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a7 INVENTARIANDO A GRAFIA DA LUZ Nas Dissertacgées de Mestrado do Programa de Pés-Graduacdo em Antropologia Social/UFRGS* BARROS, Aurreo; ECKERT, Cornea; GASTALDO, Eoison; GUTERRES, Liuiane S.; RODOLPHO, Apriane** . Resumo: Este texto objetiva historiaras pesquisas de mestrado do Programa de Pés-Graduago em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que informam sobre o uso do instrumento fotografico pelo antropélogo em sua experiéncia de campo € sobre 0 uso da fotografia na construgfo do texto monogratico, Das 65 dissertagSes deftndidas no PPGAS, repertoria-se a experiéncia de 20 antropélogos ue usaram 0 recurso da fotografia no seu trabalho fotogratico, de 1983 a 1997. Abstract: This paper aims to make an inventory ofthe master's researches of the Pos Graduation Programm in Social Anthropology (PPGAS) at Universidade Federal do Rio Grande do Sul, which inform about the use of the photograph instrument of the anthropologist in his field's experience and about the use of the photograph in the construction of the monographic text. Among of 65 dissertation that has been defended in the PPGAS, we analyzed an experience of 20 anthropologists that utilized the resource of photogreph in their ethnographic work, from 1983 t0 1997, Introdugao Em 1956, o antropélogo Marvin Harris, da Columbia University, publicou Town and Country in Brazil, uma bela etografia sobre uma cidade no interior do Estado da Bahia, Harris descreve a historia da decadéncia de Minas Velhas, que nasceu da aventura pelo ouro no século XVII, perdendo para outras vilas vizinhas, como Vila Nova, o estatuto de centro produtivo e agiutinador em tomo de uma mercado econémico centro cultural florescente, Em 1959, o historiador Femand Braudel, fascinado por explicar como se tece a vida dos homens no processo das mudangas temporais ehistéricas, es transformagdes sobrevindas is tradigdes, as efervescéncias eas reticéncias, as recusas, as cumplicidades e abandonos, re-analisa a obra de Hartis em Dans le Brasil Bahianais: le présent explique le passé. Criticando a fraca perspectiva comparativa, Braudel, entretanto, * Uma versio preliminar deste texto serdpublicada em uma cletines intitulada A Fotografia no Ria Grande do Sul, orgenizada por Luiz Eduardo R. Achurt e edtads pela Prefeiura Municipal, sob o titulo “A Grafs da Luz na Narrativa Etnogrfica" "* A cquipe do NAVISUAL (Nisleo de Antropologi Visual) Laboratério de Antropologia Social, PPG AS/UFRGS - agradece 10 Prof. Dr. Mauro Koury pelas citcase sugeses que mito contrbulram para afinlizagzo deste texto. Didtocos Anrropoidcicos ~~ Dossié 1 - IMAGEM - DEZEMeRO De 1997 = “enREE 88 Inventariendo o Grefie de Luz Nos Dissertagses de Mestrado do PPGAS/UFRGS homenageia com esta releitura a obra de fSlego do antropdlogo Harris, lastimando apenas a inexisténcia de qualquer ilustragao, sobretudo s auséncia total de fotografias que, sem divida, pondera ce, o livro mereceria conter Esta breve referéncia nos imerge no campo que gostariamos de abordar, o da utlizasso da fotografia fos textos antropolégicos. Os pésames de Braudel & Harris apenas elucida o quanto a fotografia jé era importante como fonteifustrativa do contexto descrito desde os primeiros grandes antropéiogos deste século. Bronislaw Malinowski, Evans-Pritchard, Gregory Bateson, Margaret Mead ¢ tantos outros fizerain uso de fotografia em suas experiéncias etnogrificas ¢ ni elaboragéo de uma antropologia descritiva aprofundada, como sugere Samain, em relagio és fotografia eas legendas usadas por Malinowski (SAMAIN, 1995:27), O uso que cada um destes antropélogos fez das imagens é completamente diverso, variando de acordo com “o que" cada um queria “mostrar” em suas fotografies. O proprio Lévi-Strauss excluiu da publicagso de Tristes Trdpicos as fotografia realizadas no trabalho de camps. Apenas quarenta anos depois, ‘as imagens de uma das etnografias mais conhecidas do planeta nos sio reveladas em Saudades do Brasil! © que de fato queremos destacar € a importéncia de conhecermos esta perspectiva histérica do uso «ta imagem na Antropologia. Esta reflexéo tem promovido um novo campo de debate muito proficuo para 0s avangos epistemologicos da disciplina? O Niicleo de Antropologia Visual (NAVISUAL)> tem como motivagio de trabalho o impeto de perseguir a atualidade do uso de imagem na produgao antropolégica de cinema, video e fotografia, promovendo o suporte visual como um instrumento eficaz de pesquisa. Neste sentido, este nicleo busca Proporcionar um espego de debate em tomo da histéria da Antropologia Visual e da Imagem e reunir Pesquisadores que conjuguem o interesse em usar a fotografia e 0 video como instrumentos de pesquisa ¢ oconhecimenta técnico e estética desses meios (seja por formacdo, seja adquirido), Nesta oportunidade, nossa intengdo é divulgar e avaliar as etografias que fizeram uso do recurso ‘otoprafico e que resultaram em dissertapées de mestrado no Programa de Pés-Graduasdo em Antropologia Social (UFRGS) que informam sobre a experiéncia do NAVISUAL, Analisando as dissertacdes produzidas nos anos 80, pode-se sugerir que as fotografias sempre apareceram como importante dado etnogréfico no procedimento de coleta e andlise do material antropol6gico, {endo destacado papel de ilustragdo do universo de estudo e de “situagbes de pesquisa visulmente prolixas"™* ou recomrendo para a descricdo densa de forma imagética, convergindo no esforeo do antropdlogo de {ranscrever (traduzir) as interpretagdies dos aspectos temporais ¢ contextuais da vida cotidiana, desvendando privilegiadamente os valores e eédigos culturais que trazem a tona a problematizaco do cotidiano, as relagbes sociais, as emogdes e os conflites, elucidando sobre o “o simbolismo inscrito na vida de todos os dias, no parentesco, na sexualidade, na politica, ete” . De fto, o texto etnografico tem por objetivo descrever uma experigncia de investigagao antropol6gica obtida pela observacao direta e participante, que explicta os instrumentos conceitueise tedricos através dos quais o antropélogo pesquisador objetiva sua andlise cientifica, Neste procedimento o estilo antropolégico tende a adotar uma andlise que desliza entre a explicago © .compreensio. Mas em ambas as tradigées, o que se descreve slo “fats etnogréficos”, em que o préprio observador faz parte do processo de conkesimento ¢ investigagdo como nos ensinaram os antropélogos modemos. A pesquisa etnogréfica implica 0 estabelecimento de relagdes interpessoais, de didlogos, de trocas tanto quanto de evitagdes e hostlidades experimentadas na situacao de convivéncia com o grupo ¢ Didtocos Anrroro.dcicos = Dossié1_~- IMAGEM > pezemeno 08 1997 Eavipe do NAVSUAL, Nude de Anropolgi Vol 89 sujeitos pesquisados, Em qualquer das tradigdes disciplinares certo € que o método antropoldgico se singulariza na maneira de vineular teoria¢ pesquisa de modo a favorecer novos procedimentos, Observa-se, nesta tltima désede, a erescente utitizagdo do recurso fotogrifico tanto na experiencia de campo quanto no procedimento analitico ¢ na construgao do texto etnogréfico, onde o NAVISUAL se destaca como apoio a novas experimentarées ¢ como um importante espago de debate critic. Explicitamos nos préximos itens elgumas reflexées em torno de questées técnicas relacionadas & obtengao dos registros fotograficos ns investigagao antropoldgica, seguidas de un inventério da produgio de monografias que fizeram uso deste recurso. A Fotografia e a Experincia de Campo © método emogrifico ¢ potencielmente qualificado para a utilizaclo do instrumento fotogrifico como recurso de obtengiio de dados e, sobretudo, como elemento de interagao ¢ trocas