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Índice

Introdução..................................................................................................................................1
Aspectos Gerais..........................................................................................................................2
Origem da Concorrência........................................................................................................2
Concorrencia e Economia de Mercado......................................................................................3
Conceito da Concorrência......................................................................................................3
Economia de Mercado............................................................................................................3
1. Concorrencia Perfeita.....................................................................................................4
2. Oligopolio......................................................................................................................4
3. Concorrencia Monopolista.............................................................................................4
A defesa da Concorrência..........................................................................................................5
Significado da defesa de concorrência...................................................................................5
Concorrência Desleal.............................................................................................................6
Concorrencia Ilicita................................................................................................................7
Conceito de direito da concorrência.......................................................................................7
Concorrência em Moçambique..................................................................................................7
Aspectos Gerais......................................................................................................................7
Evolução do Direito da Concorrência em Moçambique........................................................8
A partir do período de 1984-1990....................................................................................10
No ano 1990.....................................................................................................................11
De 2004............................................................................................................................11
Problemas.................................................................................................................................13
Aspectos Gerais....................................................................................................................13
Controlo de Concentrações......................................................................................................14
Autoridade reguladora da concorrência...................................................................................15
Conclusao.................................................................................................................................16
Referencias Bibliograficas.......................................................................................................17
Introdução
O Direito da Concorrência constitui o tema para o trabalho de Economia na Universidade
Zambeze da Beira(UZ). Tema este, que enquadra-se na Disciplina do Direito Económico de
grande relevância na actualidade, a medida que com a liberalização do comércio, quer no
âmbito nacional, regional assim como mundial regista-se um crescimento maior da procura e
oferta nos mercados, afigurando-se importante que os Estados adoptem normas que defendam
e protejam a concorrência com vista a torna-la leal, justa e eficaz. Moçambique comporta
uma lacuna legislativa e institucional que protege e defende a concorrência. Portanto, terá
como objectivo geral apresentamos a questão do direito da concorrência em Moçambique a
partir de doutrinas próprias, passando pela resenha histórica das constituições económicas
moçambicanas. Especificamente consistirá em identificar os problemas ou práticas restritivas
da concorrência resultantes do vazio legal e institucional que protege e defenda a
concorrência em Moçambique, entre outros. No que tange à metodologia usada, o trabalho
tem por base constituído por livros; Manuais; Leis, revistas, documentos oficiais publicados
ou não, recorrendo também ao material disponível na internet, entre outras fontes que se
afigurarem relevantes para a consulta e materialização do trabalho.

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Aspectos Gerais
Origem da Concorrência
A concorrência entre os agentes económicos num certo mercado, ocorre desde as primeiras
trocas comerciais que se tem na memória. E essa concorrência é tão natural que sem ela, o
comércio perderia a sua essência. Contudo, o espírito da concorrência entre os agentes
económicos, nunca foi assimilado pacificamente, de maneiras que coube ao Estado adoptar
medidas tendentes a controlar as apetências dos vários agentes económicos.

Sullivan e Grimes referem-se a medidas reguladoras aplicadas na cidade de Atenas, durante a


guerra com Esparta, para evitar que um cartel de importadores de cereais limitasse as vendas
e forçasse a uma subida dos preços. Estes autores fazem, assim, remontar a 388-387 a. C. a
origem das regras públicas de protecção da concorrência nos mercados.

Citam também uma curiosa decisão, tomada em Inglaterra em 1602 pelo " Court of King‟s
Bench", que recusou a protecção do monopólio da distribuição de cartas de jogos, com o
argumento de que ele era opressivo do ponto de vista económico, por prejudicar a redução
dos preços, o aumento da qualidade e a liberdade do comércio.

Estas duas histórias e mais outras semelhantes servem aos autores para demonstrar as origens
remotas do sentimento de hostilidade em relação à utilização opressiva do poder económico.
De certa maneira, foi também em nome deste sentimento que o direito da concorrência, tal
como hoje se conhece, nasceu bastante mais tarde nos Estados Unidos da América.

Na verdade, o direito da concorrência (antitrust law) não foi, como bem salienta Giuliano
Amato, uma criação dos economistas ou uma descoberta dos especialistas em direito
comercial. Foi uma resposta assumidamente política para um problema crucial da economia
de mercado: o de equilíbrio entre a liberdade de iniciativa privada e respectivos corolários,
como a liberdade de organização e a autonomia contratual, e a necessidade de controlo do
poder económico privado, de modo a que este não constitua uma ameaça àquela liberdade.

