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Série Paradidática

Ecologia Aplicada

Dinâmica do clima
na escala do planeta

Edir E. Arioli

2022

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Sumário
A atmosfera terrestre 2
Evolução da atmosfera 2
Estrutura e composição 4
Dinâmica do clima na Terra 10
Circulação termohalina dos oceanos 15

1
A atmosfera terrestre

Evolução da atmosfera

A o longo dos 4,5 Ba (bilhões de anos) de história da Terra, a atmosfera


passou por muitas modificações químicas e físicas, que vale a pena
conhecer para melhor entendimento da importância do seu estágio atual
para a biosfera. A National Oceanic and Atmospheric Administration
(NOAA) caracteriza a evolução da atmosfera terrestre em três estágios,
nomeados simplesmente Atmosferas #1, #2 e #3. Acrescentamos a cada
estágio uma palavras-chave para ilustrar de alguma forma a natureza das
suas propriedades físico-químicas.
Atmosfera #1 – combustível. Nos primeiros milhões de anos do
planeta, a atmosfera era composta essencialmente por hidrogênio, hélio o
metano, os gases primordiais do nosso sistema solar. O hidrogênio e o
metano são altamente inflamáveis e o hélio é um gás inerte. Por isso, a
principal característica da atmosfera primordial do nosso planeta era a
extrema facilidade de combustão.
Não havia no ar oxigênio em quantidade comparáveis com as atuais, de
modo que ainda não existia a camada de ozônio que nos protege contra os
raios cósmicos, e o sol era cerca de 40% mais ativo do que atualmente. Esta
combinação de fatores produziu uma atmosfera altamente redutora e rica
em hidrogênio, metano e amônia. A forte radiação solar provocou a
transformação dos dois últimos gases em gás carbônico (dióxido de
carbono) e nitrogênio. O que dá para imaginar é que se tratava de uma
atmosfera muito mal cheirosa, com forte odor de ovo podre.

2
Fonte: NOAA
Atmosfera #1 – combustível.

Atmosfera #2 – sufocante. Esgotado o estoque de hidrogênio e hélio na


atmosfera e antes do surgimento da vida no planeta, a sua composição era o
produto exclusivo da atividade vulcânica. A crosta terrestre era delgada e
descontínua, em fase inicial de formação na superfície do planeta ainda
muito aquecido. Por isso, o vulcanismo era intenso, contínuo e gerava
enormes volumes de lava e gases, principalmente vapor d’água, dióxido de
carbono, gás sulfídrico e amônia. Consequentemente, a nossa atmosfera
continuava acima de tudo extremamente mal cheirosa e sufocante para o
nosso olfato civilizado...
Os primeiros seres vivos eram unicelulares, cianobactérias que começaram
a realizar a fotossíntese, processo consumidor de gás carbônico e produtor
de oxigênio. Enquanto as bactérias povoavam lentamente as águas que
recobriam a primitiva crosta terrestre, por pelo menos 1 Ba, a concentração
de oxigênio no ar não chegava a 0,01% dos teores atuais.

3
Fonte: NOAA
Atmosfera #2 – sufocante.

Atmosfera #3 – oxidante. Com a superfície terrestre já dividida entre


enormes massas continentais e oceânicas, e com os seres vivos ocupando-as
cada vez mais extensamente, a atmosfera passou a depender
principalmente dos processos biológicos para atingir a composição atual.
Enquanto os vegetais absorvem gás carbônico e liberam oxigênio pela
fotossíntese, os animais fazem o contrário pela respiração. Como por
muitos milhões de anos a vida na Terra foi dominada, em termos de
volume, pelos organismos vegetais, a composição acabou se estabilizando
nas proporções hoje conhecidas de 71% de nitrogênio, 28% de oxigênio e
traços de outros gases, inclusive gás carbônico. Com tanto oxigênio em sua
composição, a atmosfera que respiramos hoje é mais do que tudo oxidante.
As moléculas de amônia foram quebradas pela radiação solar, liberando
nitrogênio e hidrogênio. Sendo o mais leve dos elementos químicos, o
hidrogênio concentrou-se nas camadas superiores e em grande parte
dispersou-se no espaço. Na estratosfera, a radiação ultravioleta emitida
pelo Sol interagia com as moléculas de oxigênio, quebrando-as em dois
átomos de oxigênio. Os átomos de oxigênio liberado passaram a unir-se às
moléculas de oxigênio (O2), formando o ozônio (O3) cuja camada protege
os seres vivos da Terra contra os efeitos nocivos dos raios cósmicos.

