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SELECOES DA HISTORIA DO BRASIL E DO MUNDO Propricdade de CONQUISTA, Emprésa de Publicagdes Ltda, Dir. Responsével: 8, 0, Hersen Desenhes de Renalo Silva — Legendas de Sérgie Macédo ‘Sai menecimente, Venda avulac: Cr$ 10,00 em todo o Brasil ASSINATURAS Bm viride do qumento das tarilas posicis, inclusive no Laue dia “respeite a Ih tase jeroais, chegande al. Guns casos @ 1 900%, somos lorcados @ alterar os precos. de essas assingtures para os seguintes: indices ‘REMESSA SIMPLES: Semestral (seis nimeros) ao Aaual (12 nameros) 1m REMESSA SOB REGISTRO: ‘Semestral (1 Ravel Gi ‘Simeros) Pedldor « informacdes com @ edtira CONQUISTA Ay, 28 do Setembro, 174 — Rio de Janeiro JUNHO - JULHO — 1956 eee MANUAL PRATICO DE DESENHO de Renato Silva [As piginas déste livro so, téenicamente, bem sux estivas, ¢ mostram 0 grau de simplificagio a que po- dem chegar os processos de desenhar, Nao usa, por isso, de linguagem escrita para e1 ir um desenho. Sua clinguagem» € grafica, isto & desenha para en- sabe perfeitamente que é for- jando que se ‘Nao ha mistério algum mo método que adotou: parte do simples para, com facilidade, chegar a0 di- ficil: flores, frutos, ‘objetos,' figuras huma- nas, tudo, enfim, desenhado’ com perfeita compreen- so’ pedagogica. Nao é uma obra de compilacio; € um livro vivo, de cunho pessoal, ¢, por isso mesmo, interes- Sante, inconfundivel. Destina-se em particular aos professires primirios secundarios, © seus motivos Servem para cada qual ilustrar suas aulas, Obra de valor excepeional, grande formato, com 1525. desenhos tipicos, brochura ~ Cr§ 200,00. Pedidos, pelo Reembélso, & editra CONQUISTA SUMARIO DO gh iu A ABOLIGAO. ose eeeecees f A Respeito da Abolicaa’ ~ Sérgio Macedo .. 322 SARMIENTO, O EDUCADOR ... (© Grande Sarmiento — Stewart & Peterson. 324 © REVOLUCIONARIO FEIO 325 Feijo — Miguel Milano... eee 326 A BURGUESIA . 1. 307 ‘Origem da Burguesia — Estevao Pint 328 A MARINHA ADERE A REPUBLICA ‘Ou5 de Novembro — Gal, Serzedelo UMA AVENTURA DE LUIS XW. « O Govern de Luis XV — Delgado a de valho ia © GRANDE GONSPIRADOR Jornalismo de Outrora ... ‘0S BOIS INCENDIARIOS DE ANIBAl Delenda Cartago — R. Haddock Lot JOAQUIM SILVERIO, O' DELATOR . Joaquim Silvério — Viriato Correia . CARLOTA CORDAY Origens da Revolugtio Francesa — Deiga de Carvalho, FELIPE DOS SANTOS A Revolta de Vila Rica — José F. da Costa A DAMA DA LAMPADA : 343 ‘Campos da Criméia 34 A MORTE DO PADRE ROMA 345 A Revolugéo de 1817 — A. J. Borges Hermida 346 © COPO DE SANGUE ....., 347 © Terror — Estevo. Pinto... 348 ENTRUDOS E LIMOES DE CHEIRO 349, © Velho Carnaval — Luiz Edmundo 2 350 GOMEZ, EL BENEMERITO 351 ‘© Meio-indio Gomez — Stewart & Peterson 352 SELEGOES DA HISTORIA EM BELISSIMA ENCADERNAGAO [seine nacre es oateats o= J ea ee as ete ints ia eka. oo Fee ee an eis. sae mediante @ indonisace da encadernagéo — CxS 0.00. SUMARIO DO NUMERO 12 A DESCOBERTA DO BRASIL 357 (© Descobrimento ~ José Ferreira da Costa. 358 ELEONORA DA AQUITANIA . 359 Retrato de Eleonora — Sérgio Macedo .... 360 MARIZ E BARROS a ge 6 © Grande Mariz ¢ Barros — Gast30 Penalva 362 OS HEBREUS 363 |. O Legislador dos Hebreus ...... 364 QUILOMETRO 65 365 Floriano 366 MILHO, CEREAL DA AMERICA 367 ‘Astecas, Maias ¢ Incas — Sérgio Macedo .. 368 Os CAETES 369 Silvicola Brasil 370 GUTENBERG E A TIPOGRAFIA. 371 Papel, Imprensa e Cultura do Povo ~ H. ‘Wells 372 NISIA FLORESTA 373 Uma Dama Erudita — Sérgio Macedo 374 HINA EDUCA SEUS FILHOS 375 ‘A Gultara da China — R. Haddock Lobo .. 376 ESCRITURA DA VERGONHA 377 Pot Falar em Cativeiro — Sérgio Macedo -. 378 A RAINHA LOUCA 379 A Familia Real Portuguesa Vem Para o Bra: sil — José Ferreira da Costa 3 380 A ATLANTIDA .. 381 Lemiria, Terra de Gondwana, Aulantida — Domingos Magarinos .. 382 MOLIERE REVOLUCIONA A COMEDIA 383 ‘A Propésito de Molitre — Sérgio Macedo |. 384 DA “CADEIRINHA” ao “TILBURI 385 Serpentinas” e “Cadeirinhas” — Noronha Santos = 386 O RAMAIANA 387 fndia — R. Haddock Lobo 388 | A ARTE DE ESCREVER Pelo Prof. A. TENORIO D'ALBUQUERQUE © seu tive 6 um guia para os que transitam no pals das letras, Cari certos para que ninguém ve do onslsames Prlinidade, @ seturalidade, « Q—Saberse, também, que as gtotias Brasil, Braxil, Brazile, figuram om muitos porolanos, d NO BRASIL EM DUARTE TERIA ENCONTRADO O BRASIL DE CABRAL ‘TARAO ERRADOS VELHOS «PORTOLANOS ? Reutica de além mar. ‘No ane do S65 fom construit grande, naw E''sogundo a obra de Jubinel, gparecida em 1606, firera grande, viogem © tomamen, pease, om Padrao, Ga iovia nova de vosva molesiaden 3 — Fetinde do mar da tienda atinsca o cceano. Ko tin ea viagem pisara solo americana, onde ross Bava terra seria e Brasil, Ni tice. Ora. essa situacdo geourd- plo drtico ® 28 do pélo ante senos, a potigse’ da América Meridional, com segiientemente, do Brasil goss alitmacéo, uma pales SEL SOES DA HISTORIA 357 0 Descobrimento @PARA assegurar 0 comércio coma India, D, Manuel preparou importante esquadra, cujo comando entregou a Pedro Alvares Cabral. Cabral era fidalgo do Pago, alcaide-mor de Azurra, senhor de. Belmonte, onde nascera. Filho de Fernio Cabral e Isabel de Gouveia, chamava-se Pedro Alvares de Gouveia, pois © nome paterno era privativo do primogénito. S6 quando o primogénito morreu, Pedro Alvares, segundo filho, agregou ao seu o nome paterno. Parente de Gongalo Velho Cabral e Joao Gongalves Zarco, Cabral recomendavasse como diplomata, nao como navegante. Veio a casar-se com*Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque. Cabral nasceu em 1467 ou 1468; faleceu em 1520. A esquadra de que Cabral era capitio-mor compunha-se de treze embarcagoes, entre naus, caravelas e navios de mantimentos. Nela vinham de 1.200 a 1.500 pessoas, soldados, degredados, franciscanos,. clérigos, um vigério para Calicute, navegantes famosos, © guardiio franciscano Frei Henrique de Coimbra, mais tarde bispo de Ceuta, 0 fisico-mestre Jodo Faras, ¢ outros, De navegantes famosos, destacavami-se Bartolomeu Dias, o irmio Diogo Dias, 9 imediato Sancho de Tovar, 0 piléto Pedro Escobar, os capities Nuno Leitio e Vasco de Ataide, Nicolau Coelho, talvez Duarte Pacheco Pereira, autor do “Esmeraldo de situ orbi”. A.8 de margo de 1500, o bispo de Ceuta, D. Diogo Ortiz, celebrou missa, na ermida do Restelo (fundada por D. Henrique), em Belém, abengoou o estandarte com a cruz da Ordem de Cristo, oferecido pelo rei, presente a cerim6nia. O Bispo entregou a Cabral um barrete enviado pelo Papa. Depois da missa, do sermao e do beija-mao real, féz-se 0 embarque entusiastico. A 9 de margo deu-se a partida. A 14 avistou-se a Gra-Canéria; a 22 atingiu-se o arquipélago de Cabo Verde. No dia seguinte desgarrou-se a nau de Vasco de Ataide. De acérdo com os conselhos de Vasco da Gama, ao prosseguir ‘a viagem Cabral afsstou-se da Africa para evitar calmarias, ou por 358 SELEGOES DA HISTORIA —————s outra razio qualquer. Depois de um més de navegacdo, avistaram-se siaais de terra a 24 de janeiro de 1500; ésses sinais foram vegetais marinhos, chamados botelhos e rabos-de-asno. No dia 22, de manha, avistaram-se aves, conhecidas por fura-buchos. A tarde do mesmo dia descobria-se o Brasil, avistando-se um monte “mui alto e redondo”, a que Cabral deu o nome de Pascoal, pois o dia 22 era quarta-feira de Pascoa. O monte pertence a serra dos Aimorés, elevando-se a mais de 500 metros. Cabral chamou a descoberta “Terra de Vera Cruz”. Estacionou a esquadra a umas seis léguas da costa. No dia 23 navegou-se até meia légua da costa; houve reunitio dos capities. Nicolau Coelho, enviado