A maneira como este dilema tem sido resolvido, a favor de uma maior ou menor intensidade
do controlo sobre o poder económico privado, constitui uma opção política, mesmo que
fundamentada em sofisticadas teorias económicas ou complexas construções jurídicas.

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Concorrencia e Economia de Mercado
Conceito da Concorrência
Entende-se por concorrência, a competição entre vários agentes económicos com vista a
atingirem a supremacia no mercado em relação aos demais e caracteriza-se pela pluralidade
de actuações convergentes, na medida em que existe uma pluralidade indiscriminada de
fornecedores de bens e serviços que se dirigem a uma pluralidade indiscriminada de
consumidores. (Coimbra editora,2002).

Na economia usa-se o termo num sentido mais restrito, caracterizando as relações


(económicas) que se estabelecem entre os que num mercado oferecem e procuram
mercadorias ou serviços.

A concorrência emana directamente da liberdade da iniciativa económica, ou seja, da


possibilidade de quem quer que seja, em princípio poder ter acesso às diversas actividades
económicas, que estão na base da própria criação da riqueza e realização pessoal no ponto de
vista económico. Dai que a liberdade da iniciativa económica de acesso ao mercado, de
criação de empresas de determinado ramo, tenha como corolário inafastável a liberdade
concorrencial. A concorrência deriva assim da própria pluralidade de necessidades, por um
lado, e de bens e serviços por outro.

Neste contexto, a ideia de concorrência surge intimamente ligada ao mercado e sobretudo à


ideia de liberdade económica. Assim, a concorrência vai significar rivalidade aberta no
mercado entre compradores e vendedores de um bem ou serviço.

Economia de Mercado
Uma economia de mercado é aquela em que a afectação de recusros ee determinada pelas
decisões privadas de produção e consumo, levadas a cabo por multiplos agente (familia e
empresa), actuando em função de uma racionalidade própria segundo objectivs económicos
sob objectivos preciosos (por exemplo, a maximização de utilidade no consumo do bem, do
lado do agente consumidor e maximização do lucro, do lado do agente produtor) e como
resposta ao sinais dos mercados (que funcionam como estímulo do comportamento dos
agentes intervinientes), entre outros o preco dos bens.

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Faz parte da economia de mercado a seguinte estrutura de mercado:

1. Concorrência Perfeita – este modelo existe se, e somente se, apresentar as seguintes
características:

 Mesmo número de compradores e vendedores;


 Bem ou serviço homogéneo, nenhuma empresa pode diferenciar o seu produto;
 Os agentes actuam independetemente, a modalidade é livre;
 Não existem barreiras de entradas ou saídas para qualquer agente;
 Proibido praticar preços acima do mercado e abaixo do mercado;
 Total transparência, as informações são repassadas a todos sem excessao.

2. Oligopolio – essa estrutura possui muitas formas, as mudanças variam de sector para
sector.

 Possuem um número pequeno ou grande de concorrentes, mas existem duas ou três


empresas lideres que detém uma maior fatia de mercado;
 Possui diferenciação entre seus produtos ou serviços;
 Concorrência muito forte;
 Difícil entrada de novos concorrentes;
 Devido ao baixo nivel de concorrência o controlo dos preços é geralmente facíl.
(cuidado com os cartéis).

3. Concorrência Monopolístaca
 Elevado número de concorrentes;
 Cada produto possui uma característica própria, em consequência cria-se um mercado
exclussivo para eles (produtos com forte marketing);
 Existe uma substituição não perfeita, mas possível;
 Preço definido pelo comprador, de acordo com as suas necessidades;
 Facíl ingresso de concorrentes;
 Informações geralmente amplas.