4
Fonte: NOAA
Atmosfera #3 – oxidante.

Estrutura e composição
A atmosfera é formada por cinco camadas: troposfera, estratosfera,
mesosfera, termosfera e exosfera. A troposfera é a única camada em que os
seres vivos podem respirar normalmente. Cada uma dessas camadas
apresenta condições bastante diferentes de temperatura, pressão e
densidade, utilizadas como critério para identificá-las. Entre as quatro
primeiras camadas existem zonas de transição, denominadas
tropopausa, estratopausa e mesopausa. A exosfera é considerada uma
zona de transição entre a termosfera e o espaço interplanetário.
Não existe um limite físico superior para a atmosfera, apenas uma
progressiva rarefação do ar com a altitude. Normalmente considera-se
que a atmosfera tem entre 80 km e 100 km de espessura, embora a
exosfera se estenda até 900 km acima da superfície terrestre. Em
valores aproximados, 75% de todo o conteúdo gasoso da atmosfera está
abaixo de 10 km de altitude e 95% abaixo de 20 km.
Na figura abaixo, é importante observar que a escala de altitude é
interrompida acima de 80 km, porque a espessura da exosfera exigiria
o uso de escala logarítmica para ser representada no mesmo gráfico.

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Fonte: Varejão, 2006

Camadas da atmosfera com respectivas condições físicas.

Troposfera
A troposfera é a camada mais importante do ponto de vista
meteorológico e o seu nome indica a dinâmica que afeta continuamente
o clima e a vida no planeta. Tropos significa movimento em grego. Ela
está em contato direto com a superfície da Terra e contém cerca de ¾
da massa total da atmosfera. Quase todo o vapor de água está contido
na troposfera e, por isso, é o ambiente natural das nuvens e fenômenos
meteorológicos.
Ela se estende até uma altitude aproximada de 20 km, no Equador, e a
mais ou menos 10 km nos polos. A sua composição química é o produto
de uma evolução de bilhões de anos, por efeito de interações
bioquímicas com a hidrosfera, a litosfera, a pedosfera e a
biosfera. Basicamente, a atmosfera é formada por 71% de nitrogênio e
28% de oxigênio. Dióxido de carbono, argônio, vapor d’água, metano,
dentre outros, completam a lista dos gases que compõem 1% do ar que
respiramos.
O ar se torna mais rarefeito quanto mais distante da superfície terrestre e é
por isso que os alpinistas necessitam de suporte de oxigênio quando
escalam altas montanhas. Na troposfera, o aumento da altitude tende a
diminuir a temperatura aproximadamente à razão de 6,5ºC a cada

6
quilômetro. No topo da troposfera está a tropopausa, onde a
temperatura torna-se praticamente constante e ocorre a transição à
estratosfera.
A partir de 2.400 m de altitude começamos a sentir os efeitos da falta de
oxigenação no sangue, porque absorvemos mais ou menos 70% do oxigênio
disponível na atmosfera. A baixa oxigenação provoca aumento dos
batimentos cardíacos e da frequência respiratória. Acima de 3.600 m
absorvemos apenas 40% do oxigênio livre e somente pessoas aclimatadas
sobrevivem sem o auxílio de oxigenação forçada. A partir de 5.000 m é
praticamente impossível sobreviver devido à formação de edemas, isto é,
acúmulo de líquidos nos pulmões e no cérebro. Aos 8.000 m de altitude,
uma pessoa não consegue sobreviver sem máscara de oxigênio por mais de
uma hora e meia, mesmo totalmente adaptada às escaladas radicais.

Estratosfera
A estratosfera chega a 50 km acima do solo. A temperatura vai de 60ºC
negativos na base a aproximadamente zero grau na parte de cima. A
estratosfera contém ozônio, um gás que absorve a radiação ultravioleta do
sol, o que forma um escudo contra os efeitos nocivos da radiação
ultravioleta solar e dos raios cósmicos. As mudanças climáticas e a poluição
provocam buracos na camada de ozônio, com riscos para a saúde dos seres
vivos principalmente nas regiões mais próximas da Antártica.
De modo geral, o perfil vertical de temperatura na estratosfera é
praticamente constante na parte mais baixa e depois passa a aumentar
com a altitude. O aquecimento desta camada é provocado pela liberação
de energia no processo de formação do ozônio. No topo da estratosfera
está a estratopausa, zona de transição para a mesosfera, onde a
temperatura quase não muda.

