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Corte Interamericana condena o Estado brasileiro pelo assassinato do camponés Antonio Tavares ha 24 anos 2} wosr2024-2008 Tempode letua:7mn © vero Tate na 58 anos quando fl asassndo pos ageresdaPM co Parané Deo cesposa e cinco thes. Era assentado da retorma agraria no municipio de Candie faz‘ parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade. Fotos: Arquivo de familia © Wolinton LenorvMSTIPR Estado brasileiro é condenado pelo assassinato do camponés Antonio Tavares Senten¢a da Corte Interamericana determina que Justi¢a Militar nao pode mais investigar crimes cometidos por militares contra civis Por Comunicagao MST, Terra Direitos e Justi¢a Global O Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em sentenga divulgada nesta quinta-feira (14). ACorte reconheceu a intensa violéncia e a omissao pela justia brasileira ao assassinato do trabalhador rural Antonio Tavares e as lesGes sofridas por mais de 197 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por parte de agentes da Policia Militar do Parana, durante a repressao, na Rodovia BR-227, em Campo Largo (PR), auma marcha pela reforma agraria que ocorreria em 2 de maio de 2000 em Curitiba. Na repressao mulheres, criancas e pessoas idosas também foram feridas. Diante do arquivamento do caso na justi¢a brasileira e manutengao da impunidade, 0 caso foi denunciado em 2004 a Comissao Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) Em fevereiro de 2021, 0 caso foi submetido a Corte Interamericana pelo proprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Terra de Direitos e Justi¢a Global. Familiares de Antonio Tavares, a vilva e trés filhos, assistiram ao anuncio da sentenga em Curitiba, junto a militantes do MST, integrantes da Terra de Direitos e apoiadores da reforma agraria Com mais de 80 paginas, a decisao tem quatro grandes determinagées ao Estado brasileiro. Aprimeira diz respeito ao fato de que a justica militar nao tem competéncia para julgar e investigar militares que cometam crimes contra civis. A medida visa enfrentar 0 atual quadro de impunidade. No processo de responsabiliza¢ao dos envolvidos do crime contra Tavares, os inquéritos na policia militar e civil foram arquivados eas lesdes corporais impostas as mais de 197 pessoas feridas jamais foram objeto de investiga¢ao pelas autoridades locais. Fotos: APP-Sindicato | Apoieoviomunpo Outra medida presente na sentenga é a inclusdo de conteudo especifico no curriculo para permanente formagao de agentes de seguranga publica, de modo a garantir o respeito aos direitos dos manifestantes. Asentenga também reconhece 0 direito a manifestacdo e determina a realizacao pelo Estado brasileiro e do Parana, em dialogo com vitimas e representantes, de ato publico de reconhecimento de responsabilidade pelas violagées de direitos do caso. Asentenga deve ser divulgada amplamente pelas autoridades publicas nacionais. Outra medida presente na sentenga € a de que o Estado proteja o monumento erguido as margens da BR 277, nas proximidades do local onde ocorreu o massacre de 2000. Fotos: Welinton Lenan e Juliana Barbosa/MST-PR Aobra é projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e foi declarada como patriménio imaterial em 2023. A decisao obriga a ado¢ao de todas as medidas adequadas para a preservacao no local, acesso publico e garantia de manutengao. ACorte ainda determinou a reparacao as vitimas presentes no dia e também aos familiares de Antonio Tavares, com apoio psicoldgico e indenizagao por danos morais e materiais. Loreci Lisboa é uma das vitimas do massacre da BR-277, sofreu diversos ferimentos e viu de perto o assassinato de Antonio Tavares. “Agente sofreu muito naquele dia. Espero que com isso, nao sé esse governo, mas outros que vierem, saibam o que fazer com © pessoal que vem