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A EPOPRIA DA LAGUNA . 161 Oabandéno dos coléricos — Visconde de'Taunay 162 ASPASIA. 163 Mileto, Patria de Aspasia — ‘Sérgio Macedo 164 A DESCOBERTA DA GUANABARA 165 A Baia de Guanabara — Mério da Veiga Gabral 166 MENE, TECEL, FARES 167 Babilénia —R. Haddock . 168 © ASSASSINIO DE DUCLERC . 169 Or Franceses no Brasil — Ary 170 ‘AS CATACUMBAS ....... 1 Os mirtires — R."tinddock “Labo 1m LUIS GAMA $ 173 © Escravo — Sérgio Macedo’. 174 A NOITE DE SKO BARTOLOMEU . 175, © Galvinismo — Estévio.Pinto .. 176 © AUTOMOVEL CHEGA AORIODE JANEIRO 177 ‘Os Primeiros Automéveis. — Noronha Santos 178 A INGLATERRA LEMBRA-SE DA AMERICA 179 América Colonial Inglésa — Antonio José Bor- ges Hermida . 180 GUAIRA 181 A Tragédia” de’ Guisird —Aifredo bills Jénior 182 APIS ‘ 183 Onganizagio So. jot — “Delgado ‘de Carvalho vee 184 © DRAMA DE GONGALVES DIAS... 185 A Poesia de Goncalves Diss — Ronaid de Care valho . srereecccsesses 106 5 “RASPUTIN 187 ‘A execugio 188 O EXILIO DE D. PEDRO II 189 © Ocaso do Império — Oliveira Viana’. 190 KALIDAZA Saeeecenee ceseeee S90 / Poesia e Misticismo Indu — Sérgio Macedo .. 192 SUMARIO DO NGMERO 6 SUMARIO DO NGMERO 7 A ESTRADA DO SACRIFIGIO 198 Os, ansportes na Amazinia is as ‘Tels 2195, Licurgo — Plutarco ...... 196 NAO SE MATA A LIBERDADE ......0.-00+ 197 Libero Badaré — Viriato Correia ..1..0221 198 CATARINA HOWARD ...... soy, 199 Henrique VIII... i 200 A FILHA DE ARCO-VERDE 201 ‘sacrificio do. pris fa Cabral. + 202 KONG-FU-TSE’ + 203 204 205 206 A seligiio de Gonfiicio — Sérgio UM GRESO DAS MINAS O bari de Catas Alta SANGUE E AREIA ......... + 207 A tourada — Alfredo Mesquita » + 208 UM, GESTO DE ELEGANGIA . see, 209 Prudente ..... + 20 MITRIDATES ... fe ait rei toxicologista By lz PRIMEIRA CASA DE BRANCO NO BRASIL .. 213 A casa brasileira de outrera — Sérgio Macedo 214 A MORTE DE MARIA ANTONIETA - US Maria Antonieta — Blane 216 LUNDU .. 217 O lundu'no Brasil c’em Portugal — Renato Al- meida ...... ceimeeeesteass... 218 A GUILHOTINA ae 219 O Terror — A. Alba ...2. + 220 BATISTA DA COSTA net 221 Batista da Costa — Carlos Rubens; 222 223 224 O SR. JA SABE QUE CARREIRA VAI SEGUIR O SEU FILHO? A carreica militar, om qualquer dos sous ramos 6 @ tiniea, ne Brasil, em que os alunos GANHAM PARA ESTUDAR. © livre do Tle, Velmiro R, Videl— COMO FAZER A MA- ‘TRICULA NAS ESCOLAS MILITARES —contém instrucdes © programas para ingresso em cérca do cinquanta estabele- elmentos do ensino militar. Prego Cr8 80.00. Pedidos & edit8- va CONQUISTA — Av. 28 de Setembro, 174— Rio de Janeiro A ARTE DE ESCREVER Pelo Prof. A. TENORIO D'ALBUQUERQUE © sou livre 6 um guia para os que transitam no pais das letras, Corishosamente, dle mostra os camiahon SUMARIO DO NOMERO 8 UM PATRIOTA NAO FOGE ... ‘A Revolugio de 1817 — José Ferrcira NAPOLEAO EM SANTA HELENA Santa Helena — Ch. Moreau-Vauthier . ATENTADO CONTRA O IMPERADOR © Democrata Pedro Il — Viriato Corréia © JULGAMENTO DE FRINEIA ...... A Respeito de Frin¢ia — J. Supert - ‘A NOMEAGAO DE PASSOS ..... © Grande Pereira Passos — Lufs Edmundo GAUTAMA, O BUDA ... : ‘© Bramanismo — S. Périssé . MARIA QUITERIA ...... ‘A Guerra da Independéncia — Ari da Mata A TORRE DE LONDRES Londres — Alfredo de M: © MOTIM DO QUEBRA-QUILOS | Sistema Métrico — Melo Barreto F* to Lima .... A OPERA . Nasce a Opera — Eneiclopedie des Gens Map gen seitt entre SAL, FERRO E POLVORA « ‘As Fazendas — Pandid Calégeras SARDANAPALO vs e.0++0 Os Assirios — Delgado de Garvalho A CASA DE SKO PAULO ...... © Colégio de Piratininga — Pedro Calmon «..+ O CASTELO... : Castelos ¢ Castelées — A. Mallet PEDRO AMERICO © Pintor Pedro Amético —- Garlos Rubens © POVO NO PARLAMENTO ... Politica Inglésa — Estévio Pinto BeprN AT UR AS 225 226 227 208 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 par 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255, 256 SM Wi RSS O SERTAO FOI O CENARIO DA GRANDE LUTA CONTRA O FANATISMO SIMBO- LIZADO POR ANTONIO CONSELHEIRO QUE TEVE NA «CAATINGA» PODEROSA deta. podig-se qvalier 6 revidade de swag. que. foal 2. — Asténie Contethsiro inks ume Jonge hietévia Trane averse, om vitkide de varias injusticas — essa a ver de sarjunslo correlissine em legiline fandtics. Julga So um eiluminades. um enviado de Deus pera @ salvacss do, e depois de baler os serides, vestido como um pe Nao havia um nice hemem vélide entre ob retirantons, A der. rola fra completa, io, pequeno exército que, sob @ coman. de Caallaga, empreende desaslrada fuga. persegulda de perio ‘Conselbeire. que so mostram sedenton de 5 — A toticia do imenso dosestre alarma « opine publica 5 Prudente de Morais P gic Organiza ides “marcas ‘Canudos ¢ arrasado, om 5 de cut “ds 1697. Desde 22 de sctombre deiwara de extstir Antonio Gonselheiro, motto em acto SELEGOES DA HISTORIA ~ 25 Retrato de Antonio Conselheire «\JESTIA tinica de azulao, tinha a cabega descoberta e empunhava um borddo. Os cabelos crescidos, sem nenhum trato, a cairem s6bre os ombros; as longas barbas grisalhas, mais para brancas; os olhos fundos, raramente levantados para fitar alguém; o rosto comprido, de um palidez quase cadavérica: 0 porte grave e o ar penitente impressio- naram grandemente os recém-vindos. Reanima-os, contudo, a recepgao quase cordial. De encontro ao que previam, o Conselheiro parece aprazer-se da visita. Quebra a ha- bitual reserva e o obstinado siléncio. Informa-os do andamento dos tra- balhos, convida-os a visita-los; e presta-se de boa-feigéo a servir-lhes de guia pelos repartimentos do edificio. E la seguem todos, vagarosos, guiados pelo velho solitario que orcava nesse tempo os sessenta anos, € cujo corpo franzino, arcado sébre 0 bordao, avancava em andar re- morado, sacudido de instante a instante por stbitos acessos de tosse. ‘Nao se podiam exigir melhores preliminares a missdo. Aguéle agasalho era meia vitéria. Mas coube ao missionario anu- la-la desajeitadamente. Ao atingirem 0 c6ro, como se achassem um tan- to afastados do grosso dos fiéis, que os seguiam a distancia, pareceu-lhe que a oportunidade era de molde para interpelagao decisiva. Era uma precipitacao sobre indtil, contraproducente. O insucesso sobreveio, inevitavel. &... aproveitei a ocasido de estarmos quase a s6s e disse-lhe que © fim a que eu ia era todo de paz e que assim muito estranhava s6 en- xergar ali homens armados e ndo podia deixar de condenar que se reu- nissem em lugar tio pobre tantas familias entregues 4 ociosidade, num abandono e miséria tais que diariamente se davam de 8 a 9 obitos. Por isto, de ordem e em nome do senhor Arcebispo, ia abrir uma santa missio e aconselhar 0 povo a dispersar-se e a voltar aos lares € a0 tra- balho, no interésse de cada um e para o bem geral.» Esta intransigéncia, éste mal-sopitado assomo, partindo a finura di- plomatica nas arestas rigidas do dogma, nao teria, certo, o beneplacito 258 — SELECOES DA HISTORIA de Sao Gregério, o Grande — a quem nao escandalizaram os ritos bar- baros dos saxdnios; e foi um desafio imprudente. Enquanto isto dizia, a capela e 0 céro enchiam-se de gente e ainda eu nao acabara de falar e ja éles, a uma voz, clamavam: — Nés queremos acompanhar 0 nosso Conselheiro! Era a desordem iminente. Sobresteve-a, porém, a placidez admi- ravel, a