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Geociências
Comportamento geotécnico
dos solos tropicais
Edir E. Arioli
2016
Sumário
Introdução 2
Solos lateríticos 4
Solos saprolíticos 6
Colúvios 7
Aluviões 8
Referências 14
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Introdução
Classificação de solos
Desenvolvidas a partir da taxonomia agronômica, as classificações de solos para os
fins de geologia de engenharia foram elaboradas com o objetivo de prever o
comportamento dos solos compactados e em estado natural, usados como subleito em
obras viárias (GRECO, 2012). A classificação geotécnica mais utilizada é a USCS
(Unified Soil Classification System), proposta por CASAGRANDE (1947), na América
do Norte e com finalidade de uso na engenharia de estradas. Baseada na versão
original de ATTERBERG (1908), esta classificação usa dados granulométricos para
caracterização das frações areia e silte, e os limites de liquidez, de plasticidade e de
contração para a fração argila. Ela serviu de base para as classificações inglesa
(BSCS, 1950) e francesa (SCHON, 1965), sendo adotada atualmente no mundo inteiro.
Uma limitação destas classificações, para o nosso interesse prático, está na sua
origem norte-americana, onde os solos se desenvolvem sob condições de clima
temperado. Os solos brasileiros, formados em clima tropical, requerem classificações
próprias, ensaios adaptados e interpretações condizentes com a nossa realidade
natural. As classificações de origem norte-americana não se aplicam com segurança
aos solos tropicais, porque o comportamento geotécnico da fração fina é muito
diferente. Três limitações importantes restringem o uso das classificações e dos
ensaios de origem norte-americana à caracterização do comportamento geotécnico dos
solos tropicais:
- Os resultados dos ensaios geotécnicos não são repetíveis, isto é, dão valores
muito discrepantes quando os ensaios são repetidos nas mesmas amostras,
principalmente no que diz respeito aos limites de Atterberg e às curvas
granulométricas.
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- Não há correlação entre os resultados dos ensaios geotécnicos e as
propriedades esperadas dos grupos de solos que esses mesmos ensaios classificam,
principalmente no que diz respeito às propriedades mecânicas e hidráulicas.
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Classificação geotécnica dos solos tropicais
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A International Society for Soil Mechanics and Foundation Engineering propôs
uma classificação para os solos residuais tropicais (ISSMFE, 1985), dividindo-os em
lateríticos e saprolíticos. Os primeiros são mais superficiais, maduros e
geotecnicamente estáveis do que os saprolíticos, que são solos jovens, instáveis e
subjacentes aos primeiros, nos perfis completos de solos residuais. A classificação
utilizada neste projeto é baseada nesta e complementada pelos solos transportados,
estes divididos em função dos agentes de transporte que ocorrem em nosso ambiente
natural, isto é, excluindo o transporte eólico e por geleiras.
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Solos saprolíticos
Solos lateríticos
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química e mecânica conferida por esses constituintes, que envolvem os argilo-minerais
cauliníticos, também mais estáveis do que os que ocorrem nos solos saprolíticos. Das
suas propriedades geotécnicas, são mais evidentes a baixa erodibilidade e os baixos
limites de liquidez e plasticidade.
Colúvios
Segundo SILVA et al. (2002), não é fácil distinguir entre colúvio e solo residual
maduro. LACERDA & SANDRONI (1985) lembram que os colúvios são formados por
movimentos de massa apenas localmente, porque na maioria dos casos eles são
formados por rolamento e rastejo de materiais detríticos. Duas propriedades
geotécnicas dos colúvios interessam de forma especial ao estudo dos movimentos de
massa: fluência sob pressão constante e rede de fluxo bem estabelecida em períodos
chuvosos.
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vertical maior do que a horizontal, as camadas superiores dos depósitos coluvionares
favorecem a infiltração rápida da água superficial. Onde o colúvio recobre solo residual,
este é menos permeável e funciona como barreira hidráulica, acumulando água na
base do depósito transportado, reduzindo as suas propriedades geotécnicas e
provocando movimentos de massa.
Aluviões
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Propriedades geotécnicas dos solos tropicais
Resistência ao cisalhamento
Formada pela coesão (c) e pelo ângulo de atrito interno (Φ) e varia em função do
tipo de material, das condições hidrogeológicas, das tensões deformantes e do tempo
de carregamento. A sua equação é:
Ƭ = c + σn tgΦ
em que:
Ƭ = resistência ao cisalhamento
c = coesão
σn = tensão normal ao plano da amostra
Φ = ângulo de atrito interno
Ela pode ser obtida rapidamente por ensaios de cisalhamento direto ou triaxial.
O primeiro é mais simples, mas mascara o comportamento geotécnico de materiais
heterogêneos, e o ensaio triaxial é mais completo e confiável. A resistência ao
cisalhamento pode ser determinada sob três condições de ensaio, compatíveis a
diferentes tipos de comportamento geotécnico:
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Resistência residual, quando os valores são medidos após a fase de pico das
tensões aplicadas, reproduzindo condições de deformações permanentes, tais como
em zonas de falhas e solos residuais com planos de fraqueza reliquiares.
Condutividade hidráulica
O coeficiente de condutividade hidráulica é usado como sinônimo de
permeabilidade, que é controlada conjuntamente pelos seguintes atributos: tamanho de
partículas, índice de vazios, composição mineralógica, estrutura e grau de saturação.
