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Que dia! Foi a nossa primeira aula com o diretor. Reunimo-nos na escola, um teatro pequeno, mas perfeitamente aparelhado. Ele entrou, olhou-nos a todos cuidadosamente e disse: _— Maria, faga o favor de subir ao palco. A pobre moga ficou apavorada. Do jeito que fugiu para se esconder, lembrou-me um cachorrinho assustado. Conseguimos finalmente apanhé-la e levd-la ao diretor, que ria como um menino. Ela cobriu o rosto com as mos e repetiu todas as suas exclama- Ges favoritas: —Oh, meu Deus, eu nao posso! Oh, meu Deus, estou com medo! — Acalme-se — disse ele, encarando-a bem nos olhos — e vamos fazer uma pequena pega. O enredo é este — nao dava a minima atengio aflicdo da moca —, sobe 0 pano e vocé est4 no palco, sentada. Esta sozinha. Fica ali, sentada, sentada, sentada. Finalmente, o pano baixa outra vez. A pega toda é sé isto. Impos- sivel imaginar coisa mais simples, nao é? Maria nao respondeu e ele, entdo, pegou-a pelo brago ea levou para o palco, sem dizer palavra, enquanto nds todos davamos gargalhadas. O diretor voltou-se e disse, tranquilo: — Meus amigos, vocés esto numa sala de aulas. E Maria esta atravessando um momento importantissimo de sua vida de artista. Procurem aprender quando se deve rir e do qué. Conduziu-a para o meio do palco. Em siléncio aguardamos 0 subir do pano. Lentamente subiu. Ela estava sentada, no centro, 63 A PREPARAGAO DO ATOR perto do proscénio, as maos ainda ocultando-lhe © £0StO. O am, biente solene ¢ © prolongado siléncio fizeram-se sentir. Compre. endeu que era preciso fazer alguma coisa. ; Primeiro, retirou do rosto uma das maos, depois a outra, ag mesmo tempo baixando de tal modo a cabega que apenas lhe enxergavamos a nuca. Mais uma pausa. Era penoso, mas 0 dire. tor esperava, num siléncio resoluto. Cénscia da tensdo Crescente, Maria fitou a plateia, mas logo desviou os olhos. Sem saber onde pousd-los ou o que fazer, comegou a mudar, a sentar-se primeiro de um jeito e depois de outro, a adotar posigdes incémodas, langando o corpo para tras € logo se endireitando, curvando-se, puxando com toda a forca a barra da saia curtissima, olhando fixamente alguma coisa no chao. Durante muito tempo o diretor conservou-se inflexivel, mas, finalmente, fez sinal para baixarem 0 pano. Corri para ele, pois queria que me experimentasse nesse mesmo exercicio. Fui colocado no meio do palco. Nao se tratava de uma ver- dadeira atuacdo, mas, ainda assim, eu estava pleno de impulsos contraditérios. Estando no palco eu estava em exibicao, e, 0 entanto, um sentimento intimo pedia solidao. Uma parte de mim queria divertir os espectadores, para que ndo se entediassem, outra parte me que nao lhes prestasse atengdo. Minhas pernas, meus bracos, minha cabeca e meu torso, embora fizessem 0 que et Ihes ordenava, acrescentavam algo de supérfluo, por conta deles! A gente mexe com o brago ou a perna com a maior simplicidade e, d¢ repente, esta todo retorcido, como quem posa para uma fotografia. Esquisito! Eu s6 pisara no palco uma vez e, no entanto, achava Ween rae ali com afetagao do que com naturali- areas oo eee no que devia fazer. Dissomre | of er re es parecera, sucessivamente, estupido, , , culpado e como que pedindo desculpas- O diretor sit tor simplesmente esperava. Depois, experimentou 0 mesm? €xercicio com os outros, — Agora — di ‘ este eee disse — vamos adiante. Mais tarde voltaremos # 10 € aprenderemos a nos sentarmos em cena. 64 AGAO _— Mas nao era isso 0 que estévamos fazendo? — perguntamos. — Oh, nao — retrucou. — Vocés nio estavam simplesmente sentando. — Eo que é que deviamos ter feito? Em vez de responder com palavras, ergueu-se rapido, caminhou despachadamente até o palco e sentou-se com todo seu peso numa poltrona, para descansar, como se estivesse em sua casa. Nao fez hem tentou fazer coisa alguma ¢, entretanto, a sua simples postura, sentado, impressionava. Observamo-lo, queriamos descobrir 0 que se passava em seu intimo. Sorriu. Nos também. Assumiu um ar pensativo e nés ficamos ansiosos por saber o que Ihe cruzara o espirito. Olhou para alguma coisa e sentimos que tinhamos de ver 0 que quer que fosse que lhe chamara a aten¢ao. Na vida comum nao nos terfamos interessado particularmente pela sua maneira de sentar-se ou de ficar sentado. Mas, por um motivo qualquer, quando ele est no palco a gente o observa aten- tamente e talvez sinta até mesmo prazer em vé-lo apenas sentar-se. Isso nao aconteceu quando os outros sentaram-se em cena. Nio tivemos vontade de contemplé-los nem de saber 0 que se passava dentro deles. Seu desamparo € sua vontade de agradar eram ridiculos. No entanto, embora o diretor nao prestasse a menor atencZo em nés, sentimo-nos fortemente atraidos por ele. Qual € 0 segredo? Ele mesmo nos disse. que quer que aconteca no palco, deve ser com um prop6- sito determinado. Mesmo ficar sentado deve ter um propésito, um propésito especifico ¢ nao apenas O propésito geral de ficar visivel para o piblico. Temos de ganhar nosso direito de estar ali sentados. E isso nao é facil. —Agora vamos repetir a experiénci palco.