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Journal Latinoamericano de Medicina Veterinaria de Emergencia y Cuidados Intensivos

CONDUTA ANESTÉSICA EM FELINO HIDROCEFÁLICO: RELATO DE CASO.


Anesthesia in a cat with hydrocephalus: case report.

Autor:
COELHO, A. P. G.1*; CARNEIRO, R. L.2; LIMA, T. S. 3; BARBOSA, V. F.4
1*
Graduanda em Medicina Veterinária pela União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME), Campus de Lauro de
Freitas, BA, Brasil; Enfermeira Intensivista do Hospital Santa Isabel, Salvador, BA, Brasil. *Autor para correspondência
E-mail: anapgoes1@gmail.com
2
Doutorando em Cirurgia Veterinária pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Jaboticabal, SP, Brasil;
Professor de Anestesiologia e Farmacologia Veterinárias da UNIME, Campus de Lauro de Freitas, BA, Brasil.
3
Médica Veterinária; Residente em Anestesiologia Veterinária pela UNIME, Campus de Lauro de Freitas, BA, Brasil.
4
Professor Adjunto de Anestesiologia e Terapêutica Veterinária da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Campus de
Salvador, BA, Brasil.

JLAVECC ISSN 1688-6100 6(1) 2014, pp 4-9


Recibido 30/09/13 Aceptado 15/10/13
Fecha: 2014-02-01

ABSTRACT
Hydrocephalus is a multifactorial disorder where the change in the hydrodynamics of cerebrospinal fluid (CSF) culminates in accumulation,
ventriculomegaly and possible compression of brain structure superimposed. The animal with hydrocephalus who underwent a surgical
procedure requires anesthesiologist´s strategies that maintain stable systemic hemodynamics, as well as minimize the deleterious effects
on the nervous system. This report describes the anesthetic approaches pre, intra and postoperative used in a cat with hydrocephalus
submited to ovariohysterectomy (OSH) elective, addressing the issues of interest to veterinary neuroanesthesia. The cat was previous
medicated with phenobarbital and received 2mg/kg intravenous tramadol as premedication. After 20 minutes, induction was carried out
with a combination of midazolam (0.2mg/kg) and propofol (0.4ml) intravenously. Then the animal was intubated and anesthetized with
isoflurane, maintained under multiparametric monitoring during surgery. We conclude that the election of neuroprotective drugs and the
prevention of changes in vital signs were essential factors for stability and satisfactory post-surgical recovery of patient.

Keywords: anesthesia, cat, hydrocephalus

RESUMO
Hidrocefalia é uma neuropatologia multifatorial na qual a alteração na dinâmica do líquido cefaloraquidiano (LCR) culmina em seu
acúmulo, na ventriculomegalia e possível compressão da estrutura cerebral sobreposta. O animal hidrocefálico submetido a
procedimento cirúrgico demanda do anestesiologista estratégias que preservem a hemodinâmica sistêmica estável, bem como,
minimizem os efeitos deletérios ao sistema nervoso. Este relato descreve as condutas anestésicas pré, trans e pós-operatórias
utilizadas em uma gata portadora de hidrocefalia submetida à ovariosalpingohisterectomia (OSH) eletiva, abordando-se os aspectos de
interesse para neuroanestesia veterinária. A gata atendida fazia uso prévio de fenobarbital e prednisona e recebeu 2mg/kg de tramadol
intravenoso como medicação pré-anestésica. Decorrido 20 minutos, a indução for realizada com uma associação de midazolam
(0.2mg/kg) e propofol (0.4ml) pela via intravenosa. Em seguida, o animal foi intubado, anestesiado com isofluorano e mantido sob
monitorização multiparamétrica durante a cirurgia. Conclui-se que a eleição de fármacos neuroprotetores e a prevenção de alterações
nos sinais vitais foram fatores essenciais para a estabilidade e a satisfatória recuperação pós-cirúrgica do paciente.

Palavras chave: anestesia, gato, hidrocefalia

INTRODUÇÃO
A hidrocefafia é uma neuropatologia de origem congênita ou adquirida, caracterizada por ventriculomegalia e aumento de volume do
líquido cefalorraquidiano (LCR), associada ou não com alterações na pressão intracraniana (PIC), que pode resultar na perda
compressiva da estrutura cerebral sobreposta1. A circulação liquórica ocorre do sistema ventricular cerebral para o espaço
subaracnóide, no sentido corpóreo céfalo-caudal, tendo produção contínua no gato de 0.17ml/min2.

