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glorificar a Misericórdia Divina

Quaresma 2022 – Viver a Misericórdia Divina com os Santos do Carmelo

Evangelho (Mt 6,1-18)

Naquele tempo Jesus disse aos discípulos:
«Guardai-vos de fazer as vossas boas obras
diante dos homens, para vos tornardes nota-
dos por eles; de outro modo, não tereis nen-
huma recompensa do vosso Pai que está no
Céu. (…) Quando orardes, não sejais como
os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas
sinagogas e nos cantos das ruas, para serem
vistos pelos homens. Em verdade vos digo:
já receberam a sua recompensa. Tu, porém,
quando orares, entra no quarto mais secre-
to e, fechada a porta, reza em segredo a teu
Pai, pois Ele, que vê o oculto, há de recom-
pensar-te». Mt 6,1-18

O Carmelo e a
Misericórdia
Santa Teresa de Lisieux
(1873-1897) um dia confi-
denciou a uma das novi-
ças do Carmelo de Lisieux:
«Não somos santas que choram
os seus pecados; alegramo-nos
por eles servirem para glorificar
a misericórdia do bom Deus.»
(Conselhos e Recordações de Maria da
Trindade, 40) E no último parágrafo da
sua autobiografia, poucos meses antes
de entrar na Vida, a 30 de setembro de
1897, exclamou: «Minha querida Madre,
agora queria dizer-vos o que entendo
por odor dos perfumes do Bem-Amado.
Uma vez que Jesus subiu de novo aos
Céus, não posso segui-l’O senão pelos
vestígios que deixou. Mas, como esses
vestígios são luminosos! Como são per-
fumados! Basta-me lançar o olhar para
o santo Evangelho e logo aspiro os per-
fumes da vida de Jesus e sei para que
lado correr. Não é para o primeiro lu-
gar, mas para o último, que eu corro.
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Em vez de avançar como o fariseu, re-
pito, cheia de confiança, a oração do
publicano. Imito, sobretudo, a conduta
de Madalena; a sua surpreendente, ou
melhor, a sua amorosa audácia, que en-
canta o coração de Jesus, seduz o meu.
Sim, estou certa de que se tivesse na
minha consciência todos os pe-
cados que se possam cometer, eu
iria, com o coração despedaçado
de arrependimento, lançar-me
nos braços de Jesus, pois sei quanto
ama o filho pródigo que para Ele volta.
Não é porque Deus, na sua previdente
misericórdia, preservou a minha alma
do pecado mortal, que me elevo para
Ele pela confiança e pelo amor.»
(Ms C, 36vº-37rº)
Teresa é certamente reconheci-
da na Igreja como a santa da Mi-
sericórdia. Ela assim o exprime
pessoalmente, dizendo: “A mim
deu-me a sua Misericórdia infinita” (Ms
A, 83vº). A sua missão, desde há dé-
cadas, consiste em fazer-nos conhecer
e amar a misericórdia para que a ela
nos ofereçamos cada vez mais profun-
damente, no coração de todas as cir-
cunstâncias da nossa vida quotidiana.
Vivendo assim, neste oferecimento de
nós mesmos à Misericórdia, ser-nos-á
concedido abrir os nossos corações para
que, através de nós, Jesus possa chegar
a muitas irmãs e irmãos nossos.

Muitas outras figuras do Carmelo

também testemunharam o poder da
Misericórdia divina nas suas vidas.
Durante este retiro da Quaresma
escutaremos o testemunho de seis
deles: Santa Teresa de Jesus (de Ávi-
la), São João da Cruz, Lourenço da
Ressurreição, Santa Teresa do Me-
nino Jesus e também Santa Isabel
da Trindade e uma Santa que nos é
menos familiar: a pequena Santa do
Chile, Teresa de Jesus(dos Andes).