— Maria, venha aqui onde estou. Vou representar com voce. —O senhor! — Maria exclamou e correu para 0 palco. Foi de novo colocada na poltrona, no meio da cena, € outra vez e conscientemente, a ia — disse, sem sair do comecou a esperar nervosamente, a mover-s Puxar a saia. A PREPARAGAO po ATOR eu lado € parecia procurar alguma coisa com todo o cuidado em seu caderno de notas. Enquanto isso, pouco a pouco, Maria ficava mais tranguila, mais concentrada e, finalmente, estava imovel, com oS olhos pregados nele. Temig uardando novas ordens. Sua pose era perturbé-lo e ficou apenas a8 $ quase bonita. O palco realgava nha ar de vida. Estava : algum tempo simplesmente nisso, O diretor pos-se de pé ao s natural, ti seus melhores tragos- Passou-se E, depois, o pano baixou- — Como se sente? — perguntou o diretor, aos seus lugares na plateia. — Eu? Por qué? Nos representamos? —Naturalmente. — Oh! Mas eu pensei... nhor encontrar 0 lugar no caderno, fazer. Eu nao representei nada, nao. or F foi exsa a melhor parte — disse ele. — Voce ficou sentada esperando e nao representou coisa alguma. E entao voltou-se para nds: — Que lhes pareceu mais interessa em cena ¢ exibir os pezinhos como fez. Sénia, ou o corpo inteito como Gricha, ou sentar-se com um objetivo definido, mesmo que esse objetivo seja apenas o de esperar que alguma coisa acontesa? Isto, por si s6, pode carecer de interesse intrinseco, mas € 4 vida, a0 passo que a autoexibi¢ao os afasta dos dominios da arte viva. “Em cena, vocés tém sempre de pér alguma coisa em agao- acdo, o movimento, é a base da arte que o ator persegue- — Mas — interrompeu Gricha — o senhor disses ainda ago" que é preciso atuar e que exibir nossos pés ou a nossa figura, com? en fiz, nao é ago. Por que é ago sentar-se numa cadeira, como 0 senhor fez, sem mexer um dedo? A mim, pareceu-me absolut falta de aco. * Interrompi, ousado: — Nao sei se foi ago ou ina¢do, mas nés todo: que essa suposta falta de aco foi muito mais interessante a sua acao. enquanto voltavam eu estava s6 sentada, esperando o se- para me dizer 0 que eu devia nte? — perguntou. — Sentar s concordamos do qué 66 AGAO —Esté vendo — disse o diretor calmamente, dirigindo-se a Gricha —, a imobilidade exterior de uma pessoa sentada em cena nao implica passividade. Pode-se estar sentado sem fazer movimento algum e, ao mesmo tempo, em plena atividade. E isto nao é tudo. Muitas vezes a imobilidade fisica é resultado direto da intensidade interior, e so essas atividades intimas que tem muito mais importancia, artisticamente. A esséncia da arte nao esta nas suas formas exteriores, mas no seu conteddo espiritual. “Vou, portanto, mudar a formula que lhes dei ainda ha pouco e refundi-la assim: ‘Em cena é preciso agir, quer exterior, quer interiormente.’ 2 —Vamos fazer outra pega — disse o diretor a Maria, entrando hoje na sala de aula. “Bis o tema: sua mae perdeu o emprego e a renda; ndo tem nada para vender a fim de pagar o seu curso na escola dramitica. Portanto, vocé terd de nos deixar amanh’. Mas uma amiga veio socorré-la. Nao tem dinheiro para Ihe emprestar mas trouxe-Ihe um broche de pedras de grande valor. Esse ato generoso comoveu- ae agitou-a. Serd capaz de accitar esse sacrificio? Nao consegue decidir-se. Tenta recusar. Sua amiga espeta o broche numa cortina e retira-se. Vocé a acompanha até o corredor, onde se desenrola uma longa cena de persuasdo, recusa, lagrimas, gratidao. Final- mente, vocé aceita, sua amiga se vai e vocé volta a sala para apa- nhar o broche.’Mas onde est ele? Alguém o teria levado? Numa casa de cémodos, seria perfeitamente possivel. Segue-se uma busca minuciosa, enervante. “Suba ao palco. Vou espetar o broche numa dobra desta cortina € vocé tera de encontré-lo. Dalia um instante, o diretor anunciou que estava pronto. Maria precipitou-se em cena como se a estivessem perseguindo. Correu or A PREPARAGAO DO ATOR até a beira da ribalta e voltou para trés, eenrando a cabe Jos e contorcendo-se de pavor. Depois, adiantou-se Outrg eee se afastou, agora na direcdo Oposta, Atirando.g para a frente, agarrou as dobras da cortina e sacudiu-as, desespe. rada, acabando por enterrar nelas 0 rosto. Com este Besto queria