Mesosfera
A mesosfera é uma camada pouco conhecida, justamente pela
dificuldade em obter dados nesta altitude. Ela se estende de 50 km até
80 km de altitude, aproximadamente. A temperatura tende a diminuir
nesta camada e estima-se que no seu limite superior a temperatura

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fique em torno de 95ºC negativos. A parte inferior é mais quente porque
absorve calor da estratosfera.
Praticamente não existe vapor d’água na mesosfera. A mesopausa é a
zona de transição à termosfera. Com uma espessura de
aproximadamente 10 km, a mesopausa apresenta uma temperatura
praticamente constante.

Termosfera
A termosfera se situa além dos 90 km de altitude e se caracteriza por
um contínuo aumento da temperatura média com a altitude. O conceito
de média deve ser interpretado com restrições, pois entre o dia e a noite
a temperatura na termosfera pode variar centenas de graus.
O topo da termosfera fica 450 km acima da Terra, onde as temperaturas
chegam a 2.000ºC. É a camada mais quente da atmosfera, uma vez que as
moléculas de ar rarefeito absorvem a radiação do Sol.
Devido à rarefação do ar nesta camada, a temperatura não é medida
diretamente, mas sim estimada a partir da pressão e da massa
específica. Progressivamente, o ar da atmosfera terrestre desaparece
até chegarmos ao universo completamente aberto.

Exosfera
Alguns autores ainda consideram mais uma camada acima da
termosfera: a exosfera. A camada superior da atmosfera fica a mais ou
menos 900 km acima da Terra. O ar é muito rarefeito e as moléculas de gás
escapam continuamente para o espaço. Por isso é chamada de exosfera,
parte externa da atmosfera, que passa ao espaço interplanetário sem um
limite detectável.

Bibliografia consultada
IAG-USP. Estrutura da atmosfera. USP, Instituto de Astronomia e
Geofísica. Disponível em: https://www.iag.usp.br/siae98/
atmosfera/estrutura.htm. Acessado em 05/08/2021.

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Jardim, W. F. Evolução da atmosfera terrestre. Unicamp, Instituto de
Química. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola. Edição
Especial, Maio de 2001. Disponível em:
http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/evolucao.pdf. Acessado
em 08/08/2021.
Moura, D. A estrutura vertical da atmosfera terrestre. Tempo, Meteored.
Disponível em: https://www.tempo.com/noticias/ ciencia/a-estrutura-
vertical-da-atmosfera-terrestre.html. Acessado em 05/08/2021.
NOAA. How did Earth’s atmosphere form? National Oceanic and
Atmospheric Administration - NOAA, SciJinks. Disponível em:
https://scijinks.gov/atmosphere-formation/. Acessado em 12/08/2021.

9
Dinâmica do clima na Terra

S egundo definição da Organização Mundial de Meteorologia, clima é o


conjunto de condições meteorológicas médias de um período
equivalente a pelo menos 30 anos. As condições climáticas resultam das
interações entre a atmosfera (ar), a hidrosfera (água), a criosfera (gelo), a
biosfera (seres vivos) e a litosfera (rochas e solo). Essas interações, por sua
vez, são reguladas por variações de temperatura, pressão e umidade.
Os padrões de distribuição do clima na superfície terrestre são
determinados principalmente pela latitude (coordenadas geográficas
paralelas à linha do Equador), altitude (elevação sobre o nível do mar),
correntes atmosféricas (ventos, deslocamentos de frentes frias ou quentes)
e correntes marítimas (quentes e rasas ou frias e profundas). Todas essas
componentes do clima respondem às variações de intensidade na energia
térmica produzida pela radiação solar que incide sobre a superfície da
Terra.
As diferenças de aquecimento da superfície terrestre pela radiação solar são
constantes, quando se trata da distância de cada ponto de medição em
relação ao sol. Isto se comprova na distribuição das zonas de clima do
equador em zonas mais ou menos paralelas à linha do Equador. Os polos
estão, em média, cerca de 6.000 quilômetros mais distantes do sol do que o
Equador. Esta diferença é suficiente para explicar as diferenças de clima
entre as regiões equatoriais e polares.
Da base ao topo das montanhas, embora esta distância seja muito menor, o
efeito é oposto: as temperaturas caem à medida que nos aproximamos do
sol. Isto se deve à rarefação crescente da atmosfera e à atenuação do seu
efeito protetor sobre a irradiação do calor da superfície para o espaço.
Diferenças de temperatura e salinidade nas águas dos oceanos induzem a
formação das correntes marítimas, na denominada circulação termohalina.
Estas correntes são os maiores agentes de regulação do clima nos
continentes, devido às suas extensões planetárias, aos gigantescos volumes
de energia transportada e às persistências milenares da circulação. A
distribuição das correntes marítimas, ilustrada na Figura 14, dá uma ideia
da sua influência sobre o clima do planeta.