a terra, para explorar tim rio, tentou falar aos indios, com os quais trocou presentes. Ofereceu-lhes um barrete vermelho, uma carapuga de linho e um sombreiro préto; os indios retribuiram com um cocar de penas e um colar de sementes. A 24, Cabral navegou para o Norte; as embarcagées pequenas encontraram um pérto no qual a esquadra ancorou a 25 de abril. Dois indios foram levados para bordo no 24, O dia 26 era domingo. Hasteada a bandeira da Ordem de Cristo no ilhéu da Coroa Vermelha, frei Henrique oficiou a missa, espreitada pelos indios. Cabral consulta os capitées a respeito da informagéo ao rei, da descoberta. Observam-se os usos e costumes dos mansos tupiniquins. A 27 e 28 os marinheiros buscam gua e lenha, lavam roupa enquanto dois carpinteiros constroem uma cruz, A 29, faz-se a baldea- Go da carga do navio de mantimentos, que voltara a Portugal com a noticia da descoberta” JOSE FERREIRA DA COSTA “Livro-Texto de Histéria do Brasil” Beale ie Ise mo SELEGOES DA HISTORIA 359 Retrato de Eleonora «poucos destinos de mulher terdo tido sdbre seu pais e sua gente uma influéncia tao benéfica e, ao mesmo tempo, tao funesta, como o de Eleonora da Aquiténia ou de Guiena, a imensa parte da Franga que ela daria ao espéso, como dote, ¢ cuja posse readquiriria apés a separagio de um exemplar de marido perfeitamente inadequado ao temperamento de uma jovem' sonhadora, bela, alegre € roméntica. Filha daquele poderoso Guilherme IX, que empreendeu, por suges- to de Sao Bernardo, a famosa peregrinagio a Sdo Tiago de Compos- tela, que Ihe custaria a vida, Eleonora viu a luz do dia num castelo magnifico situado na estrada que conduzia de Bordéus a Baione, exa- tamente a meio caminho entre as duas cidades. Orfi, muito cedo, casou-se com Luis 0 Moco a 2 de agésto de 1137, em impressionante ceriménia realizada na Igreja de Santo André em Bordéus. Os primeiros anos désse casamento transcorreram, para Eleonora. entre prazeres e divertimentos que no podiam agradar, em, absoluto, ao real esp6so, que levava até © exagéro a pratica dos»menores detalhes da santa religido que professava, - Luis era um homem que se poderia classificar de “alma cinzenta”. Nao havia claridade em seu coragdo, nfo havia luz, por mais suave que fésse, em seu espirito, eternamente mergulhado em sombrios pen- samentos ¢ profundas meditagées a respeito da precariedade da exis- téncia terrena, da virtude que era necessario praticar para aleancar a eterna bem-aventuranga. Deus nos livre de criticar o espiritualismo daquele Senhor da Franca, ou a santidade de’ suas idéias e de sas concepgses. Mas um homem assim deveria procurar para espésa, sem diivida, alguma dama que afinasse pelo mesmo diapasdo, nao uma criatura que era téda ela radio- sidade, curiosidade, alegria de viver. 360 SELECOES DA HISTORIA Alguns cronistas emprestam a Eleonora da Aquitania um carter extraordinariamente versatil, certa leviandade, excessiva vivacidade ~ esta altima, talvez, o maior de seus pecados, na opinidio dos mesmos cro- nistas — 0 que no deve causar espécie, pois naquela época a mulher nao deveria mostrar-se viva, espirituosa, agil de inteligéncia. Eleonora da Aquitania protegeu tudo quanto foi poeta de sua terra, em seu tempo. Jamais um jogral, um trovador, bateu & sua porta que nao fesse recebido com a maior cordialidade. Por i Ihe éles, os poetas, cangdes e louvores em todos os tons € todos 0s estilos. sso mesmo teceram- “Protegendo as artes, cuidou, também, na auséncia do espdso, de assuntos bastante sérios, mandando redigir, por exemplo, os textos que constituiram o fundamento de téda a Legislagao Maritima da Franca. Seus inimigos resolveram perdé-la, insinuando, junto ao rei, que a espésa praticava um crime de que éle desconfiava, de hé muito, roido de ciime, © resultado foi a dissolugio do casamento, voltando Eleonora & posse de seus bens — imenso patrimOnio territorial — e de sua liberdade. Nao tardou que entre os pretendentes que acorreram a disputar a sua mao de espésa, escolhesse Henrique, Conde de Anjou, duque da Normandia, que em 1155 seria rei da Inglaterra com o titulo de Hen- rigue II. Terminou tragicamente os seus dias, encerrada numa prisdo, por ordem do espéso, ao qual dera cinco filhos, entre os quais aquéle valente Ricardo Coragao de Leao, essa Eleonora da Aquiténia cuja vida tem o encanto de uma bonita cangdo de amor”. SERGIO MACEDO ue «DIGAM A MEU PAI QUE SEMPRE HON- REI O SEU NOME», FORAM AS ULTIMAS PALAVRAS DO VALOROSO OFICIAL POU- GO ANTES DE CERRAR PARA SEMPRE OS OLHOS 3 alo declarou que sé um primio fet hberdede, para @ cativa .- Quando o' Brasil fabrica © arma 0 seu primeire encouracado, 0 eTamand é “. arsos 0 homem etcolhide para comandé-lo. Ni anual, aleve i Hapira, nema Guat" bécas-do-ta0% sda tentative do. lazor i fiacao era queso deco Gu aquéles ‘castoss cram silenciados ou a siluagco seria Sneustontavel . 1 — Sioioass eadigSon navais embalaram o berge 6 Ants nie Carlor de Mariz e Barros, filho do grande Inhadma, Natural, Perlanlo, “que co. clingir cidade ‘regulameniar, © joven: Sbedecends & vor do. ca Ge juno de 1848, ingrossara.n Ciudaste muito aplicade, ‘excelente. colega, eoragde capa: dev alores rasgos de senoroudade, go lade de grande ‘Kinda comanda, porém Su meio & sn eslergo -verdadeiramente esisico. Ne iuaha seguinte, @| Bordo do navio-horpital «Onze do, Junho Toles amputacde da perma (orida, som anestesia. Os cirur- Gioos ‘envidem os mais decidides eslorgos para salvar o Qivom oficial, que cold rodeads de eoleges, © comandados, {Sor om dolores expectativa. Ha Idbios témulos que. sus wnente. Foi onto quo ocorreu bem demonstra 0 sm Tearal, corte ocasi ‘se debatie. Era gue cslova presies a morrer sfogada. Sem perda do um momento, completammnte vestida, atirou-te de @ agua. Em Tupidas brecadas elsangou a cativa, conseguinds, apés gram des eslorges, traré-le & praic, 28 © salva, Sentdaa Pescorrem “de rudes facet. Nunca mais Maris Batrow tofnata = lor Amerie, que, id the Gceve (not ellce, princpieva @ lomélo ‘entre os seus longos 6 digi Sor braces. SELECOES DA HISTORIA 361 0 Grande Mariz e Barros «ESTE mesmo més de marco, que assinala a desaparigao das sombras legendarias de Inhaima, Ratcliff e Tamandaré, marca a fugida para a eternidade de outra figura heréica das nobres armas da marinha antiga — Anténio Carlos de Mariz e Barros. Estuava-lhe nas veias 0 valoroso sangue de marujos, Filho de Inhatima, neto de Vitorino de Barros, nao podia a crianga que teve o bergo rodeado de lendas guerreiras e de arrojados braves do oceano levar a vida indifedente as cenas vivas da profissao do mar. Destarte 0 aspirante de 49 era j4 0 capitio-tenente de 67. E desde cedo, habituado ap mando, enobreceu-se das virtudes militares, ésse que sob a farda jé guardava uma alma eleita de perfeito homem. Langou-lIhe logo as vistas o imperador; ¢ convidou-o para acompa- nha-lo em suas viagens as provincias do Norte, agraciando-o de regresso com as insignias da imperial Ordem da Rosa Mais tarde ornou-lhe 0 peito a Legiio de Honra, por haver con- corrido para o salvamento de uma barca francesa prestes a naufragar junto as pedras da fortaleza da Laje. Tinha Mariz e Barros a atragio do desastre e dos feitos abnegados. Uma vez passeava @le em Icarai, defronte a pedra de Itapuca, quando avistou no mar uma preta cativa que embalde se debatia entre as ondas, Logo pulsou no mogo 0 coragio do marinheiro, generoso e altruista, Vestido como estava atirou-se as aguas, libertando da morte a pobre escrava. Antes que a guerra viesse encher de gloria e coloca-lo na His- téria entre heréis de