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etrlt Art+ Del RBIOS EM AR JNOLOGIA (Omiya ce laiactie NEanL ners \y Aw SFAPESP PERSPECTIVA Nl %, Dados Interacionsis de Catalogacto na Publias2 (CIP) (Camara Brasileira do Lio, SP, Bras) Banglirgida por Gita K.Cuinsburg) Bibliografia 15n g78-85-275-0882-3 Atte ecitncia 2, Arte eteenologia 3. Cigncia— e0-700105 Trier pa lage trace 1. Ait teenlegis 700305 Ditetosrexenados 0 EDITORA PERSPECTIVA S.A, Av, Brigadetto Luts AntOnio, 3025 ‘e1gor-o%0 Sao Paulo SP Brasil, (os) 3885-8388, “ww wceditoraperspectiva.com.br ‘CASE, ESTAVA COM 24 ANOS. AOS 22, JA ERA COWBOY, UM GATUNO, UM lhores no Sprawl. Foi treinado pelos mi € Bobby Quine, lendas no amo. Operava com uma taxa de adres heg@monia cyborg a quse sempre als, es em si, MeCoy dos m ix por meio de um deck eyberespa bal .cessiio para penetrar as paredes rel ais ticas que forneciam 0 software indo para outros ka dos sistemas corporati- de invasdes virtuais — a exemplo do que comumente acontece hoje entre hackers e crackers'. Neuromancer, langado em 1984, 6 um dos maiores sucessos da literatura de ficgdo cientifica do 1 Denominagées muito comuns pars desig- séeulo Xx e € sempre lembrado por trazer eonsigo um termo adotado por tedricos de todo 0 mundo: ciberespago.¥ a fiecio de Gibson que cunha o termo para designar o universo infor- macional percorrido pela mente de Case, através de seuss decks; hoje utilizado para designar a tra- ‘ma informacional que engloba a Intemet, telefo- nes, satélites ¢ outros tantos meios. Além disso, o ivro é um dos melhores exemplares de uma corrente da ficeao cientifica cha- mada cyberpunk, que até entio estava confinada ao universo underground, 156 CrRL+aRr+DEL, Cyberpunks Na tentativa de enxergar melhor nossa contemporaneidade, a fie- «ilo cientfiea — em especial 0 movimento eyberpunk — nos pare- ce bem conveniente, Além de lidar diretamente com um senso comum sobre as tecnologias, essa proccdo conduz a um mun- do ficticio decorrente da nossa sociedade atual, em um esforco do autor de deslocar nosso mundo para aquilo que ainda nao €, através de ideias que possuam certa coeréncia em conceito, Conforme Dick, no texto “Minha Definigao de Ficgao Cien- tifica”, a producao busca “um choque convulsive na mente do leitor, 0 choque do desteconhecimento”. Hsse desreconheci- mento — como um reconhecimento descaracterizado — fard com que o leitor enxergue as diferencas (e, por extensio, semelhan- as) entre a nossa realidade e o contexto entio projetado. 2 Apud L. Garcia dos Santos, Poli bus Teeologas, a, 4 De modo geral, o cyberpunk antevit o crescimento das redes, de computadores, a fusio homem-maquina, 0 poder incomen- surdvel de grandes corporagdes internacionais e se posicionow de maneira pessimista diante da possibilidade da faléncia de instituigdes como a ética, a liberdade, te HECEMONIA CYBORG 4 compaixao, a igualdade e outros preceitos da humanidade, Com essa visio pessimista sobre a futura condi- do humana, os renegados do “sistema” passariam a tentar in- terfer tentando alterar 0 ceme da nova sociedade dist6pica ‘em stias bases a fim de resgatar alguns desses preceitos, Esse sentimento temerdrio ¢ pessimista em relago aos po- detes dados a tecnologia niio é algo sem qualquer antecedén- cia: como se sabe, 0 primeiro dos computadores, o famoso ENIAG, criado em 1946 nos Estados Unidos, nasceu justamen- te com uma fungio bélica bem definida: determinar, com precisio, gastos com artilharia e mantimentos na Segunda = Guerra Mundial, Embora funcionando apenas trés meses de- pois do final da guerra, foi usado no