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Aarenensaae70 Coordenador ‘Adauto Novas Assessores “Thiago Hassemanne Pero Hesshmane Produtor ‘Hermano Shiguers Tarun, ar Patras, Conslado Gs rundagln Clévis Salgado, Ce wea psoas Jacinto de Amara fos aos itrnaconale de Catalogo “Cora Drs de Sh B= ie win Tass Nowe, oid = "So Palo, 2005 ga (Pisin) 3. Teri 1. espetiele 2m Novas, A, pes Taaice para etiagy stems: 1: immgem epi: Soicegia 208 Oo ea, DA IMAGEM E € suas armas, ¢ sim as mercadorias A INSURREICAO DO DESEJO . € suas paixdes.' Animismo, totet mo enfeiticam as mer 4 f cadorias. Analisando a migracio do conceito, da histéria da religido para a ideologia contemporinea, Marx nao s6 compara o fetichismo da mer ‘rimitivas ~ como as da Melanésia— o mana € uma sobrenatural e impessoal, espécie de “fluido invisi jo-se a objetos ¢] se tratado inadequadamente, pode produzir efei- tos negativos ¢ desagregadores que pedem sactificios. Por isso a0 mana associa-se um tabu, & a este, a transgressio. A “Toda pessoa especula sobre a possibilidade de criar no outro readoria € o totem capitalista a0 qual o individuo se sac ‘uma nova dependéncia, de induzi-lo a uma nova forma de prazcr, vando-o assim 4 rufna econémica”?* Na pessoa do capitalista duo que usufiui, aquele que capit ae upp icidade, induzem comportamentos, bern como sio coletivam mento do mundo ~ que, em. acées religiosas, mas tam~ a lcoldgicas consideradas se fo profana, pois jetos de contemplacio e de de- sejo — as mercadorias ¢ suas imagens, a Tibido, que esti em toda parte, tara Barthes. Isto significa que a readoria”,S arrebate as sensagdes dos cla seria 2 mais empitica jé encontrada no r ver, em todos, 0 comprador em cuja mio ¢ em cuja morada gostaria de ‘exceto na sexualidade, como jf 0 tecnologia da sensualidade esté a servico d ica que deve produzir fascinacio, iduos” assiny mobilizados———— ajeitar-se”? nsiando pelo dinheiro, a mercadoria € criada 3 imagem da ansie~ dade do pablico consumidor, oferecendo-the 0 que espera: a ideologia do prazer pelo consumo, sem o que nio suscitaria o ser < dade agao do valor de troca, por outro, a fim de suscitar 0 desejo de posse. necessidade, s se cada vez tnais rompendo com el O mundo contemporineo € 0 do, © que se atésta na separacio ido da aparéncia, inteirame entre mercadoria ¢ publ idade,a | Se ais extrema os fundamentos do © da posse real/Desfazem-se da maneira ‘mundo moderno, elaborados por Descartes, cujas Mediagdes © esforco de separar a verdade do erro, 0 conhecimer esforco em desvincular-se do sensivel e de su lade: “A mercadoria®, escreveu Marx, “acena” com seu prego, langando “olhares amoroios” a0 consumidor® Essa inversio, na qual os humanos imitam “Os Jogos amoroI0s dos objetos materiais, faz também com que as pes ‘a das mercadorias. Estas, desde os fio, ocamo-loe, se nel batermos,algum som produit... Mas eis que oapro- ‘imams do fogo que restava de sbor desfa-se, 0 odor se dsp, suacor se alter, sa figura se modifica, [.] senee batermos, enum som roduriré. A mesma cera per hie. are ms wo age do ‘lve: Bupa, vl 3 (So Pav (Cidade do eee: Fone 2 Se a cera mantéi identidade primeira, € possivel sabé-lo pela razio, € nio pelos sentidos. A ceia pode tomar diversos disfarces, ml tiplas formas sensoriais. Também quando se observa pela janela um Passante vestido com seu casaco © chapéu: o que nos garante nio ser isso um simples rob6 com roupas de homem? Descartes procura mos- trar que tio-somente os fendmenos de consciéncia so certos, quer contetido sensivel pode ser falsficado. A intencio ca emancipar © mundo, das ilus6es, 0 que culmin: - Separacio perversa: dominio da natureza por meio da cigncia, pelo pen- simento algébrico-matemitico, por um lado, ¢ permanéncia da ilusio, por outro. Eo que se passa com a mercadoria separada de sua imagem, A mer- cadoria atesta itufdas pela proliferagio de imagens. De certo modo, a modemidade € herdeira da querela entre icon6filos e icono- chat © Império Romano Essa querela se deu entre os iconoclastas, os quais recusa- vam as imagens em nome da pureza da tradigio cristi — para eles, a Tepresentagio do Cristo nio era apenas inadequada, mas uma blasfé- mila =, € 05 iconsfilos, que recor tual que no € 0 Outro do origi essa correi revela no sei um conteddo espiri- ‘mas 0 “prdprio original”, Segundo + @ imagem € evocagio