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2018/2019

Casos Práticos
Afonso Patrão
Casos Práticos a resolver nas aulas práticas de Direito Internacional Privado na Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra no ano lectivo 2018/2019

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra


Caso Prático 1:
A, francês e B, alemã, ambos residentes em Espanha, tendo propriedades
confinantes no Algarve, discutem a extensão dos respectivos direitos de
propriedade, concretamente quanto a saber se podem construir até à extrema e
abrir janelas. Tal conduta é proibida pelas leis portuguesa e espanhola mas
permitida pela lei alemã. Quid iuris?

Caso Prático 2:
Antónia, cidadã de 18 anos que é simultaneamente austríaca e saudita,
residente na Arábia Saudita, pretende contrair casamento em Portugal, sem
autorização dos seus pais, com Belmiro, português residente em Portugal, de
18 anos de idade.
O Conservador do Registo Civil tem dúvidas sobre a capacidade nupcial de
Antónia. Na verdade, em face da lei saudita, a mulher precisa de autorização do
pai para casar até aos 21 anos sob pena de nulidade do casamento, ao passo
que nas leis portuguesa e austríaca esta autorização não é necessária.
Quid iuris, tendo em conta o art. 49.º do Código Civil?

Caso Prático 3:
A e B, amigos, ambos norte-americanos e residentes no Estado de Nova
Iorque foram dar um passeio no carro de A, tendo um acidente quando
passavam no Canadá, de que resultaram danos para B.
B intentou uma acção no tribunal de Nova Iorque pedindo a A uma
indemnização pelos danos, nos termos da lei nova-iorquina. A entende que não
tem nada a pagar, pois a lei do Canadá não confere um direito à indemnização
aos passageiros transportados gratuitamente.
Como deve o juiz de Nova Iorque decidir sabendo que a Regra de
Conflitos de Nova Iorque dispõe que a matéria de danos causados ao
passageiro transportado gratuitamente é regulada pela lei do local onde se
verificou o dano.

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Caso Prático 4:
Em 2016, A comprou a B 2 toneladas de dentes de elefante no Quénia,
país onde é proibida a respectiva comercialização. De acordo com a lei
queniana, tal proibição aplica-se a todas os contratos, mesmo que a lei queniana
não seja aplicável à situação concreta.
A e B escolheram como lei aplicável ao contrato a lei australiana, que
nada proíbe quanto a esta matéria. Como B não entregou os dentes de elefante,
A intenta em Portugal uma acção de responsabilidade contratual.Quid iuris?

Caso prático 5:
A, português, e B, argentina, são casados no regime de comunhão de
adquiridos e residem em Leiria desde o dia do seu casamento. Em 16 de Agosto
de 2017, faleceu uma tia de B (C – argentina residente em Buenos Aires), que
elegeu B como herdeira universal e lhe deixou uma casa de férias no Algarve.
- As normas argentinas sobre direito das sucessões determinam que sendo
a herdeira casada, os bens imóveis são entregues em comunhão aos dois
cônjuges;
- A norma portuguesa sobre regimes de bens (art. 1722.º/1/b) do Código
Civil) determina que os bens herdados são próprios do cônjuge.
O prédio é bem próprio ou comum, tendo em conta as regras de conflitos dos
arts. 53.º CC e 21.º do Regulamento (UE) 650/2012?

Caso Prático 6:
Em Dezembro de 1998, Anna (dinamarquesa e residente em Portugal), fez,
em Portugal, uma promessa pública de oferta de 100.000$00 a quem
encontrasse o seu cão. Dois dias depois, Bernard, também dinamarquês
residente em Portugal, encontrou o cão e entregou-o a Anna. Alguns meses
depois Anna e Bernard casaram. Em 2017 divorciaram-se e Bernard intenta
agora em Portugal uma acção de condenação para pagamento da dívida (de
500 Euros).
Anna alega a prescrição da dívida invocando que, segundo o direito
dinamarquês o prazo de prescrição geral é de 5 anos e não existe na Dinamarca
qualquer causa de suspensão semelhante à do artigo 318.º/a) do Código Civil
português. Por outro lado, invoca que o negócio de promessa pública não a

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vincula, pois não existe no direito canadiano (que considera aplicável) norma
similar à do art. 459.º do Código Civil Português.
Bernard, pelo contrário, alega que a dívida não prescreveu, porquanto o
respectivo prazo esteve suspenso nos termos do art. 318.º/a) do Código Civil
Português (que entende ser aplicável) e que, nos termos do artigo 309.º do
Código Civil Português (que entende dever aplicar-se), o prazo de prescrição é
de 20 anos.
a) Quid iuris, tendo em conta o disposto nos arts. 40.º, 41.º, 42.º e 52.º do CC,
sabendo que o DIP dinamarquês manda aplicar aos negócios jurídicos a lei
do local da celebração e às relações familiares a lei da nacionalidade comum
dos cônjuges?
b) E se adoptasse a posição relativa à qualificação, quer de Ago quer de
Robertson, como resolveria esta hipótese?

