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DOSSIE INTERES 0 HOMEM OS ESPIRITOS A POLEMICA fao leitor} Chico, o santo espirita Existem cerca de 15 mil centros espiritas no mundo. © Brasil tem 14 mil deles, ou 92%. Desde o século 19, quando o espiritismo surgiu na Europa, a doutrina foi moda em alguns pafses, como Franca ¢ Inglaterra, mas pegou mesmo no Brasil. Uma série de razées explicam por que a religido cresceu mais aqui do que em qualquer lugar: a opgao pela assisténcia aos pobres (em contraponto a vertente cientifica que vigorou na Europa), a criacdo da Federacao Espirita Brasileira, responsavel por unir ‘0 movimento, e o fim da perseguigao aos seguidores de Allan Kardec, uma vitoria no inicio do periodo republicano do Pais. No entanto, nada disso teria dado tanta popularidade a religiao se nao houvesse surgido outro fenémeno: Chico Xavier. O médium mineiro se tornou uma espécie de “profeta” do movimento - ou um “santo”. Foi uma figura caridosa, catequizou milhées com seus livros, 439 ao todo. Mas Chico no foi uma figura central apenas para o espiritismo. © médium vendeu cerca de 50 milhdes de livros, o que faz dele o maior best-seller do mercado editorial nacional, batendo Paulo Coelho nas vendas realizadas no Pais (o mago supera Chico no exterior). O médium pautou novelas e bateu recordes de audiéncia na TV. Enfim, foi a maior figura religiosa e um importante personangem cultural do Brasil no século 20. Para espiritas e céticos. Alexandre de Santi Editor Paw XSL LU TORRES (PROGR Prada OREASLVA Ouvindo vozes na infancia + As primeiras psicografias «A fama + Os tiltimos anos ‘Oconsolo as familias * Os avertos + ‘Trechos das mensagens psicagrafadas ee Ge LS) ee Os livros + O espirito André Luiz + Oconselheiro Emmanuel Obombardeia da imprensa + Chico nos s * O que diz.a ciéncia ha do tempo} 22 DB ABRILDE ISDE ABRILDE Fundagdo NasceFran- Morteamae Entranaesoola Concluioensino Allan Kardoo daFederagio ciscodePaula. de Chico, Maria pela primeira primo depois publica OLivro EspiritaBrasi- Cndido,nome Jodo de Dous, vor. Estuda dorepetira dos Espirito, Ieira,noRiode —debatismode —_eomeninose polamanhi,e _quarta série. obra que cod Janeiro. ‘Chico Xavie, ——- mudaparaa duranteatarde Saidaescolae —_‘floouasideias ‘em Pedro casa da madh- ‘rabalhaem ——-mucadeempre- fundamentals Leopoldo (MG). nha, Maria Rita umafébricade go,passandoa__danova doutrina do Cassia, tocidos. trabalharemum —_espiita. armazém. KG ARRASTE PARA LER MAIS srg cio San flinha do tempo} Mato ne, uno ne, AVEIRO DE SIDEMARCODE JULODE Langamonto ——_Q Evangelho ——_Morre Allan Langamento JdoOLivrodos segundo Kardecdevido doprimeiro Médiuns.de ——Espirtismo, -—arupturade ——_jormalespirita Kardeo, um utraobrade —umanauriema 40 Brasil, 0 E00 estudo das Kardeopabacs ersteal, dNlemTimulo. diversas /docomu formas sevangelhos aos 64anos. nioaglo—_candnicas sob jentrehomense a ética dadoutri- espititos nacspirta. ‘Tem suaprimei- ra cxporiéncia cspirita.Par- ticipa de uma sesstonacasa 0 médico, 0 fotégrafo e aromancista fantecessores} Em 21 dejaneiro de 1883, o portugués Augusto Elias da Silva abriu es- paco em seu atelié fotogrifico, no Rio de Janeiro, e, com o apoio da mu- Ther e da sogra, espiritas convictas, utilizou dinheiro do proprio salario para montar uma pequena redacio e lancar o jornal O Reformador, ve- fculo espirita mais antigo ainda em circulacao no Pais. Dois anos antes, a iniciativa de Augusto seria impensdvel: o fot6grafo renegava religides. Em 1881, no entanto, ele havia lido alguns textos de Allan Kardec, 0 fundador do espiritismo, e participado de sessées em um centro da capi- tal brasileira. Na oportunidade, segundo ele, recebeu “provas robustas” das manifestagdes dos mortos. Sua vida mudou. O homem cético, dois anos mais tarde, estava espalhando cépias de O Reformador nas ruas. espiritismo surgiu na Franca, em 1857, quando o pedagogo Hip- polyte Léon Denizard Rivail, rebatizado Allan Kardec, langou o Livro dos Espiritos, com revelacdes que dizia receber do mundo espiritual com a ajuda de médiuns. A doutrina de Kardec é baseada na imortali- dade da alma, na reencarnago, na evolucao dos seres, na pluralidade de mundos, na possibilidade de comunicago com espiritos e na carida- de, Até sua morte, em 1869, publicou mais quatro obras fundamentais para a religifio - O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espi- ritismo, O Céu e o Inferno e A Génese - e incontaveis textos comple- mentares que divulgava na Revista Espirita. Para Kardec, as revelacoes contidas nas obras nao eram simples religido, mas uma filosofia com base cientifica voltada para 0 aperfeicoamento moral do homem. No Brasil, as ideias do codificador francés encontraram terreno fértil desde os primeiros anos, sobretudo entre membros da elite, receptivos 4s novidades filosGficas francesas. A partir de 1860 jé era possivel achar tradugSes para as obras de Kardee nas livrarias brasileiras, bem como livros escritos por brasil ros adeptos da religiio. Na Bahia, em 1865, surgiuo pri- ~ meirooentmapiriz cdo A Federacio or Luiz Olimpio Teles de 14 8 ope. Moneaseoutes inten Lspirita Brasileira ais de Salvador. Até a virada do século, diversas revistas e defendeu 0 jornais espiritas passaram a ° Cire nas banees movimento das O Reformador e outras ze ° publicagées foramdeprn. OT (ticas da Igreja de serventia na divulgacao 6. do espiritismo, além de © da perseguicao serem usadas para rebater critioas quea ieja exci. a policia. funtecessores} Cos] > ca comegava a fazer com maior frequéncia diante do crescimento da nova religifo. Naqueles tempos, os grupos espiritas precisavam disfargar o lado religioso e dizer que tinham foco em estudos cientificos para evitar perse- guicdo policial e ataques de padres e bispos. As entidades espiritas eram alvo fécil dos criticos porque caminhavam sozinhas, afastadas umas das coutras. Um dos primeiros homens a perceber que era preciso unir os esp{- ritas para fortalecer o movimento foi justamente 0 fotégrafo Augusto Elias da Silva. Em 1884, ele convocou algumas liderancas para um encontro em. sua casa e defendeu a criacdo da Federagio Espirita Brasileira, cujo obje- tivo era integrar todos os grupos espiritas do Pats. Com o apoio dos convi- dados, que também viam a necessidade de unio, propés que o seu jornal fosse 0 veiculo oficial da associagao, usado para divulgar a doutrina. Aatuagao da federacao, do seu inicio até hoje, explica 0 éxito do es- piritismo no Brasil. E a partir dela que é definido como deve funcionar um centro espirita, como devem ser feitos os atendimentos, quais sfio as estratégias para que 0 movimento nao pare de erescer. Francisco Cindido Xavier, o médium brasileiro mais famoso de todos 0s tempos, sempre teve uma relacéio préxima com os lideres da federagio. Além de ter suas obras psicogrificas publicadas pela entidade, Chico Xavier trocava cartas com presidentes da FEB e seguia orientagdes que valiam para todos os centros do Pafs, Em contrapartida, o médium também era ouvido e exercia influéncia nos rumos do espiritismo brasileiro. A federacdo sempre apostou em Chico e, quando popularidade dele explodi, soube reconhecer omineiro como maior nome do movimento espirita em todo o Brasil. Augusto Elias da Silva no conheceu Chico Xavier. O fotdgrafo portu- gués morreu em dezembro de 1903, de tuberculose. E foi responsavel por consolidar o espiritismo no Brasil e preparar o caminho por onde o maior de todos os médiuns iria trilhar sua carreira de sucesso. Uma ada por Bezerra de Menezes, 0 médico que tornou 0 apoio sao central no espiritismo brasileiro. Chico Xavier estava chateado, Nas noites de sbado, terminada a sesso na casa espirita de Pedro Leopoldo, o médium costumava levar sobras da feira para alimentar um grupo de miserdveis que vivia embaixo de uma ponte abandonada perto da cidade. No comeco, eram poucas pessoas, mas a ajuda de Chico atraiu outros desafortunados. J4 eram cerca de 200 bocas A espera de comida. E, naquela noite, nao havia nada para oferecer. Quando pensou em desistir da visita, o espirito de Bezerra de Menezes teria aparecido. guia insistiu para que o médium fosse de qualquer maneira e suge- riu a ele levar algumas garrafas com gua magnetizada, para nao chegar de mios vazias. Chico obedeceu. Quando viu a decepeaio dos necessita- dos com a falta de alimentos, chorou. fantecessores} a2) Cee semi 0 TOM funtecessores} Cosas > Inesperadamente, um caminhao encostou na estrada. O motorista des- cou A procura de Chico e disse que trazia uma carga de doagées enviada por um casal de Sao Paulo, que tinha recebido, com ajuda do mineiro, uma mensagem do filho morto. Do ponto de vista do médium, o espirito de Bezerra era quem tinha trazido o espirito da crianca ao encontro dos pais. A comida para os pobres estava garantida, e Chico ficou feliz com a coincidéncia, mas intrigado em saber como o condutor sabia que ele estava embaixo da ponte, fora da cidade. O viajante entio contou que perguntou a um velho de barba branca que passava na rua se conhi 0 médium e ouviu dele as indicagdes para chegar ali. O motorista disse que o velho se chamava Bezerra de Menezes. Ahistéria, contada pelo médium Divaldo Pereira Franco no livro Me- diunidade, é famosa entre os fiéis espiritas e ilustra a forte ligacdo que Chico Xavier dizia ter com o espirito do “médico dos pobres”. Bezerra de Menezes seria presenga quase constante nas sessdes onde doentes eram atendidos. O espirito, segundo Chico, era responsivel por curas espirituais, receitas homeopiticas e mensagens com orientagdes médi cas, muitas delas pedindo aos pacientes que buscassem tratamento mé- dico em hospitais. O médium psicografou iniimeros textos atribuidos a Bezerra, muitos deles publicados em livros. Assim como Emmanuel e André Luiz, dois espiritos que teriam ajudado Chico em diversas obras, 0 médico cearense teria sido um guia indispensével no trabalho de cari- dade e de escrita psicografica. Na vida, em came e osso, Bezerra somava 30 anos de vida politica quan- do aderin ao espiritismo, em 1886, numa ceriménia piblica que atraiu qua- se 2 mil pessoas ao salio de conferéncias da Guarda Velha, no Rio, onde ele justificou em um longo discurso sua escolha em entrar para a religiio. Na época, estava com 55 anos, tinha perdido a mulher e dois filhos e, embora fosse um homem prestigiado na sociedade do Rio de Janeiro imperial, dava consultas aos necessitados sem cobrar pelo servigo. A Federacio Espirita Brasileira tinha dois anos de vida e, apesar de festejada, a entidade deixou ainda mais evidente uma divisao que parecia definitiva: enquanto parte dos espiritas pregava uma doutrina religiosa, voltada para os trabalhos de caridade, outros estavam mais interessados nos aspectos cientificos do espiritismo, com énfase nas pesquisas dos fe- ndmenos sobrenaturais. Em fungao do seu prestigio como politico e da fama de bom negociador, Bezerra foi algado A presidéncia da institui- do em 1889 com a missio de acalmar os animos. Diante do racha entre misticos e cientificos, defendeu a faceta religiosa da doutrina e definiu a caridade e a dedicacio As causas sociais como 0 rumo a ser seguido. Nao 6 exagero dizer que foi pela atuagao de Bezerra que o espiritismo comegou a trilhar um caminho mais auténtico (em oposigio a vertente predominantemente cientifica pregada na Europa), voltado ao cuidado funtecessores} Coss > dos pobres, principio que guiaria a trajet6ria de Chico Xavier. Bezerra de Menezes percebeu ainda que muitas liderangas espiritas pouco sabiam sobre os ensinamentos de Allan Kardee e ampliou a pu- blicacdo de livros pela federaco espfrita como forma de educar diri- gentes e seguidores da doutrina. O médico assinou tradugGes e escre- veu diversas obras sobre espiritismo, sempre enfatizando a ajuda aos necessitados como 0 maior dever espirita, o que Ihe rendeu a alcunha de “o Kardec brasileiro”. Depois que foi descoberto no interior mineiro, Chico Xavier teria muitos de seus livros lancados justamente pela edi- tora da federagao, até hoje em funcionamento. ‘Aprincipal batalha de Bezerra de Menezes a frente da federagio, no en- tanto, viria com o fim do Império. Assim que passou a ser uma reptiblica, © Brasil virou um Estado laico, 20 contrario do perfodo anterior, quando o catolicismo era oficial. A Constituigdo iria garantir a liberdade de culto, mas 0 Cédigo Penal aprovado um ano antes, em 1890, criminalizou a pratica do espiritismo, inclufdo em artigo que condenava rituais de ma- gia e cartomancia. O texto proibia também a homeopatia, o magnetismo. € todo tipo de curandeirismo, o que impedia a atuagio dos médiuns. presidente da federagio fez valer suas trés décadas de experiéneia politica e enviou um oficio ao entao presidente da Reptiblica, Deodoro da Fonseca, no qual pedia o fim das perseguig6es em respeito aos direitos e liberdades dos espiritas. Bezerra argumentou que nao havia charlatanis: moem centros espiritas, haja vista que essas casas no tinham fins lucra- tivos. O médico destacou a importancia do atendimento que os espiritas prestavam a quem nfo tinha acesso a médicos e hospitais e disse que as entidades eram responsaveis pela satide de milhares de brasileiros. O Cédigo Penal nao foi alterado, mas as perseguigdes ficaram mais raras. ‘Médiuns e receitistas, muitos deles presos, voltaram a trabalhar. Chico Xavier s6 iria publicar seu primeiro livro décadas mais tarde, em 1932. A obra de estreia, Parnaso de Além-Tiimulo, reunia poemas atribuidos a autores brasileiros e portugueses mortos. Por mais de dez anos, 0 trabalho de Chico foi compilar poemas e mensagens atribuidas aespiritos elevados. Embora dissesse respeitar os textos supostamente ditados pelos espiritos, sem fazer qualquer intervencao, ele tinha suas preferéncias literdrias na psicografia. Por longo tempo, desejou escrever historias fascinantes como as psicografadas por uma médium pioneira. ‘Nascida em 11 demargo de 1878, no interior de Minas Gerais, Zilda Gama teve uma vida conturbada. Aos 24 anos, com a morte dos pais, teve de cui- darde cinco irmios e de cinco sobrinhos. Era uma professora dedicada, di- retora da escola em que trabalhava. Certo dia, quando orava sozinha, disse ter percebidoa presenga de um espirito que a incentivava a escrever. Assim fantecessores} funtecessores} as] que pegou o lapis, teria colocado no papel uma mensagem do proprio pai, que a consolava e avisava que uma missio de grande importincia estava reservada A jovem. Era o inicio da carreira como psicégrafa. Zilda nfo foi a primeira pessoa a escrever mensagens de supostos mor- tos. A técnica foi desenvolvida por médiuns franceses por volta de 1860. Em 1912, aos 34 anos, Zilda recebeu as primeiras revelagoes assinadas por Kardee, pai do espiritismo. Ela assinaria outros textos dizendo terem sido enviados pelo franeés, mensagens compiladas no livro Diario dos Invisi- veis, de 1929. Mas a grande missio de Zilda seria iniciada em 1916, quando la disse ter sido avisada por seus guias de que escreveria uma novela di- tada pelo pocta, romancista ¢ dramaturgo francés Victor Hugo, morto em 1885 e autor de Os Miserdveis e O Corcunda de Notre-Dame. Olivro Na Sombra e na Luz, de 1917, se passa quase todo no século 19 e ganhou quatro livros como continuagao: Do Calvdrio ao Infinito, Redencao, Dor Suprema e Almas Crucificadas. Cada obra narra uma encarnacao dos personagens, mostrando a evolugao de seres degene- rados e sofredores. A série é considerada um dos maiores clissicos da literatura espirita. Um dos admiradores do trabalho de Zilda Gama era Chico Xavier. De- pois de ler com entusiasmo a novela atribufda a Victor Hugo, o médium queria uma folga dos poemas, das crdnicas e das mensagens instruto- ras. Queria receber do plano espiritual historias empolgantes como as que Zilda colocava no papel. Em 1938, Chico deu seu primeiro salto nessa direcdo e comecou a escrever uma novela situada no tempo dos romanos, que teria sido di- tada pelo espirito Emmanuel. 