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vir A PSICOLOGIA GERAL E A PSICOTECNICA ' Texto do inquérito te, ot 1 Fevereiro chologle concrete, iro de * Reve sotion wProblemas permanentes?- Ingqué! Nao vos tera certamente escapado que, apds cinquenta anos de tentativas, a psicologia nao chegou ainda hoje a um ponto em que lhe seja possivel fazer uma ideia clara dos seus funda- mentos: definir o facto e o método psicolégicos de um modo que possa ser aceite por todos os psicdlogos. A causa desta situacgdo reside certa- mente no facto de que, de um lado, o corpo da doutrina da psicologia tradicional, em especial a doutrina realista da vida interior, é incapaz de ser tratado em conformidade com o espirito das cién- cias positivas, dado ser de uma origem completa- mente diferente e, por outro lado, na maior parte das tentativas, esta doutrina sobrevive com uma tenacidade extraordindria, contrariando os me- lhores esforgos. Eis por que a preocupag’o mais importante das tentativas mais recentes € a de liquidar a psi- cologia classica, quer rompendo resolutamente com as nocées tradicionais, quer pondo em evi- déncia a falsidade ou a esterilidade dessas inicia- tivas fundamentais. Ora, a experiéncia dos diversos programas que foram lancados nestes Ultimos tempos e dos quais nenhum conseguiu dar inteira satisfacao 329 nS mostra bem que a solucio do problema dos fy damentos da psicologia no poderé ser alonn aa : por meio de especulagses puramente tedriesa que a tinica mancira de liquidar as concepegee inoportunas consiste em libertar a inspinees® fundamental das investigacées psicoldgicas ane pela sua pripria orientacao, se encontram Ue apenas em contacto intimo com factos verdad, ros, mas ainda naturalmente fora dos problemas e ocupagées tradicionais da psicologia classice Este é, em particular, 0 caso da psicologia in. dustrial e, de uma forma geral, da psicotécnion Estas disciplinas estao com efeito muito longe de constituir uma aplicacio pura e simples da psi. cologia vulgar: pelos factos de que se ocupam, pelas atitudes que estes tltimos implicam concre. tamente, quer a psicologia industrial quer a psi cotécnica ultrapassam a definicio classica do facto psicolégico e situam-se fora dos problemas da psicologia tradicional. Pode pois revestir-se de um interesse excepcional para a solugio do pro- blema dos fundamentos da psicologia, a procura, contrariamente ao ponto de vista classico que s6 yé nela uma aplicagao da psicologia geral, como € que ao invés se poderia extrair da psicologia industrial e da psicotécnica uma psicologia geral concreta, consequentemente diferente da actual psicologia geral abstracta que manifestamente ti- Tou a divisio do seu trabalho e as suas nogées fundamentais de todo o lado, menos da expe- riéncia. £ possivel conceber uma psicologia que, per- manecendo original, isto é, no retirando os seus dados nem da biologia, nem da fisiologia, pode no entanto manter-se totalmente estranha ndo ape- 330 — mas tradicionais da psicologia clis- nas 208 propia um modo absolutamente ra- sical, & doutrina da vida interior sob todas as formas. suas mente, para obter este resultado, a psicolo- esto deve definir o facto psicolégico sia emendo um «segmento da vida do individuo Scular>. © pois essencialmente uma «psicolo- Pia concreta> que se desinteressa mesmo dos pro- Fiemas funcionais, tao caros 4 psicologia clas- Sie todavia incontestavel que os problemas fun- cionais tém, também eles, um sentido concreto. ‘Trata-se apenas de saber como poderao ser abor- dados sem que o seu estudo sirva de pretexto quer para conservar, quer para reintroduzir o velho stock metafisico da psicologia