Em pacientes veterinários, a hidrocefalia congênita é a mais comum, geralmente considerada obstrutiva ou não comunicante, originada
da interrupção parcial ou total do sistema ventricular1–3. Hidrocefalia hereditária tem sido relatada no gato siamês como um traço
autossômico recessivo e pode ocorrer esporadicamente em outras raças de gatos 1.
Na prática cirúrgica de pequenos animais, compete ao anestesiologista que atende o paciente neuropata, o conhecimento da
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fisiopatologia do distúrbio neurológico e possíveis alterações hemodinâmicas concomitantes. A conduta anestésica deve evitar o
desenvolvimento de hipóxia, hipercapnia, hipotermia e instabilidade cardiovascular, bem como prevenir as repercussões indesejáveis
sobre o sistema nervoso central, geradas pelos anestésicos4-5.

Diversos são os fármacos atualmente indicados para cães e gatos acometidos de afecções neurológicas6.

Medicação pré anestésica (MPA), agentes indutores e de manutenção da anestesia geral atuantes na neurotransmissão GABAérgica
servem de artifícios do profissional para fins de sedação, ansiólise, hipnose, neuroproteção e controle convulsivo ou epiléptico,
minimizando os riscos de complicações ao paciente7-6.

O presente relato descrever a eficácia das condutas anestésicas pré, trans e pós-operatórias em um felino portador de hidrocefalia
submetido à ovariosalpingohisterectomia (OSH) eletiva, abordando-se os aspectos de maior interesse para neuroanestesia veterinária.

DESCRIÇÃO DO CASO

Foi atendida no hospital veterinário da UNIME, Lauro de Freitas / BA, uma fêmea felina, sem raça definida de um ano e 1.45 kg,
destinada à OSH eletiva. A paciente apresentou diagnóstico clínico de hidrocefalia desde os três meses de idade (Figura 1), na qual o
quadro convulsivo manifestado vinha sendo controlado pelo uso contínuo de fenobarbital e prednisona.

Na avaliação pré-anestésica, a paciente foi considerada hígida após realização de hemograma completo e bioquímica sérica hepática e
renal. Ao exame físico foram registrados: frequência cardíaca (FC) de 128 batimentos, freqüência respiratória (FR) de 32 movimentos
respiratórios, tempo de preenchimento capilar de dois segundos, temperatura retal (T) de 37.4ºC, sem alterações na ausculta pulmonar e
cardíaca. A classificação de estado físico conforme a Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA) foi ASA III.

Como medicação pré-anestésica foi utilizado tramadol 2mg/kg, por via intravenosa. Decorrido 20 minutos, a indução foi realizada com a
associação de midazolam (0.2mg/kg) e propofol (1mg/kg), ambos pela via intravenosa. Em seguida, o animal foi intubado com sonda
orotraqueal nº 3.0, conectada a um circuito anestésico tipo Mapleson D (Baraka) para o fornecimento de isofluorano 5vol% diluído em
oxigênio a 100%, com um fluxo diluente de 0.5 L/min. Para tanto, empregou-se vaporizador universal ajustado de forma a obter-se o
segundo plano do terceiro estágio segundo Guedel.

Figura 1 - Animal hidrocefálico com aumento do perímetro craniano.


Figura 2 - Animal hidrocefálico monitorado no intra-operatório: 2A - uso de ECG, Oxímetro de pulso, Doppler vascular e Termômetro retal;
2B- conectado em circuito anestésico, com o uso do capnógrafo.

Transcorrida a cirurgia, o animal foi mantido sob monitorização multiparamétrica sendo registrados a cada cinco minutos os
valores de: FC por meio de eletrocardiograma (ECG), saturação de oxigênio da hemoglobina (SpO2), pressão arterial sistólica (PAS)
através do Doppler vascular, temperatura (T) mensurada por termômetro retal. Os valores de FR e dióxido de carbono expirado (ETCO2)
foram obtidos com o uso de capnógrafo (Figura 2).
Ao término da cirurgia, o despertar anestésico ocorreu sem anormalidades, com tempo de extubação de dois minutos após o
término do fornecimento do halogenado. Na alta, a escala de Aldrete modificada teve valor nove.

