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CAPÍTULO 9-MATERIAIS de CONSTRUÇÃO CIVIL e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais - 2017 PDF
CAPÍTULO 9-MATERIAIS de CONSTRUÇÃO CIVIL e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais - 2017 PDF
Editor:
Geraldo C. Isaia
Autores
Akemi Ino ⋅ Albenise Laverde ⋅ Ana Paulo Kirchheim ⋅ André Tavares da Cunha Guimarães ⋅ Antonio Anderson da Silva Segantini ⋅ Antonio
Luiz Guerra Gastaldini ⋅ Antonio Paulo Pereira Filho ⋅ Arnaldo Forti Battagin ⋅ Bianca Barros ⋅ Carlito Calil Juniori ⋅ Carlos Pérez Bergmann
⋅ Cícero Murta Diniz Starling ⋅ Claudio Souza Kazmierczak ⋅ Claudio Vicente Mitidieri Filho ⋅ Claudio Vicente Mitidieri Filho ⋅ Daniel Lopes
Garcia ⋅ David de Oliveira Ballesteros ⋅ Denise Carpena Coitinho Dal Molin ⋅ Edna Possan ⋅ Eduardo Rizzatti ⋅ Eduvaldo Paulo Sichieri ⋅ Elton
Bauer ⋅ Enio Pazini Figueiredo ⋅ Ennio Marques Palmeira ⋅ Fabio Domingos Pannoni ⋅ Fernanda Macedo Pereira ⋅ Fernando Antonio Piazza
Recena ⋅ Fernando Ottoboni Pinho ⋅ Fernando Pelisser ⋅ Fernando S. Fonseca ⋅ Francisco Antonio Rocco Lahr ⋅ Geraldo C. Isaia ⋅ Gihad
Mohamad ⋅ Helena Carasek ⋅ Holmer Savastano Jr. ⋅ Humberto Ramos Roman ⋅ Igor Amorim Beja ⋅ Inês Laranjeira da Silva Battagin ⋅ Jairo
José Oliveira Andrade ⋅ Jane Proszek Gorninski ⋅ João Bento Hanai ⋅ João Henrique da Silva Rêgo ⋅ João Luiz Calmon ⋅ Joaquim Pizzutti
dos Santos ⋅ Johann Andrade Ferrareto ⋅ Jorge Augusto Pereira Ceratti ⋅ Jorge Batlouni Neto ⋅ José Camapum de Carvalho ⋅ José Carlos
Pinto da Silva Filho ⋅ José Eduardo Granato ⋅ José Tadeu Balbo ⋅ Kai Loh ⋅ Khosrow Ghavami ⋅ Lázaro Nardy de Magalhães ⋅ Luiz Eduardo
Teixeira Ferreira ⋅ Luiz Eduardo Teixeira Ferreira ⋅ Márcio Muniz de Farias ⋅ Marco Antônio de Morais Alcantara ⋅ Marco Aurelio d’Almeida
Guerra ⋅ Maria Alba Cincotto ⋅ Maria Heloísa Barros de Oliveira Frascá ⋅ Maria Teresa Paulino Aguilar ⋅ Maristela Gomes da Silva ⋅ Mônica
Regina Garcez ⋅ Nicole P. Hasparyk ⋅ Normando Perazzo Barbosa ⋅ Oswaldo Cascudo ⋅ Paulo Helene ⋅ Paulo Henrique C. de O.
Vasconcelos ⋅ Pedro Afonso de Oliveira Almeida ⋅ Philippe J. P. Gleize ⋅ Romário de Souza Lima ⋅ Romson Romagna ⋅ Rosana Caram ⋅
Salomon Mony Levy ⋅ Saulo Rocha Bragança ⋅ Saulo Rocha Bragança ⋅ Sérgio Brazolin ⋅ Sérgio Francisco dos Santos ⋅ Tibério Andrade
⋅ Tibério Andrade ⋅ Vahan Agopyan ⋅ Valdecir Ângelo Quarcioni ⋅ Vanderley M. John ⋅ Vanessa Gomes ⋅ Viviane da Costa Correia ⋅
Wellington Longuini Repette
São Paulo
2017
Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais
ed. G. C. Isaia. 3ºed. São Paulo, IBRACON, 2017. Volume1.
Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais
ed. G. C. Isaia. 3ºed. São Paulo, IBRACON, 2017. Volume2.
1.745p. 18,6 x 23,3 cm
Inclui referências bibliográficas e aulas em PDF de cada capítulo.
ISBN 978-85-98576-27-5
4. Materiais_arquitetura, engenharia civil e ambiental
Isaia, Geraldo Cechella, ed. III.t.
Materiais de construção. Componentes de construção
CDU nº 691
Copyright© 2017 Geraldo C. Isaia. Todos os direitos de reprodução reservados. Este livro e suas
partes não podem ser reproduzidos nem copiados, em nenhuma forma de impressão mecânica,
eletrônica, ou qualquer outra, sem o consentimento por escrito dos autores e do editor.
Editoração Eletrônica e Diagramação
Arte Interativa
www.arteinterativa.com.br
IBRACON
Instituto Brasileiro do Concreto
Rua: Julieta do Espírito Santo Pinheiro, nº 68
Jardim Olimpia
São Paulo - SP- Brasil
CEP: 05542-120
Telefone: (11) 3735-0202 Fax: (11) 3733-2190
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Impressão
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As informações contidas neste livro foram obtidas pelo autor e pelo IBRACON de fontes consideradas idôneas.
No entanto, nem os autores nem os revisores, muito menos o IBRACON devem ser responsabilizados por quais-
quer erros, omissões ou danos decorrentes do uso indevido destas informações. Este livro é publicado com o
objetivo de fornecer informação técnico-científica, mas não de prestar serviços de engenharia ou outros serviços
profissionais. Se tais serviços forem necessários, um profissional competente deve ser contratado.
Sumário
Seção I Introdução
Cap. 01 Introdução ao estudo da Ciência e da Engenharia
dos Materiais na Construção Civil
Geraldo C. Isaia 1
Cap. 02 Qualidade e Desempenho na Construção de edificações habitacionais
Claudio V. Mitidieri Filho, Marco A. d’Almeida Guerra 33
Cap. 03 Normalização na Construção Civil
Inês L. S. Battagin 79
Cap. 04 Materiais de Construção e o Meio Ambiente
Vanderley M. Johnn 114
Cap. 05 Critérios de Projeto para Seleção de Materiais
Jorge Batlouni Neto 155
Seção IX Polímeros
Cap. 39 Propriedades dos Polímeros
Jairo J. O. Andrade, Edna Possan 1287
Cap. 40 Materiais Betuminosos
Jorge Augusto Pereira Ceratti 1313
Cap. 41 Materiais e Produtos Poliméricos
Enio Pazini Figueiredo, João Henrique da Silva Rêgo 1345
Apêndice
Índice remissivo de assuntos 1696
Instituto Brasileiro do Concreto
CAPÍTULO 9
9.1 Introdução
Sabe-se que, no estudo dos materiais em nível macroscópico, a matéria
pode se apresentar em três estados de agregação: sólido, líquido e gasoso.
Outros tipos de fase, como o estado pastoso ou o plasma, são considerados
de interesse em níveis mais avançados da Física.
No estado sólido, a matéria de um corpo se organiza com forma, volu-
me e posição relativa de suas partículas definidas. Os átomos ou as molé-
culas ficam relativamente próximos e a matéria resiste à deformação, mas
isso não evita que ela ocorra.
Já no estado líquido, a quantidade de matéria e, aproximadamente,
o volume, ficam inalterados, mas a forma do corpo e a posição relativa das
partículas não se mantêm. Sob o enfoque da Mecânica do Contínuo, pode-se
afirmar que a característica essencial de um fluido é a sua incapacidade de
experimentar (no sentido de estar submetido a) tensões de cisalhamento,
quando em condições de repouso (ZIENKIEWICZ; TAYLOR, 1994).
No estado gasoso, apenas a quantidade de matéria se mantém e a for-
ma e o volume variam.
Tratando-se especificamente dos materiais no estado sólido e suas
aplicações na engenharia, interessa conhecer as suas características quan-
to à continuidade, à homogeneidade e à isotropia. Diz-se que um corpo é
contínuo quando não tem cavidades ou espaços vazios de qualquer espécie.
Um corpo é homogêneo quando as propriedades do material são idênticas
em quaisquer pontos. É isotrópico quando as propriedades do material não
Dessa maneira, tudo faz indicar que o divisor de águas entre esses dois
ramos da Ciência é, de fato, a localização da deformação.
