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RESPONSABILIDADE CIVIL

Prof. Ricardo Duarte – ricardo.duarte1@unimep.br

Tartuce, Flávio - Manual de responsabilidade civil : volume único / Flávio


Tartuce. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
• ORIGEM

• A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional,


pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por
deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que
regula a vida.

• Neste sentido, fala-se, respectivamente, em responsabilidade civil


contratual ou negocial e em responsabilidade civil extracontratual,
também denominada responsabilidade civil aquiliana, diante da Lex
Aquilia de Damno, do final do século III a.C. e que fixou os parâmetros da
responsabilidade civil extracontratual, “(...) ao conferir à vítima de um
dano injusto o direito de obter o pagamento de uma penalidade em
dinheiro do seu causador (e não mais a retribuição do mesmo mal
causado), independentemente de relação obrigacional preexistente”
(VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil..., 2005, p. 27).
DIFERENÇAS ENTRE RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E
AQUILIANA

CONTRATUAL AQUILIANA
• CC: 389; 395 e ss. • CC: 186, 187, 927 e ss.
• ônus da prova – inadimplemento • Ônus da prova – credor necessita
presume culpa do devedor. provar culpa do devedor.
• Tem origem na convenção entre as • Tem origem na inobservância do
partes. dever genérico de não lesar a
• capacidade sofre limitações (104 outrem.
CC). • Incapazes podem gerar o dano
• a culpa obedece a um certo indenizável.
escalonamento, de conformidade • gradação da culpa, a falta se apura
com os diferentes casos em que de maneira mais rigorosa na
ela se configure. responsabilidade delitual,
podendo existir culpa levíssima.
• ORIGEM

• 1 – Responsabilização sem análise de cupla - pena de Talião, prevista na


Lei das XII Tábuas (olho por olho, dente por dente).

• 2 - Lex Aquilia de Damno, do final do século III a.C. e que fixou os


parâmetros da responsabilidade civil extracontratual.

• 3 - Máxima de Ulpiano segundo a qual in lege Aquilia et levissima culpa


venit, ou seja, haveria o dever de indenizar mesmo pela culpa mais leve.
SUBJETIVA OBJETIVA
• Conduta ou fato • Conduta ou fato
(comissiva ou (comissiva ou
omissiva) omissiva)
• Dano • Dano
• Nexo Causal • Nexo causal
• Culpa latu sensu
(dolo e a
culpa stricto sensu)
• Direito Civil Constitucional

• Segundo Gustvao Tepedino existem três princípios básicos, em relação


direta com a responsabilidade civil na CF:

• princípio de proteção da dignidade da pessoa humana, está estampado no


art. 1.º, inc. III

• O segundo princípio do Direito Civil Constitucional visa à solidariedade


social, outro objetivo fundamental da República, conforme o art. 3.º, inc. I,
da CF/1988

• princípio a Constituição consagra a isonomia ou igualdade lato sensu,


traduzido no art. 5.º, caput, da Lei Maior
• Direito Civil Constitucional

• Segundo Gustvao Tepedino existem três princípios básicos, em relação


direta com a responsabilidade civil na CF:

• Primeiro princípio é o de proteção da dignidade da pessoa humana, está


estampado no art. 1.º, inc. III

• qualquer previsão em sentido contrário, seja ela legal ou contratual, não


poderá trazer lesão a esse preceito máximo. A responsabilidade civil deve
ser encarada no ponto de vista da personalização do Direito Privado, ou
seja, da valorização da pessoa em detrimento da desvalorização do
patrimônio (despatrimonialização)
• Direito Civil Constitucional

• Segundo Gustvao Tepedino existem três princípios básicos, em relação


direta com a responsabilidade civil na CF:

• O segundo princípio do Direito Civil Constitucional visa à solidariedade


social, outro objetivo fundamental da República, conforme o art. 3.º, inc. I,
da CF/1988

• Ex: abandono paterno-filial; abandono moral; abandono afetivo


• Direito Civil Constitucional

• Segundo Gustvao Tepedino existem três princípios básicos, em relação


direta com a responsabilidade civil na CF:

• Terceiro princípio: a Constituição consagra a isonomia ou igualdade lato


sensu, traduzido no art. 5.º, caput, da Lei Maior

• a lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de maneira desigual os


desiguais (Ruy Barbosa)