DISCUSSÃO
O tratamento clínico preconizado para hidrocefalia consiste em terapia medicamentosa prévia com glicocorticosteróides e
barbitúricos. Essa associação reduz a produção de LCR, suprime quadros convulsivos, diminui o metabolismo e o fluxo sanguíneo
cerebral, e consequentemente, evita o incremento da PIC 1-3.
A escolha do opióide atípico tramadol, na dose de 2mg/kg como MPA, garantiu analgesia e discreta sedação, com alterações
cardiorrespiratórias mínimas para o intra-operatório e tem se mostrado eficiente no controle da dor pós OSH em gatas8.
Para indução, optou-se pelo midazolam conjugado ao propofol, o primeiro possui as desejadas propriedades dos
benzodiazepínicos com ação: anticonvulsivante, hipnose, sedação e relaxamento muscular, além de possibilitar concentrações reduzidas
dos agentes inalatórios ou injetáveis empregados. Esses efeitos foram complementados pelo segundo, um anestésico de ação ultracurta
que atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica7.
Para a manutenção anestésica deu-se preferência ao isofluorano, halogenado que na neuroanestesia não modifica o fluxo
sanguíneo cerebral, diminui o consumo de oxigênio e, apesar de estar associado a incremento mínimo da PIC, tal evento pode ser
suprimido pelo uso prévio do barbitúrico9.
A monitorização dos sinais vitais foi uma importante ferramenta no manuseio do paciente anestesiado, tornando possível a
detecção e analise das variações nas funções fisiológicas10. Pode-se afirmar que houve estabilidade, visto que não ocorreram grandes
alterações nos parâmetros vitais monitorados durante os 55 minutos de cirurgia, obtendo-se: FC variando de 100 a 118 bpm, PAS
mínima de 105 e máxima 109 mmHg, SpO2constante em 100%, T inicial de 37.4 e final de 36.8ºC, FR entre 19 e 22 mpm e ETCO2 entre
32 a 34.9 mmHg.

CONCLUSÃO
As condutas anestésicas congregadas demonstraram ser eficazes para o procedimento cirúrgico realizado, mantendo
estabilidade dos sinais vitais, ausência de complicações e satisfatória recuperação pós-operatória do paciente em questão.
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REFERÊNCIAS
1. Podell M. Canine and Feline Hydrocephalus. Compendium’s Standards of Care: Emergency and Critical Care Medicine. 2002; 4 (1):
1-8.
2. Cunningham JG, Klein BG. Textbook of Veterinary Physiology. 4th ed. Amsterdam: Elsevier Science; 2007, pp. 146-165.
3. Coates JR, Axlund T, Dewey CW, Smith J. Hydrocephalus in dogs and cats. Compendium on Continuing Education for the
Practicing Veterinarian 2006; 28 (2): 136-146.
4. Silva SRAM, Neto PIN, Tudury EA, Fantoni DT. Anestesia de cães e gatos com distúrbios neurológicos - artigo de revisão. Clínica
veterinária 2006; 11 (64): 34-46.
5. Godoi DA, Antunes MIPP, Arias MVB. et al. Estudo retrospectivo dos procedimentos anestésicos realizados em cães e gatos
submetidos a neurocirurgias. Semina: Ciências Agrárias 2009; 30 (1): 171-180.
6. Neves IV, Tudury EA, Costa RCda. Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos. Semina:
Ciências Agrárias 2010; 31 (3): 745-766.
7. Forman AS, Chou J, Strichartz GR, Lo EngH. Farmacologia da Neurotransmissão GABAérgica e Glutamatérgica. In. Golan DE,
Tashjian AH, Armstrong EJ, Armstrong AW. Princípios de Farmacologia: A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia, 2ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan ; 2009, pp. 146-165.
8. Caloeiro CB. Comparação do Efeito Analgésico entre Morfina, Tramadol e Buprenorfina em Gatas Submetidas a Ovariossalpingo-
histerectomia Eletiva. Seropédica: UFRRJ, 2008. (Dissertação, Mestrado em Medicina Veterinária)
9. Sosa-Jaime NA. Los halogenados en neuroanestesia. Revista Mexicana de Anestesiología 2004; 7 (1): 158-161
10. Nunes N. Monitoração da anestesia. In: Fantoni DT, Cortopassi SRG. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca; 2002. pp.
64-81.

http://www.journal.laveccs.org

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