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A defesa da Concorrência
Significado da defesa de concorrência
A defesa da concorrência, para além de se justificar, por razões económicas, maior crescimento e
mais racional distribuição, como já se viu, justifica-se de igual modo por motivos políticos e
sociológicos. Em boa verdade a concorrência permitindo ao consumidor que exerça a sua escolha
sem ser para tal pressionado pelo poder económico dos monopólios ou por comportamentos
abusivos das empresas, garante a racionalidade e o esclarecimento da decisão económica. Atribui
ao mesmo passo ao consumidor um poder de controlo sobre a vida económica, censurando
através da sua opção racional e livre as empresas que se afastarem das regras transparentes do
mercado. Do ponto de vista sociológico, a defesa da concorrência justifica-se pois pela garantia
da presença de condições para que a decisão económica seja livre e racional e não vinculada ao
poder de grupos e arbitrária. Poder-se-á assim dizer que a concorrência traduz na vida económica
o princípio da livre escolha racional, ou seja, da liberdade entendida no sentido liberal como
garantia do desenvolvimento livre da personalidade individual. E, por fim, do ponto de vista
político, a defesa da concorrência justifica-se pela obstrução ao desenvolvimento do poder e
influência dos grupos económicos mais poderosos na defesa dos seus interesses particulares e
sectoriais, garantindo do mesmo passo, um mínimo de circulação dos grupos mais influentes.
Defender a concorrência será sempre, nesta perspectiva, impedir que o poder do Estado seja
“tomado de assalto” por grupos de interesses homogéneos e colocado ao seu serviço exclusivo ou
preferencial. Defender a concorrência, contribui pois também para a transparência da própria vida
política. Em gesto de conclusão, referir que na vida económica, diferente dos Estados Unidos da
América, a defesa da concorrência não constitui um fim em si mesmo: a concorrência é um meio
de organização da actividade económica para atingir outros fins da política económica.

A defesa da concorrência é levada a cabo porque se acredita ser ela o melhor garante da
prossecução, como que implícita, de certos objectivos e politica económica.

O objectivo das leis de defesa da concorrência é o de assegurar uma estrutura e


comportamento concorrenciais dos vários mercados no pressuposto de que ee o mercado livre
que, selecionando os mais capazes, logra orientar a produção para os sectores susceptiveis de
garantir uma melhor satisfação das necessidades dos consumidores e, ao mesmo tempo, mais
eficiente afectacao dos recursos económicas disponíveis, que ee como quem diz, os mais
baixos custos e preços.

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A concorrência é assim encarada como o melhor processo de fazer circular e orientar
livremente a mais completa informcao económica quer ao nível do consumidor quer ao nível
dos produtos, assim esclarecendo as respectivas preferências. Ee por isso que a sua defesa ee
um objectivo de politica económica.

Mas não é só por razões económicas que se defende a concorrência. Ee também por razoes de
ordem politica, pretendendo-se impedir e combater concentrações excessivas de poder
eeconomico privado ou publico, na certeza de que o resultado respectivo ou seja, o dirigismo
económico privado ee susceptivel de por em casa a transparência do funcionamento de
mercado e o controlo pelo publico consumidor por ele potenciado do andamento dos preços e
quantidades dos bens e serviços bem como a autenticidade das necessidades, numa palavra, a
soberania do consumidor.

O papel económico da concorrência é disciplinar os diferentes intervenientes na vida


economia para que prestem os seus bens e serviços de forma competente e acessível.
(Coimbra 2ª ed. 1988).

Concorrência Desleal
Podemos afirmar, numa primeira definição, que o acto de concorrência desleal é aquele acto
susceptível de, no desenvolvimento de uma actividade económica, prejudicar um outro
agente económico que, por sua vez, exerce também uma actividade económica determinada,
prejuízo este que se consubstancia num desvio de clientela própria em benefício de um
concorrente. Pressupondo este instituto uma situação de liberdade de concorrência, estão fora
do seu âmbito todas aquelas normas que excluem a própria existência de concorrência.

Assenta, assim, em duas ideias fundamentais: a criação e expansão de uma clientela própria e
a idoneidade para reduzir ou mesmo suprimir a clientela alheia, real ou possível. Quando tal
se verifica em termos contrários às normas e usos honestos de qualquer ramo de actividade,
dá-se um acto de concorrência desleal.

O acto de concorrência desleal é, antes de mais, um acto de concorrência, ou seja, um acto


destinado à obtenção ou desenvolvimento de uma clientela própria em prejuízo de uma
clientela alheia, efectiva ou potencial.( Olavo Carlos, ob. cit. p. 145. 62)

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Concorrencia Ilicita
Trata-se de regras de direito penal destinadas a impedir ou reprimir formas de concorrência
particularmente intoleráveis, um exemplo histórico é o crime de monopólio, integrados nos
crimes contra a ordem e tranquilidade pública, de práticas como o açambarcamento, alteração
fraudelanta dos preços, os concluios e violências em arrematações. Os casos de práticas
individuais restritivas.