desenvolvimento do pro- _ jeto da bomba de hidregenio. wesmo o advento da rede mundial de computadores s6 aconteceu pelo temor sem- pre presente em tempos de Guerra Fria: como jé ¢ difundido, a Internet nasceu a partir da rede Arpanet, desenvolvida pelo 2 departamento de defesa dos Estados Unidos para ser uma es- trutura ggil ¢ interconectada de comunicagao durante todo tempo, cm caso de qualquer ataque soviético durante a Guer- ta Fria. A rede Arpanet permaneceu durante treze anos nas, maos dos militares, quando em 1982 decidiu-se abrir a rede para fins cientificos (interligando ai universidades americanas e, mais tarde, instituicdes de outros paises), criando-se rede paralela chamada de Milnet, Aliss, avangos em outras reas, como a realidade virtual, também foram possfveis pelos interesses militares. ma % Mas, voltando aos eyberpunks da fice, suas ideias so di- fundidas simultaneamente 20 naseimento de uma visto heu- ristica do papel da tecnologia. Se antes a tecnologia era vista a como © motor do mundo modemo~ matriz das benesses necessdrias & vida humana -, agora 0 cxescimento tecnolégico € também pautado por preocupagdes sociais, psicolégicas ¢ ambientais, e te, Aanalise dos impactos tecnolégicos no mundo, nas institui- Ges e nas pessoas passa a ser visto com restrigdes, desconfiangas. Voltando no tempo, durante o século x1x, notadamente du- rante a Reyolugio Indust crm+sRr+DEL, Tepe mentando |, Passotrse a testernunhar 0 cres- cimento do capitalismo e dos avangos mocemos, resultando assim num erescimento do trafego urbano, na distribuigao de mercadorias em caréter massivo e, elaro, em novos métodos de produgio ¢ novas situages.de circulagao (desde a ferrovia € 0 automével até as Gcadas rolantes) surgidas em 1893). Nes- se contexto, conforme Gunning, 0 corpo foi condicionado a na velocidade dada, gradativamente abandonando seu cars- ter mais estanque: drama da modemidade expago e de tempo por mei ccolapso das experiéneias anteriores de la velocidad; uma extensfo do poder da produtividade do corpo humano e a consequente translormagao deste por meio de novos limiares de demanda e perigo, eriando novas formas de dsciplina eregulago corpotais com base em uma nava ob- servagdo (e conhecimento) do corpo’. | do Cinema, em YV. Schwartz; R, Vaness (ong), 0 rma eo Invengao da Vide Modem, p. 40 Nessa mesma época, alguns estudos ~ especialmente de Gustav Fechner passam a entender 0 corpo e sua percep- edo, em especial a visio, como elementos possiveis de serem manipulados ¢ controlados, passando ao domé- ificdvel e do abstrato. Antes da dé- 159 {EMONIA CYBORG nio do qu cada de 1870, imaginava-se 0 sujeito perceptivo sob modelos clissicos ¢ estiveis, consequentemente inalteré- yeis, Porém, a abstragao da visdo, trazida pelos impressionistas, J como a propria ilusaio de movimento do cinema ou mesmo a fotografia, colaboram para uma percepedo mais fluida, Assim, passamos a entender a relagio humana com 0 mundo como algo cada vez mais customizdvel e modelivel, abrindo espaco para novas experiéncias “modernizantes”. Em outras palavras, a tecnologia passa a estar nao apenas em fungao do homem, como também este pode ~ em algum aspecto - se moldar a tecnologia. Essa adaptagio no ocorrer ‘quando surgem os primeiros bondes e 0s primeiros automéveis a disputar o espago com pedestres e carrogas, passa a existir um sentimento de choque ~ alimentado pelo sensacionalismo da imprensa de entio: sem traumas. Especialmente al © tema dist6pico dominante na virada do século destacava os ter- cm especial com relagio aos rores do transito da cidade grande, en