representar a procura do broche. Nao o encontrando, Voltou-se, rapida, e precipitou-se fora de cena, ora segurando a Cabeca, org esmurrando o peito, com o fito aparente de representar a tragédia geral da situagao. Nés que estavamos na plateia mal podiamos conter 0 tiso, Logo depois, Maria correu para nés com um ar do maior triunfo. Seus olhos brilhavam, suas faces flamejavam. — Como se sente? — perguntou 0 diretor. — Maravilhosamente! Tao maravilhosamente, que nem sei di- zer. Estou tao contente—exclamou, pulando na poltrona. —Sinto- “me como se tivesse estreado. Completamente a vontade no palco, — Otimo — disse ele, animadoramente. — Mas onde esté 0 broche? Me dé. —Ah, sim — disse ela, — Esqueci-me dele. —E estranho; vocé o Procurava com todo afinco e agora esqueceu-se dele! $8 Com sii tivemos tempo de olhar em torno e ela jé estava outta Ye _ es Tevistando as dobras da cortina. Se i. St esquega deste tinico detalhe — advertiu o direto" ae ae for achado voce esta salva. Poderd continuar - indo estas aulas, M: - 4 de deix eae terd de a escola, nao for encontrado, Imedi ees. regou ae © rosto dela adquiriu uma expressao inte™ otecido, ese sn? CottiNa € examinou de alto a baixo cada 40% cateve um Tabalhosamente, Sistematicamente. Desta vez? ae de "tmo bem mais lento, mas todos nés tinhamos © Que ela nao estav, poe ue estava since... Petdendo um sé segundo de sev te! met erame : Bt ° Para parecé-lo, nte aflita, embora nio fizesse esfors' tet 68 AGAO — Oh, onde estar4? Oh, eu o perdi! Desta vez as palavras foram resmungadas em voz baixa. — Nao esta ai — exclamou, desesperada e consternada, apés ter examinado todas as dobras. Seu rosto era s6 preocupagio e tristeza. Ficou imével, como se os seus pensamentos estivessem longe. Era facil sentir 0 quanto a perturbara a perda da joia. Nés observavamos, contendo a respiragao. Finalmente, o diretor falou: — Como se sente agora? Depois de sua segunda busca? — perguntou. — Como me sinto? Nao sei. — Sua atitude era totalmente lan- guida. Sacudia os ombros em busca de uma resposta e os olhos, inconscientemente, ainda se fixavam no assoalho do palco. — Procurei muito — prosseguiu, depois de uma pausa. — E verdade. Desta vez vocé procurou de verdade — disse ele. — Mas, da primeira, o que foi que fez? — Oh, da primeira vez, fiquei emocionada, sofri. —E qual foi a sensagdo mais agradavel? A primeira, quando correu de um lado para outro e estragalhou a cortina, ou a segunda, quando a examinou quietamente? —Ora, da primeira vez, claro, quando estava procurando 0 broche. — Nao, no tente nos convencer de que, da primeira vez, vocé estava procurando o broche — disse ele. — Vocé nem pensava nele. Apenas procurava sofrer por sofrer. “Mas da segunda vez, vocé procurou mesmo. Nés todos perce- bemos. Compreendemos, acreditamos, porque a sua consternagao €0seu desvario realmente existiam. A sua primeira busca foi ruim. A segunda foi boa. Esse veredicto estatelou-a. —Oh—exclamou—, eu quase me matei daquela primeira vez! —Isso nao interessa — disse ele. — Apenas interferiu na pro- Cura verdadeira. Em cena, nao corram por correr, nem sofram 69 A PREPARAGAO DO ATOR por sofrer. Nao atuem i oe vago, pela a atuem sempre com um objetivo, —Ecom sinceridade — disse eu. — Sim — concordou. — E agora subam ao Paleo ¢ i Subimos, mas por muito tempo ficamos Sem saber o que fad mos. Sentfamos que era preciso causar uma impressig, - 7 nao conseguia pensar em nada que merecesse a atencig de up, plateia. Comecei a ser Otelo mas logo parei. Leo testoy sivamente, um aristocrata, um general e um camponés, Mati rodou pelo palco, segurando a cabeca € © Coracao, para fal tragédia. Paulo sentou-se numa cadeira, com pose de Hanis parecia representar a tristeza ou a desilusao. Sénia saiy flertandy e Gricha, a seu lado, declarou-lhe amor, de acordo com aa ses mais surradas do teatro. Quando €U, Por acaso, dei de olhy em Nicolau Umnovik e Dacha Damkova que, como de costume, tinham-se escondido num canto, quase urrei, vendo-lhes o olhar parado ea atitude de bonecos de pau com que interpretavam uma cena do Brand, de Ibsen. — Vejamos 0 sumario do Comecarei com vocé — Gao. Seinen, | que fizeram — disse o ditetor, — declarou, apontando para mim. — Ea mesmo tempo com vocé e voce — Prosseguiu, indicando Maria € Paulo. — Sentem-se aqui mesmo, nestas cadeiras, onde posso vé-los melhor, e comecem: vocé vai sentir citimes, vocé vai softet € vocé entristecer-se, apenas expondo esses estados de alma, sim” plesmente Por eles mesmos, Sentamo-nos e log situagao, Enquanto eu andava como um selvagem, era naquilo que eu fazia, m; nenhum movimento e: interpretacio, —Bem, Possivel