3
Entende-se por arrestamento, o impedimento da propagação da fissura.
4
Para mais informações sobre os regimes de ruptura dos materiais, sugere-se uma consulta ao
Capítulo 6.
Figura 1 – Modos de solicitação ao fraturamento: Modo I (A), Modo II (B) e Modo III (C).
Figura 2 – Concentrações de placas de grandes dimensões com furos circular (a) e elíptico (b).
(a) (b)
5
GRIFFITH, A. A. The phenomena of rupture and flow in solids. Philosophical Transactions
of the Royal Society of London, series A, v. 221, p. 163-198, mar. 1920.
(1)
Para a solução do problema de Griffith, adota-se uma função de vari-
áveis complexas (UNGER, 1995) que satisfaz também às condições de con-
torno estabelecidas no problema. Assim, todas as componentes de tensão,
em qualquer ponto próximo à ponta da fissura, ficam determinadas em fun-
ção da distância r e do ângulo q (Figura 3). Para o Modo I de solicitação ao
fraturamento, as tensões são dadas por:
(2)
(3)
(4)
(5)
Uma vez conhecido o tensor de tensão para o modo de fraturamento
de interesse, as tensões principais podem ser calculadas em conformidade
com as equações clássicas da resistência dos materiais. Para o caso plano
tem-se:
(6)
(7)
A Figura 4 ilustra a distribuição das tensões sxx, syy e sxy, além das ten-
sões principais s1, s2 e tmáx para o Modo I de abertura. Para tanto, adotou-se
KI = 100 daN.cm-1,5 e a distância r= 1.00 cm à frente da ponta da fissura. As
tensões apresentadas são expressas em daN/cm2 (FERREIRA, 2015).
(8)
(9)
(10)
(11)
(12)
Nesse caso, sx= sy= sz= txy= 0.
Observa-se, finalmente, que os Fatores de Intensidade de Tensão de-
pendem das dimensões do sólido fissurado, das condições de contorno do
problema (tipo/forma do carregamento e vinculação externa) e da extensão
da própria fissura (BROEK, 1986). Para o Modo I, por exemplo, tem-se que:
(13)
em que s é a tensão externamente aplicada, a é a extensão da fissura e
W é uma dimensão significativa do sólido fissurado. A função adimensional
de dependência geométrica e de condições de contorno f(a;W) é usualmente
determinada para geometrias específicas utilizando-se técnicas numéricas,
como os métodos dos elementos finitos ou dos elementos de contorno. Para
as geometrias comuns submetidas a carregamentos usuais, as funções de
dependência são facilmente encontradas na literatura.
Seja, por exemplo, uma viga bi apoiada com base B, altura W e vão S,
solicitada à flexão em três pontos por uma carga P (carga concentrada cen-
tral), que apresenta uma fissura de extensão a no centro do vão. Nesse caso,
a tensão nominal na região central da viga é dada por:
(14)
A profundidade da fissura, a, normalizada relativamente à altura W
da viga, é a=a/W. A altura W é a dimensão significativa do sólido fissura-
