You are on page 1of 366
w VALTER ANTONIO T. KRAUSCHE A ROSA E 0 POVO: ARTE ENGAJADA NOS ANOS 60 NO BRASIL $40 PAULO ence suse 1984 CCOMISSRO JULGADORA: RESUNO Esta aissertacio trate, num plano geral, das relagdes entre ar te © Sdeoiogie, © no particular de arte engajada inciuss ne pré ties da culture popular gos anos 60, cestacando-se 0 papel cos Centres Populares de Cultura novidos pele “necessidade” de se conseientizer 9 pove, ou se se quizer, es classes subaiternes / 8 sociecace brasileira, A partir de una posturs que reivindica pare @ arte e para 9 literatura usa tendénct: negadora ¢a ideo~ Logis dominante na sociedade capitalista, tente-se demonstrar / cone @ arte engajade, a0 se propor conscientizar 0 povo, acabe concorrende para reproduzir aquela ideologia, particioando es~ sim de une politica de sanipulecto das massas populares: Torna-se expiicite, através ceste trabalho, © maneiza pela qual © "iz 90 povor os “arte popular revolucionérie" transpertava reprocugie co abieno entze intelectual © classes dominacas. Em seu ciscurso os vets queriam falar pele outro (elusses suvaltes, nes) & partir oe una interaretagio da histéria © de una concep- go do popular que informava un projeto politico, o das "esqvez, dae", fundanentaco na lute antingerialista ¢ anti-feusal, © una a2iangs onde pontilnavan o proleterieds © = chanaca burgue- $a neckonal. A pronogie da arte e 9, cultura *revoluctonérias" correspondia ao exezcicic do que se convencioneu chamar por po~ pulisna, Dentro desse quacro o estado passava a ser a refertn - cia para a agdo polftice e cultural "progressiste" ¢ "revolucio nfria", podendo: antrever que of artistas engejados © sua pr ties atrelavan-se ao poder ds classe que dizian ser sua iniaige histériea, @ purguesie, 0 que 26 pretendey mostrar nfo foi apenas © tendéncis aa arte / angeJjade en se enpobrecer enquanto erte. Perén, pertindo-se dal, quis se chegar mais longe: a “arte popular revolucionéria® ten- eu a se identiticar com a Sdeologia coninante através de us pro graze "popular" que preconizave audangas ce base ns sociedade / brasileira, Assim, utilizou-se da nogto de espago de "solidsor / do artiste, enquanto sutonomis relative do produter de erte na Sociedade capitelista, para se detectar de que modo a negagto / deste espage (atrelamento) pods significar a condislo pare sm produgio ca ideologis dominante. Ou seja, foi possivel neciz © greu de instituesonalizacto 60 fazer axtistico nacionel-sopvlar. Esta "aedigton foi processads com a conparagio entre a poesia / que esté no povor (corde), utiiszade pelos artistas engajacos / pare se dirigizen ao povo, e squele que queria "ir so pov" / (PC). Constatounse na primeira que o ‘eu'dos postes caracterizevs- se por ume rica sabiligeds ne estrutura do texto, correspondendo 8 préprie errancia do autor de cordel e envelvendo relagtes su- Els e variadas com 0 seu piblico, No case os poenss do “ir a0 povor, © ‘eu! apresentou-se preso 2 nacessicace da conscientize- Bo do “povo", mas no dialogande con ele, née assusindo ts aut. tas facetas que o 'eu' popular assuata. Assim, no préprio redo / de ser do poena engajade zevelou-se, ou conegou 2 ser revelade 0 geste autoritério de polftics de manipulagic de messas A exposighe eritica desse gesto fof aprofundaca cos a anéiise d= textos teérices & prear itieos do COC que exigian, em none daqui, e que proce Jan come popular, nacional ¢ revoluciondric, a ne, ego do espao de "solidto" do artista. E, destacendo-se tal ng gec8o, perceve-se nats conoretamente o atrelanento do artiste © a negacko das classes subaltemnas. Numa terceira etapa, tentoucse situar © discurso dos artistas en gajados on relagio as organizagSes instituigdes envolvicas no projete de *zevolugio brasileiza", fundarentado nas Reformas ce Base que agitaran o governo Jofo Govlart. Deste forma, enfatizes ase que 25 “esquerdas", onde as agineiss de cultura conscienti- zadora beberan suas dgues, promovendo instrunentos de mobilize G80 popular cependentes em ditina instincia do Estado, contri ~ buiran para iapeciz o curgivento de formas alternativas de lute Independentes do poder durgués. Neste sentice, verificou-se, om termes de seu contexte, cone # arte e a cultura engejecas foran resuitades de un atrelasento © um prograse aovido pele voz co / Estado. Finalaente, ressaitou-se que, ne caso do CPC, a presenca do Es~ ado ndo se manitestou em termes muito visiveis, isto é, ce so- 60 orginiee. 0 CPC guardou ume autononia adainistrativa © jurf- ica em relagie ao poder constituide, Ee teracs financeiros 85 relagdes nio se pautaran pele sistematicicade. © presenga oo £3 tado, que 4 principio dizie querer conbater, esteve viva no seu gesto, na sua forms, Daf a valigade de anélise de sua Linguagen artistica, once a inobilidage co ‘eu! © 2 negagto do espago de / sso1iddo" {dentificares © moso pelo qual 0 CPC representou ums forma suite peculiar de institucionalizagio de arte e da cultu- pare Waiter © Louroes [AGRADECIMENTOS. A profs Cargen Junquetrs, Coordenadors do Programa de Pés-gradua, he an CitneLae Secieis da PUC-SP, pelo incentive © compreensts com que ae tratou durante © curso © 0 perfodo em que escrevi es- ta dissertacte, Bo Prof. Octavio Tannt, pelo apofo e receptividsde. Bo Prof. Nicolau Sevcenko, orientader extrenanente critico, ave aceitou © caminnou conigo neste desatio. ho Prof. Osnar Favezo, do Rio de Jeneize, que gentilmente indi- cou 2 locelizapto de vérios documentos vitais para a realizacto 0 new trabaino, A wages, euje canpzeensto fo! fundamental pare suavizer os momen tor As tensos desta redag%o, apontendo solugdes prétices pare indaeros problenss; sua inteligéncta e franqueza euito me ajuda ram, inclusive conspirando 0 prineizo encontzo con aquele que vi ria ser o orientador desta dissertagte, tNorce nTRoUGRO 1 =A respetto de Rosa e do Povo 2 =k arte engajada noinfeie a