0 médium contava que podia acompa- nhar a narrativa como se estivesse no cinema, pois nem percebia a es- crita quando estava em transe. Em 1944, mantendo um estilo romanceado, recheado (fpjqq mergulhou de detalhes, Chico escreveria 0 seu principal livro, Nosso Lar, Jp narrativa narrando como é a vida no mundo espiritual a partir do gippastamente suposto relato do espirito An- dré Luiz. Com a publicacio, 0 ditada pelo espirito médium ficaria marcado como © maior escritor espirita de de Victor Hugo todos os tempos. Parte desse sucesso poderia ser dividido para criar sua obra com Zilda Gama, a médium pioneira por cujaescrita Chico Jyp¢Jj.G popu lar. se apaixonou, “> ccd Cooney » Chico Xavier foi um menino atormentado por vozes, queséentroun Janos. Quandoconheceuo 92 anos, depois de transforn fo homem} JUVENTUDE <03]22 > ee) erent Fee AL EXSLVA/LLUZNHO CORLUA ERE) / radu ANDREA LA (LORS PAPELAAIA SEGLEANGAE ANTIOUARIDEFOCAD NTUDE () menino que falava sozinho TMA COLON MANS CUCL CON LURES RELL OLeNy DEL COR LICL fo homem} JUVENTUDE Enquanto preparava um café, Maria Joo de Deus ouvia o mari- do falar do aborto sofrido por uma vizinha. Em meio a conjecturas levianas sobre o episédio, Joo Candido Xavier foi interrompido pelo filho de apenas 4 anos. Chico falou que a moga nao era culpa- da pelo incidente, disse que o pai estava desinformado e esclare- ceu: houve problema de nidacio inadequada do ovo, fazendo com que o bebé adquirisse posicdo ect6pica. O casal ficou de boca aber- ta. Nidagdo? Eet6piea? Que palavras esdrixulas eram aquelas? O menino nao sabia explicar. Sob olhares espantados dos pais, falou que sé tinha repetido a explicagao ditada por uma voz. Chico Xavier nasceu Francisco de Paula Candido em 2 de abril de 1910 no vilarejo de Pedro Leopoldo, a pouco mais de 40 km ao nor- te de Belo Horizonte (0 Xavier do pai foi acrescentado ao seu nome décadas mais tarde). A época, 0 povoado mineiro crescia com a instalacao de uma fabrica de tecidos e de uma ferrovia, responsé veis por empregar boa parte dos habitantes. O pai de Chico vendia bilhetes de loteria. A mae era lavadora, Formavam um casal pobre, agarrado na fé catdlica para encarar as dificuldades de criar nove filhos com pouco dinheiro. A infancia do menino que falava sozinho e dizia ouvir vozes to- mou rumo inesperado aos 5 anos, quando a mae morreu vitima de problemas cardiacos. Sem poder tomar conta dos filhos, 0 pai dis- tribuiu as criangas entre amigos e parentes. Chico foi morar com a madrinha, Rita de Cassia. Ao invés de consolo, encontrou na mu- Ther um vasto repertério de surras, torturas e humilhagdes. Certa vez, Rita cravou um garfo na barriga de Chico, que ficou com 0 ferimento aberto por varios dias, segundo contaria anos mais tar- de. Em outra ocasiao, foi obrigado a lamber uma ferida na perna do primo como parte de uma simpatia, Também ficou sem comida, apanhou com vara de marmelo quase todos os dias e ouviu que tinha o diabo no corpo. O refiigio de Chico Xavier foram os en- contros que ele dizia ter com o espirito da mae morta. Quando era maltratado, ele corria para o quintal da casa da madrinha e, sob as Arvores, rezava até a aparigio materna, que, segundo ele, trazia valiosos conselhos para que fosse possivel seguir em frente. Foram mais de dois anos de sofrimento até Chico voltar para casa. Depois que Jodo Candido casou novamente, sua segunda mulher, Cidalia Batista, fez questo de recolher os filhos do pri meiro casamento espalhados pela regio. Quando viu a crianca de 7 anos machucada, com marcas de garfadas, verg6es e arranh6es pelo corpo, prometeu a Chico que cuidaria bem dele. Cidalia queria ver as criangas matriculadas no colégio, mas a s tuacdo financeira seguia complicada. Joao Candido vendia bilhetes fo homem} JUVENTUDE <06 [22 > de loteria para colocar comida na mesa e nao podia comprar nem os mais bsicos materiais escolares. A madrasta decidiu entio fazer uma horta no quintal de casa e pediu a Chico que vendesse as verduras pelas ruas. O dinheiro das vendas seria usado para comprar lapis, cadernos e livros. Poucas semanas depois de ajudar a madrasta a adubar a terra, semear e regar as plantas, o menino saiu de casa com a cesta cheta, ofe- recendo legumes e hortalicas nas casas de Pedro Leopoldo. Em janeiro de 1919, com quase 9 anos, ele entrava na escola pela primeira vez. Chico preocupava 0 pai e a madrasta. Continuava a falar sozinho e jurava que conversava com a mae e com outras pessoas mortas que apareciam diante dele. A noite, acordava e zanzava pela casa falando com figuras que ninguém mais via. Cidélia era compreensiva, tentava entender o que estava acontecendo, dizia acreditar no garoto e até con- selhos aos mortos encomendava dele. O pai, no entanto, estava cada vez mais convicto de que Chico estava possuido pelo deménio. Ficava horrorizado com os relatos que o filho fazia no café da manhi e buscou na igreja ajuda para tentar resolver o problema sem precisar mandar Chico a um manicémio. O menino cruzou a porta ao lado do pai e seguiu sozinho até 0 con- fessionario, De joelhos, contou ao padre Sebastiaio Scarzelli que ou- via os conselhos da mie, que via e falava com estranhos no meio da noite e que escutava vozes falando com ele a todo instante. O padre recomendou muita reza e pediu que ele participasse da procissao carregando uma pedra sobre a cabeca. Chico cumpriu as ordens do religioso, mas nada mudou. O padre sugeriu ao pai de Chico que afas- tasse o filho de livros, revis- tas e jornais, que poderiam estimular a imaginagio fértil do garoto. Nada funcionou. Une padre O padre entao foi rigoroso: all disse a Chico que recomendou 5 mas 0 deménio. O menino INUItA reza mae quem aparecia para ele, caiu no choro. ° Nacscola, comportamen- @ QUE Chico to de Chico também causa- va problemas. Gozagoes © COFTegasse UMA agressdes eram comuns cada ver que o garowo fava de © Pedra na cabeca suas estranhas companhias. as polémieas em tomo do PO Afastar as “menino que falava com os rmortos” ganharam mais for. @SCranNAS vOzeS. fo homem} JUVENTUDE a depois que uma redagio escrita por ele recebeu mengo honrosa em coneurso promovido pelo governo de Minas Gerais para festejar os cem anos da independéncia do Pais. No dia em que escrevia o texto, em sala de aula, Chico disse que viu ao seu lado um homem ditando o que ele deveria escrever. Contou 0 que estava acontecendo, mas ouviu da professora que devia continu- ara escrever. O destaque do seu texto diante de milhares inscritos fez com que alguns colegas passassem a acreditar no dom do garoto es- quisito. Para outros, ele tinha talento literario. A maioria, no entanto, afirmava que Chico havia trapaceado e copiado a redagao de algum livro. Nao era incomum Chico escrever ou falar em sala de aula pala- vras complicadas, termos cientificos, frases bem elaboradas, mensa- gens posticas, coisas que nao eram normais a criangas de sua idade. Concluiu 0 ensino primario em 1923, repetindo a quarta série por problemas de satide. Depois de alguns meses vendendo hortalicas, tinha sido contratado para trabalhar na fabrica de tecidos da cidade. A poeira de algodao que respirava todos os dias trouxe problemas pulmonares. Assim que deixou a escola, seguiu o conselho de um mé- dico e mudou de emprego. A imagem da mae nao aparecia havia bastante tempo, mas 0 jovem seguia atormentado por vozes e assombragées. Sentindo que estava sendo perseguido por um desses fantasmas, procurou por conta pr6- pria o padre Scarzelli, que mais uma vez recomendou reza contra as visdes. Até os 15 anos, Chico trabalhou em um bar onde cuidava da limpeza e ajudava a cozinhar. A rotina era estafante. O salario, bai- xissimo. Em busca de mais dinheiro para ajudar seu pai a pagar as contas, foi trabalhar no armazém de José Felizardo Sobrinho, ex-ma- rido da madrinha que o maltratou na infancia e que ja havia morrido. Chico nao tinha namorada nem interesse em encontrar uma. No novo emprego trabalhava desde o amanhecer até tarde da noite cor- tando linguicas, pesando cereais, servindo cachaga e arrumando pro- dutos na loja. Ia sempre a missas, confessava pecados regularmente, acompanhava todas as procissdes. Nas horas de folga, escrevia cartas de amor para os amigos presentearem suas amadas. No mais, seguia assediado por vozes e vultos. Ainda em busca de uma explicacao. A vida de Chico Xavier mudou definitivamente em maio de 1927. Uma das irmas, Maria da Concei¢ao Xavier, ficou doente. No quarto de casa, com os olhos arregalados e suando frio, a moca se contorcia na cama, gritava palavroes e falava frases absurdas. Os médicos nao sabiam do que se tratava. Rezar nao estava ajudando. Apavorado, 0 pai Joao Candido viajou 100 quilémetros até uma fazenda no interior de Curvelo (MG), onde pediu ajuda a um casal de amigos espiritas, José Herminio Peracio e Carmen Pena Peracio. fo homem} JUVENTUDE oa ]22 > Quando a dupla entrou na casa e viu o transtorno da menina, nfo teve diividas: Maria da Conceigao estava sob influéncia de um espirito obsessor. Carmen Pena Perdcio sabia do que estava falan- do, pois tinha sofrido do mesmo problema anos antes. Tratada se- gundo preceitos espiritas, foi curada e desenvolveu um suposto dom de mediunidade para ajudar outras pessoas em apuros. A irma de Chico era uma delas, e 0 casal iniciou o tratamento com uma série de passes e rezas. Queriam que a alma maligna que estaria atormen- tando a garota fosse embora Chico Xavier acompanhou todo o ritual de perto, Era um rapaz catélico, mas pereebeu na légica espirita uma explicagao plausivel para as vozes e aparigdes que o acompanhavam desde crianga. Ele falou de suas experiéncias aos amigos do pai e ouviu pela primeir. vez. os ensinamentos espiritas sobre o mundo dos desencarnados, sobre a possibilidade de comunicacao entre vivos e mortos, sobre o dom da mediunidade. Para ele, tudo fazia sentido. Na mesma noite em que viu a irma mais calma com a terapia que o casal tinha promovido, Chico foi apresentado ao Livro dos Espiritos e ao Evangelho Segundo o Espi- ismo, obras fundamentais da doutrina de Allan Kardec, de quem nunca tinha ouvido falar, Na manha seguinte, a irma embarcou com casal para uma temporada na fazenda, onde seguiu com o trata- mento por mais algumas semanas. Chico ficou na cidade, certo de que havia encontrado um novo caminho a seguir. Depois desse episédio, o espiritismo passou a fazer parte da ro- tina de Chico. Nas horas de folga, ele estudava os livros de Kardec. No trabalho, debatia a doutrina com o chefe dono da venda ou com algum fregués. Em 21 junho de 1927, Chico tomou a decisio que mudaria sua vida para sempre e que transformaria o espiritismo no Brasil. Junto de outros interessados no tema, fundou o Centro Espfrita Luiz Gonzaga, o primeiro de Pedro Leopoldo, cujas sessoes ocorriam nas noites de sexta-feira, no casebre onde morava José Xavier, irmio de Chico. No més seguinte, quando a irma voltou para casa curada, foi re- alizada uma reuniao espiritual de agradecimento. Na sessio, Car- men Perécio disse que ouvia uma voz pedindo que Chico tomasse um lapis em mios. O rapaz obedeceu de imediato, entrou numa espécie de transe, preencheu 17 péginas em grande velocidade e assinou como “amigo espiritual”. Quando voltou ao normal, contou que viu na sala do barracio di versas entidades atentas & sessiio e que escreveu sem sentir 0 pro- prio corpo. Foi a primeira experiéncia de psicografia de Chico, e um preniincio daquilo que redefiniria para sempre a sua vida. 0 MEDIUM <09]22 > para 0 SUCESSO fo homem} 0 MBDIUM Era comum ver Chico sozinho na mesa do armazém onde trabalhava, conversando diseretamente com amigos que s6 ele enxergava. Nos pri- meiros anos, os resultados do seu centro espirita nao eram animadores. Muitos participavam das sessées somente pela expectativa de entrar em contato com espiritos, sem real interesse na leitura de Allan Kardee ou em rezas. Mas as sessGes serviam para deixar Chico cada vez mais confortdvel no papel de médium. Foi nessa época que ele comecou a aperfeicoar um ritual que se tornaria sua marca registrada. Ossorriso ia desaparecendo até que a expresso simpatica dava lugar ao sem- blante grave, de profunda concentragio. As duuas mos massageavam delicada- ‘mente atesta, logo acima das sobrancelhas, em busea de algo que, observando de fora, nao podia ser entendido. Eram alguns segundos de espera. Ento os 6culoseram retirados e colocados sobrea mesa, amao esquerda espalmada co- bria os olhos fechados, ea direita empunhava o lapis, que tocava a folha de pa- pel e comegava a se movimentar em ritmo acelerado. Era um peculiar e fasci- nante ritual de escrita, que podia durar um minuto ou varias horas. O médium afirmava que um espirito chamado Emmanuel era seu principal conselheiro, responsiivel por ligées dirias de humildade e de disciplina, além de guiar seu trabalho de psicografar textos dos mortos. O resultado eram mensagens que Chico Xavier dizia receber dos espiritos. Escreveu dessa maneira, em 75 anos de trabalho meditinico, 439 livros e no menos que 10 mil cartas de consolo a familiares. Uma vida inteira dedicada a psicogratia. ‘Mas, no final dos anos 20, Chico ainda era um pobre médium desconhecido que trabalhava em um armazém de uma pequena cidade do interior mineiro, Embora dedicado 4 doutrina kardecista, estava bastante afastado do movi- mento espirita das grandes capitais. O primeiro passo em diregio contraria foi dado em 1932 com a publicagio de Parnaso de Além-Ttimulo, seu pri- meiro livro, que reunia uma série de poemas que Chico dizia ter escrito sob comando de 14 poetas mortos, entre eles Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Olavo Bilac, Artur Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves. Os textos ch maram a atengio da Federacao Espirita Brasileira, que bancou a publicagao. O livro causou polémica. O nome de Chico Xavier aparecia pela primei- ravez em jornais importantes do Rio de Janeiro e de Sao Paulo, em meio a debates acalorados. Cada um dos poemas foi incessantemente dissecado por criticos, avidos em encontrar indicios de plagio ou fraude. Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, foi taxativo em ar- tigo sobre o caso: o médium de Pedro Leopoldo merecia atencao. Depois que morreu, em 1934, 0 escritor teve textos inclufdos em nova edi¢do do livro. Nos anos seguintes, Chico publicaria outras obras assinadas pelo espirito do autor, o que fez com que a vitiva e os filhos 0 processassem em 1944. Em 1955, Parnaso de Além-Tiimulo chegaria A sexta edi¢&o, com quase 260 poemas de mais de 50 autores. Com aestreia, jornalistas passaram a se interessar por Chico Xavier. Em fo homem} 0 MBDIUM maio de 1934, Clementino de Alencar, do jornal O Globo, foi a cidade para desmascarar 0 médium, Na primeira sessio, viu 0 jovem escrever com desenvoltura, de tras para frente, uma mensagem em inglés. Tam- bém acompanhou surgir no papel dois poemas atribuidos ao espirito de Olavo Bilac e outro supostamente ditado por Augusto dos Anjos. Des- confiado, o repérter testou Chico com perguntas dificeis sobre sistema monetério. As respostas vieram em longas e elaboradas psicografias assinadas por economistas mortos. Quando publicou suas impressdes a respeito de Chico, Clementino des- cartou a chance de fraude. Outros repérteres e estucliosos também viram suas crengas abaladas diante das habilidades do jovem espirita. Noticias sobre o médium correram rapido pelos quatro cantos do Pais. Logo as pri- meiras caravanas do Rio e de Sao Paulo comecaram a chegar a Pedro Leo- poldo, enchendo sessdes antes vazias. Em muitas noites, mais de 300 pes- soas eram atendidas. Chico indicava a doentes as homeopatias que dizia terem sido receitadas na hora pelo espirito do médico Bezerra de Menezes. Psicografava mensagens de mortos para consolar familiares desesperados. Pedia a todos que fizessem trabalhos de caridade. Difundia o espiritismo por meio dos livros que fazia os visitantes levarem para ca O armazém onde trabalhava fechou em 1935, e Chico foi trabalhar como datilégrafo na fazenda modelo que o governo federal mantinha em Pedro Leopoldo. Ele no diminuiu o ritmo, Encerrado o expediente, psicografava. Dizia que tinha recebido do guia Emmanuel a missao de escrever 30 livros. Estava no comeco de uma jornada da qual nao sairia até o fim da vida. Em 1944, Chico publicou Nosso Lar, seu maior sucesso, atribufdo a0 espirito André Luiz. Era um livro surpreendente, que envolvia os leito- res com a descrig&o detalhada de uma colonia espiritual habitada por almas desencarnadas, onde trabalho e caridade so fundamentais para evoluir e voltar ao mundo dos vivos. A obra popularizou a ideia de reen- carnacao e de evolucao da alma, aprofundou os trabalhos de caridade entre os fiéis e tornou o médium astro do espiritismo nacional, porta- voz de revelacGes e ensinamentos que espiritos elevados supostamente traziam do outro plano para instruir os vivos. O sucesso nfio livrou Chico Xavier de mais polémica e da desconfian- a que criticos tinham dos seus alegados poderes meditinicos, embora muitas das acusagdes contra ele também servissem como eficiente for- ma de divulgacio do trabalho. Espiritas alegam que a psicografia ocor- re de varias formas: o escrevente pode estar em transe, sem saber o que esta colocando no papel, ou pode ficar consciente, grafando frases dita- das ou transmitidas pelo pensamento. Chico era considerado um médium. completo, capaz de receber e transmitir as informagGes de todas as formas, aparentemente sem interferir no contetido. Quem via Chico psicografar e nao acreditava nas premissas espiritas, tinha dificuldade para interpretar fo homem} 0 MBDIUM seu talento com a escrita. Ele colocava no papel segredos intimos de des- conhecidos, dava respostas elaboradas para questdes complexas, trazia detalhes de fatos histéricos obscuros, reproduzia com fidelidade o estilo de mortos famosos. Se Chico nao falava com mortos, como ele conseguia ter acesso a tanto conhecimento de maneira imediata, sem consultar livros? Espeticulos sombrios dariam ainda mais popularidade ao centro esp\- rita de Chico Xavier. Em fevereiro de 1948, fiéis e curiosos aguardavam sentados em uma sala escura, a0 som de miisica classica, a exibicao de Francisco Peixoto Lins, um médium que supostamente materializava espiritos. No palco improvisado, Chieo Xavier e uma dezena de ajudan- tes liam textos evangélicos para atrair as almas avangadas para perto de Peixotinho, que estava dentro de uma cabine fechada, a dez metros do piblico. De repente, luzes coloridas comegaram a sair da cabine. De- pois, formas humanas brilhantes surgiram perto do médium, que pare- cia em transe. O show de assombragées seguiu com o aparecimento de novas figuras na penumbra. Todos ficaram impressionados. ‘Nas semanas seguintes, as sessdes continuaram com outros médiuns. Até mesmo Chico deitou na cabine de onde figuras brancas safam para interagir com os presentes na escuridio. Para os criticos, 0 espeticulo nao passava de farsa: os fantasmas seriam auxiliares enrolados em len- Gis e em buchas de algodao. Para os espiritas, o envolvimento de Chi- co Xavier era prova de que os fendmenos eram verdadeiros: ele estava acima de suspeitas. Algumas sessdes de materializaco foram fotogra- fadas, e as imagens - muitas delas disponiveis na internet - sao alvo de controvérsia até hoje. O poder de materializar espiritos era s6 mais uma das habilidades atribuidas a Chico, que nos anos 50 ficava cada vez mais conhecido no Pais por outros supostos poderes, como ler livros apenas tocando nas folhas, saber a historia de qualquer objeto encostando nele, conhecer nome e fatos particulares da vida de qualquer um que estivesse por perto. Entre as liderancas do movimento espirita, a reputacio de Chico também era gigante, fazendo dele o maior médium do Pais Em julho de 1958, uma nova crise, dessa vez nascida em Ambito familiar com potencial para arranhar a imagem do médium, Amauri Pena Xavier, sobrinho de Chico, afirmou ao jornal Diario de Minas que o tio nao tinhao dom da psicografia, que tudo era mentira e que o médium tinha era talen- to para imitar poetas famosos. A familia disse que o jovem era alcoélatra, Amauri nao foi mais encontrado e a polémica perdeu forga em algumas semanas. O caso, no entanto, mudaria a vida de Chico Xavier. (© médium ficou abalado. Estava cansado, um poueo deprimido, chate- ado com polémicas e convicto de que Pedro Leopoldo estava espiritual- mente carregada de forcas negativas. A familia do médium também estava cheia do assédio de fiéis. Em 1959, Chico foi morar com outro médium em uum barraco no mato, a 8 quilémetros do centro de Uberaba, Quando dei- 0 MEDIUM fo homem} xou Pedro Leopoldo, com a roupa do corpo, niio se despediu, Waldo Vieira tinha menos de 3o anos e era uma promessa no mo- vimento espirita, Tinha uma ligagao especial com Chico Xavier: dizia psicografar textos ditados pelo mesmo espfrito André Luiz, suposto autor de Nosso Lar. Juntos na mesma casa, a dupla escreveu uma série de obras, entre elas Mecanismos da Mediunidade e Desobsessdo, que tentavam desvendar cientificamente os dons meditinicos. Um escrevia s capitulos impares, o outro psicografava os pares. Os pedacos se jun- tavam perfeitamente, reza a lenda. O centro de Chico e Waldo em Uberaba logo encheu de gente em bus- ca de comida, abrigo e tratamento de saiide. Chico comegou a psicogra- far cartas de mortos para familiares, 0 que tornou as sessdes ainda mais concorridas. Milhares de visitantes eram atendidos por semana. Quando deixavam a cidade, espalhavam os feitos do médium a conterrineos e aju- davam a divulgar 0 espiritismo e o nome de Chico pelo Brasil. Em fevereiro de 1964, Chico recebeu um reporter e um fotdgrafo da re- vista O Cruzeiro e decidiu mostrar os poderes de Otilia Diogo, médium de Campinas que dizia materializar espfritos. A sessfio, no entanto, foi de. cepcionante. O fantasma que apareceu diante dos jornalistas, que seria da religiosa chamada irma Josefa, era a cara da propria médium. Chico nao tocou no assunto por longos anos e viu a reportagem com fotos apontar fraude. Anos mais tarde, a médium foi presa com uma maleta onde esta- vam as roupas de freira usadas nas falsas materializacdes. Ela disse que havia perdido seus poderes, apelando aos truques. A nova polémica aba- Jouo médium, mas nio foi capaz. de manchar o nome de Chico, que passou a viajar para Estados Unidos e Europa divulgando o espiritis- ‘mo enquanto lancava novos li- 1p. ¢ a vres sem parar Omédum re. ~ ONiCO Nao cebeu os pri s pre ° 2 homenagens porsed tabaho, fOU CMUNE AS sempre focado em ampliar seu ~ trabalho de caidade. acusagées de As filas no centro espirita de Uberbacnmeadavezmio. jfraude, mas res. No Natal de 1965, mais Ae de 10 mi foram reecher tou. 1S POlOmica: pas, alimentos e brinquedos. 2 ° Em 1969, quando lmgon sen COMBO ajudaram centésimo livro, Chico era re- e conhecido do Rio Grande do CU binar sua Sul ao Amapa. Quando foi pa~ rrmVwoumte.+ = popularidade. fo homem} PINGA-FOGO fo homem} PINGA-FOGO Explosao midiatica PIG CORE Ree Cone Ce fo homem} PINGA-FOGO A peque a multidao concentrada em frente a sede da TV Tupi, na zona oeste da capital paulista, tentava de altima hora um lugar no au- ditério completamente lotado. 0 transito na avenida precisou ser inter- rompido. A emissora instalou televisores do lado de fora do prédio para que ninguém deixasse de assistir A transmissio. Dentro, cerca de 500 pessoas ansiosas pelo infcio do programa. Na primeira fila, autoridades e convidados. Nas demais cadeiras, curiosos, adeptos e criticos do espi- ritismo disputavam espaco na plateia. Eram 11hgo da noite de 27 de ju- Iho de 1971, uma terga-feira, quando o apresentador, Almyr Guimaraes, deu boa-noite aos telespectadores ¢ anunciou a presenca “do maior @ mais discutido médium’ do Brasil como entrevistado do Pinga-Fogo. Chico Xavier estava no centro do palco, rodeado por cinco entrevista- dores com a misao de arrancar dele respostas para muitas das dividas que rodeavam a doutrina espirita e o trabalho do médium. O bombar- deio de perguntas era reforcado com as participagdes de membros da plateia e de telespectadores via ligagdes telefnicas. No inicio dos anos 70, 0 Pinga-Fogo era uma das mais prestigiadas atragdes jornalisticas da televisdo brasileira. A edi¢&o com 0 médium mineiro, entretanto, su- peraria as previsdes mais otimistas. Até quase 3h da madrugada, quan- do o programa acabou, trés quartos dos televisores do Estado de Sao Paulo ficariam sintonizados no canal 4, estabelecendo a maior audiéncia da histéria do Pais até aquele momento. Nos dias seguintes, a entrevista seria exibida em emissoras de todo o Brasil e ganharia reprises na TV Tupi, além de destaque em jornais e revistas. Foi um divisor de aguas para o espiritismo, que na voz de Chico ganhou projeciio e respeito. No programa, o médium falou sobre psicografia, reencarnacao, mun- do espiritual e outros temas da doutrina espirita. Respondeu a pergun- tas feitas sobre catolicismo e umbanda. Nao fugiu de dar sua interpre- taco para assuntos polémicos, como bebés de proveta, vida em outros planetas, homossexualidade e cremacio. Apesar de tenso com a sabati- na, Chico foi diplomatico nos momentos de risco e mostrou respeito pe- los eriticos. Também sorriu, contou historias e deu ligdes de humildade. Por diversas vezes destacou que estava sendo ajudado pelo espfrito Em- manuel e que muitas respostas estavam sendo ditadas pelo guia, Como despedida, psicografou um breve poema na frente do auditério e rezou emocionado um pai-nosso. Foi aplaudido de pé. Em 20 de dezembro do mesmo ano, Chico Xavier voltaria ao Pinga- -Fogo como atragio de nova edigo do programa, dessa vez com quase cinco horas de durago e transmitida ao vivo para mais Estados. No auditério com 500 lugares, cerea de 800 pessoas acompanharam uma entrevista mais polémica, onde o médium defendeu os militares no auge dos abusos e torturas do Al-5. Para alguns, uma estratégia para livrar o espiritismo de possiveis perseguicGes. PINGA fo homem} roco Ge [2> Destaques do Pinga-fogo Em duas sabatinas que somaram quase ito horas de entrevista, Chico respondeu a diividas que foram do mecanismo da mediunidade ao sexo. EES ‘Omédium foi questionado se souslogado poder de escrever poems dos mrtos rio seria aponesahabiade de eprodui textos ‘que lo jahaviaida “Respeito aopiniao de todos os que pensam assim, masen nda posse acredit seja.