clissica, por conseguinte: 1°—sem o realismo da vida interior; 2° —sem as nogoes tradicionais que derivam da teoria escoldstica das faculdades da alma. Ora, pareceu-nos que 0 ponto de vista assim delimitado encontra-se j4 em pratica na psicolo- gia industrial e na psicotécnica. Estas disciplinas sao, com efeito, e se as quisermos examinar sem ideias preconcebidas, estranhas ao realismo es- piritualista, a tudo o que é «vida interior» e sio muitas vezes obrigadas a fazer tAbua rasa das nogdes tradicionais. Seria portanto de um inte. resse verdadeiramente excepcional recuar dos factos aos prine{pios para ver qual é a psicologia geral a que poderia dar origem uma apli integral e rigorosa deste ponto de vista; > 331 partindo unicamente 4 cologii t eS i cologia industrial e da pelcsteerse eS a ps. geral que estes implicam, nica & psicologia : Este é o problema que nos permiti & vossa reflexio, fazendo as segue perguntas: seguintes duas 1.*— Em que sentido é i ‘ posstvel isol guanylate Ge gia geral positiva, i: gorosamente estranha a doutrina da vida interio: e fs preoeupagies abstractas da psicologia geral _ 2.*—Quais podem ser os princfpios ¢ as no- Ges da psicologia geral assim concebida? ‘Estas duas perguntas retinem-se numa “nica: como se pode conceber hoje uma psicologia gerat que seja verdadeira e rigorosamente tirada da ex periénoia? vu PSICANALISE E MARXISMO UM FALSO CONTRA-REVOLUCIONARIO © «FREUDO-MARXISMO» ' * Commune, n+ 3, Novembro de 1933, Dirigindo-se no Matérialisme et empiriocriti- cisme aos discipulos russos «marxizantes> de Mach, Ostwald, Poincaré e Companhia, Lenine escreveu: «Nao sois vés que procurais, mas vs os pro- curados, eis a infelicidade. Nao sois vés que abordais, do vosso ponto de vista marxista (pois quereis ser marxistas) as variacoes da moda na filosofia burguesa; é essa moda que vos aborda, vos impée as suas novas falsifi- cacées ao gosto do idealismo, & maneira de Ostwald, hoje, & maneira de Mach, amanha, & maneira de Poincaré, depois de amanha.>* Presentemente é a vez da psicandlise procurar impor as suas * O texto aplica-se perfeitamente a situagdo criada pela difusio da psicandlise, Aos subterfigios teéricos , dos , isto é, uma tentativa que, sob o pretexto de conciliar 0 marxismo com a psicologia mais moderna, procura apenas esvazii-lo do seu ca- racter materialista e revolucionério. Estas tentativas nasceram inicialmente nos outros paises que conheceram a moda do freu- dismo antes da Franca. Mas o freudo-marxismo fez também o seu aparecimento em Franca, para- Ielamente com a crescente voga da psicanilise. Conhecemos primeiro o freudo-marxismo de- lirante dos surrealistas, de André Breton em es- pecial. Mas & medida que o marxismo comecava a ser melhor conhecido, o freudo-marxismo viu-se na obrigacao de aperfeicoar os seus processos. ‘hos vaticinios de “André. Breton sucederam os freudo-marxistas peewdo-cientificos, Vimo 3 Jean Bernier, vaso contra-revolucic cante com Souvarine e os surrealistas. Presente- mente o freudo-marismo abordou um de nés, um escritor «que teima em ser marxista>. Veio pro- curd-lo para fazer dele o instrumento das suas contrafacedes. Surgiu um novo profeta do freu- do-marxismo: trata-se de Jean Audard. uy Jé 0 tinhamos encontrado a dar ligGes de filo~ sofia «sorbonistas a Lenine, a propésito terialismo e se reacaeaneees, prepara uma vasta sintese: . Ora, segundo Jean Audard, «a ortodoxia te6- rica» da afirmago de Jean Bernier, isto é, de um contra-revolucionario, «ndo é suspeita Em contrapartida, ele introduz a citac3o de Stoliarov com estas palavras: «o camarada Sto- liarov que é marxista de Moscovo e nao de