mansuetude — por que nao dizer crista? ~ de Ant6nio Con- selheiro. Que o proprio missionario fale. Este os féz calar e voltando-se para mim disse: — E' para minha guarda que tenho comigo éstes homens armados, porque V. Revdma. ha de saber que a policia atacou-me e quis matar- me no lugar chamado Massete, onde houve mortes de um e outro lado. No tempo da monarquia deixei-me prender porque reconhecia 0 govér- no; hoje nio, porque nao reconheco a Repiblica. Esta explicacao, de forma respeitosa e clara, nao satisfez 0 capu- chinho, que tinha a coragem de um crente, mas nao o tato finissimo de um apéstolo. Contraveio, parafraseando a Prima-Petri: ~ «Senhor, se é catélico, deve considerar que a Igreja condena as revoltas, e, aceitando tddas as formas de govérno, ensina que os poderes constituidos regem os povos em nome de Deus.» Era quase sem variantes a propria frase de Sao Paulo em pleno reinado de Nero. E continuou: EUCLIDES DA CUNHA «Os Sertées>. EC _$ Tomada da Bastilha «JY cxtemidade da tua de Santo Antonio erguia-se a Bastilha. Fortaleza, priséo, timulo, compunha-se de oito torres que se intercomunicavam e era protegida por largo fésso. Havia sido iniciada em 1369, sob Carlos V. Ora, por um déss curiosos caprichos do destino, Hugo Aubriot, fundador da Bastilha, foi um de seus primeiros prisioneiros. © aspecto do lugar era sobremodo desagradavel e 0 génio do mal parecia estar disposto a evitar qualquer aproximacao. A cérte do governador», assim denominada porque 0 governa- dor ai tinha suas instalagdes domiciliares, estava situada fora dos li- mites da fortaleza propriamente dita; entretanto, mesmo para atingir rio vencer duas linhas de sentinelas essa c6érte exterior era necessa atravessar dois Corpos de Guarda e passar por uma ponte levadica. Da <«cérte do governador>, longa avenida conduzia ao fésso da Bastilha. La encontrava-se uma segunda ponte levadiga; em seguida, um terceiro Corpo de Guarda; depois, forte barreira constituida por portais de ferro. Aparecia, entao, a «crte interior», onde o siléncio era impressio- nante Somente o grande relégio da priséo contava lentamente as ho- cas. Afirma-se que Caligula dizia aos seus carrascos: «batam de ma- neira que 0 condenado sinta a morte aproximar-se>, Na Bastilha, 0 condenado sentia-se morrer. Pequena abertura praticada nos muros de dez e doze pés de espessura, nao transmitia a maior parte dos apo- sentos senio a quantidade de Iuz necessdria a que nao fésse total a treva E nada se comparava as masmorras, onde aranhas e ratos mons- truosos realizavam verdadeiras festas. Nessas masmortas, cujo mo- biliario se compunha, exclusivamente, de enorme pedra recoberta de palha e que se encontrava a dezenove pés abaixo do nivel do solo, 260 ~ SELECOES DA HISTORIA a vida s6 se poderia manter por verdadeiro milagre, pois era empes- tado © préprio ar que se respirava. Ai foi encerrado Mazers de Latude, que expiou durante trinta € cinco anos o crime de haver, na idade das atitudes impensadas, de- nunciado a Madame de Pompadour um complé imaginario Byron, Robespierre, Lally, Rohan, nomes igualmente ilustres, di zem 0 que representava de ameagador para a nobreza, a Bastilha. Por isso mesmo os nobres varias vézes solicitaram a sua de: truigdo A verdade é que, reservada especialmente aos homens da cérte, ou aos letrados, a Bastilha era uma prisdo aristocratica. Os pobres ai nao entravam, sendo enviados a Bicétre. No més de julho de 1789, 0 povo esté sem pao, mas pede o que? Armas. Poderia ter corrido a Bicétre, mas prefere dirigit-se a Basti- ha. Por que? E’ que ha na vida dos povos, como na dos grandes ho- mens, momentos de inspiracio soberana, Os rudes artesios compre- enderam, milagrosamente, que a éles tocava, também, a gléria dos em- preendimentos cavalheirescos. Que o primeiro dos privilégios a se- rem derrubados deveria ser aquéle que se mostrava associado a tor- turas, e que a liberdade deveria anunciar-se por un. ato bem de acér- do com o seu espirito, ou seja, por um bem, feito aos seus inimigos Sim, os plebeus, destruindo uma prisdo aristocratica, eis 0 que empresta um brilho todo especial aos primeiros choques da Revolu- cao Francesa A 14 de julho, de um ponto a outro de Paris se preparava 0 com- bate. ... — disse éle. Uma descarga cortou-lhe a iiltima palavra. E caiu morto, enguanto 0 seu espirito alava-se para a imortalida- de, dilatando-se no invisivel dos espacos, & luz Joura do sol americano, sébre a vastiddo da terra brasileira. Em marco de 1826 falecia D. Joao VI em Portugal. Pelo brigue «A Providéncia», aportado no Rio de Janeiro em 24 de abril de 1826, chegava, com a noticia da morte de D. Jodo, 0 Ato de Aclamagao do seu filho D, Pedro I, imperador do Brasil, com o titulo de rei Pedro IV, de Portugal e Algarves. Poucos dias depois, como ja ficou dito, D. Pe- dro abdicava em favor de sua filha Maria da Gléria, nascida no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1819.» ALCINDO MUNIZ DE SOUZA «Historia do Brasil», 3° série colegial. A Religito em Roma OS femPes dos reis, os romanos acreditavam em numerosos deuses que regiam as fércas da natureza, assim como os instintos, as ten- déncias e as atividades humanas. Havia deuses do amor, da sabedoria, do comércio, da guerra, do fogo, das aguas, do trovao, etc. Havia ou- tros que ensinavam as criangas a andar, faziam crescer as plantas ¢ as- sim por diante iE Antes de estreito contato com os gregos. porém, os romanos rara- mente representavam suas divindades sob formas humanas. Afirma-se, por exemplo, que Marte, 0 deus da guerra, era simbo- lizado por uma langa fincada em terra, a qual se rendia culto, como se fora uma estétua. Depois de haverem conquistado a Grécia pelas ar- mas, os romanos acabaram confundindo os deuses gregos com os que. na Italia, possuiam caracteristicas parecidas. Atribuiram, por exemplo, a Jupiter, 0 seu deus da trovoada, tddas as histérias que se contavam sobre Zeus. Hermes, mensageito dos deuses, foi identificado com Mercitio, deus latino do Comercio, e assim por diante. Em resumo, as duas reli- gides se fundiram. Em Roma, como na Grécia, as estatuas dos deuses © as ceriménias, eram consideradas sagradas, menos por motivos e con- vicgao religiosa do que por simbolizarem o respeito as tradigdes do Es- tado, a organizagao social e politica. A prova disso reside no fato de se permitir aos povos conquistados mante: a sua religiio, exigindo-se- Ihes apenas que acatassem devidamente as solenidades dedicadas aos deuses romanos. No que dizia respeito ao prestigio do corpo sacerdotal, divergiam bastante os gregos e romanos. Em Roma, com efeito, os sacerdotes do culto piblico eram tidos em alta conta e muitas fungées religiosas somen- te podiam ser preenchidas por pessoas de fortuna ou elevada posic¢ao social Dentre as principais categorias sacerdotais contavam-se: os ponti- fices, que fixavam 0 calendario e marcavam os dias de repouso; os fla- minios, encarregados de acender o fogo nos altares dos deuses, € as ves- 264 — SELECOES DA HISTORIA tais, de que adiante falaremos. Nao podem também deixar de serem mencionados os augures, que prediziam 0 éxito ou o fracasso das ini- ciativas, observando 0 véo dos passaros ou o apetite das galinhas, e os ariispices, que