riscos do bonde elétrico. Ui (peter Jde imagens representando torrentes de pedestres feridos, pilhias de “inocentes massacrados” ¢ figuras de esqueletos regozijados personificando a morte enfoca- ram os novos perigos do ambiente urbano teenologizado. Jornais, sensacionalistas tinham uma predilegao particular por imagens de “instantaneos” de mortes de pedestres. Essa fixagiio ressaltava a ideia de uma esfera publica radicalmente alterada, definida pelo caso, pelo perigo e por impresses chocantes mais do que por qualquer concepcao tradicional de seguranga, continuidade e des- tino autocontrolades. Emblemitico da discérdia entre homem e ma- Anewo emt. 2008, quisa agora se concentra no sequenciamento dos genes, a fim de desvendar suas fungdes pontuais (areas do corpo que se re- lacionam) ¢ relagées com doengas (predisposigdes genéticas a determinadas_patologias). Evidentemente, essa A pesquisa traré muitos beneficios, mas talvez para HecEMoNIA cvB0Re seginentos restritos. Curiosamente, com 0 avango do projeto, as instituigdes cientificas passaram a dividir a tare- fa com companhias privadas, como laboratérios e inchistrias far- * macéuticas, que se ocupam do sequenciamento daqueles genes tidos como mais interessantes comercialmente, restando as co- a dos demais. O in- munidades cientificas dos governos a pes teresse dessas companhias € assinalado pelas id registradas. Informagies sobre doencas como hipertensio, os- teoporose ¢ 0 ide j4 passam a ter dono™. Abrindo um paréntese: é interessante perceber que existe metas patentes umasina humanaao} ces precious sobre Lipos de se ‘nicer em 98, a8 informaghes genética foram patentesdis¢ vend para 0 Sundog; em 199, 0 valor dex US$ 3 bioes.Descobrindo corera, Moore revindicon 1. to cul, slegando sua propiedade sobre s ses “bens coporais"- Os advogados ds sméicos que ptentearam a tanm que ete if que nto. isexite, Pasa aver visto como sm, Antigo © Novo, em A. Parente (rg) Inagem Maquina. 56 Ema a {pee Foeorrer A _— 182 CTRL +ART+DEL tincia: a escrita. K tod usufruir dos mesmos 26 sfmbolos uniformes ~ as letras. Com o computador, a “digitalizacdo eletrénica” foi mu to além da reducdo realizada ao alfabeto. “A uniformidade das lades elementares obtidas por digitalizacdo é verdadeira- mente extrema: todos os bits so semelhantes; somente sta or dem de aparigao entre outros bits permite distingui-los”®. Algo tuitissimo parecido ocorte ao nos depararmos com 0 cédigo genético: justaposto com o cédigo bindrio, percebemos que ambos sio igual mente manipuliveis ¢ infinitamente dispostos a recombinagao. Na instancia da informagio, tanto um soft- ware como determinada sequéncia genética sto resultantes de tivos eédigos. Voltando a propriedade intelectual, com a ascenstio dos bens dessa natureza (especialmente aqueles oriundos da pesquisa em tecnologia digital e biotecnol6gica), ocorre uma significa. ua ngular sequéncia de seus res eiais: a substi io da relagéo vendedor/comprador para fomecedot/usudrio. Observamos isso quando atentamos para os produtos dessa nova economia: 0 fato de ter comprado o software comercial no qual escrevo este texto nao me faz proprietério dele; quando pagamos por ele, pagamos pelo uso restritamente— j4 que 0 contrato também prevé que nfo posso realizar cépias daquilo que adquiri. O mesmo ocor- re com a biotecnologia. Os genes so comercializados, mas no silo vendidos, s2o licenciados apenas — seus proprietérios conti nuam sendo 0s mesmos por meio de suas patentes. P.s7. rk Office) idade de registro de 85 las e genes -, desde que fossern des- critas suas fungdes ¢ aplicagdes. Com