Pa- ris, ete.». & pois o proprio Jean Audard quem declara que, por detras da oposicao das duas teses em que uma afirma e a outra nega o cardcter mate- rialista da psicandlise, existe a oposicao de duas espécies de «marxistas». Em compensacao ele falsifica esta oposic&o, pois esta nao existe ape- nas entre Paris e Moscovo, mas dentro de Paris mesmo, entre os marxistas de Paris e de todo o lado, fiéis aos ensinamentos de Marx, Engels e Lenine e o género de «marxistas> muito especiais que um comum édio revolucdo proletaria em geral e a Moscovo em particular — édio que par- tilham com a burguesia— agrupou em torno de Souvarine, de La Critique Sociale e cuja , 0 nosso instrumento para nendar as almas dos contra-revolucionéios, dos Solis amigos e daqueles que acreditam neles coga- synte. Somente, a nossa psicandlise chama-se Tmarxismo-leninismo. Nada disto 6 suficientemente materialista para Jean Audard. Com efeito, em tltimo lugar, Bao se trata, quanto a cle, de demonstrar que o freudismo materialista. Ele pretende demons- trar que o freudismo 6 mais materialista que o marxismo. «& por nos permitir tais resultados, diz Jean Audard depois de ter falado daquilo a que chama a teoria da invencio-sublimacio, que ele nos parece, sob este ponto de vista, mais materialista que o proprio marxismo.» (p. 528). Pela nossa parte, nfo acreditamos na palavra de Jean Audard. A reserva exprimida por «sob este ponto de vista» 6 quanto a nés uma dessas por que Jean Audard sente tanto horror. Mas quando Lenine aplicou 0 marxismo a0 periodo do imperialismo, nio armou em salvador do marxismo ante & queda idealista. Para um marxista, a descoberta de um dominio em que é legitimo aplicar 0 mar- xismo d4 ocasido e um trabalho preciso e se ML Audand fosse marxista ¢ niio um «escritor abor- dado por uma moda burguesas, e se tivesse pen- sado que havia boa razio para examinar 0 pro- blema da invencio de um ponto de vista mar- sta, teria empreendido um trabalho positivo. Nao teria baptizado a necessidade —se 6 que existe necessidade—de aprofundar o estudo marxista de um novo problema de desvio idea- precisamente a atitude de Jean Audard é a mesma que a dos filésofos idea- listas e dos parocos que. pelo facto da ciéncia nio ter ainda resolvido todos os problemas de uma forma definitiva, concluem a faléncia da ciéncia a fim de poderem proclamar que o caminho se en- ra livre para a metafisica. Proclamar os li- do marxismo a propésito de um problema (pretensamente) nio obteve ainda uma so- marxista é 0 indicio seguro do édio ao mar- xismo. Mas Jean Audard pode estar tranquilo: a sua teoria da invencio-sublimacio sera varrida, como foram varridos os outros «subterfigios tedricos tolos>, inventados pela filosofia bur- guesa: o marxismo ja tem resistido a outros . A diivida se o joelho ainda dobrado Giante do marxismo ira ou nio resistir & atracgdo do outro, é j4 uma questo muito diferente. * © facto de se ter desmascarado no primeiro € no tiltimo parigrafo do seu estudo, torna, de facto, a «demonstracio» colocada entre os dois completamente inoperante. Em primeiro lugar, 0 que pode significar o caracter materialisia da Peicandlise se, para o estabelecer, é preciso opor 42 » Paris» aos «marxistas de Mos- 08 emarrista oe o marxismo como estando covor, © MPN acalismo? Por outro lado, para que minado polo i¢tmonstrar que @ psicandlise € ma- serve dner’e, no fim de contas, se declara que ela, toridliom tcrialista? Porque nao declarar franca Foor re marxismo nio € materialista de men’? Que a (nica doutrina materialista € a psi- tode too? E até para que falar de materialismo, cava que procurar demonstrar 0 carécter mate- Fiasta da psicandlise, em vez de procurar antes Gemonstrar... 