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Fonte: Boscoito

Distribuição das correntes marítimas na Terra.

Outras fontes de variações são eventuais ou cíclicas, como a intensidade das


erupções vulcânicas ao longo do tempo e a concentração de gases poluentes
na atmosfera. Desses gases são mais importantes o vapor d’água, o gás
carbônico (CO2), o metano (CH4), o gás sulfídrico (H2S) e o óxido nítrico
(NO). Eles são os conhecidos gases de efeito estufa. O vapor d’água é o mais
abundante, mas o metano é o mais potente, 125 vezes mais poderoso do que
o gás carbônico no que diz respeito ao efeito estufa. Isto significa que um
metro cúbico de metano produz o aquecimento atmosférico equivalente a
125 metros cúbicos de gás carbônico.
A contribuição de cada gás para o efeito estufa é mais ou menos a seguinte:
50% do vapor d’água que forma a nebulosidade difusa da atmosfera, 25%
das nuvens, 20% do CO2 e 5% dos demais. Independente do seu poder de
retenção de calor, a pequena contribuição do metano para o efeito estufa
pode ser explicada pela sua reduzida concentração na atmosfera. Apesar
dos números, o vapor d’água e as nuvens não são tratados como gases de
efeito estufa, porque são produtos deste processo, responsáveis pela
retroalimentação positiva.

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É importante não se deixar enganar pelos teores aparentemente baixos, que
tendem a minimizar o efeito estufa. Basta lembrar que pequenas
quantidades de sal na água do mar são suficientes para criar propriedades
físico-químicas profundamente diferentes da água doce. Quem estuda
Física dos Materiais sabe a diferença que fazem alguns décimos percentuais
de um aditivo para a resistência e a condutividade elétrica de uma liga
metálica. Basta adicionar 0,008% a 2% de carbono na massa do ferro
fundido para transformá-lo em aço, com propriedades físicas e químicas
totalmente diferentes.
Os comprimentos de onda do calor irradiado pela superfície terrestre são
maiores do que os da radiação recebida. Enquanto a energia é recebida na
forma de luz, que contém radiação infravermelha de ondas curtas, a
refletida tem a forma de raios infravermelhos longos, isto é, de calor. Esta
diferença faz com que o calor irradiado pela superfície seja contido na
troposfera, camada inferior da atmosfera, criando o efeito estufa,
exatamente como a cobertura plástica de um canteiro de hortaliças.
Além da concentração dos gases mencionados acima, um fator crítico para
a evolução do efeito estufa é a refletância da luz solar pela superfície
terrestre. A refletância é muito maior nas áreas claras do que nas áreas
escuras, que absorvem boa parte da energia. Nas regiões que perdem a
cobertura de neve e gelo devido ao aquecimento global ou sazonal, a
superfície escurece e absorve mais calor do sol, o que aumenta o efeito
estufa e acelera o degelo. Isto cria um ciclo vicioso, que escurece mais ainda
a superfície e acelera o aquecimento na região. A extensão da área afetada
determina o quanto ela contribuirá para o aquecimento do planeta como
um todo.
Revisando o que informa o fascículo anterior, a atmosfera terrestre é
formada por várias camadas, ilustradas na figura abaixo: troposfera,
estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. A troposfera ocupa os
primeiros 7 a 17 quilômetros de altitude, contados a partir do nível do mar,
e é a mais rica em oxigênio e vapor d’água. A estratosfera vai até mais ou
menos 50 quilômetros de altitude, é muito estável, sem correntes de ventos
e rica em ozônio, que nos protege contra os raios ultravioleta. A mesosfera
alcança 80 quilômetros acima do nível do mar, muito rarefeita e com
temperaturas que descem a -100oC. A termosfera, ao contrário, apesar de se
estender até 500 quilômetros de altitude, absorve tanto a radiação solar

12
que atinge temperaturas acima de 1.000oC. A exosfera alcança 800
quilômetros da superfície terrestre, é composta apenas e hidrogênio e hélio.
Ela está fora do alcance da gravidade e contém a nuvem de satélites de
comunicação, sensoriamento remoto e telescópios já lançados pela
Humanidade ao espaço sideral.