vanguarda, Anténio Carlos comandava a canho- 362 SELECOES DA HISTORIA nheira “Campista”. Cruzando, um dia, na altura da Ilha Grande, para impedir que ali desembarcassem africanos, distingue ao longe, quase e no horizonte do mar, uma nau fugitiva, de feicdo suspeita. = Larga tudo; cutelos e varredouras! — brada éle. Com todo o pano, corria célere o seu barco por entre as ondas encarneiradas; mas dentro em pouco a calmaria cobrit de mansidio a superficie azul do oceano. — Escaleres ao mar! Num salto, a guarnigo arria e ocupa as frageis embarcagées, que a remos, repletas de armas de abordagem, rumam ao veleiro sinistro. No primeiro dos escaleres, de pé, 4 proa, Mariz vai quase dar 0 brado de abordagem, quando escuta do navio perseguido, por trés vézes, o grito de “hurrah !" que parte unissono de téda a tripulagio, estendida ao longo das amuradas. Ao mesmo tempo se ergue nas adricas e vai tremular no mastro grande o pavilhdo da Inglaterra. Era um brigue de guerra inglés. Em plena campanha do Uruguai, na praca de Paissandu, Mariz e Barros luta corpo a corpo, chefe de uma bateria, que éle proprio fizera levantar préximo ao lugar do assalto. Ai foi éle o indémito leo, naquela ingente cagada humena. E com tanto denodo se bateu que a soldadesca de Leandro Gomez estupefata ante o herdi, o apelidou de “o invulneravel”, Durante cingtienta e duas horas foi renhido, de parte a parte, 0 bombardeio. Por fim a praga foi tomada”. GASTAO PENALVA Botées Dourados” 0 Legislador SUM ses livros mats interessantes em que se divide 8 Biblia ¢ 0 “Livro : do Bxodo”, que refere a saida do povo hebreu do cativeiro no Egito depois de duzentos e quinze anos. O trecho a seguir transerito pertence, justamente, a0 “Livro do Exodo” ¢ foi extraido de “A Biblia Sagrada, traduzida em portugues segundo a vulgata latina”, com prefacios por Ant6nio Pereira de Fi- gueiredo, “aprovada por Mandamento de Sua Excia, Revdma. 0 Arce- bispo da Bahia”, editada no Rio de Janeiro por Garnier, livreiro-editor, no ano de 1864: “Bxodo € uma digdo grega que quer dizer saida. © livro se intitula entre os hebreus, Veelle Samoth, porque, naquela lingua, comeca o Bxodo por estas palavras. £ 0 Bxodo o livro em que Moisés reconta as mais estupendas mara- vilhas que Deus tem feito desde que o mundo € mundo} porque depois das dez horriveis pragas com que Deus castigou e com que por iiltimo quebrou a obstinagio do Fara obrigando-o a querer © que antes nao queria, que era deixar sair do Egito 0 povo hebreu, temos 9 Mar Ver- melho dividindo-se ao toque da vara de Moisés em suas guas, e estas. levantadas e suspensas duma e outra parte como duas grandes serras, dando passo livre a seiscentos mil homens para a pé enxuto atravessa- rem & outra banda; temos uma coluna de nuvens servindo entre dia de umbrela ao povo; e outra de noite servindo-lhe de facho; temos a chuva do mana e das codornizes; temos uma copiosa fonte brotando de repente de uma rocha viva e seguindo 0 povo pelo deserto; temos a data da lei do Decalogo, que o mesmo Deus escreveu com 0 seu dedo em duas tabuas de pedra; temos enfim a admiravel obra do tabernéculo, em que sensivelmente reluzia a gloria e majestade de Deus pelo magnifico téldo 364 SELEGOES DA HISTORIA dos Hebreus de nuvens que o cobria de dia e pelo brilhante clario de luz que 0 alumiava de noite. De todos éstes prodigios ninguém deixa de ver que a passagem do Mar Vermelho a pé enxuto € 0 mais espantoso e o que maior idéia nos da do poder de Deus; por isso até entre os gentios se ficou conservando por muitos séculos a meméria déste sucesso. Moisés, autor déste livro e dos mais que formam o Pentateuco, © mais antigo de quantos legisladores se conhecem. A repiblica dos hebreus era uma Teocracia, isto é, um govérno todo divino, porque 0 mesmo Deus era 0 que nesta repiblica dirigia e ordenava tudo; era éle que declarava a guerra, de o que fixava os acampamentos, éle 0 que dava o sinal de marchar e de fazer alto; éle era 0 que regulava a forma dos juizos, éle o que prescrevia as cerimé- nias da religido; e nao se contentando em dar os preceitos, éle era 0 que ensinava até 0 modo como que éles se deviam praticar. © Tabernaculo era como a tenda real onde 0 divino legislador passava tédas as suas ordens, como Deus e como rei; e pata os seus vassalos se consetvarem no reconhecimento de uma total dependéncia, ordenava éste Deus e éste rei que trés vézes cada ano viessem éles ofere- cer-lhe voluntarios os seus donativos, ¢ ndo aparecessem nunca na sua presenga com as maos vazias. B de suma importancia distinguir no divino legislador dos hebreus estas duas personagens, uma de Deus, outra de rei Em qualidade de Deus prescteve éle ao seu povo, leis morais as mais perfeitas e mais justas. Ble nos preceitos do Decalogo descobre os grandes principios da lei natural e as obrigagées do homem para com Deus”. 65) — «VAMOS ACABAR COM ISSO Af MES- 1 — A+ 10 sores da noite do 20 de nate de TOG Coron, MO», DISSE O TENENTE JOSE’ MO- goysuiy ie" Fipiane” Fonsi fel somaeionS lorem dos Sere Salsclor do Presidio, para ouvir @ REIRA, E © INTERIOR DO VAGAO j2*colstsa! 2c! facet kamen 2 ‘TRANSFORMOU-SE, ENTAO, NUM oe jeneate Jose. Mo: ito da estrada do a Anal a sic. govo wo regimes © como tal Precisava, fot aos bances do vagdo, néo, queriam salter de deseaperadamente os seidados que om yao ae asti lone O tenente José Moreira, que humave rcouse com s demora. — eDiako ty ox aca qise al mention, Ene interior ‘amos Sfonatcs foram. fasllades @ quelma-roura, dese tude num imenso © sérdido agougue. Qua- silo, fotas magie. tarde 0 governador : Pads, telogrelava @ Florianc: «Reina pa ispablica !», Era sinictro 0 ‘exia extromidade ‘secolta peou. — «Sal ‘© primeira @ sor fori i empurrado ja @ cénlaros quando os acusades chogaram @ coronal. Moreira César, c pelos seldados para o © parada do praxe 50 ait Dlono Mendonca, que tevo os Pul Sortiso.sddice. "Os presos Geta pois no queria descer do vat goon: 3 sguice ¢ 0 dosespére ve epoderaram dos demais prisioneiros. SELEGOES DA HISTORIA 365 Floriano 'O dia 29 de junho de 1920, 9 vespertino “A NOITE” publicou curiosa entrevista concedida ao jornal pelo sr. Guilherme Silva, que tra 0 Ajudante-de-Ordens do Marechal Floriano Peixoto em 15 de novembro de 1889. Pertence a essa entrevista o trecho a seguir transcrito: “Floriano nunca foi republicano. Liberal por indole, quando se vit envolvido nas idé!as republicanas, -umpriu 0 seu dever. Lembro-me de que, no dia da proclamacéo, depois Je assistir no Gabinete do Minis tério da Guerra a reunido de procercs republicanos, 0 Marechal, quando saia, tocou-me no ombro para acrescentar: — O nosso veiho” vai mesmo embora desta vez, De momento nio atinei com a intengio de stas palavras e inquiri bre quem cra o “velho”, A isso Floriano respondeu emocionado: “O Imperador”. Olhei para éle ¢ vi que tinha os olhos rasos dagua, Levado, depois, ao poder, a sua conduta foi, sempre, ditada pela vontade consciente. Essa vontade verifiquei pelas ordens enérgicas e oportunas que déle recebi nas diversas emergéncias. Citarei duas. No dia da proclamagéo da Repiblica, 0 Marechal chamou-me ¢ disse: — Vocé vai com a Férca receber os principes que descem de Petré- polis, Cerque-os de tédas as garantias. Néo permita 0 menor desres- peito. Nem um assovio. Executei as ordens rigorosamente, Os principes vieram por mar. 366 SELECOES DA HISTORIA Por ocasitio de ser préso o Conselhe:ro Mayrink, 9 Marechal deu-me ordens de executar a sua captura, nos seguintes térmos = Prenda-o. preciso trazé-1o, ainda que seja a sua cabega Felizmente nao foi preciso