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0 FEUDALISMO UM HORIZONTE VU AED Capitulo VI PARA UMA TEORIA DO FEUDALISMO Das Verhiiltnis der retainer zu ihrem Grundhem, oder der personlichen Dicnstleistung ist wesentlich verschieden. Denn sie bildet nur au fond Existen- zieise das Grundeigentiimers selbst, der nicht mehr arbeitet, sondern dessen Eigentum einschliesst saunter den Produktions-bedingunden die Arbeiterselbst als Leibeigene etc. Hier Herrsehftsverhdltmnis als wesen- tliches Verhdlinis der Ancigntng... Die Ancgnung fredem Willens ist Voraussetzung Ges Herrschafts- verhdltnisses... Sovicl sehn wir aber hier, wie Herrschafts —und Knechtschaftsverhiltnis ebenfalls in diese Formel der Aneignung der Produktionsins- trumente gehdren; und sie bilden notwendiges Ferment der Entwicklung und des Untergangs aller urspriin- glichen Eigéntumsverhdlinisse und Produktionverhal- tnisse, weiisie auch ihre Borniertheit ausdriicken. K. Marx, Grundrisse der Kritik der politischen Oekonomie. Edigéo dos manuscritos (1857-58), prepa: rada por D. Riazanov, publicada em Moscovo em 1939- -1941; reproducio fotomecanica, cd. Dictz, p. 400. A relagaéo dos retainer com os seus senhores ou a do servigo pessoal é fundamentabmente diferente. Porque o servico pessoal nao constitui, no fundo, senado o modo de existéncia do préprio proprietdrio fundid- rio, que jd nao trabalha, mas cuja propriedade inclui entre as condigées de produgao os proprios trabalha- dores enquanto servos, cic. Aqui, a relagdo de domina- ¢Go é a relagao essencial da apropriagdo... A_presstipo- sigdo da relagao de dominagao é a apropriagdo de wna vontade estranha... QO que nds vemos agi, & Qhter as relagédes de dominagdo e de servidéo entram igualmente na formula da apropriagdo dos instru: mentos de produgdo; e elas constituem um fermento necessdrio dc desenvolvimento e do declinio de todas as relagdes de propriedade e de produgdao originais, do mesmo modo que exprimem a sua estreiteza. Segundo a traducdéo, na versao francesa, de Claude Prévost, in Sur les sociétés précapitalistes; Textos escolhidos de Marx, Engels, Lenine, 1970, p, 211. ... Dass «die Produktionsweise des materiellen Lebens den sozialen, politischen und geistigen Lebensprozess uiberhaupt bedinge» — alles dies sei zwar richtig fiir die heutige Welt. wo die materiellen Interessen, aber weder fiir das Mittelalter, wo der Katholizismus, noch fiir Athen und Rom, wo die Politik herrschete... Soviel ist klar, dass das Mittelalter nicht vom Katho- lizismus und die antike Welt nicht von der Politik leben _konnte. Die Art und Weise, wie sie ihr Leben gewannen, erklért wigekehrt, warum dort die Politik, hier der Katholizismus die Hauptrolle spielte. K. Marx, Das Kapital I, 1.1.4 (1867) (ed. Dietz, p. 96) ...Que «o modo de produgao da vida material domina em geral o desenvotvimento da vida social, politico e intelectual» — segundo ele, esta opinido é correcta para o mundo moderno dominado pelos interesses materiais, mas n@o para a Idade Média orde reinava o catolicismo, nem para Atenas e Roma onde reinava a politica... O que é claro é que nem a primeira podia viver do catolicismo, nem as segun- das da politica, As condigées econédmicas de entdo explicam, pelo contrdrio, porque é que Id o catolicismo e€ aqui a politica desempenhavam o papel principal. Segundo la tradugao de Joseph Roy, revista por Marx, Ed. Sociales, t. I, p. 93. i Depqis de ter tentado mostrar segundo que ldgica, relativamente complexa, se tinham desenvolvido, desde o alvorecer do século XIX, a reflexdo sobre o feudalismo e o trabalho de construgdo intelectual das suas diversas articulagées; depois de ter procurado do lado das cién- cias sociais ensinamentos um pouco mais abstractos que permitissem determinar melhor o valor (ou a fraqueza) de diversos conceitos e precisar um pouco certos tracgos do pensamento sistémico, cabe-me propor um esquema racional do funcionamento-evolugaéo da Europa feudal. Um esquema nao é evidentemente uma narracao: ha que retirar a sua ilusdo (talvez doce?) Aqueles que ainda créem que a histéria é narragdo. As imposicdes da exposic¢éo escrita sio pesadas: todos os meios que per- mitam desembaragar-se delas podem ser considerados como bons. Recorreremos em forga aos mais elabo- rados esquemas entre aqueles que foram encontrados (o de Perry Anderson ou o de Kuchenbuch e Michael) e tentaremos integrar todos os elementos positivos refe- renciados aqui e além. Quatro eixos principais de reflexdo me parecem importantes. O primeiro reside na consi- deragéo da relagio-qué numerosos~ autores consideram fundamental, atelagho senhores/camponeses. Contraria- mente a muit ee Neer ares Wee ace simples e facil de conceptualizar, parece-me que se trata de uma relacéo muito complexa e, sobretudo, muito mal conhecida, sobre a qual uma breve pesquisa lexical pode trazer surpresas. Um segundo eixo reside na andlise de uma relagéo que, a meu ver, desempenhava no sistema feudal um papel de certa maneira simétrico e comple- mentar do anterior: o de