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MAIS «HIST6RIAS EM QUADRINHOSy? A SINTESE, a0 mesmo tempo que € 0 caminho da perfeigdo, corresporde a wna ‘exigéncia da hora’ presente. Por isso, as “histérias em quadrinhos”, que sio a Sintese aplicada a literatura tomaram tal desenvolvimento que ninguém mais discute @ sua eficiéncia, 0 seu poder de sedusio, particularmente junto @ infincta ea jt tude, sem se falar de sua lade nos dominios da pedagogia. © problema, hoje. & de selecio, de eritério, separar 0, jlo do trigo pois da mesma forma que a “histéria em quadrinhos” recrea'e instrui, quando eféborada’ com hones- ttade tambim poe conte, ¢ poderosamente, no sentido da defomayse da me talidade dos jovens. quando claborada sem esceipulos: ? Pouca gente, no Distrito Federal, eriancas e adultos, ae teaballo honesto, perseverante e criador, altamente educativo, de Renato Silva’e Sérgio Macedo. conceituados professéres de Desenho.e Histéria, publicado. com_segularidade no, “Disrio de Noticias". Portentoresta publicaséo nfo € uma experincia mas a lic masao categérica de uma vitéria bastante expressiva, em escala ascendente, cada vez em plano mais alto. Ontem. simples publicaso isofeda no. jornal; hoje; conjunto harmonioso, cuidadosamente revisto, em fase de teansigho da revista para o livro, vencendo distancias, atingindo camadas mais amplas de leitores, cicculando nao” mais ‘apenas nas, zonas limitadas do jornal mas por todo 0 Brasil, nas bancas de jornais eras livrarias, em forma permanente, nos lares, nas. bibliotecas, nos educandérios, nos locais de trabalho, etc. 2 ; Outrossim, para atender eos letores mais exigentess eos quals nfo. Bastam. as iastrapses e suas legendas, reproducimos sempre, no verso de cada hivta, nas paginas pares, trecho escothido de escritor notivel, de carder histirica, relacionado com 0 episidio em foeo. fornecendo a0 leitor..désse modo, material novo. desenvotvido, necessirio, muitas vézes, & melhor conpeeénsdo dé ceros fatos hisécos. Cada nimero de SELEGOES DA HISTORIA. pois a uma pequena antologia, de interésse permanente, cujos volumes poderio, em qualquer tempo, ser cncadernads em tomes que nfo pererto « tualtdade; pore a Hiteia € como 0 vinho: quanto mais velha, melhor. . Como se. ealaifbiot ha athe colors ie Aaa epee irene ¢ adultos, hos pais de qualquer grau de insteug%o ou cultura, uma ver que nao hd limitacao"para a acte e as histécias ilustadas agui-reunidas s6o vérdadeiras obras de arte, no género, agradéveis A vista e ao intelecto, récreatives e instrtivas a0 mesmo tempo. Quem tiver dividas a éste respeito que experimente: abra'o fivreto e feia uma OS EDITORES . HIROSHIGE RETRATA A CHUVA . SUMARIO DO NUMERO 1 A EXECUQAO DE TIRADENTES prego da trai¢io — «Autos de devassa da Inconfidéncia Mineira> OS GLADIADORES . A civilizago romana — R. Haddock Lobo O CAGADOR DE ESMERALDAS As minas de esmeraldas —Pandii Caldgeras... DRAKKAR E SNAKKAR Os normandos — M. Depping JOKO. RAMALHO .... Jofio Ramalho.e Santo Andié da Borda do Campo — Viriato Corteia era 3 PORTUGAL CONQUISTA O MAR Origens de Portugal — Carlos Selvagem A JANGADA LIBERTADORA ©. oe» 4 a A respeito da escravidio — Sérgio Macedo A ILIADA ...... z Os gregos — H. G. Wells A GOTA DE SANGUE DA REPUBLICA - A Repiiblica ¢ Deodoro — © HUMANISMO Leonardo da Vinei © CAFE GHEGA AO BRASIL O café. ASSIM NASCEU O PAPEL Os primeiros moinhos dé papel... © ALEIJADINHO DE VILA-RIGA®....., Rica do Aleijadinho — Sérgio Matsdo: AS MUMIAS DO EGITO Sar Nogdes de Geografia Historica do Orie ANA NERI A guerra do Paraguai ‘Pandid: Galégeras .. 1. Artes orientais — J. B. Campbell. SELEGOES DA HISTORIA DO BRASIL E DO MUNDO Desenhos de RENATO SILVA - Legendas de SERGIO MACEDO NAS PRINCIPAIS LIVRARIAS DO BRASIL — CR§ 10,00 CONQUI§TA : AV, 28 DE SETEMBRO, 174 — |ANEIRO — BRASIL FACES ABRASADAS, OLHAR ARDENTE, O MARTIR DA INDEPENDENCIA SUBIU, PARA A GLORIA, FRONTE ERGUIDA, OS DEGRAUS DO PATIBULO PETICAO de Joaduim Silvério dos Reis (0 delator da Inconfidéncia) Para que, por sta morte, fosse paga a sua mulher a pensio de quatrocentos mil-réis” que éle recebia como prémio da delagio: “Senhor: © coronel Joaquim Silvério dos Reis Monte Negro, € aquéle leal vassalo bem conhecido de Vossa Majestade pela sua constante fidelic dade, que féz em Minas Gerais e Rio de Janeiro 0 assinalado servico que se manifesta pelo documento n# 1, Em atengio a éste, foi Vossa Majestade servido conferic-lhe a grasa de uma anual pensio de quatrocentos mil-réis, pagos pela To souraria do Maranhio, como se mostra pelo Real Aviso debaixo do n'2, porém, Real Senhor, o suplicante se acha em uma avangada idade cercado de moléstias crénicas que the prometem pouca duracso de vid. € como fica sua mulher e filhos em terra estranha, sem bens nem meio de subsisténcia, por perder os que tinha no abundante pais de Minas Gerais por conta do dito Servigo. Real Senhor, a mulher do Suplicante tem a honra de ser por trés vézes comadre de Vossa Majestade que nio hA de permitir que esta, € seus afilhados fiquem expostos a dltima desgraga e pendtia por morte do suplicante, que com o mais profundo respeito: pede a Vossa Majestade que pela sua infinita bondade € excelsa grandeza Ihe faga a graca da Suprevivéncia da teferida penso dos 400$000 anuais para sua mulher, De Bernardina Quitéria dos Reis e seus filhog, pagos pela mesma Tesouraria”. Queria mais, Joaquim Silverio, Em petigio de 1821, ao rei D. Joio VI pedia uma condecoragdo: ‘a venera da Ordem de N.'S. de Vila Vigosa: “Senhor Diz Joaquim Silvério dos Reis Monte Negro, fidalgo cavalheiro da Casa Real e Capitéo da 5.° Companhia do 2° Batalhao de Fact Ieiros desta Corte, que éle suplicante tem a honra de servir a Vocca Majestade ha dezessete anos, tendo assentado praga de cadete no 1# Regimento de Artilharia de Lisboa, teve a ventura de acompanhar 2 ~ SELECOES DA HISTORIA 0 Preco da Traicae Vossa Majestade daquela capital a esta Corte onde foi despachado alferes para a capitania do Maranhio, onde serviu até tenente, em que por motivos que féz ver a Vossa Majestade, foi promovido a ca- pitao do sobredito Batalhio; e como se persuada de ter desempenha- do com prontidao, atividade e zélo os deveres de um bom militar, e Fiel Vassalo: para dar um testemunho ao Piblico dos seus bons servicos, humildemente suplica a Vossa Majestade a graca de o condecorar com a Venera da Ordem de Nossa Senhora da Conceigdo de Vila Vicosa, ndo s6 em conseqiiéncia dos seus ser s, mas também em razio do seu Féro, comprovado com © documento junto; e como seja indubita- vel a recompensa em Vossa Majestade aos seus vassalos que o servem com distingao, prostrado ante o Régio Sélio, pede a Vossa Majestade se digne por efeitos de sua Real Grandeza e Beneficéncia assim anuir a sua rogativa”. Joaquim Silvério dos Reis era muito escrupuloso na delacio. Tanto assim que entre 1789 e 1792 envious autoridades diferentes vézes, Pticdes e informagées referentes & Conjuracdo qu denunciara, como mostra ste precioso requerimento: “Sr. Desembargador Pedro José de Araujo Saldanha. Diz 0 coronel Joaquim Silvério dos Reis Monte Negro que na dentincia que pds na respeitavel presenca do Ilmo. e Exmo. Sr. Vis. conde de Barbacena sébre a sublevagio intentada contra o Estado, de Sua Majestade, tem o suplicante diivida, se por esquecimento, deixaria de dizer tudo o que sabia sobre essa matéria e como na sua denancia protestava dizer tuda o que sabia quando Ihe fosse perguntado, ofe- Fece novamente © suplicante os capitulos inclusos assinados pelo’ sup cante que afirma debaixo do Juramento dos Sagrados Evangelhos ¢ nao tem o suplicante feito esta diligéncia ha mais tempo por se achar ha 9 meses préso e incomunicavel. Pede V. S. seja servidoaceitar os capitulos inclusos e que se Ihe juntem a denincia”, “AUTOS DE DEVASSA DA INCONFIDENCIA MINEIRA”. =a A PRINCIPIO ERAM ESCRAVOS QUE LU- TAVAM PELA SOBREVIVENCIA; DEPOIS, LUTAR COM O GLADIO ERA UMA ARTE QUE EMPOLGAVA OS ROMANOS , A Civilizacao Romana NYO, Fe VIE. C., wmatpesuens edede de Itélia Ocidental, sita nao muito Jonge do Mediterraneo, empenhou-se em continuas lutas.com as populagdes vizinhas, por motivos de gado, de terras e de seguranca. Aos poucos passou a dominar téda a regiao conhecida pelo nome de Lacio. Os pequenos Estados préximos que ainda mantinham sua independéncia, ndo tardaram a obedecer a cidade dominadora, e disputavam 0 privilégio de ser seus aliados, Assim € que, Roma deu os primeiros passos no caminho que a levaria a formagao de um dos mais importantes impérios da Histéria. As lutas continuaram, porém. Os di- rigentes romanos queriam mais terras, mais gléria, mais popularidade € maiores riquezas, As regides da Italia foram caindo uma por uma, nas maos désse povo ambicioso e dotado de invejaveis qualidades militares, entre as quais uma excepcional capacidade de organizacio. Dentro da cidade conquistadora nem sempre reinava a paz. Ao re- gime monarquico sucedeu um regime republicano, em que predominavam as pessoas mais ricas, e registraram-se novas lutas pelo poder. As dis- sengdes internas nao impediam as guerras de conquista, e longa série de vit6rias tornaram os dominios romanos mais extensos. Em 275 A. C. toda a peninsula itélica obedecia a Roma. Esta nfo era, entio, capital de uma nagao, mas, praticamente, a “dona da Italia”. As populagdes peninsulares, com efeito, reconheciam a sua supremacia, por interésse ou receio, ou por ambos os motivos. Sabiam que nfo adiantava lutar e era melhor, portanto, estar em boas relagdes com 0 