alg, 8 © percebemos como era absurda a nos de um lado para 0 outro, retorcento Possivel acreditar que havia algun ‘as quando me sentaram numa cadeifa ‘xterior, patenteou-se o absurdo de m! “i iretor — © que € que vocés acham? — perguntou 0 a % < : Hem sentar-se numa cadeira e, sem motivo alg! 70 AGAO citimes? Ou ficar todo emocionado? Ou triste? Claro que é impos- sivel. Fixem esta regra, de uma vez por todas, em suas memorias: em cena nao pode haver, em circunstancia alguma, qualquer a¢ao cujo objetivo imediato seja o de despertar um sentimento qualquer por ele mesmo. Desprezar essa regra s6 pode resultar na mais repugnante artificialidade. Quando escolherem algum tipo de acao, deixem em paz o sentimento e o conteiido espiritual. Nunca procurem ficar ciumentos, amar ou sofrer apenas por ter citime, amar ou softer. Todos esses sentimentos resultam de alguma coisa que se passou primeiro. Vocés devem pensar com toda forga nesta coisa que se passou antes. Quanto ao resultado, vird por si so. A falsa interpretacdo de paixées ou de tipos ou o simples uso de gestos convencionais sao erros frequentes em nossa profissao. Mas vocés devem manter-se afastados dessas irrealidades. Nao devem copiar paixdes ou tipos. Devem viver nas paixdes e nos tipos. A sua interpretacao deve brotar do fato de vocés viverem neles. Vania, entao, sugeriu que representarfamos melhor se o palco nao estivesse tao nu. Se nele houvesse mais apetrechos, mais mé- veis, uma lareira, cinzeiros. — Muito bem — concordou o diretor, e nesse Ponto encerrou aaula. 3 Nosso trabalho de hoje estava marcado outra vez para realizar-se no palco da escola, mas, quando chegamos, a porta do auditério estava fechada. Uma outra porta estava aberta, entretanto, e dava diretamente no palco. Logo que entramos, ficamos atdnitos ao vermo-nos dentro de um vestibulo. Contiguo a ele, uma confor- tavel saleta de estar, com duas portas, uma dando para uma sala de jantar e daf para um pequeno dormitério, e a outra para um 'ongo corredor, tendo ao lado um saléo de baile brilhantemente iluminado. Todo esse apartamento era dividido por meio de cena- n rios tomados de empréstimo as produstes do mas O tela, rincipal estava aixadoe obstruldo por uma barricada de méve ‘ Ico, nds nos portamos . como Sem a sensagao de estarmos no pa inti se estivéssemos em casa. Comets oe tape c Salas ¢ i ir uusemo-nos a tagarel depois nos reunimos em grupos € P' Barelar, A ne. nhum de nés ocorreu que a aula ja comegara. Finalmente, 0 direto, recordou-me que nos haviamos reunido para trabalhar. Eo que vamos fazer? — pergunto” alguém. —O mesmo de ontem — foi a resposta dele. Mas nés continuamos de pé, onde estavamos. —O que é que ha? — perguntou 0 diretor. Foi Paulo quem respondeu: _—Na verdade, no sei. De repente, sentar... — interrompeu-se, como que perplexo. — Se nao é confortavel representar sem motivo algum, procu- rem um motivo, ora essa — disse Tortsov. — Nao lhes imponhoa menor restrigo. Mas nao fiquem ai parados, feito pedacos de pau. — Mas — aventurou alguém — isto nao sera representar a sem motivo algum, repre. representar? —Néo — respondeu o diretor. — De agora em diante s6 se representard jeti : ae som: am objetivo qualquer. Agora vocés j4 témo ae - que pediram ontem. Nao podem acaso sugerir alguns inte! Tiores capazes de resultar em simples atos fisicos? Por exempl plo, se eu lhe pedir, Vani: 4 noe ae a pedir, Vania, que va fechar aquela porta, —Fechara Porta? Nz evoltou, ‘aturalmente. —E Vania foi, bateu a porta antes que tivés é i ssemos oportunidade de olhar para ele. bateu ntigua ndo a ougal 4 Porta, sem nenh 4m 0 que dizemos, Vocé apetss um motiys ‘0 na cabega e de modo a fazé-8 AGAO — JA que é dificil, entao sera preciso mais tempo e mais cuidado na execucao do meu pedido — disse o diretor. Desta vez, Vania fechou devidamente a porta. — Pega-me para fazer qualquer coisa — implorei. — Sera que nao pode pensar em alguma coisa? Hé uma lareira aie um pouco de lenha, V4 acender o fogo. Fiz o que me mandou, pus a lenha na lareira, mas nao achei {6sforos no meu bolso nem na prateleira. Por isso, voltei e contei minha dificuldade a Tortsov. —E para que é que vocé quer fésforos? — perguntou ele. — Para acender o fogo. —A lareira € de papel; vocé queria incendiar o teatro? —Ia s6 fingir — expliquei. Estendeu uma das mos, vazi — Para fingir que se acende fogo bastam fésforos de mentira. Como se a razao da cena fosse riscar um fésforo! “Quando vocé chegar ao ponto de representar Hamlet, tri- Ihando o caminho da sua intrincada psicologia até o momento em que ele mata o rei, serd que vai dar importdncia ao fato de ter na mao uma espada