[...] Para mim, a espiritos desencarnadosjénioé propriamenteumfenémeno ico, masumestadode [Cheguetaum estado de certeza, decerteza intima e naturalmente pessoale intransferivel. Cee (ico aprovetou uma perguntafita sobre psquisas quehaviam gerd emlaborattioum bobé de provetaparaconderar oaberto ease cautelacom métodos antconoepeionas “Omundoespiritual tem dito que exsas pilulas, conquanto sejam wm mal menor, constitnem mma dédiva da divina providéncia para queamuther cohomemfiqnenm ixentox do delitodoaborto, porque oaborto complica a nossa situagio nas leis cérmicas.” |RRASTE PARA LER MAIS TEENS) O méium flu sobre a necessidade decomer ound comer came. “Sendsestamos ainda subordinatosd necessidade¢ talores proteicos que recebemos dacarne, nés née devemos entrar emregimesvegetarianos deumdiaparaooutro, esim educar o nosso organisino para realizarmosessa adaptagio. [JA pecudriaaindaéum dos Satoresdaeconomia luunana. Vao podemos tratar estes casos ingenuidade, conquant ‘animais nos merecamo mii respeitoentioderamos criar situacées deexterminio desnecesstirio paraeles.” Emo de 1998, Ooo Xavier esorevou aque planta vermlho ora habitad Na ontrovista afrmouquoh vida ro espago 6 om outrascimensbes. “Nés subemos que oespacondo estévazio. [.. esperar queaciéncia poss compreender einterpretar para nés outros, osfilhosda Terra, a vidaemoutrasdimensées, outros campos vibratérios.” fo homem} PINGA roco Ge [2> dédica da divina providénciapara queamuthercohomenfiquem inentosdo delitodoaborto, porque oaborto complica anossasitnacio nas leis edrmicas.” ‘Apergunta eita por um dos espectadores do programa pedi visio espirta para ‘ahomossenualdade eas perturbagées 19 comportamento sexual do ser humane, “Ohomossexnalismo, canto quanto a bissexualidade on bixsexnatism axsexnalidade, sto condigsexda alma humana, Néo devem ser interpretados comofendmenos expantosos, como fenomenos atactiveis peloridiculoda Iuumanidacte. [...] Eacreditamos queocomportamento sexual na humanidade safrert defuturasrevinies mutito grandes.” romoa ‘Ao opnar sobre acondigéo do Brasil oorandado pos miltares,0 médium defendeu orgie coma {orca protetor contra ideologas desepregador “Digo quenés devemos pedir para quetenhamosacustédiadas Forgas Armadas até que possamos encontrar um caminhoem que elas continnem nos anxiliande como sempre, para que nésndo renhamosadescambar para qualquer dexfiludeirode desordem. [...] Vamos agradecer situagioatualdo Brasil, porqueo Brasil dexfrutade orden.” |RRASTE PARA LER MAIS rnoespago.e om outrasdimensbes. “Vés sabemos que oespaco nto 1... Seré necessirio compreender einterpretar para nésoutros, oxfilhosda Terra.a idaem ontras dimensées, outros campos vibratérios.’ Eas Chico defendeu a amor com abase das relagies “Onexo éresponsivel quando instrnmentodoamor. Asnoxsas ligacéex de naturezasexual remobedecer ao critérioda lei, da palacraempenhada, do comprominso, da monogamia. [Noterrenodo sexo, oamor precisa de represas paraqueele ndo fac uma inundacio destrutiva, criando calamida des sentimentais suscetiveis de arrasar coma familia, coma nossa organizacgio social.” PINGA-FOGO O sucesso do Pinga-Fogo com Chico Xavier abriu espaco para a divul- gagdo do espiritismo na TV. Em 1975, estreou na Tupi A Viagem, novela de Ivani Ribeiro inspirada nos livros E a Vida Continua... e Nosso Lar, psicografados por Chico Xavier com base nas supostas revelacbes feitas pelo espirito André Luiz. Em um pais de forte tradicao catélica, as ideias de vida ap6s a morte e reencarnac&o em horario nobre eram novidade. Em 1977 a autora repetiu a tematica espirita com O Profeta, novela em que Chico fez uma breve participacao especial no papel dele mesmo. O médium voltaria 4 TV muitas outras vezes nos anos seguintes, fosse como entrevistado ou como tema de reportagens. Embora os ataques nun- ca tenham cessado, o respeito pelo homem que pregava caridade em um pafs com milhées de necessitados aumentava cada vez mais. A admiragao por Chico Xavier transcendeu a comunidade espirita e contagion até mes- mo catélicos fervorosos, que reconheciam a importancia do trabalho as- sistencialista do médium, apesar das muitas divergéncias dogmiticas. 4+ cere Cres cee ene arr eed peed Fee bLEXSLVA/ PAULO SALOMAOFROLEAO) FIM DA VIDA fo homem} Os | ulcimos anos {fo homem} FIM DA VIDA <2) Chico Xavier jamais abandonow o trabalho de psicografar. Se nos primeiros anos de mediunidade publicava dois livros por ano, a média subiu na mesma pro- porg&o em que sua fama aumentava, Nos anos 70, quando ja tinha publicado mais de cem titulos, passou a Jangar anualmente uma média de oito obras. Na década seguinte, subiu para 14, Paralelamente, nunca deixou de ampliar os trabalhos de caridade bancados pela venda dos exemplares. Opprimeiro sinal de cansaco veio com uma crise de angina, um estreitamento das artérias que levam sangue ao corago, causando dores no peito. Foi em 1976 e fezo médium reduzir o ndimero de viagens e cancelar presenga em homenagens e entre- ga de prémios. Também passou a circular menos em publico e reduziu o tempo de participagao nas sessées no centro espirita, onde continuava a escrever mensagens que supostamente os mortos enviavam para consolar seus familiares. Voltou a ser noticia quando amigos e admiradores organizaram sua candidatura ao Prémio No- bel da Paz de 1981, concorrendo com o Papa Joao Paulo II e com o lider grevista polonés Lech Walesa. O vitorioso, porém, néo foi uma pessoa, mas um drgio: 0 Alto Comissariado da Organizagao das Nagdes Unidas (ONU) para refugiados. Nos anos seguintes, a satide de Chico Xavier ficaria cada vez. mais debilitada. Em 1987, uma pneumonia aliada a uma infeegio renal o colocaram de cama por mais de um més. Nova pneumonia atingiu o médium quatro anos mais tarde. Em 1995, um enfisema pés Chico na cadeira de rodas. Estava magro. As crises de angina eram constantes. Nao tinha mais forcas para dar conta dos milhares de visitantes que continuavam indo a Uberaba na esperanca de falar com ele. Vez. ou outra re- cebia algum fiel mais desesperado ou entao algum famoso em busca de consolo, como a escritora Gloria Perez, mae da atriz, Daniella Perez, assassinada em 1992. Passaria seus titimos anos entre idas e vindas aos hospitais. Chico Xavier morreu no dia 30 de julho de 2002, aos 92 anos, na cidade de Ube- raba. Era um domingo especial para os brasileiros, que festejavam a conquista da quinta Copa do Mundo de futebol, vencida no Japao. O médium tinha acabado de rezar, deitado em sua cama, quando 0 coracao parou de bater, um pouco depois das 19hgo. Durante dois dias, admiradores formaram fila de 4 quilmetros para se despedir. Caravanas chegavam as pressas & cidade. As autoridades apontaram 120 mil pessoas no funeral. No cortejo até o cemitério, eam mais de 30 mil. Em 75 anos de mediunidade, Chico conseguiu fazer do Brasil a maior nagio es- pirita do mundo e tornar a religiéio conhecida e respeitada. Ha muito tempo era a figura religiosa mais famosa do Pais. O médium afirmou que nao se manifestaria logo do mundo espiritual, mas, antes de partir, deixou uma senha, ou seja, um e6- digo seereto para evitar charlatanismo e confirmar a autenticidade de mensagens suas quando enfim resolver se comunicar direto do plano dos mortos. A chave para o contato com Chico no além foi entregue ao filho adotivo do médium, Euripedes Higino Reis, ao médico Euripedes Tahan e 4 amiga Katia Maria, que morreu em 2012. Os fiéis espfritas seguem no aguardo. O trabalho de Chico, entretanto, transcendeu a morte do homem. Suas car- tas, livros e polémicas seguem inspirando e intrigando. = ccd Cooney Passados 12 anos morte de Chico Xavi as por ele seguem consol que_perder seus filhos ¢ sendo alvo de estudos cientificos, Pesquisas recentes investigaram a autenticidade das informagies de 13) cartas enviadas por um jovem morto afogado em uma represa no interior de Sao Paulo, e constataram que 98% delas eram_ precisa DOLL fo mensageiro CARTAS Nao chore mais, ouvill, mamiie? fo mensageiro} CARTAS Desde que abra uO espiritismo, aos 17 anos, Chico Xavier dizia escrever cartas de pessoas mortas a familiares em desespero. Quando vivia em Pedro Leopoldo, sua cidade natal, o médium teria psicografado cerea de mil men- sagens de Artur Joviano, pai de Rémulo, seu chefe na Fazenda Modelo, 6r- gio do Ministério da Agricultura, onde ele atuava como escriturario. Apés sua aposentadoria, no inicio dos anos 60, jé em Uberaba, a redagio das cartas consoladoras a pais aflitos passou a invadir as madrugadas de sexta e siba- do no Centro Espirita da Prece. Era lé que, diante de até 300 pessoas que se acotovelavam, Chico dizia ouvir, em média, seis a oito espiritos falarem no seu ouvido por sesstio. O médium retirava os éculos de aro grosso, fechava os olhos, apoiava a mao esquerda no rosto e deslizava o lapis rapidamente sobre as folhas em branco. Depois, um assessor chamava o nome do parente men- cionado na carta em voz alta. A maioria das familias saia de maos abanando. Para esses, Chico repetia incessantemente: “O telefone so toca de lé para ca”. ‘Mas os que eram atendidos costumavam deixar o centro espirita com 0 co- rag&io em paz. Um dos casos mais conhecidos ¢ o da atriz. Nair Belo. Catdlica, Nair - falecida ha sete anos - procurou o centro em julho de 1977 para tentar receber uma noticia do filho Manuel, o Mané, morto em um acidente de ro. A familia suspeitava que Mané tinha cometido suicidio. Pouco antes do desastre, o jovem havia largado o emprego, a faculdade e terminara com a noiva. Nair nao cansava de fazer perguntas mentais ao filho morto, que foram respondidas na carta supostamente enviada pelo espirito de Mané e psicogra- fada por Chico Xavier. As vezes, 0 Mané casmurro que eu era falava em mundo dificil de aguentar e fazia alguma referéncia que pudesse dar a ideia de que, algum dia, ainda forcaria o porto de saida da Terra. Mas estejam con- vencidos de que 0 carro deslizou sem que eu pudesse controlé-lo. A visio nao estava claramente aberta para mim porque sentia em torno uma névoa gros- sa, e a manobra infeliz veio fatal e com tamanha violéncia que a tese de suici- dio nao devia vir baila’, escreveu. Nair ndo teve dividas de que a mensagem, com diversos nomes familiares citados, era de Mané, Nao raro Chico Xavier chorava junto com as mi reunides de psicografia. Segundo o médium, 0 problema no coracao que o acompanhou até o fim da vida era por conta do sofrimento que presenciava toda sexta e sibado no centro espirita, ‘Mas nem todos acreditavam na autenticidade das mensagens. Uma vez, Chi- co recebeu uma cusparada no rosto de um amigo que questionou o contetido da carta vinda do além. Chico resignava-se e costumava dizer que todo mé- dium era falivel. De acordo com O Livro dos Espiritos e O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, o médium é um intermediério entre os dois mundos, mas, 20 captar e transmitir as mensagens dos mortos, pode, sim, interferir no estilo e no contetido. O sucesso de Chico era reduzir ao minimo essas interferéncias. E, pelo visto, conseguia em grande parte dos casos, segundo uma pesquisa publicada na revista cientifiea Explorer em 2014. Com ajuda de psiquiatras do Niicleo de Pesquisas em Espiritualidade e Satide da Universidade Federal 1s na CARTAS fo mensageiro} de Juiz de Fora, o pesquisador Alexandre Caroli Rocha, formado em Letras pela Unicamp, investigou a autenticidade de 13 cartas escritas por Chico Xavier e atribuidas ao espirito de um jovem que morava em Campinas e que morreuem uma represa em Americana, aos 24 anos, em 1974. Das cartas escritas de 1974. 4.1979, os pesquisadores identificaram 99 informacbes objetivas e que podiam ter sua veracidade atestada por documentos ou em entrevistas com a familia e amigos do morto. Na anilise, 98% dos itens foram clasificados como “claros ¢ precisos” e nenhum foi identificado como fora de contexto. “Coneluimos que as explicagdes corriqueiras dadas sobre a acuracidade das cartas como fraude, caso, vazamento de informagGes ou leitura fria so remotamente plausiveis”, alegaram os pesquisadores. “Esses resultados trazem evidéncias empiricas para as teorias nao reducionistas da consciéncia’”, sustentam, ‘Na década de 1990, um estudo da Associaciio Médica-Espirita de Sao Paulo (AME-SP), conduzido por Paulo Rossi Severino, chegou a uma conclusio se- melhante: 42,2% das familias reconheceram nas cartas 0 estilo peculiar dos fi- Ihos mortos e todas declararam 100% de acerto nas informagSes mencionadas nas mensagens. Em 35,6%, as assinaturas eram idénticas 2s do falecido. Muni- ciados de questionarios, os pesquisadores foram atras das familias para obter ‘0 maximo de informagGes sobre as cartas consoladoras e atestar se tudo nao passava de uma fraude deliberada. Uma das perguntas era: “O que vocés reve- laram a Chico antes da sesso?” Outra: “Quantos encontros voeés tiveram com ‘0 médium antes de obter a primeira mensagem?" A equipe entrevistou cada familia por trés horas, colhendo os testemunhos dos envolvidos e documentos ‘do morto em vida que pudessem ser usados para compararo tipo de linguagem e uso de expressdes usadas nas cartas com escritos anteriores 4 morte. Os resultados viraram o livro A Vida Triunfa. A principal suspeita, a de que Chico ou seus assessores conversavam antes com as familias, nfo se confir- mou. Até hoje, nenhum médium teria sido uma antena tao poderosa como Chico Xavier. “Nao hé mé intengao nos médiuns pés-Chico. Mas as mensa- gens nao trazem mais o nivel de deta- hes que ele conseguia transmitir. SA0 mensagens que podiam ser escritas por 50 filhos e direcionadas a mil mes diferentes”, comenta Célia Diniz, atu- al presidente do Centro Espirita Luiz Gonzaga, fundado por Chico em Pedro Leopoldo, suz