tanto. A sua vida intima demonstra uma simplicidade extraordinaria, Ouvia a todos como se estivesse accitando as opinides de cada wi para depois executar a sua vontade. Avésso a ceriménias, como chefe do govérno nunca péde conformar- se com as exigéncias do protocolo. A sua op'nido era ostensivamente contraria ao golpe de\Estado do Marechal Deodoro. Pois bem. Sabendo que assumiria 0 poder com a vitéria do ponto de vista que adotava, nao tomou atitude solene. A posse era as 10 horas ¢ as 9 éle estava em casa, de robe de chambre, Mais tarde, tendo que receber 0 Nuincio Apostélico, em palicio, as 11 horas, as 10 nao tinha camisa e mandava comprar uma, pelo sargento da policia destacado em seu servigo ...” Esse depoimento, autorizado, sem duvida, a respeito do carater de Floriano, constitui preciosa achega para o melhor conhecimento dessa figura pitoresca da Historia republicana de nosso pais que é Floriano Peixoto, sébre a qual se tém pronunciado, de forma muito expressiva, historiadores e cronistas como Assis Cintra que afirma que Floriano gostava de dizer: “Eu sou carneiro de batalhio; aonde o batalh for, eu irei 0 Realmente, no 15 de novembro de 1889 éle foi com o batalhao, embora garantisse ao Visconde de Ouro Préto que tudo ia muito bem ¢ © govérno estava forte RINTA LHAMAS BRANCAS ERAM SAC RI- a UE MISTURA- ) ENORME BOLO. DO AO GI POR TODO O LE QUE ERA DIST POVO DO VASTO IMPERIO Astecas, Maias e Incas [peo de invadirem Tula, a grande Capital tolteca, os astecas tornaram-se senhores do planalto, fundando, nos albores do século XIV, a cidade de Tenoctilan, numa ilha do lago de Texacoco, futura Capital do México, Sua organizagao social, baseada na comu- nidade da propriedade de terra, a inexisténcia de castas, 0 desenvolvi- mento do artesanato, provam a stperioridade de sua cultira. Na arqui- tetura utilizavam a pedra e aquéles tijolos secos ao sol, denominados adébes. Sobre curiosa espécie de pergaminho recoberta de calcareo ou sobre um papel fabricado de f-bras do agave americano ou maguei grafavam os simbolos de sua escrita. Scus templos tinham a forma de pirdmides, eo sol, divindade supre- ma, era representado pelo jaguar e pela serpente, Excelente prova da cultura désse povo esta no fate de se encon- trarem em algumas de suas cidades, diferentes bibliotecas. Os espa- nhéis de Cortez, na sua ignorancia, destruiram a maior parte dos livros astecas; mas sempre foi possivel salvar alguns que podem ser vistos nas bibliotecas de Bo!onha e do Vaticano e cuja leitura tem permitido aos especialistas aquilatar do extraordinario desenvolvimento do povo que os concebeu. Bem mais superior & dos astecas era a cultura dos maias-qui do Tucata e boa parte da América do centro, a respeito dos quais muito pouco se conhece. Estavam a ponto de transformar os seus signos cicli- cos em escrita fonética, quando os espanhdis chegaram para a con- quista. Ja estavam, entio, sob varios aspectos, em decadéncia, € certo Sua cultura, todavia, ainda era notavel, expressando-se principalmente nos templos, palicios e monumentos, cujas dimensdes sdo assombrosas, como mostram as ruinas existentes e cujas decoragées sio soberbas, notadamente no que se refere aos baixos-relevos que permitem, quando 368 SELEGOES DA HISTORIA se pensa em térmos de Geologia, e se se reflete em bases de Arqueo- logia, se nao teriam sido éles, os maias, mestres dos Caldeus. Na metade do século XIII, ao que parece, surgiu nas terras que atualmente perencem ao Equador, Bolivia e Peru, 0 império teocratico dos incas, adoradores do Sel, que tiveram em Manco Capac “filho do Sol”, surgido das proximidades do lago Titicaca, 0 seu grande orga- nizador e legislador. Povos aimara, iunca e quichua, os haviam pre- cedido, preparando-lhes, por asim dizer, 0 advento, Os incas foram a moss rica das grandes civilizagées pré-colombia- nas € 0 tinico povo aborigene que domesticou um animal para o tran: porte: a thama. Sua agricultura era adiantada, utilizando éles 0 guano como fertilizante. Foram notaveis ourives ¢ ceramistas e uniram todo © vasto império através de excelente réde de estradas calgadas e betu- minadas que seguiam os pontos cardiais. Tao notaveis foram essas construgées, das quais se destaca a que ia de Cuzco, sua primeira Capi- tal, a Quito, na distancia de 300 Iéguas, que o sabio Humboldt, que a percorreu, afirmou nao desmerecer das mais importantes vias romanas existentes na Franca, na Espanha e na Italia. O Sol, naturalmente, era o deus supremo do império, adorado cons- tantemente, existindo um corpo de sacerdotisas, as “Vestais do Sol”, encarregadas de alimentar 0 fogo sagrado no grande templo erguido & gléria do deus. Foram bons arquitetos, construiram excelentes forta- lezas como Menchupichu e pontes pénseis muito semelhantes, na técnica, fs congéneres de nossos dias. Como teriam os incas aprendido essas técnicas? De quem as teriam herdado 2" SERGIO. MACEDO Trecho de artigo in “O Globo” ESAPARECEU SEM DEIXAR TRAGOS DE SANGUE EM NOSSAS POPULAGOES A TRIBO FEROZ E VALENTE DAS COL DE OLINDA A QUAL FOI FEITA UN GUERRA SEM QUARTEL que adoton uma providéacie, que Jens, lesados em sous interBaet wile querrairo, om ISS, resolveu indigenas. recuassom do ram. 9, Bispo Ped oso ‘de Barres, quando naulragaram. Fr —Tanla selvageria indignou Clarina da Austria que, 5 2 desonra SELEGOES DA HISTORIA 369 0 Silvicola Brasileiro €Q indiaena brasileiro, de origem disctiel, pode ser classificado de varias maneiras ‘A 1° classificagie nao obedeeeu a nenhum critério cientifico. Pre dominow a distribuig&ée geografica: os Tupis, constituidos pelas tribos da faixa litoranea do We Senae do Notte a0 Rio Grande do Sul, ¢ os Tapuias, agrupando tribos do sertio. Com Von Martius (1867), surge uma classificagao mais comple:a, embora discutivel etl “hoje completamente reformada, e que serviu de base as classificagées posteriores. Sao nove os grupos de classificagao lingjtistica de Von Martius: 1) Tupis e Guaranis — os guerreiros; 2) Jés ou crans — os cabecas; 3) Guck o1 céco — os tios: 4) Crens ou guerens — os velhos: 5) Parecis ou posagis ~ os de cima; 6) Goitacds — os cor- redores da mata; 7) Aruac ou aruacos ~ a gente da farinha; 8) Len- goas ou guaicurus ~ os cavaleiros; 9) Indios em transigio para a cultura e lingua portuguesa. Ajustando elementos fornecidos por ctnégrafos, etnélogos, histo riadores e gedgrafos estudiosos do indigena brasileiro e apurando o grau de responsabilidade e autoridade de cada autor e sujeitando cada mformagio a ¢rivo rigoroso, Capistrano de Abreu propde um esquema que nos da conta do estado atual das classificacoes do indigena brasileiro 1) Tupis-guaranis — localizados na Bolivia oriental, Paraguai, Argentina ¢ litoral brasileiro até 0 Rio Grande do Norte; 2) Guai- curus — no Uruguai, Rio Grande do Sul, talvez em So Paulo, no Paraguai, em Mato Grosso; 3) Maipures ow Nu-aruacs — nas Guia- nas, no baixo e médio Amazonas ¢ seus af'uentes; 4) Cariris — no Maranhao, Ceara, a esquerda do baixo Séo Francisco: 5) Jés ~ em varios pontos do Bras'l central; 6) Caraibas ~ no Xingu; 7) Panos = desde 0 Madeira até 0 Ucaiale: 8) Solimoes ¢ pelas Guianas, Betsias — disseminados pelo 370 SELEGOES DA HISTORIA ‘Tupis-Guaranis — Os tupis ter-se-iam irradiado provavelmente da regido compreendida entre 0 Alto-Paraguai ¢ 0 Parama. Dali, em direcao a0 Sul, descendo o Paraguai ¢ o Parana, atingiram o Prata e se aloja- ram pelo litoral. Para o Norte, subiram pelo Paragui, de onde pssa ram para a bacia amazénica, Em diego de Oeste, atingiram a Boli Mundurucus, maués ¢ jurunas realizaram, ao