govérno da cidade invicta. Nio bastava, porém, aos politicos e militares romanos, 0 controle da Italia continental. Queriam a Sicilia, mas para tomé-la era preciso vencer Cartago, riquissimo centro comercial. Houve longas lutas, e os perigosos rivais foram aniquilados. Entrementes, os romanos se haviam apoderado de quase tédas as terras marginais do Mediterraneo, inclu- sive a Espanha e a Grécia. Nem por isso, cessaram as conquistas: no primeiro século A. C. foram incorporadas ao Império a Galia (Franca atual) e grande parte da Bretanha (Inglaterra atual). Com a derrota do Egito, 0 Mediterraneo transformou-se num “Iago romano”. A expansio territorial era acompanhada de um processo de difu- so ¢ unificagio de cultura. Por téda a parte em que os exércitos de 4 — SELEGOES DA HISTORIA Roma impunham a sua vontade, espalhavam os conhecimentos artisti- cos e literarios que ésse povo de militares havia aprendido com a Grécia vencida. Apés confusos acontecimentos, no século 1 A. C., 0 poder caiu nas mios dos imperadores, que passaram a governar ditatorialmente. Os dominios romanos tinham-se tornado imensos, compreendendo téda a margem do Mediterraneo, e vastas terras da Europa, Asia e da Africa. Os imperadores César e Augusto, inteligentemente, iniciaram uma po- 1a tendente a fazer com que desaparecessem as diferengas entre os habitantes de Roma e os de outras partes do Império. As préprias circunstancias justificavam o seu esférgo, mas somente no século II] A. C., 0 cobigado titulo de cidadao. romano foi esten- dido a todos os homens livres das possessGes imperiais. As coisas ha- viam evoluido, e Roma deixara, definitivamente, de ser a dona de imen- sos territérios, para transformar-se na capital de uma grande nacio. Importantes mudangas estavam se processando, internamente. Den- tre elas destacavam-se a decadéncia dos antigos costumes e a irresistivel difusio do Cristianismo, embora a propaganda dessa doutrina fésse re- primida com incrivel crueldade. Bem pouco valeram as perseguigdes movidas aos pregadores do Evangelho pelas autoridades. Sua pacifica campanha de persaséo ven- ceu tédas as violéncias, e Constantino, em inicios do século IV A. C., reconhecendo a férca que ja possuiam os cristaos, concedeu-lhes inteira liberdade de culto. O Império se achava, entio, sériamente ameagado de invasées de povos do norte e centro da Europa: os Germanos. Bistes, em fins do século IV ¢ inicios do século V romperam as fronteiras € apoderaram-se dos dominios romanos do Ocidente. O poderio romano desaparecera, deixando a lembranga de grandes feitos militares. Bem pouca importancia oferecem éstes, porém, quando comparados com os trés grandes servigos que Roma prestou ao mundo: a larga difusio da cultura herdada da Grécia, as bases da ciéncia do Direito, e, finalmen- te, a unificagdo dos povos”. R. HADDOCK LOBO “Historia Geral”, ciclo colegial. di ee eeEEeEeEeEeEeEeEeEE AUDACIA E OBSTINACAO MARCARAM A VIDA DE FERNAO DIAS PAIS QUE AO DESBRAVAR A SELVA BRUTA VIVIA UMA. GRANDE AVENTURA F lamcee. Forage ‘Dies ulece = 5 Kendo ©" préprie ike que conspire conta sua auteridade, SELEGOES DA HISTORIA ~ 5 As Minas de Esmeraldas “Nos filtimos anos do séctlo XWVIf, explodiram sibitamente em =F descobrirem as minas de que todos falavam, mas que ninguém Lisboa astansiosamente © por tao longo Pram ‘esperadas noti- combecia. cias dos descobrimentos de fabulosos depfstlos Ge esmeraldas e de ouro Sairam muitas levas da ‘dade do Salvador, a Bahia de hoje, ¢ de ho sertao da capitania de Sao ‘Vicente, Tao ricas e abundantes as ja- __ outros pontos ‘da costa baiana, sob a orientaso de indios; com indu- ‘ridas. que A regido se deu desde logo o nome de Minas Gerais. bitavel boa-fé éstes guiavam 0s ‘aventureiros para as regioes que éles “Ey 9 resultado de longa porfia iniciada conto © aera avonentes. . ypaviam indicadoyiono o das pedras brancas ¢, amarelas. Verdadeira deade © primeiro contacto dos colonos om 8 rt oaduedictcts com | somédia.deicroenee TS las, pedvtevam animados da maior sincerida~ eetidade incessante ¢ com igual instcessor peavey de dificildades.c. | Seumas oh ‘ninguém se entendia. Obstaculos sem conta. ‘Chegados. aos locals apontados, ¢ claro GtG, arrose desfazia Ponto de partida havia sido um malentendido entre portugueses — apés 2 PrO' dog areias e dos corridos, que resultavert improficuos € ¢ indios. apes alla. Ai, entretanto, © mal6gro gerava esconfianca em ambos tis. sox astes em pleno periode neolitice, na mais absoluta igno- 08. grupos, cada qual O O.yndo’o outro de ter propositalments iticin dos metais. As fainas a que éstes serviy £ povos mais adian- _enganado» rancia dgui se devolviam a instrumentos de pedras polidas, ossos ou mado. avam-se os animos € isto pouce pedis contribuir para se- mesmo de madeira. renar o azedume das relagdes reciprocas. Exaltavam-se cada vez mais ‘Assim, quando os imigrantes inquiriam dos autéctones se possiiam 08 espiritos © tornavam suspeitas e mesmo inteifamente mal-intencio- minas de prata ou de ouro, os ignorantes Be sine aio entendiam a nadas os opsrtier. Quando, de fato, mero malentendido reineve entre wurgunta ¢ acreditavam e respondiam com icv ite nue se tratva, geste falundo Bagne ado oe e pestencentes a estidios sociais multe RerVedras brancas ou amarelas €, POF isso. fe, iaformacho afirmat- alestedos Vi do outro. Ge Te que existiam jazidas imensas em tals ¢ tals lugares, a tantos dias de Tima dessas expedigdes mineiras logrow descobrir um pouco de marcha da costa. ouro: na viagem de retémo, aguas abaixo ‘do rio Cricaré, emborcou Por seu lado, o portugues, firme em sua compreensio acorde com Uma cavon & pcobrou nas corredeiras, precisamente & embarcagao em a mentatidade européia, entendia a respasta fone, See entelay metalic =f qUE\VINREnS eS Pi To amostras. @ meninm e narravam os fatos & metropole, fhipnotizados por essas Pro- “Alegando 0 descoberto, no poderia set feita a prova. eetidas riquezas: ouro e prata abundavam, diziam éles, mais do que em RiegeFesanimou por extenso prazo todas 2s Pesquisas ma zona idas rfltro. B assim se formaria a lenda das divicias da colénia. baiana, Aia febre do metal nobre aquietou-st Pet ‘muito tempo. Quanto ‘Habitos dos indios era, em seu natural gésto pelos adornos, furar as esmeraldas, ndo estavam os colonos tao longe de ‘acertar. Os tem- labios. septo nasal € ‘pochechas e introduzir nos furos pedagos de ma- betas verdes faziam-se de tudo: podiam ser fragmentos de amazonite. Heirs polida ou de pedra. penas ou fragmenor de cristal ou de seixos um feldspato Measa cbr; uma turmalina verde, na malona dos casos: fuilhantes. Tais ornamentos chamavam-sé ‘aioe tas, Alguns déles, vis- mas também, acontecia serem berilos ou faguas-marinhas, ambos pet~ vos ¢ verdes, pareciam esmeraldas grosse'ras Sindarndo formadas, tencentes & familia mineral sistematica em que se inclui ‘a esmeralda. ‘gumentavam os pesquisadores, convictes Segue as gemas, como os Hoje ésses tide representantes da série, dos silicatos de alumina e glu- argumenram produgso natural do solo., Surgit logo © boato de que o — cina S30 ‘perfeitamente conkecidos em Minas Gerais e suas jazidas ¢s- Bulge brasileiro regorgitava de minas de rg aldns ¢ $6 isso se ouvia to sendo. favradas. Nao era, pois, devaneio dos pesquisadores a arran- no reino. teers para © sertdo em busea das pedras verdes. ino dericia Iogica, © govéeno dew ordem, pars, Got oe multipli- asso teforgos a fim de localizar as zonas onde "ais Tesouros s€ PO PANDIA CALOGERAS Ssm encontrar. Iniciou-se nas capitanias ‘alvorogado movimento para *Rormacao Historica do Brasil” . 6 — SELEGOES DA HISTORIA Eee UM RASTRO DE SANGUE MARCAVA A PASSAGEM DAS LIGEIRAS E BELAS EM- BARCACOES DOS «VIKINGS», AUDACIO- SOS PIRATAS ESCANDINAVOS SELEGOES DA HISTORIA ~ 7 pgs © nordmannen, homens do norte — foi a desig- nagio genética dos piratas da Escandinavia, que, depois de pi- iharem, durante mais de um século, as costas da Europa, terminaram por fixar-se em algumas terras. Dinamarca, Suécia e Noruega eram as patrias désses assaltantes do mar que pertenciam a um dos ramos da grande familia germanica. Quando seu nome principiou a se transformar em simbolo de, terror, cstavam divididos em pequenos agrupamentos soberanos dirigides por Chefes ou reis independentes que tinham sob sua autoridade reis tri- $utarios aos quais davam a denominacao de “yarts"-condes. “Reis do Mar” era o titulo que tomavam os comandantes das gran- des expedigbes que se aventuravam nos oceanos. A pesca familiarizava Gs normandos com os segredos maritimos; 0 mar, a fascinagio do mar. Grrastou-os a pirataria, considerada, entio, como fonte de fortuna facil modo de adquirir renome e gloria. : ‘As proprias mulheres participavam das grandes aventuras mariti- mas, entregando-se com entusiasmo 4s mais rudes tarefas nas embar- cagées primitivas. preciso considerar a natureza ingrata do solo que habitavam essas populagSes para bem compreender 0 motivo de suas incursdes em busca de terras que Ihes oferecesse 0 que Ihes recusava 0 chio natal. Dai as grandes imigracées, transformando a acio de piratas iso- lados em verdadeiro trabalho de grandes grupos, grandes aglomera- sées humanas,. Outros poves germanicos haviam precedido os normandos na aven- tura do assalto no mar: os sax6es, por exemplo, ¢ os habitantes da Ju- tlandia destacaram-se em expedigdes do género indicado. ‘A primeira mengao aos Normandos, encontrada na Historia, tem a data de 517. Gregorio de Tours conta que, nesse tempo, Teodoberto destrogara