Um estudo revelou queem 35,6% das cartas psicografadas por Chico Xavier aassinatura era idéntica ado morto. fo mensageiro} CARTAS NOt tenes. duwy. Todas Sf i ale frase oe ee Nascido em 1862, Arthur Joviano foi um. educador brasileiro conhecido no final do século19 por ter liderado a primeira reforma no ensino primario de Minas Gerais. Era professor de portugués e autor de livros pedagogicos. Apés sua morte em 1934, ele teria voltado a fazer contato com a familia através de Chico Xavier que, na época, era subordinado de seu filho, Rémulo, no Ministério da Agricultura. As cartas de Arthur Joviano marcaram o inicio da psicografia do médium mineiro e resultaram no livro ‘Sementeira de Luz,com 670 paginas. A mensagem acima é de 13 de janeiro de 1941. eos cle nat bene ma lan fo mensageiro} CARTAS NOt tenes. duwy. Todas Sf i ale frase oe ee Nascido em 1862, Arthur Joviano foi um. educador brasileiro conhecido no final do século19 por ter liderado a primeira reforma no ensino primario de Minas Gerais. Era professor de portugués e autor de livros pedagogicos. Apés sua morte em 1934, ele teria voltado a fazer contato com a familia através de Chico Xavier que, na época, era subordinado de seu filho, Rémulo, no Ministério da Agricultura. As cartas de Arthur Joviano marcaram o inicio da psicografia do médium mineiro e resultaram no livro ‘Sementeira de Luz,com 670 paginas. A mensagem acima é de 13 de janeiro de 1941. eos cle nat bene ma lan ie ‘Meus caros filhos e queridos netas, seja a paz de Deus aalegria de voces todos.Na visita gfetuosa de sempre, renovo-lhes minha dedicagio de cada dia. Durante quase todo o dia em que se comemorou seu aniversdrio, minha bondosa © Maria, estive eu lado com os votos paternais de muito amor, pedindo a Deus por sua satide e tranquilidade. A noite, suc e nossa amiga © Helena trouxe muitas flores. Voeé néo.as viu, mas recebeu-thes o perfic- ‘me no coracao. (...) Dv aUsg Ua eH) Sse SEL © Mariaénora ‘de Arthur, mulher de Romulo, seufilho, e mie de Roberto e Wanda. © Helena ora amiga de Maria e de suas mas e que morreu muito jovern, Agora que voces se dispoem a @ \wiagens novas, _fiquem convencidos de que repartirei o tempo dis ponivel entre as duas zonas opostas - norte e sul. Lembram nossa troea de ideias quando se organt- zavam para a primeira viagem 4 Fortaleza? Como vem, as experiéncias se repetem, apenas com a renovagao dos detalhes. Estimo que © Roberto Dv aUsg QUE CHICO Sse SEL © MariaeRimulo, ‘que viviam om Pedro Leopoldo, estavam planejando ir a0 Rio vr sitarafamiia Joviano ‘queliresidia. © Roberto éneto de Arthur, iho de Rému- loeMaria, ir : 3) (.) aproveite bastante. Ha sempre o que aprender ant no livro didrio da experiéncia humana. Em face do “éxodo”, penso nas galinhas dele erecomendo De ee dio se esquecer de recordar os que fieam. No den di: i © Wanda é sua n¢ preciso dizer da necessidade das aves na rotina Gere nbew = habitual dos servigos da casa. Creio que, de todas ie ao : 6poca estava com um as expresses domésticas, em nos referindo a ani: in " 6 problema de pele. mais menores, séo as aves que mais falta sentem das méos que as assistem. Relativamente a vocé, © Aassinatura felta © Wanda, néio se inquiete com respeito ao rosto. por Chico bate coma. Havemos de auxiliar a passar esta “ponte” de assinaturade Arthur dificuldades naturais. Trate-se direitinho.(. em documento ofa or z Cong rn Eiecuss Eee fo mensageiro} CARTAS 66 Vové me auxilia aescrever porque estou aprendendo Morto aos 3 anos, depois de cair de bicicleta, 0 pequeno Rangel teria escrito uma carta Amie, Célia, e ao pai, Aguinaldo, psicografada por Chico Xavier, um ano apés sua morte. Como morreu antes de ser alfabetizado, sua carta traz uma caligrafia de tragos infantis, de quem comega a desenhar as letras. A mae lembra que, antes de Chico ler a carta de Tetéo,em uma reuni&o no Centro Espirita da Prece, em Uberaba, um médium ao seu lado Ihe disse: “Seu filho esta aqui, correndo, ea toda hora vem Ihe paws abragar. Agora, ele alae esta escrevendo ~ me acartacomaajuda ss do avé", informagao mencionadana Gla mensagem escrita Oa A por Chico. = Er Querido papai Aguinaldo e querida mamée Célie com vov6 Lia. Sou ewo © ‘Tetéo.. Estou com 0 ‘meu © ‘a6 Lied ecom a minha ® tia Gilda. Vovd ‘me auxilia a eserever porque estou aprendendo. Estou vendoa® tia Lé (...) Dv aUsg Ua eH) Sse SEL © Oapolido do pequen Rangol ora Toté. © VoLico ora como Tetéo chamava o sou ‘v0 matern, Manoel Diniz, morto em 1979, ‘que presidiuoGentro Esprta Luiz Gonzaga, fundado por Choo, om Podro Leopoldo. © Ta Gilda erauma tiado pai de Tetéo, ‘Aguinaldo. Ela morreu em 1954.0 préprio ‘Aguinaldo se lembra- va pouoo dattia, que falooou quando le tinha apenas 4 anos, Tetéo, aro, no a.conheceu. © TaLéerauma amiga dafamita que cestava na reuniao no dia que supostamente ‘spite de Tetéo teria escrito carta, Ewestow vivo e vou erescer. Estou aprendendo a eserever s6 para dizer ao seu carinho e ao carinho da mamée Célia que @ nao morri. Dv aUsg QUE CHICO Sse SEL © Céia,amiedo ‘Toto fazia porguntas ‘asimesma, no intimo, som oompartihéslas, sobreamortedo ‘cagula. Uma delas era ‘adivida se Tetéo con- tinuaria seu deservol- -vimento, interrompido ‘tio precooemente - pergunta respondida, na mensagem. Vouaprender muitas coisas e muitas liedes para saber eserever melhor. Mas jé estou © mais adiantado queaMariana ecreio que o © Aguinaldinko fieard satisfeito. Papai, mamée, Vé Lia e Tia Lé, nao posso eserever mais porque fiquei cansado de fazer letras. Mas quando ew puder, voltarei. Estou com muitas saudades (..) Dv aUsg Ua eH) Sse SEL © Mariana era aim do Totdo. Chico podia ‘até saber disso porque ‘era amigo da fart, ‘mas Tetéomenciona uma caracteristica da Irma s6 conhesida pelos mais préximos:quea ‘garota nfo eratio aplcada nos livros. © Aginaldinho.ra oirmao mais velho de Toté,conhecilo por sero ODF dafamila, com quem Tetéo se comparana carta fo mensageiro} CARTAS <09 [09 Quarto filho de Anibale Adélia Figueiredo, William nascou emBelo Horizonte, em 1924. Aost7 anos, ingressou no Exército, quando ficou dente por causa de um calo infeccionado. Passou meses a fiono hospital, masa infecgSo progrediu parauma gangrena irreversivel que olevoua morte em setembro de 1941. ‘Apenas um més depois, supostamente, 0 espirito de William comegoua enviar cartas psicografadias por Chico Xavier a sua me e no paroumais até a morte da matriarca, na década de 1980, Ascartas de William renderama obra Bastode Arrimo. Querida mamée, peco ao seu bom coragiio me abencoe e, por minha vez, rogo a Deus que nos qjude a veneer suas lutas de sempre. Sua alma sensivel continua atravessando o perigoso mar das provas e prossigo ao seu lado, somando, quan- do the faltam, forgas no leme para a conduetio do barco, sei como the déia tempestade dos tiltimos dias. Para espirito materno, as nuvens do hori zonte dos filhos so sempre mais pesadas e mais tristes. © Multiplicam-se as dores, os receios, as ‘aflicdes: (..) Entretanto nesse pedido, eu desejo Dv aUsg Ua eH) Sse SEL © Dona Adélia, ‘mao do Wiliam, osta- va preocupada com ‘futuro do primo- ‘nite Wilson, que ‘era dado & boémia e ‘gostava de jogos. através de © aventuras, complicando 0 futuro e perdendo os melhores anos da existéncia. (...) Como Ihe acontece, estou também preocupado com ele. Quisera voltar aos nossos com a experi- éncia que hoje possuo a fim de desperté-los paraa senda leal do espirito (..) Dv aUsg Ua eH) Sse SEL © Wiliammenciona ‘que sabo quo oirméo ‘esti mosmo"se por: dendo em aventuras” TEI apelar para o © Wilson’ para que ele transforme ocaminho, methorando-o. Diga-the, em nome de ‘minha dedicaedo fraternal, que a vida humana éumeterno aprendizado divino do qual néo nos desviaremos sem graves consequéncias. Ele (Wilson) agora é casado, é esposo eé pai. 0 Divino Senhor, que eu percebo melhor presentemente, conferiu-the deveres verdadeiramente sagrados. © Lourdes vo filhinho constituen- Ihe agora um sublime propésito ao qual esté preso por lacos sacrossantos. Nao é justo que se perca, Dv aUsg QUE CHICO Sse SEL © irmiomais ‘volho do Wiliam. © Mulhor do lima de Wiliam. Ene Estou qjudando na procura do ® ‘eaderno perdido - De qualquer forma, néo se incomode. A maior ‘mensagem que eu Ihe passo dar é a do meu co- ragdo e esse esté constantemente ao lado do seu. Agradeco pelas maravithosas lembrangas (..) Dv aUsg QUE CHICO Sse SEL © Eocaderno no qual Chico Xavorescrevou ‘as mensagons do uma tia da fami, chamada Margarida. Foinele que Wiliam teria escrito sua primetracartaa me, psicografada polo médium na madrugada ddo25 de satombro do 1042, primero ane da morte dojovem. Que Jesus fortaleca o seu coracdo, enchendo-the os caminhos de luz, esemeando flores de paz em suc alma afetuosa e abnegada. Sao os rogos muito sineeros do filho, sempre seu, William. cond Cronies Chico Xavier talvez seja o autor mais lido do s, com 50 milhies de livros vendidos, 0 médium escreveu uma média de seis obras por ano, grande: parte delas atribuida a dois espiritos (Emmanuel e André Luiz), e foi ousado an trazer supostos poemas inéditos de escritores mortos para o mundo dos vivos. es 2 Whe ihe an U7 || Poesias do além fo autor} POESIAS Chico Xavier trabalhava no c de um armazém pela manhi, na secre- taria de um érgio piblico a tarde e lavava pratos em um bar a noite quando psicografou Parnaso de Além-TYimulo, uma antologia poética com 60 poemas atribuidos a 14 poetas brasileiros e portugueses. Era 1931, Chico estava entio com 21 anos e vivia em Pedro Leopoldo, uma pequena cidade do interior de ‘Minas Gerais com pouco mais de 3 mil habitantes e nenhuma biblioteca pabli- ca, Langada no ano seguinte pela Federacao Espfrita Brasileira (FEB), a maior entidade da religiao no Pais, Parnaso causou um rebuligo no meio literario. Criticos de todo o Brasil se debrucaram para analisar os poemas supostamente escritos por Augusto dos Anjos, Casimiro de Abreu, Cruz e Sousa, Antero de Quental, psicografados por um médium tao jovem quanto desconhecido. A tematica da antologia girava em torno de relatos sobre como era a vida aps a morte. Chico a produziu sempre da mesma maneira. Depois do expe- diente, sentado em uma mesa em uma sala montada por um de seus patroes, Rémulo Joviano, no érgio pablico, a mao segurando a testa e a caneta desli- zando sobre as folhas em branco enquanto dizia escutar os poetas recitar ver- sos no seu ouvido. Algumas vezes, sentia que sua mio era impulsionada, como revelou no preficio da obra escrita em 1931. No brago, o médium alegava sentir fluidos elétricos e vibragées indefiniveis, que invadiam seu corpo inteiro e, ro, seu cérebro. “Certas vezes, esse estado atingia o auge, ¢ 0 interessante é que parecia-me haver ficado sem o corpo, nao sentindo, por momentos, as meno- res impressées fisicas, E o que experimento, fisicamente, quanto ao fendmeno que se produ frequentemente comigo”, escreveu. Ble fazia questo de dizer que nao era autor de nada, Era apenas um intermediatrio. ‘Ni faltaram acusagGes de fraude ao primeiro - e talvez. mais ousado - dos 439 livros que Chico viria a publicar ao longo de quase 70 anos. Criticos mais ortodoxos, que consideravam a ideia da sobrevivéncia do espirito um conto da carochinha, classificaram a obra como pastiche, ou seja, a copia descarada do estilo literdrio. Chico nao passaria de um imitador eximio do estilo dos. lecidos. Mas ficou dificil provar essa tese. A medida que Chico incluia poe: € novas edigdes de Parnas semelhangas com 0 tipo de linguagem dos supostos autores foi ficando cada vvez mais flagrante. As psicografias de Cruze Souza, pai do simbolismo brasilei- ro, por exemplo, lembram a itima fase do autor. Os versos musicais do poeta brasileiro sao reproduzidos com exatidao por Chico Xavier, segundo o estudo feito pelo pesquisador Alexandre Caroli Rocha, na Unicamp. Em Augusto dos Anjos, estdo lA os versos decassilabos e a mesma rima. No jomnal Correio do Povo de 1941, 0 poeta gaticho Zeferino Brasil - que, depois de morto, também teria escrito poemas pela mio de Chico - coneluiu: “Ou as poesias em aprego sio de fato dos autores citados e foram realmente transmitidas do Além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Xavier 6 um poeta extraordindrio, genial mesmo, capaz de produzir e imi- tar assombrosamente os maiores génios da poesia universal”. O psiquiatra la- fo autor} POESIAS e) Augusto ‘e@” dosAnjos Em Parnaso de Além-Timulo, Chico Xavier reproduz amesma métrica, as idiossincrasias e os temas dos poemas originais do escritor paraibano, morto No inicio do séoulo 20. SOLITARIO AUGUSTO DOS ANJOS Como um fantasmagque se refugia Na solidan da natureza morta, Por tris das ermos timulos, um dia, Bufuirefigiar-me a tua porta! deed VOZES DE UMA SOMBRA AUGUS ‘0.05 ANJOS, POR CHICO XAVIER Donde venku? Das eras remotissimas, as substinciaselementaréssimas, Emerginda das cdsmicas matérias. Venho dos insistveisprotuzudrios, Duconfusia dasseres embrianirios, Jas célulasprimevas, das hactérias. (1 > Versos decassilabos, isto 6, com dez slabas posticas. >> Justaposigto de sflabas tonicas. Exemplo:*Grava, como pensamentoalmo ce insondéver, frase de Matéria Césmica io forgadas. > Adogio de proparoxitonas, > Uso de rimas simple > Uso de aliteragies(repetigao de fonemas)e coiteragdes repeticso de fonemas de um mesmo grupo fonético) Exemplo:“Morre de fro fel, sede e fome', ‘em Nas Sombras;"Da terra do Calvirio ardonte © adusta’, om Anto 0 Caria, >> Sibilagdo, quando avogal ténioa se apoia nos) Ex:"E que, dos invisves miorocosmos', em Evoluga. >> Junio de trés ou mais vogais,o que permite aumentar o nimero de palavras, ros versos. Exemple:“Espathando a miséria, ‘eoluto enorme”, em Nas Sombras. >>> Frequente comparagéo introduzida por aposto ou vocative Ex.:"A dor, essa tirdnica incendiria’, em Vozes de Uma Sombra >> Unidade nos temas abordados. ‘QUEM FOI ho do una familia do propretaio do ngenos, Augusto des Anjos rasoeu ‘mofngenho Pau rc, na Paraiba, om 1864. Formado emit, nance exercaua profissio. udow-separaoRinecomecou ase dedicar anensino dportugués e geografa. Ev pubicou apenas um vr, Eu, em 814, mist ‘and caractersticas do parnasinismo como ibis, Morrou do pooumonia em 191, seme aor TOMS fo autor} POESIA FY } Antero de Quental Nas psicografias do poeta portugués feitas pelo médium mineiro, a acentuag&o dos versos, a sintaxe e a repetigao de termos, presentes nos textos em vida do autor, esto todas Id. TOTTI ‘QUEM FOI Nasco em Ponta Delgada em 1842, Antero de Quental um os potas portugusos realists mais amos. Pertnoeu i (Geragio de 70, movimento académico que queria renovar os ‘nimosinlectuas do Pais seul, éapalca ltrate +a,edoqual yade Queiroz também fz parte Antero esreveu pots nsaisflsifions com nflubcia de Hoga ed pos tivisma,Vveua via com transtrno bipolar Sua obra tambim sbasouem opostas:0esritrcomogou acarrraidalita ‘termina pessimist Depimido, se suicidouem 188, >> Correspondéncia n tipo de acentuagio dos versos e na escola de rims >> Prevaléncia de rimas deadjetivo com substantivo, Uso de enjambamants isto um cencadeamento sintético ontre un vrsoe outro '® > Oolocagées sugestivas em apostos, vocatves, Inicio fim de versosedestocadas. Exemplos: “0 morte, eu te adorei, como se foras’,em A morte. >> Repetto de termos, Exempla: "uealuz, aexcelsaluz, aquece e banh”,em Deus. >>> Predominio de acentos na sextaedécima siahas postioas. 