Fonte: soparaalunosferas.org.br

Camadas da atmosfera terrestre.

A circulação atmosférica é impulsionada pelas diferenças de temperatura


(de energia, portanto) entre o equador e os polos, sob influência da rotação
da Terra. O ar quente dilata-se e torna-se mais leve nas regiões equatoriais,
onde se eleva na troposfera até se resfriar e retornar à superfície nas regiões
polares. Isto mantém um sistema circulatório permanente, que é desviado
para oeste entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, por influência da
rotação terrestre. Esta combinação de movimentos forma as denominadas
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células atmosféricas, ilustradas abaixo. Assim se originam as monções,
grandes movimentos de ar e umidade responsáveis pelas enchentes
sazonais das regiões tropicais. Esta é também a origem dos ventos alísios,
que sopram constantemente nas regiões equatoriais, como no litoral
nordestino do Brasil.

Fonte: Cláudio Ripinskas

Padrão global de circulação atmosférica.

Nas regiões costeiras, a direção dos ventos é determinada principalmente


por diferenças de pressão atmosférica entre o continente e o oceano. O solo
e as rochas são condutores térmicos melhores do que a água. Assim, as
terras emersas aquecem mais rapidamente de dia e esfriam mais
rapidamente à noite do que o oceano. As massas de ar quente sobem e
formam células de baixa pressão, enquanto o ar frio faz o movimento
contrário. Por isto, os ventos sopram para o continente durante o dia e
retornam para o oceano durante a noite. O mesmo vale para as margens
dos grandes lagos e mares continentais.
Considerando a quantidade de variáveis que interagem para modelar o
clima na escala global, é natural que ele varie bastante ao longo do tempo,
seja nas estações de um ano, seja através das eras geológicas. Algumas
dessas variações são bastante conhecidas e delimitadas regionalmente. O
Atlântico Norte mantém um padrão decenal de oscilação controlado por

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flutuações nas diferenças de pressão atmosférica entre a Islândia e o
arquipélago dos Açores. Esta oscilação afeta o clima em toda Europa e
atinge parte da Ásia.
Outras oscilações deste tipo são o fenômeno El Niño e La Niña, no oceano
Pacífico. Enquanto o primeiro identifica uma zona de aquecimento
persistente, que aumenta a incidência de chuvas na América do Sul, La
Niña é o fenômeno oposto, de resfriamento e estiagem.
Partículas líquidas e sólidas em suspensão na atmosfera são denominadas
aerossóis. Elas são geradas por dispersão na superfície dos oceanos
(gotículas de água), por poeiras levantadas pelos ventos em áreas de clima
árido (grãos de silte e areia), pelas erupções vulcânicas (dióxido de carbono,
óxido de enxofre) e pela queima de combustíveis fósseis (monóxido de
carbono). De um modo geral, elas bloqueiam a radiação solar e diminuem a
temperatura da Terra, mas parte delas contribui para o efeito estufa.
O clima sofre também a influência da biosfera, em vários sentidos.
Enquanto os vegetais produzem oxigênio, absorvem carbono e reduzem a
temperatura atmosférica, os animais produzem gás carbônico, metano e
aquecem o ar. Além disto, a vegetação é normalmente mais escura do que o
solo, de modo que absorve mais a energia solar do que o terreno
descoberto. Finalmente, como as áreas florestadas promovem a formação
de chuvas devido ao aumento na umidade do ar, a sua influência geral
sobre o clima é altamente benéfica, em todos os sentidos.

Bibliografia consultada
NOAA. The atmospheric circulation patterns of the Earth. National Oceanic
and Atmospheric Administration. Disponível em: www.noaa.gov.
Schneider, T. Climate Dynamics: An Introduction. Caltech Climate
Dynamics Group. Disponível em: www.climate-dynamics.org.
Wallace, J.M.; Hobbs, P.V. Introduction and overview. In: Atmospheric
Science, 2006.