que parcce, mov:mentos migratérios para o Amazonas em periodo anterior ao descobr:mente. Foram contemporéneas dos primérdios da colonizagao as migragoes dos tupinambaranas para o Madeira e as dos tupinambas para o I:toral. Caracterizavam-se pelos habitos guerreiros, Construiam aldeias fortificadas, protegidas por palissadas, desenvolveram a caga ¢ a pesca, dedicavam-se @ navegagao e conheciam rudimentos de agricultura, culti- vando milho e mandioca, Atendendo aos aspectos lingiiisticos, Von Stein classificou-os em tupis puros ¢ tupis impuros. Ao primeito grupo pertencem os omaguas, campevas, ucaialis, habitantes das ilhas fluviais do Maranhao. Merecem referéncia especial os omaguas, que além de bravos navegadores foram notaveis pela deformagio intencional do cranio, por meio de talas for- temente amarradas de modo a dar & cabega um formato oblongo. Per- tencem ao 2" grupo (tupis impuros) os mundurucus, maués, do Tapaj6: os guernias, do médio Madeira, os manitoduas, os jurunas Outra classificagiio agrupa os tupis em {upis orient: costa, tupis do Norte ¢ tupis do Sul. Nu-Aruaques — A grafia déste vecibu'o nao foi ainda unifor- ou tupis ca mizada. Usa-se também Aruak, Aruac ou, de acérdo com a proposta do Museu Nacional, aruacos ARI DA MATA “Histéria do Brasil”, 4" série ginasial te da DA GRIAGAO DA IMPRENSA, OU DO TIPO MOVEL ness rintide, @ verdads Papel, Imprensa e Cultura do Povo O mundo sarraceno nao deu a cristandade somente o estimulante dos seus filésofos e alquimistas; deu-lhe o papel. Seria um exa- géro dizer que o papel tornou possivel o renascimento intelectual da Europa, Originario da China, 9 papel remonta provavelmente ao século II antes de J. C. Em 751 os chineses atacaram os arabes em Samarcando. Foram repelidos e, entre os prisioneiros chineses, havia habeis fabri- cantes de papel, que transmitiram, assim, sua arte aos rabes. Existem ainda hoje manuscritos arabes em papel que data do sé- culo IX. A fabricacdo de papel penetrou a Europa crista ou pela Grécia ou pela tomada dos moinhos de papel mouros, quando os cristdos recon- quistavam a Espanha. Mas sob o dominio cristio da Espanha, a fabri- cacéio de papel decaiu rapidamente. S6 se fabricou papel de melhor qualidade na Europa no ultimo quartel do século XII, A Italia ficou, entdo, nessa arte, & frente do mundo. Na Alemanha, as fabricas de papel datam somente do século XIV. No fim désse século, era bas- tante abndante e barato para que a indistria prosperasse. Com o livro, a arte de imprimir seguindo naturalmente a fabricagao do papel, © mundo entrou numa fase infinitamente mais ativa. A vida intelectual deixou de limitar-se a um escol, estendendo-se a milhares de inteligéncias, Um dos resultados imediatos da invengio da imprensa foi a tra- dugdo de grande niimero de Biblias, Além disso, es livros escolares tornavam-se muito mais baratos. aumentando a quantidade dos que podiam estudar. Os livros tornavam-se, entéo, nao sé mais numerosos como mais faceis de ler e de compreender, Em lugar de tentar com grande custo decifrar um texto dificil, extraindo-lhe 0 sentido, os leitores podiam, agora, refletir sem estarem atrapalhados pelo texto. . Tornando-se a leitura mais facil, cresceu 0 ntimero de leitores, 372 SELECOES DA HISTORIA O livro cessou de ser um objeto precioso, magnificamente ilustrado ou um mistério conhecido pelos sébios. Comegou-se a escrever livros para 0 povo e isso néo em latim, mas em linguagem vulgar. Foi no século XIV que comecou a verda- deira histéria literaria da Europa. Até o renascimento europeu, sémente nos ocupamos com a influén- cia sarracena. Indaguemos agora qual poderia ter sido a paiticipacao das conquistas mongéis. Elas estimularan as imaginagées no que diz respeito as viagens. Durante certo tempo, no reinado do Grao-Ka, a Asia e a Europa oci- dental entraram em relagdes, todas as estradas foram abertas repre- sentantes de t6das as nacées surgiram na corte de Krakorum. As barreiras Jevantadas entre a Europa e a Asia por motivo de édios religiosos, que haviam separado o cristianismo do islamismo, se abaixaram, © Papa alimentava a esperanga de converter os mongéis ao cris- tianismo. Até entio, sua Gnica religido fora um paganismo primitivo, 0 chamamismo. Enviados do Papa, sacerdotes budistas da India, mer- cadores bizantinos e arménios, misturaram-se na cérte mongol aos fun- cionarios arabes, aos astronomos e matematicos indus e persas. Insiste-se demasiado sébre as carnagens e guertas dos mongéis, deixando-se de lado sua curiosidade cientifica insaciavel. Exerceram grande influéncia no mundo como transmissores de ciéncias e de métodos. E tudo o que se conhece agora de personagens indefinidas roman- ticas, como Géngis ou Kublai, tende a confirmar nossa impressiio de que ésses homens eram monarcas to inteligentes ¢ inovadores como o bri- Ihante e egoista Alexandre Magno, ott como o tedlogo enérgico e analfa- beto Carlos Magno”. H. G. WELLS “Pequena Histéria do Mundo’ trado latim, erda- luén- Dagao gens. oci- epre- > de ELA FOI EM NOSSA TERRA, NO SECULO 17 %% 1610, ma ‘mull PASSADO, A GRANDE ADVOGADA DOS Ying" grande DIREITOS DA MULHER. ABOLICIONISTA, EDUCADORA, FALECEU NA EUROPA EM 1885 GOES DA HISTORIA 373 Uma Dama Erudila entu- como, para exemplificar, 9 finado professor Adauto da Camara, que Ihe dedicou intcressantes paginas e uma paixio que chegava a ser comovente. «NYJISIA Floresta teve, entre nés, alguns biégrafos de méri siastas_sinceros Pessoalmer te — que se nos perdoe a sinceridade — opomos varias restrigdes & crudita dama norte-riograndense do Papari. B inegavel, porém, que foi mulher de grande valor ¢ de rara coragem de atitudes, sendo, realmente, uma das primeiras feministas do Brasil, ou, talvez melhor dizendo, uma das primeiras senhoras a langar veemente protesto contra os preconceitos de uma época particularmente geverale injusta para com a mulher, que era. a rigor, especialmente em Portugal e no Brasil, uma cativa; escrava do pai, in‘cialmente, escrava do marido, em sequida, Espirito cultivado e liberto, manifestando um superior desprézo pelas convengées, Nisia Floresta cativou alguns dos espiritos europeus mais interessantes do seu tempo, como os que mencionamos nos “qua- drinhos” da pagina retro. Ouvimos, certa ocasiio, um conferencista apaixonado afirmar, fa- lando de Nisia Floresta, que seu mérito aumentava incrivelmente de Proporgées quando se considerava “o que era o Brasil na €poca em que a ilustre dama viveu na Europa: um pais ignorado” © tipo da conferéncia nao admitia réplicas, nem quaisquer inter- veng6es publicas, obrigando-nos, assim, a calar, embora, ao term:nar a mesma tivéssemos procurado o conferencista para, com a devida licenca do mesmo, fazer algumas retificagées ao que afirmara sso porque o Brasil, ao tempo cm que Nisia Floresta brilhou nos saldes de Paris, ndo era, absolutamente no era, um pais desconhecido. Possuiamos, entéo, na Europa inteira, inclusive na Riss‘a, diplomatas de valor, cultura e erudigao, que no nos representavam apenas politi- camente, mas, e principalmente, do ponto de vista intelectual, mostrando 374 SELEGOES DA HISTORIA aos curopeus as possibilidades da cultura que existia no entdo distante pais sul-americano. Isso ndo ofusca, ¢ certo, 0 mérito de Nisia Floresta. Mas dizer a verdade e fazer justiga sio coisas boas, que se devem pregar constan- temente a todos, muito principalmente aos jovens. Nisia Floresta, com os seus livros, as suas palestras, 0 seu salio literdria em Freaga e na Itélia fez muito pela nossa cultura, demons trando que a mulher brasileira possuia