Caso Prático 7:
Em Fevereiro de 2017, A, português e residente em Munique, e B também
português mas residente em Viena celebraram em Roma um contrato de compra
e venda de um prédio urbano situado em Berlim, tendo eleito como lex
contractus a lei portuguesa.
Dois meses volvidos, pretendendo A ocupar o referido prédio, B recusou-se a
entregá-lo. Em seu favor alega ser ainda titular da propriedade do mesmo,
porquanto não se havendo verificado o registo, que é exigido pelo direito alemão,
não se deu ainda a transferência do direito de propriedade (§ 873 BGB).
A, por seu turno, contrapõe, ex vi dos artigos 408.º/1 e 879.º/a) do CC, a
transmissão do direito de propriedade sobre o prédio por mero efeito do contrato.
Tendo em conta os artigos 46.º do CC e 3.º/1 do Regulamento ROMA I, e
sabendo que na Alemanha vigoram regras de conflitos iguais às portuguesas,
que solução daria a esta hipótese prática?

Caso Prático 8:
A e B, casados e de nacionalidade espanhola, adoptaram em Espanha,
nos termos do direito espanhol, C, uma criança de nacionalidade portuguesa que
residia em Espanha. Algum tempo depois D, português, pretende reconhecer a
paternidade de C. A e B vêm impugnar o reconhecimento invocando o artigo

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1987.º do CC português, ao que D contrapõe que o direito espanhol não
conhece nenhum preceito análogo àquela disposição da nossa lei.
Quid iuris, atento o disposto nos artigos 56.º e 60.º do CC e tendo em
conta que o DIP espanhol submete a adopção internacional à lei da residência
do adoptado?

Caso Prático 9:
Em Junho de 2017, A, cidadão inglês domiciliado na Inglaterra, foi
atropelado em Coimbra por um cidadão português residente na Lousã. Em 10 de
Outubro do mesmo ano, A viria a falecer, solteiro e sem descendentes, em
Coimbra, em consequência dos traumatismos sofridos no referido acidente. Por
morte de A, os seus pais, invocando o disposto nos artigos 496.º e 495.º/3 do
CC reclamam uma indemnização por danos não patrimoniais e pela interrupção
dos alimentos que lhe vinham sendo prestados por A e, agora fundamentados
no artigo 2161.º/ 2 do CC, sustentam que são titulares do direito a metade da
herança de A .
Porém, B, herdeira testamentária, pretende ser ela a única titular do
direito às referidas indemnizações, bem como do direito a todos os bens de A,
uma vez que o testamento é válido perante o direito inglês e que este
ordenamento jurídico não reconhece qualquer direito sucessório aos
ascendentes. Na verdade, no testamento de A, B era constituída única e
universal herdeira.
Considerando o artigo 4.º do Regulamento Roma II (Regulamento [CE] n.º
864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho de 11 de Julho de
2007
 relativo à lei aplicável às obrigações extracontratuais) e o artigo 21.º do
Regulamento (UE) 650/2012, bem como a circunstância de em Inglaterra a
sucessão ser regulada pela lei do último domicílio do de cuius e a
responsabilidade aquiliana pela lei indicada pelo Regulamento Roma II, quid
iuris?

Caso Prático 10:


Em 2012, A, italiana, casou-se com B, português, de acordo com o
regime de comunhão de adquiridos, passando ambos a residir em Portugal. Em
Julho de 2018, foi aberta a sucessão de C, português residente em Milão, ex-