isso, deu-se © pontapé inieial para uma troca de valores em relagio aos acha- dos cientificos: se antes aquilo que passava a ser experimentado ce sabido cra nomeado como “descoberta” — como ocorrera com uma gama de elementos quimicos -, 0 status agora é de “inven- 40”, Antes dessa data, eta veementemente proibida qualquer acepgio de propriedade sobre “descobertas da natureza”. Mas a situagao mudou, e agora, segundo Rifkin: HEGEMONIA CYBORG (Os genes e as c otras criaturas, ja foram patenteadas, ¢ os observadores da indtistria monio ge- em menos de 35 anos, grande parte do pal lizem qy Nessa diregio, especialistas indicam que uma das dreas mais suscetiveis ao novo modelo seré a agricultura. Diversas em- presas transnacionais dedicam-se a produzir patentes sobre sementes geneticamente modificadas, que implicam em no- vvas condigées para seu uso; ou seja, se por milhares de anos 6 agricultor fazia reservas de sementes para sua plantagao em estagdes propicias, na era da biotecnologia, uma das cléusulas relacionadas ao uso de determinadas semestres patenteadas é a 4 Op ct, p55, 184 CURLHART#DEL proibigao dessa reserva para uso das novas sementes decorren- la a cépia de iagao de novos softwares a partir de seus cédigosfonte, os direitos do agricultor pas- sam a ser restritos 2 aplicagdo numa s6 estagao, a0 uso apenas. A concentragio das patentes agri colas em poucas maos pode significar futuras situagéies sociais perturbadoras, jf que poderd envolver toda a produgio mun- tes da colheita, Da mesma forma como € proi softwares comerci oua dial de alimentos, Ao mesmo tempo, a indiistria cultural discute a adogio de disposi olégicos para evitar a c6pia e distribuigao nao autorizada de muisicas ¢ filmes, e a industria da biotecnologia segue em caminho parecido. Rifkin relata 0 caso da Termina- tor Techology, tecnologia desenvolvida pelas empresas de ge- nética agricola que consistiria na agio de um “bloqueador” da fertilidade das sementes oriundas da colheita “original”. fos te As sementes nascidas das plantas transgénicas ngio germina- Fo até que se borrife determinada substancia - ao pagar pelo uso das novas sementes ~ que desativard o “bloqueador”. Ape- sar de eficaz, o sistema obteve uma negativa repercussao —recusa- da por instituigdes agricolas internacionais por paises —e foi deixado de lado até que se “criem outras alternativas de prote- 0 da propriedade intelectual”, conforme dito pelas empre- sas propositoras da Terminator Techology. Mas 0 que fica mais evidente dessa situagao, e que foi utilizado como justificati- va para a aplicagao da referida tecnologia, é que o sistema de leis e outras barreiras legais (institucionalizadas ainda sob as Sociedades Disciplinares, na definigaio de Foucault) no dio conta daquilo que a hegemonia almeja John Perry Barlow coloca a questo presente da proprieda- de intelectual como 0 desafio de vender vinho sem garrafas. Ao abordar a questao do copyright, Barlow coloca que, até entio, havia a preocupacdo de registrar a propriedade nao de ideias, mas da expressiio das mesmas. As ideias e a nature- za eram consideradas propriedades coletivas da humanidade. Ousseja, um livro, além de fisicamente presente € comercializavel, 6 uma expresso da ideia do autor mas nio a ideia em si; esta permanece- tia universal. Os valores estavam, portanto, na transmis no no pensamento transmitido. Porém, com a populariza- fo das redes digitais, as ideias nfo se condicionam mais a IECEMONA matéria. A informagio é imaterial, esta em rede; e, pelo seu prdprio cardter fluido, parece escorrer por entre os dedos da- quele que