capac bastante adiantada mentalmente. Jade ¢ ja se encontrava Inteligente e simpatica, dona de uma palestra extraordinariamente Javel, Nisia Floresta nao teve dificuldade em conquistar alg: dos maiores espiritos do tempo, si sua espiritualidade. agr: ns ceramente impressionados com a Se vivesse cm noss lutando pelas grandes causas socia's, porque e!a foi, essencialmente, lutadora mulher de agao. s dias, Nisia Floresta talvez estivess Nao se curvando a injungdes e desprezando os preconccitos, soube prover prépria subsisténcia, com rara dignidade, quando a isso foi impelida pelo destino, dando-se, entio, a missio de educar as jovens de seu tempo, o que féz com zélo ¢ competéncia nos colégios que fundou c manteve, os quais desfrutaram de excelente reputacio. Devemos, por conseguinte, considerd-la, também, como educadora, © que a transforma numa intelectual completa. Nisia Floresta, sepultada em Rufo, na Franga, mereceu do Con- resso Nacional, ndo faz muito, a aprovagao de um projeto mandando repatriar os seus restos mortais. Que nos conste, porém, até o mo- mento nao se verificou ésse repatriamento, 0 que & muito de lamentar, sem duvida”, _ SERGIO MACEDO be (oi Dut its ik 5 consaguinte,. sagrad PEITAR PROFUNDAMEN- S PRIMEIROS MANDA- AO (ESCOLA DAS od "a conhecimento do cate. radezas eram substituldos, Gubaciae GOES DA HISTORIA 375 — «FFM toda a Asia Uriental as artes e as letras sio profundamente influenciadas pelos modelos chineses. A arquitetura na China Jonge esta de oferecer a imponéncia e a durabilidade das construgdes egipcias, pois nela se empregam 0 tijolo ¢ a madeira, de preferéncia as *pedras. -Um dos tracos distintivos dos prédios de certas dimensées sio 0s telhados superpostos e, de modo geral, os arquitetos do Extremo Oriente procuram construir com elegancia e leveza, A ornamentacdo dos palacios e dos templos é extraordinariamente farta e feita com admi- ravel capacidade de acabamento. Espléndidos jardins eireundam os palacios e as residéncias, ¢ néles se introduzem arvores ands, semelhan- tes as arvores gigantescas. Também ali, ao que parece, surgitam os arbustos talhados de maneira a imitar objetos e animais, além de outros recursos de ornamentagao dos parques. Em poucos lugares a ceramica atingiu perfe do comparavel a da China, cujas porcelanas € cujos vasos antigos so famosos em todo o mundo. A pintura € minuciosa e expressiva, neia se tendo empregado, desde tempos antigos, céres extremamente nitidas e firmes, ‘a arte, como aconteceu a quase tédas as manifestagées cultu- ta's, na China, pouco evoluiu através dos séculos Na filosofia os chineses deixaram-nos obras de grande valor. Além de Confiicio, cita-se 0 grande pensador Lau-Tsé, menos con- servador, mais profundo e, sobretudo, mais humano. A China possuiu uma das mais ricas literaturas da Antiguidade, compreendendo iniimeros livros sagrados, historicos, de ciéneia, de juris- prudéncia, de arte militar, de filosofia e de moral. A:sua poesia evocava delicados sentimentos de ternura e de suave admiragao pela natureza, Foram também produzidos contos, romances e novelas, comédias ¢ dramas em profusio. 376 SELEGOES DA HISTORIA A Cultura na China A enumeragao acima justifica a afirmativa de ter sido a civi chinesa, durante muito tempo, superior a maioria das civilizacdes orientais, Demasiado apégo ao passado, entretanto, determinou a verdadeira estagnagdo, do que somente na época contemporanea a China vem se libertando, # tradicional 0 cuidado com que, no Extremo Oriente, desde remota antiguidade, se tratava da educacao infantil. Na China, a partir dos ito ‘anos, os pais exigiam das criangas, habitos de cortesia e comedi- mento. Aos nove anos era-lhes ensinado 0 calendario, e aos dez man- davam-nos para a escola publica, onde aprendiam a ler, a escrever, calcular e, mais tarde, a cantar, As meninas recebiam em casa uma instrugio rudimentar, em que predominava a musica. Nas boas familias entrega-se freqiientemente a preceptores a educacio de jovens de ainbos os sexos. Para ocupar cargos piblicos de certa importincia era preciso ser mandarim. Dos quinze anos em diante, pois, os rapazes estudiosos pre- paravam-se para os sucessivos e dificeis exames necessarios a obtengio do mandarinato. t Semelhante sistema era praticado desde tempos muito remotos. Bem antes da Europa e de outras Regides, a China possuiu uma educagio organizada e metédica, e uma selegio dos dirigentes através de provas escolares. Tudo isso concorreu, sem ditvida, para a superio- ridade de sua cultura”, R. HADDOCK LOBO Historia Geral”, 1* série colegial JOANA BATISTA RAV! ANO DE 1789 5 DE ESCRITURA LAVRADA MENTE EM CARTORIO DE TABELIA ‘ndo encontrou seguidores, pormiinds @ Wansdcdo. “Exatamonte @ 19 do agésle de 1789" ‘no. Can rio Lire Barros, lavrava-se a oseritare de todos os horror “ de ‘castige. —virgmundas, gargalicitas, Tibambo, vasto arsenal do tortura da inqulsiedo. afti- gang — ou de leis crucis ‘como 9 lamoso. Alverd de 178i, que mandava marcar'g fcrro am nase, com © lea «Fs os Sseraves fugides. nao fei, a rigor, um Quadro de verdadeira crueidade a escravidao brasilona. ‘Os Woloroson, drasas a sofrimento eujo cendio Ici 9 porte. infecto, dor carguer fos, crosceram grandemente depcis da ineliwigee ‘dos Scie Feitoss para liscalizacso do tralice A. — Jose Batis, stivre do nascimentor, vendia.se « Pedro da Costa, recobonde no alo @ quanta do cinquenta cbrigando.se @ comprader @ enliegar oF Sa ota os nde logo para eservidéo e Ccativeiron’ do dito Pedro, que co mostieva’ mule salisieto com 0 negécio, Q— Toda a tragédia désses «Cruzsiros foi resumida por Oliveira Martisa nesta 9 inodiliamo, tassbéen Eomo 0 case de Joana’ Batista, da’ Capitania’ do Para, quo bom pode ser considerade tnice, —Débil mental talver {sve oss cafusa, cuja historia Carlos “Pontes ‘apre ECOES DA HISTORIA Ee Por Falar em Cativeiro «QO)LIVEIRA Martins disse que sem escravos o Brasil nao teria exis- tido. Realmente, sem © braco do africano que construiu nossa prosperidaile, sem 0 suor do negro que fertilizou nosso solo, nio exis- titia Brasil.” Nos pontos do pais que receberam mais escravos — Per- nambuco ¢ Bahia — foi, justamente, onde teve inicio, com o aciicar 0’ Tumo, nossa primeira diretriz econémica. Ja dizia Antonil: “cs escravos so as mios e os pés do senhor-de-engenho, porque sem no Brasil nao € possivel fa engenho corrente’ Segundo Paiva Manso na “H’st6ria do Congo”, desde © tempo das Capitanias houve escravos no Brasil. Para o Rio de Janeiro nao foi pequena a afluéncia de “pecas”, a cujo trabalho deveu a velha prov'n- cia flum:nense os seus mais belos dias de grandeza econdmniea € a cidade os seus principais obreiros. Além de utilizado nos trabalhos da lavoura exerceu éle intensa atividade urbana, como vendedor de fl6res as portas dos templos, carregador, transportador de agua, mercador de coces. artifice, etc. Tal qual sucedeu na Gréc’a no co 600 A. C,, tivem desde logo duas espécies distintas de escravos: domésticns e rura's Possuimos, porém, mercados ou feiras de escravos, isto ¢. estagdes em que pitblicamente se marcasse a carne humana a tanto por cabeca. “Era nas fazendas ou nas dependéncias da propria casa de nioradia dos senhores, nas cidades e vilas que aquéles habitavam, que cram vendidos os escraves”, disse Afonso Cléu verdade que se fala no “mercado de cscravos do Valongo”, no Rio. Foi, todavia, um simples depésito, sem as caracteristicas de “mer- cado”, na rigorosa acepgio do térmo. O caso ¢ que, por medida de higiene e¢ decéro, 0 vice-rei Marqués do Lavradio reso!veu fixar um lugar afastado