2 > Angistia extonca como toma rooront. MAE ANTERO DE QUENTAL Mae- que adormente este viver darido, E’me ele esta noite de tal eo, Ecomasmios piedosasatéofia Domeupobre existir, meio partido ‘Que me leve consigo, adormecid, Jo pussur pelo sitio mais sombrio.. Me hanhe elave aalma dna ria Da clara tuzdo seu olhar querido... bead DEUS ANTERO DE QUENTAL, POR CHICO XAVIER ‘Quem, seniio Deus, criou obra tamanha, Despaco eo tempo, as ampliddes ¢ as eras, Onde seagitam turhithies de esferas, Que aluz, a eveelsa luz, aquece e hunha? Quem, seni ele fez esfinge estranha No seqreda inviolivel das moneras, Noeorapia dox homens e das feras, Nocorapio do mar eda montanha! Deus!..somente a Eterno, 0 Impenetravel, Poderia criar oimensurtvel Eo Universo infinito criarial. . Suprema puz, intérmina piedale, E que habita na eterna claridade ‘as torrentesda Luze da Harmonia! seme aor TOMS fo autor} POESIAS e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Melo Teixeira, que co mhecia Chico pessoalmente, achava quase impossivel a explicagao do pastiche. “Fazé-lo, como Chico Xavier o costuma, de improviso, numa elaboragao e re- dacio instantneas, sem segundos sequer de meditago para coordenar ideias, passando em sucesso ininterrupta da prosa ao verso, da pagina de fice para a de filosofia, (..) é alguma coisa de inexplicavel, que nfio esta ao aleance de qualquer imitador de estilos ou amadores de contrafagao literria”, escreven no Didrio da Tarde, de Minas, em 1944. Segundo Teixeira, para fazer um pas- tiche digno, seria preciso dedicagao exclusiva, edigdes constantes, mil eum re- toques. Nas biografias de Chico - so 215 catalogadas pela Fundag&o Cultural Chico Xavier de Pedro Leopoldo -, nao se tem noticia que o médium mineiro conseguisse abrir um livro durante o triplo expediente. O reporter de O Globo Clementino de Alencar, que escreveu uma série de reportagens em 1935 sobre o médium, nao encontrou nas prateleiras da casa em que Chico morava com 0s irmios nenhum livro dos escritores e poetas ressuscitados em Parnaso. Em. 1931, nem sequer a capital Belo Horizonte tinha biblioteca, lembra Geraldo Le- mos Neto, presidente da Fundagiio Cultural Chico Xavier, de Pedro Leopoldo. ( jornalista eescritor Mario Donato, em um artigo no Estaddo de 1944, estava convencido que nao era mesmo Chico quem escrevia os poemas. E, na falta de explicagdes cientificas sobre a psicografia, era melhor colocar tudo na conta do milagre. “E milagre, e omilagre, nao explicando nada, explica tudo. Pois se nao admitirmos que 0 caso é milagroso, temos que levar 0 Chico Xavier’ Academia Brasileira de Letras e, naturalmente, estamos mais dispostos a reconhecer-Ihe amizades no Céu que direitos literarios ao Petit Trianon”, ironizou. Milagre ou nfo, o certo é que Parnaso segue na mira de pesquisadores. Mais recentemente, novos estudos sobre a antologia, que na tiltima edicio, publicada em 1955, reuniu 256 poemas atribuidos a 56 autores, usam com- paracées minuciosas entre os poemas escritos em vida e os psicografados . As semelhancas sio espantosas. “Quem ideou os poemas medi- uufa necessariamente um profundo conhecimento das obras dos poetas, além da habilidade para compor poemas inéditos”, diz.o pesquii Alexandre Caroli Rocha, da Unicamp. Oresultado das comparagées deixou Rocha intrigado, No seu doutorado, ele se debrugou sobre os textos em prosa atribuidos por Chico ao jornalista e es- critor maranhense Humberto de Campos, morto em 1934 e que aparece em 12 obras entre 1937 e 1969. De novo, Rocha encontrou simetrias impressionan- tes. As semelhangas com o estilo de Campos levou a vitiva do escritor a pedir na Justiga os direitos autorais pelas obras lancadas por Chico (leia mais nas paginas 62 e 63). Campos tinha uma linguagem coloquial e bem-humorada, caracteristicas que a psicografia de Chico preservou, segundo Rocha. Mas os criticos dizem que o médium limitava a criatividade dos autores nas psicografias, Em vida, suas obras eram mais plurais, mas teriam ganhado con- tornos religiosos em excesso na escrita de Chico. + fo autor} seme aor TOMS POESIA ) Cruz — e Souza Chico Xavier reproduz nos poemas > psicografados o tom sofrido da Ultima fase do pai do simbolismo. brasileiro, morto aos 36 anos. - OHORROR DOS VIVOS CRULESOUZA Awmenasjunto dosmortos pudea gente Crereesperara’alguma suave: Crer-no dace consolo da saudade esperar do descansa eternamente, bo) GLORIA VICTIS CRUZESOUZA, POR CHICO XAVIER liriaa todasas almas obscuras (ue catram evitnimes na estruda, Onde a pobre esperanca ahardonada Morrechorando oh as desventuras, (ol QUEM FOI > Otom religosoeideia de softimento redentor nas poesias de Parnaso correspondem ‘ultima fase de Gruze Souza quando viv, 2>>-Versos musioais 2+ Ambiontos sio desoritos com riquoza. +> Sonetos liroas oom fooo na subjetividade, >> Morte como toma recorrente. Exemplo: “S6.a Morte abre a porta das mudangas/ E coneretiza as puras esperangasi Nos paises seréficos do gozol”,em Tudo Vaidade. >> Proooupagio com as pessoas desassisti- das marginalizadas, Exomple: "Oléria a todas, ‘asalmas obscuras/ Que cairam exanimesna estrada’, em Gloria Vitis. >> Nogdo orstide que osofrimentoma Tera é redentor ede que adoraperfeioa ohomem, Exomplo: "Toda ador que na vida padeoores To fo que tragares, todo pranto/Ser-te-Ao ‘como trevas,e, ntretanto/ Serés pobre deluz sonio sofrores’om Sofra >> Linguagem rebuscada, herdada do pamasianismo. >> Sinestesia recurso que associa dois ou ‘mais sentidos -audigo, visto, olfato, > Douse 0s mistérios da vida da morte silo tomas rocorrentes. Nasco om 1861 am Flrandpos, Cruze Souza fio principal peta do sinbolsmo, nevinento do final do séulo 18 marcado por etss sonors e por assunts cama a ranscendénciaespitual eo amo. Fo dex-escraves,o poeta cresceu sob aprotacio dos. antiga propritris, que bancaram sun educa. rangro sole como preconcltoracial.Chegouasernomeado promot, mas io pide assumirpor eon da cor, Sous vos mai fobs foram Missal Broqués, oom poesias musi, pessimists, chelas do metforae com nguagom rbuscata Tee influéncias do fancés Baudelaire ed portugus Antero de Quental. Cascuseotove quatro los, que moreram todos de tubercuose Adoonga também levauo pots os 96 ars. fo autor} POESIA | | | | | | | Humberto de Campos Ojjornalista e escritor fez uma critica elogiosa da primeira edig&o de Parnaso de Além-Ttimulo, langada em 1932. Morto dois anos depois, Campos teria sido psicografado por Chico. TTT ADEFESA DE NOE HUMBERTO DE CAMPOS {..Jucusar me de misticivmo retigioso 6dar tostemunko de que naita sabe nem da mina literatura nem da minha vida, Se hii um exptrita livre de supersticies na atuaidade lterdria do Brasil, esse éo mew, Apenas, por educacioe por principio, nico tiro Veus ao coracii de ninguém. Porque tenho o meu vazio nto me considera modelo de prudléaciae sabedoria. Sem um templo em que me prosterne, nto ‘me sinto nodivvita de incendiar asaltares das que tem é. Ese ndia sou filésofo, aprendi, pelo menas, com ox que tém esse nome, a arte de suportaravida eas doresque ela me tron, ede me nio supor, entreoshomensignorantes, oportadordo facko de Minerva. b DE PE, 0S MORTOS! POR CHICO XAVIER HUMBERTO DECAMPOS, Pede-me vocé uma palavra para. intréito do Parnaso de Além- ‘Viimulo, que aparecerd brevemente em novaedigdo, A tarefa édificl, Nasiinkas atuaicondiciesde vida, tenho de destoar da opiniao que Jicexperalinas contingéncias da carne. Os vios do Alémeosvivosa ‘Terra ni podem enterqur as coiwas através de privmasidénticus. Imagine se oaparetho viswal do homem foxse acomodado, seguro a potencialidade das raias X:wscidades estariam povourtas de esque tus, oscampos seapresentariaan coma desertos, o muta constituir ‘um conjunto de aspectosinverossimeis inesperados. lod) 12> Cronica estruturada por oxpo- sige do fato acontocido, analogia a ‘um caso lendério,histério ou lteré- ro e conclustio em tom moralizante. > Tom esponténeo, humor e smalicia refinada, > Erucigo eculto pola ologincia. 2 Gosto pelo orientale interesso polo popular. ‘QUEM FOI Escrito raise poloo maranhense, Humbert de Campos nascouna cidade eWiita, ojechamads Humberto de ‘Campos, em 188. Fer sucesso na dézada 4180 com ris eentroupara a ‘oademia Brasilia de Letras gragasd sun produopotica, bastante valorizaca na ‘pox Coro jonas osorovou para ‘vero jomaie do Pal Cau na rags do publico ao esorevercortos humeristios sahonome Console 20.A produ, noentanto,ndoagadoua crc edi, ‘quo considerou teratra rasa, Oauge desu ppulrdade velo pouco antes ‘demorrer quando, grvementeenferma, ‘soraveu sobre simesmnFaleceu om 1994 an 48, como un dos esoritors mi ios do Bras, sro NORE TOMN FONTES pretrial tc Oi ra rn ang 20, Scr openers ere are fo autor} ANDRE LUIZ Memo No san fo autor} ANDRE LUIZ () espirito que revelou 0 outro lado ando o espirito, o médium fo autor} Bosques, rios, jardins, fontes luminosas, conjuntos habita- cionais e enormes torres onde funcionam Ministérios. Poderi- amos estar falando de Brasilia. Mas essa também é a deseri¢ao de Nosso Lar, uma cidade no além deserita por Chico em 1944 (26 anos antes da inaugurago de Brasilia, diga-se). Localiza- da na “psicosfera”, ou seja, em um plano espiritual, que abri- garia 1 milhfo de desencarnados - homens, mulheres, jovens e velhos que estavam la para aprender e trabalhar entre uma encarnagio e outra. Apesar de serem espiritos e estarem todos vestidos em trajes brancos, os habitantes da coldnia tinham uma vida muito parecida com a dos mortais. Até 1944, ninguém havia contado com tanta riqueza de de- talhes como seria a suposta vida apés a morte, Segundo Chi- co, 0 relato virou livro gracas a um espirito que nunca teria revelado sua verdadeira identidade e que assinava as obras com 0 pseudénimo de André Luiz. O livro Nosso Lar, escrito por Chico Xavier enquanto estaria encarnado por ele, falava de um plano espiritual tio realista quanto futurista: o livro descreve comunicadores pessoais parecidos com nossos celu- lares, um “aerobus” (meio de transporte aéreo muito veloz) ¢ telas planas semelhantes as TVs de plasma, Uma muralha com baterias magnéticas protegia Nosso Lar. A cidade tinha 0 formato de uma estrela de seis pontas e teria sido fundada por portugueses que desencarnaram no Brasil no século 16. Desde que Nosso Lar chegou as livrarias, em 1944, j& ven- deu 2,5 milhdes de cépias e foi traduzido para, pelo menos, 15 idiomas. A adaptacio homénima em filme, de Wagner de Assis, estrelada por Paulo Goulart, levou 562 mil pessoas a0 cinema no final de semana de estreia, em 2010. Foi com Nosso Lar que o mais conhecido médium brasileiro den inicio série A Vida no Mundo Espiritual. Assinados por André Luiz, os 13 livros escritos ao longo de 25 anos contam historias sobre o além. As obras mostraram na pratica, por meio de personagens, 0 funcionamento dos ensinamentos de Allan Kardece do espiritismo, como a lei de causa e efeito, que diz que tudo o que fizermos em uma encarnago seré igual- mente imposto a nés em outras vidas. Oespirito de André Luiz teria se apresentado para Chico Xa- vier dizendo que escreveria alguns livros com ele. 0 médium aceitou e pediu o nome que seria assinado nas obras. Hav um rapaz dormindo na cama ao lado naquele momento. Era André Luiz, o meio-irmao de Chico, e o médium diz que esse foi o pseudénimo que o espirito escolheu para assinar as obras. fo autor} Nos livros, Chico deixou uma pista de quem teria sido André Luiz. quando vivo. Em Nosso Lar, o médium escre- veu que 0 espirito teria sido um médico sanitarista conhe- cido no Rio de Janeiro do inicio do século 20. Ao longo dos anos, a curiosidade foi tao grande que surgiram hipdteses. Um dos nomes especulados é 0 de Oswaldo Cruz, figura que estudou doencas tropicais, como febre amarela e vari- ola, ¢ ajudou a combater epidemias no Rio de Janeiro. En- trou para a histéria do Brasil quando obrigou a populagao carioca a se vacinar, culminando na Revolta da Vacina, em 1904. A segunda hipdtese é Carlos Chagas, famoso cientis- ta brasileiro conhecido internacionalmente pela descober- ta da doenga de Chagas. © médico era amigo de Oswaldo Cruze morreu em 1934. Outra possivel identidade de An- dré Luiz é 0 médico carioca Faustino Esposel, mas ele foi mais conhecido por ter sido presidente do Flamengo na década de 1920 do que pelo trabalho na Area da satide. A hipétese de que André seria Carlos Chagas ¢ susten- tada, inclusive, por Waldo Vieira, o principal parceiro de psicografia de Chico, que também atribuiu a autoria de | vros a André Luiz, Os médiuns alegavam que o espirito conversava com a dupla ao mesmo tempo - 0 que obrigou os colegas a adotar um sistema de trabalho ca6tico. Para psicografar Evolucdo em Dois Mundos, romance classico do espiritismo