com idéntica finalidade examinavam as visceras de ani- mais sacrificados. Os feciais, finalmente, eram espécies de introdutores diplomaticos, encarregados de cumprit as formalidades das relagoes in- ternacionais (declaracées de guerra, tratados, etc.) A importancia dos pontifices, especialmente nos primeiros tempos, era das maiores. Quando Roma nao passava de uma pequena cidade apertada entre suas colinas eo Tibre, afirma-se que cabia a ésses sacer- dotes a guarda de uma ponte de madeira lancada sobre o rio Ao primeiro sinal de aproximagao do inimigo, deveriam queima-la, facilitando assim a defesa das muralhas, O «sumo pontificer, chefe dés- , durante muito tempo, o dignitario mais respeitado ses sacerdotes, foi de Roma. As vestais — assim se chamavam em Roma as sacerdotizas de Ves- ta — tinham por principal funcdo o dever de conservar sempre acesa a chama sagrada do altar da deusa, em honra da qual estavam na obriga- ao de cumprir certos ritos misteriosos. Durante 0 tempo do seu minis- tério, que era de 30 anos, guardavam castidade. A que violasse ésse voto era enterrada viva; ¢ a que deixasse extinguir a chama era casti- gada com acoite. Em compensagao, as vestais gozavam de grandes privilégios; ndo estavam sujeitas autoridade paterna nem a tutela; quando saiam em piblico, eram precedidas de lictores; ocupavam lugar de honra nos es- petaculos, estavam dispensadas de juramento perante a justiga, a sua presenca, quando por acaso encontravam um criminoso, salvava a vida do infeliz.» R. HADDOCK LOBO «Historia Geral», 1* série colegial. ZANTO TERIA ENCONTRADO O ONTRATADOR DE DIAM AN- SE totic Ctews er ‘ SELEGOES DA HIS Chica da Silva LINCA se soube que sedugio irreprimivel foi aquela que prendeu, por quase téda a vida, 0 desembargador Joao Fernandes de Oli- veira aos bracos grosseiros de Chica da Silva. Estupendamente rico, 0 mais rico de todos os nababos que Minas teve naqueles tiltimos decénios do século XVIII, mais rico, talvez, do que o rei de Portugal, 0 sexto contratador de diamantes teria tido a mais bela e mais fulgurante das mulheres do Tijuco. Naquela época — 1671 a 1795 — € Tijuco estava no mais eston- teante florescimento. O terremoto de Lisboa, a supersticéo que se apo- derou dos portuguéses de que o cataclisma se repetiria, féz com que muita gente fidalga de Portugal se derramasse em procura de Minas. ‘A zona opulenta dos diamantes era a mais fascinadora, e das zonas dos diamantes, o Tijuco a culminancia da opuléncia. O suntuoso arraial tinha uma vida febril e resplandecente. Ergueram-se as casas mais lu- xuosas, levantaram-se os templos mais magnificentes da época. Havia dinheizo que se nao contava, havia luxo de espantar. A vida dos saloes tinha 0 toque de bom-gésto de Felisberto Caldeira e era igual a de qual- quer dos finos sal6es de Lisboa, e muitas saias, que na Carte portuguésa haviam fulgurado, ondulavam, agora, pelos tabuados polidos das salas do, arraial mineiro. O desembargador teria, se quisesse, a mio da mais alta fidalga de Portugal. A sorte, porém, o amarrou cegamente, incrivelmente, irreme- diavelmente, as saias desgraciosas daquela escrava inculta. Chica da Silva nada tinha na vida, no corpo ou no espirito, que pu- desse prender um homem, Era uma mulata escura, beigos grossos, nariz chato, alta, enorme de carnes e feigdes asperas. Nao trazia nenhuma das gracas femininas que sio, as vézes, mais embriagadoras que a beleza. Nem ao menos um désses lampejos de co- rao e de bondade que so sempre os nés indesataveis que ligam os homens as mulheres feias. Tudo nela era grosseiro e chato como o nariz. 266 ~ SELEGOES DA HISTORIA © opulento contratador conheceu-a ali mesmo no Tijuco, no eito, descalga, a pingar suor, de tanga e cabecao de zuarte. Partiu dai a sua paixao. Chica era escrava do padre José da Silva ¢ Oliveira Rolim, que figurou depois no niimero dos inconfidentes mi- neiros. Foi a pedido do desembargador ou pelo seu dinheiro que o padre a alforriou. Ninguém pode compreender a pertinacia e a solidez daquela paixao de nababo a humildade de uma reles cativa. Joao Fernandes de Oliveira fora o mais feliz dos contratadores de diamantes da quadra pombalina. Nunca se extrairam tantas gemas como no tempo do seu contrato. Parecia que a destra de uma fada oculta 0 guiava em tédas as ex- ploragées. Até mesmo nos lugares por outros abandonados como im- prestaveis para a mineragdo éle ia encontrar a fortuna. © prestigio do dinheiro dava-lhe um poder de soberano. A seus pés curvava-se tudo. Nem mesmo o intendente, o tolerante Francisco José Pinto de Mendonga, lhe opunha a menor barreira ao dominio. Se diante de uma criatura o seu orgulho baqueava: diante de Chica da Silva, a mulata que conhecera suarenta, no eito, de tanga e cabegdo. Chica da Silva foi a mulher mais extraordinariamente bizarra que houve no Brasil, pela época de Pombal Senhora do coragao do contratador, dominou o Tijuco com a mag- nificéncia de uma tainha. Nao houve desejo seu, dos mais extravagan- tes, que ndo f6sse imediatamente cumprido, A seus pés viveu 0 Tijuco inteiro como um escravo obediente a0 senhor. Quem queria um favor de Joao Fernandes, tinha de o pedir pri- meiro a Chica. Nunca 0 contratador a contrariou num s6 capricho.» VIRIATO CORREIA «Hist6rias de nossa Histéria>. COMO TERA DESAPARECIDO EF: KMER, ADORADOR DE SERPE! KOR? EIS O MISTERIO QU LOGIA PROCURA DE! 3 — Mean dp maton gunn tpn conan i (3g centimetre, som Thos a poles variadas. A nia Pontes vou improssionenio capux, surgem a todo instante nas for inepiradas pela fantasia © pela ree Pirande Bitcias. vedas om Pl ao. espléndidas com dos entendidos, fot aderad Que consideravem como divindades. Somelhant Seasegredativamente, vara 0 conhecimento humano. Serrubeda do grandes florestes. (Grandes mistérios modernos. le dos «Gigantes carregad: ada. Em smenea file. blo SELEGOES DA HISTORIA ~ 267 A Respeito de Anghor Jy 381 0s ategos dos caldeus atingis pontos mais ditantes do que a arte dos persas, chegando & India, Indochina, até mesmo ao Ja- pio ¢ a China, da qual o Nipon é¢ filho espiritual, nao esquegamos. Os artistas hindus, na estatuaria, inspiraram-se nos modelos gregos classicos, sendo curioso observar que as formas dos deuses do Olimpo esto em varios de seus monumentos. Criaram, contudo, tipos estranhos de divindades curiosas, meio hu- manas, meio animais, e seus personagens divinos, como acontece com .e, substituida, nos semblantes, a vivacidade dos gre- gos pela sonoléncia dos grandes comedores e dos grandes amigos do sono, nas regides quentes Mas tiveram imaginagio os hindus, sem divida, ou melhor dizen- do, os varios povos primitivos da India, dentre os quais se destaca aqué- le que continua sendo um grande mistério: o extraordinario povo Kmer, que construiu em Angkor uma civilizagao apreciavel, como atestam as ruinas dos seus templos, numerosissimos, dos quais 0 mais notavel é 0 de Angkor-Vat. Diversas portas davam ingresso a tais templos ou a ci- dadela em que os mesmos foram construidos. Destas, a mais importan- te ou pelo menos mais geralmente apreciada pela imponéncia dos mo- numentos, pelo capricho dos artistas que ali trabalharam, € a chamada «Porta da Vitéria», onde se destaca, defendendo-a, 0 notavel grupo de elefantes estilizados, hoje bastante prejudicados no conjunto pela acao Buda, atarracaram-s do tempo. Os estudiosos da arte oriental, especialmente os que vém procuran- do, desde Sarrault, erguer uma ponta do véu de mistério que encerra a histéria do povo Kmer, afirmam que essa Porta da Vitéria constitui, juntamente com a «Avenida dos gigantes carregadores de Naja>, a ser- pente sagrada, das mais belas demonstracées da arte hindu. 