parentesco artificial (ou pseudo- parentesco). E mais do que provdvel..qre ele tenha estado materialmente subordinado ao anterior, mas nada permite afirmé-lo a priori, e muito menos a recusar-o~ secu exame. O terceiro eixo é o estudo das coacgédes 215 Tiaktis \atériais do sistema, que, em fung&o das forcas pro- ivas, determin © seu tamanho e uma grande parte dos modos espaciais de articulacdo interna. O exame das propriedades locais, regionais e globais deste ecossis- tema deve permitir especificar, em funcdo de diversos. parametros, o principal dos quais parece ser o modo de ocupagio do solo, as coacgoes exercidas pela estrutura material sobre as formas de organizacao local e geral das relagGes sociais, e encarar, assim, a possibilidade de separar dois perfodos fortemente distintos na_evolucSo da Europa feudal. O quarto eixo é a anélis¢d: instituigao que foi do tamanho do sistema,.a Igreja: onde se mostra que se trata da sintese operativa dos. trés eixos anteriores, da sintese e da pedra angular’ de todo o sistema feudal, no qual nada se poderd compreen- der se se considerar a Igreja como um simples apéndice da aristocracia. Permitam-me que insista neste ponto: os desenvol- vimentos matemdaticos néo podem servir de modelo aos outros desenvolvimentos cientificos; as matematicas sao uma pura linguagem, isto é, sio axiomatizAveis; ndo sucede 0 mesmo com nenhuma ciéncia que se dedique a um qualquer aspecto da realidade, porque nesse caso a realidade ¢ necessariamente anterior a todo o desen- volvimento (cf. as observacGes anteriormente citadas de Georg Lukacs), e a ordenacdo dos desenvolvimentos nao é mais que uma questéo de comodidade: a causalidade nunca é linear e ha sempre uma certa ingenuidade em procurar uma «ordem ldgica» de apresentacao. Guy Bois enunciou-o firmemente; os Gregos conheciam ja o sofisma do ovo e da galinha. Os historiadores julgaram durante muito tempo esca- par a esta dificuldade refugiando-se atras da ordem cro- noldgica: ja ha, no entanto, muito tempo que se mostrou perfeitamente a aparéncia enganosa de todo 0 «raciocinio» fundada na relagdo «post hoc, ergo propter hoc». A neces- sidade de pensar em termos de sistema obriga a procurar formas que se adaptem melhor ao emaranhado organi- zado que toda a sociedade constitui. Os quatro «planos» que eu distingo no séo nem justapostos nem propria- mente hierarquizados; ha que considerd-los como estrei- tamente imbricados uns nos outros ¢ que ter presentes no espirito, a propésito de cada um, os outros trés. Embora isso possa parecer inteiramente incongruente, nao vejo aqui outra solucdo senao pedir ao leitor que 216 a unica_ > leia duas ou trés vezes este ultimo capitulo: uma primeira véz, considerando isoladamente estes quatro «aspectos», e uma segunda vez para captar o conjunto, das -articule:. f, gGes a que eu ligo a maior importancia~”" Un'versidag, oe J a 3. Panlo 1 — A relagéo de «dominium» ate”, oe te Botan CES feet beh x ? Afirmar que, do Baixo Império até‘ revelucdé’ indus- trial, a Europa tenha vivido do trabalho de cultivadores, -relativamente estdveis e que ndo eram nem escravos nem assalariados, constitui um proposig&o que, na sua gene- ralidade muito aproximativa, ndo me parece constituir dificuldade para ninguém. ‘Toda, a dificuldade vem do facto de esses cultivadores nao estarem sozinhos, e de uma parte do seu trabalho ser consumida por pessoas que, sem esses cultivadores, teriam sido incapazes de se alimentar do fruto da sua actividade propriayE claro que existiam também homens cuja actividade era essen- cialmente de producdo, embora nao agricola: os artifices; mas estes nunca tiveram, durante o perfodo considerado, uma importéncia determinante A escala do sistema no seu conjunto, ainda que, localmente agrupados, eles tenham podido por vezes desempenhar um papel nao despiciendo. A questdo essencial reside na existéncia de uma fraccfo da populag&o cuja actividade correspondia Aquilo-que em termos modernos (inadaptados) se chama- ria: culto, administrac&o, justica, comércio, defesa. Como se vé desde logo, estas actividades tem um trago comum: so actividades de relag&io e de organizacao; ¢ ridiculo e absurdo imaginar as relagdes feudais como a simples relagéo entre honestos camponeses vergando-se sob ° jugo e senhores cuipidos:e ociosos que extrafam «a renda» a golpes de «coacgfio extra-econédmica». Que tal mito tenha um forte valor ideoldgico, nio se discordard; mas ha que desembaragar-se dele claramente, sc se pretende fazer trabalho cientffico. B alids muito instrutivo veri- ficar que esse mito esmaga com uma forca equivalente a maioria dos historiadores, ao longo de toda a gama que vai dos reacciondrios inveterados aos progressistas mais revolucionérios: uns contornam-no com uma habili- dade maquiavélica que deixa um enorme espago em branco no seu trabalho; outros sé falam disso e andam as voltas até ganharem vertigens. Pode fazer-se um inqué: rito muito facil: se dermos uma volta pelas teses de 217

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