um grande grupo, no Mosa, o que livrou_o império franco, durante trés séculos, de novos assaltos normandos. Dirigiram-se éstes, entdo, principalmente, contra 0 arquipélago britanico que Ihes sofreu as investidas audaciosas. & ~ SELECOES DA HISTORIA — Os Normandos Pela mesma época grandes lutas internas se travavam na Escan- dinavia. Na grande batalha de Bravalla, em. 735, a elite dos guerreiros hormandos sofreu sérios revezes. Mas a guerra de Carlos Magno con- tra os saxdes, dos quais o chefe Wittikind havia, certa vez, procurado refiigio entre os normandos, pés os guerreiros do norte novamente em Contacto com os francos. No ano de 795 os daneses pilharam as costas da Friza. Ja entdo encontravam-se fixados na Irlanda onde eram desig- nados como os Ostmans (homens do oeste) . Em 810, o reio Godofredo, da Dinamarca, que acabava de romper hostilidades contra os aliados de Carlos Magno, atacou, novamente, Friza. Em 827, os normandos Ievaram suas incursdes até a Galicia e pe- netraram no Mediterraneo. Em 841, depois da sangrenta batalha de Fontenai, em que pereceu a fina flo dos guerreiros franceses, nao se encontrava mais pais algum europeu em condigdes de resistir as inva- sdes normandas. Incendiaram Rudo, naquele mesmo ano, pilharam Nantes ¢ Bordéus, desceram até a Espanha mourisca, e Sevilha, por um instante, estéve sob seu dominio. Tres vézes, sob o comando de Hastings, o mais terrivel dos “Reis do Mar”, devastaram as costas da Italia, penetrando, através do Loire, no coragao da Franca, sem, todavia, conseguirem se apoderar de Tours, gracas ao heroismo de seus habitantes. Em outra invasao, em 845, chegaram até Paris, obrigando Carlos, 0 Calvo, a aceitar um tratado de paz. Nao sendo possivel vencer ésses barbaros, cuidaram diferentes reis de conquistar a simpatia de seus chefes. Hastings, o arqui-pirata, foi cumulado de honrarias, terminando por converter-se € receber, como prémio, o condado de Chartres”. M. DEPPING “Histoire des expeditions maritimes des Normands” . O BRASIL JA ESTEVE ARRENDADO A JUDEUS (FERNANDO DE NORONHA) QUE FORAM DOS PRIMEIROS COLONI- ZADORES DE NOSSA PATRIA fom varios eempre iguale. SELEGOES DA HISTORIA ~ 9 Joao Ramathe e Santo André da Borda do Campo UER sobre a vila de Santo André, quer sObre a vida de Joao Ra- malho, andava Histéria ainda as tontas. Joao Ramalho tem sido tudo na Hist6ria, ao sabor dos historiado- res. Para uns foi o precursor de Colombo, pisando em terras america- nas antes que as caravelas do navegador genovés fundeassem nas aguas das Antilhas. Para outros é o néufrago que, ao Brasil, aportou nos dias sombrios em que Portugal deixou a terra de Santa Cruz em pleno aban- dono. Para Candido Mendes nao € outro sendio 0 muito conhecido “ba- charel de Cananéia”, que a Historia até hoje nao péde identificar de- finitivamente. Para outros, um aventureiro ignorante. O que éle 6, até hoje, nestes dias de pesquisas, é um ponto de intertogagio. arraial de Santo André continua com a mesma sorte do seu fun- dador, Ninguém sabe em que local do planalto paulista Joio Ramalko fundou_o seu povoado. Até 0 presente, nao se pode determinar 0 lugar em que existiram os primeiros fundamentos do mais antigo dos micleos populosos de Séo Paulo. Que ambos existiram — © arraial e 0 fundador — € que nio ha mais divida. Para muitos, 0 arraial de Santo André da Borda do Campo ndo era mais que uma furna de bandidos, um numeroso rancko de malfeitores, colocados no planalto paulista, logo apés as muralhas da cordilheira do Mar, ali vivendo como salteadores terriveis, escravi- zando indigenas, de arcabuz e flecha impedindo que alguém trans- Pusesse os sert6es incultos. Jodo Ramalho nao era mais que o maioral dessa quadrilha. B provavel, € mesmo quase certo, que a populagio que fervia nas ruas de Santo André nao fésse a mais décil e a mais angélica daqueles tempos 4speros. Nao seria possivel existir no coragio da selva, numa quadra de aventura e fome de riquezas, uma populagio de santos. As surpré. sas da floresta desconhecida, as emboscadas dos indios indomaveis, e principalmente o ambiente da época, haviam de tornar os homens afoi- tos e bravios, Mas, a verdade € que Santo André da Borda do Campo teve uma organizasio social ¢ uma organizacao politica. Ninguém hoje pode 10 ~ SELEGOES DA HISTORIA duvidar disso, depois que o Sr. Washington Luis féz publicar as ve- Ihas atas da municipalidade do remoto arraial de Joio Ramalho. Em Santo André ndo mandava quem queria, nem Joio Ramalho era o poder autoritario e supremo. Havia uma municipalidade, havia um poder legislativo, havia o que hoje chamamos prefeito e que, na-~ quele tempo, era chamado juiz. A lei tinha um rigor feroz: os assuntos piblicos, um tom de se- riedade, que hoje absolutamente ndo existe nas mais perfeitas socie- dades organizadas. No periodo quinhentista, o dinheiro nao tinha 0 mesmo valor de hoje. Basta dizer que o descobrimento da América nfo custou muito mais de sete contos de réis ao govérno de Espanha, Um cruzado era quantia fabulosa. Cabral, quando féz a viagem as Indias, da qual resultou o des cobrimento do Brasil, ganhava régiamente. Vencia, pela viagem de ida e volta, a soma incrivel de quatro contos de réis. Cada um dos co- mandantes das naus recebia um conto e duzentos, ida e volta. Os pi- lotos ganhavam duzentos mil-réis pela viagem; os marinheiros quatro mil-réis por més; e os soldados dois mil-réis apenas, Ferndo de Magalhaes no descobriu, para Portugal, o estreito que tem o seu iiltimo nome, porque el-rei D. Manoel ndo o quis gratificar com seis escudos, cérca de nove mil e seiscentos réis na moeda atual. Na época em que 0 povoado de Joao Ramalho floresceu, 0 gover- nador geral do Brasil percebia dos cofres piblicos o imenso ordenado de trinta e trés mil trezentos e trinta e trés réis mensais. O bispo nao recebia mais que a metade. O oficial do governador geral s6 recebia quinhentos réis por més e vivia como um principe. Na propria vila de Santo André, os ordenados eram apertadissi- mos. O prefeito ganhava oitocentos réis por ano (dois cruzados). O porteiro da Camara satisfazia-se com quatrocentos réis anuais. VIRIATO CORREIA “Terra de Santa Cruz”. COMO A PROA DE IMENSO NAVIO, AVANGAVA SOBRE O MAR O PROMON- TORIO DE SAGRES, ONDE D. HENRIQUE ESTABELECEU A SUA ESCOLA Tia! «inden abbre 0 Cabo Bo) Portugal tranalormavacae Bute" DO: SELEGOES DA HISTORIA ~ 11 Origens de Portugal «JAOS lwsitancs compete; pela sua venerdvel antiguidade, © lugar preeminente na escala dos primeiros povoadores de Portugal. As mais remotas noticias os mencionam como os primitivos habitantes das terras altas a ocidente de Ibéria, rudimentarmente organizados numa federagio de cérca de trinta tribos, ocupando quase todo o norte do atual Portugal e parte da Estremadura espanhola, e constituindo, se- gundo um autor grego, “a mais poderosa das nacdes ibéricas” . Meio-guerrilheiros, meio-pastores, de costumes barbaros e essen- cialmente belicosos, andavam sempre armados, vivendo em perpétuo es- tado de guerra com os povos vizinhos. As armas eram a espada curta, © escudo redondo e concavo de dois pés de diametro, a lanca, o cutelo, © punhal e dardos de cobre. Serviam-se de cavalos para a guerra, mon- tando em cavalo geralmente dois homens, um dos quais se apeava, a0 entrar em combate. Vitoriosos, cortavam a mio direita aos vencidos, liam augérios nas entranhas ainda fumegantes de um prisioneiro votado ao sacrificio, pois prestavam culto a um politeismo grosseiro, em que sobressaiam os dois deuses da guerra um certo deus superior — Endo- vélico — talvem comum a outros povos da Ibéria. Frugais e sébrios, mas geis e fortes, dormiam no chio duro, ba- nhavam-se em agua fria, alimentavam-se de pio de farinha de bolotas de leite, de manteiga, de mel, raras vézes de carne de bode, e bebiam por vasos de céra uma espécie de cerveja ou cidra. As mulheres atavia- vam-se de céres garridas; os homens vestiam-se em geral de negro ou cOres sombrias, com samarras de 14 ou pele de cabra, e deixavam crescer os cabelos como as mulheres, atando-os em tufo ao alto da testa para entrarem em combate. As festas eram jogos gindsticos, de pugilato e corrida, ou dancas guerreiras & maneira das pitricas dos lacedeménios. Como virtudes comuns a outros povos ibéricos, todos os autores an- jos dao testemunho da sua intrepidez herdica, resisténcia fisica e leal- dade levada ao sacrificio da vida; mas extremamente individualistas, siosos de liberdade, orgulhosos, insubmissos a téda a autoridade regu- lar, s6 a guerra os compelia a eleger ¢ acatar um chefe. Por isso, os in- 12 = SELEGOES DA-HISTORIA terésses coletivos eram tratados tumultuosamente em grandes assem- biéias que tinham ainda certo caréter militar, pois era batendo-nos es- cudos com as espadas que os homens aprovavam as resolugdes propostas. Com gente de tal indole no deve surpreender que a Lusitania ti- vesse sido um perpétuo campo de batalha e que as sucessivas invasdes que sofreu, tivessem sido assinaladas por sébre-humanos rasgos de he- roismo. Foram os fenicios os primeiros povos estrangeiros que, talvez por fins do século XV, A. C., estabeleceram comércio e fundaram co- Tonias no litoral da Lusitania. Povo semita do Levante, 0 seu génio, es- sencialmente mercantil e maritimo, exercia-se de preferéncia, por meios pacificos, para o comércio e para a exploragao de minas. Nesse intuito se internaram em varias regiées da Peninsula, levando aos iberos as pri- meiras luzes da civilizagdo mediterranea — a moeda, as indiistrias, as