entre pesquisador ¢ pesquisado. Estas experiéncias sto bastante veriadas em fungio das opgdes tedricas de cada pesquisador € da singularidade de cada processo de investigagéo. desenvolvimento da experiéncia de campo € também um tempo de critica e relativizardo dos proprios pressupostos teGricos ¢ conceitusis do pesquisador, quando o recurso da fotografia pode igualmente proporcionar a produgao de uma antropologia critica que esclarece as diversidades destes usos. E também ‘o momento em que o “olhar" antropolégico vai exercitar-se, descobrindo seus limites ¢ potencialidades. Este exereicio critico revela a intencionalidade na fotografia emogréfica elucidandio o fato de que ela no é, como ingenuamente se acreditava tempos atrés, um mero “espeiho da realidade”, Importasalientar os seguintes aspectos: Em primeiro lugar trata-se de considera olugar do instrumento fotografico no processo de construpdo do trabalho de campo. O pesquisador que opta por este instrumento ndo pode negligenciar a presenca deste ‘equipamento no processo de inter-relacdo, Neste sentido, o ato de fotografar pode iniciaimente servir como uma importante estratégia de observagio direta mas pode, sobretudo, permitir uma comunicagao direta ‘com o grupo pesquisado. E importante captar a tenséo criada no jogo de reconhecimento entre 0 pesquisador € 05 sujeitos do universo pesquisado. Em segundo lugar, na tarefa da colets do material, a fotografia é um instrumento coletor do dado bruto, que abrange o ndo-descrito apenas pela palavra do pesquisador. Bla se transforma para este em um suporte de meméria do fato etnogrifico, propiciando assim uma analise posterior mais minuciosa do eontexto € da disposi¢ao de certos elementos ndo-verbais ou nBo-verbalizéveis, O antropélogo Mauro Koury, a0 analisar a primeira versdo deste artigo, lembra que nesse sentido ¢ importante ndo negligenciar o recorte ideol6gico do dado bruto, na medida em que coloca a meméria no interior de um “suporte” do recorte registrado pelo observador. Finalmente, salienta-se a importincia da fotografia revelada como uma estratégia significativa de troca ou de “contradom" aos sujeitos entrevistedos e/ou fotografados. Para Godolphim (1995:130), @ fotografia aparece “como elemento de interagao na devolugo do material fotogrifico,estimulando arelago com o grupo estudacio e abrindo um campo de didlogo, de expressto da meméria e das, reflexes dos informantes sobre as imagens devolvidas”. (GODOLPHIM, 1995:130) Diktocos Anraorotecicos ~~ Dossié 1 - IMAGEM - _otzemano ot 1997 90 Jnventariande 4 Grafica da tuz Nas Dissertagées de Mestrado do PPGAS/UFRGS Este gesto de retomar pars oinformante aimazem captada, no. isenta do exercicio critica necessério sobre a imagem devolvida, sem perder de vista o quanto esta revela a otharseletive do pesquisador-fotdgrafo sobre contexto ou simacdo observados. A interacdo, assim, tem que ser apreendida também a partir desse recorte fotogrifico feito pelo observador, sugere novamente Koury. © procedimento de uma “vigitancia epistemolégica” & exercitado pelo pesquisador-fotdgrafo 20 longo de todo provesso de obtengio, revelacdo ¢ processamenta da fotografi. De fato, a0 longo dest processo intervém na pritiea antropalégica ¢ no uso dos instramentos técnicos, as mais diversas insténcias d+ intencionslidade, Desde antes do momento da obtengo, na esealha de determinado equipament, filme iTuminag2o, até aescolha de quais fotos serdo efetivamenteincorporadas ao texto etogritico, quase tudo & arbtro do entropélogo, Embora fixando a reflexdo urinosa sobre bjetos realmente existentes, a imagens fotogréfica € tho sujeita a este arbitrio do pesquisador que se pode denominé-Ia “imagem construida” Algumas destas instancias nas quais se manifesta a intencionalidade do etnégrafo estio abaixo sugeridas Naescolha do filme a serutilizado, o pesquisador-fotdgrafo decide de antemfo a natureza eromética das imagens a serem produzidas, se ooloridas ou em preto e branco. Fotografias em prezoe branco tendem ® ressaltar os volumes, as formas € 0s contrastes das imagens, em termos de claro/escuro, Zonas de luze de sombre tomam-se mais evidentes. Na fotografia colorida, a reprodugto da ambiéneia é mais intensa, ¢ objetos colorides passam a ter uma importincia enorme na cen, mesmo que distanciados do motivo, A sensibitidade da pelicula utilizada também vai condicionar o resultado obtido. Um filme de ASA baixa vai ‘equerer muito mais lz ambiente, ou forearo fot6grafo a utilizar uma unidade de flash. De qualquer modo (sso esteja sendo utlizada uma cimare mono-reflex), para permitir uma velocidade suficieme pera 0 manejo ds cmara sem um trip o diafragma deverd estar muito aberto, resultando em uma zona de foco extremamente seletiva, o que também vai ifluir ne enunciagdo final da fotografia. Com um filme répido, haverd uma maior granulagdo, mas o pesquisador-fotdgrafo poderd optar entre utilizar luz ambiente ou fash, ou ainda conseguir, com um razoével velocidade, uma boa profundidade de campo para ume Adeterminada cena, 0 que amplia as possibilidades enunciativas de suas obtengZes. Da mesma forma, a objetiva escolhida determinard em grande parte a énfase da fotografia, mesmo antes de ser obtide. Uma objetiva grande-angular, pela sua amplitude de campo, abrangerd planos gers da cena, causando distoredo quando usada a curas distincias, enquanco uma teleobjetiva selecionars detalhes 'soledos, tanto pela pequena amplitude de campo quanto pela profindidade bastante retrita, Uma objetiva normal reproduzira 0 campo de visio de um observador presente a cena, com um foco suficientemente seletivo para destaear zonas de particular interesse, No momento da obtendo, jd na pesquisa de campo, 0 pesquisador-fotdsrafo pode, a cada pose, beieuaro oF 1907 aixa vei sr modo ara de foco s rapid, jente ou wauma mesmo gerais da detalhes robjetiva ntemente ada pose, deseritas imensbes, amento da Movendo terminedo vimento de de situar a mais uma fo de suas Doe 1997 Eauige do NAVISUAL, Nucleo de Anlcopologia Visual an fotografias. Manipulando o ampliador, ele pode selecionar um determinado trecho de um negativo para amplié-to, ignorando 0 re: Ap6s0 processamento das cépias, cabe ainda assinalar a interferéncia do emégrafo em suas fotografias no sentido de uma enunciago inte 20 decidir quais fotografias sero escoihides para integrar uma determinads descricao ou narrativa. E muito freqiente a obtengdo de centenas de fotos de um determinado evento para tornar piblicas apenas uma ou duas delas, que “dizem” exatamente & intengéo do emunciador E evidente que para obter um relativo controle sobre o potencial enunciativo da fotografia é necessAria tuma certa experiéncia com @ manejo do equipamento utilizado. Se « enunciacto fotogrifica pode ser considerada uma descrigio etogrifica, deve-se aprender a técnica que Ihe ¢ inerente para um ato de comunicagao preciso. nite do fotograma, em mais uma instincia de absoluta intencionali A Construgio do Texto ¢ 0 Lugar da Fotografia ‘As fotografias, ao serem conjugadas as emografias, permitem que o fato etnogrifico seja comunicado tanto pelo texto escrito quanto pela imagem. Associando ambos, reconhecemos o potencial da fotografia enquanto meio de comunicagio contribuindo no relato etnogréfico e andlise tedrica, permitindo zo letor 9 conhecimento da pesquise construida, Dessa forma, para aldm da interseeg0 do mundo do texto eserito com o mundo do leitor, a fusto desses horizontes pode ser motivada peia imagem produzida. A imagem e a descrigto emogrifica abarcam estilos diferentes, tradigdes diversas, mas passiveis de m associadas, A primeira aciona percepedes para além daquelas permitidas pela escrita, aleangando uma forme