e medium através do qual Deus se ivel, 0 original sendo, pois, pa I de evidéncia sensi- re em uma teologia visual rel. Sendo, assim, a imagem um , deve ser integrada a ritos e objetos de culto fem que se conjugam o excelente veiculo para a 4 existentes, A modemidade nao é lato platonismo, o inimigo do original é a apenas confirma 0 estatuto primeiro do ori cedéncia auténtica maetafisico. As. nem cartesiana. Se, para o ia, a falsificagio, © simulacro |, sublinhando sua pre~ te de imitagSes sem valor ontoldgico ou também, as disputas dos especialistas para decidir se algo € flso ou auténtico.apdiam-se nessa hicrarquia de valores, cuja ——(7s origem recua a Platio. Quanto 20 mundo contempordneo, a mercado~ em que isto acontece deu-s¢ o nome de “sociedades do espeticulo”? sim a0 smo”, cuja pretensio € ser mais real que o real, ou mesmo ‘Mas, ainda aqui, nfo se escapa do campo da metafisica, simulada ou esquecida atrés das imagens espetaculares, As = pois permanece a assungdo de um original, de uma verdade s ‘encoberta, dissimulada ou esquecida por detrés das imagens. © mundo contemporaneo prescinde de uma verdade substancial, © que se revela na publicidade ou nas embalagens das mercadorias: ‘Acabalger no pensida apenas como proteio contra os rscos do tans | area ne aerate eee el eee Negiét alesse con et ols enéreat™ ‘Walter Benjamin, por sua vez, considera essa figura moderna do do ano de 1855 em Paris, cidade-fetiche, onde se entrecruzam-o fend- meno religioso da supersticio € 0 erético, 0 desejo de posse da mer cadoria ¢ 0 amor de transferéncia de suas supostas qualidades € jedades a0 consumidor. Além disso, 0 filésofo reconhece uma pro} : continuidade da religiio no culto contemporineo as imagens ¢ na ado- ragio das mercadorias. ‘As Exposigies Universais de Londres e Paris, que receberam, du- 5 de 50 milhies de visitantes, manifestaram uma rante um ano, * Cf Guy Debord A © wolfgang Frit Hi do século XIX", Benjani ros de peregrinacio das merca- 6 sagra expse- 05 “palicios do efé » para a gloria dos deuse dade, a maquina, o progresso. Mas é jae 3 aventura da con: do das coisas, Jom efeito, tanto 3 compra quanto a0 fur pois o sinal de seu sucesso nio se mas também dos roubos: deve slo astucios te mal consegue pasar direto, de nentada a ponto de o cliente sentir von Walter Benjamin, & maneira do arqueélogo, procura 0 inconsciente lernidade € 0 do século XIX numa inv es arquetipicas, as passagens ou arcadas, gal passage 5, galerias cor em ferro ¢ vidro, pelas i multides que assim se primeira ver se oferece 3 lade, uma ver que foi 0 ratura em que a personagem princi~ 4 cline de Panel et Speer Srrica cco carta a Gershon Scholem, de 1926, escrita lo tomo de A la recherche du temps emo, Benjamin reconhece nos salées, no “jargio de classe” , de Marcel cs : 495 , do qual cada pega & elemento de um outro te ey eee ts Game do consulta in loc catélogos e livros na Bibliotheque Nationale, dos a citagbes, Benjamin faz a mania do letor compulsivo abran- wés da iradiacio litetéria da cidade, 0 conhecimento de Paris: = folhas doutas embaralha-se com 0 cais tura de uma biblioteca que atravessa 0 lade da cidade & também a de sua psythe. Modernidade A legibil complexa, a de Paris, que reine erotismo ¢ fetichismo Para compreendé-Ia, Benjamin percorre a lendo-se dos procedimentos de Freud em sua afi sa experiencia 440 dos sonbos, de Freud, antecipa o “método” be na ¢ Paris ¢stio presentes nos dois es consciente deseja, com ardor, cor ¢ desejo mesclamése nos sonhos em que ambos se manifest realizagio do sonho de ir a Paris aparece a Benjamin como a possi Jo, de outros desejos. Fa cidade como espago de coc ifrar nesses escri wecer, em que re ~xisténcia de diferentes épocas e do pasado objetivado que se torna 0 passado, invadido pelo passado. vas, os monumer cos, mas tambs yantém © passado materia~ Freud escreve que, em Roma, re igas construgdes so ‘6 que hoje ocupa "Ver Theodor W. Adorno, Gea Sei, vol 4 1 Man: Sram, 1960, p. 358 Are ruinas de si mesmas — templos e edificios daquelas épocas -, ¢ sim de renovagbes fits em épocas posteriores depois de incéndios ¢ des-_ ugbes modernas. Eis o modo em que se con vou o passido em lugares como Roina!