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marido de A, que, em testamento, havia nomeado A como sua herdeira.
Todavia, ainda nesse mês, A declarou, em escritura pública, o repúdio da
sucessão.
B vem agora pedir a anulação do repúdio, invocando o n.º 2 do artigo
1683.º e os n. os 1 e 2 do artigo 1687.º do Código Civil português, ao que os
herdeiros legítimos de C contrapuseram que, no ordenamento jurídico italiano –
e, designadamente, nos artigos 59.º e ss. do Código Civil Italiano (que tratam da
capacidade em geral) – não existia qualquer disposição idêntica à do n.º 2 do
artigo 1683.º citado supra, concluindo não ser exigível o consentimento do
cônjuge do sucessível. De facto, as indicadas normas italianas conferem plena
capacidade a A para repudiar sem consentimento de ninguém.
Cfr. os artigos 25.º e 52.º do Código Civil português e o artigo 21.º do
Regulamento (UE) 650/2012 e tenha em consideração que a Lei Italiana de
Direito Internacional Privado considera competente para reger a capacidade a
lex patriae e, para regular as relações entre os cônjuges, a lei da residência
conjugal.
a) Segundo o nosso ordenamento, quid iuris?
b) Se devesse seguir a concepção de Roberto Ago relativa à qualificação, como
resolveria a questão?

Caso Prático 11:


A, cidadão português e residente em França, casou com B, francesa e residente
em França. O casamento foi celebrado validamente em Junho de 2017, no Porto.
Como A tinha apenas 16 anos de idade obteve a necessária autorização dos
pais – nos termos exigidos pelo artigo 1604.º/ a) do CC português –, que
assentiram inteiramente satisfeitos, tendo em conta a enorme fortuna de que B
era possuidora. Com o casamento, o casal fixou residência no Luxemburgo.
Em Setembro de 2018, A desloca-se a Portugal para vender uma casa
situada em Condeixa que herdara da sua avó materna em 2008. No momento da
escritura, o notário não realiza a escritura invocando que o negócio seria inválido
porque o direito competente para reger os efeitos do casamento não prevê a
aquisição da plena capacidade de exercício por força do casamento.
Efectivamente, no direito luxemburguês não se estipula uma qualquer disposição
com um conteúdo idêntico ao dos artigos 132.º e 133.º do nosso CC, ou seja, o

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casamento não desencadeia a emancipação dos menores.
Aprecie os argumentos do notário e diga, justificando legal e
doutrinalmente a sua resposta, quem terá razão. Cfr. os artigos 25.º, 47.º e 52.º
do CC e suponha que as leis envolvidas têm soluções conflituais iguais às
portuguesas.

Caso Prático 12:


A, português, e B, italiana, casaram em 2011 em Milão. À data do
casamento, A tinha 77 anos e B apenas 21. Em 2013 fixaram a sua residência
com carácter estável e permanente em Barcelona. Em 2017, na comemoração
do 6.º aniversário do seu casamento, A ofereceu a B um jipe que tinha adquirido
meses antes em Coimbra. A doação realizou-se em Espanha.
C, filho de A, pretende invalidar a doação e invoca, para tanto, os artigos
1720.º/1/b) e 1762.º do CC português. Deveria o tribunal dar razão a C sabendo
que a doação é válida em face do direito espanhol?
Cfr. os artigos 25.º, 52.º e 53.º do CC português e n.º 2 do artigo 4.º do
Regulamento (CE) n.º 593/2008, (Roma I), tendo em consideração que o artigo
9.º do Código Civil Espanhol tem soluções idênticas às dos artigos 52.º e 53.º do
Código Civil Português

Caso Prático 13:


Em 1998, A e B casaram-se em regime de comunhão geral na Roménia, país da
sua nacionalidade, sem escolherem a lei aplicável ao seu regime de bens. Em
Janeiro de 2017, já depois de terem obtido a nacionalidade portuguesa e
renunciado à nacionalidade romena, divorciaram-se em Portugal, onde residiam.
O património conjugal era de 200 mil euros, metade do qual já pertencia a B
antes do casamento. No respectivo processo de partilha, B, invocando o artigo
1790.º do CC português, defende que A só deve receber 50 mil euros. Por sua
vez, A, alegando que a lei romena divide o património conjugal em partes iguais,
acha-se com direito a receber 100 mil euros.
Cfr. os artigos 52.º, 53.º e 55.º do Código Civil e os arts. 5.º e 8.º do
Regulamento (UE) 1259/2010. Tenha ainda em conta que o artigo 2592.º do
Código Civil Romeno submete os regimes de bens à lei da nacionalidade comum
dos nubentes ao tempo do casamento, na falta de escolha de outra lei pelos

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cônjuges.
a) Quid iuris?
b) Perfilhando a concepção de Roberto Ago sobre a qualificação, como
resolveria esta questão?
c) Indique qual a lei que deveria regular as questões processuais neste
caso e justifique. No âmbito destas questões será que na decisão relativa ao
divórcio, e no que toca especificamente à prova dos factos, o juiz português
deveria fazer funcionar uma presunção de culpa iuris tantum constante do direito
romeno? E se se tratasse de uma presunção prevista pelo direito português?