0 caracter psicanalitico do mate: Tllismo? Por que razio, por outras palavras ainda um joctho vergado diante de Marx e Engels, quando o outro o esta diante da C: ique sociale ¢, de um modo mais geral, diante da bur- guesia? Muito simplesmente porque, sem isso, 0 freudo-marxismo nao poderia desempenhar o seu papel contra-revolucionario, Nao poderia semear 2 confusdo a propésito do materialismo e do mar- xismo. Desmascarar-se-ia demasiado depressa. Sao necessdrios subterfiigios e contorsées. * preciso, pois, considerar a do cardeter materialist da peicanilie por Jean permit canilise. Sabemos ja que é um género de mate- rialismo anti-moscovita e néo materialista, mas sobrematerialista. Trata-se agora de ver qual 6 mais precisamente o seu conteiido. Dado que tem ainda um diante de Marx “e Engels, Jean Audard parte de um 33 texto célebre de Engels, um texto muito conhe- cido em que ele opde 0 idealismo ao materialismo, como sendo as duas correntes antagonistas da histéria e da filosofia. Jean Audard cita: «A grande questo essencial de toda a fi- losofia, escreve Engels, e particularmente da mais moderna, é a da relacio entre o pensa- mento e o ser... 0s filésofos dividiram-se em is campos: aqueles que afirmavam a exis- téncia do espirito anterior & da natureza for- maram 0 campo dos idealistas... os que viam © principio inicial na natureza ligaram-se As diversas escolas do materialismo.» 1 Depois de ter declarado que «se vé a partir daqui como é que se precisa o significado do ‘pri- mado da matéria sobre o pensamento’s, Audard encarrega-se ele mesmo dessa . O ma- terialismo <é a rentincia a toda a tentativa de explicar o inferior pelo superior, de todo o re- curso As causas finais»; ele descobre finalmente que 0 materialismo é 0 determinismo. Poe segui- damente o problema nestes termos: «A psicologia de Freud preencherd essa crenca no determinismo e essa condicao particular para a concepeio materialista da histéria que é a crenga que, etc.» ? Porqué mais «uma condi¢ao particular», 0 «género e a diferencas, como se diz na légica formal. O género, Audard enuncia-o fazendo referéncia a um texto de Engels onde este nao tinha a intengio de sublinhar o que havia de novo na concepcao que tanto ele como Marx tinham do materialismo, mas o que essa concepgao tem de comum com todos os materia- lismos, Assim também para Audard o materia- lismo de Marx e de Engels é a econdicio geral> mais o materialismo histérico, Que os fundamen- tos do materialismo histérico residem num ma- terialismo que ultrapassou as formas antigas, isto é, no materialismo dialéctico; que Marx e Engels nao «acrescentaram> simplesmente ao ve- lho materialismo a concepcio materialista da his- t6ria mas que levaram o materialismo, na quali- dade de explicago da realidade, a realizar um progresso, isso ignora Jean Audard. Para ele, o materialismo de Marx e Engels é 0 de materialismo que nao se alterou desde | Demécrito de Abdero até Marx, mais o materialismo hist6- rico, A dialéctica da natureza nao existe para Jean Audard. Existem trés coisas: 1.°—o pedantismo taca- nho dos filésofos burgueses cujos horizontes in- telectuais se confundem com os limites da légica formal: o processo histérico da evolucao do mate rialismo é representado sob a forma de adjuncéo MS ista da psicolo- de uma nova espécie a um género eterno; 2° — na deumiate pedantismo tacanho a falsifiengio barguesa, oficializada na Sorbonne, que escamo- puro interesse do idealismo, a dialéctica da teidieza e nao vé na obra de Marx ¢ de Engels patho o materialismo histérico coneebido como iim fatalismo econémico; 3.