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DIREITO CIVIL: TEORIA

GERAL DO DIREITO
PRIVADO
Prof. Dr. Caio Morau
BENS
B) Bens móveis e imóveis

I) Imóveis: aqueles que não podem ser transportados de um lugar para outro sem alteração de

sua substância

• Art. 79, CC: “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou

artificialmente”

• Dividem-se em imóveis a) por natureza; b) por acessão natural; c) por acessão artificial ou

industrial

a) por natureza

- O solo, com seu subsolo e seu espaço aéreo, é bem imóvel por natureza, de modo que tudo

quanto vier a ser incorporado a ele deverá pertencer às outras categorias, que tratam da

acessão

- O art. 1.229 do Código Civil afirma que "a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e

subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício"


BENS
- Contudo, toda regra tem boas exceções
- É o que se observa pelo teor do art. 176 da
Constituição Federal: "As jazidas, em lavra ou não, e demais
recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica
constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida
ao concessionário a propriedade do produto da lavra."
b) por acessão natural
- Acessão significa justaposição ou aderência de uma
coisa a outra
- São os acessórios naturais, como as árvores e seus
frutos pendentes, as pedras, fontes, cursos d'água. É importante
lembrar que no caso das árvores, se forem destinadas ao corte,
serão consideradas móveis por antecipação.
BENS
- Ainda nessa categoria de imóveis por acessão natural, é
possível mencionar os casos em que a própria natureza faz acréscimos
aos solos. São os casos de formação de ilhas, aluvião, dentre outros
- Essas situações configuram modo originário de aquisição da
propriedade, de modo que tudo que se incorpora ao bem fica
pertencendo ao proprietário
c) por acessão artificial ou industrial
- O homem pode incorporar bens móveis ao solo, como
materiais de construção ou sementes, dando origem ao que se chama
de acessão artificial ou industrial
- Desse modo, as construções e plantações constituem modo
originário de aquisição da propriedade, sobretudo pelos termos do art.
1.253 do Código Civil, que dispõe que "toda construção ou plantação
existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua
custa, até que se prove o contrário."
BENS
d) por determinação legal
- O art. 80 do Código Civil dispõe que também são
considerados imóveis para os efeitos legais: I) os direitos reais sobre
imóveis e as ações que o asseguram; II) o direito à sucessão aberta
- Esses incisos contemplam bens incorpóreos, mas que, em
nome de uma maior segurança jurídica, passam a ser considerados
imóveis
- No caso do primeiro inciso, qualquer direito real que recaia
sobre bens imóveis, seja direito real de gozo (servidão, usufruto, etc.),
seja direito real de garantia (penhor, hipoteca), deve ser objeto de
registro e o negócio só pode ser efetivado mediante autorização do
cônjuge
- O segundo inciso, que contempla o direito à sucessão aberta
como bem imóvel, envolve o direito à herança enquanto unidade,
conjunto único de todas as coisas que estão nela contidas, ainda que
sejam somente bens imóveis.
BENS
- Portanto, caso se resolva renunciar à herança, como se trata de
renúncia de bem imóvel, só será possível, nos termos do art. 1.806 do Código
Civil, por escritura pública ou termo nos autos, mediante autorização do
cônjuge
• Utilidade da distinção entre bens móveis e imóveis
I) Os bens móveis geralmente se adquirem pela tradição (traditio =
entrega), ao passo que os bens imóveis, via de regra, dependem de
escritura pública e registro no Cartório de Registro de imóveis;
II) Os bens imóveis, para que sejam alienados, hipotecados ou gravados de
ônus real, necessitam da anuência do cônjuge, salvo no regime de
separação absoluta de bens. Para os móveis, já não há essa necessidade;
III) Hipoteca se reserva aos bens imóveis (com exceção dos navios e
aeronaves), enquanto o penhor incide sobre bens móveis;
IV) No direito penal, só podem ser objeto de furto ou roubo bens móveis;
V) A usucapião de bens imóveis geralmente se dá com prazos maiores,
como os de 5, 10 e 15 anos, ao passo que a de bens móveis tem prazos
mais exíguos, como os de 3 e 5 anos
BENS
C) Bens fungíveis e infungíveis
• Bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros
da mesma espécie, quantidade e qualidade (ex: café, dinheiro), ao
passo que os infungíveis são os de natureza insubstituível (ex: uma
obra de arte).
• A fungibilidade costuma ser tratada como característica dos bens
móveis porque somente neles seria possível aferir a equivalência
dos substitutos
• É também possível que um bem se torne infungível por vontade das
partes. O exemplo clássico é de uma moeda que pode passar a se
revestir de infungibilidade pelo desejo de um colecionador