artes ¢ talvez mesmo o conhecimento do alfabeto. Assim chegaram a exercer um dominio positivo em varias regides da Ibéria, sobretudo pela superioridade de sua cultura; mas, sendo de crer que mem sempre essa dominagio tivesse sido aceita sem resisténcia, nenhumas noticias escri- tas chegaram até nés, dessas provaveis lutas. Com a queda de Tito, metrépole fenicia, findou na peninsula a sua dominacio. Foi entéo que, por seu turno, os gregos do Grande Século viecam fundar colénias nas costas ibéricas do Mediterraneo e Atlantico, tendo, por isso, chegado também a Lusitania, embora remotamente, 0 refiexo da superior civilizagio helénica. Mais tarde os cartagineses, descendentes diretos dos fenicios, ja senhores da navega¢do e de intimeras colénias no Mediterraneo, ex- pularam por sua vez os gregos, do litoral da Peninsula: e, no século IIL A. C., depois das vitoriosas campanhas de Hamilcar Barca, im- puseram 0 seu jugo militar e politico aos territérios do sul do Ebre e a varias tribos da Lusitania”. CARLOS SELVAGEM “Portugal Militar” FRANCISCO DO NASCIMENTO, O «DRA- GAO DO MAR», FOI O PRIMEIRO A DAR O GOLPE DE MORTE NA ESCRAVIDAO, EM SUA TERRA NATAL aia rabalnadoror mariti sim préticamente. impossivel fomendo ‘Geards SELEGOES DA HISTORIA ~ 13 A respeitoe da escravidaie «ED me chesou. ‘O negro depois de passar pela alfandega é transportado para os mercados, vastos ranchos semelhantes a cocheiras, instalados no Valongo, onde permanece espera de comprador, 0 que geralmente nao demora. Este chega, apalpa a musculatura do negro, olha-lhe os dentes. Mira-o bem. E faz-se o negécio. Imedia‘amente, entdo, compra-lhe o senhor roupas que Ihe agra- dem: a faixa de céres para a cintura, o paleté azul, 0 cobertor de li de céres vivas, amarelo e vermelho. No trajeto do mercado ao engenho, 0 escravo € bem-alimentado ¢ carinhosamente tratado. A dar crédito a Rugendas, “muitas vézes vé-se chegar ao rancho 0 colono, com 0 cavalo na garupa ou conduzindo pela rédea o cavalo que 0 carrega”. Escravo chegado de fresco nio era mandado desde logo para o trabalho — embora se possa pensar 0 contrario. Passava certo tempo sem trabalhar até se acostumar ao novo habitat. Geralmente, o escra- vo recebia uma faixa de terreno onde podia construir sua choca e plan- tar 0 que lhe aprouvesse. Foi com 0 produto de sua pequena lavoura que a mor parte déles juntou o pectilio para a carta de alforria © negro foi indispensavel dentro de casa. Indispensaveis os ne- grinhos. Fazendo cafuné em sinha-dona, rindo e mexericando. Indis- pensdveis os molequinhos pulando com sinh6-moco. Vilhena em suas “Cartas” exclama espantado: “é tio dominante a paxio de ter negros em casa que logo que éle seja cria que nasceu nela, s6 por morte € que dela sai, havendo muitas familias que das portas para dentro tém 60, 70 e mais pessoas desnecessarias” Na cozinha o dominio do negro foi absoluto. Impés seu paladar, impés seus condimentos, seus pratos prediletos. Foi éle que introdu- ziu 0 “quingombé", o azeite de dendé, o vatapa, 0 quibebe, as peixa- das cheias de complicagées de tempéro, as far6fias variadas. A satide do escravo preocupou o senhor. Naturalmente que o egois- mo foi que ditou essa preocupagao. Médo de perder escravo. Médo justo porque o escravo constituia uma riqueza, um patriménio, e, nos fins do Trafico, muito dificil era comprar um tinico negro. Em 1861, mais ou menos, instituiu-se 0 “Seguro de Vida" para o negro, em beneficio do dono. No Museu Histérico Nacional encontra- se uma apélice com os seguintes dizeres: 14 — SELEQOES DA HISTORIA CIA, MUTUA DE SEGURO DE VIDA DOS ESCRAVOS Seguro de rs. 1.000$000. Seguro nr. 3.352 — Apélice nr. 8.216 Prémio . eS 67$500 Seloiaap. . .c.amee~ 1§850 69$300 Ocupagio: ganhador. Idade: 38 anos. Segura a Companhia Matua de Seguro de Vida dos Escravos, ao Revmo. Padre Domingos Manuel Lopes Amaro, a quantia de um conto de réis, valor em que foi estimado 0 préto Miguel, da nago Congo, cujos sinais ficam na companhia pelo tempo a decorrer da data de hoje até 1/2 noite de 31 de maio de 1865, e tudo na conformidade dos Estatutos da Companhia, ao prémio de 4 1/2 por cento ao ano que recebemos a0 fazer esta, em moeda corrente. Rio de Janeiro, 21 de outubro de 1863. O Diretor: José da Vitoria. O Gerente: Gaston..... (resto ilegivel”. Mas voltemos & satide do negro. Escravo no Brasil, principalmente no periodo colonial adquiriu 0 estranho vicio de comer terra. A cura dessa enfermidade, responsavel pela morte de muitos, nio se efetuava com me- dicamentos. O tratamento consistia em aplicar a boca do paciente um es- tranho instrumento denominado freio, que o impedia de descerrar os labios. Préto morria como qualquer pessoa da familia de branco. Con- fessando-se, comungando, encomendando a alma a todos os santos. “Enrolavam-se os cadaveres em esteiras: e perto da eapela ficava 0 ce- mitério dos escravos, com cruzes de pau préto assinalando as sepultu- ras", diz Gilberto Freyre. Sepulturas cristas, portanto, Aliés, muito curioso, diga-se de pas- sagem, o sentimento de religiosidade do colonizador profundamente incoerente, que, ao mesmo tempo que reclamava da autoridade per- missio eclesidstica para o “negro trabalhar no santo dia de domingo” ¢ mandava 0 feitor aplicar-Ihe o “bacalhau” sem piedade, cuidava que o escravo morresse cristamente, ouvisse missa, comungasse, acompanhasse prociss6es' . SERGIO MACEDO “Apontamentos para a Histéria do Tréfico Negreiro no Brasil” . GRAGAS A BELEZA INVULGAR DE HE- LENA HOUVE A GUERRA DE TROIA E COM ESTA SURGIU O POEMA IMORTAL, DE HOMERO. SELEGOES DA HISTORIA ~ 15 «(COMO a maioria dos povos arianos, o gregos tinham cantores ¢ recitadores. cujos cantos e poemas eram forte vinculo social. Bles transmitiam de geragio em geragio a historia das origens barba- ras de sua gente, reunida em dois grandes poemas: a Iliada. que narra como tribos gregas aliadas tomaram e saquearam a cidade de Troia, na Asia Menor, e a Odisséia, que é longo relato cheio de aventuras do re- gfesso de Ulisses. o prudente capitéo. de Tréia para a sua ilha natal. Bsses poemas foram escritos no século VIII ou no VII antes de J. C.» quando os gregos obtiveram de vizinhos mais civilizados 0 conhecimen- to'do alfabeto. Ha motivos, porém, para crer que existissem muito tempo antes dessa época. Atribuiam-nos outrota ao poeta cego Ho. mero, que os teria cantado e composto como Milton féz com o " raiso Perdido". Pouco nos importa que tal poeta tenha existido, com- posto seus poemas ou tenha sdmente tomado e polido o$ antigos. S30 discussdes de eruditos que nao nos interessam. Basta-nos saber que 0s gregos possuiam seus poemas épicos no século VIII A. C., e que os mesmos constituiam um legado comum e um vinculo que ligava as di- versas tribos, dando-lhes 0 sentido de sua solidariedade contra os bar- baros do exterior. Essas tribos gregas eram um grupo de nacdes pa- rentas, unidas entre si pela lingua, em primeiro lugar falada, depois escrita, e que partilhavam do mesmo ideal de coragem e de virtude. Os poemas épicos descrevem os gregos como um povo ainda bar- baro, que nao conhecia ainda o ferro, que nio aprendera 0 uso da es- crita € que ainda nao habitava cidades. Viviam, sem divida, ao coméco, em aldeias abertas, compostas de cabanas agrupadas em volta das ha- bitagdes de seus chefes, fora das ruinas das cidades egéias que tinham destruido. Rodearam mais tarde suas cidades de muralhas e receberam dos povos conquistados a idéia de templos. Os gregos comecaram a comerciar e a fundar colénias. No século VII, A.C. nova série de ci- dades havia surgido nos vales e ilhas da Grécia, esquecidas das cida- des egéias ¢ das civilizagdes que a tinham precedido, Assim foram Ate- nas, Esparta, Corinto, Tebas, Samos, sem olvidar Mileto. Existem ja a. 16 ~ SELECOES DA HISTORIA Os Gregos estabelecimentos gregos ao longo do litoral do Mar Negro, na Itélia € na Sicilia. Ao sul da Italia chamavam a Grande Grécia. Marselha era uma cidade grega fundada no local da antiga colénia fenicia. As regides de grande planicie ou aquelas que tém como principal meio de transporte um grande rio como 0 Nilo ou o Eufrates tém uma tendéncia a se unirem, adotando uma lei comum. As cidades do Egito e as da Suméria, por exemplo, ligavam-se entre si por um mesmo sis- tema de govérno. Mas os diversos povos gregos vivendo, uns nas ~ ilhas, outros em vales alpestres, pois a Grécia era tio montanhosa quanto a Gra-Bretanha, uma tendéncia individualista, proveniente dessa hete-_ rogeneidade, as impediu de se unirem sob um mesmo govérno. Quando ©s gregos surgem na historia, estio divididos em grande nimero de pequenos Estados, sem a menor coesio. Sio diferentes até na raca. Alguns se formaram anicamente como cidadaos desta ot daquela tribo grega (jénica, edlia ou dérica); outros tém uma populagéo mestica de gregos ¢ de descendentes dos pre-gregos do Mediterraneo; outros ainda se constituem de homens livres, dominando uma popullagio conquistada ou escravizada, os ilotas, em Esparta. Em certos désses pequenos Es- tados, as velhas familias dirigentes arianas se tornaram uma aristocra- cia fechada; em outros, uma democracia; em outros ainda, hA os reis eleitos ou hereditarios, ou usurpadores ou tiranos. As condig&es geogrificas que tinham conservado na Grécia os di- ferentes Estados divididos fizeram com que permanecessem pequenos. Os maiores eram menores do que muitos condados ingléses. & pouco provavel que sua populagio fosse além de trezentos mil habitantes. Poucos mal chegavam a cingiienta