de tamanho normal? Se ela lhe faltar, vocé sera incapaz de terminar a representag4o? Vocé pode matar o rei sem a espada e acender 0 fogo sem fésforo. O que tem de se acender €a sua imaginacao. Continuei fingindo que acendia meu fogo. Para aumentar 0 tempo da ago, inventei que os f6sforos imagindrios teriam de se apagar varias vezes, embora eu tentasse protegé-los com as maos. Também tentei ver o fogo, sentir 0 calor, mas ndo consegui e logo comecei a me enfastiar, o que me obrigou a pensar em alguma outra coisa para fazer. Comecei a mudar de lugar os méveis, depois a contar os objetos que havia na sala, mas, como nenhum propésito inspirava essas agées, elas eram todas mecdnicas. —Isso nada me surpreende — explicou o diretor. — Quando uma ago carece de fundamento interior, ela é incapaz de nos Prender a atengao. Nao toma tempo empurrar algumas cadeiras B A PREPARAGAO DO ATOR de lugar para outro, mas S¢ vocé fosse forgado a artanjap le um » mi a Jgumas cadeiras de tipos diferentes com um objetivo Particular, co 0, por exemplo, para 0S convidados de uma ceia, que dey, como, oe em ser colocados de acordo com a importancia, a idadeea hatmonig pessoal, isto provavelmente Ihe to} maria muito tempo, i i jnagao secara. Mas a minha imagina¢: ‘Assim que percebeu que também os outros estavam esgotados, ele nos reuniu na sala de estar. : . Nao se envergonham? Se eu trouxesse aqui uma diizia de criangas e lhes dissesse que esta era a sua nova casa, vocés veriam faiscar as suas imaginag6es. As brincadeiras seriam para valer, Serd que nao as podem imitar? —Isto é facil de dizer — queixou-se Paulo. — Mas nés nao somos criancas. Nelas, a vontade de brincar é natural; em nés, tem de ser forgada. —Naturalmente — respondeu o diretor —, se nao querem ou nao podem acender uma centelha dentro de vocés, nao tenho mais nada a dizer. Todo aquele que é de fato um artista deseja criar em seu intimo uma outra vida, mais profunda, mais interessante do que aquela que realmente 0 cerca. Gricha interrompeu: —Seo pano estivesse erg chegava - _ Nao — replicou © diretor decisivo. — Se vocés forem mes- © artistas, sentirao essa vontade sem esses acess6rios. Agora; digam com fran iqueza: O que foi, real: : f , realmente, que ediu de representar qualquer coisa? rem Expliquei i ee aH ee acender fogo, afastar méveis do lugat las, Mas que estas acdes nao eram suficiente- uido eo piblico na plateia, a vontade AGAo _— Nao — respondi —, mas dé-nos algo que, embora simples, seja interessante. — Quer dizer — disse ele, perplexo — que isso tudo depende de mim? Sem divida a explicagao deve ser procurada nos motivos jnteriores, nas circunstancias dentro das quais e pelas quais vocé est executando a a¢do. Tomemos 0 fato de fechar ou abrir a porta. Nada poderia ser mais simples, ou menos interessante, pode-se dizer, ou mais mecAnico. Mas suponhamos que neste apartamen- to de Maria tenha morado um homem que ficou louco, furioso. Levaram-no para um hospicio. Se ele tivesse fugido e estivesse atrds daquela porta, 0 que é que vocés fariam? Assim que a pergunta foi formulada, nesses termos, todo o nosso objetivo interior (como o diretor o chamara) modificou- se, JA ndo pens4vamos em como prolongar nossa atividade nem nos preocupavamos com sua forma exterior. Nossos espiritos se concentravam em calcular o valor ou propésito deste ou daquele ato em funcao do problema proposto. Nossos olhos comegaram amedir a distancia entre a porta e a procurar caminhos seguros para chegar a ela. Examinavam o ambiente em busca de saidas, caso o louco arrombasse a porta. Nosso instinto de conservagio pressentia o perigo e sugeria meios para enfrenté-lo. Quer acidentalmente, quer de propésito, Vania, que estivera encostado na porta, refor¢ando-a depois de fechada, deu um salto repentino e todos nos precipitamos para ele; as mogas correram, aos gritos, para a outra sala. Finalmente, dei comigo debaixo de uma mesa, segurando um pesado cinzeiro de bronze. A tarefa nao terminara. A porta, agora, estava fechada, mas nao trancada. Nao tinha chave. Portanto, a medida mais segura que poderiamos adotar seria escora-la com sofas, mesas e cadeiras €, depois, telefonar para 0 hospicio para que providenciassem 0 feinternamento do louco. O éxito desta improvisacao deixou-me animadissimo. Fui ao aie e pedi-Ihe que me desse mais uma oportunidade de acender © fogo. 15 A PREPARAGAO DO ATOR Sem perder um segundo, disse-me que Maria acabava de herdar uma fortuna. Que alugara este apartamento € estava ce. lebrando a sua boa sorte com uma festa de inauguracao, para a qual convidou todos os seus colegas. Um deles, que conhece bem, Katchalov, Moskvin