do, uma vez que (W-a) define o que se denomina ligamento, ou seja, a ex-
tensão que ainda está sujeita à fissuração. Combinando as Equações 13 e
14 tem-se:
(15)
Para a determinação do fator de intensidade de tensão, a função f(a)
deve ser calculada para a relação S/W particularmente analisada, uma vez
(16)
⎢⎣ I ⎥⎦ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ (18)
⎡ L⎤ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦
2
⎣⎢ ⎦⎥
Para a utilização de unidades de medida do S.I., resulta da equação
anterior:
−3
K I = Pa m = Nm 2
K I ⎡⎢ r θ ⎛⎜ ⎞⎤
2 θ ⎟⎥
u= ⎢ cos ⎜1− 2ν '+ sen ⎟⎟⎥ (19)
G ⎢ 2π 2 ⎜⎜⎝ 2 ⎟⎠⎥
⎣ ⎦
K I ⎡⎢ r θ ⎛⎜ ⎞⎤
2 θ ⎟⎥
v= ⎢ sen ⎜ 2− 2ν '− cos ⎟⎟⎥ (20)
G ⎢ 2π 2 ⎜⎜⎝ 2 ⎟⎠⎥
⎣ ⎦
K II ⎡⎢ r θ ⎛⎜ ⎞⎤
2 θ ⎟⎥
u= ⎢ sen ⎜ 2− 2ν '+ cos ⎟⎟⎥ (21)
G ⎢ 2π 2 ⎜⎜⎝ 2 ⎟⎠⎥
⎣ ⎦
K I ⎡⎢ r θ ⎛⎜ ⎞⎤
2 θ ⎟⎥
v= ⎢ cos ⎜−1 + 2ν '+ sen ⎟⎟⎥ (22)
G ⎢ 2π 2 ⎜⎜⎝ 2 ⎟⎠⎥
⎣ ⎦
K III ⎡⎢ 2r ⎤
θ⎥
w= ⎢ sen ⎥ (23)
G ⎢ π 2⎥
⎣ ⎦
F = U + W (25)
Π =U − F +W (26)
∂Π ∂
=
∂a ∂a
(
U − F +W = 0 ) (27)
e
∂ ∂W
∂a
(
F −U = )
∂a
(28)
1 ∂
G= ⋅
B ∂a
(
F −U
) (29)
1 ∂ 1 ⎛ ∂v ∂U ⎞⎟
G=
B ∂a
( )
F −U = ⎜⎜⎜ P − ⎟⎟
B ⎜⎝ ∂a ∂a ⎟⎠
(30)
1 1 (31)
U= Pv = C P 2
2 2
e
∂ν ∂ ∂P ∂C
= (C P ) = C +P (32)
∂a ∂a ∂a ∂a
1 ⎛⎜ ∂v ∂U ⎞⎟ 1 ⎛⎜ ⎛⎜ ∂P ∂C ⎞⎟ 1 ⎛⎜ ∂P ⎞⎞
2 ∂C ⎟⎟
G= ⎜⎜ P − ⎟⎟ = ⎜⎜ P ⎜C + P ⎟⎟ − ⎜2CP + P ⎟⎟⎟⎟ (33)
B ⎜⎝ ∂a ∂a ⎟⎠ B ⎜⎝ ⎜⎜⎝ ∂a ∂a ⎟⎠ 2 ⎜⎜⎝ ∂a ∂a ⎟⎠⎟⎟⎠
P 2 ∂C
G= (34)
2B ∂a
Da mesma maneira, pode-se escrever que:
1 ⎛⎜ ∂v ⎞⎟ 1 ⎛⎜ ∂U ⎞⎟
G= ⎜P ⎟⎟ = ⎜ ⎟⎟ (35)
2B ⎜⎜⎝ ∂a ⎟⎠ B ⎜⎜⎝ ∂a ⎟⎠
1 ∂P 1 ⎛ ∂U ⎞⎟
G =− v = − ⎜⎜⎜ ⎟⎟ (36)
2B ∂a B ⎜⎝ ∂a ⎟⎠
(37)
em que E’=E para o estado plano de tensão (EPT) e E’=E/(1-n2) para o estado
plano de deformação (EPD). Para o Modo III:
(38)
(39a,b)
(40)
e
(41)
(42)
(43)
(44)
e observando que a tensão efetiva de escoamento, seq, é dependente do grau
de confinamento, pode-se proceder às análises dos diferentes estados pla-
nos. Para q = 0, as tensões principais são dadas por:
(45)
(46)
De maneira análoga, estuda-se o estado plano de tensão. Nesse caso,
a tensão s3 será nula, implicando que FCP= 1. O equacionamento anterior
As Figuras 6b e 6c ilustram, esquematicamente, a distribuição de tensões
para EPD e EPT, bem como as extensões da zona de processos inelásticos
em cada um dos casos. Para considerar a transição entre EPT e EPD à fren-
te da ponta da fissura, dado que, na superfície do sólido o EPD não pode ser
totalmente assumido, adota-se , o que conduz a:
(48)
A Equação 47 permite inferir que a extensão da zona de processos inelás-
ticos para o EPT (chapas finas, por exemplo) é várias vezes maior em com-
paração ao estado plano de deformação (Figuras 6b e 6c). Permite concluir
também que, em estado plano de tensão, a dissipação energética associada
à formação da ZPI (Zona de Processos Inelásticos) é muito superior.