mil. Uniam-se por lacos de amiza- de ¢ interésses comuns, porém, ficaram independentes uns dos outros. A medida que 0 comércio se desenvolvia, as cidades gregas formaram ligas, concluiram aliancas, as pequenas pondo-se sob a protesio das grandes”, H. G. WELLS “Pequena Historia do Mundo” . SEMPRE HOUVE, AFINAL, QUEM TEN- TASSE, COM O SACRIFICIO DA PROPRIA VIDA, DEFENDER A MONARQUIA AGO- — = "® menarah Pa ‘mento, fiet lice onde seus ferimenlor e8o\ pensados, mento’ revoluciondtio. SELECOES ‘DA HISTORIA — 17 A Repablica e Deodoro &P)EODORO também por ésse tempo, pelo menos, no pensava em dar carater republicano ao movimento, Das suas atitudes ¢ pa- lavras o que se depreende ¢ que Deodoro vacilou muito, oscilando, numa penosa crise de consciéncia, entre a Monarquia e a Repiblica, ou melhor, entre D. Pedro e a Repiblica. Os republicanos assediaram Deodoro e Benjamim teve o principal papel no trabalho de conversio do cauditho, Em 10 ou 11 de novembro reuniram-se todos éles, Ben- jamim, Quintino, Aristides Lobo, Glicério e outros na casa do proprio Deodoro para leva-lo ao golpe republicano. Deodoro ficou longamente hesitante. Devia ser grande a luta intima que travou consigo mesmo com a sua prépria consciéncia. Por fim, a uma exortagao mais veemen- te de Benjamim, cedeu. "Eu queria acompanhar 0 caixéo do Impera- dor, que esta velho e a quem respeito muito”, disse, tomado de uma 5 bita onda de ternura pelo imperante a quem era grato e de quem era amigo. E depois, ja “fixado": Ble assim o quer, facamos a Repiblica. Sente-se dessas palavras que Deodoro assentiu em destronar o Im- perador, a ultima hora, com dificuldade, recalcitrando, como que arras- tado, vencido, cedendo pressao de uma forca estranha & sua propria vontade. Sé depois da conferéncia de 11, com Benjamim e outros re- publicanos, € que éle resolveu imprimir ao movimento, que planejara contra o Gabinete, um sentido republicano, inteiramente fora do set pensamento inicial © esforco catequizante de Benjamim fora realmente eficaz, porque a 12 de novembro, num encontro com o entio coronel Jacques Ourique, Deodoro parecia francamente decidido na sua adesio & Repiblica: “Jacques, eu também sempre fui monarquista, ainda que desgostoso e descontente nestes iiltimos tempos, disse éle. Agora é forcoso con- yencermo-nos de que com a monarquia nio ha salvagio possivel para a Patria, nem para o Exército. Ja temos provas de que, depois de tudo © que fizemos, éles seguiriam a mesma senda e tratariam de aniquilar o Exército. E, demais, a Repiblica vira com sangue, se nao formos ao seu encontro sem derrama-lo”, Esta resolugo, assim tio definida, parece, entretanto, que esmo- recia @ medida que o caudilho caminhava para'o desfecho do dia 15. Dit-se-ia que Deodoro voltava de novo a vacilar sob a agio de vai sentimentos descontrolados 18 ~ SELECOES DA HISTORIA Esta indecisio como que persistiu até o instante mesmo do golpe- de-forca, que haveria de derrubar 0 trono. Conta, com efeito, 0 proprio Visconde de Ouro Préto que Deodoro Ihe dissera, por ocasiao da inti- magio no Quartel General, que” ia levar ao Imperador a lista dos novos ministros”. Ora, isto prova que, naguele instante pelo menos, 0 pensa- mento de Deodoro ja ndo era o de Benjamim — isto é, da Republica; mas sim, 0 de Pelotas — isto 6, a derrubada do Gabinete. Tudo da a entender que ésse estado de indecisio de Deodoro, esta flutuagao, moral continuou ainda mesmo depois de realizada a deposi- sio do Gabinete. O golpe fora dado pela manha, e j@ pela tarde nao havia ainda nenhum ato positive de Deodoro como indicando a pro- clamagio da Repiblica. Qs republicanos inquietaram-se e comecaram a ficar apreensivos. Dizia-se que, depois do fato consumado, os chefes do movimento nilitar tinham encarado a gravidade da situacao e hesitavam em arcar com as responsabilidades de uma subversio do regime. Era tio posi- tiva a indecisio de Deodoro, que Benjamim também se mostrou reti- cente quando 0s republicanos, chefiados por Glicério, foram em magote até agasa de Deodoro com o fim de dissipar a incerteza em que estavam € Plaecar declaracdes. Recebidos por Benjamim, éste no féz nenhu- ma gfirmagio categérica e chegou a declarar que o novo govérno con- suhacia em tempo a nagdo para que esta decidisse de seus destinos. Os republicanos compreenderam imediatamente a realidade da si- tuagio e comegaram a agir com rapidez ¢ extrema habilidade, no in- tuito de evitar que a vitéria acidental do seu pensamento se resolvesse num fracasso final. Com éste fim acercaram-se de Deodoro e come- garam a adensar em t6rno déle uma atmosfera poderosa de sugestdes, tendentes a_abalar em favor da Repablica a sua sensibilidade de emo- tvo. Era Quintino, era Glicério, era Benjamim, principalmente. Sem éte grupo de entusiastas e dedicados, tudo parece indicar que a Re- publica seria, a 15 de novembro, uma tentativa aborticia, com uma du- ragio momentanea de relampago — como aquéle “Ministério das nove horas”, presidido por Vasconcelos. OLIVEIRA VIANNA “O Ocaso do Império” SAIU PARA O MUNDO, DE FLORENGA, © GRANDE MOVIMENTO CULTURAL QUE ATINGIU O SEU AUGE ATRAVES DE DANTE E DA VINCI SELEGOES DA HISTORIA — 19 Leonardo da Vinci ‘ASCEU Leonardo da Vinci, em 1452, na aldeia acastelada de Vinci, que ainda hoje coroa uma colina da Toscana, cérca de Florenca. Nesta cidade estava, ao tempo, a desabrochar o Renascimento, de que essa crianga seria o simbolo. Por um milagre da Histéria, essa cidade- zinha livre, debrugada nas margens do Arno como uma flr rara num vaso de cristal, herdara téda a arte de Atenas e téda a cultura de Ale- xandria, que se detiveram ali pouco mais de um século, para prosse- gutirem na sua rota para o Ocidente e irem fixar-se até hoje, em Paris. Milagre da Historia ou das suas instituigdes livres, a Repiiblica de Floren- a, tendo por ganfaloneiros da sua justica, provedores da sa riqueza defensores da sua independéncia os primeiros Médicis, era bem o am- biente onde deveria formar-se a personalidade de Lonardo, como o foi para outro génio renascentista: Miguel Angelo, © pai de Leonardo era 0 jovem notrio Da Vinci, “ser” Pietro, a mée uma camponésa, Catalina, talvez doméstica da abastada familia dos Vinci. O filho foi natural. Malgrado, criaram-nos os avés paternos. A mie, essa casou-se, logo, com um camponés da aldeia. Quando o pai ca- sou, mais tarde, a madrasta, dona Albiera, adotou 0 pequeno Leonardo € como nio teve outros filhos quis-Ihe como se seu fesse. Nao pesava entio sdbre os bastardos nenhum injusto estigma de oprébrio e por toda a Itélia herdavam dos pais nomes e bens. Leonardo foi, portanto, edu- cado como um filho de familia abastada. Folgou nas festas e foi destro cavaleiro. Era formoso de corpo e prendado de dons do espirito, Cedo mostrou vocagées para as artes. Tudo em Florenga, para onde a familia fora viver, falava delas e incitava a praticé-las. Teria Leonardo, quinze anos, quando o pai o féz entrar como apren- diz para a oficina de Andrea del Verrochio. Bste era ourives. Essa profissio ocupava 0 mais alto grau no artesanato, pois o ourives tinha de saber tudo: desenhar, gravar, esculpir, fundir os metais preciosos ¢ pintar para harmonizar as céres nos esmaltes. Verrochio, ourives tal como foram Donatello, Ghibertti, Guirlandajo, foi, como éles, grande escultor e pintor. A sua escultura do Colleoni, em Veneza, € a mais 20 ~ SELEGOES DA HISTORIA bela estatua eqiiestre que se conhece, e a sua pintura é de tal quilate que muitos a confundem com a de Leonardo. Certos criticos vaio a ponto de dizer ter 0 mestre aprendido com o discipulo. As obras saidas da ofi- cina de Verrochio, sejam déle proprio, de Lorenzo de Credi, do Peru- gino ou doutros seus discipulos, tem o cunho chamado leonardesco. O cunho, portanto, era do Verrochio, 0 qual o transmitiu ao discipulo, que por sua vez, o levaria a extremos de rara perfeicao eclipsando a fama do mestre como pintor. Verrochio apreciava as notaveis qualidades de Leonardo e cedo o deu por pronto da aprendizagem, de sorte que, aos vinte anos, o artista portentoso ingressou na corporagio dos pintores de Florenca. Antes desta investidura, o mestre nao teria vacilado em convidar o discipulo a colaborar com éle numa grande obra, “Batismo de Cristo”, pintada entre 1468 e 1470, na qual um anjo, 0 que se vé de perfil, é, segundo se diz, de Leonardo. Bste teria sido, logo no coméco da sua aprendi- zagem, o modélo da estdtua de “David”, por Verrochio. O discipulo toma como modélo da sua primeira pintura auténoma, a “Anuncia- s40$filoje no Louvre, uma pintura do mestre, a “Anunciago” dos Uffizi, de‘janeenga. A interpenetragao dos dois artistas foi essa: um colabo- rava com © outro e inspiravam-se mituamente. A primeira obra datada de Leonardo é um apontamento de paisagem, com a data de 1473, e essa nada tem de Verrochio. O pintor de 21 anos comegava a voar com as proprias asas. Manter-se-ia, contudo, sendo sempre na oficina de Verrochio, a trabalhar em Florenga, durante cérca de dez anos. Sao désse tempo, além daquela “Anunciagao”, baixo-re- Ivo de Cipiao, também no Louvre, que iltimamente lhe tem sido atti buido, o expressivo “Sio Jeronimo”, por acabar, que esta no Vaticano, a Madona, chamada de Benois, do Museu de Ermitage, que teria sido comesada em 1478 ¢ lhe é atribuida, ¢ a grande composicao da “Ado- tagio dos Magos”, que deixou também esbocada e por executar para a qual firmou vantajoso contrato com os monges de S. Donato, em 1481. NAO PODERIA IMAGINAR QUE AQUE- LAS HUMILDES SEMENTES, TRAZIDAS