década de 60 5 = Principals definigBes de um caminho: objetivos © métodos 4 = & Soctologi © @ luz prépria e inadidvel do texto Literéric 5 = D0 poena 6 = Sobre s lut ¢a obscuridade cepecistas cartTuLo 1 = coneideragtes prelininares 2-0 poens que *esté no povor 3 = 10 sr ao povor 4 = Una cimensac ao “eur buryues notes CAPITULO 2: 0 CFC € @ Ideologia doninante 1 = Introdugao = Sobre 0 espace de "soligio" = Em none do pove autros textos, © mesmo povo = cultura ¢ autoritartsne = A fale encobre os seus préprios ouvides: 3 surdez ca nacionai-popular Notas ir a0 pove, seu movirento interno ¢ suas limitarses culture 38 a eRPITULO 3: 0 CPC, & polética das “esquerdas” © a ideolegia do- minante 208 1 = 0 CPC @ 0 seu impasse 2-0 Linite des foreas politices 3 = A ruptura que alo howe zs Notes 262 conctustes 2s BreLOGRAFTAS ast anexos ih tendéneia polftica, mesno quando se apresents as aais revolucionérias, ten une funcdo contra ~ revolucionéeia a medida en que 0 eseritor sente sus solidariecade con 0 proletariags unicanente a0 que se refere a sua ideologies ‘¢ no cono produtor* walter Benjeain Ler os textos de noite com a lente do dia Wurite Mendes narrancar 18s néscarat de 1a fantasia, clavar une pica en fel centro sensible; provorsr le erupesén* oetavio Paz swrRooUGRO sua cor ao se percede. suas pételas nto se abres Seu nome nfo esté nos livros. E feia, as é realsente una flor. Sento-ne no chlo go pais 8s cinco horas ca tarde © lentanente passe a no nessa forme insegura. (00 lace cas nontanhas, nuvens sacicas avoluman-se, pequenes pontes brances moven-se no'ser, gelinhas en pantco. E fois. Mas € realsente una flor. Furou 0 asfaite, © tédio, o nose, 0 edie." (Carios Orunmone de Andrade, in 8 ROSA 00 POVO, 1983-45) " Poesia te escrevia Flor! conhecenco que és fezes. Fezes como qualquer, gerando cogunelos (zeros, trageis cogu- smelos) no Unido calor de nossa bors.” (Goto Cabral de Melo Neto, ANTIODE, 1946-47) 1 ~ ALRESPEITO DA ROSK € 00 Povo inte anos depots que Carlos Drummond de Andrade havia conecaco escrever A Rosa do Pove, vinha @ piblico o terceiro volune ds poe, is "Violfo de Rue", volume extra dos Casernos do Povo Srasiletzo, ‘xazendo poenas que eran colocades "zo lade do proletariago © oo cenpesinato, das lutas © de suas aspirarbes "1. Tratava-se de une antologia com @ participagse de poetas conpronetides con essa 1u- ta. nvioaio de Rua" era un dos instrunentos utilizacos por artistes © Intelectuais engajados nas Lutes travadas no infeio a década de 60, € una realizacdo oo Centra Popular de Cultura igado 8 untae Nactonal dos Estudantes Junto cos © Editora Civilizagde Prasilei- ra, do Rio de Saneizo®, Apesar de alguns participantes nfo teren tice vinculos diretos com CPC, "Viole de Rua" inserde-se num pro Jeto cultural que preconizava & conscientizag¥o des canades s0- cleis exploradas @ dominacas no contexte ou suciedade brassieize. E esse projeto resultou ne agdo mais orgenizada no sentido 6¢ una pratica de arte engajads oa histéris do pais. Minha proposta de investigagto, fundanentads nuns perspective so- ciolégice, tone por objeto a arte © 0 discurse do movimento de culture popular pronovide pele CPC né déceda de 1960. Nesse sents, do, a tentative incige no esforgo en situar s teoria ea prétics copeciste como resultade do seu tenpo histérico, dentro gas condi, Bes materiais politicas do perfodo en que o CFC surgiu © atuou . Trete-se também de nfo perder de viste una dinensio inportante os prética cepecista, sus obre de arte, no sentido de frisar ¢ impor tancie de sua especificidade, a estrutura do texto poético, ne es peranga de iluminar nelhor 0 seu significado ideolégico © polits. Antecipando un pouco os objetives deste trabalho, afirneria cue pele tentere! mostrar cono # projeto de una politica aceite por revoluciondria, sobre 0 fazer ertistico, acaba por reprocuzir Adeologia da classe dominante. 0 titulo propesto, & ROSA E 0 PO- Yo, cinia respeite a esta arte engajeda, once a bnfase € dace no conteddo "revolucienério" em detrinento oa elaboracde da obra en ‘quente Linguagem, 0 titulo nasce pele ditt nga que essa Liters ture apresenta en zelagio 8 A ROSA D0 OVO de Caries Crumond de Andrade, onde tendém 0 posictonanente politico do autor revels do, enquante contestacao. Ne obra crunmonians, tonando-se por referéncia o poens que intro uz este trabalhe, @ ‘rosa’ conserva o seu wistério de 1inguager postica ("Sua cor no se percebe/Suas pételas no se abren"); ¢ luna “forms insegure", no mais a velhe metéfors idilica na regen e4a do poems. 0 nonento politicanente participante em Drummond / plo exclus 4 problenetizesto ca Linguages, duscendo através cele 2 contestagto & exploragto e 3 dominagio Na poesia engasede vineulede ao CPC a flor no seria enfatizecs enguanto expressio artistica, nem pelo seu caréter idflico © tra setonal n pela identidade contrasitérie econo se apresenta na ANTIODE ce Joe cedrel de Melo Neto. Assim, A ROSA OO FOV que~ bracse em A ROSK € 0 POVO; @ riqueza poética transfornase en ex podrecinento estético na poesie cepecista. Povo © Linguagen tor~ nan-se expresstes que se negas ne estétics cepecista, em funcie do engajanento dos artistas no caninno politico que acentuava necessidace da luta antinperialiste © numa atituse "coerente” / con a realidace ca nacho, iste ¢, @ urgincie de una arte popular revolucsonérta ou de une cultura nacional-popular. 0 que foi dito até aqui apenas inicia ¢ levantanente de proble nas que pretendo estudar. antes que proceda o tratanento de ques tes neis soles, que inclusive revelan ¢ dinensio sociolégice / ‘da pesquisa, caminhares no percurse ce ceterniner melhor que extensto ¢ os Linites do objeto de investigagio, para esclerecer depois de que sede seré trataso. 