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Circulação termohalina dos oceanos

A circulação termohalina dos oceanos é o movimento contínuo das


correntes de fundo e superfície provocado por diferenças de
densidade das águas, resultantes por sua vez de diferenças de temperatura
e salinidade. A densidade da água pode aumentar por efeito do aporte de
águas fluviais, evaporação, resfriamento e congelamento. O primeiro fator
acrescenta materiais solúveis e em suspensão, enquanto os demais
aumentam a carga sólida por redução proporcional do volume líquido.
Embora associadas e interdependentes, as correntes provocadas por
circulação de ventos não se incluem nesta categoria.
Em síntese, a circulação termohalina começa com o afundamento da água
fria, mais salgada e densa, acompanhado pela flutuação da água quente,
menos carregada de sais e menos densa. Este é um processo de convecção,
portanto, ilustrado na figura abaixo.

Fonte: batepapocomnetuno.com

Origem da circulação termohalina.

16
O afundamento da água mais densa pode atingir o fundo do oceano ou
permanecer a uma profundidade intermediária. Isto depende da diferença
de densidade entre as camadas de água. Como este contraste de densidades
é controlado mais pela temperatura, as correntes termohalinas iniciam-se
geralmente mais próximo dos polos, onde o degelo das calotas e geleiras
libera grandes volumes de água gelada. A rotação da Terra, o relevo
submarino e o desenho das costas continentais influenciam fortemente o
padrão global de distribuição das correntes oceânicas.
Os oceanos são estratificados, isto é, as suas águas formam camadas com
densidades, temperaturas e salinidades diferentes. As águas de superfície
são mais quentes, menos salinas e mais leves do que as mais profundas. O
limite entre as águas superficiais e profundas é marcado por uma camada
relativamente fina com propriedades fortemente diferentes. Esta camada,
denominada termoclina, existe na maior parte das regiões oceânicas do
planeta. A mistura das águas quentes e frias acontece somente onde
persistem condições que permitem as profundas boiarem e as superficiais
mergulharem através da termoclina.
A figura abaixo mostra o padrão geral da circulação termohalina dos
oceanos, onde se observa que as correntes frias, em azul, originam-se nas
regiões polares e as quentes, em vermelho, próximo ao Equador. Este
padrão contém cinco grandes movimentos circulares, denominados giros
oceânicos, indicados pelos números da figura. O giro número 1 é repetido
porque o limite da imagem divide-o em duas partes.
A velocidade de deslocamento é de aproximadamente 1 cm/s e o tempo
necessário para se completar uma volta em torno do planeta varia de 500 a
1.000 anos, dependendo do percurso.

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Padrão mundial da circulação termohalina.

A importância ecológica da circulação termohalina para a vida marinha é


inquestionável. Ela distribui o oxigênio capturado pelo fitoplâncton nas
regiões polares, juntamente com enormes volumes de nutrientes de todos
os tipos, arrastando-os em profundidade até as regiões equatoriais. Além
disso, as correntes quentes de superfície deslocam-se no sentido oposto,
distribuindo calor e contribuindo para regular o clima global. A corrente do
Golfo, por exemplo, leva calor para dentro do Golfo do México, na América
do Norte, aquecendo em torno de 4oC o clima até a costa atlântica da
Europa.

Interações com as correntes atmosféricas


As correntes oceânicas de superfície mantêm com as atmosféricas
interrelações dinâmicas fundamentais para o clima da Terra. Os ventos
interferem na direção das correntes marinhas, enquanto as diferenças de
temperatura entre massas d’água, e entre essas e os continentes, provocam
circulação atmosférica por convecção. O ar aquecido por águas quentes

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eleva-se e é atraído para áreas onde ar frio e mais denso mergulha para
ocupar o espaço gerado pelas colunas térmicas.
Quando estas células de convecção são formadas sobre o oceano, os ventos
criam correntes locais ou com extensão regional. Nas latitudes subtropicais,
as diferenças de temperatura são muito fortes e persistentes, responsáveis
pela origem dos ventos alíseos que sopram constantemente para oeste em
ambos os hemisférios. Esses ventos arrastam as águas quentes de superfície
para as bordas ocidentais dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, onde se
acumulam a ponto de gerar elevações importantes do nível do mar. Em
contrapartida, nas regiões de origem dessas correntes formam-se
verdadeiras bacias sobre as águas superficiais.
No hemisfério Norte, o efeito Coriolis desvia os ventos alíseos e,
consequentemente, as correntes marinhas para norte e no hemisfério Sul,
no sentido oposto. Essas são denominadas correntes marinhas de borda
ocidental.
O efeito Coriolis é a curvatura de uma trajetória aérea em relação a um
ponto de referência na superfície da Terra. Não se trata de um desvio
dinâmico, isto é, provocado por alguma força resultante da rotação do
planeta. Trata-se de um desvio de perspectiva. Enquanto um objeto
percorre o ar em trajetória linear, a superfície da Terra desloca-se para leste
à velocidade de 1.675 km/h ou 465 m/s sobre a linha do Equador. Esta
velocidade diminui à medida que nos afastamos desta latitude. Em Brasília,
por exemplo, ela cai para 1.610 km/h e em Porto Alegre chega a 1.450
km/h. De qualquer maneira, nem a velocidade de um míssil balístico
consegue anular este efeito.