DA GUIANA FRANCESA, SE TRANSFOR- MASSEM NO PRINCIPAL PRODUTO ECO- NOMICO DO BRASIL SBLEGOBS RA: HISTORIA — 21 aan i tee 6 Café EESCRITOR arabe refere com relagdo a descoberta do café curiosa Jenda. Um pastor, encarregado de guardar as cabras de um mos- teiro, notava que elas nao dormiam ¢ agitadamente saltavam durante a noite inteira. Relatou o estranho fato ao prior do convento, o qual, de- pois de observar os animais, viu que os mesmos comiam com manifesto prazer os frutos de certos arbustos selvagens. Colheu alguns désses fru- tos, ordenou que féssem cozidos, e tendo observado um pouco da de- cogo que dai resultou, notou que também perdia o sono. Ora, como os monges tinham 0 mau habito de dormitar a hora da prece noturna, éle deu-lhes também a beber ésse liquido e foi assim que as propriedades anti-soniferas do café se revelaram pela primeira vez. Do Oriente passou o café a Europa, no século XVII. © café € a mais importante riqueza agricola do Brasil. Encontrou nas nossas regides de terra roxa as suas zonas de produgio favoritas: em nenhuma outra regio do mundo o cafeeiro dé téo bem como nc Brasil, e em particular, nos Estados de Sio Paulo e Parana. Em 1840, Sao Paulo fornecia apenas 2,8% da produgio total do café brasileiro. Dez anos mais tarde a produgio se elevava a 82.000 sacas e em 1889 a exportagio ascendia a 2.000.000 de sacas. As exportag6es sempre foram realizadas para a Europa e o norte do continente, especialmente os Estados Unidos, sendo curioso obser- var que, nesse ultimo pais, verificou-se, a partir de 1913, um aumento do consumo médio anual de meio por cento, “per capita”. Conquanto haja sido onerado em quase todos os paises consumi does, o café brasileiro pode ser pésto disposigio dos consumidores, nos diferentes paises, por precos inferiores aos atualmente pagos, aufe- indo, entretanto, os produtores, Iucros bem superiores aos que ora per- cebem, tudo dependendo da execugio de uma acertada politica cafecira. © café, na sua marcha expansionista, tem realizado verdadeiros “milagres". Um déles, e dos mais belos, é a criagio da cidade de Lon- drina, no Parana, que em poucos anos se transformou em adiantado niicleo de populagio, provida de todo 0 conférto moderno. © grande geégrafo, professor Pierre Deffontaines, teve oportuni- dade de escrever a respeito do café as seguintes interessantes linhas: 22 ~ SELEGOBS DA HISTORIA “As regides onde domina a terra-roxa so, por exceléncia, regibes de café, estreitamente associadas & grande propriedade; era, outrora, a re- gido das mais belas florestas. A custa de vastas derrubadas, a arvore cede lugar @ cultura intensiva do café, embora nio completamente, e 0s cafezais estio longe de formar uma paisagem continua. Os fazendei- ros nao puseram em exploragdo t6da a sua propriedade; manchas mais ‘ow menos vastas de florestas virgens espalham-se pela regio, e, entre elas, estendem-se porgdes de campos ou “cerrados”, utilizados como pas- tos; em geral, éstes recantos de exploragao mais extensiva onde reina somente © gado, correspondem as manchas de terra branca, que se in- terpdem nos solos de terra roxa. A fortuna dessas regiées féz-se bruscamente e as fazendas cobri- ram-se de grandes dominios rurais; mais de 70% das propriedades ul- trapassam 100 alqueires. O povoamento é€ constituido principalmente por dois elementos: a sede da fazenda concentra a habitacdo, muitas ‘vézes suntuosa, do fazendeiro, os escritérios da administracao e as cons- trugdes que servem para a seca e o preparo do café; e as colénias, que abrigam a populagao dos assalariados em vilas operdrias rurais, em mo- notonas filas de casas de tijolos, todas iguais. As familias dos colonos cram outrora quase tinicamente de origem italiana, mas hoje sio de pro- veniéncia muito variada. Nao existem verdadeiras aldeias ou povoados, porque nao ha pe- quenos proprietarios. Em compensacio, as cidades sio bastante numerosas, muitas vé- zes fundadas pelos préprios fazendeiros, por meio do sistema dos “pa- triménios", isto é, pela doagio de um terreno a ser loteado a volta de uma igreja que serve de centro de atracao. Essas aglomeracées sio t8- das idénticas, com casas térreas construidas sobre pordes, ruas que se cortam em Angulo reto, pracas centrais. Tais cidades miltiplas sio, em geral, pequenas e servem anicamente de centro para o abastecimento local; ndo se ocupam nunca do escoamento e do comércio do principal produto, o café, que é exportado diretamente aos negociantes de Santos”. 2s de 1 re- vore € 05 ndei- mais entre as- reina e in- obri- A NECESSIDADE DE ETERNIZAR O PEN- s ul- SAMENTO LEVOU 0 HOMEM, ATRAVES nente DE SECULOS DE INGENTES ESFORGOS, uitas A FABRICAGAO DO PAPEL cons- que | mo- lonos - pro- ‘aquiles fastos ‘com os simbolos a pe- s ve- “pa- ta de 0 t6- ue se 0, em mento nepal -s de = 2 rola, mela tarde, « mo 4 de Hund, no norte Car ‘maravilhosas, Dominendo egrbdo de pepel ao Ocidente, SELEGOES DA HISTORIA ~ 23 Os primeiros moinhos de papel «tTEMos falado em fabricas de papel, mas o térmo fabrica, pelo menos no significado que hoje tem, € talvez excessivo para a época. O que havia entao era moinho de papel. Durante séculos, assim se chamou aos locais onde laboravam nessa indtistria quase doméstica. Moinho era bem o térmo adequado, porque, pelos mais primitivos meios, © fabrico consistia em moer, triturar trapos, sobretudo de linho, para obter a pasta que, por processos nao menos primitivos, era prensada, la- minada, polida com rolos de madeira ou de marfim, posta a secar ao sol, antes de formar cadernos, mios, resmas, designagGes estas que sdo as dos diversos agrusamentos de félhas de papel. Foi esquecida, ou ignorada, no Ocidente, a primeira matéria-prima usada pelos chineses, e todo o papel produzido, até meados do século passado, tinha por base os trapos, sobretudo de linho, mas também de algodio, de canhamo, de juta e outras fibras vegetais téxteis. As fi- bras animais, as de la e de séda, nao dao bom papel, mas apenas um grosseiro cartio ou papel de embalagem. Também até meados do il- timo século, ndo sabiam como branquear a pasta. Para obter papel branco era preciso usar trapos brancos, que apenas a longa infusio na 4gua limpava um tanto. As fibras escuras, cujo colorido a agua nao po- dia diluir, mantinham-se assim. Os trapos eram selecionados por tons, rasgados, cardados, postos de mélho em grandes tines, agitados, amassados com magos ou a pés, ou fervidos em grandes caldeiras, depois de terem atingido um certo grau de fermentagdo que variava consoante as qualidades a fabricar. A pasta assim obtida era comprimida em férmas, distribuidas em camadas muito finas, prensada, até adquirir uma consisténcia que permitia estendé-la a secar ao sol. Podemos considerar ser ésse, 0 grosseito processo de fabrico adotado durante séculos, nos diversos moinhos de papel ins- talados em quase todos os paises da Europa, dos séculos XII a XV. Em Portugal, o primeiro moinho de papel foi fundado em Leiria, em 1411. Antes, todo © papel existente em Portugal, era importado. © alvaré que autorizou o primeiro moinho de papel em Portugal foi passado, por D. Jodo I, a favor do seu esctivao da puridade, Goncalo Lourengo de Gomide, bisav de Afonso de Albuquerque. O segundo 24 — SELEGOES DA HISTORIA moinho instalou-se na Batalha, ja no século XVI. A seguir, surgiram outros na Fervenca, Alenquer, etc... ‘Com a invencio dos cardteres moveis da Imprensa, 0 uso do papel generalizou-se e a sua producio teve de ser intensificada. Os fabri- cantes alargaram as suas instalag6es, mas os progressos do fabrico fo- ram muito lentos. Cada moinho tinha o seu segrédo. Adicionavam a pasta cal, cola, farinha. Supunha ser a 4gua de certos rios favoravel ao fabrico. Os métodos, porém, eram todos empiricos e a aparelhagem rudimentar. © fabrico manual de papel, hoje quase inteiramente pésto de parte, salvo para certos papéis especiais, consistia na maceracio das fibras de trapo, durante cérca de vinte dias, com freqtientes mudangas de agua e compressio da pasta na tina com macos pesados. Depois a massa, j& com certa consisténcia, era disposta, em formas, onde se Ihes adiciona- vam outras substancias. A gua de cal ea lixivia de soda foram um progresso introduzido no fabrico, reduzindo o tempo da maceracao a doze dias. Os holande- ses foram os primeiros a utilizar cilindros para a compressio da pasta. ‘A méquina dai derivada ainda hoje se chama holandésa. A pasta ainda branda era disposta em um tabuleiro retangular, com um fundo de réde metilica, 0 tear, com uns arames ao alto, muito juntos, e outros transversais, mas separados, apenas destinados a su- portar os primeiros. Uma tampa de madeira comprimia a pasta cujo liquido escorria por entre os fios do tear. Livre da maior parte de agua, era a pasta retirada da férma e assente em féltro ou flanela onde acabava de en- xugar, Ag félhas de pasta branda, alternando com outras de féltro, exam dispostas umas sébre as outras e sofriam nova prensagem para extragio do resto da agua. Por fim, eram retirados os féltros e as f6- Ihas de papel iam para o secadouro onde ficayam expostas ao sol, sdbre cordas de secagem, como a roupa lavada”. Artigo in “PRIMEIRO DE JANEIRO”. jornal do Pérto, Portugal. bras agua SEM MAOS, COM O CORPO EM CHAGAS, a, ja ARRASTANDO-SE PELO CHAO COMO UM ona REPTIL, ELE REALIZOU UMA OBRA IM- Fo PERECIVEL sta. Portam-no” ean letra Paabelno. ‘Kiemine' des tddo de anjos, santos © profetas cujas imagens cara de’ suavidads de pedrassabdo on do rigor dx SELEGOES DA