2 = ALARTE ENOAIADA NO INICIO A OCADA DE 69. Sen dvida o C®C fos a aaior expresste de arte engajaca na nisté rie do pais, em termes de use prética orienteds € sistendtice, sua origem ocerreu no final co ano de 1961, momento Ge crise politica envalvende a rendncia do presidente da Repdbis, ca Odnio quecros © 2 sucessto pelo entdo vice-presidente 208 / Goulart. & exiagie do CFC,e dos CPCS que pontiIhavan an slgmas ci- dedes inportantes do pais, acontecte numa époce mercada pela exis, tenets de platator fs nacionalistas que eriticavan 0 inperieiis- nro (espectelmente ¢ norte-snericane) ¢ que colecavan 0 pove cons sujeito fundanental de LibertagHe sacional. 0 ISES, Instituto Sy e Jor oe Estudos Brasileiros, Ligaco erganicanente a0 Ministé - iio de Céveagte © Cultura, na Space sob © controle die intelectuc ais de esquerda, professave uma solugto necional © popul ° Partido Comunista (Pca) adotava um “caninho pare o soeialisno" / através oe um sistens de silences once preponderevan a “burgues: nacional” ¢ 0 proietariade, engrossando ao seu nodo # luta nacio, nal e popular. alén desses canais, frisar o papel desense - nhado pelo antigo Partido Trebalhista Srasileizo (P78), assentaco fen parte sobre una estruture sindical controlads pelo Kinssté = ro do Trabaiho, 0 que garantie um certo controie institucional sobre @ mobilizagto dos trabelnedores?. 0 CPC fot fundade por jovens artistes, estudantes © intelectuels fe resultou de toda une prética e ciscusste anteriores. con 0 ob- jetive oe lever una arte conscientizadora ao povo teve no teatro f@ sue principal emma. Pelo que parecem demonstrar os fatos, sus origen teve muito a ver com os runos tonados pelo teatro br: 3 eileizo na época, quendo a valorizaglo da realidade nacional © dos problenss socisis ganhavas @ cens*, conta um dos fundacores fe excpresidente do CAC, Carles Estevam Martins, que 2 entidace surgiu do Teatro de Arene quando fazie une tenporads no Rio de Janeiro encenande es peas *Eles Néo Usae Siack-tie" © "Chapety ba F.c.", respectivamente de autoria de Glanfrancesco Guarnieri 2 de Oduveide Vianna Filho, Daf teria despontado o grupo Liders do por Oduvaido Vianna F2 e Francisco de Assis, que ronpendo / con o Arena, optava por "une comunicag#o dizeta con as massas / populares, através de un teatro feits airetanente pare o pove® Sobre esse questo, Oduvaldo Vienne Filho escreveu um artigo p: blicado ne revista Movinente nf 6, pertencente & UNE, em outu - bro de 1962, onde eriticava # atuagte do Arena © Justificeve @ asta cepecista: "uma enpresa que seja sustentads pelo pavo para, objetivanente, sez obrigada e feler e ser entendica por esse 9g vo (..:3 0 importante € que us sovinento de cultura popular se wusiguece com es obras dos grangss axtiotee, mae nie vive cele? 6. Entin, fundava-se uaa prética politico-cultural que preven - dia faler as Mnaseas", b aultidio, rompendo con o circuite tes tral © artistico dominante que, segundo os cepecistas, linite - van 0 alcance popular ¢ revolucionério do teatro. 0 CPC vinculov-se & UNE mas manteve una autononia adainistrati- va.e Financesss, tendo porén o seu regieento interno submetice 2 Assenbiéia Geral daquels entidace estudantil, en 08 de eazgo de 19€2. Cineastas cone Joequin Pedro ce Andrade, Leon Kirszman, Marcos Faria, Miguel Borges ¢ Carlos Olegues, que dirigian os curta-netragens que compuseren o Filne Cinco Vezes Fevels, 9 te de testro como Vianninna, Jodo das Neves, Francisco de assis, Armando Costs, Carlos Verezze, Flévic Migliacio, Joel Barcetos, eseriteres core Ferreira Guller © Paulo Mendes Campos, ndsicos cone Carlos tyre # Carlos Castilno, inteiectusis coms Carlos = evan Harting, tiveram suas atividedes unbilicalnente relacions das con 0 CPC, Seto en se felende do CPC da UNE. Sob & palavre de orden "ir a0 povor, 0 CPC. atuou en vérias éreas de producto artistice. Una das maneizas Ge se "iz 20 povo" con - sistiu na eladoragto de textos répidos, baseades em noticias de Jernais go dia para seren,encenacos nos Iecals de aglonerecéo pd bitce de cidace do Rio de Janeiro, sob a diresto ve 0B cas Ne~ ves e de Corlos Verezza, Mas 0 CPC fol mais longe: em 1962, & UNE langave = canpanhe pela participarto de 1/3 de estudantes / nos érgdos decisérics das universicaces, de scorde cons "Carta do Parané", aprovada ne 11 Seningrio Nacionsl de Reforns Univer sitdrie, realizado em Curitiba durante o més de merge daquele / ano. Cone instrunento para divulger = canpenha por vérios Estedos bresileiros fol exiada a UNE-VOLANTE, que percorseu varies capi- tais, sendo integraca pelo CPC que apresentou vérios trabainos , Inclusive @ pegs Auto cos 99% sobre e elitizaglo da universicade no Brasit, A partir daf foram criados vérios CPCs en capitals © cidades presileizas. Rpesar 6a presenga da mesma orientagio ge- rel, cada CPC teve praticanente Une existéncia indepencente 40 ponto de vista financeize @ administrative e, até mesmo, en ter~ nos de experiéncia com © publics. 0 cre © 8 sua arte engajade equacraranse no cline” ce época, 1s to €, responderen a un deterainads qlacro politico-ideolégico / através go qual enezpia o pove como sujeito das eudangas socfais segundo os discurses predoninantes entre as forcas de esquerde / a épace; 0 pove como sujeite @ ser conhecido e para ser ajudeco ho seu eonhecer-se. De 1961 = 196i, no Brasil, = lescoberte® do povo, as estratégias para a sua educagio © para a sus conscienti zagfo, ss preccupagtes con usa culture pogular, prolitereran en tre estudantes, artistas, padres e intelectuats, de norte a sul”, Entidades estudantss, estatets @ religiosss (cons © HEB, Movinen to de Esucagie de Base, lancado pele Confederagto Nacional dos Bispos) estiveran atuantes dentro desse quacro. No nojo de todo esse movinento destacou-se tanbéa, no Nordeste, a partir de Pernambuco, 0 HCP, Movinento de Cultura Popular, / fundado en 1961 cono entigade privada sen fins lucretivos, mas Ligaco & Prefeiture © ao governo do Estado (Miguel Arraes). 