do centro urbano caricca onde ficassem depositados os escravos recém-chegados. Em seu “relatério” de 1779, no qual justifica a deliberacio tomada, encontra-se impressionante depoimento acérca do horrivel quadro que constitui a introducgdo dos africanos na cidade. r, conservar c aumentar fazenda nem ter 378 SELEGOES DA HISTORIA “Havia nesta cidade ~ diz 0 Vice-Rei ~ 0 terrivel costume de que todos os que chegavam da costa d’Africa a aste porto, logo que desembarcavam entravam para a cidade, vinham para as ruas piblicas no 86 cheios de infinitas moléstias nus. E ali mesmo faziam tudo ndo o espetéculo mais horroroso que © que a natureza Ihes Jembrava, se podia apresentar aos olhos" A despcito de todos os horrores da escravidio, dos instrumentos de castigo — “viramundos", “gargalheiras”, “tronco”, “libambo”, vasto arsenal de tortura — ou de leis como o Alvara-régio de 1794 que mandava marcar a ferro em brasa com a letra F os cscravos fugidos, nunca possuimos apolog ‘as da escravidao. Os dolorosos dramas de sofrimento cujo cenario foram os port dos cargueiros humanos, responsaveis, como ensina Gilberto Freire pelas “freqiientes deformagdes das pernas e da cabeca” que apresen- faram muitos escravos, cresceram grandemente depois que, em conse qiéncia de um Tratado firmado com a Inglaterra, em 23 de novembro de 1826, foram inst Cru negreiro. Oliveira Martins restr ros” para fiscalizar 0 tralieo iu téda a tragédia dos “Cruzeiros” nesta frase: “para levar 65.000 escravos para o Brasil era necessar‘o tirar da Africa 100.000. Alem da perda na v:agem, o estado em que che- gavam matava de 3.000 a 5.000 nos primeiros dois meses de descm- barque". E quando a lei Eusébio de Queiroz, de 1850, proibiu a impor- tagio de escravos, aumentou 0 contrabando que ja se realizava, surgindo novos angulos do‘orosos no grande quadro de dor. Na calada da noite os barcos aportavam a praias desertas e desembarcavam a “merca- dora". Localidades préximas do Distrito Federal, como Ilha Grande Angra dos Re's, Mangaratiba, guardam memérias désses tempos mal- ditos. Na altim tigios de subter- encontramos, ha alguns anos, ves réncos onde eram escondidos es ‘avos contrabandead Ugo a A I SUB- EVAS DA LOUCURA, AS- 2 | / SELEGOES DA HISTORIA 379 a EE A Familia Real Portuguésa vem para o Brasil «TA se pensara em transmigrasio anteriormente em Portugal. O prior do Crato, Dom Joio IV e Pombal, quiseram transferir a sede da monarquia; Linhares sonhou com um grande Império em nossas plaga: no que, pensaram também, 0 duque de Lafoes e 9 marqués de Alorna Fox enviara a Lisboa generais e diplomatas ingléses, para discutir © caso. A Inglaterra defendia a transmigracio e pensara obrigar Por- tugal a execut-la com 0 desembarque do general Simcoe na terra lusa ocupagao de suas fortalezas. Em 1807, ao aproximar-se 0 perigo bonapartista, surgiram duas outras idéias: a transferéncia do herdeiro e principe da Beira, D. Pedro, para o Brasil, ou a migracao do proprio Regente, com téda a familia, para a Terceira, nos Agéres, sob a benevoléncia protetora da esquadra inglésa, ‘ Em 1793, Portugal metera-se na guerra do Russilhao, sem direito de declarar guerra & Franca e a reboque da desastrosa primeira coliga- do. Com isto, incorreu na ira da Republica Francesa, Apés © regresso de Napoledo do Egito e do golpe contra 9 Dire- torio, a Espanha, que assinara a paz de Basiléia em 1795, bandeou-se para 0 lado do grande corso; levado por Bonaparte, moveu guerra a Portugal, a que impos o Tratado de Badajoz, em 1801, tomando-lhe Olicenga. D. Jodo, pelo Tratado de Madri, com Napoledo, obrigou-se a pagar pesado tributo, como penhor de neutralidade Entretanto, em 1806, vencida a 3° coligacao, Bonaparte decretou, de Berlim, 0 bloqueio continental contra a Inglaterra Portugal, intimado a fechar os portos a Inglaterra, bem como a con fiscar os bens dos ingléses, prender os siiditos britanicos e incorporar nayios lusos @ esquadra francesa, ficou em situagao dificil, 380 SELEGOES DA HISTORIA Pediu & Inglaterra que Ihe fizesse uma “guerra de mentira”; diante da recusa, tentou acalmar Napoledo, enviando-lhe riccs presentes pelo marqués de Marialva que deveria negociar 0 casamento de D, Pedro (9 anos) com a filha de Murat e Carolina Bonaparte. Marialva voltou de Baiona ao saber que pelo Tratado de Fontai- nebleau, de 20-10-1807, Napoledo declarara deposta a dinastia de Bra- ganga ¢ retalhara Portugal em trés pedacos, dois para a Espanha ¢ um para a Franca, © cumprimento das ordens de Napoledo fi 0s portos lusos e ocupar a Madeira ra a Inglaterra bloquear Agora, voltava a situacio ao panorama anterior, O almirante Sydney Smith anunciou a D. Joao as disposigdes de Fontainebleau en- , Lecor, Ihe dava a noticia da marcha das tropas francesas contra Portugal. quanto 0 general portugut Essa situagao nao constituia vergonha para a familia real. Os reis da Espanha nao passavam de lacaios de Napoleao; o rei da Priissia achava-se foragido; o das Duas Sicilias exilara-se; submetera-se 0 impe- rador da Austria; o czar da Rassia assinara uma alianca, depois de humilhantes derrotas. O doge de Veneza salvara-se na fuga, 9 mesmo acontecera aos governantes da Toscana, Parma e Holanda. © Conde de Linhares preparou a esquadra, nela embarcou 0 que pode e féz seguir a familia real de Mafra para Lisboa. © embarque processou-se a 27-11-1807, Chovia copiosamente. Dom Joio nao teve quem © recebesse no cais. Dona Maria I, louca desde 1791", Esbravejava a rainha JOSE FERREIRA DA COSTA “Livro-Texto de Histéria do Brasil” > 7 = jue se denominava Aldntida, e que era. verda: GRANDE ILHA DESAPARECIDA — Brandon, abade, escossés, teria se aventurado palo Mar’ 4 —Fundaram duas colbniss o atingkam o literal americeno Dopois @ londa rolerente & Atl que foi doscoberta @ América, alé que s6bre a mesma ioraa sendo reclizados estudos, © os entendidos passaram e proce ‘Para q origem dos povoadorer primitives mnveredando pelas mais curlosas hipsteces, jo as mais inferossantes teorias, reveladoras, muites clas, do portentore Imaginagao lscanos, exploraram a grande regide que vai do. Césp, "décima contaria’ ov Vikings “de ‘pléndides, grandes riques reciosos. "Maa, um dig, Jupiter, indiguado com ade Gubigao ‘dos habitantes da grande ithe, decidica Muitos sécules ‘mais tarde. 1 ta Idads Médias novas lendas a rospeita de terran misteriosas ‘orreriam de boca ein b6c y WS menloy encontradas no mundo nove SELECOES DA HISTORIA 381 ¢ OM. as primeiras levas de serventuarios da colénia — dos mais ‘graduados na governanca da Bahia e na do Rio de Janeiro — chegardm os meids rudimentares do transporte, Sob © influxq:civilizador, lentamente se implantaram em cidades da faixa litordnea, nas quais dominavam usos e costumes das classes dirigentes e severos principios da educagio jesuitica, Naquele estreito cenario do século da descoberta, quando ainda se afigurava impenetrayel o interior da coldnia, o incipiente comércio de mercadores e lofistas e as corporacées inferiores de oficios mecd- nicos nao conheciam nenhum bem-estar, e nem se thes deparavam en- sanchas que, de qualquer forma, os favorecessem na agdo comercial. Referem cronistas que a maior dificuldade posta aquela expansao foi, precisamente, a falta de caminhos que dessem trénsito a anim de carga, Os tamoios, impelidos por interésse de defesa, de ha muito haviam aberto veredas nas florestas — trilhas que os civilizados encontraram — mas de penosissimo acesso, em alcantis e ingremidade da Serra do Mar e de Sao Vicente aos campos de Piratininga. No Ri de Janeiro © avango nas comunicagées foi uma