°—uma «interpreta- {jor do materialismo com vista 4 «demonstra- aor. Jean Audard proclama que o materialismo & © determinismo para poder inscrever no activo materialista da psicandlise as profissdes de £6 deterministas de Freud e dos seus discipulos. .cdes dos psicanalistas sobre o de- mo sio numerosas», diz ele ', verdade. nultiplicou na Traumdcutung, na Psicopa- tologia da vida quotidiana as profissoes de £6 de- terministas, Ele declara que a psicanilise subs- tituiu as explicagdes baseadas no acaso da psico- logia e da psiquiatria tradicional. Mas as pro- fissdes de f€ deterministas nfo chegam. Nés nao acreditamos, de acordo com a recomendacao de Lenine, cegamente na palavra dos amanuenses da burguesia, Se as profissdes de f6 determinis- tas bastassem, a propria psicologia associacio- nista seria materialista. E Stuart-Mill, esse fil6- sofo que é um idealista vergonhoso, seria tam- bém ele materialista. Existe, com efeito, toda uma categoria de filésofos para os quais as de- claracdes deterministas tem o mesmo cardcter que a atitude de Tardieu, Laval e Chiappe a0 proclamarem-se «republicanos». Isto significa >. 519. 346 wes filésofos praticam um idealismo que es penas a ‘sem quererem atacar frontal- ape ontrabando, e ciéncia. mente # hos interessa & a prdtion do «determal- = Pretendemos saber, em especial, como & nism” aicandlise representa as relagies de de- que jinacio entre o ser e © pensamento, entre a terrae a? psicoldgica. Respondendo a uma mecca de Stoliarov, segundo 0 qual ay # certo que nfo a negam. Nao faltava mais nada! Mas, uma vez mais, a questao nao respeita as profissdes de fé, mas a pratica. Ora, no que se refere & pratica, Jean Audard cita o texto de Flournoy * Isto significa que a formula concreta na qual se pode, num dado momento, exprimir o facto de que e que fazer do materialismo uma teoria é uma forma de «fazer metafisica». B assim que procede Mach, é assim também que se pro- cede na Sorbonne onde Jean Audard aprendeu © sistema. Mas o «sistema» destina-se apenas a desviar do caminho do idealismo o materialismo confirmado pela ciéncia. Com efeito, uma vez que precisamente o mate- Tialismo pode ser «a atitude pritica do sébios, ele deve ser a atitude tedrica. Porque o materia lismo ndo pode ser uma atitude pritica senao Porque a prtica o confirma, «Para o materialismo, it aa amon lismo, diz Lenine, o «éxito» sio obrigados cientifico, 0s Mas para Jean Audard? oO materialimo. uma . é ‘ par Praticas, O ae est4 desimpe- * Mat. e Emp, P. 112, : a meee Bis o materialism de Jean Audard. Qu psicanilise seja materialista segundo um we, rialista desta ‘Inia, niio vejo inconveniente nite” Mas uma outra questio levanta-se entretane: Se a psicanilise nfio tem nada de uma doutring verdadeiramente materialista, ae i i © que 6 que terg levado 4 mistificacio dos freudo-marxistas? Dever-se-& responder claramente que em pri- meiro lugar foi o préprio facto da vo, Sica meio | prio f voga da psica- «A infelicidade dos adeptos russos de Mach, diz Lenine, que pensaram ! Pois bem, lé-se Freud, expde-se Freud, acre- dita-se em Freud € diz-se: marzismo. Mas no texto de Lenine nio estéo em questio filésofos burgueses? Sem divida. Contudo ele acrescenta: «Nem uma tinica palavra de qualquer destes professores, muito capazes de realizar 0s trabalhos mais preciosos nos dominios es- 1 Mat. e Emp., p. 229. 