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 À escuta do Evangelho
segundo São Lucas
Para nos pormos à escuta destes
testemunhos de Misericórdia, abra-
mos os corações à Sagrada Escritu-
ra, meditando os textos evangélicos
propostos cada domingo do tempo
da Quaresma. Este ano é pelo teste-
munho do pintor da Misericór-
dia por excelência, o evangelista São
Lucas, que poderemos pedir ao Es-
pírito Santo que abra mais os nossos
corações à experiência da misericór-
dia.
Para São Lucas, o Coração de Je-
sus é, antes de mais, um cora-
ção de Misericórdia. Desde o seu
primeiro capítulo, Lucas apresenta a
manifestação da misericórdia do Sen-
hor (1,58), uma misericórdia que se
estende de geração em geração (1,50).
Lucas insiste nela cinco vezes neste
primeiro capítulo – convidamo-lo/a a
que o releia e se detenha nos versícu-
los 50, 54, 58, 72 e 78. Uma expressão
é bem característica de Lucas – lite-
ralmente: as entranhas de mise-
ricórdia do nosso Deus. Esta ex-
pressão encontra-se várias vezes ao
longo do seu Evangelho: no Cântico
de Zacarias (1,72), junto da viúva de
Naim (7,13), com o Bom Samaritano
(10,33) e, evidentemente, no cora-
ção da parábola dita do Filho Pródi-
go, ou antes, do Pai Misericordioso
(15,20). As narrativas dos cinco mi-
lagres que apenas se encontram em
Lucas são apresentadas como gestos
de misericórdia mais do que como
uma manifestação de poder: se dese-
jar, pode também contemplar aquelas
passagens em que as cores de Lucas
se manifestam na mansidão: 7,11-17;
13,10-17; 14,1-6; 17,12-19 e 22,50-51,
durante a Paixão.
Evidentemente, todos os Evangelis-
tas testemunham a misericórdia de
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Deus, mas Lucas insiste nela espe-
cificamente, como em 19,10: “O Fil-
ho do Homem veio procurar e sal-
var o que estava perdido”. O verbo
‘procurar’ é próprio de Lucas. Tam-
bém é Lucas que nos relata quatro
encontros entre Jesus e uns peca-
dores que só encontramos no seu
Evangelho: com a pecadora na casa
de Simão, o fariseu (7,36-50); com
Zaqueu (19,1-10); em favor dos seus
algozes (23,34); e sobretudo o úl-
timo encontro, com o bom ladrão:
«Hoje mesmo estarás comigo no Pa-
raíso» (23,43). Enfim, no coração do
seu Evangelho encontram-se 3 das
42 parábolas de Lucas em que se
exprime a alegria de Deus em
nos salvar (Lc 15). Voltaremos a
elas no decorrer desta Quaresma.

Entrar em Oração
Propomos-lhe, como não podia deixar
de ser, que entre em oração tal como
Cristo nos convida a fazer a partir
deste primeiro dia da Quaresma: «Tu,
porém, quando orares, entra no quar-
to mais secreto e, fechada a porta,
reza em segredo a teu Pai, pois Ele,
que vê o oculto, te recompensará.»
(Mt 6,6) Que nos dará o nosso Pai do
Céu, senão saborear mais profunda-
mente a sua misericórdia, oferecida no
seu Filho Jesus? Se desejamos expe-
rimentar o que nos quer dar o nosso
Pai, peçamos-lhe primeiro que des-
perte o nosso desejo profundo
porque, como tão bem exprime Te-
resa no Oferecimento de si mesma
à Misericórdia: «quanto mais que-
reis dar, mais fazeis desejar». Assim,
podemos orar com o Santo Papa João
Paulo II, quando consagrou a basílica
do Santuário da Divina Misericórdia,
em Cracóvia, a 17 de agosto de 2002:

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 Deus, Pai misericordioso,
que revelaste o teu amor no teu Filho
Jesus Cristo,
e o derramaste sobre nós no
Espírito Santo Consolador,
nós te confiamos hoje o mundo e cada pessoa.
Inclina-te para nós, pecadores,
Cura a nossa fraqueza, vence todo o mal.
Que todos os habitantes da Terra façam a
experiência da tua misericórdia,
para que em Ti, Deus Trindade, encontrem
sempre a fonte da esperança.
Pai Eterno,
pela dolorosa Paixão e pela
Ressurreição do teu Filho,
tem misericórdia de nós e do mundo inteiro!
Amén.