singular de transmissZo do conhecimento, que ultrapassa os limites deste campo, Na interseoya0 destes campos a narrativa etografica pode ser construida 2 partir do suporte da imagem, como forga estilistica de descrig#o do contexto vivido e processo de pesquisa. Sugere-se um ganho no recurso comunicativa que aproxima o pesquisador, os atores ou sujeitos pesquisados e os leitores do processo de ‘conhecimento construido. Nao existe um modelo fechado sobre o uso da fotografia nas produedes académicas; pode-se sugerir ‘que este tem sido um espaco extremamente criativo ¢ inovador. A motivagdo para o scu uso reflete com certeza um estimulo da insttuigSo, como de alguns Programas de P6s-Graduacio em Antropologia abrigando Nacleos ¢ Laboratérios voltados para a pesquisa com imagem. Com este estimulo, pesquisadores tém recorrido cada vez mais ao instrumento visual em suas investigagbes, o que thes exige uma abertura interdisciplinar constante buscando aprender e dialogar com o campos das técnicas fotograticas, das artes, da historia, da semitica, das teenologias, ete. A anilise do uso da fotografia exige, sem divide, uma incessante reflexio sobre esta teoria em ato, sobre os campos tedricos ¢ conceituais propostos pelo pesquisador, suas intencionalidades metodoldgicas © instrumentais. Neste leque de démarches a serem analisadas, nosso fOlego é limitado a revisitar as diversas ‘experiéneias do uso da fotografia nas dissertagdes de mestrado do PPGAS, colocando em alto relevo suas perspectivasilustrativas, descritivas e narratives, Um outro aspecto a considerar, e nfo menos relevante, é ‘nos darmos conta da evolugdo da informatica neste pequeno percurso aqui analisado. Trata-se aqui das Potencialidades de diagramago do texto e de conjugacio texto-foto que o desenvolvimento da tecnologia informatizada proporciona, Desta forma, séo possibilitadas novas apresentagSes (diagramagao da pégina), cstilos alternatives, enfim todo um campo de novas experimentagSes na apresentacto e reprodugo da imagem, solucionando sobretudo o grande problema da perda de nitidez no processo de fotocépia das fotos DiAtocos Antroroécices =~‘ Dossé 1 - IMAGEM - bivewano 08 1997 92 Jnventarionds o Gratis da Luz Nas Dissertagées de Mestrade do PPGAS/UFRGS Originals. Os limites técnioos sio cada vex mais superados devido a forms acelerada com que si0 Popularizados os recursos tecnokigicos no campo da informitica, Dessa forma, realizamos uma breve descrigdo das produgées do PPGAS a fim de inventariar as diferentes formas do tratamento da imagem nas dissertagies Num total de 65 teses defendidas de 1983 até 19979 , 21 antropologos usaram & fotografia nos seus trabelhos etnograficos: A primeira dissertapao defendids, no ano de 1983, foi a de Ondine Fachel Leal, inttulada A leitura social da novela das oto, Na ocasio a autora jé fez uso de LS fotografias P&B tamanho 22x14, impressas cm off-set inserindo uma foto por pagina, reunindo-as em um tinioo Capitulo, A autora discute 0 uso das fot0s no Capitulo VI “Optei por um texto fotogréfico que recomponha com outra grafia a descrigio dos universos onde a novela é captada (..) (as fotos] omitem legendas, porque ecredito que apa parteda técnica da fotografia sua capacidade de auto revelagao de imagens” (LEAL 1983.70). Esta disseriagdo sobre recepelo televisiva foi posteriormente (1986) publicada em forma de livro com o mesmo titulo, Desta vez as fotos aparecem no Cepitulo | “Descobrindo o objeto: a novela das oito”, onde a autora sobrepde o seu estuo sobre as imagens da televisto com as imagens das pessoas a espe equeles imagens e das imagens da propria autor sobre estes imaginérios. A autora relaciona aqui o seu objeto de estudo - sequéncia de imagens - com o seu préprio aprendizado de fotografia. Como esclarece “Nao estou me referindo apenas & parte do trabalho em que a fotografia entre como dado. Refiro-me & pesquisa como um todo, desde sua formulagdo. A minha pritica de Pesquisa esid comprometida com a prética de fotografar, mesmo quando estou sem @ cémara” (LEAL. 1986:15,16) O privilégio dado pela autora a0 recurso da fotografia abre caminho para o uso deste instrumento Uigado a uma reflexdo epistemoldgiea na investigarzo anizopolégiea no ambito do Programa de Pés- Graduagao em Antropologia Social (UFRGS). Como diz a autora: “A fotografia é um aprendizado de observagdo paciente, de elaborago minuciosa de diferentes estratégias de aproximacio com o objeto, de desenvolvimento de uma Percepedo seletiva, de uma vigilancia constante e de prontiddo para captar 0 acontecimento no momento do acontecimento. A dupla capacidade da cémara de subjetivareobjetivar a realidade, a constante conscigneia de que se éo responsivel por este process0, por uma técnica de apreensio da realidade, de que se é sujeito deste conhecimento, é um ensinamento epistemologico. (..) O ato de fotografar nos traz uma noydo de posse de realidade e, a0 mesmo tempo, a certeza da impossibilidade desta posse, de sua fragmentagdo e necessidade de reconstrugdo.e processo de revelaeo desta realidade. A nossa relagio com o objeto ¢ sempre uma relacio de conhecimento © de poder onde um capta ¢ 0 outro € captado, Fotografar é um cultivo didatico do Didtocos Anrrorotécicos —-Dossié 1 IMAGEM > onnansno OF 1907 Equipe do NAVISUAL, Nucleo de Antrogologia Visual 93 prazer da percep¢do do detalhe e do todo, que passa ou no pela técnica da objetiva, da grande-angular, do enfocar e desenfocar, dos diferentes tons possiveis na impressa0 ¢, enfim, da revelago da imagem - que nlo é mais a coisa foografada (mas sempre plena fe vestigios do real): a realidade revelada, Na fotografia, como no processo de ‘conhecimento, e insisto no parallo, «relidadc $6 se tora abjeto como coisa pensada” (LEAL. 1986:16). “Boas para pensar” as 15 fotografias de interiores das unidades domésticas pesquisadas sto, apresentadas por Leal numa seqiiéacia no subcapitulo “Os televisores, os objetos, os gastos e seus espacas”, rmotivando o questionemento sobre o lugar dos aparethos televisores nas unidades domésticas a partir de uma etnografia dos objetos e dos préprics espacos dos objetos (LEAL 1986). No ano seguinte, outra dissertagdo é defendida fazendo 0 uso da fotografia, Tendo por tema “Baildes, é disto que o povo gosta: Anélise de uma prética cultural de classes populares no Rio Grande do Sul”, Maria Eunice de Souza Macie! inclui sete fotografias fotocopiadas em anexo, salientando em legends que ‘as mesmas sio de autoria do senhor Omer Jinior, ft6grafo do “Bailo do Cardoso”, universo dos exercicios de observegio partcipante da entropéloga (MACIEL, 1984) Em 1985, « antropdloga Comelia Eckert epresenta em sua dissertago, Os Homens da Mina: Um Estudo das Condigdes de Vide ¢ Representagdes dos Mineiros de Carvdo em Charqueadas - RS, 54 fotos realizadas pela autora ¢ 15 de época cedidas pelos informantes, com aspectos crométicos (P&B/Cor) € tamanhos variados. Com o objetivo de ilustrar © contexto pesquisado, encontramos em geral as fotos em seqiiéncias tematicas nas paginas finals de cada Capftulo, assim como anexades no final da dissertagdo. A autora recorre a legendas para esclarecer as especificidades de cada foto. Carmen Silvia Rial apresenta sua dissertagdo de mestrado em 1988 sob 0 titulo O Mar de Dentro: a transformago do Espaco Social na Lagoa da Conceigdo, constando de 37 fotografias e dois cartdes posta. Conjugadas 2o texto eserito, as fotos eparecem em fotocdpia preto e branco ¢ em fotocépia verde, sendo a rsioria nas dimensdes 10 x 15. No segundo capitulo intitulado "Metodologia”, 2 autora assinala “A fotografia e os esbogos das plantas baixas das cases foram importantes no registro € {nterpretagao para 2 apreensto