grande obra de tenacidade lenta e custosa. Pareceram aos colonos irremoviveis as dificuldades a vencer nos acidentes orograficos que separam as terras da orla maritima das do vale do Paraiba do Sul. Em Pernambuco e na Bahia, primeiros niicleos de habitacio no Setentriéo — com os tropecos bem menores do que os verificados no sul da colénia, se tragaram os caminhos do pé-pésto, que ligaram Olinda ea cidade do Salvador a agrupamentos indigenas do interior. Adstritos as condigdes sociais, ficaram os meios de transporte limitados as cidades e vilas da costa, déles se servindo os colonos mais representativos da autoridade portuguésa out da fidalguia, 386 SELEGOES DA HISTORIA cCadeirinhas» S6 depois de 1639 — cno em que se realizou a mudanga da Camara, do morro Castelo para a varzea da cidade — apareceram no Rio de Janéiro,"em maior nimero, as cadeirinhas empregadas na condugio dos homens da governansa. Na Bahia ja as utilizavam em fins do século do descobrimento ou em principios do décimo sétimo século, Eram exemplares de “serpen- tinas”. semelhantes aos da India e da China — espécie de réde ou palanquim, com cortinado e suspensos de paus, e muito usados entre os principais da terra Garregavam-nas escravos daqueles homens da governanga e dos fidalgos, que. inclinados arrogantemente em coxins, eram levados as ceriménias religiosas e as suas quintas e chacaras. Serpentinas e cadeirinhas se destinavam em Portugal e Espanha do século XIII a enfermos que precisassem de socortos urgentes. Vulgarizou-se 0 seu uso depois entre homens endinheirados ou dos mor- nobres, e muito mais tarde, entre senhoras de estirpes nobres gadios e da nobiliarquia dos prineipados. Obedecendo ao rigor da tradigio, no Rio de Janeiro, em correigao de 1722, proveu 0 Ouvidor Anténio de Sousa de Abreu Grande, que a nenhuma mulher se permitisse andar de cadeirinha, nio sendo da nobreza ou casada com homem nobre. Havia distingio de cadeirinhas — para homens e para senhoras ~ e igualmente diversos tipos désse meio de transporte. No Brasil, o modélo mais apreciado representava a forma de palan- quim”, NORONHA SANTOS ‘Meios de Transporte no Rio de Janeiro” ol a YURANTE DOIS MIL A DE UM POVO QUE SELECOES DA HISTORIA 387 «OS ARIAS aps se estabelecerem na India, produziram abundante literatura mistica, com varios poemas de consideravel extensiio. Déles destacam-se 0 Mahabarata e o Ramaiana onde se contam mara- vilhosas faganhas de herdis lendarios, Aprecem, também, os livros sagrados ou Vedas, e diversas obras misticas, como o Bagavat Zida e o Gito Govinda, sem falar de numero- sos contos, fabulas e romances de amor e de mistério, o> 2 India E oportuno notar que, nas escolas, ensinavam-se as boas maneiras, ao lado da leitura, da escrita ¢ da religido, Quanto as mulheres, julgava- se pouco recomendavel torna-las sdbias, nisso ndo diferindo a India das outras nagées da antiguidade oriental. += Os povos de lingua ariana que no segundo milénio A. C., atraves~ A arquitetura hindu apresenta templos, palacios e fortalezas noté- “ sando altas montanhas, dirigiram-se da Asia Central s6bre 0 vale do veis pelas suas dimensées, pela originalidade do seu estilo, riqueza e complexidade dos ornamentos. A escultura evoca, principalmente, assuntos religiosos, com muita forga de expresso, Pinturas murais reproduzem com vivacidade ima- gens de deuses, episédios mitolégicos e algumas cenas da vida dos poderosos, Muito influiram os hindus na arte e na civil da Indonésia e das regiées malaias. Assim como aconteceu no caso da China, o intercdmbio com as culturas ocidentais, devido a distancia e aos acidentes geograficos, pro- duziu-se de maneira indireta e dificil de determinar, cio da Indo-China, Os textos antigos da India aludem bastante aos professores, ou gurus, que ali eram muito acatados. Alem da educagio familiar, ministrava-se ensino sistematizado, que variava segundo as castas. © “Cédigo de Manu” indica meticulosamente diversos ritos religio- sos que deviam acompanhar os estudos de Teologia, e refere-se aos castigos corporais que sémente podiam ser aplicados com cordas ou varas de bambu, na parte posterior do corpo. 388. SELECOES DA HISTORIA tio Indo, dominaram populagées de tez escura — os comedores de carne crua ~ que ali residiam, Mais tarde a conquista estendeu-s Ali formaram-se numerosos Estados, que, embora politicamente sepa- ea téda a peninsula indiana. rados, possuiam a mesma civilizagio e organizacao social. E bem conhecida a divisio da sociedade hindu em castas, determi- nadas pelo nascimento das pessoas, A mais considerada é a dos sacerdotes detentores da sabedoria, vindo logo depois a nobreza militar, Em situagio um tanto inferior encontram-se os negociantes e abaixo déstes ainda ha os trabalhadores bragais. Quem nasce, portanto, fora dessas classes estritamente determina das pela descendéncia € um indesejavel social, um péria, indigno de entrar em contato com os demais homens”, R. HADDOCK LOBO “Historia Geral” da R.: A luta contra o privilégio de castas esté travada na India, h& bastante tempo, vigorosamente iniciada pelo grande Mahatma Gandi, e ofa continuada por Nehru, patriota sincero. nie na na VOLTAM AS LIVRARIAS AS GRANDES OBRAS DE LUIZ EDMUNDO O Rio de Janeiro no ~ Tempo dos Vice-Reis 42 edigio revista ¢ anotada Carregador de agua Trés volumes de 224 paginas ca- da um, formato 21 x 14, papel buffon sueco, com tédas as magnificas ilus tragbes originals de Washt Rodri- ues, Marques Jor., Carles e Rodol fo Chambelland, Salvador Ferraz, etc., da edigao do Instituto Hist rico © C ico Brasileiro, Cr 70,00 Cada volume A Corte de D. Joao no Rio de Janeiro 2. edigio revista pelo autor D. 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Luiz Edmun- do, que foi sempre um jornalista desenvolto, trouxe dese habito de contar em particular ou em piblico o dom da narrativa Iépida e amena. Ageipino Grieco, “s.. seu grande livro honra a cultura brasileira Roquete Pinto. “E com intenso prazer que assistimos a essa evoca- 80 do antigo Rio que ressurge aos nossos olhos um ouco desacostumados do espetaculo”. Jodo Ribeiro. “Nestes ltimos vinte anos nada se imprimiu em nossa lingua que se compare, em esforco de pesquisa, em fulgor de palavras, em seguranca de observacao ¢ de andlise, a éste livro”, Carlos Maul, Luiz Edmundo acaba de dar ao Brasil o mais sur- preendente dos livros histéricos que um grande histo- riador pode dar ao seu pais”. © um livro para atra~ vessar séculos, Viriato Correia, ‘Com que obra farta de informacées, palpitante de interésse, flagrante de verdade, opulenta de colorido, modelar de probidade ¢ maravilhosa de arte, enriquece Luiz Edmundo patrim6nio literdrio do Brasil !". Hei- for Lima, Tuiz Edmundo prestou a seus contemporaneos e as novas geragbes um servigo extraordinario", Frei Pedro Sinzig. E realmente um monumento que ficaré como um Ponto luminoso em sua admirdvel obra literdria". Aloé- sio de Casteo, # um livro de grande mérito revelando capacidade fora do estalio vulgar". Eloi Pontes Le-se 0 livro présa da maior curiosidade, domi nado, inteiramente, pela riqueza vocabular, pela Ie © garridice do estilo’, Pedro do Couto, ‘Admiravel livro de crénicas. Admirivel pela for- ma atraente com que foi escrito ¢, ao mesmo. tempo exato pelos cendrios que evoca, aproveitando elemen- tos de pesquisa dos mais valiosos'. Noronha Santos. © livro € um documento digno de consideragao, Oxala que éle possa inspirar outros estudos 180 colori- dos e ta flagrantes da nossa crénica passada". RO- nald de Carvalho,

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