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INÍCIO  GERAL

DEPENDÊNCIA EXTERNA

Petrobras fecha fábricas e expõe Brasil à falta de


fertilizantes russos durante guerra
Estatal decidiu parar produção de adubos a partir de 2016, aumentando dependência brasileira
quanto à exportação russa

Vinicius Konchinski
Brasil de Fato | Curitiba (PR) | 02 de Março de 2022 às 19:39

Ouça o áudio:

05:12

Bolsonaro em visita a Putin, em Moscou, em 16/02, para tratar de fertilizantes para agricultura brasileira -
Kremlin

O fechamento de três fábricas de fertilizantes da Petrobras durante os governos de Michel Temer


(MDB) e Jair Bolsonaro (PL) aumentou a dependência do Brasil em relação aos adubos vindos da
Rússia. O país governado por Vladimir Putin é de onde vem 23% da importação  desse tipo de
produto, segundo dados do Ministério da Economia.

A Rússia invadiu a Ucrânia há uma semana. O Brasil não condenou o ato, mantendo uma posição
neutra a respeito da operação militar.

Em entrevista coletiva concedida no domingo (27), o presidente Bolsonaro a�rmou que pretende
manter certo "equilíbrio" sobre o con�ito justamente por conta da dependência brasileira dos
fertilizantes russos. “Para nós, a questão do fertilizante é sagrada”, a�rmou ele.

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Importação de fertilizantes

Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) tabulados pela consultoria StoneX
indicavam que, ainda em 2020, cerca de 84% dos fertilizantes usados por agricultores brasileiros
já eram importados. Esse percentual de importação é o maior já registrado em mais de 20 anos –
e deve aumentar.

“Não temos os dados consolidados de dezembro, mas o percentual de importação deve chegar a
85%”, disse o economista e analista da StoneX, Luigi Bezzon.

Tabela compara produção nacional e importação de fertilizantes no Brasil de 2000 a


2020 / Brasil de Fato

Em 2015, quando as fábricas de fertilizantes da Petrobras estavam ativas e sob controle da


estatal, esse percentual era de cerca de 73%. Desde então, porém, a produção nacional só caiu, e
a demanda por eles só cresceu.

O Brasil consumiu 30 milhões de toneladas de fertilizantes em 2015. Em 2020, o consumo foi de


40 milhões de toneladas. Em 2021, segundo estimativas da StoneX, ele chegará a 45,5 milhões de
toneladas.

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Não dava lucro

A Petrobras resolveu deixar o mercado de produção de fertilizantes em 2016, após o presidente


Michel Temer (MDB) chegar à Presidência. A decisão fez parte de um plano de negócios da
estatal, elaborado depois do impeachment de Dilma Rousse� (PT).

Naquela época, a Petrobras alegava que produzir fertilizantes dava prejuízo. Por conta disso,
primeiramente, decidiu desativar duas fábricas de adubos que mantinha no Nordeste.

A decisão foi anunciada em março de 2018 e atingiu as fábricas de fertilizantes nitrogenados da


Bahia (Fafen-BA), localizada no polo petroquímico de Camaçari, inaugurada em 1971, e de
Sergipe (Fafen-SE), em Laranjeiras, ativada em 1982.

Em novembro de 2019, a Petrobras arrendou as duas plantas para a Proquigel Química SA. A
empresa, entretanto, só conseguiu reativar a produção delas em 2021.

:: Artigo | Bolsonaro rasga princípios do Brasil de olho em fertilizante ::

Outros unidades fechadas

De 2016 para cá, a Petrobras também fechou a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenadas do Paraná
(Fafen-PR), em Araucária. O fechamento ocorreu em fevereiro de 2020, já durante o governo
Bolsonaro. A desativação da fábrica, que havia sido comprada em 2013, causou a demissão de
cerca de mil trabalhadores.

Também durante este governo, a Petrobras vendeu a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados


(UFN3), em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, para o grupo empresarial russo Acron. A planta
estava em fase de construção. O anúncio da venda foi feito pela ministra da Agricultura, Tereza
Cristina, em fevereiro deste ano.
Atuação russa no mercado internacional de fertilizantes / Brasil de Fato

Questão de soberania

Gerson Castellano, petroquímico e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), informou
que trabalhadores contestaram a decisão da Petrobras de deixar a produção de fertilizantes e
alertaram para os riscos que isso traria à agricultura brasileira na época em que o plano da
empresa foi anunciado. O alerta, porém, foi ignorado, inclusive por produtores rurais.

“Nunca foi pensado na questão de soberania, no risco de con�itos fazerem com que esses
produtos já não estivessem à nossa disposição”, a�rmou Castellano, que teme que a guerra entre
Rússia e Ucrânia comprometa o envio de fertilizantes russos para o Brasil. “Acho que foi um
despreparo do governo e do agronegócio”, avaliou.

:: Petróleo dispara e Petrobras já fala em aumentar lucro ::

Quem pagará a conta

Castellano ressaltou que não será o agronegócio o principal prejudicado por uma eventual falta
de fertilizantes. Ele disse que produtores rurais pagarão mais caro pelos adubos se necessário e
repassarão o custo à população.

“O agronegócio vai repassar ao preço dele”, disse. “Quem vai ter problema é toda a população,
que vai pagar essa in�ação”, pontuou.

Bezzon, da StoneX, disse que, durante 2021, o preço de fertilizantes no mercado internacional já
subiu cerca de 200%, mesmo antes de o con�ito entre Rússia e Ucrânia eclodir.

Ele explicou que o Brasil ainda não foi tão afetado por essa alta, já que ela ocorreu
principalmente após setembro, quando as compras brasileiras já estavam fechadas. Contudo, ele
estima, para 2022, um impacto severo nos custos do insumo.
Bolsonaro mira indígenas

O presidente Bolsonaro usou sua conta no Twitter para falar do impacto que a guerra entre
Rússia e Ucrânia poderá trazer à agricultura nacional. Ele, inclusive, defendeu a liberação da
exploração mineral de terras indígenas para a obtenção de potássio, usado como fertilizante.

Jair M. Bolsonaro
@jairbolsonaro

-O POTÁSSIO e a nossa segurança alimentar.

-Em 2016, como deputado, discursei sobre nossa


dependência do potássio da Rússia. Citei 3
problemas: ambiental, indígena e a quem pertencia
o direito exploratório na foz do Rio Madeira (existem
jazidas também em outras regiões do país).

Assistir no Twitter

6:09 AM · 2 de mar de 2022

Leia a conversa completa no Twitter

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“Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu
preço. Nossa segurança alimentar e agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e
Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em
abundância”, escreveu o presidente  nesta quarta-feira (2).

Castellano, da FUP, reconheceu que o Brasil importa potássio para adubar lavouras. Lembrou,
entretanto, que o Brasil seria teoricamente autossu�ciente em ureia, também usado como
fertilizante, caso não tivesse desativado as fábricas da Petrobras.

Procurada pelo Brasil de Fato, a Petrobras não se pronunciou sobre sua decisão de deixar de
produzir insumos para a agricultura.

O Ministério da Agricultura também foi procurado, mas não respondeu.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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