0 oP utilizou verbas, inéveis @ vieturas dos érafos publices, of rigindo grande parte de seu esforce para a alfabetizagio sequin do & Linna oo métoce propeste por Paulo Freize. Estendeu tanbén a sue atuagdo para o campo da "erte popular com o objetivo de sioterpseter, cesenvolver e sistonstizar 2 culture popular"®. Apeser de muStos pontos em comun con © CPC, © MCP apresentave / algueas diferenges. Seus estatutos erinien 2 ecucagto popular enguante neo para Yaspliar © politizagto das massas, despertan do-as para a lute socialt?, no sentice de que s elfabetizacio por exenplo, de scorce con as propostas de fe Freire, deve ~ rie conscientizer 0 pove gerando condictes pare & participacto poLstice e no Ihe fornecendo inediatanente o caninho da liber taco, En termos de cbjetives, o NCP propunha uma ago que 9e- rasse condigdes para que setores significetives a populecto tL essen neios pare escolner 0 seu prépric’casinno. No ceninno do cee, conscientizer © politizar fundiam-se nua sesno none, nun hnesno ato. Contudo, © MCP, de us mods geral, obedecia ao mesno movimento de "it a0 povor; nic desejava, segundo os seus princes pics orientadores, inpor conteicos polsticos & culture popular nas prasenvar © desenvolver "una cultura ais autenticanente na clonal, buscande as refzes de cultura brasileira once eles se encontran, no 10 do povar, Oe modes até certo ponte diferen — tes 0 NCP © 0 CPC defendies © mesmo campo: © do nacional ¢ do popular e, de certe forma, como nesmo tipo ot atitude, 0 * ir a0 povo ". Assim noviacse 0 CPC numa conjunture onde os instrunentos © / agtacias sais "radicais", portadoras de discursos de transforne- gto social, tenoian © acontuar 2 prioridade da luta en prol do / desenvolvinento 2 da afiznagio nacionsl cone condigio pare ums / revoluede socialists. Mio se protendia romper com o Estado bur - gubs ineciatarente, nen criar na prétice dos movinentes populs ~ res enbrides de una néva forme ce organizagto do poder politicos estratégicanente frisave-se © necessidade dos movinentos popvla~ res viverem & sombra do Estado, aproveitando.as suas "brechas™ , cone .ocerria com os singieatos dos trabalhadores, dependentes / do Ministério do Trabalho e sob 0 comande 40 CGT, Sxg80 que ti nha vineuiagaes con 0 poder constitusda. Tode essa situsp$o derinis os limites de una ago culturel ave pretendia ser popular © revolucionéria. Nesse sentido todas as / sues ativicades, de un modo ou de outro, evidenciaram as diretri, 2es politico-seeoldgicas da époce. Pers este investigacle uttli- zarei una das atividades artistices do CPC, que apeser Ge nko / ter sido mais importante, tornacse a mais importante sop a / perspective que serd adotact aqui. Trate-se de seus poomas, na medida en que poden se oferecer cone campo de investigagio sobre as relagdes entze Linguagen © ideologia. fe aesne tenps sorts / considerados as textos tedricos ¢ progranéticos do CFC e subsi - dtarianente outras manifestacdes cone fontes cocunentais Este relate répide apenes expe 0 ch¥o sobre o qual caminharé = exposicho de pesquisa. Nao se trata de um histérico extenso, co no se pode perceder, mas sonente un estoco que pode ser comple - rmentado con ss infornagtes que ceverso ser encontrades ne parte reservads 20s ANEXOS. 3 ~ PRIVEIRAS OEFINICDES OE uM CAMINHD: DBJETIVOS € HETODOS buss preocupagies deven ser seapre lenbradss neste percurso. & oy primeira, que j& fol sugerica no infeto deste trabalne, 2 de co- no une arte engajada ne luta do povo contra = opressio © contra/ a niséria transporte elementos ideolégices da reprodusto da / opressio © da aiséria; nessa linha, cabe estudi-la levando en conte 0 seu conpronisse de classe, considerande-se nfo apenas 3 sus arte, maz os discurses no artisticos que 8 fundanentan. § segunda preocupagio relaciona-se com a viabilidede de uma socio- logia que nfo despreze o texto literério pelo que ele ¢, ov seJa, nfo um discurso qualquer, © sim que se caracterize em ternos de sus especificidade; treta-se de opeie netodolégice que no redun de en necaniciena, estabelecendo relegtes entre obra de arte, / Adealogia e classes sociais, de mode que nfo inponns de fora ps za dentro do oiscurso ético conclusses que somente se 2pzoxi nas} sus versade: Assia, 0s dois aspectot assinelados poden ser fundides num dnico caninna: ao ee efetuar um andlise de ideologia contica e repro duzida pelo CPC, pare buscd-1a em toga # sua proruncicace © si, anificagdo socioldgies, fez-se necessério tomar 0 objeto estéti~ co enquante Linguagen. Este ¢ apenas ua conego cujos desdobranen tos desenbecarto om reflexies aie emolas Enbors colocande questses pertinentes, alguns trabalhos que ert, Eicaran # consute do CPC bas ran-se en seus textos tedricos @ progranéticos deixando de lade a sua prétice artistica. 0 traba- ho pioneiro nesse campo fol © artiga de Sebastito Uchos Leite , publicade en 1965; nele 9 autor assinaieva: Ise se antende que = politizagie ¢ una maneire de sdrir 2 conciénoie populer e dar / condigbes a0 pove (no sentido, & obvio, de classes proletéries)/ fe escother 0 u caminho politico, entio, sposser-se de suas for nas artisticas pare Ihe oferecer un novo contaddo politics seré Anplicitemente una negacto de sus capacidace de arbitrio (...) / 10, Torna-se contraditério oferecer ao povo condigtes para una opcto politica © eo mesmo tenpo negar-lhe 0 arbitrio ds criagto estéti ca, Oeste modo, nfo se justifica a criacto de substitutives para Anpor un novo contadde, os folhetos de versos ¢ as letras de / samba que initar 0 modo de expresso popular, mas sto produzides por intelectuais de elite, conduzen o gerne dessa contradicao / assinaleds ecima. 10 Warslena Chaui, nun artigo onde 0 CPC ¢ apenas un dos Probie! 2 tratadoe, val um pouco mais longe em suas crfticas. Pere = auto ra, 43 posigdes cepecistes revelarian un "ilusinisne vanguarsis= ta autoritério". Nesta perspective, cheuf define 0 CPC vinculedo com a8 chanagae oréticas populistas. 