Conceito de direito da concorrência


Antes de falar do Direito da concorrência, entendemos conveniente recordar o próprio
conceito de Direito. O termo Direito é polissémico, ou seja, pode ser entendido em dois
sentidos, quais sejam: o sentido Objectivo e o Subjectivo.

O Direito em sentido Objectivo, pode ser entendido como um sistema de normas, “como uma
das ordens normativas que regulam a vida em sociedade”. Neste sentido, o Direito Objectivo
seria o conjunto de regras gerais que regem as relações numa dada sociedade. Regras essas
dotadas de características como sejam: generalidade, abstracção, necessidade, hipoteticidade
e coercibilidade.

O Direito da Concorrência em sentido Objectivo, constitui um conjunto de normas e


princípios da concorrência por que se devem pautar os agentes económicos entre si. Ou num
melhor entendimento, “ o Direito da Concorrência pode ser caracterizado como uma parte do
sistema legal, tendente à fixação de normas aplicáveis ao exercicico da actividade económica
através de regras relativas ao estabelecimento das empresas, à comercialização dos seus
produtos, às relações concorrenciais e a protecção do consumidor”.

Concorrência em Moçambique
Aspectos Gerais
Já o Direito em sentido Subjectivo não pode ser tomado como um conjunto de normas, mas
antes é visto na perspectiva do Homem em relação a essas mesmas normas, tendo em conta a
situação que para ele é criada por elas. Neste entendimento, “ Direito Subjectivo corresponde
ao poder ou faculdade-provindos do Direito Objectivo de que dispõe uma pessoa, e que se
destina a realização de um interesse juridicamente relevante. Portanto, o Direito da

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Concorrência em sentido Subjectivo, refere-se a liberdade de actuação dos agentes
económicos, ou seja, a liberdade de ingressar e actuar num mercado determinado. Trata-se de
uma prerrogativa ou faculdade de cada individuo. (SIMOES, Patrício, J. 1982, p. 46.).

A regulamentação da concorrência tendo surgido num contexto económico bastante


específico, sec. XIX com as Leis Anti-trust dos EUA, é nos dias de hoje uma temática central
para os Estados na prossecução das suas políticas económicas. A sua não regulamentação nos
dias que correm é tida como um mal que pode enfermar o mercado e até a economia numa
perspectiva global. Isto significa que a protecção e defesa da concorrência é uma opção
fundamental do Estado e, como tal, deve estar plasmada na Constituição entendida como a
“mater legis”, “Lex fundamentalis” da organização do Estado. Pois da sua desprotecção
podem resultar graves violações dos direitos fundamentais dos cidadãos, colocando assim em
causa o Estado de Direito democrático que assenta no reconhecimento e valorização daqueles
e demais princípios ou valores fundamentais. Em sede da protecção constitucional da
concorrência, Moçambique trilhou um importante percurso histórico que entendemos
relevante fazer a sua resenha histórica e se divide em três fases, quais sejam:
 De 1975-1990, fase correspondente à Primeira Constituição da República de
Moçambique;
 De 1990-2004, fase correspondente à Segunda Constituição da República de
Moçambique e a
 De 2004, até os dias de hoje.
Tomando posicionamento sobre a discussão da corrente que tem defendido a existência de
uma Constituição Económica intercalar (correspondente ao período de 1984-1990),
entendemos conveniente incluir no nosso trabalho, no âmbito da resenha histórica a que nos
propomos fazer de seguida. Trata-se de um período histórico marcado pela implementação do
Programa de Reabilitação Económica e ou Social, doravante PRE/S.

Evolução do Direito da Concorrência em Moçambique


A economia moçambicana conheceu a sua evolução com a independência do país a 25 de
Junho de 1975, iniciando assim um ciclo organizado e coerente de um sistema económico na
sua grande parte, comum a todos os outros sistemas económicos, dos Estados modernos.

Assumiu-se Moçambique desde cedo, como um país do sistema económico socialista ou


centralmente planificado, tendo expressamente consagrado na Constituição de 1975 como um

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dos seus objectivos fundamentais a edificação de uma economia independente (art. 4º da
CRPM de 1975).