reivindicar. Nem bicho foi tratado como nos. Foi desumano o que fizeram com nos’: Ela acompanhou o anuncio da sentenga também em Curitiba, e se emocionou ao comentar o que sentiu “O coracdo ainda continua a mil. E uma vitéria grande que a gente conseguiu depois de todos esses anos. Foram mais de 20 anos de batalha. A gente se sente ser humano diante dessa decisdo. Essa decisao, pranés que somos da classe baixa, da familia Sem Terra, é uma vitoria imensa. Outra vitdria é o monumento poder ficar ali, e a gente poder visitar’. Para Roberto Baggio, da coordena¢ao nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pelo Parana, a sentenga significa uma vitoria, diante de tantos anos de impunidade: “Finalmente, depois de 24 anos, a justiga chegou. A Corte, em sua decisao, reconhece que lutar pela terra, se organizar nao é crime, 6 um direito das pessoas para democratizar a terra. Que o estado paranaense é autor das violéncias. A Corte reconhece que o monumento Antonio Tavares é a memoria da luta coletiva da historia da luta dos camponeses e de todos que lutam pelos direitos humanos. E que cabe ao Estado brasileiro e ao governo do Parana fazer uma reeduca¢ao dos agentes de seguranga publica. O assunto dos direitos humanos nao é mais assunto dos aparatos de seguranca publica, mas trata-se de uma questdo a ser tratada por meio de politicas pUblicas. A decisdo da Corte é uma decisdo contundente, que alimenta a luta pela reforma agraria, que alimenta a luta por direitos e para que se avance no pais a democratiza¢ao da propriedade da terra”. Ayala Ferreira, integrante do Setor de Direitos Humanos do MST, enfatiza a importancia da decisdo, diante de um histérico de lentidao para a efetivacao da reforma agraria, que resulta em violéncia: “E um pais que nunca implementou de forma ampla e universal uma politica de Reforma Agraria. E essa realidade de concentra¢ao da terra cria esse cenario de violéncia de uma guerra silenciosa que se emplaca no campo brasileiro”. Desde 1985, quando a Comiss&o Pastoral da Terra (CPT) passoua sistematizar os casos de violéncia no campo, foram registradas mais de 2 mil pessoas assassinadas. Acondenagao nao é apenas simbdlica, ja que o estado brasileiro é signatario da Convengao Americana de Direitos Humanos e se submeteu a jurisdigéo contenciosa da Corte Interamericana. A decisdo é obrigatéria e irrecorrivel Oprazo para o cumprimento das determinagées é de um ano, a partir da divulgagdo da sentenga. Além destas, outras duas sentengas da Corte IDH condenaram o Estado Brasileiro por crimes relacionados 4 luta pela terra Camila Gomes, coordenadora de incidéncia internacional da Terra de Direitos, enfatiza que se trata da 13° condenagao do Brasil pela Corte Interamericana e a 3* condenagaéo que envolve crimes cometidos por agentes do estado contra trabalnadores Sem Terra “Os fatos aconteceram ha 24 anos, mas o que a Corte diz hoje para o estado brasileiro é bastante atual. Diz que lutar por direitos nao é crime e as autoridades devem, ao inves de reprimir e agir com violéncia, devem proteger as pessoas que se organizam para lutar por direitos. A Corte diz que basta de impunidade em relagao a violéncia policial” A advogada frisa a importancia da decisao acerca da investigagao dos casos de crimes cometidos por policiais contra civis, que deixara de ficar a cargo da Justi¢a Militar: “E absolutamente incompativel com direito internacional e com a jurisprudéncia da Corte que a justiga militar investigue policiais suspeitos ou acusados de cometerem crimes contra civis. Isso nao pode continuar acontecendo. Para superar esse quadro de impunidade, 0 Brasil deve, dentro de um ano, promover alteragao da legislagao nacional para garantir que a Policia Militar nao tenna competéncia para investigar delitos cometidos contra civis" Apesar de tratar de fatos que