1032020 Para ld da lta de classes - Robert Kurz
Para la da luta de classes
Robert Kurz
Os marxistas tradicionais ainda tém lagrimas nos olhos quando pronunciam as expressdes
“classe” e "luta de classes". A sua identidade como criticos do capitalismo comeca e termina com
estes termos. Mas na situagéio de um sistema capitalista uniformizado no inicio do século XXI, sob
as condigdes de terceira revolugao industrial, globalizacao da economia industrial e
individualizagao social, o paradigma tedrico de classes do "proletariado" parece estranhamente
empoeirado. Quanto mais obstinadamente os veteranos marxistas celebram a afirmagao de que
"ainda estamos a viver numa sociedade de classes”, tanto menos eles conseguem fazer a
situagao dangar, ainda que, ou justamente porque as contradig6es capitalistas se agravam como
nunca e uma crise mundial sécio-econémica de um novo tipo abala o planeta. O discurso do
“retomo das classes" fica sem forca e superficialmente sociolégico, sem fundamento de critica
econémica, Por isso inutil aos novos movimentos de massas contra a globalizagao capitalista, a
guerra e 0 declinio social.
O aparetho conceptual da critica radical tem de ser liberto do pé. A "classe revolucionaria” de
Marx foi inequivocamente o proletatiado fabril do século XIX. Unida e organizada através do
proprio capital, tomar-se-ia 0 seu coveiro, Os grupos sociais, dependentes de saldrio das areas
derivadas de servigos, infra estruturas, etc. estatais e comerciais, podiam ser juntos ao
“proletariado” apenas como uma espécie de grupos auxiliares, e mesmo isto 86 enquanto este
ainda dominava como niicleo de massas sociais nas fabricas produtoras de capital. Com uma
inversdo das proporgées numéricas, como se tinha esbogado jd desde 0 inicio do século XX (e
fora reflectido apenas de forma superficial pelo antigo marxismo, p, ex. no debate de Bernstein) 0
esquema tradicional de classes e de revolugao nao podia continuar a passar.
Os empregados dos servigos pliblicos e de outros sectores secundérios, que pouco a pouco
representavam a maioria na reprodugdo capitalista, diferem um pouco do antigo "proletariado",
nao sé sociologicamente, mas também economicamente. Os seus custos de reprodugao sao,
assim como 0s custos de toda a sua area de actuaco, deduzidos da produgao industrial de mais-
valia, Da mesma medida, todavia, que a relagao se inverte em termos de proporeao, o
“financiamento” destes sectores ja nao pode provir da produgao real de mais-valia, mas tem de
ser simulado através da antecipacao de uma mais-valia futura, em primeiro lugar através de
endividamento estatal e da criagdo de dinheiro estatal, mas também através do endividamento
privado e da "economia de bolhas financeiras". Ja a teoria de Hilferding do "Capitalismo
financeiro” tem de ser vista neste contexto, ainda que o autor ndo tenha tide consciéncia disso. De
facto, isto nao significa sendo que o préprio capital, através da necessidade estrutural e da
preponderancia numérica dos servicos pliblicos e de outros sectores secundérios, produz um grau
de socializagao que 0 préprio ja nao consegue suportar.
Na terceira revolucao industrial esta contradigao agrava-se. O capital destréi a sua prépria base
num movimento de tenaz: Por um lado, aumentam as reas que aparecem na reprodugao do
capital total como "custos mortos”, Por outro lado, a revolugao micro-electrénica faz com que
encolha como nunca o nucleo de produgdo de capital da produgao industrial. A marginalizagdo do
proletariado fabril ¢ idéntica a crise capitalista fundamental de novo tipo. E verdade que, através
de privatizagao, os sectores publicos secundarios podem ser transformados formalmente em
capital comercial, embora, uma vez que desta forma o seu caracter economicamente derivado nao
muda, eles sao ao mesmo tempo reduzidos e directamente destruidos. Ao no poder manter 0
grau de entrelagamento atingido, o capital dissocializa a sociedade. O resultado é uma sociologia
de crise de desempregados em grande escala e beneficiarios de rendimento minimo garantido, de
estabelecidos ficticios e empresas de miséria, de maes solteiras, e "jobhopers” flexibilizados etc.,
até para ld da queda do Terceiro Mundo na economia de subsisténcia primitiva e na economia de
pilhagem
Nesta crise revela-se também o cardcter da concorréncia, que ja esta inerente ao préprio conceito
de capital. Nao 86 concorre o trabalho contra o capital, mas igualmente trabalho contra trabalho,
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capital contra capital, ramo contra ramo, nagao contra nagao, e actualmente também localizago
contra localizagao, bloco econémico contra bloco econémico, homem contra mulher, individuo
contra individuo, até crianga contra crianga. A “luta de classes" esta dissolvida como parte
integrante deste sistema da concorréncia universal, e tem-se revelado como mero caso especial
desta, que de modo algum consegue transcender o capital. Pelo contrario, num baixo nivel de
desenvolvimento, ela foi directamente a sua forma de movimento imanente, quando ainda se
tratava de reconhecer os proletérios fabris como sujeitos civis neste sistema. Para poder
concorrer, tem de se agir nas mesmas formas comuns. O capital e 0 trabalho sao no fundo
diferentes estados de agregacao de uma mesma substancia social. O trabalho ¢ capital vivo e 0
capital é trabalho morto. A nova crise porém consiste precisamente no facto de que, através do
desenvolvimento capitalista, a prépria substéncia do "trabalho abstracto" é derretida como base de
produgao de capital.
Assim, a nogao da "luta de classes" perde a sua luminiscéncia metafisica, aparentemente
transcendente. Os novos movimentos j4 nao podem definir-se a si préprios, “objectivistica” e
formalmente através de uma ontologia do “trabalho abstracto” e através da sua "posigao no
processo produtivo", Eles podem definir-se apenas pelo contetido através daquilo que querem.
Nomeadamente, o que querem impedir: a destruicao da reprodugao social através da falsa
objectividade dos constrangimentos formais capitalistas. E 0 que querem ganhar como futuro: 0
emprego racional comum das forgas produtivas alcancadas, de acordo com as suas necessidades
em vez de conforme os critérios doidos da légica capitalista. A sua comunidade ja sé pode ser a
comunidade da fixagao emancipatéria do objectivo, e ndo a comunidade de uma objectivagao
definida pela propria relagao do capital. A teoria ainda tem de encontrar um conceito para aquilo
que a pratica ja esta a executar tacteando no escuro. Sé entéo os novos movimentos podem
tornar-se radicalmente criticos de capitalismo, de uma maneira também nova, para Id do velho
mito da luta de classes,
Ori
Jinal Jenseits des Klassenkampfs em www.exit-online.org, Publicado em Neues Deutschland, 30.05.2003. Tradugo
ikola Grabski
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nline.org!
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