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A ESCRITA DO SINTOMA YES CLAUD Staves et HM ME HP PMICAITAT Fa ag om rado anteriormente: no corpo; i rencont ties ta everita de no vive de bond nis™ vive do catpe saber por isso. sgnyora tesemuinh ; jgualmente, visar & interpretagao de um sintoma sty sua ini por iss sentido, & encurté-lo: resolver 0 enigma da Esfinge, que’. que nao sar A supressio de um sintoma, nao suptitne o rea, O Feal, Incurivel. que ence Nao evitou Edipo em Colono. d k - Mrmbrem-se do caso do pequeno Hans. tio bem desdobrado por Freud: e a angistia QU surge no menino de apenas dois anos ¢ meio, na ocasiao... de suas primeiras eregoes: acontecimento de corpo que Lacan, em 1975, qualifiea nao de squtocrética’, mas de “tudo o que ha de mais hetero” rompendo com a consistén- cja de umn mundo no qual o pequeno Hans, até o momento, sabia tao bem circular. "Tobia que segue transforma 0 enigma encontrado em um medo nomedvel: 0 cavalo é um significante que nameia um incémodo, Mas é também uma escrita: wre eavalo-sintoma que empina, que se agita, se estende, se sacode a cada volta ve eruas de ura Viena cuja cartografia chega mesmo a ser reorganizada por Hans aparir de entao. Este cavalo-escrita no qual Hans € oautor nao resolve o enigma, mas o desenha, maisdo que isso: ele redobra em uma poesia inée navida do pequeno menino. Acontinuagéo da histdria é o tratamento operado pelo pai, sob os conselhos de Freud (a quem se enderecava o pequeno Hans indiretamente): um tratamento, o real que havia feito irrupgio simbélico, de uma escrita - esta mesma, sintomatica. Hans no serd mais f6bico. Ele se tornaré diretor de pera. No entanto, o pedago de lingua sempre singular, intranspontvel de um caso a outro, teria sido isolado? “Eo que motivou a reserva que eu fiz ...] sobre o fim deste tratamento”, precisa lacan, desde 1969: o real sinalizado pela angtistia encontrada pelo pequeno Hans} fou esquecido atrés do esquecimento do sintoma de sua neurose infantil. Bxteseria o caso de Andréas? b Néohé neurose infantil para este jovem sujeito, acolhido durante treze anos, "oho. i 5 ae dia de Aubervillicrs: 0 insuportavel com o qual ‘Andréas teve que lidar, ¢ Para} lag tem le, ndo fal encontrado além do simbolo (como foia caso a dis- ‘TSiffomatizar este real sem o recurso de um is: ( wtorais de Andréas, que mas fe Omen fora do index falico. {Urs % tahe] Scldo. fa partir do singular das sacadas a Digitalizado com CamScanner desejo. aqui, prestar homenagem: nao sem Ievar em conta o detathe a lesejo, aqui sprias calocagae: jas insdlitas, imprevistveis a raprias: ‘ ie temunha este jover homem que tem atualmente 22 anos, qual tes! a © nossa5 ede suas consequéns Priori, ta, ‘ocampo “psi gostamos das “vinhetas”clinicas: expomos um dado momen, Noes a leitura do caso; e a critico de um paciente de onde tiramos uma SIM, 2 prtims ocasifo de uma reunido de estudas, passamos a outro caso. MLO, COM as vinhe tas, de certo mado, temos sempre razv. Mas 0 que acontece com estas elucann, oes referentes a cada paciente, dez anos mais tarde? Em que e em qual media, como nossa leitura de um caso, tem algo a ver com , ‘0 que apresentamos ent conduta de vida que terd em seguida 0 sujeito... av longo do tempo? Como nig, confundir enderecamento, ... e destinatério: o da existéncia de uma marca sem Outro, nao podendo ser isolada pelo proprio analisante? Eesta questéo crucial que eu vou tentar, acima de tudo, nao deixar esquecida no testemunho da parceria, conduzida por nossa instituigao ao longo do tempo, junto a Andréas e praticada entre varios. ABRIL DE 2004 “Esté podre! Vais morrer! Vai fazer nada!” Andréas, 13 anos, corre até a porta de saida do hospital dia, desaparece no jar- dim, ressurge rapidamente no patio do prédio, entra com tudo na sala do atelié que ele acabara de sair, vé um computador que ficou ligado, se precipita neste computador, aspirado pela imagem de um carro preenchendo a tela da maquina deixada ligada pelo utilizador precedente: *Os carros da Fiat sao podtes...” Deixando entao seu corpo cair pesado