268 — SELEGOES DA HISTORIA E’ muito pouco o que se sabe a respeito désse povo Kmer, funda- dor de um grande império no Cambodge. Sabe-se que ésse povo possuiu adiantada civilizagao, havendo dei- xado espléndida demonstracéo do grau de cultura a que atingiu, nos monumentos de Angkor, ressuscitados, muitos déles, gracas aos esforcos de Albert Serrault, que foi governador da Indochina francesa. Milhares de metros quadrados tém as construcées que ressurgiram das selvas, devido ao trabalho dos exploradores, apresentando curiosos monumentos onde € constante a presenca da serpente, o que leva a crer haja aquéle povo adorado tais répteis. Angkor €, na verdade, um conjunto de templos, dos quais Angkor- Vat, imenso amontoado de rochas superpostas, caprichosamente deco- radas, ¢ 0 maior Impressionam ai, pelas dimensdes, as figuras representando Siva, especialmente a torre que mostra quatro faces da divindade Existem nada menos de quarenta e nove fisionomias do deus em Angkor, sendo notavel, ainda, a avenida dos gigantes. Detalhe curioso: sdo de impressionante beleza as fisionomias’ das mulheres representadas nos baixos-relevos dessas construgdes do miste- rioso povo, o que leva a crer tenham éles possuido lindas represen- tantes do sexo feminino, o que representa, sem divida, algo de bastante extraordinario, pois a indiana, de modo geral, pelo menos sob os padrdes orientais, nao €, propriamente, um tipo de beleza. > SERGIO MACEDO «Porta da Vitéria, em Angkor», in , as ordens do comandante Taylor, na qualidade de ajudante de piléto. Partindo a Esquadra para a Bahia a 30 de margo, a fim de expul- sar as fércas do general Madeira, e dar combate aos navios do almiran- te Joao Felix Pereira de Campos, portugués e contrario a Independén- 270 ~ SELEGOES DA HISTORIA cia, a bravura, competéncia « wedicagéo demonstradas por Marques Lisboa, no bloqueio ¢ perseguigao a esquadra de Joao Felix até a foz do Tejo, entusiasmaram 0 comandante Taylor, que o recomendou a consi- deragao do almirante Lord Cockrane. Em 1824 cursava o jovem marinheiro o primeiro ano da Acade- mia de Marinha, quando rebentou em Pernambuco a revolugao que deu origem & Confederac4o do Equador, de duracao efémera. Ao aprestar-se a esquadra para combater os rebeldes, lembrou-se Cockrane de incorporar 4 guarnigéo 0 valente ajudante-de-piléto e pe- diu ao ministro da Marinha que o embarcasse como oficial subalterno. Opés-se 0 ministro ao embarque, o que obrigou Cockrane a apelar para o imperador. ~ Afirmo a V. M. Imperial — disse-lhe o almirante — que aqué- Je voluntario, quase menino, é uma das mais promissoras esperangas da Marinha Brasileira. Foi ajudante de navegacao de Taylor, encarregado dos cronémetros da «Niterdi> e a todo oficial. ste € um encargo que nao se entrega Consentiu D. Pedro I no embarque e a 2 de agésto partiu Mar- ques Lisboa para a regiéo rebelada, a bordo da nau «Pedro I», portan- do-se, como na Bahia, com igual zélo, coragem e aptidio. De volta ao Rio, prestou exames na Academia de Marinha, sendo efetivado no pésto de segundo-tenente, em que havia sido nomeado em comisséo a 22 de janeiro de 1826. Por essa época jé andavam tensas as nossas relagdes com as repii- blicas do Rio da Prata, que desejavam reconstituir ali o vice-reinado espanhol.» MIGUEL MILANO «Heréis Brasileiros». INFINITAMENTE INFERIORES EM NUME- VSEGUIRAM BLES, POREM, IMPE- 3 — O grande plane ez atnat « Fazona, dois de este Totiieada Br maio do ano fom breve prazo. 1 Siege ag ateatonns de Jerusalém, ou Ordom de Malta, Mies antigas oF a Sicilia 6 @ Alice, @ \Smingwam Malis, dovide the de Malta, que os gregot sdaside, Patacados Hor em mamerg,retroced Suprise, reelizande uma proses @ Ser inepe, edmirada da’ bravura dos iihéus que Foalmente, um eslorco de gigantes. wque jamais vole SELEGOES DA HISTORIA ~ 271 | Malta FE,’ 20 Mediterraneo, entre a Sicilia e a Africa, que se situa a itha de Malta, que os gregos denominavam Melité, devido a exceléncia de seu mel, € que deve aos arabes sua designagio atual. Trata-se de imenso rochedo calcdreo, coberto de ligeira camada de terra trazida da Sicilia, em velhos tempos. Encontra-se ai alguma’égua, mas a raridade das chuvas faz com gue o regime seja quase de permanente séca Sao célebres, entretanto, as laranjas e outros frutos exéticos produ- zidos na ilha, 0 que parece contradizer aquela historia da ligeira cama- da de terra trazida da Sicilia... Com efeito, ha, em Malta, flores helissimas, a vinha cresce muito bem, ha algum algodao, que, outrora, era bastante exportado para a In- glaterra. Os habitantes de Malta, geralmente curiosa mistura de arabe, ita- iano e grego, falam um jargao curioso, onde ha palayras daqueles trés idiomas, Professam a religiio catélica e a pesca e a jardinagem sio suas principais ocupagées. Os fenicios fundaram em Malta, 1.400 anos antes da nossa era, um entreposto comercial que rapidamente progrediu. Em 400 A.C., os cartagineses apoderaram-se da ilha, sendo, por sua vez, despojados pelos romanos, em 216. Os arabes ali se estabele- ceram em 818, sendo a ilha retomada pelos cristaos em 1090. No ano de 1530, Carlos Quinto presenteou a ilha a Ordem de Sao Joao de Jerusalém, mais tarde Ordem Rodes e, finalmente, Ordem de Malta. Constituiu essa Ordem a mais célebre das antigas Ordens Milita res. Sua origem nao € muito bem conhecida, parecendo, entretanto, re- montar aos dias da Primeira Cruzada. 272 ~ SELEGOES DA HISTORIA Afirma-se que, desde o ano de 1048, negociantes de Amalfi, na Ita- lia, adquiriram 0 direito de estabelecer nas proximidades do Santo Se- pulcro, em Jerusalém, um convento, do culto latino, dedicado @ Virgem. Ao lado do edificio que foi construido ergueu-se, mais tarde, um hospi- tal destinado aos peregrinos enfermos ou necessitados. Essa casa, colocada sob a protecao de Sao Joio Batista, distinguiu- se, imediatamente, pelos servigos prestados, e seu superior, que tinha © titulo de Preboste ou Guardiao, demonstrou tamanho zélo que, depois da tomada de Jerusalém, a Ordem obteve os favores de Godofredo de Bulhdo, 0 famoso Cruzado, e outros principes cristios que entraram a auxilié-la. Nao tardou que os Irmaos da Ordem passassem a fornecer escol- tas aos peregrinos que visitavam os lugares santos, para proteg@-los con- tra os bandidos mugulmanos que infestavam, entdo, a Terra Santa, Em 1113 obtiveram do Papa o direito de escolher, éles mesmos, 0s sets superiores. Raimundo de Puy, eleito em 118, adotow o titulo de Mestre da Ordem, cujos estatutos elaborou. Exigindo dos cavaleiros da mesma o triplice voto de obediéncia, castidade e pobreza, submeteu-a A regra de Santo Agostinho, impondo- Ihe a obrigacao de defender a Igreja com os recursos que os peregrinos fornecessem. A entrada de Baudoin em Antiéguia, a tomada de Tiro, 0 levanta- mento do sitio de Jafa, devidos, principalmente, ao