Leonidov, prometeu trazé-los a festa. Mas uecimento central ainda nao © apartamento é muito frio e 0 aq! foi ligado, apesar de estar baixissima a temperatura 14 fora. Seria possivel encontrar alguma lenha para acender um fogo na lareira? ‘Um vizinho poderia emprestar algumas achas. Ateia-se um pequeno fogo, mas faz muita fumaga € é preciso apaga-lo. En- quanto isso, vai ficando tarde. ‘Acende-se outro fogo, mas a lenha esta verde e recusa-se 2 arder. Mais um minuto ¢ 0s convidados estarao chegando. uiu ele — vamos ver 0 que vo — Agora — prossegi meus dados imagindrios fossem verdadeiros. Tudo terminado, o diretor declarou: — Hoje posso dizer que vocés atuaram com motivacao- Apren- deram que no teatro toda agao deve ter uma justificagao interior, deve ser ldgica, coerente e real. Segundo: 0 se atua como uma alavanca que nos ajuda a sair do mundo dos fatos, erguendo-nos ao reino da imaginagao. cé faria se 4 Hoje, 0 diretor passou a enumerar as diversas funcdes do se. — Essa palavra tem uma qualidade particular, uma espéci? de poder que os seus sentidos captaram e que produziu em voces um estimulo interior, instantaneo. Reparem como a sua vinda foi simples e facil. Aquela porta, que serviu de ponto de partida em nosso exercicio, tornou-se um meio de defesa e a meta fundamen” tal, o objeto em que vocés concentraram toda a sua atengao— a Ansia da autopreservacao. “A suposicao de um perigo é sempre excitante. 6 uma espécié de fermento que pode agir a qualquer instante. Quanto a portaed 4 76 AGAO lareira, objetos inanimados, apenas nos estimulam quando ligadas a alguma outra coisa mais importante para nds. “Considerem, ainda, que esse estimulo interior foi provoca- do sem violéncia e sem fraude. Eu nao thes disse que havia um doido atrds da porta. Pelo contrario, quando usei a palavra se, reconheci francamente 0 fato de que lhes estava apenas propondo uma suposigao. Eu queria, apenas, fazé-los dizer como agiriam se a suposigao sobre o louco fosse um fato real, deixando-os sentir 0 que qualquer pessoa sentiria nas circunstancias dadas. Vocés, por sua vez, nao se obrigaram a aceitar a suposic4o como realidade, mas unicamente como suposigao. “O que teria acontecido se, em vez dessa confissao leal, eu |hes tivesse jurado que, realmente, havia um louco atrés da porta? — Eu ndo acreditaria num engano to patente — foi a minha reacao. —Com essa qualidade especial do se — explicou o diretor — ninguém os forga a crer ou descrer em coisa alguma. E tudo claro, franco e evidente. Faco-lhes uma pergunta e espero que respondam com sinceridade e preciso. “Por conseguinte, o segredo do efeito do se repousa, antes de tudo, no fato de ndo empregar o temor ou a forga, nem compelir o artista a fazer coisa alguma. Pelo contrario, tranquiliza-o com sua franqueza e Ihe inspira confianca numa situagao imagindria. Foi por isso que, no seu exercicio, o estimulo se manifestou com tanta naturalidade. “Isto me leva a outra qualidade: ele desperta uma atividade interior e real e o faz.com recursos naturais. Porque sio atores, ‘eae sonar ensepond Siemens peru, la ago. Esta importante earacteristica do se aproxima-o de uma das bases da no: ola de atuacéo — atividade na criatiy le 88a esc vidad iatit : idade e ” ee A PREPARAGAO DO ATOR océs esta ansiosos para por logo em prétic 1 — declarou hoje o diretor. —Tém to, o a ncordar com a sua vontade. Apligu Natig, rego dose- Suponhamos que tenham de Mos, um pap A de Tehekhi fe) ‘9 do conto de Tchekhov sobre 0 camponés;, ing, numa dramatizasa doit cente que desparafusou uma P' orca do trilho de uma ferroviap,, usar como peso no anzol e foi por isso processado e Severament, punido. Este acontecimento imagindrio penetrard na consciéng, de alguns, mas para @ maioria das pessoas nao passard de “um historia engracada”. Nem sequer vislumbrarao a tragédia das condigdes juridicas € sociais que sé escondem atrds do riso, Mas co artista que tiver de interpretar um papel nesta cena nao podert rir. Terd de imaginar por si mesmo e€, 0 que é mais importante, terd de viver o que quer que tenha impelido 0 autora escrever esse conto. Como fariam isso? — O diretor fez uma pausa. Osalunos permaneceram algum tempo silenciosos e pensat _—Nos momentos de divida, quando os seus pensamentos, sentimentos e imaginacao ficarem mudos, lembrem-se do se.0 trabalho. Ele disse co” seus muito me alegro em CO tvs, escritor também comecou assim seu botdes: “Que aconteceria se um simples camponés, saindo pat pescar, tirasse uma porca de um trilho?” Agora proponhat se tive problema a vocés mesmos e acrescentem: Que faria & de julgar esse caso? — Eu condenaria o criminoso — respo! — Por qué? Por causa do peso para 0 anzol? indi sem hesita® —Pelo furto da porca. ot Mas potest que nao se deve roubar —concosdov rn aso punir severamente um homer a ae do qual ai aut ele nao tem consciéncia alguma? mn nee ieee fazé-lo entender que podia ter cavsse" cs 7 4 a atando centenas de pessoas — Fe°° oria a ape sais de wma porguinha? Jamais 0 conven entou o diretor. 