• Ex: impossibilidade de tarifar o dano moral


• Ato ilícito

• Na responsabilidade civil contratual o ato “ilícito” equivale a não cumprir


o contrato, a obrigação. Princípio do pacta sunt servanda. Por isto baseia-
se nos artigos: 389, 390 e 391 do CC

• Na extracontratual ou aquiliana, o ato ilícito seria o descumprimento, em


sentido amplo, da máxima de Ulpiano - Os preceitos do direitos são estes:
viver honestamente, não lesar a outrem, dar a cada um o que é seu”

• Por isto baseia-se nos artigos: 186, 187 e 927, caput, do CC


• Ato ilícito

• o ato ilícito que interessa para os fins de responsabilidade civil,


denominado por Pontes de Miranda como ilícito indenizante, é o ato
praticado em desacordo com a ordem jurídica violando direitos e
causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência a norma jurídica
cria o dever de reparar o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito
fonte do direito obrigacional.

• Dessa forma, pode-se afirmar que o ato ilícito é a conduta humana que
fere direitos subjetivos privados, estando em desacordo com a ordem
jurídica e causando danos a alguém.

• Ato ilícito (art. 186 do CC) = Lesão de direitos + dano


• Ato ilícito
• O ato ilícito pode ser civil, penal ou administrativo

• Há casos em que a conduta ofende a sociedade (ilícito penal) e o


particular (ilícito civil), acarretando dupla responsabilidade. Ex: acidente
de trânsito
• Cuidado: art. 935 do CC/2002, a responsabilidade civil independe da
criminal, regra geral.

• Há casos em que a responsabilidade pode ser tripla, abrangendo também


a esfera administrativa, como no caso de uma conduta que causa danos
ao meio ambiente, sendo-lhe aplicadas as sanções administrativas, civis e
criminais previstas nas Leis 6.938/1981 (Política Nacional do Meio
Ambiente) e 9.605/1998 (Crimes Ambientais).
• Ato ilícito

• A ideia de lesão de direitos na forma extracontratual está expressa no art.


186 e 187 do CC/2002

• Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

• Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. (teoria do abuso de
direito ou teoria dos atos emulativos – não existia na codificação de 1916
– aplica-se também à responsabilidade contratual).
• Ato ilícito – Abuso de Direito

• Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes

• Aplica-se à responsabilidade contratual e extracontratual

• Conceito - Rubens Limongi França, que em sua Enciclopédia Saraiva do


Direito definiu o abuso de direito como “um ato jurídico de objeto lícito,
mas cujo exercício, levado a efeito sem a devida regularidade, acarreta um
resultado que se considera ilícito” (1977, p. 45).
• Ato ilícito – Abuso de Direito

• Práticas previstas no Código de Defesa do Consumidor e o conceito do


art. 187 do CC.

• Nove incisos do art. 39 da Lei 8.078/1990 também trazem casos que


mantêm íntima ligação com a concepção do art. 187 do CC/2002.

• I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento


de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites
quantitativos; (venda casada)
• II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata
medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade
com os usos e costumes; (negação de venda)
• Ato ilícito – Abuso de Direito

• Práticas previstas no Código de Defesa do Consumidor e o conceito do


art. 187 do CC.

• III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer


produto, ou fornecer qualquer serviço;

• IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em


vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe
seus produtos ou serviços;

• V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;


• Ato ilícito – Abuso de Direito

• Práticas previstas no Código de Defesa do Consumidor e o conceito do art. 187 do CC.

• VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do


consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;

• VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no


exercício de seus direitos;

• VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as


normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não
existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada
pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);

• IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha


a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação
• Ato ilícito – Abuso de Direito

• Práticas previstas no Código de Defesa do Consumidor e o conceito do


art. 187 do CC.

• XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou


deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.
• Ato ilícito – O abuso de direito e o Direito do Trabalho

• Ex: Dispensa de empregado doente. O TRT da 2.ª Região assim concluiu,


pois a dispensa do empregado, que seria afastado em virtude de doença
profissional, excede os limites da boa-fé objetiva, regramento básico da
teoria geral dos contratos e que deve ser aplicado aos contratos de
trabalho. Presente o abuso de direito, há o dever de indenizar os danos
morais. (RO 01036.2002.036.02.00-0)

• Dispensa de empregado e a posterior declaração vexatória por parte do


empregador. (TRT 2.ª Região, Recurso Ordinário, Acórdão 20050288908,
Processo 00657-2000-064-02-00-3/2003).
• Ato ilícito – A lide temerária como exemplo de abuso de direito. O abuso
no processo

• Ex: Maria Helena Diniz “se o credor requerer maliciosamente arresto de


bens que sabia não serem pertencentes ao devedor, mas a terceiros, está
agindo no exercício irregular de direito (RT 127/175). O mesmo se diga se
requerer a busca e apreensão sem necessidade, pois se trata de medida
grave, que se realiza excepcionalmente, logo, se for desnecessária e se a
utilidade que representa para o autor puder ser obtida sem ela, haverá
abuso de direito”
• Ato ilícito – A lide temerária como exemplo de abuso de direito. O abuso
no processo

• “Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como
autor, réu ou interveniente.”

• “Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que...”

• “Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-


fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez
por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com
todas as despesas que efetuou.
• O abuso do direito de propriedade. A função socioambiental da
propriedade

• Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,


e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua
ou detenha.
• § 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
• Spam e abuso de direito

• Conforme exposto, o inciso III do art. 39 do Código Consumerista determina


que seja vedado ao fornecedor de produtos e prestador de serviços enviar ou
entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto ou fornecer
qualquer serviço.

• O spammer excede os seus direitos ao enviar a mensagem sem qualquer


solicitação, agindo de maneira contrária aos bons costumes, em atitude
desrespeitosa em relação à privacidade dos destinatários de suas mensagens
eletrônicas. Aqui pode até surgir um outro posicionamento, o de que o spam é
mais do que mero ato de abuso de direito, sendo, na verdade, um evento que
fere a inviolabilidade da privacidade dos internautas, sendo essa prerrogativa
de natureza constitucional cuja regulamentação também foi feita pelo art. 21
do CC, nos seguintes termos: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o
juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.
• Spam e abuso de direito

• “Civil – Ação de indenização por danos morais – Mensagens eletrônicas indesejadas ou não solicitadas – SPAM,
Ilícito não configurado – Incidência do CDC aos negócios eletrônicos (e-commerce) – Apreciação – Propaganda
abusiva ou enganosa – Inexistência – Responsabilidade objetiva – Inaplicabilidade – Demonstração de culpa ou
dolo – Exigência – Intangibilidade da vida privada, da intimidade, da honra e da imagem – Violação não
demonstrada. 1. O simples envio de e-mails não solicitados, ainda que dotados de conotação comercial, não
configura propaganda enganosa ou abusiva, a fazer incidir as regras próprias do CDC. 2. A eventual
responsabilidade pelo envio das mensagens indesejadas rege-se pela teoria da responsabilidade subjetiva. 3.
Não há falar em dano moral quando não demonstrada a violação à intimidade, à vida privada, à honra e à
imagem. 4. Apelo provido. Sentença reformada” (TJDF, Apelação Cível 20040111151542, Acórdão 227.275, 4.ª
Turma Cível, Data: 22.08.2005, Rel. Cruz Macedo, Publicação: Diário da Justiça do DF 11.10.2005, p. 138).

• “Todavia, a questão não é pacífica na jurisprudência, eis que há decisões em sentido contrário, pela
responsabilidade civil pelo envio do spam, como a seguinte, do Tribunal de Justiça de Rondônia:

• “Indenizatória – Provedor de internet – Ataque de spam – Origem das mensagens – Comprovação – Dano
material – Configuração – Pessoa jurídica – Honra objetiva – Ofensa ausente – Dano moral – Não configuração.
Comprovada a origem das mensagens que configuraram ataque de spam, que obrigou o provedor de internet a
adotar medidas para recuperação do normal funcionamento do acesso à rede mundial de computadores para
seus clientes, são indenizáveis os danos materiais daí decorrentes. Inexiste direito à indenização por dano moral
para a pessoa jurídica quando não comprovada ofensa à sua honra objetiva, caracterizada pela fama, conceito e
credibilidade que passa ao mercado consumidor” (TJRO, Acórdão 100.007.2001.004353-1, 2.ª Câmara Cível, Rel.
Des. Marcos Alaor Diniz Grangeia, j. 29.03.2006).

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