Importância das correntes de superfície


As correntes quentes e frias de superfície influenciam de forma importante
o clima do planeta. Esta influência é exercida pelas mais extensas e com as
maiores diferenças de temperatura em relação às águas das regiões
percorridas.
A corrente de borda ocidental do Atlântico Norte é a conhecida corrente do
Golfo, cujas águas aquecem a costa norte-americana, desviam para leste
para criar climas amenos nas Bermudas, na Irlanda e na Inglaterra. Além
disso, ela fornece ao transporte marítimo uma via confortável para as
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viagens rumo à Europa. No Atlântico Sul, a corrente do Brasil faz o
caminho oposto. No Pacífico Norte, a corrente de borda ocidental chama-se
Kuroshio. As suas águas quentes são responsáveis pelo clima ameno do
arquipélago do Japão e transportam navios para o norte. No Pacífico Sul, a
corrente da Austrália presta o mesmo serviço, também no sentido inverso.
As correntes frias dirigem-se das regiões polares para as zonas equatoriais,
percorrendo as costas ocidentais dos continentes. De um modo geral, elas
são mais rasas e fracas do que as correntes ocidentais de borda, que
percorrem as costas opostas. As que fluem do oceano Ártico descem pela
costa pacífica da América do Norte, com o nome de corrente da Califórnia.
No oceano Atlântico, a corrente semelhante é denominada corrente das
Canárias. A corrente circumpolar Antártica dirige-se para leste, gerando as
correntes do Peru, de Benguela e da Antártica Ocidental. Ela é uma exceção
dentro do grupo de correntes frias porque chega a atingir o assoalho
oceânico em algumas regiões.
Devido ao efeito de Coriolis, as correntes de superfície formam 5 células
mais ou menos circulares de dimensões regionais, chamados de giros pelos
oceanógrafos. Elas são formadas pela convergência das correntes de borda,
criando movimentos de direção horária no hemisfério Norte e anti-horário
no hemisfério Sul. Esse movimento fechado funciona como um mecanismo
que concentra plânctons e nutrientes, mas também detritos flutuantes. A
consequência indesejável deste fenômeno é a formação de verdadeiras ilhas
de lixo no Atlântico e no Pacífico.