78 j acAo — O tipo est sé fingindo. Compreende a natureza do seu ato — disse eu. — Se o intérprete do papel do camponés for talentoso, provara, com a sua atuac¢ao, que ndo tem a menor consciéncia de culpa — disse o diretor. No curso da discussdo, Tortsov usou todos os argumentos possiveis para defender 0 acusado e conseguiu, finalmente, me abalar um pouco. Assim que constatou isso, declarou: — Vocé sentiu 0 mesmo impulso intimo que o proprio juiz deve ter experimentado. Se representasse 0 papel, a analogia de sentimentos 0 aproximaria do personagem. “Para obter esse parentesco entre 0 ator € a pessoa que ele esta retratando, acrescente algum detalhe concreto, que preencher4 a peca, dando-lhe sentido e agdo absorvente. As circunstancias que servem de complemento ao se sao tiradas de fontes préximas aos préprios sentimentos do ator e exercem forte influéncia na sua vida interior. Uma vez estabelecido este contato entre as suas vidas € 0 seu papel, vocés experimentarao aquele impulso ou estimulo interior. Acrescentem toda uma série de contingéncias baseadas em sua propria experiéncia de vida e vero como Ihes seré facil crer na possibilidade do que terao de fazer em cena. Elaborem assim um papel inteiro e terao criado toda uma vida nova. “Qs sentimentos despertados manifestar-se-iam nos atos des- sa pessoa imagindria, caso ela fosse colocada nas circunstancias determinadas pela pega. —E so conscientes ou inconscientes? — perguntei. —Tire vocé mesmo a prova. Examine cada detalhe do processo edecida o que é consciente e o que € inconsciente, na origem. Jamais resolverd o enigma, pois nem mesmo se lembraré de alguns dos seus momentos mais importantes. Estes irao surgindo no todo ou em parte espontaneamente, e passarao despercebidos, tudo no campo do subconsciente. Para se Convencer, perguntea um ator, depois de Suavespeia Nocamizepadinpchymtoatie ec . » Porque nao estava cénscio 79 A PREPARAGAO DO ATOR vendo ¢ porque j4 nao se lembra de m ilo que ia vivene® ¢ F sito, daqu significativos. Tudo o que lhe arrancarg ¢ A momentos cr em cena € manteve uma facil relacs © due ee ote Além disso, nao lhe podera dizer Coisa Hin Som, 0s “Decerevendo-the a sua atuacao, espanta-lo-4; pouco i id percebendo aspectos de sua propria representagio dos quais nao tivera a menor consciéncia. 2 “Disto podemos concluir que o se também estimula o Subcons. ciente criador. Além disso, ajuda-nos a executar um outro Principia fundamental da nossa arte: ‘Criatividade inconsciente, por meio de técnica consciente.” “Até agora expliquei as aplicagdes do se em relagao a dois dos princfpios mais importantes em nosso tipo de atuagao. Mais for- te ainda é a sua relaco com um terceiro. O nosso grande poeta Puchkin discutiu-o, no seu artigo inacabado sobre o drama. Entre outras coisas, ele disse: “Sinceridade de emogdes, sentimentos que parecam verdadeitos em dadas circunstancias — eis o que pedimos ao dramaturgo.” Por minha conta, acrescento que é precisamente isso o que pedimos a0 ator, “Meditem profundamente sobre esta afirmacao e eu Ihes darth depois, uum nitido exemplo de como o se nos ajuda a po-la® Pratica, — “Sil i yer Sinceridade de emogGes, sentimentos que paresa™ " ladei 4 Siros em dadas circunstdncias” — repeti, com toda so" entonagdes, —Pare! 2, 8 —di ; e 7 dis ee disse 0 diretor. — Vocé banaliza 0 que endl “I © sentido essencial. Quando nao pudet aP" na integra uj em? estud oe Pensamento, divida-o nas partes que © comp! as, uma a uma, - —Exata : pm mi oa ae 890 “dadag cn oS SiBnifica — perguntou Paulo —* IS Circunstancias”? 105 Signi jet! Soca, ee “ sntedo da peca, os seus fatos, acontecit ci ¢ local da acd, condigdes de vida, a inte 80 ———l AGAO dos atores e do diretor, a mise-en-scéne, a producao, os cend- ios, os trajes, os acessérios, os efeitos de luz e de som — todas as circunstdncias dadas a um ator para que as leve em conta a0 criar seu papel. “Se é 0 ponto de partida, as circunstancias dadas sao o desen- yolvimento. Um no pode existir sem 0 outro para que tenha o necessdrio dom de estimulo. As suas fungoes, entretanto, diferem um pouco. O se dé o empurrdo na imaginac4o dormente, ao passo que as circunstancias dadas constroem a base para 0 proprio se. E ambos, juntos ou em separado, ajudam a criar um