Nesse caso, a resistência ao fraturamento também o será, dado que grande
parte da energia potencial elástica ou energia de deformação será dissipada
com a danificação prévia do material, antes mesmo que a propagação da
fissura tenha lugar. Com efeito, a tenacidade ao fraturamento avaliada em
EPD é menor que aquela avaliada em EPT.
Por outro lado e devido ao confinamento do material, em EPD, as tensões
na região à frente da ponta da fissura podem alcançar o triplo da tensão de
escoamento. Decorrência disso, a resistência ao fraturamento, nesse caso,
será menor.
A Figura 7 ilustra corpos de prova do tipo compact tension (CT) en-
saiados na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade
Estadual de Campinas.
2
⎛ K ⎞⎟
⎜
( )
a; B; W − a ≥ 2,5⎜⎜ IC ⎟⎟⎟
⎜⎜ f ⎟
(49)
⎝ y ⎠
aef = a + rp (50)
(51)
que conduz a:
(52)
As expressões para os fatores de intensidade de tensão devidos às ten-
sões de fechamento e ao carregamento externo podem ser encontradas na
literatura (Broek, 1986). A consideração dessas expressões nas Equações 51
e 52 conduzem a:
(53)
(54)
›
OH, 1983; SHAH; SWARTZ; OUYANG,1995).
A banda ou região de microfissuração é usualmente modelada pela
adoção de uma simples interface, dita coesiva, cuja principal característica
é a habilidade de transmissão de tensões entre as faces da fissura.
Essa propriedade, de certa maneira caracteriza a ruptura quase frágil
e espelha o ganho de tenacidade do material, dado que uma parcela com-
plementar de energia deve ser dissipada para a redução progressiva (no
sentido de destruição) da interface coesiva durante a ruptura, o que serve
de fundamento para o modelo de amolecimento adotado para o concreto
(HILLERBORG,1985).
Em tese, a extensão dessa interface é uma propriedade intrínseca do ma-
terial e associa-se a parâmetros específicos da sua estrutura. Entretanto, a
extensão total da fissura (fissura visível acrescida da extensão da interface
coesiva), em princípio, é indeterminada, o que torna o problema fortemente
não linear.
9.7
Análise da ruptura do concreto e de outros materiais
cimentícios
Para o estudo da ruptura quase frágil, analisa-se inicialmente um só-
lido pré-fissurado, solicitado ao fraturamento, bem como o diagrama car-
ga versus deslocamento decorrente do procedimento, conforme se ilustra
na Figura 9.
›
(1990), denominado Modelo do Efeito de Escala. Esse modelo considera a
extrapolação das respostas da Taxa Crítica de Liberação de Energia, a es-
truturas de dimensões infinitas e relaciona essa taxa à escala estrutural
(FERREIRA, 2015).
Dentre os modelos denominados coesivos, o que ganhou maior popu-
laridade foi o modelo idealizado por Hillerborg (1976, 1985), denominado
Modelo da Fissura Fictícia.
Nesse modelo, uma questão importante reside na escolha adequada da
relação tensão-abertura s-w. As relações s-w mais simples são as relações
lineares e as bi lineares, ilustradas na Figura 11. Para o fraturamento no
Modo I, de abertura, tem-se (SHAH; SWARTZ; OUYANG, 1995):
Relação Linear
(55)
com wC variando entre 0,01 e 0,04 mm.
Relação Bi linear
w
σ (w) = ( )
f − σ 1 para w ≤ w1
w1 t
(56)
e
⎛ w −w ⎞⎟
σ (w) = σ 1 ⎜⎜⎜ 1 ⎟
⎟ para w ≤ w1 . (57)
⎜⎝ wc −w1 ⎟⎟⎠
Essa relação é recomendada pelo CEB-FIP (1990). Nesse caso, wC va-
ria em função da dimensão característica do agregado, Fmáx, de acordo com
a Tabela 3.
σ 1 = 0,15ft (58)
0,95
⎛ G ⎞⎟
⎜
GF − 22wc ⎜⎜ F ⎟⎟⎟
⎜⎝ kd ⎟⎠
w1 = (59)
0,95
⎛ G ⎞⎟
⎜
150⎜⎜ F ⎟⎟⎟
⎜⎝ kd ⎟⎠
com:
GF = kd fC0,7 (60)
Energia de fraturamento, GF
A determinação da energia de fraturamento faz uso de uma técnica
bastante simples que consiste na determinação do trabalho necessário à
completa ruptura de uma secção transversal entalhada. A energia de fra-
turamento, em termos unitários, é obtida dividindo-se o trabalho realizado
pela carga até a ruptura do corpo, no sentido dado por Clapeyron, pela área
da seção fraturada.