HISTORIA ~ 25 fren de Assis, para cs portals dos templos ornaion até Se ‘cerraden até 0 lager do ‘ontie ‘privatives de ellares. Palsoe oe cinadis, E ble trebeiba. ee Oe a ee Vila Rica do Aleijadinho, de Marilia e G ila Rica do Aleijadinho, de Marilia e onzaga... OURO PRETO. esta tdda vestida de noiva pelo nevoeiro quando —_nomes pitorescos e curiosos — Shangrilé, Tirateima, etc, ~ ja esto aquie- | chegamos. & bastante tarde para a localidade: vinte ¢ duas tadas. Apenas agui e ali, pequent lg anne mt jovem mergulhado horas. O carro deixa-nos porta do hotel, onde atiramos as malas e no estuder saimos para um passeio ligeiro, querendo sentir a noite ouropretana. Ouro-Préto tem, nesse momento, um aspecto de coisa irreal, fan- | Foi aqui a capital da elegancia brasileira no tempo dos vice-reis. tasmagérica. O pensamento voa, vagabundo, sem se deter, antes saltando qs Vj rit a elancélica cidade das terras do ouro, amiga dos de fato em lato. Pensarse no Alejiohe: pone e ee ée Ban i belos jardins floridos e das igrejas de luxosa ornamentagio, onde a _deira, pensa-se naquela’ Maxi naquele Dirceu que escreveram © | prépria clausura feminina, de uso, na €poca, ndo era tio Tigorosa, tem um romance de amor mais bonito da histéria do Brasil. E la vem Bilac com q i glorioso passado. © seu exilio forcado nesta cidade que € um santudrio do passado brasi- i A inulher vila-riquense podia conversar ¢ rir nos salées sem que _leiro e agutles versos auc the ahve. } isso f6sse considerado “mal”, encantar com a sua graga, rir, cantar e Entio, dentro da noite ¢ do frio que aumenta com 0 decorrer das fazer miisica — passatempo de bom-tom, entao. horas, sentimo-nos tolamente liricos, idiotamente sentimentais, Talvez haja « Yestidas pelos figurinos ingléses, como observou Marwe, elas mo- umidade em nossos olhos... Ou sera a neblina? E enquanto retornamos | viami-se numa sociedade requintada que apreciava as artes e queria para ao hotel, vamos murmurando baixinho aquéles versos gue a estas horas ¢ {i &i os artistas de valor, atraindo os Aleijadinho, os Anténio Serval, os mortas, nestas ladeiras, tem qualquer coisa de dolorosamente senti- ' i Costa Ataide, os Sousa Calheiros, mental : f Nas pontes que atravessavam os trés rlachos da vila ou nos sav ; | Wes dos vetustos solares de paredes ornadas de damascos herdudicos ¢ "O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre: \ | Gleos de bom-gdsto, os homens entretinham longas conversacOes, sa- ‘Sangram, em laivos de ouro, as minas que a ambi¢do boreando os cAnticos ¢ versos dos poetas de Minas. Na torturada entranha abtia da terra nibe As corridas de touros, as cavalhadas a rememorarem o feudalismo, E cada cicatriz brilha como um braséo, 0s jogos de argolinhas, as procissdes e festas de igreja atraiam toda u'a multidao elegante que importava de Londres e da Flandres e das cidades O Angelus plange ao tonge em doloroso dobre. \\"* da Franga a sua “agua-de-cheiro”, os seus veludos e rendas, as suas Q iiltimo ouro do sol morre na cerracio. i| plumas. E austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, Plantada na encosta da serra, as ruas de Vila Rica, sempre imersas O crepiisculo cai como uma extrema-uncao, na neblina eram, como continuam sendo, de calcamento disforme. in Sremes, irregulares, As elegantes no andavam a pé, tanto mais que os Agora, para além do cérro, 0 céu parece h mimosos sapatinhos nao eram feitos para enfrentar aquéles caminhos. Feito de um ouro anciéo que o tempo enegreceu .. Por isso, as cadeirinhas cortavam as ruas em tddas as direcSes, conduc A neblina, rogando 0 chéo, cicia em prece, zindo em seu alcatifado interior lindas criaturinhas de sorriso brejeiro. Vila Rica, capital da elegancia oitocentista era, realmente, uma Como uma procisséo espectral que se move... Pequena cdrte ducal da Europa transportada para a selva brasileira, Dobra o sino... Soluca um verso de Dirceu.»- como ja afirmou alguém. Sobre a triste Ouro-Préto 0 ouro dos astros chove” ... Em tudo isso pensamos, enquanto subimos e descemos ladeiras. Ainda esti aberto um velho bilhar. As “repiblicas” de estudantes, de SERGIO MACEDO 26 — SELEGOES DA HISTORIA 108 ras QUE PENSAVAM OS EGIPGIOS ACERCA ALMA. TAR es DA IMORTALIDADE DA ALMA? AS MU- SaVin ‘ahbitaBo. on MIAS REFLETEM A PREOCUPAGAO DOS EGIPCIOS COM A MORTE Ne a Igado durante guide em alata de te aucie Soe ‘otande pericia rotiravam-ihe Cedar om umas ou Jou tdmulon faraSaices. ainda ‘lsterions bistéria da pétria dos ‘pequenoe vaso que acompanhariam @ ‘vt, “he Covdedn ‘ram. olde, ctudan de subeténcies SELEGOES DA HISTORIA ~ 27 eet «JAS Jpocas mais antigas da Histéria tém 0 seu teatro chamado Antigo Oriente na regido oriental do Mediterraneo, até o Indico, aonde chegaram as conquistas de Alexandre. Para além, floresciam ja as civilizagoes dos mongéis, China e posteriormente Japao, que em geral, pelo pouco influxo que exerceram no se contemplam no Oriente Antigo. Nos dias de hoje € que a raca amarela do extremo-oriente atrai a atencao dos povos ocidentais. © Oriente Antigo abrange na quase totalidade a Asia e Africa, na parte mais préxima da Europa, e, principalmente, 0 Egito, 2 Mesopo- tamia, a antiga Fenicia, a Palestina, a India. Eram essas regiGes habi- tadas por povos que chegaram a atingir uma civilizagao digna de nota, antes de entrarem em contato com os gregos e romanos que vieram a domina-las até o rio Indus. Na Africa, os egipcios ocuparam o vale do Nilo: na Asia, os feni- ios floresceram em cidades maritimas do fundo do Mediterraneo; no interior mais préximo estabeleceram-se os hebreus ¢ ainda para o lado oriental estabeleceram-se os babilénios e assirios e depois déles, ainda na mesma regido da Mesopotamia, entre o Tigre eo Eufrates fundaram ©s seus impérios os medos e os persas, com expansio maior para leste para o sul. No tempo dos gregos, éstes sob o comando de Alexandre conquis- taram © vasto interior dessas terras desde 0 Mediterraneo até o limite da India ocidental. As cidades mais notaveis foram Tebas, Ménfis, Alexandria, no Egito, Sidon ¢ Tiro na Fenicia; Susa, Persépolis, Babildnia e Ninive na regio mesopotdmica, ¢ Jerusalém na Palestina. Fora désses limites, havia povos barbaros, os sitas ao norte, os bactrianos a leste, que pouco interessam ao nosso estudo. Os nomes da Geografia Antiga foram em grande parte conservados na Geografia moderna. © Egito era o nome do rio Nilo; a oeste do Egito ficava a Libia ardente e deserta, para o sul a regio quase desconhecida da Etipia. 28 ~ SELEGOES DA HISTORIA ~ Nocées de Geograiia Histérica do Oriente Antigo © mar Vermelho chamava-se o Sinus Arabicus entre gregos ¢ romanos ¢ Eritreum era o mar que banhava o sul da Arabia. Para além da Mesopotamia, que era a regio interfluvial do Tigre ¢ do Eufrates, ficava a Parthia'e a Sodiana. Na vizinhanca da India ficava a Gedrosia. O Mar Negro era o Ponto Euxino. O Mare Caspium conserva 0 mesmo nome. Entre a Grécia e a Asia Menor estava 0 Mar Egeu que comunicava com © Propontis (Mar de Marmara) . Na Asia Menor floresceram varios paises do norte para o sul: Troa, Frigia, Lidia, Caria e outros menos importantes que tiveram duragio precéria. A MESOPOTAMIA — Das terras altas da Arménia descem dois rios: Tigre e Eufrates: correm ambos para o sul, ganham a planicie e reunem-se em um s6 que se langa no Golfo Pérsico. O territério com- preendido enrte os dois rios foi chamado Mesopotamia pelos gregos. No més de abril, as neves de Taurus fundem-se, os dois rios transbor- dam inundando a planicie e s6 voltam ao leito no més de junho. Isso faz a grande e excessiva fertilidade da Mesopotamia, que sem ésses cursos d’agua seria naturalmente Arida, estéril, situada como esta entre dois desertos e onde quase nunca chove. Ai, pois, nesse oasis, as palmeiras, os cereais ¢ todos os meios de alimentagéo abundavam. A parte norte e montanhosa da regio era a Assitia, regido temperada e umbrosa. A planicie, terra de aluviio, no curso inferior do rio, era Ba- bilonia ou Caldéia. Primitivamente, 0 Tigre e o Eufrates no se reuniam no Chat-el- Arab; langavam-se separadamente no Gélfo Pérsico, formando um delta. Como faz notar Reclus, hé um movimento de sifio produzido pelos dois rios, que transfere as aguas do Mar Negro para 0 Gélgo Pérsico: efe- tivamente, vapores formados pela evaporagio daquele mar vio pairar nas montanhas arménias ¢ dai em neve e em chuva vio avolumar as Aguas do Tigre e do Eufrates”. JOAO RIBEIRO “Historia Universal” A Guerra do Paraguai FREPUBLICA. o Paraguai certamente n86 0 era: Lopes II havia her- dado pais pelo testamento paterno: pouco acima de escravos exam seus habitantes; nao havia lei, sendo uma vontade autocratica ar- bitraria; vidas, recursos, fortunas, honra dos individuos, tudo estava a disposicéo do El Supremo, sem possibilidade de apélo. Além disso, era seu intuito proclamar-se imperador de um novo Império, constituido de sett proprio pais, e de Corrientes, Entre-Rios e Urugtiai, conquistados. A guerra fora preparada com larga antecedéncia, e a prova esta na desproporgéio das fércas em confronto no comégo da contenda: 80.000 a 100.000 homens do lado do Paraguai; 17,000 apenas, postos em linha, pelo Brasil. Como era evidente, no decurso das operacies, os Aliados reforgaram seus contingentes, mas de modo e em proporcdo inteiramente comparavel ao que o Ditador fizera: nunca o Império, por exemplo, teve no teatro das hostilidades mais de 68.000 baionetas ‘isso mesmo, uma s6 vez, em abril de 1866. Se o Exército paraguaio se dissolveu ¢ destruiu, foi