0 populisne seris ai coloca, do enquante "uns polStics de manipulagio de massas, as quais sto Anputadas passividade, inatursdade, desorganizacte e, consequen- tesente, un misto de inovénets @ violencia que justificen 2 / necessidade de edueé-les © controlé-las para que subam "correts. nente” ac paleo Ga Histéria. 0 populiste é obrigado adnitir & realigade brute de una cultura alta popular ao mesno temo en / que precisa valorizé-le positivanente (no solo des préticas poli ticas © sociais) © negativ inte (cone pertadora dos neseos atri, butos que foram inpingides § nassa). Desse anbiguidace resulte = Amagen de una culture populer i 1 (eeJa no sentido de una icéia 4 ser realizads, seJe no sentico oe un aedelo a ser seguico) © cuja efetivago cependeré de existéncia de uma vanguarde escla sa, cospronetica cose soko do pove a ser por ela esclareci- aor. as Levando-ee en conta es reflextes dos dois autores nencionades, / poder-se-6 relacioner que a contradicis & que se refere Uchoa / Leite estarie ineeride no texto © no contexte no qual se movia a politica manipuladors des masses. For af jé € pernitide pensar +t © cepeciens aida do equivoce praticade por artistas ¢ intelectu- ais de esquerda, como discurso ¢ prétice que stendia os spelos / 0 orsentagdes polfticas determinacas. Contudo, os artigos cite- dos enfocan basicanente o plano de inten¢Bes do movimento, no / 138 envolvende com o novinento percorride pela prépria arte cepe- clsta, 12. 8 investigagze que aqui comeca a ser exposta expressa 24 um caninno um poueo mais longo: tomar enquanto una das dimen- sbes do objeto de pesquisa exatanente o seu fazer artistico pera, através cas relagSes que se posse estabelecer entre Linguages / postica © iseologia, cenonstrar os vinculos de classe daquela / arte © 0 seu verdadeire peso na seprocugdo das relagbes sociais ee produgle. Para isso terneese necessério duvidar: nfo retire: do discurso-objeto, através do seu "contesdo", 2 ideologia de classe presente, nas colocar en divide 0 "contedde", tentando / ceptar 0 que o significads mais inediato pode oculter. Urge, por tanto, conhecer cone os termes conponentes de una determnacs / arte silo oryanizavoy. Dat « escolne dos poemas engajedoe selecio nados con a produgio cepecists, © nie outro tipo oe producto, / isto que © poems é ura das expresstes artisticas que neis se / oferece para una andlise de su estruture interne, viabilizando us estuda que garanta una apreensto mais profunda de sua signS~ Heagto.Parte, esse modo, do pressuposto de que a organizacio / estéticn dos componentes do poena, pose, se captads, tornecer ele entas pars conpreendé-lo aelhor do que une andlise dos seus / oonteddos". Porém, no se vai estabelecer una cicotoria entre © estético ¢ o ideolégico. Esses cuss dinenstes serdo consideradas sempre fundi, des no percurse da obra de arte, senéo a sua distingdo puranenté analftics, No ciscurso estético, une existiria pare = cutra eas la outra. 0 importante & pereeber cono ocorre o arranjo estrutu- al que a= contém. No caso da arte popular revolucionéris pr, 12 tendo demonetrar ce que modo a sus dinensio estétice torna-se una eéscere da ideologia do segaento ce classe social alf conti- a, © conn essa oimensio enpodrecide pela inposig#o ce * conte: dos revolucionéries " acabe per revelar, de maneira muito especi, al, a Sceologia da classe doninante trate-se também de comprovar a dependéncis do cepectsno en reie~ Glo 2 ua projeto politico que, em esstncia, nie se desvinculou/ dos termes ditados pele burguesis cominante, ov melhor, por una tregio dessa classe, projeto que om sua forma sais visivel passou a ser chamade de: populista © que se explicitava nas Reformas de Base do governo Goulert. 0 CPC teria se organizado en fungic des se projeto, concorrendo pare e instituctonslizagto da arte © do artista, reproduzingo © sujeite da ctiagio axtistice enquanto / portador de un dizer politico que o ingedia de cescabriz, oo era cesso no qual estava envolvido, una atitude indepencente do este do burguts que se propunna combster. Isto ccorria A medida en / que se configurava © atrelanento do espace ce criagio ertistica/ as inposigdes daquela politica que atendia as denandas de un pro Jeto onde 0 Estado surpia, cada ver mais, como promoter das muden gas exigidas. Nesse esquena o artista estaria preso aos smpersti vos de us dizer ao pova (nassas), nfo conseguinde trensfornar-se fen quem tanto queria (vanguards cultural do povo) © expresser oe fato as aspizagbes dss classes subaiternas. & Linguagen ert{sti- ea do CPC, captada em sua estrutura, revelarie essa inpossibili- 0 cPC © sua prética artistice no s6 terion reprocuzide en seu Intino, iste é, na estruturagio de sua Linguagem, 2 iceologia Ja classe doninante de une forms desfigutace, mes terion sico - / ais un apelo ao engajanento de artistes © intelectuais do que una nensagen @ ser interiozizads ne prétice pelo seu pislico (po 23, yo). Tanto exccepecistes como of seus erfticds concordarian aun ponto: 0 pove, pdblice eleito pele CPC, nto fol atingiao ?; ex plicagtes sobre o fate varierion, mas ninguéa.o negart A Ampos, aibilidede de se cheger as massas estaria presente no movinento/ interno da arte cepecista: @ culture popular revolucionéria trang portando es si o anti-popular. 0 resultado, serie 2 reproducéo / do abseno entze intelectuais.