dos esquemas biisicos das cases, dos arranjos intern0s € a decoragdo"(RIAL 1988:28), Rial insere a maior parte das fotos entre parégrafos, optando por formas diversas de disposigao das fotografias no texto, Na maioria das vezes, apresenta duas fotos ocupando por inteiro uma pagina, Outro estilo € uma foto ocupando meia pagina seguida de texto, ou ainda pardgrafo-foto-parégrafo. Significativo também é 0 estilo adotado pela autora que consiste em realizar seqUéncias fotograficas que variam de quatro até 13 imagens sobre um mesmo terra. (Exemplo: informantes processando a farinha de mandioca nos engenhos catarinenses). Nestas sequéncies, Rial recorre também a reprodugdes de fotos de época. Todas as fotos sio legendadas, mas ndo-numeradas, ¢ 0 trabalho apresenta indice de ilustragdes, onde sto identificadas as fotografias da forma mais ampla possivel, no reproduzindo a legenda (Exemplo: Fotos: Estrada; Fotos de Engenho; Foto Cozinha Nova, etc). A partir da década de 90, até o presente momento, inventariamos 16 dissertagdes do PPGAS que fizeram uso do recurso imagético. Em 1991, Celso Dias apresenta em Olé, Ola, Nosso Time Ta Botando Dikiocos Anteopovocicos =~ Dost 1 - IMAGEM - _ oezemsto of 1997 34 inventarionde @ Grofia de Luz Nas Dissertagses de Mestrade do PPGAS/UFRGS Prd Quebrés um estudo sobre torcidas organizadas de futebol no Brasil, teze fotogratias coloridas tamanho 10x 15, Insere todas as fotos no segundo capitulo, O autor no discute a inserpz0 de fotografias no trabalho, Fa naio, ta ttima pigine da introdugio refere-se sucintamente as imagens utiizadas, desenhos c Fotografias: “Para auxiliar a localizaglo das principaisregites do estidio que se relaciona comm as atividades das torcidas onpanizadas” (DIAS, 1991: 27). As fotografias, em papel brilhente, foram coladas diretamente sobre a folha ocupando desta forma cerca de metade da pagina. Todas as fotos estio ‘acompanhadas de legenda onde o autor as enumera e as descreve sucintamente (Exemplo: Foto 1: Visio Privilegiada dos integrantes das torcidas organizadss), Apresente uma fotografia por pagina, sem fazer uso de moldura’ . Katya Vietta apresenta, em 1992, sua dissertag3o intitulada: Mbya: Guarani de verdade, onde constam {5 fotografias e seis desenhos de utensilios indigenes. As fotos aparece inseridas no Capitulo 2, estio cmolduradas e seguidas de legends e numeragao. Geralmente duas a cada pagina, foram fotocopiadas em breto e branco e coladas sobre a folha. Seis delas afixadas em irés paginas seguidas, informam sua tentativa de conformé-las em uma ‘seqiéncia, Em 1953, fuer Gorski Bites apresena ses fotografi coloridastamanho 12x I8em su dissertagdo de mestrado Aprendiz de Bacana: Mobilidade Social ¢ Sociabilidade em uma Terreira Affo-Brasileira. As fotos ndo esto propriamente inseridas no texto, mas entre paginas: no Capitulo 3, quatro fotos eno Capitulo 4; duas fotos. Sao apresentadas duas fotos por pagina em fotocépia colorida, dispostas horizontalmente e sem uso de moldura ou legendas, ‘Uma outra disseragao de 1993 que inclui fotografias ¢ a de Josiane A. Silva, intitulada Bambas da Orgia, um estudo sobre o camaval de rua de Porto Alegre, seus camavalescos ¢ os territérios negros, A autora usa diversas imagens de. mapas no texto, em um total de oito fotografias coloridas coladas diretamente 7a paging. Opta por inseri-las no texto, uma por pégina, sem uso de molduras enumeracdo e com legendas. Em 1994, o insrumento fotografico foi utilizado em quatro novas dissertacdes de mestrado. Adriane de Mello Bof em O Namoro Esti no Ar...Na Onda do Outro: Uta Olhar Sobre os Afetos em Grupos Populares, apresenta 56 fotografias coloridas digitalizadas em P&B, de tamanho varlavel, de 8 x 14.0u 4,5 x7. A autora insere as fotos Nos capitulos assim dispostas: 38 estio no. Capitulo t (Introdugao), 13 no Capitulo IL, wés no ‘Capitulo Ie duas no Capitulo IV, Sendo que os Capitulos V e VI nao apresentam: fotos. Algumas vezes as fotos aparecem numa seqiéncia. que pode chegar a seis paginas s6 de imagens com legendas tematicas, mas esta forma ‘de apresentacdo recebe outras variagSes. Em outros momentos, a autora diagrama a pagina inserindo de | a 4 fotos, seguidas de texto, nao fazendo uso de moidura nas fotografias, As fotos ora so introduzidas por uma legenda temética, ora foto acompanhada de uma legenda explicativa, Nao esto numeradas, Em seguimento, Cldudia Tura Magni defende a Pesquisa Nomadismo Urbano: Uma Etnografia Sobre Moradores de Rua em Porto Alegre. Num total de 117 fotos digitalizadas, a autora ainda inclui uma {21 de época, cinco mapas e um anexo com tnt € nove desenhos. Todas as fotografia esto nemerades ¢ legendadas, sendo que o tamanho das mesmas & bastante variado, A autora rompe com a seqiiéncia tredicional texto-foto-texto, diagramando as paginas de forma diversa, ora expondo uma seqiiéncia de folos com uma mesma tematica, ora inserindo a foto ao lado do Pardgrafo ou mesmo dispondo, numa mesma pagina, fotos de tamanhos diferentes. No Capitulo If encontram-se 13 fotos, no Capitulo If 29 Diktocos Anteopolécicos = Doss > IMAGE DEZEMBRO DE 1997 Eauipe do NAVISUAL, Nucleo de Aniropologia Visuoh 95 fotos, no Capitulo IV 48 e no Capitulo V,26 fotos. Para a autora, o dado fotografico néo atuou apenas como complementar ou subsididrio & pesquisa, mas “representou a chance de analisar erefletir através da natureza ais perene do registro, esta realidade fugidia - ndmade, tal qual-os sujeitos que a constroem” (MAGNI, 1994: 14-15) Tendo por tema 0 tuniverso batuqueiro porto-slegrense, Jacqueline Brito Pélvora inclui na sua dissertagdo A Sagragéo do Cotidiano: Estudo de Sociabilidade de um Grupo de Batuqueiros -Porto Alegre! RS uma discussdo sobre a utilizagio da maquina fotogréfica no trabalho de campo (POLVORA, 1994:27) Quanto a insergdo de fotos no trabalho, assinal: “As fotos que veremos, inserem-se no texto como uma forma de ampliar ¢ diversificar ‘a escritura, trazendo ao leitor informagaes visuais impossiveis de serem registradas fideciignamente no diério de campo. Elas revelam imageticamente a ambiéncia, as formas e cares que sto descritas ao longo do trabalho” (POLVORA, 1994:31). So 90 fotografias coloridas de tamanho 7,5 x 11 ¢ 6,5 x 9,5. A autora insere todas as fotos no meio do texto, Uma foto na epigrafe, 11 no Capitulo |; 11 no Capitulo 2, 15 no Capitulo 3 ¢ $2 no Capitulo 4. No final da introdugdo (pag. 32) avisa que todas as fotos, com excegdo de uma, so de sua prépria autoria, As {ot0s originalmente coloridas foram fotocopiadas em cores ¢ em tamanho reduzido ¢ posteriormente colades na folha, Apresenta uma foto por pégina,algumas vezes duas. Nao hi legendas ou numeragao ¢ todas es fotos foram emolduredas. Ariane Luisa Rodolpho, em 1994, apresenta Entre « Héstia.e o Almogo: Um Estudo Sobre 0 Sacriticio na Quimbanda, constando de 39 fotografias coloridas tamanho 9 x 6,5 fotocopiadas em cor e coladas na folha. A autora insere todas as fotos no meio do texto. Duzs fotos na epigrafe, 12 no Capitulo 1, 24 no Capitulo 3 e uma no Capitulo 4. Geralmente é epresentada uma foto por pagina, entre pardgrafos; entrelanto aparecem também duas por pagina. Utiliza moidura mas nao hé legendas ou numeragao de fotos. ‘dem 1995, Edison Gastaldo defende a dissertagdo Kickboxers: Esportes de Combate e Identidace ‘Masculina. Sendo publicitirio e fotdgrafo de formaso, Gastaldo discute 0 uso das fotos no seu trabatho ¢ ‘papel da fotografia no processo deretomo das mesmas aos informantes, que as comentavamn¢ interpretavam. Explica o autor: *(.,) foi realizada uma extensa cobertura fotogratica de treinos, tutas de demonstraga0 ce combates oficiais. Estas fotografias foram utilizadas no s6 como material emografico, como uma forma auxilier na descrigdo de locais e eventos, mas tembém foram posteriormente mostradas aos praticantes, sendo seus comentarios a respeito anotados, fomecendo novos dados acerca do grupo pesquisado, além de estabelecer uma espécie de troca, que levou a um ganho em sociabilidade ¢ confianga por parte do grupo. Parte destas fotografias encontra-se no corpo deste trabatho."