valor dos cavalei- ros da Ordem, aumentaram a sua gléria e deram-lhe grandes riquezas na Espanha e outras terras européias Os cavaleitos de Malta vestiam, em tempo de paz, longo manto sobre 0 qual, & esquerda, estava gravada uma cruz branca, de oito pon- tas. Em tempo de guerra, vestiam uma sobre-veste vermelha, em forma de dalmatica.» INDIGNADO COM A DEFECGAO DOS COMPANHEIROS, O JOVEM EUCLIDES mais tarde isto de. pr ‘guém fugiria ‘go compromisso, SELEGOES DA HISTORIA ~ 273 Euclides e © Sentimento de Brasilidade (© Biull nfo estava esquecido, entretanto. Afonso Arinos, no «Pelo Sertdo», Coelho Neto, no , e Euclides da Cunha nos «Sertées», continuavam com mais penetracao € espirito cientifico a obra nacional dos nossos romanticos, de Alencar a Taunay. Em todos ésses livros, e mais tarde, nos romances sertanejos de Afranio Peixoto, aparece vivo, em contraste com as produgdes da ge- racdo de céticos, 0 sentimento de brasilidade. Enquanto Afonso Arinos e Coelho Neto fixavam os tipos humildes do interior, as peculiaridades da vida e 0 lirismo de sua psiqué, Euclides da Cunha e Graca Aranha estudavam os grandes problemas étnicos e antropolégicos do nosso pais No «Os Sertdes», pagina violenta em que se debuxam as linhas mestras da nossa sociedade rural, surge a fisionomia do vaqueiro, do mestico gerado pelo caldeamento das racas primitivas que se cruzaram nos alongados séculos da Colénia. Ali esto os descendentes dos nos- sos antigos civilizadores, os bandeirantes do Notte, os:criadores, os agri- cultores, os senhores de engenho. Ali esté o homem ja adaptado ao solo, aclimado perfeitamente, depois de téda sorte de provacées fisicas e mo- rais. A luta dos jaguncos ¢ um simples epis6dio, uma cena brutal, de que o atitor se serviu para mostrar as populacdes do nordeste brasilei ro, 0 seu habitat agressivo e os caracteres da sua existéncia. «Canad» revela os graves problemas da nossa formagao futura. E’ 0 poema das ragas novas gue se vém fundir com a nacionali- dade ja esbocada. Milkau e Lentz representam a ideologia européia, em face do tumulto americano. O «Canad» foi, assim, 0 precursor do ro- mance de idéias no Brasil. Avolumando a corrente que essas grandes obras representavam, é justo mencionar uma série de investigacées histéricas, de ensaios socio- légicos e politicos sbre o desenvolvimento de nosso pa nha contribuir para despertar o interésse pelas nossas coi: 274 — SELECOES DA HISTORIA Tudo isso vi- as que o di- letantismo dos nossos letrados elegantes propositadamente relegava e esquecia. Foi no embate dessas duas {orcas que dividiam a nossa literatura, foi entre «Pedro 0 Barqueiro» e «Andrea Sperelli», que se formou a ge- ragéo modernista. Os homens desta geracéo herdaram uma voz melan- c6lica: a voz da Terra. Perdido na vastidao da floresta insidiosa, que a cada passo vem arrancar-lhe os frutos do seu labor, o brasileiro refle- te no pensamento a tragédia aspera e continua da sta adaptagao ao meio césmico. © homem da zona tropical é, assim, um ser destinado ao terror e A humilhacao diante da Natureza. Nossa literatura apresenta a ésse res- peito depoimentos célebres. Basta mencionar os «Caucheros> e 0 «Ju- das Ahsverus», de Euclides da Cunha. Tudo se entredevora, nessa pan- fagia formidavel da selva barbara. Os rios saltam dos leitos e engolem as terras marginais, Pululam nas fermentacées dos mangues e ipagés, milhdes de insetos, desde a borboleta ao pium voraz. A sombra de cer- tas arvores € mortifera e ha grandes corolas que se abrem como bécas esfaimadas. Somente o homem se encontra deslocado, nesse monstruo- so divertimento das forcas elementares. O sentimento confuso dessa luta permanente, vindo através do in- dio toremista, do africano fatalista e do portugués nostalgico, povoou de fantasmas a alma brasileira, Ficamos aténitos ante o destino. A dor ¢ a volipia embriagaram o nosso espirito. Foi essa a heranga que rece- bemos do passado, mesmo daqueles que melhor interpretaram a nossa alma. A histéria dos nossos valores é, em grande parte, o espelho désse combate entre a terra e 0 homem.> RONALD DE CARVALHO «Historia da Literatura Brasileira. e- n- ue { e- ’ 5 ENTE O PODERO- : QUE POSSUIA FILHOS DE TAO GRANDE CORAGEM §, . DESPRENDIMENTO JAMAIS PODERIA a SER ESCRAVIZADO DA HISTORIA A Repiblica Romana «FISTABELECIDA a Repiblica, Roma passou a ser governada por dois cénsules, eleitos por um ano, pelo Senado. Nas ocasives de perigo, quando a cidade se encontrava ameacada, escolhia-se um ditador, que dispunha de téda a autoridade. A sua pala- vra, isto € 0 que éle dizia (dai o nome ditador) tinha forga de lei Mas, com tanto poder, o ditador poderia pretender tornar-se rei, € para que isso nao acontecesse, ficou estabelecido que éle s6 poderia per- manecer no poder pelo prazo maximo de seis meses. Dos outros magistrados importantes da Republica, cita-se 0 censor, encarregado da censura, isto ¢, 0 que zelava pelos bons costumes; tam- bém 0 censor avaliava a populacio, 0 que ainda hoje se chama censo O mais célebre dos censores foi Cato: muito severo, combateu o luxo, que se introduziu em Roma durante as conquistas. Das assembléias, a mais importante era o Senado. Durante a Re- piiblica, cabiam ao Senado as grandes decisdes, como a paz e a guerra. A principio tédas as fungées piblicas, como também as religiosas, eram exercidas exclusivamente pelos aristocratas ou patricios, descen- dentes das antigas familias de Roma. Os plabeus nao tinham nenhum di- reito, cultivavam a terra em tempo de paz e, como soldados, participa- vam da guerra. Pouco a pouco, porém, os plebeus foram-se igualando aos patricios: primeiramente, conseguiram que féssem nomeados dois tribunos para a defesa dos seus inter es (tribunos da plebe): depois obtiveram leis escritas, gravadas em doze tabuas de bronze, por isso mesmo chama- das Lei das Doze Tébuas; seguiram-se outras conquistas, como os casa- mentos mistos, isto é, entre patricios e plebeus, e 0 exercicio, por éles, de todos os cargos politicos e religiosos. 276 — SELECOES DA HISTORIA Mas no se deve pensar que, estabelecida a igualdade entre patri- cios e plebeus, a Repiiblica Romana se tornasse democratica. Com as conquistas houve romanos que se apoderaram de extensas terras, toma- das aos vencidos, e se tornaram poderosos, constituindo uma espécie de nobreza, enquanto que outros, ainda que cidadaos romanos, viviam, em Roma, em extrema miséria. Entao os térmos patricio e plebeu mudaram de sentido: patricio ou nobre era o cidadao rico, e plebeu era 0 cidadéo de condigéo humilde que lutava para melhorar a sua sorte. Na luta entre ricos (patricios) € pobres (plebeus) distinguiram-se 08 dois irmaos Gracos: Tibério e Caio. Eleitos tribunos, pretenderam re- solver a questo agraria, isto é, das terras cultivaveis, de modo que os plebeus pudessem tornar-se proprietarios. Os romanos poderosos, sentindo-se prejudicados, levantaram-se con- tra os Gracos: Tibério, acusado de pretender tornar-se rei, foi assassina- do e seu irmao, Caio Graco, para nao ser também vitima dos seus ini migos, pediu a um escravo que 0 matasse. Depois dos Gracos, surgiram generais que se diziam defensores dos ricos ou dos pobres; na realidade, procuravam apoiar-se nessas classes para satisfazer