanto dez congressistas
migraram quatro vezes. Uma vez computadas todas as mudanças realizadas pelos
deputados, chega-se a um total de 1.035 migrações (MELLO, Carlos Ranulfo F.
Migração Partidária na Câmara dos Deputados: causas, conseqüências e possíveis
soluções. In: BENEVIDES, Maria Victória; VANNUCHI, Paulo; KERCHE, Fábio
(org.). Reforma Política e Cidadania. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. p. 322).
Estado e Democracia

- Origem do Estado Democrático: Século XVII, a partir da afirmação histórica dos


direitos fundamentais;

- A construção do Estado democrático de direito é baseado, acima de tudo, na promoção


das dimensões de direitos humanos. E esse debate persiste no século XXI;

- O Estado democrático moderno nasce antes de tudo a partir da luta contra o absolutismo
e também a partir da influência do pensamento contratualista e jusnaturalista;

- A democracia tem como características fundamentais: Supremacia da vontade


popular; a preservação da liberdade e a igualdade de direitos
Estado e Democracia

Tipos de democracia: Direta / Semidireta / Represenrativa

“A democracia no fim do século XX, mais do que um sistema de governo, uma


modalidade de Estado, um regime político ou uma forma de vida, tende a se
converter, ou já se converteu, no mais novo direito dos povos e dos cidadãos. É
um direito de qualidade distinta. Direito que eu diria de quarta geração” (In
Bonavides, Paulo. Teoria Geral do Estado, 9. ed., São Paulo: Malheiros, 2012,
p. 521)
Estado e Democracia

Tipos de Representação na democracia

Representação Profissional: Surgimento com o movimento proletário,


conjugando ideias socialistas e anarquistas

Desenvolve-se especialmente durante a Revolução Industrial na Inglaterra,


com o surgimento da máquina à vapor e das linhas de produção.

Dessa situação, decorreu para os seus subordinados, uma situação caótica,


pois eram quase que exclusivamente uma única fonte de renda, trabalho
árduo, salário precário, sem qualquer garantia, tal como estabilidade, e
principalmente sem qualquer amparo político, de cobrança com relação ao
Estado.

A representação política, deve seus primórdios, na maioria dos casos,


ilustra o jogo de interesses econômicos ligados a grupos específicos, sem
qualquer ou pouca afinidade com suas necessidades sociais.
Estado e Democracia
Tipos de Representação na democracia

Representação Corporativa: A base desta representação é esta, a


coletividade, que se repartirá por força organizaconal da divisão do trabalho
com diferentes funções sociais definidas.

Apresentam duas características fundamentais:

a) são órgãos naturais, por meio dos quais a vida do Estado se


manifesta;

b) sendo órgãos naturais, que brotam da própria vida social, não


são apenas econômicos. Ao lado das corporações econômicas
existem as sociais e as culturais, como a Igreja, o exército, a magistratura,
a corporação da educação nacional, da saúde pública, das ciências e
das artes.
Estado e Democracia

Tipos de Representação na democracia

Representação Institucional: Teoria da Instituição. A representação se dá por


um ENTE, e não por um INDIVÍDUO

Representação de IDEIAS e INTERESSES

Corporificada a partir de CONSELHOS (a ex. da Ex-URSS ou Iugoslávia)

A força das Organizações Sociais no mundo contemporâneo e o lobby


Estado e Democracia

A democracia segundo Robert Dahl

“Que instituições políticas exige a democracia em grande escala? Uma


democracia em grande escala exige:

1. funcionários eleitos;
2. eleições livres, justas e frequentes;
3. liberdade de expressão
4. fontes de informação diversificadas;
5. autonomia para associações
6. cidadania inclusiva” (In Sobre a democracia. Trad. Beatriz Sidou,
Brasília: Ed. UNB, 2001, p. 99)
Estado e Democracia