no chao, Andréas percebe dois peque- nos caminhdes miniaturas, estendidos também, pertinho dele; — pega cles: — Janga um deles: “Que podre, é frdgil.."; — fica com o outro: “Este aqui é indestrutivel..” Laurent Dupont que anima o atelié, aproxima-se devagar de Andréas: “Eisso, é vocé quem diz Isso!” Parecendo perceber Laurent pela primeira vez, o menino se volta para ele, diz: “Rodas... indestrutiveis..” “Olha, rodas", escolhe retomar Laurent, antes de deixar o atelié. Isso ¢ apenas uma parte do que aprendemos com Andréas, algo de sua violén- cla extrema “cess” de modo bastante imprevisivel, a partir de uma intervencto um tanto quanto improvivel: Nos dias seguintes Andréas esté de fato em trabalho, Com a ajuda da massinha de modelar, dos legos, dos eldsti ‘Gl rodas: rodas quadraclas, rodas em circufo, rods pequens€ rodas Seuuma das rodas se quebra, para ele é a catdstrole: Podrel... vai marrer\” cos, 0 menitio Cons- des. P| Digitalizado com CamScanner gados pelos construgdes recorrentes do menino, dots outros adolescentes de Andréas: J faz, aque é2” és so burras ou 0 que?" inte seaproximam nTss0 que WO sao rods, VOC Ani nE 2005 ne variagoes decinadas por Andréas com a ajuda das rodasrornam se cada vez omplexas. Diferentes tamanhos e marcas de “rodas de carros" aparecem. mais ‘ a.se logo “estas que transportam os viajantes: Aparecem também “as Acrescent rodas dos metris? Em alguns meses, bos, sujeitos, complementos, comecam a aparecer: "Antes, as rodas eram de ferro. Agora tém de todos os tipos.” Eliane Calvet é a psiquiatra de Andréas, Ela que até entao nao podia perguntar ‘em que se produzisse um desastre, teve a surpresa de escutd-lo a expressio verbal de Andréas muda radicalmente. Os ver- nada 20 garoto si pater na porta do escritério e deixé-la a par do que “acontecia ao lado": *No hospital dia, éa descontragao forgada. Vai morrer idiota se isso continuar” Uma noite, pouco antes da safda dos adolescentes, Andréas percebe 0 logo “Google” sobre o computador de Eliane: “0 que? Vocé tem internet? Escreve RATP?!” Desde este dia, com Eliane, no seu escrit6rio, “ao lado’, Andréas comegou a tra- balhar. O menino nao se contentava em isolar no Google os diferentes tipos de tilhos, de materiais pneumdticos, rodas ferrovidrias em uso, ou enti obsoletas, aoseio da RATP_ Andiéas, de fato, instrufa Eliane, — desenhava croquis: “para que (ela) nao morra idiot!" Hliane nao se contentava a escutar o menino: ela questionava Andréas, buscan- do 0 porqué de tal detalhe e de outro, a fim de que 0 adolescente, assim, precise tpn ee ian anunciado: o funcionamento dos sistemas de frenagem adotados 2 Slane pela ATP; as solugbes de segurana contidas para a abertura eo oti Portas; a escolha das “articulagdes" utilizadas recentemente entre ages: ” a ena oA af articula as linhas de metrd, Encontramos isso na linha 1 eso delishe =a Uma linha de futuro: vao prolongé-la... 0 prolonga- sang enrminas em 2008, Vocé sabe, logo seri meu aniversirio. Eu Com imece ndréas a Eliane, em marco de 2006. Sms dena ee Andréas fol acometido por um veredito de morte, em oe 24 dos 14 me dos muisculos entao diagnosticada pelos médicos. “fragile topindne —Unham “doutamente” afirmado 4 sua mae. Esta Petdenda cit, rene expresstio — ficou grivida bastante joven SbscUutas Paco temp, referencial, ela “cai” em um trilho de metrd, em 'mMpo depols, ela encontra o futuro pal de Andréas: de, co tttas, Digitalizado com CamScanner aude stay. Wer step nos disse el O were MEH pring foi para mir mh , sts avtlade do fort-da- [7] peontrte nestg pe” Mme ofiho na ie de 18 NE ny... “indestrutivel, SexUnIde S64 prog get tipo de parada sobre ‘esvola: “trabalhar nao val servir a nada, 1 eb ni enviara Andréas 2006 AOS 15 ANOS, EM 2 serpin Andréas tornara-se mai - ieno a vertente inédita de suas pequenas inv NGOS Tap a2, més sey, eae mere se a achar como circular na sta prépria postica, és, empenhava-se a ‘ ar mundo a partir de en 1 hd mundo para todo, si jf desde sempre: mas um mundo vind a nascer, segunda meu prépy, suposto s is vivo do que nunca. ganhava