Cabia ao Estado promover a planificação da Economia (art. 9º da CRPM de 1975), decidir


sobre as três questões fundamentais da economia, quais sejam: o que produzir, como produzir
e para quem produzir? O sector económico do Estado era dominante e determinante, pois que
era o elemento dirigente e impulsionador da economia nacional (art. 10º da CRPM de 1975).

Por esta razão, este sector gozava de protecção especial, sendo que todos os sectores
considerados como não estratégicos, poderiam estar sob o controlo de propriedade privada,
que na altura era tolerada, mas mediante condições que de certa forma desencorajavam-na.

A CRPM de 1975, a de Tófo consagrava a subordinação do poder económico ao poder


político (o art. 3º reza: “A República Popular de Moçambique é orientada pela política
definida pela FRELIMO que é força dirigente do Estado e da sociedade”), apropriação dos
principais meios de produção, a planificação central da economia e a intervenção democrática
dos trabalhadores. O Estado visava a construção de um mercado ideal em que os bens
produzidos pelo sector estatal seriam homogéneo haveria uma perfeita informação sobre os
produtos e o preço dos mesmos seria estabelecido em perfeita consonância entre as unidades
produtivas e as necessidades do mercado. O Estado moçambicano visava, por um lado,
promover o robustecimento económico do sector estatal, apostando sobretudo em empresas
estatais para a satisfação dos interesses da colectividade e, por outro lado, restringir o sector
privado fazendo com que muitas áreas de desenvolvimento económico fossem da sua
exclusiva exploração, a título de exemplo podemos apontar as instituições de ensino, a banca,
os hospitais, etc. Estes verdadeiros monopólios instalados nesta época constitucional,
constituíram um grande obstáculo à concorrência que traz consigo a ideia de luta contra o
monopólio. Portanto, nestes termos podemos afirmar seguramente que na CRPM de 1975 não
se encontravam consagradas normas de protecção e defesa da concorrência, sendo que não
estavam reunidos os pressupostos para se falar da concorrência:

 Independência dos agentes económicos;


 Rivalidades entre os agentes económicos; e
 Ausência de limitações legislativas nocivas à actuação dos particulares em certos
sectores da economia.

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A partir do período de 1984-1990
Em meados da década 80, Moçambique lançou um programa de ajuste estrutural com o apoio
do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, denominado Programa de
Reabilitação Económica, doravante PRE. O PRE teria como objectivo debelar a grave crise
económica e social que o país atravessava, resultado do fracasso das estratégias de
desenvolvimento socialistas adoptadas após a independência e da guerra civil que também
assolava o país até então. Face à necessidade de dar respostas urgentes às necessidades da
população, a partir de 1983 o Estado começou a reconhecer o papel fundamental da iniciativa
privada. Em Setembro de 1987, através da Resolução nº 15/87, a Assembleia Popular reunida
na sua II sessão determinou: Aprovar o Relatório do Governo sobre o Programa de
Reabilitação Económica e o Programa de Emergência para acorrer as deficiências
económicas que caracterizavam o Estado moçambicano. Fazendo jus a essa situação e
consciente das falhas e o perigo que o centralismo económico representava, o Estado
moçambicano propôs uma reforma em todos os níveis. Reconhece-se que o objectivo
fundamental naquele momento era da eliminação drástica da intervenção pontual do Estado
em todos os níveis, principalmente nas empresas estatais ou privadas. Assim, as decisões
relativas à gestão e direcção da economia deveriam ser tomadas pelos agentes económicos,
empresas, cooperativas e famílias visto que era impossível gerir a economia pela via
administrativa.

Deste modo foi lançada a semente para a descentralização económica e, timidamente, para a
existência da concorrência. Portanto, entendemos nós, que o PRE constitui o marco inicial da
abertura de Moçambique para uma economia de mercado e consequentemente para o
despontar para a concorrência.

Este período que vai desde os contactos primários com as instituições de Bretton Woods até a
aprovação da Constituição de 1990 é denominado por alguma doutrina como sendo A
Constituição Económica Intercalar de Moçambique, já que a mesma constitui uma mudança
de rumo no sentido de abandono da filosofia da Constituição de Tófo e o prelúdio de um
novo modelo económico, formalmente consagrado, anos depois na CRM de 1990.

