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DIREITO CONSTITUCIONAL:

HERMENÊ UTICA
CONSTITUCIONAL E DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Prof. Dr. Caio Morau
INTERPRETAÇÃ O
CONSTITUCIONAL
1) Introdução
• Interpretação do Direito: operação do intelecto por meio da qual, a
partir da linguagem dos enunciados, o intérprete chega a determinado
sentido desse mesmo enunciado, em face de um caso concreto
• Atividade construtiva e não descritiva – não se “extrai” o significado do
enunciado normativo
• Peculiaridades da hermêutica constitucional:
- Unidade do Direito, resultado da força da Constituição;
- Supremacia da Constituição;
- Tratatamento dos direitos fundamentais
• Formulação textual é o ponto de partida, o que não significa defender a
interpretação literal da norma jurídica
• Linguagem da Constituição Federal (comum) X Código Civil (técnica) –
as palavras devem ser entendidas no seu sentido usual comum, a menos
que a CF sinalize a necessdade de recorrer à linguagem técnica
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2) Abertura das normas constitucionais e mutação não textual da
Constituição
• A norma constitucional, com frequência, é apresentada sem conteúdo
preciso ou delimitado
• Permite-se, apesar dos riscos de previsibilidade e segurança jurídica, a
evolução do Direito Constitucional por meio da interpretação.
Fenômeno chamado de mutação informal ou não textual da
Constituição
• Mudança que se opera sem qualquer alteração da forma, do texto, da
Constituição
• Abertura semântica das Constituições, especialmente após a Segunda
Guerra Mundial, e com a incorporação de normas principiológicas,
contribuiu para a intensificação desse fenômeno
• Pressupõe a interpretação anterior por meio do Tribunal e a fixação
posterior de outra interpretação para o mesmo suporte normativo –
comparação temporal e diversidade de compreensão
• Não há nenhuma regra na CF a esse respeito
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• Exemplo de mutação informal:
Art. 5°, XI, CF: “a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”
• Antigamente, “casa” era compreendida apenas como
sinônimo de residência
• Atualmente, a jurisprudência do STF evoluiu para ampliar
a compreensão do termo para abranger quarto de hotel,
trailer, estabelecimento empresarial, local de trabalho
• Todos passam a ser contemplados pelo dispositivo da CF
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3) Princípios de interpretação constitucional
A) Unidade da Constituição
• A CF deve ser interpretada de modo a evitar contradições
(antinomias/antagonismos) entre as suas normas
• Harmonização: coordenação e combinação dos bens jurídicos em
conflito de forma a evitar o sacrifício de uns em relação aos outros
• Nenhum direito, garantia ou liberdade pode ser tomado como
absoluto, porque todos sofrem restrição
• Necessidade de uma interpretação sistemática – coesão entre as
normas.
• As normas constitucionais são fruto da vontade unitária do Poder
Constituinte, sendo geradas simultaneamente. Não podem estar em
conflito e nem pode haver hierarquia entre as normas
constitucionais
• Eros Grau: “Não se interpreta a Constituição em tiras, aos pedaços”
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B) Maximização das normas constitucionais
• Também chamado de princípio da eficácia ou da
interpretação efetiva
• “A uma norma constitucional deve ser atribuído o
sentido que maior eficácia lhe dê” (Canotilho)
• Maior eficácia = maior efetividade social
• Não se deve interpretar uma regra de maneira que
algumas de suas partes ou palavras acabem se tornando
supérfluas
• É vedado desprezar alíneas, incisos, parágrafos ou artigos
da Constituição
• Aplicado de modo especial aos direitos fundamentais
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C) Interpretação conforme a Constituição
• Decorrência direta da ideia de supremacia das normas
constitucionais sobre as demais normas do ordenamento
• Havendo várias interpretações possíveis para
determinado texto, deve-se prestigiar aquela que esteja
em consonância com a CF
• Verdadeiro mecanismo de controle de
constitucionalidade
• Determinação do sentido da norma para preservá-la no
ordenamento jurídico, evitando a sua anulação
• Risco: transformar o Judiciário em legislador positivo
• Barroso: “necessidade de buscar uma interpretação que
não seja a que decorre da leitura mais óbvia do
dispositivo”
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D) Concordância prática ou harmonização
• Ligado ao princípio da unidade
• Coordenação e combinação dos bens jurídicos em
conflito para evitar o sacrifício total de uns em
relação aos outros
• Os bens constitucionais são de igual valor, de modo
que essa ausência de hierarquia impede que um
aniquile o outro, caso entre em aparente conflito
• Necessária a fixação de limites e condicionamentos
recíprocos, buscando uma solução que viabilize a
realização de todos os bens jurídicos envolvidos
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E) Presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos
• As leis e atos nortmativos desfrutam da presunção de validade já que,
idealmente, se fundam na legitimidade democrática dos agentes
públicos eleitos, no dever de promoção do interesse público e no
respeito aos princípios constitucionais
• Presunção relativa
• Ônus da prova recai sobre quem alega a invalidade ou
inconstitucionalidade
• Como consequência, os magistrados, em regra, não devem declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo quando:
- a inconstitucionalidade não for patente e inequívoca, existindo
tese jurídica razoável para preservação da norma
- for possível decidir a questão por outro fundamento, evitando a
invalidação do ato de outro Poder
- existir interpretação alternativa possível (interpretação
conforme a Constituição)
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F) Princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade
• Fundamento nas ideias de devido processo legal substantivo e de
justiça
• Instrumento de proteção dos direitos fundamentais e do interesse
público, permitindo o controle da discricionariedade dos atos do
Poder Público
• Medida com que uma norma deve ser interpretada no caso concreto
para a melhor realização do fim constitucional nela embutido ou
decorrente do sistema
• É violado quando:
- não houver adequação entre o fim perseguido e o
instrumento empregado
- a medida não for exigível ou necessária, havendo meio
menos gravoso para chegar ao mesmo resultado
- os custos superarem os benefícios
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G) Princípio da supremacia da Constituição
• A Constituição e, em especial, os direitos fundamentais nela
consagrados, situam-se no topo da hierarquia do sistema normativo,
de sorte que todos os demais atos devem ter ambos como critério
de medida
• Arquitetura institucional (relação entre os órgãos constitucionais): a
supremacia da CF implica o caráter secundário (dependente e
subordinado) da legislação e do legislador
H) Princípio da conformidade funcional
• A separação de poderes exige uma posição de deferência do
Judiciário em relação aos demais poderes e até mesmo uma espécie
de “autorrestrição” (judicial self restraint)
• Renúncia à prática da política pelos órgãos jurisdicionais
• Teoria das capacidades institucionais: deferência ao legislador e ao
administrador em relação a políticas públicas que exigem
conhecimentos técnicos estranhos ao Direito

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