Caso Prático 14:


A, cidadão português e suíço, e residente na Irlanda, morreu em Lisboa,
solteiro, Julho de 2015. B, irlandesa, alegando a circunstância de viver há mais
de dois anos com A, inicialmente em Portugal e depois na Irlanda, como se
fossem casados, invoca nos tribunais portugueses o disposto no artigo 2020.º do
CC português.
Quid iuris sabendo que o direito irlandês não reconhece quaisquer direitos
à união de facto? Cfr. artigos 52.º, 53.º e 62.º do Código C português e suponha
que as demais leis envolvidas adoptam soluções conflituais iguais às nossas.

Caso prático 15:


Na convenção antenupcial que precedeu o casamento de A, cidadão
espanhol, com B, francesa, ambos residentes ao tempo em Portugal, país onde
estabeleceram o primeiro domicílio conjugal, A instituiu B como sua herdeira
universal. Em Julho de 2015, o casamento, de que não havia descendentes,
vem a dissolver-se por morte de A, que conservava à altura a nacionalidade
espanhola. Os irmãos de A vêm requerer a parte da herança que lhes caberia
por aplicação da lei espanhola, invocando que, à face desta, a instituição
contratual de herdeiro feita na convenção antenupcial carece de qualquer valor.
Pelo contrário, B alega, em sentido oposto, o artigo 1701.º e ss. do CC
português.
Como deveria o juiz português proceder à partilha dos bens de A, sabendo que
o DIP espanhol submete toda a sucessão à lei da nacionalidade do de cujus.
Cfr. artigos 53.º, 62.º e 64º do Código Civil Português.

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Caso Prático 16:
A, cidadão inglês residente em Portugal morreu em Agosto de 2018, sem
familiares, deixando bens imóveis em Inglaterra. A lei inglesa permite a
apropriação pela coroa dos bens sitos no seu território nos termos de um direito
real de ocupação (ocupação ius imperium). Por seu turno, o Estado português
pretende, segundo o disposto no artigo 2152.º CC ser chamado a herdar a
totalidade da herança.
a) Quid iuris? Cfr. artigos 46.º CC e arts. 21.º e 22.º do Regulamento (UE)
650/2012.
b) E se todos os bens estivessem situados em Portugal, mas o de cuius
residisse em Londres, a solução seria idêntica? Suponha que o DIP inglês
adopta opções conflituais iguais às nossas.

Caso Prático 17:


A, brasileiro, residente em Portugal, pretende celebrar casamento,
apresentando-se hoje perante Conservatória do Registo Civil. O Conservador
prepara-se para analisar a sua capacidade nupcial. Sabendo que a lei brasileira
considera competente, neste domínio, a lei do domicílio e pratica a referência
material, que lei deve o Conservador aplicar?

Caso Prático 18:


A, alemã e com residência habitual em Espanha, pediu uma indemnização por
danos sofridos à sua honra e consideração em decorrência da publicação, num
jornal português e em Julho de 2018, de um artigo escrito por B, espanhol e
residente em Espanha. Sabendo que a lei espanhola considera aplicável a lex
loci delicti e pratica a devolução simples, que lei considera aplicável?
1- Sabendo que a lei espanhola considera aplicável a lex loci delicti e pratica a
devolução simples, que lei considera aplicável?
2- A sua resposta seria a mesma caso os danos tivessem sido originados por um
acidente de viação ocorrido em Portugal?

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Caso Prático 19:
A, inglês e residente em Portugal, faleceu em Coimbra em Julho de 2015, aí
deixando bens imóveis. Sabendo que a lei inglesa considera competente a lex
rei sitae para reger o destino dos bens imóveis e pratica a dupla devolução, por
que lei regeria a sucessão quanto a esses bens?

Caso Prático 20:


Discute-se nos tribunais portugueses a sucessão imobiliária de A, cidadão
francês que morreu em Junho de 2015 tendo por último domicílio Portugal e
deixando bens imóveis no Brasil. Sabendo que o direito francês regula, nestes
casos, a sucessão pela lex rei sitae e pratica a devolução simples, e que o
direito brasileiro considera competente a lei do domicílio assumindo uma posição
hostil ao reenvio, que lei aplicaria?

Caso Prático 21:


A, nacional do Chile, mas residente em Itália, quer contrair casamento em
Portugal. À face de que lei se deve aferir a sua capacidade, sabendo que o
direito chileno remete para a lei do local de celebração com referência material e
que o direito italiano faz uma referência material à lei da nacionalidade?