354 Er err eeee sate Er SEE CEES peciai 6 digna de sofia.» Mas tratar-se-4 de «filosofia» de que competiria, alias, analis que, em todo o tanto piamente na palavra dele. Portanto, 1é-se Freud, lé-se Rank, 1é-se Fe- renezi, lé-se Kolnai, Ié-se Lafarge, 1é-se Marie Bonaparte e acredita-se neles. Encontra-se a «libido», principio de explicagio dos factos psi- los factos sociais, fundamento da psico- logia e da sociologia. E acredita-se cegamente em tudo isso. Mas ignora-se ou escamoteia-se 0 facto de que a libido é o instinto secwal conce- quicos e bido através da filosofia energetista. Freud quis explicar os factos que descobriu: a importinela das preocupagses sexuais; © si bolismo dos sonhos e dos sintomas neuréticos *, spr 6 del is da hist6ria, da quimica, da fisica, ete. crédito quando se trata de filo- no caso de Freud? Sim. Contrariamente a pretensfio que consiste em querer fazer dela uma ciéncia, a teoria da psicaniilise é um sistema filosdfico, construido # partir de um certo mimero de factos ra lista, mas aso, se encontram na hora actual completamente esmagados pela pesada miscelanea das lucubracdes. Porém, a simples existéncia da } sociologia freudiana 6 suficiente para fazer de Freud um filésofo, no pior sentido do termo, pois é bem evidente que a «sociologia freudiana> 6 totalmente inventada pelo processo de uma transposiciio puramente abstracta no plano social das teorias relativas & psicologia individual. Contudo, o nosso freudo-marxista acredita entre- Pretendeu explicd-los. Mas nao nenhum método seguro e coerente. A Freud 6 a e 0 «principio da realidade» sao abstracgdes que se desejaria colocar no mesmo plano que os prinef- pios fundamentais das ciéncias, como o «prinefpio da inércia», mas que sio na realidade decalcados dispunha de ordem na psicandlise que é impossivel acreditar sem yeservas ‘nos psicanalistas, mesmo quando se trata de factos. 356 jos_metafisicos, elo dos princt efpio do mal». tomno o «principio do bem» @ 0 «principe to ontre Ora, nig é suficiente levar a combateren- C0 si principios aber Smarzistas 1éem entre um sio desenvolvimento do instinto sexual ¢ a ordem social reinante, mas esse conflito real foi trans. formado pelos psicanalistas num conflito ideal entre instincias psicanaliticas. Encontramos o resultado normal e 0 desenvolvimento completo desta tendéncia na sociologia psicanalitiea onde a luta de classe, ela mesma . Os freudo-marxistas repetem servil- mente . «<& um lugar comum na literatura psica- nalitica, escreve Audard, a filiagio Copérnico- -Darwin-Freud... Esta filiacio é por si s6 a prova do eardeter materialista da pstcand- lise.»* De facto, Freud sofre a influéneia da corrente energética no momento em que elabora a sua teoria da libido *. » Pp. 521 * Ele sofre também de influéncia da psicologia domi nante na €poca, mas tratase de uma questio que nao podemos desenvolver aqi 358 Ele constréi a sua teoria precisamente no momento da difusio, entre uma fraccio de eru- ditos e no pablico, da «filosofia energética» de W. Ostwald «que afirmava 0 movimento conce- pivel sern a matéria»? e que queria substituir a fisica baseada na matéria por uma fisica baseada na simples nogio de energia. Teoria reacciondria por exccléncia: ela representa a exploracio da crise da fisica a favor do idealismo e conduz a um sistema idealista, B ao energetismo que Freud vai buscar as formas dentro das quais concebe a «libido». B & influéncia do energetismo que se deve o facto de que o instinto sexual acaba por se tornar em Freud uma e que a psicanilise, por iiltimo, 6 uma um termo derradeing Mas, tanto quanto sabemos, nio existe une psicanalista que tenha ido mais longe do qe a «libido», mais longe do que as «energias libihe nosas», senio em pala’ Dizemos j& mais atrés que as palavras 0 mais do que pie. dosas mentiras. De facto, a psicanilise, enquanto teoria, encontra-se encerrada numa tnica tents. tiva: a de reduzir tudo a uma cenergia pura», isto é, ideal, isto 