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No ano 1990
O processo de transição iniciado em meados da década 80 teve a sua concretização nos anos
90 quando o povo moçambicano adoptou e proclamou uma nova constituição, designada
Constituição da República de Moçambique de 1990, volvidos 15 anos após a Independência e
Aprovação da primeira Constituição de Moçambique. Trata-se de Constituição simpática à
propriedade privada e mista e encorajadora das iniciativas económicas de mercado segundo
se infere do art. 41º da respectiva Constituição de 1990.

Assim, podemos firmemente dizer que o nosso legislador Constituinte de 1990, despertou
para uma necessidade de estabelecimento de um conjunto de normas constitucionais de
organização económica visando certos objectivos, considerados só alcançáveis no quadro
institucional de um mercado aberto na maior medida possível a todos os agentes económicos
e consumidores, tendo se apercebido que a concorrência não se desenvolve espontaneamente
entre as empresas participantes no mercado. Reconhece-se a iniciativa privada (o nº 1 do art.
41º da CRM 1990) e o papel do Estado como impulsionador da participação activa do
empresário nacional no desenvolvimento económico do país (art. 43º da CRM 1990).

Com o reconhecimento da propriedade privada e o incentivo à iniciativa privada empresarial, o


país assistiu a abertura à iniciativa privada de sectores que até então eram exclusivamente
exploradas pelo Estado. Assim estavam solidificadas as bases para o desenvolvimento da
concorrência em Moçambique. Sintomaticamente, esta Constituição revelou algum desinteresse
pelos direitos dos consumidores. Não se pode incentivar a concorrência se esta não se reflectir no
bem-estar dos consumidores. Isto para evitar situações em que o consumidor em vez de ser mais
beneficiado sai prejudicado pela actuação de agentes económicos preocupados em lucros no lugar
de prestar serviços com boa qualidade.

De 2004
A CRM de 2004 reforça abertura do mercado para a solidificação de uma economia livre,
uma economia do mercado, em que os agentes económicos são incentivados e respeitados nas
suas iniciativas.

O art. 9754 da CRM de 2004 assumiu-se como pedra angular sobre a consagração da
Concorrência. Esta, à semelhança da anterior Constituição de Tófo reconheceu o princípio da

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coexistência e da complementaridade entre os vários sectores de actividade, o público,
privado e o cooperativo (art. 99º da CRM 2004).

Ela não ficou alheia à questão do Direito dos Consumidores (art. 92º da CRM de 2004). Este
facto vai revestir importância na medida em que ficam salvaguardados constitucionalmente
tais direitos impondo-se ao legislador ordinário a tarefa de concretiza-los através da lei da
defesa do consumidor, a qual já existe no ordenamento jurídico moçambicano. Para além do
investimento estrangeiro ser reconhecido, ele passou a abarcar todas as áreas, excepto aquela
que o Estado reservou para si (art. 108º da CRM de 2004). É certo que por motivos de
elevado interesse público ou por questões ligadas à segurança e defesa do país, pode o Estado
determinar áreas que exclusivamente explorará, mas tal limitação será nociva à concorrência
se se estender desnecessariamente para outras áreas em que nenhum motivo o justifica, a
título de exemplo o que se passava na época da vigência da Constituição do Tófo em que os
sectores de telefonia, educação, banca, etc., estavam sobre a gestão estatal. Ao Governo
coube promover e regulamentar a actividade económica e dos sectores sociais, estimular e
apoiar o exercício da iniciativa privada e proteger os interesses do consumidor e do público
em geral ( nº 1 e d) do nº2 do art. 204º da CRM de 2004). Quanto a nós, a actuação do
Governo na área de concorrência terá como base este dispositivo. Trata-se, portanto, de um
texto legal que melhor se aproxima às exigências que se impõem ao Estado na construção do
mercado concorrencial. Depois de feita a resenha histórica das Constituições moçambicanas,
constatámos que na CRPM de 1975 não havia liberdade da iniciativa económica, e portanto
não se podia falar da concorrência. É na década 80, com a implementação do PRE que houve
o despontar da concorrência em Moçambique, tendo se solidificado na CRM de 1990 e
melhor ainda na CRM de 2004. Portanto, corolário da própria consagração constitucional,
podemos afirmar que o exercício da iniciativa económica privada e, por conseguinte, da
concorrência é no nosso ordenamento livre desde que respeite os limites e o valor que as
normas constitucionais têm. Contudo sobre estes limites colocam-se duvidas porque a própria
constituição nada diz, havendo a necessidade para o efeito, duma lei ordinária e sua
respectiva instituição para o efeito.