Caso Prático 22:


A, de nacionalidade brasileira e residente em França, faleceu em Portugal
em Julho de 2015 onde se discute a sucessão quanto a alguns bens móveis.
a) Sabendo que o direito brasileiro remete, nesta matéria, para a lei do último
domicílio do de cuius e é hostil ao reenvio, e que a lei francesa considera
igualmente competente a lei do seu último domicílio, quid iuris?
b) A solução seria a mesma se A tivesse morrido em Setembro de 2017?

Caso Prático 23:


A, tailandês residente na Tanzânia, pretende celebrar um contrato de doação de
uma pintura situada no Quénia, formalizando o negócio em Madagáscar.
Supondo que se coloca, num tribunal português, o problema da capacidade
negocial de A, que lei é competente para este problema, sabendo que:

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• A lei tailandesa manda regular a questão pela lei do local de celebração,
aplicando a teoria da referência material;
• A lei de madagascarense remete para a lex rei sitae, por referência
material;
• A lei queniana regula esta matéria por aplicação da lex rei sitae.
• A lei da Tanzânia manda aplicar a lei do local de celebração, por
referência material.

Caso Prático 24:


A, inglês, residente em Paris, morreu em Portugal em Julho de 2015 deixando
bens imóveis em Inglaterra, Itália e Portugal e bens móveis na Itália.
1. Quais as leis competentes tendo em conta que:
- o direito inglês pratica a dupla devolução e submete a sucessão à lei do
último domicílio do de cuius;
- a lei francesa pratica a devolução simples e submete a sucessão dos
móveis à lei do último domicílio do de cuius e a sucessão dos imóveis à
lex rei sitae;
- o direito Italiano é hostil ao reenvio e manda reger a sucessão pela lei
nacional do de cuius.
2. A sua solução seria a mesma caso A tivesse morrido em Setembro de 2015?

Caso Prático 25
A, brasileiro, faleceu em Portugal em 2015, muito embora residisse em França.
Discute-se, nos tribunais portugueses a sucessão dos bens imóveis que deixou
na Dinamarca. Que lei aplicaria sabendo que:
- a lei brasileira manda aplicar a lei do domicílio com referência material;
- a lei francesa manda aplicar à sucessão imobiliária a lex rei sitae e pratica
a devolução simples;
- a lei dinamarquesa remete para a lei do domicílio assumindo uma posição
hostil ao reenvio.

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Caso Prático 26:
A, português residente na Noruega, morreu em 15 de Setembro de 2018,
deixando bens imóveis em Portugal, na Argentina e em Espanha, discutindo-se
em Portugal, num Cartório Notarial, a sucessão imobiliária de A.
a) Quid iuris, sabendo que a lei norueguesa remete a sucessão imobiliária para
o local de situação dos bens e que a lei brasileira considera competente a lei
do último domicílio do de cujus, sendo ambas hostis ao reenvio?
b) A sua resposta seria a mesma caso A tivesse falecido em 2014?

Caso Prático 27:


A, cidadã francesa e residente em Itália, faleceu intestada em Portugal,
sítio onde passava férias, deixando um património composto exclusivamente por
bens imóveis situados no Paraguai.
1. Supondo que A faleceu a 1 de Agosto de 2015, qual a lei competente para
reger a sua sucessão, sabendo que:
- o direito francês aplica à sucessão dos bens imóveis a lex rei sitae e
pratica a devolução simples;
- o direito italiano manda aplicar à sucessão dos bens imóveis a lex patriae
e é hostil ao reenvio;
- A lei paraguaia, que em matéria de reenvio pratica a referência material,
aplica à sucessão a lex domicilii, salvo quanto aos bens imóveis situados
no Paraguai, caso em que considera competente a lex rei sitae.
2. Suponha agora que A faleceu a 1 de Agosto de 2017. Qual a lei competente
para a sucessão?

Caso Prático 28:


A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1995 e aí continuaram a residir
até Janeiro de 2015, altura em que vieram de férias a Portugal e onde A
faleceria de acidente. Discute-se em Portugal a sucessão de A, uma vez que
deixou em testamento a C, seu irmão, um prédio sito no Brasil, ao que B opõe
que segundo uma norma brasileira, (que se considera aplicável a título de lex
domicilii), tal imóvel, porquanto casa de morada de família, ficaria para o cônjuge
sobrevivo. C entende que a lei que rege a sucessão é a lei portuguesa enquanto
lei da nacionalidade e, segundo a mesma, o imóvel pertencer-lhe-ia. Quid iuris?