Correntes da costa brasileira


A corrente Sul Equatorial do oceano Atlântico avança da costa africana para
a sul-americana e bifurca-se diante da costa nordestina do Brasil. No
sentido norte ela forma a corrente das Guianas, também chamada de
corrente Norte do Brasil, e no sentido oposto ela dá origem à corrente do
Brasil.
A corrente das Guianas carrega as águas do rio Amazonas para a costa do
Amapá. A corrente do Brasil desloca-se para sul até encontrar-se com a
corrente das Malvinas, derivada da corrente Circumpolar Antártica, à
altura da foz do rio da Prata, onde desviam para leste. Este encontro de
correntes forma a Convergência Subtropical do Atlântico Sul.
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Ressurgências oceânicas
Assim como se movimentam ao longo dos oceanos, as águas podem
deslocar-se no sentido vertical. As ressurgências são os movimentos
marinhos mais interessantes, formadas pelo afloramento de águas
profundas, mais frias e ricas em nutrientes do que as adjacentes. A
ascensão das águas de fundo arrasta a vaza marinha, altamente
concentrada em sais minerais e matéria orgânica, gerada pela precipitação
contínua de organismos mortos desde a superfície.
A sua importância está, portanto, na geração de massas d’água altamente
produtivas para a biodiversidade marinha e para a pesca em escala
industrial. Aproximadamente 25% da captura mundial de peixes provêm de
cinco locais que ocupam apenas 5% da extensão dos oceanos. As regiões
mais beneficiadas por este fenômeno são as costas do Peru, da Califórnia,
da África do Sul e da Antártica.
Existem três tipos de ressurgências oceânicas: equatorial, costeira e
circulação de Langmuir.
Ressurgência equatorial, provocada pelos ventos alíseos, presentes nos
dois lados do equador, onde divergem e transportam as águas para o sul no
hemisfério Sul e para o norte no hemisfério Norte, forçando a água a
ressurgir por 150 - 200 m.
Ressurgência costeira, gerada quando águas superficiais adjacentes aos
continentes são carregadas para o oceano aberto. Ocorre ao longo da costa
leste nos oceanos Pacífico e Atlântico. Na costa brasileira é bastante
conhecida a ressurgência costeira de Cabo Frio, que ocorre com maior
frequência no verão do que no inverno. A massa de água que aflora nas
proximidades da costa, por efeito desta ressurgência, é a Água Central do
Atlântico Sul (ACAS).
Circulação de Langmuir, também conhecida como do mar de Sargaços,
forma-se próximo ao centro dos principais giros oceânicos, onde os ventos
são relativamente fracos e a água gira muito lentamente. O vento que sopra
nessas regiões pode ter direção estável, gerando células de convecção nas
massas d’água superiores, com sentido alternado horário e anti-horário.
Nas zonas de convergência dessas células concentram-se fileiras de algas
paralelas à direção do vento, aparentemente presas nessas zonas. Estas
concentrações contêm também plânctons microscópicos e matéria orgânica
21
dissolvida. Em contrapartida, as zonas de divergência são pobres em
matéria orgânica.
Quando as correntes costeiras fluem ao longo das costas a oeste dos
continentes, rumo ao Equador, o transporte de Ekman carrega a água
superficial para longe ou provoca o empilhamento na costa. Isso provoca
ressurgência e afundamento das massas d’água adjacentes, no fenômeno
que recebe o nome de Circulação de Langmuir, por ter sido descrito por
Irving Langmuir quando atravessava o Mar de Sargaços em 1938.

Uma curiosidade náutica: transporte de Ekman


O transporte de Ekman é parte da teoria do movimento das águas
desenvolvida por Vagn Walfrid Ekman, em 1902. Este tipo de deslocamento
consiste no transporte em 90° da camada de superfície dos oceanos por
efeito da energia transmitida pelo vento.
Este fenômeno foi primeiramente notado por Fridtjof Nansen, que
registrou que o transporte do gelo parecia ocorrer em um ângulo em
relação a direção do vento durante a sua expedição ao Ártico nos anos
1890. A direção do transporte é dependente do hemisfério. No hemisfério
Norte este movimento forma um ângulo de 90° à direita da direção do
vento, e no hemisfério Sul ele ocorre a 90° à esquerda da direção do vento.
A importância de se conhecer esta relação de fluxos entre ventos e água está
na utilidade prática para a navegação à vela, para a previsão da deriva de
embarcações e detritos, na eventualidade de procura em mar aberto e no
estudo das correntes marítimas.

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Fonte: Tempo Online

Transporte de Ekman

Referências
ESA. Ocean circulation. ESA – European Space Agency. Disponível em:
https://esa.int/GOCE/Ocean_circulation. Acessado em 02/08/2021.
Halversen, C. Ocean Currents. Berkeley: Lawrence Hall of
Science, University of California, Berkeley, 2001.
Mendes, C. L. T.; Soares-Gomes, A. Circulação nos oceanos: correntes
oceânicas e massas d’água. UFF, Departamento de Biologia Marinha, 26
p., 2007.
NOAA. Ocean currents. NOAA – National Oceanic and Atmospheric
Administration. Disponível em: https://noaa.gov/education/ocean-
coasts/ocean-currents. Acessado em 02/08/2021.

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Títulos do mesmo autor disponíveis na plataforma Scribd

Série Paradidática Ecologia Aplicada


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Conceitos básicos de Ecologia
Ciclos astronômicos e geotectônicos da Terra
Funções ecológicas do vulcanismo do relevo e do solo
Funções ecológicas das águas continentais
Ciclos biogeoquímicos da Natureza
Dinâmica do clima na escala do planeta
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Mudanças climáticas globais: evidências científicas e empíricas
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Da Teoria Geral dos Sistemas às Teorias da Complexidade

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Gestão de risco associado a movimentos gravitacionais de massa
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