estimulo interior. —Eo que significa — perguntou Vania, interessado — “sin- ceridade de emogdes”? — Exatamente o que diz: “Emogdes humanas vivas, sentimen- tos que o proprio ator jé sentiu.” —Bem, entao — prosseguiu Vania —, 0 que sao sentimentos que parecem verdadeiros? —Dizendo ‘de aparéncia verdadeira” nao nos referimos aos prdprios sentimentos, de fato, mas a algo que tem com eles estreito parentesco, a emogées reproduzidas indiretamente, sob o impulso de sentimentos intimos verdadeiros. “Na pratica, 0 que terdo de fazer é mais ou menos isto: pri- meiro terdo de imaginar, a seu proprio modpo, as ‘circunstancias dadas’, fornecidas pela pega, pela encenagao do diretor e pela sua concepgio artistica propria. Esse material todo lhes dara um contorno geral para a vida dos personagens que representardo € as circunstancias que os cercam. E preciso que vocés, realmente, acreditem nas possibilidades gerais dessa vida e depois se habituem aela até o ponto de se sentirem muito préximos. Se o conseguirem, vero que os ‘sentimentos que parecem verdadeiros’ ¢ as ‘emogdes Sinceras’ crescerio espontaneamente em vocés. “Entretanto, quando se utilizarem deste terceiro principio de atuacao, esquegam os sentimentos, porque eles, na maior parte, sio ta origem subconsciente ¢ nao estao sujeitos a comandos diretos, irijam toda a atengao para as ‘circunstancias dadas’. Elas estao Sempre ao nosso alcance. A PREPARACAO DO ator No fim da aula, ele disse: 2 — Agora posso completar o que disse ante fora depende nao s6 da sua propria intensidack nitidez de contorno das circunstancias dadas, —Mas— interrompeu Gricha—o que é que sobra, j4 que tudo é preparado pelos outros? S6 ninharias? — O que é que esté dizendo... ninharias? — replicon 9 ding indignado. — Acha que acreditar na ficgdo imaginativa de cul pessoa e trazé-la 4 vida é ninharia? Nao sabe que € muito mai dificil fazer uma composigao sobre um tema sugerido por terceing do que inventd-la nés mesmos? Conhecemos casos Mm que ume pega ruim ganhou fama universal Por ter sido recriada Por um grande ator. Sabemos que Shakespeare recriou histérias de outros autores. E isso que nés fazemos com a obra do dramaturgo. i. zemos viver aquilo que se oculta sob as palavras; pomos noses Proprios pensamentos nas linhas do autor e estabelecemos as n0s- Sas proprias relacdes com os outros personagens da peca e coms suas condicdes de vida, Filtramos, através de nds, todo o material que recebemos do autor e do diretor. Elaboramos esse mater: completando-o com a nossa propria imaginagao. Ele passa ast Parte de nés, espiritual e até fisicamente. As nossas emocoes 0 Sinceras € 0 resultado final € uma atividade muito produtiva~ toda ela estreitamente entretecida com as implicagées da pes “E todo esse trabalho tremendo vocé vem me dizer al” ingy todo este t ests ninharia! Nao 6 nao senhor. E criatividade e arte. — Com Palavras ele encerrou a aula. S Sobre 9 se. le, mas "ambenys a Para cay os PO le exercicios que consistiam &™ . re 40, como escrever uma carte wot objeto perdido. Enquadramo- se ‘ocionantes, com o objetivo 4¢ ‘as que haviamos criado. ZeMOS uma série di $ problemas de agi um quarto, Procurar um spécie de Suposicdes em, dentro das Circunstanci, Hoje fi Pormos 82 AGAO A esses exercicios o diretor dé tanta importancia que neles trabalhou muito tempo, com todo entusiasmo. Depois de fazer um exercicio com cada um de nés, declarou: —Isto € o comego do caminho certo. Vocés o acharam por experiéncia prépria. Por enquanto no deve haver outra forma de entrar em contato com um papel ou uma pega. Para compreen- der a importancia desta partida certa, comparem o que fizeram ainda agora com o que fizeram na prova de atuagao. Exceto em alguns momentos, esparsos e acidentais, na atuagao de Maria e de Késtia, vocés todos comegaram o trabalho pelo fim e nao pelo comego. Tinham resolvido despertar uma emog4o tremenda em si mesmos e nos espectadores, logo de safda. Proporcionar-lhes algumas vividas imagens e, ao mesmo tempo, exibir todos os dotes interiores que vocés possufam. Essa atitude inicial errada levou-os, naturalmente, a violéncia. Para evitar tais erros lembrem-se de uma vez por todas que, ao iniciar 0 estudo de cada papel, devem antes reunir todo o material que tiver qualquer relagdo com ele e completa-lo, com imaginagao cada vez maior, até conseguirem uma semelhanga tao grande com a vida real que lhes seja facil acreditar no que fazem. No inicio esquegam os seus sentimentos. Quando as condicées interiores estiverem preparadas — e certas _ — 0s sentimentos virdo 4 tona espontaneamente. aa

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