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Caso Prático 29:
A e B, ingleses e residentes em Londres, querem casar no Canadá país
onde, para o efeito, celebraram uma convenção antenupcial que é válida face ao
direito inglês, mas nula face ao direito canadiano, por incapacidade para a sua
celebração.
Quid iuris sabendo que o Direito Internacional Privado inglês e canadiano
regem a validade das convenções antenupciais pela lei do lugar da celebração e
que o direito inglês pratica a dupla devolução?

Caso Prático 30:


A, brasileiro e residente em Portugal perfilhou B em Portugal, sendo este
acto nulo face ao direito português mas válido face ao direito brasileiro.
a) Quid iuris sabendo que o direito brasileiro manda aplicar às questões
de filiação a lei do domicílio com referência material?
b) E se a perfilhação fosse anulável à face do direito brasileiro?

Caso Prático 31:


A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1990 sem processo preliminar
de publicações e aí continuaram a residir até Janeiro de 2017, altura em que
vieram de férias a Portugal e onde A faleceria de acidente. Discute-se nos
tribunais portugueses a validade de uma doação feita no Brasil por A a B em
2012. Os herdeiros testamentários de A entendem que a doação é nula face aos
artigos 53.º, 1720.º e 1762.º do Código Civil. B invoca que possui os bens como
sendo seus desde 2012 e que face à lei brasileira, onde as relações entre os
cônjuges são reguladas pela lei do domicílio comum, o negócio jurídico é válido.
Quid iuris?

Caso Prático 32:


A e B, espanhóis, residentes na Argentina, celebraram no Brasil uma
convenção antenupcial, onde estipularam o regime de comunhão de adquiridos,
dispondo que A participaria na comunhão por dois terços e B por um terço. Anos
mais tarde, quando já residiam em Portugal, decidiram divorciar-se e suscita-se
a validade dessa estipulação. Isto porque quer a ordem jurídica espanhola, quer
a ordem jurídica brasileira contêm um preceito idêntico ao do artigo 1730.º do
nosso Código Civil. Diferentemente, a lei argentina não coloca entraves à

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validade daquela cláusula. Sabendo que as leis argentina e brasileira submetem
a validade das convenções antenupciais ao direito do domicílio comum dos
cônjuges no momento do casamento, e que o direito espanhol remete para a lei
nacional comum dos cônjuges, deveria ou não o juiz português considerar válida
esta cláusula?

Caso Prático 33:


Imagine que se discute actualmente nos tribunais portugueses a validade de um
casamento celebrado em Portugal, em 1987, entre A e B, cidadãos peruanos,
mas residentes já há trinta e cinco anos em Paris. Na verdade, tal casamento,
embora válido de acordo com o direito material português, violou as disposições
materiais peruanas e francesas vigentes em matéria de impedimentos
matrimoniais, pelo que seria inválido.
Qual deveria ser a atitude do tribunal português, sabendo que o direito peruano
manda aplicar a lex loci celebrationis e aceita o reenvio apenas na modalidade
de retorno e que o direito francês, à semelhança do nosso ordenamento,
considera como competente a lex patriae para reger a capacidade matrimonial,
embora, em matéria de reenvio, seja fiel à teoria da devolução simples.

Caso Prático 34:


A e B, cidadãos de Nova Iorque, residentes em Itália, contraíram casamento
no Canadá, tendo a respectiva capacidade nupcial sido apreciada à face do
direito canadiano, que entendeu não existir, no caso, um qualquer impedimento
à celebração do matrimónio. Sucede, porém, que A e B se encontravam ligados
entre si por laços de parentesco que, quer nos termos do direito material italiano,
quer nos termos do direito nova-iorquino, teriam provocado a nulidade do
casamento. Supondo que o casamento, entretanto, produziu os seus efeitos nos
Estados Unidos da América e que os tribunais portugueses eram hoje chamados
a pronunciar-se sobre a respectiva validade, diga como deveria ser resolvida a
presente questão sabendo que:
- O direito italiano remete para a lei nacional dos nubentes;
- O direito de Nova Iorque e o direito do Canadá referem-se, para o efeito,
à lei do local da celebração do casamento;
- Os três ordenamentos são hostis ao reenvio.