¢ classes dominadas © una forns de cooptagie desses categories pele Estado Surguts: © cepecisne nio teria side un equivoce, cone se os seus militen- tes tivessen siaplesnente errado 0 aivo, 0 erro teris existigo / 1, pare aqueles que participaren daquela prética politico-cultu: fas un exre cujo significade manifesteria algo mais profundo: / enquanto elemento de reprocugto de un projeto de asnipulagie des chanades classes subelternas. Pare que se posse avelisr esse a5, pecto do problena far-se-4 necessdric estabelecer conoo "erro" az, tlculava-se com instituigbese partides que, naquela conjuntura, apostavas sinde no Estado burgués cone pronctor gas reformss so cleis, nfo ronpendo, portant, com a ideclogis dominant Apesar eo CPC ter se conportade cone una agéncia que teria con trlbufce para # reproduce da ideologia dominante, nao se deve / envolver nesse sentico vse visto unilateral 2 qusstéo. & propos, te cepecista nfo teria naseido cone mentire, cone mode ineciato ce nescarer a realfdede. Pele contrério, como cesejarei denonstrar, fas relagtes co cepecisms con a sdeologis dominante, en alguns / aspectos, foram sarcadas por nagecées, enbore ndo 0 suficiente / para que tal oposigo se tornasse radical permitindo use ruptura, Segundo Theodor W.Adorne, * u Inverdade politica mancha @ configu ragho estéricer "Yue Linne deste investigagto torna-: possivel aprofundar esse perspectiv A sinplificagto do estétice pare / Fins poistiens aissticos e concientizacores scabarie por restrin gir e cristividade do artista atrelsndo-o a0 partido ou 8 insti- tuigdo, espago que nfo inplica apenas um problens estético, aas/ que 52 manifesta enquante conponente do modo de ser da sociededs, isto &, enquante espage social, onde se ensais e se constroe 2 acdo artistica e cultural, coso seré explicitade e uttlizado no curse da exposicao. A, A SOCIOLOGIA € A LUZ PROPRIA E INADIAVEL DO TEXTO LITERARIO. De acozde com una orsentagso tedrico-netodoiégica mazxista evens nar-se Sociologia de Literetura @ iovestigargo de obras que ofers Gan com clereze ao estudioso # representacdo da meterialidade / des relates sociais, sem que eatesa tavtileds™ ou sod *ndscare” eriada pelo fluxo estético oa Linguages. 92 acorde con Pospeiov, jevense reconnecer que entre todas es aztes 2 literature épare/ @ seciologia o mais favorével assunto pars estudo", pois, " as ores Literdrias s80 98 cepésitos mats transpureites uv pensanen, to eriador; no seu funde brotas as fontes de vide social que ss nutran © que ordinazianente se oferecen con toca a claricace 8 nossa vista." 1? € do conjunte literatura o autor destece os gine ros que mats © abzen, no sentiso sssineleds acina, para a pes-/ quisa: "eto as grandes obres épicas ¢ en particular as novelas © os relatos novelisticos os que melhor se presten para um assunto deese tipo. Trata-se de obras que, como apresenten grances afres 1608 do munge abjetivo das relegtes sociais de us pais dado en oe tepninads época, © cone a0 mesmo tengo expressan o clins subjetd vo da experitneia viviaa pelos ho ne desse pass © esse épcca, / pintan o ser social cabal ce seus personagens, assim cono os / acontecinentos, os fates © 0 meio no qual aquels se nanifesten. © importante, segundo essa perspective, € encontrar na obra Lite 15. récia 8 reprocugto de una determinads reslicade objetiva © 2 / Lidade, Privilegia-se concitnets sccial deterninada por essa 7 consequentenente aquile que 2 “forma (épica ou novelescs) per~ nite copter, retizendo-se def a materialisads vive do "contedder Essa sociologia, ne fundo, traduz 20 seu mode 0 que une Estéti~ ce8 sociologiets parece querer inforner. Para Lukécs, utilizands 0 Go conceito de *zeflexo estéticor”” | & Literature carectertza- rin um node especitico de superacde ds realigace secctonads do cotistano, como superagto de elienagio. obra de arte manife teria assin o seu carter antroponsrtico ne medida en que 0 / ven sim 6a realidade € refletido pele obra de arte referinco-se exclusivanente ao Hones. Segundo Lukécs, "toda grande arte / € realista desde Homere. & Isto porque ele reflete s reslidsce; eete € 0 criteria trrecusdvel de todo grande periods artistico, ainda que naturalnente varien infinitanente os meios de expres sto", "8 Oeste modo. 2 definicto de reflexo estético estarie vin culads a uns concepcio de reaiieno que estrapolaria os estrei- tos unites ce une determinada escola literdria. ln dos pilares que sustentan a foraulegso ce existincis cesse sealisno "sensu lato" ven a ser © conceite de "fieiononia én Lectual® dos personagens, como elesente condutor do fluxo da / narrative, Tal "fieconomian envelverie os trages que compen / para cade personages une vis¥o de sundo que obrigatortenente , do evidencia nevum pretensie ce se expressar enquanto ciscur 0 coerente © verdadeire. Pele contrério, 0 personagen do ro nance reelista é apresentado com todss 5 suas insuficténcies/ @ contradigtes, ditas de tal modo, que propician una conpzeen~ sho profunda da vida social. Assin, "todos os princSpios bési- cos 6a composicte poética nfo vao fazer mais co que refletir , concentrando-as no filtro de sintese Literdrie, as formes mais a6. universais © necessdrias da prépris vida hunana., artista inven te situseges e melos expressives etravés dos quais torns-se evi- dente que as paixtes individuals transcenden os Linites do munco puranente indivicuair.|9 € desse maneira que un personagen anes quinhado do romance de Selzec, 0 St Grandet, revelaria toda una grandeze Literéria, transportands en suas agtes as contracigies © paixtes vivas na soctedade. Este 6 © grande rovance realiste 92 Fa Lukécs, aquele que através de uns forms transparente, de "fi- Slononia intelectual do personagen, traz & sensibilicade hunsne condigbes para a conpreensio da realicade social, © grande ronence realists na concepeo de Lukées, iria respeito a “fase neréica da burguesia", quando @ éivisto capitelista do trabaino ainda no navia inposto una separagio radical entre tee vide, quanso a ideslogia burguesa ainda nfo havia apageds / os seus clardes de classe revoluctonéri anti-feveal.20 Porén, & nedida en que a divisto capitalista do trebaino aprefunds-se ¢ genecaliza-se, anuncisndo a fase imperialists, o rosance 2 3 vera de arte en gerel tornan-se incapazes de transfornar @ Lin-/ guagen coticians © de reproduzir 9 honen com todas as suas aspi- rapes