(GASTALDO, 1995: 9). ‘Si a0 todo 22 fotografias. O tamanho é varidvel ea digitalizagdo das fotos interferiu no seu tamanho original. Sdo apresentadas em 10 x 14; 14,5 x 12,5; 14 x 12; 14,5 x 9,5; 10 x 15; 14,5 x 11, ete. As {fotoagrafias foram incorporadas no meio do texto ¢ apresentadas uma por pagina. Todas as fotos slo legendadas ‘e numeradas (Exemplo: Foto I: Poster de Bruce Lee, Academia Central), mas nao estio emolduradas. Didtocos Antnoroiécicos > ~~ Dossié <1 - + ‘IMAGEM —-__vezemaro 08 1997 Las 96 Inyentoriando « Grafia de Luz Nas Dissertagées de Mestrado do PPGAS/UFRGS Abrindo 3 Introdugo, 0 autor apresents uma foto que mostra dois homens em combate, seguida de tuna epigrafe, sendo que esta foto foi editada digitalmente, de forma que se vé apenas o contomo dos corpos em luta. As demais fotos esto inseridas no meio do texto na forma que se segue: duas fotos no. Capitulo 1; dez no Capftulo 2, cito ao Capitulo 3 ¢ uma no Capitulo 4 's fotos originals, captadas em cor, foram digitalizadas e apresentadas na dissertago em P&B, As fotos coloridas puderam, entretanto, ser epreciadas em diversas exposigSes fotogrificas organizadas pelo NAVISUAL. Cabe aqui ressaltar nm problema técnico freqiente com relecto és fotografi captadas em cor no rocesso de pesquisa. Geralmente estas fotos sto reproduridas em Pu&B nas cdpias das dissertagbes a que © grande puiblico tem acesso. Isto significa que 0 retorno oferecido 20 grande piblico contém apenas fotocdpias monocromiticas de fotos que apresentam uma perda de qualidade técnica eestética consideravel se comparadas com suas originais cojoridas. Retomaremos esta problemiética nas considereciies finais No mesmo ano, fosvaldir Bitencourt Jinior apresenta, em Relégios da Noite, uma Antropologia da Tersitorialidade ¢ de Identidade Negra em Porto Alegre, 14 fotogratias fotocopiadas coloridas, todas 10 x 15. As fotos esto em Anexo (Anexo A, B,N, ©... ), sendo uma foto por pégina, centvalizada. Nao utiliza moldurae nao hé numerago de fotos, mas todas estio legendadas, sendo que a primeira palavra da legenda std com letras maitisculas, chamando a aten¢do do leitor para um aspecto especifico. (Exermplo: ESQUINAS 68 pontos de encontro transicionais, mantidos pelos negros, so constituidos pelas esquinas, ruas, bares € galerias comerciais na érea contral da cidade), Ainda em 1995, Maria Leticia Mazzucchi Ferreira, abordando o tems da velhice, defende o trabalho Folheando o Passado: Um Estudo Antropolgico Sobre Memoria e Identidade Social na Velhice. ‘Na pagina 175, a autora esclarece que, por no dominar © manejo da méquina, optou por convider uma fotografa profissional para realizar as fotos na pesquisa de campo. Segundo a autora “A imagem foi analisada através de dois procedimentos metodolégicos distintos. Em um deles, o material de anélise foram as imagens fotogratices jd existentes nos espacos, tais como as fotos familiares (..) 0 outro procedimento consistiu em produzirfotografias de aigumas idosas, buscendo através da leitura posterior feita sobre a imagem fixada, 0s elementos recortados por elas que ajudam a estabelecer essa imagem de si mesma ” (FERREIRA, 1995: 175) 1o present Aomesmo tempo a autora discutea imagem fotogrifica como tendo um estatuto proprio. Sugere que a imagem éum produto de subjetividades, tanto do fotografado como de quem aciona o mecanismo, e, num terceito momento, se manifesta como o olhar diferenciado sobre o mesmo objeto, “a imagem perenizada” (FERREIRA. 1985:10). No tiltimo capitulo da referida dissertapdo, intinulado “Com os olhos fixos na cternidade: Fotografia ¢ recordagdo”, a autora analisa “as relagdes que esses sujeitas estabelecem com a imagem fotogrifica” (FERREIRA. 1985 id.). ‘A-capa da dissertagio ilustrada com uma foto de época, e as demais fotos, num total de nove fotografias coloridas de tamanho variado, entre 11,5 x 16,5 ¢ 12x 17,5, estdo todas incluidas em anexo, As fotos foram fotocopiadas em cor, sendo ume foto por pagina, todas com legendas, no numeradas, nem emolduradas, Também Jodo Anibal dos Santos, em 1995, ineorpora na sua dissertagio de mestrado, Televisto: Cultura Local ¢ Cultura de Massa Global. Etnografia da Audiéncia Entre Descendentes de Imigrantes Didtocos Antroroiécicos ~~ Dossié. 1. ~~‘ IMAGEM .oevemaro 06 1997 Equipe do NAVISUAL, Nucleo de Aniropelogic Visual a7 “Alemées, seis fotografias coloridas tamanho 12 x 9, Estas sio inseridas no inicio do trabalho em duas folhas separadas, cada uma contendo uma fotografia scompanhada de urna poesia. As demais fotos aparecem ‘em anexo num total de duas péginas com duas fotografias cada (Anexo 1a, 1b, 1e, 1d). Reproduzidas em papet colorido ¢ coladas sobre a pégina, 0 autor nZo faz uso de legendas ou moldures Em 1996, Liliane Staniscuaski Guterres apresenta “Sou Imperador até morrer..", um estudo sobre identidade, tempo e sociabilidade em uma Escola de Samba de Porto Alegre fazendo uso de 131 fotografias ‘eolorides fotocopiadas em tamanho 7,5 x 5. Na introdugdo 2 autora discute questdes camo a relago do grupo estudado com améquina fotograficae a experiéncia de devolucio das fotografias pars os informants. Em continuidade, problematiza de forma inovadora o trabalho de insergo das fotos na dissertapao, 0 processo de selecdo das mesmas, a importincia da documentacSo audiovisual, a discussto sobre Antropologie Visual e e questo de téenice fotografica. Diz Guterres: maquina fotogrifica acompanhou-me durante toda a pesquisa, o que permitiu a construgo de um acervo fotogrifico de cerca de duas mil e quinhentas fotos, todas coloridas. Sobre este acervo foram feitas inlimeras seleges buscando recortar 0 amplo ‘material visual e conformi-lo em uma mostra que, originalmente, previa entre 60 2 80 fotografias a serem inseridas neste trabalho dissertativo, Este material, portanto, foi sendo gradativamente recortado até assurnir a forma em que agora é exposto. Algumas {atos, de antemdo cortades, no-selecionadas para compor o abslho devidoa problemas téenicos (pouca ou muita luz, desfocadas), aeompanharam todo 0 provesso de eserita da dissertagdo indicando sua vital contribuigdo enquanto instrumento de compreenséo do objeto de estudo, Entretanto, embore sua significegdo extrapolasse a bareira estética, coptamos por buscar selecionar fotos nfo s6 boas de serem ‘Tides’ mas também para serem ‘vistas! (GUTERRES, 1996:14) A dissertag&o tem na sua abertura uma foto ampliada 41 x 29, na capa intema, em fotocépia. A grande maioria das fotos desenvolvidas pela auiora estéinseride ¢ incorporada ao texto da seguinte forma: uma foto na lntrodugZo, 29 fotos no Capitulo 3, 84 fotos no Capitulo 4 e 15 fotos no Capitulo 5, Acrescente ‘uma reprodugdo de foto antiga no Capitulo 2 e quatro fotos de autoria dos bolsistas do NAVISUAL, cujos somes aparecem assinalados com letra pequena na Vertical da propria foto. A autora nio faz uso de legends ou mumeragoe todas as fotos esto emolduradas, Muitas paginas apresentam uma tnica ou dus fotografias, mas € recorrente 0 uso de seatiéncias de trés ou quatro fotos por pégina ‘Também em 1996, Implantando o Estatuto: Um Estudo Sobre a Criagdo de um Sistema Proximo a0 Familiar para Criangas Institucionalizadas na FEBEM/RS, de Andrea Daniella Lamas Cardarello, faz uso de 16 fotografias 10 x 15, todas colocadas em anexo. Apés