consisténcia: nd intoma! i fi a sinto wragdes do rapaz encontram a partir de entio uma articulagao: Asge scidos, nem meus avés, Este “Iss um me roto; meus pais no eram nem na é um metrd Oriyval 1992, do ano em que eu nasci. Meu irmaozinho nasceu em 1998, 0 ano do metrd Méréor Pequenas lembrancas apareceram: / “Com 7 anos, eu pegava linha 1 com o meu pai, para ir 4 estacao Bastilha” Seu achado, fundador do tempo, abria-se sobre uma elaboragao linguageira, torando-se ela mesma prolongamento do sintoma o qual Andréas 6 0 autor: voce {4 percebeu que f-chier (arquivo) se parece com fait chier ("faz cagar” e também “encher 0 saco’), diz ele As gargalhadas, se dirigindo a Eliane, a propésito de um programa de computador. “Vocé sabia; diz ele uma noite no final de 2006 a Eliane Calvet, “eu nao sei se vou trabalhar na RATP, Em todo caso, nao como condutor, esté fora de moda. Tal- vezem uma linha como a 14, onde deve haver alguém na sala dos computadores Para que ninguém eala. Mas neste momento eu tenho muito que fazer!” SETEMBRO DE 2014 Andréas nao esté mais hospitalizado, jé faz sels anos, Ele Continua, no entanto, vir regularmente as consultas, © mogo obteve um CAP* na drea da manutengao da mecanica, Ele trabalha ha Pouco tempo em uma grande empresa de manutengao. Nao qualquer manuten- S40. Andréas, de fato, mantém as escadas mecinicas das grandes butiques pari- Slenses:as escadas... “rolantes"! Ro itime . {Ode duragag: nt OleEA “doente’:omacacstdemvisdecbeeun ‘contra lura¢do...indeterminada? 4S pal Palavras que o marcaram desde a sua mais tenra inflncta, Andréas nfo as Digitalizado com CamScanner ange Ago 8 e008 TONKS AMNION, le pansy fama arm ass ef Fe eVASARAD Me pala sae le ch i “io por aeaso —, en LMA lnvengiu stntomine eee — _ eater dstinna da elueubragao lingua viru ¢ 1 Comsat ca sem Igual, rater dem sions no CESCEET MN ome ce em un "elite no tio, desde muito tempo encontrado entteavineda en airavel, fora do. 4 ovivode peroue o sintoma, apesar de s deur corpo, a1 Interpretagho permitida fe que re sentido que produza linguagem. ‘O sintoma é uma escrita que cabe ao autor — nao uma rima «.so-ar) (réson) — ser renovada sem cessar; “A manutengi afirmaya Andréas, recentemente. Dentro da sua empresa, nlovas resolugées, as cadéncias se accleram cada vez ama, Em stas consultas em Aubervlliers, Andréas testemunha quando ¢ 0 caso. los efeitos de 1) Mas UM ressoar deve ser mantida’ ‘0“bom senso; contudo, com 0 qual seus amigos denunciam a mutacao sociolégi- caem grande escala a qual assistimos hoje em todos os campos vividos de nosso mundo pés-moderno, este “bom senso” no qual, segundo Lacan, “a politica atinge sq auge da utlidade”, ndo se estabelece para este rapaz como uma solugio. Epor isso que cada encontra com Andréas em Auberviliers nos convoca a uma exigéncia ética e politicaxfgzer-nos recente gee jovem homem encontrou parreircular... em seul proprio sintoma. ee oe a cawrita cigtormdtica que Andréas nao ¢ Gescrita sintomética que Andréas nao cessa de pro- For para mim um estepe’ duzir, dia apés dia, nao se compara com nenhuma outra igual j4 que ela inclui a existéncia desta marca, instransponivel de um caso.a outro. __ — ac emiedtidne ; i Em que e em quais medidas, o aumento dos racismos 0 qual assistimos hoje, encontra uma leitura inédita referindo-se 4 “recusa suspeita” acrescida desse “es- tranho-a-si-mesmo” no qual testemunha, no entanto, o mais singular de um sin- toma? Eo que somente a experiéncia de uma psicandlise, a que empreendemos... ou queempreendemos, d4a chance, aquele quese arrisca, de poder se tornar preciso. Traduzido por Fernanda Turbat Revisado por André Antunes da Costa. * AME da Escola da Causa Freudiana (ECF) e da Assoclagao Mundial de Psicané- lise (AMP), NOTAS “a CAN, J. (19981975). Conferéncia em Genebra sobre o sintoma. Oppo Lact: na - *Laca eva Brasileira Internacional de Psicandlise, 23:6-17. Janey: 1859/60-2008). 0 Semineirio, Livro 16, De wm Qutro.ao ont “Zahar, 2008, p, 314, Rio de Digitalizado com CamScanner

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