conseqiiéncia da incapacidade de Lopez, quer militar, quer diplomatica. * _Cumpre sempre ter no espirito que os Aliados constantemente nu- triram a convicedo de que os sentimentos do Paraguai eram diferentes, por completo, dos de seu govérno. Foi o que solenemente declararant na abertura das hostilidades, e 0 que ficou provado no desenrolar dos acontecimentos, até a inegdvel massa de depoimentos paraguiaios de 1869 até hoje. Nessa persuasio agiram durante téda a luta: o Impé- rio, principalmente, para 0 qual a base de sua politica no Rio da Prata era, como ainda é, a independéncia do Paraguai e do Uruguai. A convicco fundamental da Alianca baseava-se no fato de ser Lopez a causa, ¢ a causa unica, de todos os dissidios, e na crenga medi- tada de que, enquanto fosse chefe do govérno, as dificuldades sempre renasceriam. Dai, a firme determinagdo de o derrubar e de o separar de qualquer contacto com o Paraguai. Assim ocorreu pela sua morte em Cerro-Coré, mas isto foi mera casualidade, e 0 mesmo resultado po- deria ser obtido por seu exilio do pais, ou por sua detengao. Ademais, € necessario nio olvidar que a guerra nao € tarefa que se faca de luvas brancas, e que ela se desenrola no sangue e na morte. Pelos mesmos motivos, Mitre repeliu as propostas de paz ofereci- das pelo Ditador em Yataity-Cora, em setembro de 1866: éste havia 30 — SELEGOES DA HISTORIA recusado a exigéncia fundamental da Alianga, seu proprio afastamento da presidéncia e do pais. Idénticas as razées do Brasil, declinando as ofertas de mediacdo dos Estados Unidos, em principios de 1867. Em ambas as ocasides, a guerra teria sido vencida pelos Aliados, mas teriam permanecido as causas profundas que impediam uma paz duradoura, e isto enquanto o principal perturbador desta possuiisse au- toridade para dar largas a sua ameacadora politica de conquistas. Nao se deve esquecer que tal atividade significava: Corrientes e Entre-Ri a se separarem da Argentina; a anexagio do Uruguai. No periodo final do conflito, 0 Brasil desempenhou o papel princi- pal e, por isso, sobre o Império recairam acusagées de todo género. Lopez nutria por Napoledo veneracdo) ilimitada,;por mais longe désse ideal le se revelasse. Num ponto, contudo, sua propria sorte coincidiu com a biografia do c6rso genial: o clamor contra a fase final de sua existéncia. O dever politico da Inglaterra para com o Imperador vencido foi tao claramente explicado por Lord Roseberry, apés as experiéncias da ilha de Elba, constituida em reino para o heréi derrotado, e a de Wa- terloo, que suas palavras poderiam quase ser reproduzidas aqui quanto ao Ditador do Paraguai Seu afastamento do cenério internacional sul-americano era duro, po- rém, mera necessidade. O povo da Repiblica central ndo reagia contra sua direcao, & qual obedecia sem sombra de discussio: assim o havia plasmado sua educacdo secular. Os acontecimentos tormentosos de 1864-1870 ressurgiriam de novo, se seu atitor continuasse em seus car- gos publicos, ou mesmo em proximidade tal do pais, que para éste pu- desse inopinadamente voltar. Nenhuma evidéncia, nenhuma esperan- 6a, sequer, se poderia obter de que éle houvesse mudado de orienta- so em sua nefasta politica internacional. Santa Helena, Doorn, a Campanha das Cordilheiras, nao sio so- lugdes, preferidas entre varias, sendo duras e severas imposi¢ées de se- guranga pablica, PANDIA CALOGERAS “Formacio Histérica do Brasil” i I a a le 2 te en am Artes Orientais «Ji ate ocidental ou européia, embora conte cérea de tts milénios, pode ser seguidd na sua ritmica evolugio, desde os primeiros templos e esculturas gregas arcaicas até as concepgdes arquiteténicas dum Le Corbusier, plasticas dum Moore, picturais dum Picasso. Da Grécia, pela Itélia, a Franca, a Espanha, com suas irradiagSes para 0 centro e norte da Europa e mesmo para a outra margem do Atlantico, podemos seguir, quase dia a dia, a marcha das criagées artisticas. Nao assim no Oriente, onde a arte parece ter tido focos auténomos e ma- nifestacdes dispares. Podemos falar da arte ocidental, mas a rigor s6 poderemos falar das artes orientais ou asiaticas. A Asia é imensa em telacio & Europa, que parece ser apenas uma excrescéncia dela, uma peninsula désse continente. A populacdo européia tem sido, em tédas as épocas, inferior 4 dum s6 pais asiatico: a China. No Ocidente, im- pera a bem dizer uma sé escrita, com as ona variantes do alfa- beto gético alemio e do citilico russo; na Asia, ha dezenas. Isto da a medida da variedade de caracteristicas dos povos asiaticos. Se as artes orientais estagnaram, ha séculos, contam também mi- lénios de existéncia. Tém manifestacées tao distintas das nossas con- cepgdes attisticas, como os templos indianos cavados e esculpidos nas rochas, a ponto de a idéia que temos da arquitetura parecer ndo poder ser-Ihes aplicavel. A arte na India € eminentemente religiosa. Nisso confirma 0 conceito de ser originariamente a arte uma expressio do sentimento religioso. Na China, por exemplo, parece ter sido desde as suas origens, nos seus vasos de bronze, nos seus jades esculpidos, nas suas faiangas pintadas, apenas utilitaria e recreativa, prazer dos senti dos na contemplagio e contacto com as formas belas e os coloridos gratos @ vista, sem nenhuma preocupagao mistica ou teolégica. Nao facil tarefa, portanto, fazer uma sintese das artes da Asia, sobretudo, por um quase geral anonimato cobrir as suas criagSes, que tomam um ca- rater coletivo, sem individualizagées possiveis. Vamos tentar, contudo, essa sintese, no respeitante a grande Asia, & Asia propriamente dita, a partir da India para o Oriente. A Asia Menor, 0 Préximo Oriente, com a sua arte mugulmana, os seus estilos arabes e persas, que vieram até a peninsula ibérica e 32 ~ SELECOES DA HISTORIA ainda se afirmam no norte da Africa, estio muito perto de nés. Con- fundem-se, até certo ponto, com a civilizacio surgida da bacia medi- terranica: Pertencem ao nosso patriménio cultural e apartam-se das outras artes do Oriente com as quais parece nada terem de comum, no se nimbando do mistério que as envolve. Para chegar a arte Oriental temos de comecar pelas regides. Na China, foi com o budismo que comegou praticamente a arte. Muitipli- caram-se no século I de nossa era, ao tempo’ da dinastia, Ha, as ima- gens de Buda, esculpidas em diversas e preciosas matérias, pintadas e tecidas. Era a mesma figura calma e sorridente imaginada pelos in nos, mas em breve ganhou em adiposidade, acentuando-se o seu ar bo- nacheitio. Bsse canone do Buda chinés fixou-se a certa altura, talvez pelo século IX ou X, assim como 0 dos Budas futuros ou Bodisatvas, desde entdo ficou inalterdvel, Sem divida, os sinélogos e criticos de arte especializados distinguem as épocas, as dinastias, as regides; mas para o observador nao especialista e desprevenido, so todos iguais. Com a escultura budista, entraram na China os templos abertos na rocha, as colunas e frisos esculpidos com epis6dios da lenda biidica até influéncias artisticas mais remotas como a da Pérsia ou mesmo da Grécia. O apogeu da arte chinesa, sobretudo da escultura, deu-se na época da dinastia Sung, do final do século X ao final do século XIII. As comunicagées com o Ocidente eram escassas. Havia a chamada rota de séda, pela qual as caravanas estabeleciam 0 contacto entre 0 Oriente e 0 Ocidente; mas os mercadores nao eram os mais adequados para transmitir nodes de arte. Assim, a China pode dizer-se que se alimentou do seu proprio génio artistico durante 0 periodo Sung, que teria sido o mais brilhante, sob 0 aspecto da arte, de téda a sua civiliza- s40. A invasio mongélica, com o estabelecimento da dinastia Iuan, foi uma espécie de Idade-Média, durante a qual a arte chinesa, destruidos € saqueados muitos de seus tesouros, teve vida precaria”. J. B. CAMPBELL "As Artes do Oriente”. SU MOEMA ... © ‘A espésa do ‘TUT-ANK-AMON & . Pirdmides ¢ estituas — UMA GAMA’ PARA O OUVIDOR Os Ouvidores MAOME CRIA O Corio — BABALAO A mie do cati PATRICIOS E PLEBEUS As conquistas da A CASA DA TORRE As Minas de Prata — Pedro Calnicn BIGAS, TRIGAS E Roma, séeulo I ARBARA HELIO) UM ESTADO Estévao Pinto .. e Caramuru — Sérgio Macedo. 2” ABANDONA ATEN HL Van Loon | — Tomé de Sousa Max: Fieiusg ivo Castro Alves || plebe — Joiio Ribeiro QUADRIGAS IA. C. — Eremildo Luis Viana DORA ... Alguns poetas de Minas colonial rgio Macedo ., 3 AS NUPCIAS DE VENEZA Rites Venez — Gamier, trad. por Jun. Costa AS HEROINAS DA CASA-FORTE Os canaviais e to. Correia os holandeses — Viri DRAKE, © CORSARIO ...... | at Acta elisabetiana — Sérgio Macedo A CABECA DE RATCLIFF a A ordem € matar — Viriato Correia BAY AR Dae ©» A literatura francesa... : © JORNALISTA DA INDEPENDENCIA ae Oo frande Evaristo © seu jornal — Sérgio Macedo MIRABEAU, O HERCULES O Terror — $6 SELEGOES DA HISTORIA DO BRASIL E DO MUNDO Desenhos de RENATO SILVA - Legendas de NAS PRINCIPAIS LIVRARIAS DO BRASIL, DA REVOLUGAO gio Macedo ..., 5 SERGIO MACEDO NQUISTA co AY. 28 DE SETEMBRO, 174 — RIO DE JANEIRO — BRASIL, ea. | MARIO DO NUMERO 2. SOMANLU — 0 VIAJANTE DA ESTRELA ¥ NOVELA JUVENIL DE ABGUAR BASTOS cores. “Presente de Cr$ 70,00 (papel de 2"), 150,00 (papel de I+, eneadernado). OBRAS DE MALBA TAHAM (ILUSTRADAS) DO ARCO.IRIS A SOMBRA QO Ho! 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BIREITO ADMINISTRATIVO — 3% cdicas DIREITO PENAL — 2° edicio’.....< NAS LIVRARIAS OU PELO REEMBOLSO POSTAL 5 CONQUISTA — AY. 26 DE SETEMBRO, 174 — RIO DE JANEIRO

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