Entretanto, no que concerne à lei ordinária e Entidade reguladora da Concorrência,


Moçambique apresenta uma lacuna. Em consequência dessa lacuna resultam outros
problemas objectos de estudo no capítulo que se segue.

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Problemas
Aspectos Gerais
De entre as normas que visam facilitar ou salvaguardar a existência da competição, pode-se
distinguir consoante tais normas têm em vista a concorrência em sentido subjectivo, isto é, a
liberdade de cada um poder criar e expandir os seus negócios, ou a concorrência em sentido
objectivo, isto é, a existência de um mercado efectivamente concorrencial. Se preferirmos
podemos afirmar que a concorrência tem dois tipos de limites: os limites extrínsecos e os
limites intrínsecos, constituindo os primeiros aquelas disposições que afastam a liberdade de
concorrência e reconduzindo-se os segundos às regras que disciplinam a própria liberdade de
concorrência.

A repressão da concorrência desleal integra-se na liberdade de concorrência no sentido


subjectivo. De facto, a liberdade que enforma as actuações dos vários agentes económicos
não significa que se processem de forma desordenada, atropelando-se umas às outras.

As actuações lesivas da concorrência em sentido objectivo reconduzem-se aquilo a que se


costuma chamar práticas restritivas da concorrência, podendo se definir como sendo aquelas
que, sem coarctarem a liberdade teórica de acesso a determinado mercado, no entanto, e
concretamente, restringem o comportamento dos diversos agentes económicos em relação a
esse mesmo mercado.

A doutrina jurídica tradicional, marcadamente individualista, começou por atender,


unicamente, aos problemas suscitados pela concorrência em sentido subjectivo, mas tem
progressivamente vindo a ganhar relevo a necessidade de protecção e defesa da concorrência
em sentido objectivo, podendo mesmo afirmar-se que a análise das práticas restritivas
conhece, actualmente, uma importância equivalente ou maior do que o estudo relativo aos
actos lesivos da concorrência em sentido subjectivo. Sobre este ponto, Moçambique ao que
nos parece, revelou-se também primeiramente preocupado com os problemas suscitados pela
concorrência no sentido subjectivo, na medida em que já dispõe duma legislação que tem
normas que sancionam as infracções de concorrência desleal, mas que para nós é também
extremamente urgente legislar sobre protecção e defesa da concorrência em sentido objectivo.

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Especificamente, encontra-se previsto o regime jurídico da concorrência desleal, no art. 174º
do Código da Propriedade Industrial.

Uma outra distinção que se deve fazer é aquela que se faz entre a concorrência desleal da
concorrência proibida ou ilícita.

Quando se fala especificamente de concorrência desleal tem se em vista a prevenção de casos


em que o comportamento dos sujeitos económicos ofenda as regras usuais de moralidade e
lealdade de concorrência. Os actos que constituem concorrência desleal circunscrevem-se no
âmbito das actuações genericamente lícitas, no âmbito daquela zona de liberdade de acção
dos diversos agentes económicos que é a liberdade de concorrência. Entretanto, a
concorrência desleal será ilícita na medida em que constitui um abuso da liberdade de
concorrência. A repressão da concorrência desleal condena o meio (a deslealdade) não o fim
(o desvio da clientela), pelo que, a ilicitude radica-se na deslealdade e não em qualquer outro
direito específico. Em termos gerais, quando se fala de concorrência ilícita, fala-se de regras
do direito penal destinados a impedir ou restringir formas de concorrência particularmente
intoleráveis. Trata-se de actuações directamente proibidas.

Analisando as duas definições, podemos concluir que são figuras jurídicas ligadas na medida
em que ambas comportam a ilicitude e, portanto, trata-se de actuações proibidas.

Controlo de Concentrações
A Lei da Concorrência introduz o controlo prévio de concentrações de empresas em
Moçambique. Todas as operações de concentração (ou seja, as transacções que alterem a
estrutura de controlo sobre uma empresa) que preencham os critérios de quota de mercado ou
de volume de negócios/facturação anual, a determinar pelo Conselho de Ministros, passarão a
estar sujeitas a comunicação prévia obrigatória à ARC, no prazo de 7 dias úteis, após a
conclusão do acordo ou do projecto de aquisição, e não poderão ser implementadas antes de

ser aprovadas pela nova autoridade. A validade dos negócios jurídicos realizados no âmbito
da transacção depende da autorização expressa ou tácita da ARC. As concentrações sujeitas a
comunicação prévia (bem como outras sobre as quais a ARC decida solicitar informações)
serão analisadas pela ARC com vista a determinar o seu impacto sobre a concorrência nos
mercados relevantes, devendo ser proibidas se forem susceptíveis de criar ou reforçar uma

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posição dominante da qual possam resultar entraves significativos à concorrência efectiva
nesses mercados.