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Caso Prático 35:
A, brasileiro, domiciliado em Itália, perfilhou uma criança neste país sendo
este acto válido à face do direito interno italiano, mas nulo perante a ordem
jurídica material brasileira. Supondo que se discutia, anos mais tarde, a validade
deste acto, que posição deveria tomar um tribunal português a que a questão
fosse presente?
Atente que o direito brasileiro manda regular a perfilhação pela lei do
domicílio do perfilhante e que o direito italiano a submete à lei nacional daquele,
e ambos são hostis ao reenvio.

Caso Prático 36:


A, cidadão português, domiciliado no Peru, perfilhou uma criança na
Argentina, em 1999. Tal acto é válido segundo o direito material argentino, mas
inválido, por falta de capacidade de A, face às disposições do direito material
dos ordenamentos jurídicos português e peruano. Suponha, ainda, que o direito
peruano considera competente a lex loci actus e o direito argentino a lex domicilii
do progenitor, e que todas as leis em questão são hostis ao reenvio.
a) Contestada judicialmente em Portugal a validade de tal acto, deveria a
perfilhação poder produzir os seus efeitos jurídicos entre nós?
b) Se o artigo 56.º do Código Civil apenas dispusesse que “a lei portuguesa
é competente para apreciar a constituição da filiação em relação aos
progenitores portugueses”, e entendida esta norma no contexto da
doutrina de Rolando Quadri, deveria a perfilhação ser reconhecida entre
nós?
c) Qual a solução a que chegaríamos se optássemos pela doutrina da
autolimitação da regra de conflitos de Francescakis?

Caso Prático 37:


A, de nacionalidade norte-americana, mas que nasceu fora dos Estados
Unidos da América, residindo na Europa, e que tem actualmente domicílio na
Dinamarca, contraiu casamento no Estado da Carolina do Sul, quando pela
primeira vez visitou o país dos seus pais e seu. O casamento reúne as
condições para ser considerado válido à face da lei da Carolina do Sul, mas
enferma de nulidade, por falta de capacidade de A, nos termos da lei

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dinamarquesa. Sabendo que nos EUA (salvo no Estado de Louisiana), não
existe a categoria da lei pessoal, sendo o casamento regulado pela lex loci
celebrationis e supondo que se vinha a colocar posteriormente a questão da
validade do casamento diga, justificando a sua resposta, em que sentido o juiz
português se deveria pronunciar.

Caso Prático 38:


A, cidadão de nacionalidade saudita e residente em Lisboa, é casado com
B, também de nacionalidade saudita. A pretende agora casar com C não
dissolvendo o casamento anterior, o que corresponde igualmente à vontade de
B e de C.
Admitindo que a lei saudita utiliza soluções conflituais iguais às nossas e
que o casamento bígamo é válido face à ordem jurídica da Arábia Saudita, deve
o Conservador do Registo Civil celebrar o casamento entre A e C?

Caso prático 39:


A, português, residente no Brasil, adoptou, nesse país, por forma
contratual, B, uma criança brasileira em 1970. Falecido A em 2017, discute-se
hoje em Portugal a posição sucessória do filho adoptivo. O cônjuge sobrevivo de
A vem invocar que tal perfilhação não deveria produzir efeitos entre nós pois,
para além de não ter sido constituída de acordo com a lei competente (a
portuguesa), violava, ao tempo da sua realização, as concepções jurídico
familiares fundamentais do nosso direito. C alega que, segundo o direito
brasileiro a adopção é plenamente válida.
Quid iuris sabendo que o direito brasileiro considera competente a lex
domicilii para reger as matérias incluídas no âmbito do estatuto pessoal.

Caso Prático 40:


Em 2009, A, português e residente no Peru, casou-se com B, paraguaia e
residente em Portugal. Após o casamento, realizado no Peru, fixaram residência
em Viseu. Em 2018, levantou-se nos tribunais portugueses a questão da
validade do casamento. Na verdade, os ordenamentos português e peruano
previam um impedimento que afectava B, o mesmo não sucedendo à luz do
direito paraguaio.

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a) Quid iuris? Suponha que o direito internacional privado do Paraguai
considera competente para regular as condições de fundo do
matrimónio a lex loci celebrationis, praticando a devolução simples; o
ordenamento peruano designa para reger esta matéria a lex domicilii
de cada nubente, sendo hostil ao reenvio.
b) Considere, ainda, que em 2010, A adoptou a nacionalidade paraguaia,
obtendo também a perda da nacionalidade portuguesa. De seguida,
vendeu a casa de morada de família. B veio pedir a anulação da
venda, invocando para tanto os artigos 1682-A, n.º 2, e 1687.º, n.º 1,
do CC português. A contrapôs não existir, no ordenamento do
Paraguai, disposições idênticas. Admitindo que os demais
ordenamentos envolvidos alcançam soluções conflituais idênticas às
nossas, quid iuris?