a legenda, a pesquisadora identifica a autoria das fotos, sendo que quatro delas so da propria, duas da monitora Marta Verran ¢ as restantes de Luiz Eduardo Achutti, Sao diagramades duas fotos por pigina e algumas estdo colocadas horizontalmente. A autora nfo faz uso de moldura nas fotografias, todas aparecem legendadas ¢ numeredas. ‘Ainda em 1996, Elena Salvatori analisao espago urbano de prestigio, 2 sociabilidade e estilo de vide ‘em Nem Tudo Que Reluz E Ouro, Estilo de Vida e Sociabilidade na Construeo de um Espago Urbano de Prestigio em Porto Alegre/RS. A autora utiliza quarenta fotografias coloridas tamanino 10x15 apresentadas em volume separado, Neste volume um indice das ilustragées indica a organizagso temética das fotes pueees Antsorcieaicos > CDowst 1 ~SIMAGEM—~ —(eztwaro oF 1997 Equi do NAMISUAL, Nucleo de Antopologia Vivl 99 foi pela observagao do medo como estabeleciam elementos visuais, figuras referenciais vila e como interpretavam ¢ valorizavam 0 uso da para jeftura orientagdo espacial fotografia e suas linguagens visuais, que estabelecio crtério do uso da cor na selegdo, enquadramento € composig#o da imagem fotogrifica que utiliza nesta dissertapéo” (SANTANA, 1997: 30) Discutindo o aspecto cromético das fotografias em seu trabalho de campo, Maria Helena coloca: “(..) Em minhas primeiras sessoes fotogrificas,uilizei filmes preto e branco para a captacao da imagem etnogrifice. Retomando estas imagens para apreciaglo dos moradores, percebi, entlo, que as mesmas reforgavam uma imagem depreciativa © dominante a respeito da vile, nio encaixendo-se a uma auto-imagem positiva dos mesmos, nem & hierarquia de seus c6digos visuais. Os comentarios eram tecidos em ‘duas ordens de consideragao. A primeira, pela desvalorizagao da fotografie em pretoe bance e primezia do uso da cor: ‘Ah! E fotografia prete e branca... Que pena! Por que rio tira colorida?” A segunda éde que as fotos devoiviem-Ihes uma imagem dominante da vila como ‘suja’, ‘precéria’ e ‘miserdvel’: ‘Olha aqui, deixa eu ver... Onde ¢ isso aqui? E ali no dique? Bah! Mas ésuja esse vila mesmo!” (Observagéo de morador, em conversa em uma roda na faixa). ‘Nossa, as maloquinhas... A gente olhando assim, né, {que vé essa malocada toda, cheio de lixo em volta. 0, o Messias correndo ali! Agora que ea vi..”(Margereth, me de Messias, olhando ume foto tirada de praia em diregdo ds casas), A fotografia em preto e branco desorientava seus olhares, numa apresentar30 “chapada’ de suas diversas texturas A cor consttuia-se em um elemento referencia importante de visualizagdo ereconecimento da morfologia edisposigbes sécio-espaciais da vila. Quantas vezes as pessoas davam indicacdes espaciais ¢ territoriais complementadas pelo elemento da cor: ‘Tu entra naquele bequinko ali, onde tem aquela parede branca al.” ‘Do bar azul pri cd, 2s mies cuidam dos filhos, do bar azul pré a...(Celuf, falando sobre como vivenciava suas diferengas com os vizinhos)"(GANT'ANNA, 1997: 30-31). Esta citagdo nos revela sobre a importancia da cor nas fotografias captadas em pesquisas, onde 0 antropéloge-fotderafo procura devolveras imagens tomadas como uma forma de contapresentee negoria7s0 de uma continuidade de relagdo com os sujltos pesquisados. Pode-se sugerir que, nas pesquisas junto @ szupos populares em Porto Alegre, os informantes em geral aleraram ao antropéloge-fotbgrafo 0 valor émico atribuido as fotos coloridas que ilustravam seu cotidiano. ‘A autora numera as fotografias fazendo referencia ds mesmas em notas de rodapé. Nao faz uso de moldura ou de indice das fotografias. Dissertagdes com Exposigdes Fotogratficas Entre as sltimas dissertagBes que fazer uso da imagem, tem sido frequente a composi¢ao de uma exposigdo fotogrdtica organizada pelo NAVISUAL/UFRGS no dia da defesa piblica e posterionnenss pela Galeria Olho Nu (Multimeios/IFCH), pelo Museu Antropologico (SEC/RS), ou em eventos académicos os Bikocer Aunoreiauos = Dosst > IMAGEM—~—eztwaxo oF 1997 98 Inventoriande @ Gratia da Luz Nos Dissertagses de Mestrado do PPGAS/UFRGS (exemplo: Anexo 3- Hustragdes ao Capitulo V, item 2, “ambientes urbanos e estilos de vida”), dispostas da seguinte forma: duas por pagina, todas com legendas e numeradas. As fotos foram agrupadas em t6picos G13, 3.1.2, etc) € apresentadas sem moldara, Graduado em Cigncias Sociais ¢ fotégrafo profissional, Luiz Eduardo Robinson Achutti, em 1996, defende a primeire disserta¢o com tematica eminentemente de antropologia visual. Intitulade Fotoetnografia: Um Estado de Antropologia Visual Sobre Cotidiano, Lixo e Trabalho em Uma Vila Popular na Cidade de Porto Alegre. A pesquisa de Achutt € desenvolvida ne Vila Dique, tratando da estética de grupos populares, ‘© autor explica que seu trabalho € eomposto de duas pares, uma tedrica e outra pratica. De acordo com Achuti: “Na primeira busco inventariar obras tedricas sobre a fotografia, a antropologia e as articulag6es entre ambas no que se usou chamar de uma antropologia visual. A segunda Parte do trabalho é um exercicio de antropologia visual realizado na Vila Dique, favela na periferia da cidade de Porto Alegre - RS. (..). Procurei,teoricamente, tabalhar a questo da imagem em seu potencial descritivo e suas histéricas conexdes com a antropologia. Meu objetivo foi descrever, através da fotografia, a qual chamo de fotoemografia, a estética, de uma perspectiva de cultura popular, e a identidade deste grupo (...)"(ACHUTTI,1996: resumo), No primeiro capitulo tata da “HISTORIA - Fotografia e Emografia”, onde analisa as conexdes entre fotografia e emografia, a fotografia e o método de pesquisa antropolégica no século XX, a fotografia Jomalistica, documentary photography, a antropologie visual ea chamada fotoetografie. No segundo capitulo ‘analisa e dinémica ea diversidade do olhar,o surgimento da imagem fotogrifica e o surgimento da imagem virtual. 0 terceiro capitulo tata da fotografia através dos aspectos mediagao, técnica e narragdo, analisa 2 questo da estética ¢ da mensagem, a fotografia como narrativa etnografica, a virtualidade e a multimidia, No Capitulo 4 apresenta o que chama de fotoetnografia da Vila Dique, capitulo estruturado unicamente através de fotografias com base nesta sua experiéneia emogrifica. O autor apresenta um total de 101 fotografias coloridas e digitalizadas, de tamanho varidvel (15 x 22,5; 15 x 10; 8,5 x 6,0 € 6,5 x 4) eas insere todas no capitulo VI, dividido em seis segdes, Na abertura do trabalho 0 autor apresenta uma foto 10,5 x 16, Na primeira seco, “A vila", apresenta 24 fotos, na maioria es vezes uma por pagina. Em alguns casos, hi seqhéncias de fotos numa mesma pagina. Na sega dois, “O trabalho ¢ 0 lixo”, constam 30 fotografias; na segdo trés, “Retratos da Vila”, 13; na segdo quatro, “As Casas”, nove, na segdo cinco, 15 e, finalmente, na segdo seis, 10 fotografias. Como inovaco, 0 autor oloca em anexo o que chama de “Mosaicos", onde refine em cada pagina a seqléncia das fotos epresentadas em cada seo, no formato de contatos 2,5 x 1,7. Todas as fotos estiio emolduradas e sem legenda, Em 1997, Maria Helena Sant’Anna defende a dissertagao Vila Cai-Cai: A Légica da HabitagSo Reciclavel, Estudo da Organizacio do Espaco e do Tempo em Uma Vila em Remogio em Porto Alegre - RS. So 20 todo 37 fotografias, ispostas da seguinte maneira: dez no capitulo I, 22 no Capitulo V e cinco 10 Capitulo VI. As fotografias coloridas foram fotocopiadas em tamanho 12 x 8 e inseridas no interior do texto. A autora discute 0 uso da fotografia na pesquise, dizendo: “(..),assim como foi por esta circulacdo conduzida pelas diferentes redes de vizinhanga ue aprendi a vivéncia intera da Cai-Cai como cruzamento de territorialidades, também Didtocos