suas ambicdes. Désses generais, dois ficaram célebres: Mario e Sila. Nessa ocasido, as leis da Repiblica ja néo eram mais respeitadas € a numerosa plebe, formada por cidadaos pobres, vendia seu voto aos ambiciosos. Tudo parecia favoravel a formacdo de um regime em que o poder coubesse, de modo definitivo, a um sé homem. Bsse regime, que se chamou Império, foi afinal fundado por Otavio, sobrinho de César.» BORGES HERMIDA «Historia Geral», 3° série ginasial. PROMOVIA, O CORPO DE MERCENARIOS PRUSSIANOS QUE D. PEDRO I MANTEVE. UM DIA, CERTO MAJOR VON EWALD, PARA HOMENAGEAR A NAMORADA... ‘slzalda pelo ruler oigarbo da tropa ia de me Gpeca'o geslo do. major Dona Gertrudes e 0 Major «PEDRO I dew-se a0 luxo extravagante de ter um corpo de alemies: © segundo batalhio de granadeiros, aquartelado nos baixos do mosteiro de Sao Bento; o terceiro, também de granadeiros, na fortaleza da Praia Vermelha; o vigésimo-sétimo de cagadores, vivendo na mesma fortaleza, e 0 vigésimo-oitavo, ainda de cagadores, instalado no quartel de Pernambuco, © corpo estrangeiro do primeiro imperador, nunca teve uma orga- nizagdo decente. Composto do que havia de pior nas provincias e aldeias do norte prussiano, que agentes desonestos iam buscar com engodos descabelados, era todo éle de aventureiros, mercendrios, borrachos e assassinos que punham o Rio de Janeiro num alarido constante de bebedeiras e rolos. Todo dia um barulho com tropas brasileiras, todo dia um coméco de revolta pelos maus tratos dos chefes, também da mesma laia dos soldados. Von Ewald era comandante do terceiro batalhio de granadeiros da Praia Vermelha Antes de vir para o Brasil fora capitio honorario de cavalaria a servigo da Dinamarca e ostentava no peito a fita de cavaleiro da Or- dem de Dambrog, © tipo inteirico do aventureiro, Veio ao Brasil com ag disposicdes de pirata, disposig6es que traziam todos, naquela época, ao aportar as nossas plagas: despido de escripulos, sem os menores visos de pundonor, disposto anicamente a fazer tudo que f6sse possivel ou impossivel para enriquecer. Ao chegar ao Rio deram-lhe 0 pésto de Major. Von Ewald era um borracho de primeira plaina. Ao que rezam as crénicas do tempo, rara era a hora em que nao estivesse bébedo, sempre a mostrar uma inépcia desoladora, um pro- fundo descaso por tudo 0 que era sério, 278 ~ SELEGOES DA HISTORIA Quando the entregaram 9 comando do terceiro de granadeiros ja encontrou dona Gertrudes magnificamente instalada em Botafogo, na- quela casa apalacetada da curva da praia, senhora de vastas carnes, de imensos olhos, e de um coragio tao grande que o dividia por varios negociantes. Ao que parece, as primeiras tentativas do major alem&o para con- quistar © coraso de dona Gertrudes nao foram das mais felizes. Ela nao tinha necessidade de afeigdes nem de dinheiro: conforto € fausto davam-the os negociantes: coracées, vinham-lhe oferecer a porta os rapazes elegantes da época, Mas Von Ewald nao desanimou, Da Praia Vermelha a de Bota- fogo era um pulo, Vivia mais nesta, em derredor do palacete de Dona Gertrudes, do que mesmo, no quartel. A ingrata voltava-lhe o rosto. Macaco velho, prosseguit, Pois se tinha tido triunfos nos campos frios da Dinamarea, porque os quela dama? io havia de ter no peito tropical da- Se era mau soldado, como dizem as crénicas, tinha taticas infaliveis Para as conquistas de amor. Trouxe seu batalhao para fazer evolugdes defronte das janelas de sua querida, Dona Gertrudes, chamada a varanda pelo ruflo dos tambores, teve um sorriso saudacéo que Von Ewald, escandalosamente, Ihe {éz a frente dos soldados, No outro dia, @ tarde, as mesmas horas, a curva da praia estava cheia de clarinadas e rataplas. O major apaixonado comandava o seu batalhdo com os olhos fitos em Dona Gertrudes. Todos os dias a mesma coisa, a mesma barulheira marcial diante da fachada da casa de madame, até que aconteceu o episédio da «liga na bandeira», que nao agradou a Pedro I. SAL FOL O «ADEUS» DIRIGI- COMPATRIOTAS PELO IDERADO «O PRIMEIRO AMERICANO NA GUERRA E NA PAZ.» fo 1799, cercade: do, fo Verdadeite arillice da unigo curam realiear, SELECOES DA HISTORIA ~ 279 i 1 A Luta da Independéncia Norte-Americana CUANDO a declaracdo se achava ainda em debates, 0 Congreso alistou a milicia no servigo continental e nomeou 0 Coronel Geor- ge Washington comandante-chefe das forcas americanas. As qua- lidades que fazem de um homem um lider, Washington juntava integri- dade, calma e dignidade, ardor e paciéncia, dando sempre o exemplo de perfeita coragem moral e fisica. Sua capacidade de dirego era extra- ordinaria, e a justeza do seu raciocinio, imparcialidade de julgamento e preciso das suas informagées fizeram-no um gigante, Seu bom-senso «elevou-o a altura do génio». Quando tomava uma deciséo por julga- la a melhor, punha-a em pratica tenazmente, com justiga e firmeza. «A derrota é apenas o estimulo para um esforgo maior», escreveu éle. . Sua dialética persuasiva levava 0 povo a escolher entre as alternativas, ou submissio um rei tiranico e a um govérno antiquado, ou a liberdade e a felici- dade numa republica independente e capaz de se bastar a si mesma. A influéncia do panfleto foi tremenda. Em poucos meses, milhares de exemplares haviam sido distribuidos por todas as coldnias, cristalizando a convicgao e aliciando os indecisos e os pusilanimes. Mas, se bem que 0 povo comecasse a aceitar a idéia da indepen- déncia, faltava ainda conseguir a adesao explicita de todas as colénias a uma declaragio formal de separagdo. Paine, em seu livreto, chamara a atengéo sébre a atitude incongruente daquelas. Exaltadas a rebelido, tinham seu proprio exército e marinha, e governos que desacatavam 0 Parlamento eo rei. E no entanto hesitavam em dar 0 passo decisivo. Era unanime a opiniéo de que 0 Congresso Continental nao pode- ria tomar medida definitiva para a independéncia sem receber, primei- ramente, instrucdes cabais das colénias, Diariamente, porém, era o Con- gresso notificado da formacao de governos coloniais extra-legais e re- cebia delegados com autorizagéo para votar a favor da independéncia. Simultaneamente, 0 niimero de radicais continuava aumentando entre os congressistas, Atuando eficientemente, ésses reforcavam os comités fracos e entusiasmavam os patriotas com resolugées vibrantes. Final- mente, em 10 de maio de 1776, foi adotada a resolugao de «costar as amarras>. Faltava apenas uma declaragdo formal. No dia 7 de junho, Richard Henry Lee, de Virginia, cumprindo ordens do seu govérno, apresentou uma resolugio declaratéria a favor da independéncia, de aliangas com paises estrangeiros e de uma federagio americana. Foi imediatamente nomeado um comité de cinco membros, presidido por Thomas Jefferson, incumbido de redigir a declaragao formal que «enun- ciasse 08 motivos que nos impeliram a tomar essa magna resolucao>. Jefferson, que contava entao apenas 33 anos de idade, ja tinha repu- tagao firmada na legislatura de Virginia quando foi nomeado delegado do Congresso em Filadélfia. Embora filho de aristocratas de Virginia, sua mocidade, vivia num ambiente democratico, tornara-o inimigo dos direitos patricios. > RO I, TODO O POVO, PRATICAMEN- ESTAVA FARTO DA ATUAGAO DA RE 2 —Como s0 empunhasse um acoite,, fustiga violenlamente