CASO PRÁTICO 41:


A, português, residente em Portugal, deslocou-se a Cabo Verde em
Dezembro de 2012 para participar na instalação de uma unidade
hoteleira. Durante a sua estadia, contratou B, portuguesa e residente
em Portugal, para tomar conta das crianças. Devido a um motivo
urgente regressou subitamente a Portugal em 2014, não tendo pago os
últimos dois meses de salário a B. Hoje, B intenta em Portugal uma
acção de condenação contra A, exigindo o pagamento da dívida e
respectivos juros. A invoca a prescrição do crédito salarial face ao
direito português – artigo 337.º do Código do Trabalho (igual ao então
vigente art. 38.º da LCT). B opõe a imprescritibilidade dos créditos
salariais no direito cabo-verdiano.
Quid iuris?

CASO PRÁTICO 42:


Em 2 de Maio de 2013 entre A, residente em Coimbra e uma
sociedade portuguesa que se dedica à construção civil, celebrou-se um
contrato de trabalho. O local de trabalho situava-se na Arábia Saudita.
A retribuição era paga em euros, sendo fixada em função das tabelas
salariais constantes da convenção colectiva em vigor para o sector em

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Portugal. As partes acordaram ainda que o contrato não seria regido
pela lei portuguesa. Em 20 de Julho do corrente ano, a sociedade
comunicou por escrito ao trabalhador a vontade de rescindir o contrato
a partir do dia 30 de Setembro de 2018. A invoca a violação do direito
português, mas sociedade considera ter cumprido o direito da Arábia
Saudita que considera competente.
a) Qual o direito competente para reger esta situação?
b) Supondo que o direito da Arábia Saudita é competente, que
posição deveria o juiz português tomar se a sociedade não
conseguisse provar o conteúdo desse direito?

CASO PRÁTICO 43:


Durante o mês de Agosto do ano passado, A, cidadão português
domiciliado em Viseu, deslocou-se ao Egipto integrado numa viagem
de férias. Enquanto se passeava nos mercados do Cairo, juntamente
com a sua mulher, apontou para um dos muitos papiros que se
encontravam à venda numa das bancas e que representava um dos
monumentos que tinham visto em Luxor. Perplexos, A e a mulher são
de imediato interpelados pelo vendedor que, invocando uma prática
costumeira dos mercados egípcios segundo a qual o simples facto de
se apontar para um dos objectos expostos vale como declaração
negocial de cunho irrevogável, pretende que os turistas comprem o
objecto que tinha sido apontado e cujo preço se encontrava marcado
de forma bem visível. Sendo a situação discutida nos tribunais
portugueses, aprecie as questões seguintes:
a) Refira, fundamentando, qual a lei competente, face ao DIP
vigente, para dizer se houve efectivamente acordo negocial?
b) Caso o direito egípcio seja o competente para regulamentar a
questão, será que o juiz português deverá atribuir relevância
vinculativa às referidas práticas comerciais de cariz costumeiro?
c) Imagine agora que a viagem tinha sido organizada por uma
agência de viagens com sede e administração principal em
Salamanca e que o contrato abrangia o transporte (a partir de
Viseu), alojamento, alimentação e actividades turísticas várias.

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Levantando-se agora o problema do cumprimento do contrato
por parte da agência de viagens, qual seria a lei aplicável à
responsabilidade contratual?

CASO PRÁTICO 44:


António, português residente em Londres, e Bernardo, português
residente na Suíça, celebraram Em Setembro de 2018, em Londres,
um contrato de compra e venda sobre um apartamento situado em
Zurique. Escolheram, como lei aplicável ao contrato, a lei portuguesa.
Celebraram o negócio através de documento particular, tal como
permitido pela lei inglesa, perante duas testemunhas.
Hoje, num tribunal português, os credores de António discutem a
validade formal deste negócio, solicitando a declaração da sua
nulidade. Para o efeito, invocam que a lei suíça prescreve, para os
negócios imobiliários, a formalidade de escritura pública (art. 657.º do
Código Civil Suíço), considerando ser esta a lei reguladora da forma do
negócio.
a) Quid iuris?
b) Suponha agora que se questiona em juízo a validade da escolha
de lei, designadamente por surgir um vício da vontade. À luz de
que lei deve o tribunal apreciar a regularidade da professio iuris?

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