Stuart Mill e a ideia da Representação Política

“É evidente que o único governo que pode corresponder plenamente a


todas as exigências do estado social é um governo em que todo o povo
participa; em que qualquer participação, mesmo na menor função
pública, é útil.; que a participação deveria ser de toda parte tão grande
quanto permita o grau geral de melhoria da comunidade; e que, em
última análise, nada pode ser menos desejável do que a admissão de
todos numa parcela do poder soberano do estado. Numa comunidade
que exceda o tamanho de uma cidadezinha, todos não podem participar
pessoalmente de qualquer porção dos negócios públicos, a não ser
alguma muito pequena; portanto, o tipo ideal de governo deve ser
representativo” (In Considerations on representative government. NY:
Liberal Art Press, 1958, p. 55)
Estado e Democracia
Democracia segundo Norberto Bobbio

Bobbio rechaça a tese socialista de transição de uma sociedade de


classes para uma sociedade igualitária. Para o autor italiano, a sociedade burguesa
conseguiu aprimorar a democracia de fato.

Só a DEMOCRACIA BURGUESA representa uma vitória real


da classe trabalhadora em sua luta sobre o modus operandi do Estado
Capitalista. Foi esta classe trabalhadora que deu conteúdo democrático as
instituições liberais

A emancipação política da sociedade é um pré requisito para o


fortalecimento da democracia representativa. A emancipação política seria pré
requisito para a emancipação econômica.

É a própria democratização do Estado que deve servir de base para a


democratização da sociedade
Estado e Democracia

Democracia segundo Norberto Bobbio (2)

» Paradoxos da democracia moderna:

1. as pessoas exigem cada vez mais democracia . Por outro lado, as


grandes organizações tem dificuldade em respeitar as regras do jogo
democrático, dentre elas o Estado. Essas organizações, porém, crescem
a cada dia, dominando cada vem mais a sociedade.
As condicionantes para se criar, de fato, uma democracia operária,
nesse cenário, são desfavoráveis;

2. O Estado moderno, como uma empresa privada, cresce em tamanho


e atribuições. Esses aumentos provocam um crescimento da
burocracia formalizada por uma estrutura hierárquica e não democrática,
o que dificulta também o aumento da participação
Estado e Democracia
Democracia segundo Norberto Bobbio (3)

» Paradoxos da democracia moderna:

3. As sociedades industriais capitalistas acumulam problemas que


requerem soluções técnicas , que requerem a presença dos tecnocratas .
Um governo de tecnocratas, para Bobbio, é o oposto da democracia,
uma vez que esta é o governo dos cidadãos;

4. A democracia pressupõe o livre e completo desenvolvimento das


faculdades humanas, o que se contrapõe com a uniformidade
generalizada de uma sociedade de massas. Este tipo de sociedade geraria
a decadência da individualidade, característica fundamental para a tomada
das decisões democráticas.
Estado e Democracia
Democracia segundo Nicos Poulantzas

Embora a classe trabalhadora tenha talhado o conteúdo democrático das


instituições liberais, apenas a luta das massas.Ainda que em uma
democracia representativa em sociedades capitalistas possa ser um terreno
favorável para a organização das forças populares, este processo não
encontrará respaldo no parlamento, pois este Poder não fará as mudanças por
sí, a menos que influenciado por um verdadeiro movimento de massas , que
empodere de fato o processo democrático .

A democracia é de fato socialismo, entendido aqui como as conquistas das


liberdades políticas das massas, dentro do sistema capitalista. Isto amplia de fato
a democracia representativa.

“Como é possível transformar radicalmente o Estado de tal maneira que a


expansão e o aprofundamento das liberdades políticas e das instituições da
democracia representativa se combinem com o desfraldamento de formas
de democracia direta e a ploriferação de organismos autoadministrados?”
(in State, power, socialism, Londres: New Left Books, 1980, p. 256)
Estado e Democracia

Democracia em sociedade comunista: seria a igualdade em virtude da ausência


de classes, que justificaria o fim do Estado

“A democracia política desenvolvida no contexto do Estado tem


sido, para os marxistas leninistas, uma contradição conceitual. A
política da transição do capitalismo ao socialismo, na literatura
marxista, é vaga, exceto no que diz respeito à eliminação da burguesia
como força social e, por definição, a eliminação do Estado burguês”
(Martin Carnoy. Estado e Teoria Política, Trad. PUCCAMP, 17 ed. Campinas:
Papirus, 2013, p. 201)

You might also like