O método foi proposto na década de 1980 por Hillerborg (1985), um
dos precursores da Mecânica da Fratura do concreto. Por sua simplicidade,
a metodologia proposta foi largamente aplicada, tendo sido sugerida pela
RILEM (1985) para determinação da energia de fraturamento como parâ-
metro de resistência dos concretos e das argamassas.
Posteriormente, com o desenvolvimento mais acelerado da Mecânica
da Fratura do concreto, diversos pesquisadores concluíram que a energia de
fraturamento assim obtida é fortemente dependente de escala, o que invia-
bilizaria, ao menos em tese, a aplicação irrestrita do método.
Fundamentação do método
Para o estudo do método proposto por Hillerborg (1985), analisa-se o
colapso de um sólido fissurado submetido a um ensaio de tração uniaxial,
no qual o carregamento é aplicado em ciclo fechado com as respostas de
deslocamento. Para tanto, duas posições distintas são monitoradas ao longo
da ruptura, utilizando-se dois transdutores de deslocamentos. A primeira
dessas posições, designada A, situa-se na região não fissurada do sólido, e
a segunda, designada B, situa-se na região da fissura, como ilustrado na
Figura 12.
Na posição A, os deslocamentos são simplesmente registrados. Os des-
locamentos registrados em B servem também para controlar a aplicação da
carga.
A resposta global dos deslocamentos do sólido ao longo da ruptura
também é apresentada na Figura 12. Essa resposta refere-se às aquisições
do transdutor posicionado em B. Nessa posição, observa-se o crescimento
dos deslocamentos com o aumento da carga, até que se alcance a carga de
instabilidade, ou seja, a carga máxima do ensaio.
Durante o processo de carregamento até a carga máxima, o transdutor
posicionado em A registra os deslocamentos, que também são crescentes.
(a) (b)
1 δ
GF =
AL ∫ 0
P(δ )dδ (61)
W0 +W1 +W2
GF = (62)
AL
EGF
lch = (63)
ft2
em que E é o módulo de Young, GF a energia de fraturamento e ft, a resis-
tência à tração do material.
Essa grandeza decorre de uma aproximação do fraturamento elástico
-linear, em que a relação entre K e G é considerada, ou seja:
K12 σ 2a
G= = (64)
E' E'
ou
E 'G (65)
a=
σ2
3
P ⎛S⎞
E = i ⎜⎜⎜ ⎟⎟⎟ ν α 0 ( ) (66)
4δ i B ⎝⎜W ⎟⎠
em que Pi e di são valores quaisquer da carga aplicada e do deslocamento
correspondente.
A utilização de um conjunto de pontos que se situe dentro do intervalo
linear, o que se obtém por meio da realização de uma regressão linear, con-
duzirá a resultados mais consistentes para o módulo E. O intervalo linear é
comumente definido em função da carga máxima do ensaio, Pmáx.
As respostas inferiores a 10% de Pmáx, usualmente são descartadas em
virtude das acomodações sofridas pelo corpo de prova na fase inicial do en-
saio.
Da mesma maneira, descartam-se os valores superiores a 30 ou 40%
de Pmáx, a depender da natureza do material, dado que, nesse estágio, as
respostas Pi - di, via de regra já ocorrem na fase não linear do ensaio.