certes corner Investe contra Honéiio Hermeto, que chama que to pais esta sem governon, entregue a futuro Marqués do Patand ostd livide. An. & melsridede de D. Pedro Ine evan Tose moraento, presenga fcussio do projeto de fixacao de féreas slgazarva, 2) — impo do Abreu propusere o nomeaco ds um parg tugerit medidas @ respeito da maiorida Gor, E principloram em debates. Hocha Galveo « Sate invediate: Bustle, “favertes ‘modesto’ deputade Por Mate Grosso. so le- A Revolucio da Maioridade URANTE 0 periodo das Regéncias, nao faltou quem atribuisse a fraqueza désse tipo de govérno a causa das fregiientes perturba- 6es da ordem que entio agitavam o pais. Por isso mesmo, apareceram propostas no sentido de ser antecipada a maioridade do Imperador, para que pudesse éste entrar no exercicio de suas funcdes antes de atingir a idade de dezoito anos, para isso marcada pela Constituigéo. Nascido a 2 de dezembro de 1825, somente em 1843 poderia D. Pedro II assumir a chefia do Poder Moderador. © primeiro projeto favoravel & antecipacdo da maioridade imperial para 14 anos foi apresentado em 1835 pelo deputado Luis Cavalcanti, mas a CAmara nem mesmo o admitiu a discussdo, por set inconstitu- cional. No ano seguinte discutiu-se outra questo. A princesa dona Janua- ria, tendo completado 14 anos de idade, foi reconhecida herdeira do trono, como estabelecia a Constituicaéo. Podia, portanto, ser imperatriz, se por qualquer motivo nos faltasse o Imperador. Mas nao poderia ser regente, pois para isso era exigida a idade minima de 25 anos para o parente mais préximo do imperador que em sua falta devesse exercé-la. Os partidarios de uma substituicdo da Regéncia vigente argumen- tavam que, se a princesa podia ser imperatriz, também poderia ser Re- gente Entretanto, a idade para entrada em exercicio do imperador ou da imperatriz continuava sendo de 18 anos, ¢ assim caia por terra aquéle argumento em favor da passagem da regéncia para a irma do jovem soberano. Em 1837 surgiram novos projetos relativos a maioridade de D. Pe- dro II. Propés 0 deputado José Joaquim Vieira Souto que assumisse 0 govérno o imperador, restaurando-se, para assisti-lo, 0 Conselho de Es- tado, criando-se ainda 0 cargo de presidente do Ministério. Para contornar a questio, adiando-a, sugeriu o deputado Rafael de Carvalho que 0 mogo imperador fésse viajar pelo estrangeiro, duran- te cinco anos. Ambos os projetos foram rejeitados. 282 — SELEGOES DA HISTORIA Em 1840 reacendeu-se a questo. A 11 de margo completou a prin- cesa dona Januaria 18 anos, j4 podendo, portanto, ser imperatriz em pleno exercicio de suas fungdes, caso ndo tivéssemos um imperador. Como Princesa Imperial, titulo que lhe cabia por ser herdeira do trono, poderia, com aquela idade, governar como Regente, em nome do imperador, caso éste, «por causa fisica ou moral», estivesse impossibi- litado de exercer 0 cargo. Argumentavam os inimigos da Regéncia de Araijo Lima, que a menoridade de D. Pedro II era uma «causa fisica» e, por conseguinte, deveria dona Janudria substituir aquéle Regente. O resultado dessas discussdes foi a fundacdo, no més seguinte. por iniciativa do senador José Martiniano de Alencar, do Clube da Maio- ridade, destinado a trabalhar pela antecipacao da chegada de D. Pe- dro Il ao poder. Para a presidéncia da sociedade foi escolhido o depu- tado Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva: para a vice- presidéncia o senador Anténio Francisco de Paula e Holanda Cavalcan- ti de Albuquerque, depois Visconde de Albuquerque; secretario do Clu- be, o proprio Alencar. Entre os seus mais notaveis membros incluiam-se o senador padre José Bento Leite Ferreira de Melo, os deputados Antonio Paulino Limpo de Abreu, depois Visconde de Abaeté, Francisco Gé Acaiaba de Mon- tezuma, mais tarde Visconde de Jequitinhonha, cénego José Antonio Ma- rinho, Tedfilo Benedito Oténi, Francisco Alvares Machado e outros. Entrando em acdo 0 novo agrupamento politico, apresentou. Alen- car um projeto ao Senado, declarando o Imperador maior. Rejeitado apenas por 18 votos contra 16, teve a apoia-lo politicos de prestigio, como o 1° Marqués de Paranagua e José Clemente Pereira. Pretendendo legalizar a questdo, propés 0 deputado Honério Her- meto Carneiro Leao, depois Marqués de Parana, que na seguinte le: latura viessem os deputados autorizados pelos eleitores a reformar a Constitui~o, quanto a idade minima do imperador.» HELIO VIANA «Historia do Brasil Independente>. MAS A PRUSSIA CONTINUARIA A DOMI- NAR ATRAVES DE HABIL MANOBRA PO- LITICA. DA{ A SERIE DE ERROS FUTU- ROS, CONSIDERADO HITLER O MAIOR ALEMANHA HAVERIA DE SOFRER _— ng grandiose eBala dos Espelloss — AA do dexombro, o rel Luis I lode © sistema giraria em \Smo da Prissia, que con- a@ Ser, na pratica, uma monarquia ebsolula. Dal SELEGOES DA HISTORIA ~ 283 0 A Unidade Alema «PELOS térmos das decisdes do Congresso de Viena, a Alemanha passou a constituir uma Confederacao composta de trinta e nove Estados, regida por uma Dieta Federal ou Bundertag: com a capital em Francfort, a Confederacao tinha como presidente e vice-presidente, res- pectivamente, o imperador da Austria eo rei da Prassia. Essa organizagao nao satisfazia o sentimento unificador dos ale- maes em face dos defeitos constitucionais que apresentava, 0 mais gra- ve dos quais consistia na necessidade de ser cada decisao da Dieta apro- vada por todos os governos, o que determinava interminaveis discussdes sobre qualquer assunto, dificultando, portanto, téda decisio a ser to- mada. Importante etapa na campanha da unificacao foi o estabelecimen- to do Sollverein (Unido Aduaneira), iniciativa da Prussia e que consis- tia na aboligdo das taxas alfandegarias entre os paises alemaes, 0 que possibilitou lucros comerciais ¢ financeiros aos componentes da Confe- deragdo. Outra conseqiiéncia da criagdo do Sollverein foi a queda do prestigio da Austria entre os alemaes, em face de nao haver a mesma querido aderir 4 Unido Aduaneira, facilitando, assim, a politica da Pris- , no sentido de exclui-la da Confederagao. © movimento liberal alemao pleiteava que todos os soberanos da Confederagao concedessem um regime constitucional a seus respectivos paises. Em 1848, ano em que se verificaram movimentos liberais em quase t6das as nagées européias, a tendéncia democratica manifestou-se na Alemanha com a atitude revolucionaria dos chefes politicos dos pa ses do Sul, que tomaram suas decisées no Parlamento de Francfort, sem Jevarem em consideragao a autoridade dos soberanos. Entre essas decisées, a mais importante foi a convocacéo de uma Assembléia Constituinte, para a qual seriam eleitos representantes de toda a Alemanha: os soberanos viram-se forcados a consentir na reali zagdo de eleigées. Na Assembléia Constituinte, dois grupos partidarios disputavam a supremacia; um, dirigido pela Austria, preconizando a formagio da de- 284 — SELEGOES DA HISTORIA nominada Grande Alemanha; outro, desejando figurassem tinicamente na Alemanha paises alemaes, 0 que significaria a exclusdo da Austria, império que abrangia hiingaros, eslavos e latinos, em sua formagao. A Constituicao foi promulgada em marco de 1849, e, de acérdo com suas disposicées, o poder executivo caberia a um imperador, cargo para © qual