mais essenciais.?" @ ideclogis burguese mostrarie entio 0 seu caréter ais eaciondrio. & divisto do trabalna colecaria 2 artista enguante produtor de sercadortes, especialista da espon- taneidade © da arider; as paixtes nunanes serian nascaradas 02 los procedinentos "formalistast © "experimentelistas" das corten tes a vanguerde artistics. enfin, ocorreria inpossiviligade / de se construir 2 narrative © partiz de constitusgie da "fisione nia intelectual" dos personagens, es forme alo serie mais a / transparénets de um contedso hunano, a9 mesma tenpe particular ¢ universal. € aqui torns-se lepitiso questionar: se "forme", B medion en que se passa da tase herdice da burguesia” para a fase imperiaiista tende a oculter © *conteddo", por que nfo se pte & prova esse / afirmacte, buscando na estruture formal ds obra esse "verdace"? / du ainda, se o “conteddo* tende a ser diluide na *forna™ por que nfo se constzée un aperatoe teérico capaz oe estuder a arte ena / quanto elisto de forms © contedgo? Pere melhor encaminhar suges- tees de respostes pode-se partir das reflexes co prdprio Lukées fe mesmo ce outro teérico como Lucien Goldnann be acordo com Lukées, "A nedida en que @ econonia mercantil se vail generalizando, todos os bens de cultura tornan-se tanbés ser, cadorias,0 mesmo tempo en que seus produtores se tornan especia Listes subnetidos & divisto cepitalista do trabalhor?? neste con texto 6 que ocorterse = separagio entre arte e vica. € "0 escri- tor a2 torna ua especialists de inpressio, un virtuose da inedia tleldade, un sisageato da alma". €, portaste, = producde dem cadoria que coleca o artista nuse situacie deterninads de alhe nento em relacte & vide. Na ‘fase heréice de burguesia® essa sepa ragho ainds peznitia ao eseritor representar o Hones, nlo mais / fen sua integrigace coma sconteceu na fase renescentista, nas 4 fen processo de estilharanente, enfatizande a dinensao trdgica de vida.?? Sob @ dominacio saperialists essa representecto ficerie/ ainds mais prejudicade, a ruptura entre s arte © = vide aprofun- der-se-ia Assia, os texnos pelos quais cotidta wente of honens represen-/ tan a vida aparecerian, cade vez mais, invertends o sentido das relagdes socsats, substituindo-ss por relagdes entre coisas. Fo! un dos ciecipulos de Lukées, Lucien Goldmann que frisou 0 caré-/ ter fetichiste de producto capitalista, Pertindo das reflextes / Ge Marx no capstulo I do CAPITAL,Golexann tentou mostrar que o fendneno da zeificagto apresenta-se orientando as relacbes soct~ a8. ais © a Linguagen pele qual os hoaens se comunicam: *Usanos cor- setenente expresstes en ei absurdas, ses que todo 0 muna compre ende, cono: ‘a enpresa vei ben’, “o cabre sobe! ¢ * as mercedori as chegeram’ (...) Oe um lado @ de outro, a vide psiquics do ho, nem nada wais ¢ que us prolonganento, un acessério da Unice ree- Ligace ativa © agente: ss colsas inertes. Para os rentistas 0 / dinneizo aunente ¢ © reprodur dele prépric, como un ser vivo. A Linguagen reflete essa eituagdo. Diz-se "o dinheire trabalne", te capitel produz', ‘ renda da terra’, etc." paste moo, © Linguagem, coro componente de conscitneia que os hotens possuew da vida social, fica sendo definids enquanto Linguagen slienece/ nas necesséria em relecte & reprodugto das relegtes de procure capitalistes, © Linguagen na qual, © pela quel, os atributes de hunanidace esto diluides ne "acto" as coisas. Dentze dese 16gica, & medica que # doninacdo burguesa © = sete Go capitel aprofundan o seu controle sobre s hunanidade, ¢ lin guagen doninente na sociedede deixa de garantir, por ele mesma, a captagte do signiticade mais profundo das ativigaces husanas . Na visto de Goldman, "oom o passer do tempo, 8 medica en que = relficasio fof fazendo progressos, a rupture entre 2 reelidsse / scial ¢ a busce do humane acentueu-se a tal ponto-pelo menos no mundo capitaliste- que a expressio dessa busca teve que cecer uy gar & simples censtatapto @ descrigio de ums reelidade social / reificada inumana e privads de significesto".?% pores, & exata fiente nesse panto que se pode ptopor novas conclustes = respeite de pepel da arte @ do artiste nos limites os vide contenporines, isto €, nas sociedades capitelistas en sus fase inperieliste, / Gestoando-se tanto da estética lukecsiena, assin conc de sociole ‘ola que ele informa. Pele que foi dite sté entdo, conciue-se que, no canpo ds etivica Ge artietica, sod 0 avango de sociedade burguese para a sus fase Anpersaliste, a Linguagen deixa de se conportar coo um instru-/ mento de transparéncis para que as relagtes sociais fundamentais sejam expostas como "grandes frescos do mundo objetivo", e tan ‘bén conc 0 "lina objetivo vivide pelos homens*.?® A Linguagen em circulagle na soctedade burguesa passa a ser uma questo probie~ nética. Nesse centico, € que fica a sugestio de que a Lingvagen, a0 nfo possibilitar una relagto clerividente entre © homen © mundo, entre artista © vida social, en funglo de perda de dimen so da toteLisage do mundo, resta cono Unice © Gltina arna do / sstista, arne que, sais do que aponter para un alvo exterior, #3 taria voltads contra ele préprio, cone us problena cruciel a ser resolvido, 0 artista, sofrendo 0 processo de Lsolasento inposto/ pele divisto social do trabalho capitalista, trenstoreado nun / pequeno ponte subserto na eizculecto ce mercadorias, s6 terte, / pa sue condighe de artista,une débil Ligacko com o mundo, = sve Linguagen. 