Autoridade reguladora da concorrência


A ARC será uma autoridade independente, dotada de autonomia administrativa e financeira,
com amplos poderes de supervisão, regulamentação, investigação e sancionatórios. Em
particular, no exercício dos seus poderes de investigação a ARC poderá fazer inquirições e
solicitar documentos e outras informações, e proceder a buscas e apreensões de extractos da
escrita e demais documentação das empresas envolvidas e selar instalações. Embora a sua
actuação seja orientada pelo interesse público de promoção e defesa da concorrência, a ARC
poderá atribuir graus de prioridade diferentes no tratamento das questões (ao abrigo do
designado “princípio da oportunidade”), devendo publicitar noúltimo trimestre de cada ano as
prioridades da política de concorrência para o ano seguinte. A nova autoridade estará sujeita
ao escrutínio da Assembleia da República.

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Conclusão
Terminada a elaboração do trabalho concluímos que, a não protecção da concorrência é hoje
tida como um mal que pode enfermar o mercado e até a economia numa perspectiva global.
Quer isto dizer que a defesa da concorrência é uma opção fundamental do Estado e, como tal,
deve estar plasmada a nível da constituição já que da sua desprotecção podem resultar graves
violações dos direitos fundamentais dos cidadãos. É com a constituição económica que o
Estado vai definir e assegurar uma equilibrada concorrência entre os agentes económicos,
cabendo ulteriormente ao legislador ordinário concretizar e estabelecer a garantia desse
direito.

Feita a resenha histórica, notabilizou-se que nem sempre o Estado moçambicano protegeu a
concorrência nas suas constituições. A CRPM de 1975, caracterizou-se pela consagração do
modelo económico socialista, onde o Estado detinha monopólio sobre quase todos sectores da
economia e a propriedade privada era limitadamente reconhecida. Estes monopólios são
contrários à ideia da liberdade da concorrência.

É com o PRE que foram lançadas as sementes que possibilitaram o despontar da concorrência
empresarial em Moçambique. Configurou-se como primeira evidência, ainda que precária, o
desenvolvimento do mercado comercial moçambicano.

As constituições de 1990 e 2004 vêm reforçar a abertura do mercado, solidificando uma


economia livre e de mercado em que os agentes económicos são incentivados e respeitados
nas suas iniciativas.

Portanto, podemos afirmar que a concorrência em Moçambique foi primordialmente


consagrada ano nível constitucional, cumprindo ao nosso legislador ordinário regular sobre
todas as práticas consideradas anti-concorrenciais que são bastantes nefasta para uma
concorrência sã, leal e justa.

É imprescindível defender a concorrência, não somente por razões económicas, mas também
por razões políticas e sociológicas, ou seja, a concorrência é indispensável numa sociedade
que se pretende democrática, onde haja uma liberdade de escolha dos consumidores e que a
mesma não seja viciada pela pressão de empresas e, onde o Estado exerce o seu poder de
fiscalizador imparcial da economia.

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Referências Bibliograficas

ALFREDO, Benjamim, Noções Gerais do Direito Económico, Maputo, 2010.

BANGY, Azeen, R, Defesa da Concorrência em Portugal, 1998.

DE MONCADA, Luís S. Cabral, “Direito Económico”, Coimbra editora, 2000.

MARTINS, T., “Capitalismo e Concorrência”, Coimbra, 1973.

MARQUES, Maria Manuel Leitão, “Um Curso de Direito da Concorrência”, Coimbra


editora, 2002.

SANTOS, António Carlos dos, et al, “Direito Económico”, 5ª edição, Coimbra, 2004;

WATY, Teodoro Andrade, Direito Económico, Maputo, 2010.

SANTOS, António Carlos, Maria Eduarda Gonçalves e Maia Manuel Leitão Marques,

Direito Económico, 5.ª Edição Revista e Actualizada, Coimbra, Almedina, 2010.

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