que descreve a alma humana em termos médicos, Chico e Waldo estavam em cidades diferentes, mas ambos diziam receber informagdes de André Luiz. A dupla decidiu, entao, dividir o trabalho: Waldo psicogra fava os capitulos impares de Uberaba, onde estudava me- dicina e odontologia, e Chico escrevia os pares direto de Pedro Leopoldo, a mais de 500 km de distanci: Para 0s eétieos, no entanto, oanonimato do espitito tinha motivagao juridica. A teoria é que Chico queria se proteger de um processo, como aconteceu no caso de Humberto de Campos, quando a vitiva do escritor requisitou os direitos autorais dos livros psicografados por Chico. Se o médium langasse o livro atribuindo sua autoria a uma figura publi- ca tao notoria quanto Carlos Chagas ou Oswaldo Cruz, es- taria abrindo a possibidade de ser levado novamente aos tribunais caso as familias julgassem que deveriam receber direitos autorais pelas obras supostamente escritas pelos parentes. fo autor} ANDRE LUIZ 05 LIVROS DO ESPIRITO André Luiz ROSSO pos ik, = ae Livro mais vendido de Chico Xavier, Nosso Lar aborda os primeiros anos apés a morte do médioo André Luiz ‘em uma colonia espiritual - espécie de cidade onde os cespiritos se retinem para aprender etrabalhar entre uma encarnacao e outra.O livro trata da Lei de Causa ¢Efeito & qual todos os espiritos estariam submetidos (espécie de carma) e descreve.a arquitetura da colénia, formada por casas de repouso para os recém-desencarnados, muralhas com baterias de protegao magnética, conjuntos habitacionais, raga central, fontes luminosas e parques arborizados. O espirito detalha peculiares presentes no plano espiritual, comoum globo de cristal de 2 metros de altura utilizado para reuniGes meditinicas com os encarnacios, uum “aerobus de grande comprimento e de deslocamento aéreo rapido e até mesmo uma espécie de capitalismo espiritual a partir do bonus-hora, forma de pagamento que correspond a cada hora de trabalho prestado. O livro também faz algumas previsées acertadas do future: fala que cada habitante da colénia tem um aparelho comunicadlor pessoal e descreve telas finas de visualizagdo de imagens a distancia - algo semelhantes com osnossos telefones celulares e televisores de tela plana. TUTTE TEE Mission da Zeer |RRASTE PARA LER MAIS fo autor} Bene) ESSE 1050) Tomcome protgpistanovamenteoesprto _) Olioutiea conto de bilgi sia istria ‘André Luiz. Aobra trata da mediunidade, da 2 erelaciona cinciae religdo para falar sobre a comericagiodosespitoscome planocamale } dagagto plo ensamento quo esta ere torsos anaes xjeatora olin. \ Union stances aiden he Tambimabord aorago como pido do fiauma rg super. Cad galiiatria ses osonrosiarezmdiede —_{ era, qv nati modo com ) (1945) 2 cevolugdoda humanidadeno oye na tera, que estariam interligados Paraissa.o autor aborda ‘algumaformappeloplano spiritual Apésa vida, {planejamento insituido por Deus. André Luiz fala havetia ainda umlongo caminho de aprendizado- do surgimento da Terra, dos primércios da vida dafadvém a dela de que estamos constantemente )_ nos mares, da evolugo dos vegetal, dos nos aperfegoando por melo da reencamacto, fond atribuiu pes Pat Ene srgéai0 san fo autor} EMMANUEL Foi a margem de um acude em Pedro Leopoldo, cidade natal de Chico Xa- vier, que o médium, entio com 21 anos, viveu um momento que mudaria sua hist6ria. Enquanto fazia uma oragio perto de uma arvore, contou ter visto uma cruz luminosa se aproximar. Um espirito simpatico e vestindo uma tunica branea teria aparecido para ele e se apresentado. Emmanuel era seu nome. Desde o dia no acude, Emmanuel foi de tudo um pouco na vida de Chico: amigo, pai, chefe, editor dos livros, acima de tudo, um guia espiritual. Mas seu, papel na vida do médium nunea foi dar carinho ou consolo. O espirito, segundo Chico, lhe exigia muita disciplina para que ele conseguisse cumprir sua mi psicografar mensagens. Quando surgia alguma dificuldade, era ao espirito que o médium dizia recorrer e ouvir instrugSes para desenvolver sua mediunidade. Se cogitava desistir da psicografia, o guia se enfurecia. Em uma entrevista, Chi- co disse que, quando deixou de trabalhar por dois dias, Emmanuel perguntou por que ele nao estava escrevendo. O médium se defendeu, alegando que seu olho estava doente (Chico tratava uma hemorragia no olho direito). O guia es- piritual foi seco: “E 0 outro, o que est fazendo? Ter dois olhos é luxo". Quando se apresentou, em Pedro Leopoldo, Emmanuel teria feito a Chico uma importante encomenda: ele deveria escrever 30 livros com mensagens dos companheiros desenearnados. Depois de cumprida a tarefa, solicitou mais, 30. Acredita-se que foi pela insisténcia desse espirito que Chico conseguiu che- gar incrivel marca de 439 livros, dos quais 117 foram assinados pelo proprio Emmanuel. Gracas a psicografias que Chico fez em nome de seu guia e a en- trevistas em que falava sobre o espirito, podemos conhecer alguns detalhes de quem teria sido o misterioso Emmanuel no mundo dos vivos Na Roma antiga, teria vivido como o senador Piblio Lentulus Cornelius, figu- ra que teria conhecido Jesus pessoalmente e cuja hist6ria foi contada por meio de Chieo no livro Ha Dois Mil Anos - no Evangelho, no entanto, nao ha registro do encontro de Jesus com um senador, Em outra vida, dizem as psicografias, Emmanuel foi um judeu nascido em Efeso, na Turquia, e escravizado pelos romanos. Mas, sem diivida, sua passagem mais ilustre pela Terra teria sido como Manuel da Nobrega, o padre portugués responsivel pela catequizacao dos indigenas no Brasil, e um dos fundadores da cidade de Sao Paulo. Osromances histéricos atribuidos a Emmanuel também refletiam debates do presente, segundo o antropélogo Bernardo Lewgoy. No livro O Grande Media- dor: Chico Xavier e a Cultura Brasileira, Lewgoy diz que os livros escondiam. narrativas sobre o que se passava no Brasil eno mundo na época da publicagao, contadas em forma de metéforas histéricas. O nacionalismo de Getilio Vargas no Estado Novo, regime que vigorou entre 1937 e 1945, é um dos temas presen- tes nas obras dos anos 30 e 40. Assuntos ligados ao militarismo de um mundo que vivia a Segunda Guerra Mundial, como mérito e obediéncia, também esto 14, Mas, acima de tudo, o objetivo dos livros de Emmanuel era catequizador. Em 1998, quando jé estava no final da vida, o médium brasileiro revelou que seu guia iria reencarnar na Terra no ano 2000, Emmanuel seria um menino, hoje com 14 anos, vivendo no Estado de Sao Paulo. :|+ fo autor} OS LIVROS DO ESPIRITO EMMANUEL Emmanuel ‘Acbra inaugural do espirito aborda o papel ‘dos médiuns,esmidga o espirtismo e busca Vee da {polémicas} PRAUDE? Um médium ha parede CXNime ee investigagao de jornalistas. {polémicas} PRAUDE? ‘Quando oconsayrado reporter José Hamilton Ribeiro chegou ao cen- tro espirita de Chico Xavier em Uberaba, estava disposto a desmascarar o médium que havia transformado um bairro pobre da cidade mineira em ponto de peregrinacéio para milhares de espiritas. No texto publica~ do em novembro de 1971 pela revista Realidade (editada pela Editora Abril entre 1966 ¢ 1976), o jornalista descreve o que viu na sessfio onde mil fiéis pediram ajuda ao maior nome do espiritismo nacional, alcado a fendmeno midiatico naquele mesmo ano apés ser entrevistado pela TV ‘Tupi e estabelecer a maior audiéncia da televisdo brasileira até entio. Embora nao acuse formalmente Chico Xavier de ser um trapaceiro, a re- portagem levanta diividas sobre os alegados dons do médium e municia de suspeitas os detratores do lider espirita até hoje. Segundo o reporter, o primeiro indicio de trucagem estava no per- fume de rosas que volta e meia tomava conta do ambiente. Fiéis que aguardavam o inicio da sessiio achavam que o aroma indicava a presen- ade espiritos, mas José Hamilton contou que um fot6grafo da revista viu um dos assessores de Chico borrifando discretamente a fragrancia, escondida sob o paleté. Quando o médium entrou no salo lotado, a sessio teve inicio com a leitura de trechos de livros de Allan Kardec, parte do ritual para atrair os chamadbos espiritos elevados, aptos e dispostos a ajudar os necessitados. Chico logo levantou e foi para uma sala reservada com centenas de bilhe- tes. Em cada papel, nome, idade e endereco da pessoa carente de ajuda. Nas horas seguintes, enquanto a leitura de textos religiosos seguia, Chico psicografaria os conselhos dos espiritos para cada caso. Como parte da investigagio, José Hamilton pediu ajuda para duas pessoas. Obilhete com o nome de uma amiga de Sao Paulo, que sofria havia um. ano de uma alergia, voltou com um recado bastante genérico: “Dentro de todos os recursos ao nosso alcance, buscaremos cooperar espiritua mente em seu favor. Confiemos na béngio de Deus”. Era um conselho capaz de se encaixar em qualquer situagio. O segundo bilhete, entretan- to, 6 responsavel pela maior polémica da reportagem. O repérter deu nome, idade e endereco inventados na noite da sesso. A psicografia re- cebida era de novo abrangente: “Junto dos amigos espirituais que Ihe prestam auxilio, buscaremos cooperar espiritualmente em seu favor. Je- sus nos abencoe”. O conselho supostamente vindo do mundo espiritual deveria ajudar um necessitado criado minutos antes por José Hamilton, que fechou a reportagem com uma pergunta: “O que pensar disso?” ‘Waldo Vieira, médium que foi parceiro de Chico por varios anos, disse ‘em 2009 que muitas mensagens de consolo que os mortos supostamen- te mandavam a familiares eram na verdade escritas com base em dados colhidos previamente por funcionarios do centro espirita nas filas de espera. Waldo garante que o dom de Chico Xavier era verdadeiro. Mes- Cosfaa > {polémicas} mo assim, em meio ao trabalho sério, disse haver psicografias armadas. texto publicado na revista Realidade teve enorme repercussao. Além das impresses sobre sua visita ao Centro Espirita da Prece, em Ubera- ba, o repérter relembrou na matéria outras polémicas envolvendo Chi- co Xavier, entre elas o escAndalo provocado por um sobrinho. Em julho de 1958, Amauri Pena Xavier, filho de uma das irmis de Chico, foi até © prédio do jornal Didrio de Minas para fazer uma confissao. O rapaz de 25 anos era um prodigio da juventude espirita, psicdgrafo de textos atribuidos a Castro Alves e Luis de CamGes, mas declarou que tudo era mentira, que as supostas psicografias eram fruto da propria imaginacao e que ele nunca havia estado em contato com o mundo dos mortos. Para piorar a situacao, Amauri disse ainda que o tio tampouco fazia contato com o plano espiritual e que as obras publicadas pelo médium eram fruto da inteligéncia, da leitura e da enorme facilidade que Chi- co tinha de escrever imitando o estilo dos grandes autores. O desabafo ganhou espaco nos prineipais jornais do Pais, tendo o jornal O Globo de 16 de julho de 1958 estampado na capa a manchete “Desmascarado Chico Xavier pelo sobrinho e auxiliar”. ‘Nas semanas seguintes, 0 pai de Amauri disse que 0 filho era “doente da alma” e “dado a bebidas”. O delegado da cidade de Sabara, onde 0 jovem morava, também afirmou que o sobrinho de Chico era alcodlatra e desordeiro. Sem conseguir achar o garoto para uma nova entrevista, a imprensa corren atras de Chico. O médium negou que o sobrinho fosse um auniliar e, apesar de magoado, desejou que o rapaz encontrasse a feli- cidade. Aos poucos, escandalo foi sendo esquecido. Até hoje nao se sabe por que Amauri disse que 0 tio era um farsante, embora_ bidgrafos e pessoas proxi- i ae masa chico temas. Fotéografo flagrou cado que 0 amor por uma moga eatol bono = assessor do de um padre tenham sido 2 ye ° reponsives pela suposta MEdium borrifar confissao. ‘Amauri Pena Xavier te- perfume de rosas ria sido internado em um. ° ° fanatéro pana tatar oa Oar e atribuir coolismo logo depois dos cccindalo, Sem conseguir Presenca de parar de beber, consta que ok nomen de hepatteemws. @Spiritos durante nho de 1961, aos 27 anos. O cpsédio aranhow'a ime G8 psicografias, ouos {polémicas} PRAUDE? gem de Chico e deixou o médium deprimido, convieto de que a cidade de Pedro Leopoldo estava espiritualmente repleta de forgas negativas determinadas a afronté-lo. Um ano depois da polémica, em 1959, 0 nome mais importante do espiritismo brasileiro deixava a terra natal para montar um novo reduto em Uberaba. A desconfianca em torno das psicografias sempre foi uma constante na carreira de Chico Xavier. Quando lancou o seu primeiro livro, Parnaso de Além-Tiimulo, uma compilagio de poemas que dizia ter recebido de Augusto dos Anjos, Cruze Sousa, Olavo Bilae, Artur Azevedo, Casimiro de Abreu e outros autores mortos, o médium viu o seu nome envolto em po- Iémica pela primeira vez, tema de acalorado debate. De um lado, um gru- po cético mostrando incongruéneias na obra dos mortos com relago a0 trabalho feito em vida, De outro, analistas perplexos com a qualidade dos poemas e com a conservacio de caracteristicas particulares dos autores. Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, es- creveu artigo em que reconheceu os estilos dos autores supostamente ouvidos por Chico, brincou com a concorréncia dos mortos e disse que © caso merecia atencéio. Apés sua morte, em 1934, passou a ter textos inéditos publicados pelo médium, que garantia escrever sob ordens do espirito do escritor. Em 1944, a vitiva Catarina Vergolino ¢ os filhos de Humberto de Campos processaram Chico e a Federagao Espirita pela publicacao dos livros atribufdos ao autor. A aco colocou 0 juiz. do caso frente a um dilema inédito e peculiar: se essas obras fossem fraude, Chico deveria ser preso; mas se os textos fossem verdadeiros, a Justiga aceitaria a existéncia de vida apés a morte e precisaria decidir se a vitiva receberia direito autoral pelos livros dita- dos do além. Criticos literdrios e outros interessados analisaram a fundo as obras em questo, ¢ novamente houve divergéncias entre quem via embuste e quem estava cada vez mais convicto de que o médium nao era farsante. Chico, apesar da possibilidade de ir para a cadeia, manteve sua palavra de que tinha contato com o espirito de Humberto de Campos e de todos os outros autores que ja havia psicografado. No fim do ano, a Justiga decidiu que a vitiva s6 tinha direito a receber dinheiro por livros que o marido havia publicado em vida, Com a deci- sao, o juiz tinha encontrado uma safda em que nao era preciso julgar se as psicografias eram ou no ver‘dicas. Chico estava livre para seguir seu trabalho, mas a vit6ria no tribunal nao apagou a exposicao negativa que teve com o caso, principalmente por conta de uma reportagem que a revista O Cruzeiro publicou antes da sentenca. Em agosto de 1944, em meio A Segunda Guerra Mundial, a revista mais prestigiada do Pais na época enviou a Pedro Leopoldo sua melhor dupla - 0 repérter David Nasser e o fotégrafo Jean Manzon - para colher informagGes que pudessem ajudar no julgamento do caso Humberto de {polémic Imagem ePRCOUCHO as} FRAUDE? = STARTS oes | Relea acca = Psicografando, gotta aevrenee mare my Chicoémesmoum | gow leh ste ge ic cea St g (efenomend eee as 4 E (ou um show): =o 8 Be obracgo ae Oespiritodesua E : : faqui, © % movidoa pilha. lat 3 B querendo abraca-lo. « isa eae coe eee Como € possivel, er seminhamie } ie eta areal re esta viva? i Pee ae tee Deuhmiecneyeresss | 5 Fela ait“ ie * Sint re com votitate «xf {E —Segund)'ao'quadrado. lin un Conte Boor eaacEO As zen entando aa yn hidrelétnicn come. fom. Oe" inerroqngbos Parsce gue Sie ae Transtormada. em "Lapse lauder se consomem com avi Campos e desvendar os mistérios que cercavam 0 médium. A verdade 6 que os jornalistas queriam desmascarar Chico Xavier, comprovando que todas suas obras ditas psicograficas eram fraudulentas. ‘Nasser e Manzon foram até a fazenda em que Chico trabalhava, mas nao conseguiram a entrevista. O médium estava sendo protegido por amigos e auxiliares até que o imbroglio judicial tivesse fim. Os reporteres mudaram a tatica, foram até a casa de Chico, disseram ser jornalistas es- trangeiros e, com a mentira, convenceram o médium a abrir as portas e conversar sobre sua mediunidade. Para Chico, o resultado foi desastroso. Logo no inicio da reportagem, Nasser deixa claro que nao conseguiu desvendar o mistério e que por muito tempo, “eternamente”, a diwvida sobre Chico Xavier ser ou nao impostor iria permanecer. Mas o texto é recheado de informacdes que insinuam que o médium era um menti- 1080. Chico seria um devorador de livros, lia um pouco de franeés e in glés e vivia em meio a estantes repletas de obras variadas, inclusive dos autores com quem dizia manter contato. “E pena, entretanto, que ele nao tenha as qualidades artisticas que vao além do terreno literario. Se fosse assim, Pedro Leopoldo teria, senhores, nao apenas 0 psicégrafo Chico, mas também 0 misico Chico, o pintor Chico”, escreveu Nasser. A reportagem afastou 0 médium dos jornalistas por duas décadas. ‘Anos mais tarde, o reporter David Nasser mostraria arrependimento pela reportagem e por ter enganado Chico Xavier. Ele também quebra- ria um pacto de siléncio feito com o fotdgrafo Jean Manzon sobre um episédio intrigante. Ao deixar Pedro Leopoldo, a dupla levou os livros que haviam sido dados pelo médium aos jornalistas “estrangeiros”. Quando chegaram em casa, abriram as obras e viram que na dedicaté- ria constavam seus nomes verdadeiros e a assinatura do espirito Eman- nuel, guia de Chico. 4 {polémicas} JUSTICA = Severs sro Ito poree eon jut Faw ree ts Duar ae Darin abntvenne 0 PRANCIsCO CANDIDO XAVEEE inqaceta ¢ Mien de ativvduces, somente Gant xe vio Tespondesie qual a Goals os Que deveriam ser inseam em on ‘entre os dedon de sar mio Cave cervacin, Oi * bocn weoiaberta Imagem ePRCOUCHO {polémicas} JUSTICA Em 1976, o estudante goiano José Divino Nunes foi acusado de matar um amigo de infiineia, Mauricio Garcez Henrique, com um tiro no peito. Desde oprimeiro depoimento, Divino (a época com 18 anos) alegou que a morte do amigo tinha sido acidental, resultado de uma desastrada e tragica brincadei- rade ambos com um revélver. O processo corria ha mais de dois anos quan- do os pais da vitima receberam uma carta psicografada por Chico Xavier, que alegava nao saber nada sobre 0 caso. Nela, o proprio Mauricio consolava s familiares e eximia seu amigo de responsabilidade pelo acontecido, “José Divino nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincdvamos a respeito da possibilidade de ferir alguém, pela imagem no espelho; sem que o momento fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcangou, sem que a culpa fosse do amigo, ou minha mesmo”, dizia a carta. Comovidos e convencidos da veracidade da carta, os pais levaram 0 papel até as autoridades, acompanhado da carteira de identidade de Mauricio para realcar a semelhanga das assinaturas. Como o relato coincidia com o depoi- mento de José Divino e com os dados da pericia, a carta acabou sendo aceita no processo, em uma decisio inédita e de grande repereussio no meio juridico do Pafs. O jovem terminou absolvido em 1979 - 0 juiz encarregado do caso, Orimar de Bastos, ficou to impressionado que acabou virando espirita. F claro que a decisao causou consideravel rebuligo na Justica brasileira. A principal critica a ela ¢ bvia: como comprovar que o texto escrito por um mé- dium é, na verdade, a declaragao de alguém que ja morreu? Em 2008, foram propostas até novas leis que proibiriam expressamente o uso de documentos psicografados como prova no Brasil. A ideia, porém, nao foi levada adiante. A maioria dos juristas parece ter uma visio mais liberal da questo. Embora cartas psicografadas sejam geralmente descartadas pela Justiga, argumenta- -se que impedir previamente o uso de psicografia como prova seria um modo (ainda que as avessas) de impor uma norma religiosa ao ordenamento jurf- dico. Afinal, 0 Judiciatio é laico - e isso significa ndo apenas estar 2 crengas religiosas, mas também tratar todas elas do mesmo modo. Em resumo, recomenda-se que aceitar ou no provas ps sempre a critério do juiz.- principio que rege todas as evidén¢ brenaturais ou nao. Em defesa do uso de provas do tipo, ha quem diga que 6 possivel aplicar mecanismos coneretos para dar credibilidade a elas. Uma carta psicografada, por exemplo, pode ser submetida a exames grafotécnicos, capazes de comprovar a autoria (mesmo que sobrenatural) de um documento, Em 1990, o perito Carlos Augusto Perandréa analisou uma carta que Chico Xavier teria psicografado em 1978 em nome de Ilda Mascaro Saullo, morta cerea de um ano antes. A mensagem foi ditada em italiano, lingua que Chico dizia nao conhecer. As conclusdes de Perandréa, expostas no li- vro A Psicografia é Luz da Grafoscopia, sao amplamente favoraveis & ve- racidade do fendmeno: segundo ele, foram encontradas “consideraveis e irrefutaveis caracteristicas de génese grifica” a favor da autenticidade da {polémicas} JUSTICA carta, Mas o trabalho do criminologista também foi contestado: para os crit os, ele ignorou varios elementos que apontavam na direg&o contratia, inclusi- veum erro de grafia no nome da filha da desencarnada. Chico Xavier nomeou mulher como Teresa, quando seu nome verdadeiro era Theresa, com h. A deciso no caso dos amigos José Divino e Mauricio pode parecer inusitada, mas nio é isolada. Em junho de 2003, o tabelitio Erey da Sil- va Cardoso, com 71 anos na época, foi morto a tiros. A policia apontou sua amante, Iara Marques Barcelos, como mandante do crime. Ela teria ago ao caseiro do tabeliio, Leandro Almeida, para assassina-lo. Mas, trés anos depois, o caso sofreu uma reviravolta durante julgamento no Tribunal do Jiri de Viamao (RS). A defesa apresentou uma carta que favorecia Iara, psicografada por Jorge José Santa Maria, médium que teria encarnado 0 espirito do tabeliao assassinado. “O que mais me pesa no coracao é ver a Tara acusada desse jeito, por mentes ardilosas como as dos meus algozes”, dizia o texto redigido por Jorge A dentincia contra Iara vinha do proprio caseiro. Ele depois voltou atrés, negando o crime e a encomenda, mas, ainda assim, foi condenado 45 anos e seis meses de prisdo. A tendéncia era que Iara seguisse pelo mesmo caminho. Mas a carta em que a vitima inocentava a acusada foi aceita pelo juiz.e anexada as provas do processo. Tara foi absolvida e, segundo os advogados de defesa, a mensagem teve peso decisivo no julgamento. A prova foi questionada pela promotoria mas a absolvigio foi confirmada em 2009 pelo Tribunal de Justica do Rio Grande do Sul. Segundo os desembargadores, nao havia no simples uso da carta elemento suficiente para desacreditar todo o julgamento. carta que salvou Tara da prisfo, no entanto, limitava-se a dizer que ela era inocente, sem dar nome a nenhum dos supostos “algozes” de Erey - uma in- formacao que seria mais ttil no processo. Essa é a principal critica ao uso da psicografia como prova judicial. Os criminalistas mais céticos argumentam que as mensagens supostamente es- ritas pelos espiritos costumam con- ter informagdes genéricas - ou seja, coisas que qualquer um pode afirmar ‘mesmo sem conhecer os personagens envolvidos ou detalhes dos crimes. ‘Mas vale lembrar que processos com- plexos, como os de assassinato, envol- ‘vem muitos tipos de provas, incluindo pericias e depoimentos de testemu- has. Quando aceitas em julgamento, as psicografias so apenas mais uma das provas - e as sentengas levam em conta um conjunto de argumentos. Psicografia de Chico convenceu pais e inocentou Jovem acusado de ter matadoo amigo. {polémicas} PuasiAsTTERSTOCK {polémicas} CIBNCIA Chico esereveu em vida. O gesto nao era apenas generosidade do médium. Ele dizia que nao havia eserito nenhum livro. “Eles escreveram”, repetia. Deacordo com a ciéncia, Chico nao poderia falar com os mortos, claro. Tudo ‘ier doou todos os direitos autorais dos mais de 400 livros que teria sido produzido pelo seu proprio cérebro. Se ele ouvia vozes, eram vozes produzidas por sua mente. Afinal, a ciéncia mostra que a consciéncia (a men- te, oua alma) 6 fabricada pelo oérebro e est confinada nele. Ou seja, quandoo corpo morre, a conseiéneia desaparece. Nao existem hipéteses cientificas que sustentem a concep¢ao de algum tipo de alma que sobreviva & morte. Mas, diante do actimulo de casos como o de Chico Xavier, que nao foi ex- plicado pelas leis da natureza ou considerado categoricamente como fraude, ‘um grupo de cientistas decidiu questionar a ciéncia-e nao os médiuns. A con- clusao dos pesquisadores esté no livro Irreducible Mind (“Mente Irredutivel”, sem traduco para o portugués). A obra parte da légica de que fenémenos como a mediunidade, a telepatia e experiéncias de quase-morte sao indicios de que o modelo teérico vigente nos meios cientificos é incompleto. Os auto- res defendem uma mudanga na forma de encarar casos como o de Chico: tira -los do campo do folclore e da superstigio e analisé-los. Hoje, so ignorados. Para o grupo coordenado pelo psiquiatra da Universidade da Virgi (EUA) Edward Kelly, a ciéncia vem ignorando um principio cientifico basi- co, 0 da “falseabilidade”, defendido pelo filésofo Karl Popper. Popper dizia que era muito facil - e perigoso - ficar catando evidéncias favoraveis para defender uma tese. Dificil era encontrar 0 argumento que a desmontaria de ver. Para Popper, todo cientista sério deveria estar sempre procurando um furo na sua tese - e nao o contrario. Kelly e seus colegas defendem que a mediunidade pode ser um desses furos - e pode desvendar o mistério da consciéneia, que instiga fildsofos e cientistas ha mais de 2 mil anos. Eles acreditam que parte do problema esta em considerar mente e eérebro uma coisa s6. Em Irreducible, os pesquisadores propéem que o cérebro seja encarado como um aparelho de'TV. A consciéncia seriam seus programas. Um defeito na TV pode alterar a qualidade da imagem, m: mente ocontetido dos programas - eles nao existem apenas dentro daquele aparelho. Ousseja, sem a TV, nao podemos enxergar nosso seriado favorito, mas ele exis- te mesmo assim. S6 nao pode ser assistido. Funcionaria de um jeito parecido com a consciéncia: dependemos do eérebro para percebé-la, mas ela nao esta, segundo a proposta, confiada dentro do aparelho (0 eérebro). Eisso garantiria sua sobrevida além do corpo, abrindo a possibilidade de explicar a ideia de que aa consciéncia segue vagando por ai apés a morte e pode se comunicar com os outras consciéncias, vivas ou nao. Kelly e os colegas nfo sabem dizer se esto certos nem tém provas irrefutaveis a favor dessa concepcio. Eles oferecem a hipotese apenas para sensibilizar seus colegas da psicologia e da neurociéncia. Querem que os cientistas tradicionais questionem suas conviegGes e prestem ais atengio em fendmenos hoje ignorados, como a mediunidade. \s No necessat epirora A Abril Fundada em 1950 Vwezorcwts sowexrota Conseo Editar: Victor Civita Nelo (Presidents, Thomay Souto Cora Vice-Presioent| Flas Mil, Tibio Collet Barbosa, Joe Roberto Guzzo Presidente Abi Miia: Fablo Collet Barbosa resident Eitora Abit Alexandre Calin Dirtor da inanga Gets: Fibio Passi Gallo tor Superintendents de Ainaturs Fernando Crsta Oretorade me Cible Cast Diretora- Superintendent: Helens Hagnol ‘rte dete: Dimas Mito ig Diretor de Redacio Dens uso Burseman Diretor de Arte: ubsiso Minds Redator-chefe: Alsat Veins Editores no Garton, Enilano Urb, Felipe ven Deusen Editor de Arte: org Olive Designers: ivi Passo, nara Nee Pula stare Reprter: Cans Alnelds Estagisra: Luna Sills digi Digital: Priscila ole (dtora deat) ¢ Pamela ass (designe) ld COLEGOES Ector de Arte: ore Onis Colaboraram nesta edigo:Fteta. Aci oral 2 i, Siva Lib a do dare repartge stl), Alexi Tao Sa states) Ed Fosce (asSet Sph Abwils.. dlstrbaidoemtodoopaspelaDinaps. Dseibuktora Naconal ‘dePublcagies Sto Paulo. Chis Xaviernigadmitepubliciaered IMPRESSO NA GRAFICA ABRIL Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagio (CIP) 533 Chico Xavier ~ So Paulo: Abril, 2014. 68 p.: il. color.; 27 em. - (Dossié Superinteressante) ISBN 978-85-364-1810-0 1. Espiritismo/Espiritualismo. 2. Biografia. I. Titulo,

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