08s necessicade de resolvé-1e que narcou insistente ente @ literatura, principalnente e pertiz da segunda metace oo séeule KIX, caracterizendo es varias correntes artistices consi- deracas “vangueratstes" 0 artista do Rensscinento podia traduzir o Honen + sus integrica de porque os elos entre arte © vide ram mais claros para sua / conseienele, 0 da "fase heréica de burguesia® tendeu a represen tar une perda, a cos atributes oo Home, © tracuziz o rompinento entre arte © vida. 0 de "fase inperialista” j4 no ten o Homem / sob seus olnos, pois esse foi “sevorado™ pela 1ingua das cofsas que comanca @ Linguages do real: por isso, tende a feriate, 8 Enverte-la, usando os seus préprios termes. Esse etituce crisdo- ra do artists contemportneo nilo deve ser definida conc sinples = Benaglo. Ela reeponde a cenandas da vide social, was revela sen 20, pre une tentative de resposte & alienagto, buscando ns Linguagen nde ais una verdade social, sas um modo de sugerir o desnascai nento de Linguagen. Nesse tipe de criacdo nto né mais un sodelo/ de Honen a ser representado, nen a angistia pols fragnentagto co Modelo. & busca direte pela integridade do Homen desioca-se, ci a vez mais, pare outras atividades. A busce provocads pels core Ge arte implica une atituce que nfo fals (e nfo pode) do Honen , nas principelnente fale a0 homer, devolvenco-the sua Linguages =, Lienaca invertiaa: NBo fol sem sentido que con o perioco inperialista intensificou- se a prescupacte coms linguages ertfstica, quer do ponto de vis, ta da criagto, quer do ponte de vista da teorie e da oritice. 0 periogo inperialista € squi um perfodo denezcade. Segunco Lenin, ele j4 vinha se esbegande © partir de 1870, desenbocanco em 1918 con 08 seguintes resultados: "s propriedace privada beseads ne tranainn ae pequene proprietério, 2 livre concorséncia, deno~/ crecia, todas esas expressdes com os quais os capitalistes © & “sua inprensa enganan of trabalnadores © camponeses pertencen = / lum pasado longinguo".?7 Nesse prccesso efetusr-senie 2 fuse / fentoe capital industriel e cepital bancério, definindo-se 0 cep tel Tinanceizo, exigings @ intensificaste da exploragto ede do, sinacdo cepitalista, coms radicelizsodo oa lute de classes © 0 consequente fechanento dos espagos socisis de particinagie pols- ica Ne vercade,a ceracter{zagho leninista do ingertelisno aqui se a presenta & medida em que ne sizvo dx terminologie utilizada por Lukéce ¢ & mecids on que ninhas sugesttes critices parten tatics, mente oe utilizagie de sua Linguagen. Por isso, tento esquivar - ine da discussie @ respeite os definigto ao capital financeizo & do modo pelo qual Lenin estabelece as caracteristicas do imeria 2. Lisno. 0 que importa € que, deste forma ou de outza, 0 desenvol, ‘inento do capitalisao acaba por restringir cada vez mais o es go de participecto politica real dos indivicues,esvaziando-a nas fornalidades até mesno nos Linites de una denocracis’ .representats, ‘ya, Otnende a questo pelo Sngulo do Tassalte & raztor?®, ou ds mmultid¥o solitérian®? ov ainda pele andlise dos novos meios oe controle dispostos pele “sociedade industeial* desenvolvide por Herbert warcuse,2° deve-se chegar & questto da atonizagio des 15, lagbes sociais, & destiquragio cas relagtes polftices, & imoosss bilidade ces sujeitos sociais en seu cotidiano representazen-se como tals. 0 termo "masse" passe 2 denominar essa forsa do spare, cer social ¢ pode ser vista como us elemento que contribui per o arrefecinento © naccaranento da agudizaclo ca lute de classes/ previste por Lenin. 0 que imports 6 que a fragnentacde do cotidians préprie do desen velvinente da eapitalisae vas dmponde novas relectes entre arte fe realidede. E nesse sentido, cono jé foi sugeride, énfase nos procedinentos metalinguisticos, através de vérias correntes artis ticas contenporiness, revelam muito aais que una inpossibilicage imeciate de representar o homen us atrioutes, aas un inpulso ne directo de desnuder @ Linguagen cotigiane 5. 90 POENA. Se na fase inperialista, continuencs chané-le assim ce un eodo provisério, acentua-se a necessidade de se romper ou inverter & Linguagen doninante ne sociedace, = arte tende s ser definics / como negagio de iveologia dominante. Na verdade ere o que Lukécs afizmava en relagio A "grande Literature", mas nfo aprofundando 2 questo porque nfo concebeu, de um ponto de viste meis radical, a Literatura enquanto Linguagen.Porém, © essencial ne norento fi, ca sendo 0 fato da Literatura definir-se cono un modo especitico 22. de negagio da iceologis doninente, variando, enqvanto tencéness, Ge acorde con 2 fores pele qual faz parte de totalicades socisis determinadas. Ae se definir 1iteretura deste modo no se quer aqui afirmsr que esse novimente anule 2 iceotogie enquante eienento do texte.0 que se pretende 4 considerar # Linguagen poética cono aquela, em cir, culagto na sociedade burguese, que apresenta una maior autonomies fan relagto a0 discurse dominante. f arte ea literatura, © as contenporineas enfatizan isso, trazen a recusa en feler a Lingua gen inediata do mundo, © que nto inplica necesserianente 0 rompi, nento com 0 ideolégico ou qualquer outre forma de verdade social 0 que redundarie nm rupture entre arte © sociedece;tal. neture inpiicarte a elaboracto de un nlo-cizer absolute, enbora ao se destacar tal tendincsa nie $e pode deixar ce sugeriz esse inpulso de norte contigo na Linguagen artisticn. Contuda, trata-se de um movinen~ te tice e tensor paradoxalnente o caninho pars 0 vezio torna-se extremanente denso de significegses. © pée 2 nu una questo cry cial oume soctedade de “nassast: 2 de criacio. Para lever adiinte eesas reflextes, 9 socislogo nfo pode olvi-/ dar a necessidace de considerar ¢ ‘luz" {ntina ¢ estruturante / do texto Literéric, Segundo Antonie CEndido, “enbora un sociéia g0 ndo posse aceitar as consequéncias de sua estétics tvealiste (o autor se refere a Benedeto Croce), 0 fato € que ele ten © nérito oe assinalar este aspecte intuitive © expressive da arte, vendo © possia, por exemple, como © tise ce linguagem que aen festa seu contedde ne medica em que & forma, isto €, no nonento fen que se define 2 expressto. A palavra serie, pois, so mesno / tempo, forme e contedde, © neste sentido e estética nfo se sepa 2a da Linguistica 3

You might also like