procura controlé-la, especialmente se este policia- mento € ainda calcado em antigas premissas: is que sio pre- cisamente contrérias & natureza da infor 0 valor pode au- yentar em muitos casos com a difusiio* ‘A fluidez com que a informaggio percorre as redes acaba sen- do um paradoxo: enquanto alimenta urn sistema que se baseia no controle — voltado a formagao permanente de modelos -, acaba sendo dewviada de planos hegeménicos que empresas transnacionais ou mesmo governos por ventura tenham. Um dos maiores exemplos desse desvio € a explosdo dos sistemas Peer-to-Peer (P2P) na rede Intemet. Os sistemas F2P possibilitam que os interautas acessem arquivos de misica, filmes e softwares, ‘ender vino sn botllis, Lat .y sus Dilomes, El Pasante, utilizando-se de uma rede de compartilhamento de arquivos ondle acessam arquivos disponiveis nos computadores de outros ustdtios, criando redes descentralizadas e colaborativas, onde, a0 contrario dos arquivos de sites, ndo esto es- tacionados em um servidor e sim fluindo entre intimeros computadores que conectam e deseo- nectam nas redes. Grande parte dos contetidos compartilhados nessas redes é protegida por direitos de propriedade intelectual, fato que protagoniza frequentes litigios entre usuarios ¢ i tuigdes em defesa dos dircitos dos autores. Igualmente apresentando.se como desvio no fhixo informacio- nal, temos 0s virus de computadores. O virus se apresenta como | wutengiio da economia de redes, transforma o controle permanente em estado defensi- 286 ‘cTmLtaKreDEL uma das maiores ameagas & m: visto 4 vo constante, através da necessidade de continua varredura dos ados de antivirus). Atual- iza de estratégias de rio muitas vezes se depara com sistemas de defesa (os programas ch mensagens aparentemente remetidas por seus cont por empresas conhecidas. Em 2005, estimavase que num s6 dia surjam mais de cinquenta virus ¢ variantes®. Um dos nhecidos e temi (0s reais ou co dlos pioneiros na disseminagdo macica pela Intemet, foi o ILOVEYOU (também jecido por Loveletter), que fingia ser uma carta de amor en- viada ao usuario por um de seus contatos reais Alimentado pela caréncia afetiva e curiosidade de cada um que o recebia, o virus em cinco dias contaminou mais de 50 milhdes de maquinas, re- sultando em prejuizos da ordem de 1o bilhdes de délares. virus em 2000, além de ser Paradoxalmente, a existéncia dos virus é empregada pelas grandes companhias de software como justificativa para deses- timulara pirataria de softwares, visto que uma c6pia nfo autén- tica pode conter cédigos maliciosos. E. mais: as pragas virtuais fo justificativas também para uma constante aquisigio de no- vas versdes de softwares, visto que verses mais . antigas possuiem brechas que as tornam vulnerd- veis. F, indo além, a propria estratégia invasiva dos virus passa a ser a tnica de agdes comerciais realizadas por meio de Spams, adwares e spywares; essas priticas revelam um submundo das redes, seja pela propria natureza infligido- ios, como HEGEMONIA CYBORG ra ou por aquilo que é normalmente objeto de an ‘equipamentos duvidosos para disfuunges sexuais, venda de titulos universitérios e material pornografico. Uma espécie de mer cado negro das redes. Mas mesmo esses desvios mais ocultos agem num mesmo luxo continuo da informagao, sendo que acompanham o desenvolvimento de dispositivos que atuam exatamente contra a stia existéncia ou veiculagdo, procurando idade e passar silenciosamente pelos fil- manter certa inv tros. Porém, 0 maior legado dos virus e ontros softwares tidos

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