6, idealista. Insistir nesta tenta, tiva — isso esta ao alcance da psicanélise. Depois do sonho, dos sintomas neuréticos, ela repetiu-o em relacdo & arte, & religido, & filosofia; depois do individuo, a sociedade. Mas sair desta tenta- tiva jé néo esté ao alcance da_psicanilise. Por isso o seu desenvolvimento nao consistiu sendo na repeticio mecénica, abstracta e pura- mente especulativa desta iniciativa, até ao mo- mento em que a sua aplicacdo A sociologia des- vendou a sua esséncia fundamentalmente idealista, e reacciondria. A psicandlise ndo é, pois, nem dialéctica, nem materialista. B um energetismo com uma colo- Tacio especial, proveniente da falsificagio ener- getista do instinto sexual. B um energetismo e, como todo o energetismo idealista, em tltima anilise, antimaterialista e antidialéctico. Se se guiser por Freud em paralelo com alguém, esse alguém nfo sera Marx, mas Ostwald. Dever-se-4 acrescentar ainda que esse energetismo é pura- mente mitolégico, nao apenas na sua orientacio, mas no seu conteiido. Toda a energética libidi- nosa da psicandlise € uma invencéo mitolégica. Retire-se por um instante a palavra libido & Psicanalise; substitua-se essa palavra pelo sim- x60 bolo cenergia X>; a miragem engendrada pela intervencio da sexualidade cairé e ver-se-s “que se esti na presenga de uma maquinaria psicolé- gica como tantas vezes os psicilogos a cons. trufram, ora sobre um modelo, ora sobre outro diferente. A psicandlise esté construida sobre o modelo energetista, um formula da ciéncia que a ciéncia ultrapassou sem a ter mesmo retido alguma vez, No entanto, foi a esta formula que se fixou a psicanilise, Entiio, donde vem porém o facto desse energe- tismo ter podido mistificar a este ponto? Mas foi precisamente porque se trata de um energe- tismo indigéncia ou de ariamente aos seus s vulgares» repetindo frio preferido: «O que mal, meio anjo>.» © freudismo parece -marxistas e a Jean Au- > pretende mostrar senfo um «materialistas, mas entido pequeno-burgués do termo. so que, depois de ter declarado que erialismo surge como sendo a redugio do jor», Jean Audard se extasia sobre a psicandlise: «superiors a0 « es term «O ideal de tudo o que é ‘superior’ na vida desvenda’ ob esta luz, suas origens infantis ¢ obscuras (para uma luz nao esté mal, G. P.). Todos os elementos hierarquica- mente dominantes da sociedade burguesa 840 despojados por ela do seu prestigio 80- brenatural. Ela € bem o método irrespei- toso por exceléncia e é por isso que continua » Feuerbach, p. 69. 362 aterialistas. Tal como n tarefa das ciéncias m Galilou e Darwin escandalizaramn aquele: atinham & letra da Biblis também Fri © 03 seus discipulos ofendern hoje os homens pios.>' Engels disse j4 que ofender os homens pios também nao passa de um materialismo vulgar. «Todos os progressos das ciéncias natu- rais nao Ihes serviram, diz ele dos represen- tantes deste tiltimo, sendo como provas contra a fé num criador...>? Demonstrar ao burgués que nao é tao y por detris da filantropia patronal, as tentativas Fe corrupeao. Mas o psicanalista reconduz tudo isto A libido. E como reduz também a ela a ava- reza, a cupidez, a caca aos lucros e as manobras ha Bolsa, o burgués acha-se absolvido por meio Ga sua humilhacao, Ea tinica coisa que o poderia inguietar ainda e que, de facto, o inquictou no inicio da psicandlise, a revocacio do genital na libido, suprimiram-na os psicanalistas por meio das mais complicadas contorsdes! Quantas vezes repetiram eles que se nao devia confundir com «genital», que «libido» nao signi- fica ' E esta também uma prova mais que no se trata de

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