Antropotocicos = ~—dDossié. “|. ~“IMAGEM ~~ oezenano be 1997 100 inventoriando a Grofia da Luz Nas Dissertacées de Mestrade do PPGAS/UFRGS ———__iintorionde © Grofic da bur Nas Dissertacées de Mestrado de PPGAS/UFRGS mais diversos, como Reuaigo da ABA Nacional, Reuniie de Antropologia Mercosul, ANPOCS, etc. Nestas exposicées, 0 tamanho das fotos varia de 18 x 74a 30 x 49, ‘Unis das primeiras dissertages a recorrer & montagem de uma exposigSo de Fotografias no dia da defesa fol de Josiane A, Silva sobre a Escola de Samba Bambas da Orgia etm Porto Alegre. A partir dat Oulros antropélogos selecionaram algumas entre as fotografias usadas no texto para organizd-las em exposigdes. Citamos a de Jurema Brites sobre 0 cotidiano de uma comunidade de religito affo-brasileira em Porto Alegre, a de Claudia Tarra Magni sobre moredares de rus em Porto Alegre, a de Liliane S. Guterres sobre a Escola lmperadores do Samba, « de Maria Helena Sant’Ana sobre os moradores da vile Cai-Cai em Porto Alegre, a de Edison Gastaldo sobre esportes de combate e a de Luiz Eduardo Achutti Sobre etnografia da reciclagem do lixo em vile periférica em Porto Alegre. Citamos também a dissertagio de Maris Clara Mocelin que nto faz uso das fotografias no interior do texto mas realizou uma exposigao de fotografias inaugurada no dia da defesa. Trata-se de um estudo sobre memoria mitica entre descendentes de imigrantes de regio colonial italiana. Auxiliada pelo bolsista do NAVISUAL na époce, Nuno Godolphim, a autora captou imagens do universe dos informantes ede detalhes do cotidiano. Outros antropélogos organizaram a montagem de exposiggo do acervo fotogréfico referente etnografia construida em momentos posteriores e divuigada por ocasigo de congressos e reunides antropolégicas. Como exemplo, citamos a exposi¢do de Adriane Rodolpho sobre préticas rituais dos sacrificios de animais em casas de religizo em Porto Alegre. Erelevante destacar que o formato da exposigdo permite um significative retomo para a comunidade studada pela reallzagdo de exposigdes nos universes pesquisadas, como em uma escola, por exemplo, Neste momento os informantes ¢ demas membros do universo em quesiZo podem apreciar as fotografias¢ comenté-las com o antropélogo O acervo fotogréfico que compte virias desta exposigbes, como a de Bof, Guteres, Silva, Achut Gasaldo, Rodolpho e Godolphim, foi doado pare o NAVISUAL que, desta forma, pode sistematicamente expo por ocasifo de eventos, congressos e jomadasetrabalhé-lo na disciplina de Antropologia Visual e da Imagem. Arualmente vérias das imagens desse acervo confeccionam a sess80 “Tribas” no Museu da Ditvida da UFRGS. Em alguns casos sia dindmica de NAVISUAL precisa ser crteriosamente aveliada, pois nem sempre & exposigo montada para uma circulago acacémice restrita pode contemplar uma divulgagdo pablica mais ampla, dados os crtérios éticos ¢ resguardo das mesmas para o circuito cientifico Quando as fotos tém o aval da comunidede pesquisada para uma ampla divulger2o, na midia inclusive, sem dvidaa exposigéoadquire um formato que possbilite ume divulpagdo pare um plc diveso daquele restrito & academia, Aniilise das Experiéneias no Campo Visual A forea ilustrativa de fotografia € sempre um recurso vélido na contextualizagio da pesquisa ‘inogritica, no sentido de permit a0 leitorconhecerimageticamente o cenrio da pesquis, os personagens eritevistades, as situages e eventos deseritos, ete. A fotografia tem sido um insrumento eficez para 0 artropélogo contextualizar visualmente sobretudo 0 universo no-verbal do ambiente de pesquisa paras ¢ Para letor, igamos que esta seria uma primeira grande contibuigdo da fotografia no texto etnogréfico, Fomece ao pesquisador um suporte vival — dado bruto — para sua elaboraglo teérica no momento de Didtocos Anraoratécicos = Dossié 1 IMAGEM > binemano OP 1997 | | Equipe do NAVISUAL, Nucleo de Antropologio Visual 101 construcio do texto etnogrifico e, num segundo momento, sacia a imaginagzo curiosa do leitor, permitindo uma conffontagio de sux suposigdo imaginéria do contexto da pesquisa com o respectiva registro folografico apresentado, ‘Até aqui, 0 uso do recurso fotogrifico proporciona ao leitor quase a mesma sensago © emogio de quem acabe de ler uma obra literdsia como “Os Sertbes”, de Buclides da Cunha, por exemplo, ¢ tem acesso tum apéndice de fotos dos lugares, pessoas e acontecimentos narrados no livro, Sente-se prazer em enxereat o.que foi descrito e imaginado, como matar a “fome de ver” depois de horas de iciturae imaginaes0. Pode- se também lembrar aqui o que experimentado pela pessoa que contempla urm album de folografias de viagem, As fotos tomam o relato da viagem mais interessante, dio crédito — o tamanho do peixe na mo do pescador comprova a sua historia, Se ele comprou o peixe para trata foto, aqui nfo impor: a foto também pode confirmar uma mentira significative. As fotografizs so vistas pelo leitor como documentos, testemunhas que comprovam que o Viejante realmente esteve ld ¢ viveu as situages narradas. ‘Aliés, esta capacidade de convencimento 20 leitor de que o antropélogo esteve ld jé foi comentada por Geertz a0 tratar da descrigao densa: “Esta capacidade de persuadir os leitores (...) de que 0 que eles esto lendo € 0 relato ‘auténtico de alguém pessoalmente familiarizado com a vida em algum lugar, em determinado tempo, entre certo grupo, é a base em que repouse tudo 0 mais que & etnografia procura fazer - enalisar, explicar, discutir, confundir, celebrar, edificar, desculpar, assombrar, subverter” (Geertz,1989:72). Sugere-se aqui que o antropSlogo que experimenta apreender o dado etnogrifica através da fotografia, pesquisando situagdes, personagens, eventos, ete pode, nfo raro, proporcfoner também uma experiencia cestética fascinante para o leitor. O que nos faz voltar a moss motivasdo inicial em lembrar 2 queixa de Braudel com relago @ auséncia de fotografias no texto de Harris. Esta perspectiva toma-se mais densa quando o mesmo leitor de Euclides da Cunha ou da visgem fotografada olha para as fotos de uma reportagem ou um fato jomalistico, como a famosa cena fotogrefada por Huynh Cong Tu (1972), que mostra eriangas correndo e chorando por ums estrada do Vietnam fuginéo do holocausto de sua aldeia bombardeada por napalm® . Sugerimos aqui que autilzasdo da fotografia pelo antropblogo no provesso de pesquisa ena elaboraydo do texto etnogréfico vem se mostrando um instrumento eficazna dindmica de interagdo pesquisadorsujeitos ¢ pesquisados/eitor eorroborando na explictaso do processo de investigagdo que conecta o individuo ¢ 0 acontecimento, Isto implica dizer que avaliamos um aumento de qualidade das possiblidades de troca de informagées, possibilitando aos leitores um maior acesso aos processos de produydo de conhecimento do pesquisador. ‘A foto etnogrifica tem o dever de ir além da curiosidade, do documento, daestética e éa informatio: deve esclarecer profundamente 0 que no pode ou nfo deve ser dito. Narrar com densidade aspectos de ‘uma cultura que se fossem ditos perderiam toda aelogiéncia, Tomarclara acimara escura des manifestagdes visuais intraduziveis, partthar com oleitor um universo de descobertas sensiveis, subjetivas epictoricamente, significantes. Eduardo Viveiros de Castro assim se expressa com relago a esta contextualizagdo, refletindo igualmente sobre a qualidade estética da percepeo antropolégice comunicada pelas imagens: Dukecos Antnoraiorcos > Doss 1 ~ IMAGEM—~_—ezewano oe 1997 102 Jnventariande Grafic da Luz Nas Dissertagées de Mestrado do PPGAS/UFRGS “Fiz estas fotograias para capruraracpectos da vida Yawalapit que nao podia uadusir rm linguagem escritae para comunicar 0 prazer propriamenteesttivo