* ~~ A Paris benjaminiana, como a Roma de Freud, com suas camadas ar- queol6gicas, é um ente psiquico, dotado de passado, no qual tudo 0 que tum dia nasceu perdura ainda, Wks essa coexisténcia nada tem de simples Thi um recalque do antigo. Se, na cidade, umna outra coisa vem ocupar um Tmesmo lugar ou sobrepor-seno presente, fecalque pelquco € dink. 0, 0 presente converte-se 1 com o passado para ocupar seu lugar. O recalcado ‘0. Ao mito substancial dos gregos, ligado a0 io © eminente de um templo, contrapbe-se, na grande cida- idk € um choc a mntra-se diante de um perigo para o qual nio es 10 plano individual ocorre como dk jompe na sociedade passado, passante, passageiro (como substantive ¢ adjetivo}; mas também maton de pase, a cujos segreds a passage of rece um acesso discreto, secreto. A cidade de. mung) que constitasi seus fantasmas, Quando Mane e+ creve que, pelo fetidhismo ds meradoria, as sombras perdem seus pré- Prios compos, dada a evanescéncia do valor de uso, s6 resta o valor de ‘toca, sombra que perdeu seu préprio corpo; s6 testa o trabalho morto, coagulado em um objeto, como pasado morto-vivo cujos fantasmas vém importunar 0 cérebro dos vivos. © passado reprimido, mas nao esquecido, permanece submerso, & assim que 0 filésofo Jo espago psiquic int despa hersica ponto ‘or de Baudelaire procura compreender estes vversos do poeta: “fervilhante cidade, cidade cheia de sonhos”. Ai espec- ‘os agarram-se ao passante em plena luz do dia: ela & 0 lugar da p fgmund Froud, A ineprao dos oles, wad. Essel de Waleredo (Rio de Fansite 1955) Wal impactado seus habitantes, tornando-« Foi Nadar, de q m Benjamin trata no "Peq) + quem empreendeu, pela primeira vez, fotogratsr com luz ar- de Paris. Assim, ao lado de sua vocagio documenta, Tagazes, pois ela vez em quando, e . . Durmmngo 473 mala ye ‘Também a descoberta de catacumbas sob as ruas de Paris deve ter 0s conscientes de que se desloca-, Ke is ‘vam por sobre o imenso cemitério que se encontrava sob seus pés, © 5.) €2 mercadoria, a possibilidade de uma vida “sem tempos mort na historia da foto- r )- a fotografia foi uma maneira ras ten Rane Pee 9 de desfetichizagio.® Assim, se a prostituta & para Benjamin, a igual lo que para Marx-e Engels, a apoteose da ificagio entre o frig_coletive que reconhece no feminino a “sua Fealizagio, no universo da mulher, “ s y ; cor de Baudelaire, faz surgir do Mal suas “flo- — Aawe res”, da *danacio”, a salvacio da vida moderna. Assim, Safo de Lesbos traz o que o amor pode trazer: ele racrligido”, uma revo lugio, Para Benjamin, como para Baud et € 0 attificio, o visitam os vivos A légica das mercadorias ¢ ‘rarquias desréalizam também o J tempo: as horas dedicadas a0 capital nfo tém passado nem futuro, sio Ra horas morts, Ale, Benjamin contrapée o lane o her6i da modemidade: ocioso, deixa-se levar pela multidio e pelo 0 das tartarugas: uma personalidad, protestando asim contra dviso social do wabalho ..). Nese roc poralgum tempo, fide bom-om evar ararups pa passcar plas pasagens, dde-bom grat oflnenrdeixava que els lhe prescrevessem oritmodo, sinha” A sociedade da abundancia que promete luxo e volipia por meio do constumo pode encontrar na mercadoria e suas imagens a possibilidade as de que no pedem encarreer esses privaos, 2 todos fam for de coesio soca, Raj em proceso de disolugo, sio; na maquiagem — ¢ Baudelaire faz seu clogio =, as icontram_praticas pata consolidar-e divinizar sua “frdgil be~ ale, parecem migicas, como também pelo refinamen- “to desua maquiagem, de suas atitudes, mas, sobretudo, pelo olhar que Ihes confere um charme pela aura que suscita: 1 que nfo espereresposta do ser ao qual sedestina. Quando esta espera Tinto Benjamin quanto Baudelaire dissociam-a-belezadobemc fun-__ dam-na, por assim dizer, no mal, na “artificialidade” do modemo, des- 490 sere faz apelo pata parecer mégica, featodi het oferece um repertério \ _ de signos arbitririos; a moda é, au ral, e € um. to dotado de encantamentos ¢ ansforma a mulher em “estétua”, nérmore, bronze ou pedra. Perturbadora ¢ de poderes migicos, a respeito ao mundo do espetéculo e seus “valores’ 10, 0 universo das passage Safo, as Sereias. Se Ulisses, na Odisstia, ren icipio do prazer -, 0 que fez dele o antag 10 © superior”, a, investida wundo épico, a sua sedugio - e a0 ista de uma realidade 20 contratio, deciftar 0 ontologizada, Benjamin e Baudelaire desejar que desejam com seu canto.

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