os partidarios da Pequena Alemanha elegeram o rei da Prussia, Frederico Guilherme IV. Nessa ocasiio, entretanto, ja estavam superadas as dificuldades que haviam prejudicado os soberanos alemaes em 1848, quando foram obri gados a aceitar as iniciativas liberais, e assim resolveram éles iniciar a reacdo, efetivada com as seguintes medidas: recusa em sancionar a Cons- tituico de Francfort: nao aceitagao, por parte de Frederico Guilherme, da coroa imperial. Apesar da revolta popular, inoperante, alias, alguns soberanos re- tiraram seus representantes do Parlamento, que foi finalmente dissolvi- do pelo rei de Wurtemberg, depois de haver um pequeno grupo de re- presentantes transferido o local das sessées para a capital do acima re- ferido pais Enquanto ainda estava reunido o Parlamento, uma revolta popu- lar em Berlim impés a Frederico Guilherme IV a convocagao de uma Assembléia Constituinte, que foi logo a seguir dissolvida, mas cuja in- fluéncia manifestou-se no sentido de o rei outorgar a Priissia uma cons- tituigao, fato que Ihe deu bastante prestigio perante a opiniéo publica alema. Apesar de haver recusado a coroa imperial oferecida pelos depu- tados de Francfort, Frederico Guilherme tentou renovar as negociacées para a unificagao politica da Alemanha.» ALFREDO DE TAUNAY E DICAMOR MORAES «Historia Geral», 3° série colegial Nic Zaccondalc cin IM i i a i ee i re a ine ECOES DA HISTORIA ~ 255 Os Liricos Poetas Provencais ouetes poetas provengais, doces e amaveis, que do undécimo a0 décimo-quarto século escreveram e cantaram, pela Europa, na lingua d’oc, ou lingua romAnica, deram a designagao de Trovadores, sen- do de destacar-se que a lingua d'Oc foi, na Europa meridional, o primei- ro dos idiomas nascidos do Latim. Nas pequenas cértes da regido da Provenca e no Meio-Dia fran- cés, ésses Trovadores eram acolhidos com grande entusiasmo e muitas manifestagdes de agrado, tanto éles suavizavam a vida dos casteloes e encantavam as castelas. As Cruzadas foram 0 grande acontecimento que inspirou os poe- tas populares. Foi entio que surgiram os mais notaveis dentre éles, pre- cisamente os que sentiram e souberam interpretar a influéncia profun- da do acontecimento que vinha modificar o panorama social do con- tinente. Mais importante foi o papel desempenhado pelos Trovadores nas origens da literatura italiana — tao notavel que Dante Ihe reservou des- tacado lugar em sua obra imortal. Arnaud de Marvell, que Petrarca designava como il men famoso Arnoldo, comparando-o ao Arnaud Daniel que Dante, no seu tratado da «Elogiiéncia Vulgar», indica como o trovador que melhor manejava o idioma, foi dos mais notaveis poetas dessa fase inicial das literaturas eu- ropéias. A Guerra dos Albigenses foi o iiltimo grande movimento que im- pulsionow a poesia dos Trovadores. Sabe-se como os anatemas de Ino- céncio III contra certas novidades de carater religioso, langaram a Fran- ¢a do norte contra a Franca do meio-dia, e a guerra de exterminio que se seguiu. 286 — SELECGOES DA HISTORIA Nao se diz, porém, que os poetas provencais, tomados de indigna- cdo contra os excessos ¢ 0 rigor da cruzada albigense, a atacaram rude- mente (mas com justica) em suas composigées liricas. Haveriam de pagar caro a audacia, porém. Porque essa cruzada representou exterminio para a ainda fragil poesia provengal. A situacao politica de diferentes regides transformou-se inteiramen- te. O Condado de Tolosa, por exemplo, foi cedido a Luis IX, que 0 pre- senteou a um de seus irsidos; outro irmao do rei, Carlos de Anjou, rece- beu a Provenca em dote de casamento. Os processos da Inquisicéo contra pessoas suspeitas de heresia, a criagéo de uma Universidade em Tolosa, pela metade da décima-tercei- ra centdria, a guerra declarada aos escritos em lingua romanica, princi- palmente aqueles em que se enxergava qualquer idéia herética ~ tudo isso acelerou 0 processo de morte da literatura provencal e, conseqiien- temente, dos Trovadores. Desde os primeiros anos do século XVI que quase ja se nao escrevia em Provencal e no pouco que era escrito j néo mais se pode- ria reconhecer o primitivo idioma em que os Trovadores cantavam faga- nhas e narravam casos de amor. Alguns anos mais e ésse idioma deixaria de ser compreendido, fi- cando 0 terreno livre, portanto, ao idioma d’Oil, ou romano-valdo. De- sapareceriam, assim, os Trovadores, tao liricos e tao sentimentais, que compuseram aquéles «romances de cavalaria> que marcam de maneira tdo curiosa trés diferentes épocas medievais, representando trés socie- dades, trés exércitos de herdis fabulosos que parece nada terem a ver uns com og outros...» SERGIO MACEDO MEDALHAS BRILHANDO NO PEITO ES- | — 52 ccnpania ‘contre Ssieng topes "buremil braairgs 2 guatda miller & au emedciba ge eaupanie te deve TUFADO, O ALFERE AGUNAO DES) parenercer Sa rece Ut, CeMsc SC aNGMic ChaSlagh ae, dirsiic G eostantgeic) cows redo’ Gn dtzmen forertere Ga goer fonsoca, Calvae, natural de Bahia. citado em ordem do dia da. As senlinelas, atentas. brada PENSAVA AS CONTID VEXAVA DE PEDIR C IAS NEM SE DITO PARA SELEGOES DA HISTORIA ~ 287 Tipos Populares BP" possivel que, realmente, eu esteja ficando velho. Inda outro dia, numa dessas festas de fim de ano em colégio, que representam, sempre, momentos de alegria para quem tem a alegria de transmitir um pouco do pouco que sabe, um jovem aluno, na sua saudagao, chamou-me de «velho professor estimado»... Apreciei a gentileza do rapaz, a amabilidade da turma, as flores que as mogas me ofereceram. Mas o . Os juizes encaravam com bom-humor as petices do . E éle ia Vivendo, feliz. $6 uma vez estéve triste, o homem. Foi quando uma au- toridade mais severa tentou processa-lo pelo uso indevido daquele titu- Jo de doutor ou bacharel. O velho Jacaranda explicou que se tratava de «um apelido que Ihe haviam pésto>. Foi tao feliz com a explicacdo, que os pedidos choveram em cima da autoridade, que finalmente concordou em abandonar 0 caso Outra figura curiosa que recordo as vézes é a de certa dama — que a esta hora tera entregue a alma ao Criador — que percorria as reda- ges dos jornais, ai por volta de 1335. Eu iniciava, entao, a minha profissdo de jornalista, na velha «Ga- zeta de Noticias», da rua do Ouvidor, e, varias vézes, por dever de ofi cio, tive que receber a dama. Desejava ela, naquelas unidades educativo- assistenciais do Municipio. Na Dirctoria de Educagio, Assisténcia e Recreio os membros da Comissio Especial fem questi “debateram assunto e uma indicagio aos poderes competentes. A indicacio contém os seguintes considerandos: a) seja severamente proibide © ingresso de revistas desenhadas para recomendar que 05 poderes municipais de Sio Paulo se interessem junto aos Executivos ¢ Legislativos do Estado e do Pais, para ampla adogio das medidas preconizadas, mediante a proibigio da entrada das revistas anti-pedagégicas © anti-brasileiras em todos os estabelecimentos de ensino, a fim de que se livre a Nagio do mal que subrepticia- mente vai minando moral e espiritualmente a nossa jue ventude. (Des jornais) SELEGOES DA HISTORIA DO BRASIL E DO MUNDO LODE HERSEN. DA jendas, de Sérgic ces 60.005 ‘sob CONQUISTA AV, 28 DE SETEMBRO, 1% —RIO DE JANEIRO

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