Granulometria
A fração argilosa é responsável pela coesão, devido a interações físico-químicas
entre as lamelas dos argilo-minerais, propriedade que confere resistência à ruptura e
plasticidade dos solos tropicais. As propriedades geotécnicas são diferentes em cada
espécie de argilo-mineral:
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- argilas cauliníticas são estáveis em presença de água e não têm plasticidade;
Índices físicos
Porosidade (n) é a percentagem do volume de vazios em relação ao volume
total de uma amostra de solo. Varia de 0 a 1.
n = Vv / Vt (%)
solo. Varia de 0 a ∞.
e = Vv / Vs
Sr = Vw / Vv (%)
w = Pw / Ps (%)
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Peso específico natural (Ϫn) é a relação entre peso total e volume total de uma
amostra de solo, medida em g/cm3.
Ϫn = Pt / Vt = Ps + Pw / Vs + Vv
δ = Ϫs = Ps / Vs
Ϫw = Pw / Vw
Índices de consistência
O solo pode apresentar-se nos seguintes estados físicos:
Limite de liquidez (LL) é o teor de umidade abaixo do qual o solo perde forma e
resistência ao cisalhamento. Acima deste limite inicia o estado plástico.
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LC LP LL
IP = LL - LP
IC = LL - h / IP = LL - h / LL - LP
IC Consistência
<0 De vaza
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Referências bibliográficas
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Tipos Definição Atributos Comportamento
diagnósticos
Comportamento geotécnico e hidráulico dos solos tropicais, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006)
Planossolos Solos hidromórficos com contatos nítidos entre horizontes A, Argila de alta atividade.
E e B prismático. Adensamento de argilas forma horizonte
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plânico (esbranquiçado e endurecido) abaixo de B. Várzeas Permeabilidade baixa.
e depressões, mesmo em grandes altitudes.
Solos pouco desenvolvidos, rasos, com > 90% do volume Sem argila, exceto onde
formado por fragmentos de rocha e minerais primário, sem derivam de folhelho.
um horizonte B desenvolvido: A direto sobre horizonte C ou Permeabilidade e
Neossolos Inconsistente
rocha. Neossolos litólicos associam-se aos cambissolos em fragilidade ambiental alta.
terrenos acidentados. Ocupam 22% do território do Paraná, Inadequados como filtros
raros na região Noroeste. de poluentes.
Vertissolo
Neossolo Plintossolo Chernossolo
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O relevo condiciona o tipo de solo: latossolo em terreno plano, nitossolo em terreno ondulado,
cambissolo e neossolo em terreno acidentado, gleissolo em várzea.
Por isto, a primeira observação deve ser da paisagem: tipo de relevo, cobertura vegetal e localização da
drenagem.
Estrutura prismática: indica alta reatividade das argilas, de modo que o fendilhamento aumenta com a
reatividade.
SOLOS RESIDUAIS
a) SOLOS DE ALUVIÃO
· São transportados e arrastados pela água.
· Sua constituição depende da velocidade das águas no momento de deposição, sendo encontrado
próximo às cabeceiras material mais grosseiro e o material mais fino (argila) são carregados a maiores
distâncias.
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· Existem aluviões essencialmente arenosos, bem como aluviões muito argilosos, comuns nas várzeas
dos córregos e rios.
· Estes solos apresentam baixa capacidade de suporte (resistência), elevada compressibilidade e são
susceptíveis à erosão.
· Apresentam duas formas distintas: terraços (ao longo do próprio vale do rio) e planícies de inundação
(forma depósitos mais extensos).
· São fontes de materiais de construção, mas péssimos materiais de fundação.
b) SOLOS ORGÂNICOS
· Formados em áreas de topografia bem caracterizada (bacias e depressões continentais, nas baixadas
marginais dos rios e baixadas litorâneas).
· Mistura do material transportado com quantidades variáveis de matéria orgânica decomposta.
· Normalmente são identificados pela cor escura, cheiro forte e granulometria fina.
· Quando a matéria orgânica provém de decomposição sobre o solo de grande quantidade de folhas,
caules e troncos de plantas forma-se um solo fibroso, essencialmente de carbono, de alta
compressibilidade e baixíssima resistência, que se chama turfa. Provavelmente este é pior tipo de solo
para os propósitos do engenheiro geotécnico.
c) SOLOS COLUVIAIS
· O transporte se deve exclusivamente à gravidade e o solo formado possui grande heterogeneidade.
· São de ocorrência localizada, geralmente ao pé de elevações e encostas, provenientes de antigos
escorregamentos.
· Apresentam boa resistência, porém elevada permeabilidade.
· Sua composição depende do tipo de rocha existente nas partes elevadas.
· Colúvio: material predominantemente fino.
· Tálus: material predominantemente grosseiro.
d) SOLOS EÓLICOS
· Formados pela ação do vento e os grãos dos solos possuem forma arredondada.
· É o mais seletivo tipo de transporte de partículas de solo.
· Não são muito comuns no Brasil, destacando-se somente os depósitos ao longo do litoral.
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Títulos do mesmo autor disponíveis na plataforma Scribd
Sobre o Autor
Edir E. Arioli é geólogo pela UFRGS (1969), doutor em Geologia pela UFPR
(2008), especialista em Gestão Tecnológica (1990) e Engenharia da Qualidade
(1991) pela PUC/PR. Dedica-se à produção de materiais paradidáticos para
uso de professores e estudantes de Ciências da Natureza. Email:
earioli@yahoo.com.br.
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