Podemos também, com Teresa, rezar

todas as semanas ou todos os dias da
Quaresma a parte final do seu Ofere-
cimento ao Amor Misericordioso, que
aprofundaremos durante a 4ª semana:

A fim de viver num acto de

perfeito Amor, ofereço-me
como vítima de holocausto
ao vosso amor misericor-
dioso, suplicando-Vos que me consu-
mais sem cessar, deixando transbor-
dar para a minha alma as ondas de
ternura infinita que estão encerradas
em Vós e que assim eu me torne Mártir
do vosso Amor, ó meu Deus! (…) Que
este martírio, depois de me ter prepa-
rado para comparecer diante de Vós,
me faça, enfim, morrer e que a minha
alma se lance, sem demora, no eterno
abraço do vosso Amor Misericordio-
so…Quero, ó meu Bem-amado, a cada
palpitar do meu coração, renovar-Vos
este oferecimento um número infini-
to de vezes, até ao momento em que,
desvanecidas as sombras, possa rea-
firmar-Vos o meu Amor num face-a-
face eterno!...
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 Programa para a Quaresma
Programa do retiro
Ao longo das semanas da Quaresma,
São Lucas e os santos do Carmelo in-
troduzir-nos-ão no mistério da Di-
vina Misericórdia para nos preparar
para viver a grande Vigília Pascal:

• 1ª semana: Nunca sem o Espírito

Santo! – com Teresa de Ávila

• 2ª semana: Atraídos à oração – com

João da Cruz

• 3ª semana: «Comecemos tudo de-

veras!» - com Lourenço da Ressur-
reição

• 4ª semana: Ousar ter as mãos vazias

– com Teresa de Lisieux

• 5ª semana: - com Isabel da Trindade

• Semana Santa: - com Teresa dos

Andes

• Páscoa: glorificar a Misericórdia Di-

vina

Indicações práticas
• Receberá todas as sextas-feiras uma
mensagem eletrónica com um docu-
mento de 6 páginas para descarregar
ou para escutar em podcast:
• Uma meditação sobre o Evangelho
de domingo.
• A descoberta de uma figura carme-
lita que nos convida a viver a Mise-
ricórdia.
• Citações ilustradas para viver cada
dia com a Escritura e com os santos
do Carmelo.

Boa entrada na Quaresma!

Fr. Denis-Marie Ghesquières (Convento de Paris)

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 Orar a cada dia da semana
com Edith Stein

Quinta-feira 3 de março:
escolher a vida
«Quem perder a vida por minha causa,
salvá-la-á.» Lc 9,24)
«A nossa interioridade enche-se de mui-
tas maneiras (...) a tal ponto que uma
coisa expulsa sempre outra. A minha pri-
meira hora da manhã pertence ao Sen-
hor. A tarefa quotidiana que me cabe,
quero cumpri-la bem e Ele me dará a
força de a levar a cabo» (E. Stein, Dar
Lugar à Graça de Deus, 12 de janeiro
de 1932)
Decido reservar um tempo todos os dias
para viver esta Quaresma com o Senhor.

Sexta-feira 4 de março:
saudação à Cruz!
«Sacrifício agradável ao Senhor é um es-
pírito arrependido». (Sl 50,19)
«Levanta os olhos para o Crucificado.
Se Lhe estiveres unido… então o seu
sangue precioso é teu»…É sobretudo
nos lugares de sofrimento que podes es-
tar presente pelo poder da Cruz; O teu
amor misericordioso, o amor que jorra
do coração de Deus, leva-te para todo
o lado.» (E. Stein, Exaltação da Cruz, 14-
9-1939) Volto-me para a cruz de Cristo
para nela depositar as intenções que
trago comigo.
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 Sábado 5 de março:
ser um em Deus
«Se repartires o teu pão com o faminto
e matares a fome ao pobre»...(Is 58,10)
«Para um cristão não pode haver “estran-
hos”... O amor de Cristo não conhece
fronteiras, nunca se detém.» (E. Stein,
O Mistério do Natal)
De quem me posso fazer próximo?

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