A função de dependência na geometria e condições de contorno, v(a0) é
dada pela Equação 67:
ν (α 0 ) = a + bα 0 + cα 02 + dα 03 + eα 04 + f α 05 (67)
Pi 1
= (70)
CMODi Ci
decorre
6Sα 0
E=
Ci BW
g α0 ( ) (71)
( )
g α = a + bα + cα 2 + dα 3 + eα 4 + f α 5 (0,05 ≤ α ≤ 0,65)
(72)
3 S πa
S
K IC =
2
(
Pmax + 0,5w
BW 2
)
f α ef ( ) (76)
(
6 Pmax + 0,5w Saef) ⎛ a a ⎞⎟
⎜
CTODC =
EW 2 B
( )
g α ef h ⎜⎜ 0 ; ef ⎟⎟⎟
⎜⎜ a W ⎟
(77)
⎝ ef ⎠
1
⎛ a a ⎞⎟ ⎡ ⎛ ⎛ a ⎞⎟⎞⎟ ⎤ 2
⎜⎜ 0 ef ⎟ ⎢ ⎜⎜ ⎜ ⎥
( )
2
⎜⎜ a W ⎟ ⎢ (
⎜⎜ )
h ⎜ ; ⎟⎟ = ⎢ 1− β0 + ⎜1,081−1,149⎜⎜ ef ⎟⎟⎟⎟⎟⎟ β0 − β02
⎜⎜ W ⎟⎟⎟
⎥
⎥
(78)
⎝ ef ⎠ ⎢⎣ ⎝ ⎝ ⎠⎠ ⎥⎦
e
a0
β0 = (79)
aef
Figura 17 – Ensaio de flexão em três pontos: Corpo de prova instrumentado para aquisição do
CMOD e d. Ensaio de fraturamento realizado pelos autores na EESC-USP.
9.8 Conclusões
No presente trabalho, que se caracteriza pela natureza essencialmente preli-
minar, procurou-se abordar os conceitos fundamentais da mecânica da fratu-
ra para que fosse possível, subsequentemente, um entendimento também pre-
liminar dos conceitos básicos dos mecanismos de fraturamento do concreto.
Mesmo que se tenha procurado guardar certo equilíbrio entre esses temas,
os quais se entrelaçam, seria virtualmente impossível exaurir ambos os as-
suntos (ou mesmo um deles) em um capítulo de livro.
Com esse entendimento, aos leitores interessados, os autores sugerem uma
leitura preliminar da bibliografia apresentada, com vistas a um aprofunda-
mento posterior nesse campo, o qual parece bastante promissor em futuro
bastante próximo.
Se, realmente conseguirmos entender os mecanismos de danificação,
fraturamento e colapso, certamente estaremos avançando consisten-
temente na direção que possibilita o projeto de estruturas seguras e,
ao mesmo tempo, econômicas.
9.9 Referências
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Strain Fracture Toughness of Metallic Materials. ASTM-E 399, Book of ASTM Standards,
Philadelphia (USA): ASTM, 2011.
BAZANT, Z.; OH, B.H. Crack band theory of concrete. Materials and Structures, v. 16, n. 93, p.
155-177, 1983.
BAZANT, Z. P.; KAZEMI, M. T. Determination of fracture energy, process zone length and
brittleness number from size effect, with application to rock and concrete. International Journal
of Fracture, v. 44, n. 2, p. 111-131, 1990.
CEB-FIP Model Code. Belletin d’Informacion. n. 190a, 190b. Comite Euro-International du Beton.
Lausane (Suíça): CEB, 1990.
CHEN, W. F.; HAN, D. J. Plasticity for Structural Engineer. New York (USA): Springer-Verlag,
1988.
HILLERBORG, A. The theoretical basis of a method to determine the fracture energy GF of concrete.
Materials and Structures, v. 18, n. 4, p. 291-296, 1985.
_______; MODÉER, M.; PETERSSON, P. E. Analysis of crack formation and crack growth in concrete
by means of fracture mechanics and finite elements. Cement and Concrete Research, v. 6, n.
6, p.773-782, 1976.
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Mechanics, v 111, n. 10, p. 1227-1241, 1985.
KANNINEN, M. F.; POPELAR, C. H. Advanced Fracture Mechanics. New York (USA): Oxford
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KARIHALOO, B. L.; NALATHAMBI, P. An improved effective crack model for the determination of
fracture toughness of concrete. Cement and Concrete Research, v. 19, n. 4, p. 603-610, 1989.
RILEM TECHNICAL COMMITTEE 89-FMT. Fracture Mechanics of Concrete – Test Methods; Draft
Recommendation. Determination of fracture parameters (KSIC and CTODC) of plain concrete
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UNGER, D. J. Analytical Fracture Mechanics. New York (USA): Dover Publications Inc, 1995.
ZIENKIEWICZ, O. C.; TAYLOR, R. L. The Finite Element Method: Solid and Fluid Mechanics,
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