despertado por minha percepeio deles, meu prazer em olh-los, dificil de ser incluido em um trabalho académico, As monografiasantropoldpicasdeixam pouco espaco par os aspects ‘no. sntureis’ da experitncia perocptiva do investigaor, Pelo contrario, deseja-se estruturar esta percepeio: impressées difusas, Mas por que s6 agora, $0 anos depois da experiéncie de Margaret Mead e Gregory Bateson (1939), a presenge de fotografia comesa a conquistar um estatuto de legitimidade nas dissertagdes de mestrado ¢ doutorado? E certo que a sua contribuipgo na ctepa de levantamento de dados etnogrificos jé vem sendo lergemente aceita pelos pesquisadores desde entio, mas sb recentemente ‘comeca a ser reconhecida 2 possibilidede de a fotografia figurar também como “texto visual”, ou seja, “afirmagées ¢ interpretacBes Sobre oreal”"(ACHUTTI, 1996: 19) A fotografia deixa de er vista como um mero adoro ispensavel que, Ge cra forma, descaracterizaria a formalidade do texto cientifica,vulgarizando-o, passe a desempenhar um papel discursivo, paralelo ao texto escrito, ampliando a superficie de contato entre oleitore a experiéncia etnogréfica, Com isso, hi uma mudanga tambérm na posture do leitor que otha para a fotografia no trabalho académica "Ele passa a procura este texto nas fotos, ou melhor, se permite uma centrega a experiéncia ‘sual. Assim come o espectaéor do cinema empresa a sua subjtividade por dete-ninade tempo para der Sentdo 20 filme, o “foto-espectador” apreende as observagdes visuais do pesquisadon, ampliando sua Pereepedo sobre o objeto de anise em questfo. Os dealhes dos personagens — os fenétipos, as rugas, “estinenias derego, utenslios,aparéncia — assim como os lygares ganham imporncia deserve, esse sentido adisposigdo das fotos também comunica, A tensfo entre a sucessio de uma fotoe ouira, dispostas em seqéncia; o contraste de gestos, expressbes faciais ou ambientes, lugares; a (des)continuidade espacial-emporal-emocional entre as imagens ou a propria passagem de tempo registrada em profundidade dentro de uma sucessio de fotos reratadas em uma vnica fotografia, permitem ao leitor Sompartilhar com o pesquisador as descobertas sensiveis (nio-verbais ou ndo-verbalizaveis) da experincia Smnogrifica, Um bom exemplo isto é a sess8o construida por Achutti denominade “Imagens dentro da {magern” (ACHUTTI, 1996: 190-199). (Ver em anexo). Algumas dessas desonbertae até poderiam ser ‘verbalizadas, mas perderiam completamente sua forgaestéica (Ver em anexo ACHUTTI, 1996). A importincia do texto que ecompanhe a foto jamais sera negligenciével, Mas sugerimos que ndo menos lids € a op¢S0 de buscar pela foto ou pela montagem em seqiéncia exoressar toda iqueza emocional © Precisdo descritiva que o pesquisador intenciona comunicar Tendo por ertério a montagem das fotos nos texios einogréficos inventariados, podemos observar aon Possibilidade recorente & a de agruper as fotos em anexo. Mas podemos também igualmente observar que desde as primeirasdissertapdes defendidas, os autores J fazem uso da insergdo da fotografia he Interior dos capltulos, sejano final destes, ej em pina seperada (ou mesmo uin capitulo s6 de fotos), Sele aliemando-acom texto. As opedes de montagem dependem da inten estlisticn do autor ao recorrer Diktocos Anrrororocicos - Doss 1 IMAGEN DEZEMBRO OE 1997 Equipe do NAVISUAL, Nucleo de Antropologio Visual 103 a0 uso ou néo de molduras (geralmente utilizadas quando as imagens so fotocopias reduzidas recortadas ¢ coladas na fotha) ou ainda com relagdo & legenda c/ou numeragao das fotografis. Un problema que salientamos anteriormente, quanto & reproducao em xerox P/B de fotos coloridas, merece ser retomado com mais detalhes, 0 alto custo do processo de copingem de imagens em cores tem motivado os pesquisadores que optaram pela obtengéo de fotos eoloridas durante a pesquisa a preferirem copid-las através da tradicional fotocdpia em pret e branco. As fotos origina, coloridas fica restritas as exposigies e aquelas cépies da dissertagdo que sfo apresentadas aos profescores. As cépias que ficam disponiveis ao grande piblico raramente s8o apresentadas conforme as originals. Dests forme, as possibilidades técnicas e estticas oferecidas pelo uso da cor na fotografia, ressaltadss anteriormente por ‘Maria Helena Santana, softem uma pera qualitativa irrepardvel. Isto acontece por dois motivos bisicos. O primeiro se refére&intengo estética do fotdgrafo quando privilesia determinados elementos que deverso compar o enquadremento na hora da obten¢ao, Conforme analisamos anteriormente, multas vezes a cor determina 2 propria escolha do motivo @ ser fotografado, A mesma foto quando fotccopiads em preto ¢ branco pode softer um profundo esvaziamento em sua verdadeira nstureza estética, Em segundo lugar corre uma perda de fdelidade e altcrago de contraste com a conversio cor/P&B. Quando uma fotografia captada originalmente em preto e branco ¢ fotocopiada também em P&B, o que se perde € a quantidade de tons de cinza presentes no original, A foto se toma mais contrastada ea perda ¢insignificante 140 caso da cor é mais complicado, As fotos coloridas apresentam uma gradacio de tons de cada cor do espectro pars representar o nivel de luz refletido pelas superficies fotografadas. Assim, claros e escuros de cada objeto fotografado sto apresentados em sua cor original as éreas com maior incidéncia de luz correspondem 20s tons de cor mais claros na foto ¢ vice-versa. Toda essa infinita gradaeao tonal para a reprodugdo fel das cores, luzes e somibras permitidas pelo processo quimico da fotografia sera substituida pelos dois tnicos passiveis de serem reproduzidos pelo toner da méquina xerografica: preto e branco A perda de qualidade 4 incatculdvel, reduzindo um original em cores a um mero fragmento de imagem, por vezes Indecifravel. Observamos ainda que a grande maioria dos pesquisadores opera diretamente # cdmera fotogréfica, desde as dissertagGes da década de 80. Em raras ocasiGes 0 entropélogo solicita 0 auxilio profissional de um fotdgrafo, sendo que algumas vezes, mais recentemente, vém ocorrendo o trabalho conjunto do pesquisador em companhia de outro antropdlogo-fotégrafo ou assessorado pelo NAVISUAL, Este € 0 desafio destas produgées; tentar trazer as fotografias como recurso interpretativo. Esobretudo nas dissertagdes que recorrem & imagem integrada 0 texto, ou 2 uma sequéncia de imagens sobre um mesmo tema, que aveliamos uma maior forga narrative. Neste sentido sugerimos uma narratividade visual, justamente pela riqueze com que, pela fotografia, pode-se descrever acontecimentos, formas interatives (individuo/ambiente, individuo(coletividade, ee.) processes sociais que levam 0 leitor & construgzo do conhecimento nao s6 pela hegemonia da narrative escrita. ‘A forma como estes autores recorrem & fotografia, ilustrando momentos de interagdo do pesquisador na experiéncia de campo, tem sido um recurso elucidador das estratégias de insereao no universo de pesquise, das negociagses de re-conhecimento e de troca no processo da experiéncia ctnogréfica, Nao rar0, procedimento de captacto elou devolusio das imagens & motivagio de proficuos ditlogos e esclerecimento da visto dos entrevistados acerca do contetido das fotos, aspecto descrito em varias das dissertages citadas, ‘Neste experimento, podemos destacar 2s dissertages dos antropélogos Jacqueline Pélvora sobre batuque, Cléudia T. Magni sobre némades urbanos, Adriane Boff sobre namoro no radio, Edison Gastaldo sobre kickboxers, Adriane Luisa Rodolpho sobre o sacrificto na quimbanda, Liliane Guterres sobre escola nS Diioces Aniworoibeicos =~ Doss 1 ~«IMAGEM”~ —(ezeaaro oF 1997

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