• Alguns efeitos práticos da distinção entre bens fungíveis e
infungíveis: o mútuo recai somente sobre bens fungíveis, ao passo
que o comodato tem por objeto apenas os infungíveis; a
compensação, nos termos do art. 369, só se dá entre dívidas
líquidas, vencidas e de coisas fungíveis
BENS
D) Bens consumíveis e inconsumíveis
• Nos termos do art. 86 do Código Civil, são consumíveis "os bens
móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância,
sendo também considerados tais os destinados à alienação"
• Em outras palavras, os bens podem ser consumíveis de fato (de
forma natural) ou de direito (juridicamente consumíveis). Como
exemplo, um sanduíche é consumível de fato e se extingue por seu
uso normal; um livro na estante de uma livraria, ali colocado para
ser vendido, é consumível de direito
• Contudo, um livro que esteja na estante da biblioteca de uma
faculdade passa a ser inconsumível, já que não tem mais o objetivo
de alienação
• Já os bens inconsumíveis são aqueles que podem ser utilizados de
maneira contínua, sem que a sua substância seja destruída, o que
não afasta o desgaste natural dos produtos ao longo do tempo
BENS
• Assim como no caso dos bens fungíveis e infungíveis, também os
bens consumíveis podem se tornar inconsumíveis pela vontade das
partes. Como exemplo, uma garrafa de vinho bastante antiga e
valiosa que é emprestada para uma exposição
• Embora se aproximem bastante, fungibilidade e consuntibilidade
não se equivalem. Via de regra, os bens consumíveis são fungíveis,
mas há bens fungíveis que não são naturalmente consumíveis, como
os livros didáticos
E) Bens divisíveis e indivisíveis
• O art. 87 do Código Civil dispõe que bens divisíveis "são os que se
podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição
considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destinam"
• Uma grande novidade desse dispositivo, introduzida pelo Código de
2002, foi a parte que fala de "diminuição considerável de valor”
• Ex: herdeiros que recebem do falecido um diamante de 100 quilates
BENS
• Portanto, há três categorias de indivisibilidade, ou seja, os bens
podem ser indivisíveis:
a) por natureza: quando não se puder fracionar o bem sem
alteração na sua substância, diminuição do valor ou prejuízo do uso
(ex: um quadro);
b) por determinação legal: é a própria lei que determina a
indivisibilidade (servidões prediais - art. 1.386; hipoteca - art. 1.421;
direito dos coerdeiros à propriedade e à posse da herança até a
partilha - art. 1.791);
c) por vontade das partes (nos termos do art. 1.320, § 1°, os
condôminos podem ajustar que a coisa fique indivisa por no máximo
cinco anos, prorrogáveis; o parágrafo seguinte diz que se a indivisão
for estabelecida pelo doador ou testador, o prazo máximo e
improrrogável é de 5 anos).
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F) Bens singulares e coletivos
• Diz o art. 89 do Código Civil que "são singulares os bens que,
embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos
demais."
• Uma árvore, portanto, pode ser um bem singular caso considerada
individualmente ou em conjunto, formando uma universalidade de
fato, que é a floresta
• Interessa-nos nessa divisão justamente a noção de universalidade de
fato e universalidade de direito
• A primeira, de acordo com o art. 90 do Código Civil, é uma
pluralidade de bens singulares que, pertencendo à mesma pessoa,
tenham uma destinação unitária. Como exemplo, uma biblioteca ou
um rebanho. Nesse caso, está-se diante de um conjunto de bens
ligado pela vontade do titular
• Já na universalidade de direito, que seria o complexo de relações
jurídicas de uma pessoa, revestidas de um valor econômico, é a
própria lei que determina essa unidade. É o caso da herança e da
BENS
G) Bens principais e acessórios
• O bem dito principal tem existência própria, autônoma, ao passo
que o acessório só existe em razão do principal. Por exemplo, a
hipoteca tem a característica de acessoriedade em relação a um
contrato principal
• Geralmente, o critério utilizado para diferenciar o principal do
acessório é o econômico, na medida em que, via de regra, o
acessório é economicamente dependente do principal
• Mas como pode ocorrer que o acessório venha a ter,
excepcionalmente, um valor maior do que o principal, geralmente se
utilizam também os critérios da extensão e da qualidade para
verificar a posição de acessório.
• Consequências: a) a natureza do acessório é a mesma do principal.
(se o solo é imóvel, a árvore que a ele se liga também o será; b)
acessório segue o destino do principal, de modo que se a obrigação
principal se extingue, o mesmo acontece com a acessória; c) o
proprietário do principal também o é com relação ao acessório.

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