aconteceram ha 24 anos, esta decisao é muito atual para pessoas que se organizam para lutar por direitos. “Estes crimes contra pessoas que lutam por direitos ficam impunes. Essa condenagao coloca na agenda politica do pais a seguinte questao, que precisa ser enfrentada pelas autoridades brasileiras: “Quantas vidas mais de trabalhadores rurais Sem Terra serao ceifadas e quantos casos mais de violéncia contra pessoas que defendem direitos terdo que acontecer para que o Brasil reconheca que lutar por direitos nao é crime, para que a vida das pessoas defensoras seja efetivamente protegida?’, questiona a advogada. Para Glaucia Marinho, diretora-executiva da Justi¢a Global, a sentenga da CIDH ganha relevancia ainda maior por retirar da Justiga Militar a responsabilidade pela investigagao dos crimes cometidos pela policia contra civis “Acondenacao do Brasil no caso Antonio Tavares 6 um importante passo para a efetivacao da justi¢a, reparacao e mitiga¢ao das violagdes contra os defensores de direitos humanos, especialmente os que atuam na defesa da terra e territorio. Ao determinar que o Estado brasileiro altere a competéncia da Justi¢a Militar e ela perca a atribui¢do para julgar crimes contra civis, a Corte empurra 0 Brasil para dar um passo decisivo no enfrentamento a impunidade e a violéncia policial no pais". RELEMBRANDO O CASO Em 2 maio de 2000, mais de 1.500 Sem Terra, homens, mulheres e criangas, se mobilizaram para ir até a cidade de Curitiba, para participar da Marcha pela Reforma Agraria. Eles reivindicavam a retomada da reforma agraria e o fim da violéncia policial contra os Sem Terra. No entanto, foram violentamente reprimidos ainda na BR 277 e impedidos de chegar a cidade de Curitiba. Sob comando do governador a época, Jaime Lerner (antigo DEM), sem qualquer ordem judicial, a Policia Militar do Parana, organizada em uma tropa de 1500 agentes, bloqueou a BR-277 e impediu - a bala - a chegada da comitiva de 50 6nibus a Curitiba. Fotos: APP-Sindicato Na altura do KM 108, em raz&o de um bloqueio feito pela Policia Militar, os passageiros desceram de um dos 6nibus, quando PMs fizeram disparos contra os trabalnadores e trabalhadoras rurais. Anténio Tavares Pereira foi atingido por um disparo de arma de fogo e faleceu no mesmo dia. Mais de 185 pessoas ficaram feridas. Vale destacar que a Policia Militar ndo prestou socorro as vitimas. Ant6nio Tavares tinha 38 anos quando foi assassinado, deixando esposa e cinco filhos. Era assentado da reforma agraria no municipio de Candéi e fazia parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade Na avalia¢ao do MST, o ataque 4 marcha nao foi um caso isolado. A repressao, aponta o movimento, esta inserida num. contexto de intensa criminalizagao e persegui¢do aos movimentos sociais de luta pela terra no Parana, endossada pelo entado governador Jaime Lerner. Entre os anos de 1994 e 2002 - primeiro e segundo mandatos de Lerner - ocorreram 502 prisées de trabalhadores rurais, 324 lesdes corporais, 07 trabalhadores vitimas de tortura, 47 ameagados de morte, 31 tentativas de homicidio, 16 assassinatos, 134 despejos violentos no Parana. Leiatambém Mulheres Sem Terra ocupam érea para denunciar Codevasf: Nao cumpriu acordo e impede acesso a agua Siga-nosno Google News Comentarios °s Leiatambém Mulheres Sem Terra ocupam drea para denunciar Codevasf: Nao cumpriu acordo e impede acesso a Agua VIDEOS: Israel mata mais de 100 palestinos que esperavam comida em Gaza Miguel Nicolelis, Elon Musk e a midia vira-latas do Brasil China diz a Tribunal de Haia que palestinos tem direito de recorrer a violéncia contra ocupagao ilegal de Israel VIOMUNDO ‘Ajude o VIOMUNDO: seja um apoiador! (©2024 - Todos os direitos reservados Sobre Anuncie —~Politicade Privacidade ——Alterar Politica hello.

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