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História Documental Do Protestantismo No Brasil
História Documental Do Protestantismo No Brasil
- ' *
HISTORIA
D em en tai do
Protestantismo no
D ificilm e n te p o d e ría m o s so b re e stim a r a
importância da obra que a ASTE, agora em sua
terceira edição, entrega ao público. Palavra alguma
seria capaz de agregar-lhe novos valores, diferentes
daqueles que a crítica, especializada ou não, tem
identificado na História Documental do
Protestantismo no Brasil, desde a primeira edição,
no ano de 1984. Trata-se, para dizer o mínimo, de
um texto que já nasceu clássico em virtude de seu
caráter inovador, rigoroso e, ademais, didático. Com
efeito, ele rompe com o tom apologético e
exclusivista predominante nas inúmeras histórias
denominacionais. Em vez de j u s t i f i c a r
institucionalmente esta ou aquela agremiação, que
reivindica unicamente para si a herança protestante,
o autor busca compreender, em seu conjunto, a
presença do protestantismo na sociedade brasileira
sem, contudo, omitir as diversas expressões deste
segmento religioso.
jo sé C arlos de So u za
Professor de história eclesiástica n a Faculdade de Teologia da Igreja Metodista
A publicação deste livro foi possível
graças às contribuições da
Evangelisches M issionsw erk in D eutsch lan d
(H am bu rgo, A lem anha) e das
Igrejas Protestantes U nidas n a H olan d a -
M inistérios G lobais (U trecht),
às quais a A ssociação de Sem inários
T eológicos Evangélicos agradece.
Vogais:
Prof. Dr. Leonardo Neitzel (São Paulo)
Prof. Dr. Nelson Kilpp (São Leopoldo)
Prof. Werner Wiese (São Bento do Sul)
Secretário Geral
Prof. Fernando Bortolleto Filho
História Documental do
Protestantismo no Brasil
Duncan Alexander Reily
ASTE
São Paulo
2003
Primeira edição A STE © 1984. Segunda edição A STE © 1983. Terceira edição A ST E © 2003.
Todos os direitos reservados.
Direção Editoral
Fernando Bortolleto Filho
Revisão Final
José Carlos de Souza
Editoração Eletrônica
Ana Laura Gomes
emblema idéias visuais
tel/fax [11] 3023 4187
emblemaideias@aol.com
Bibliografia.
IS B N 8 5 -8 7 5 6 5 -0 9 -5
0 4 -2525 C D D -2 8 0 .4 0 9 8 1
2003
Associação de Seminários Teológicos Evangélicos
Rua Rego Freitas, 530 F. 13
0-1220-010 São Paulo, SP
Brasil
Tel (11) 3257 5462 Fax (11) 3256 9896
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www.aste.org.br
SUMÁRIO
13
Apresentação à Terceira Edição
15
a própria investigação histórica pressupõe. Entretanto, não se pode deixar de reconhe
cer a seriedade acadêmica e o paciente trabalho de coletar informações tão significati
vas para o exercício da história. Se fazer história não se restringe à análise de documen
tos, tampouco pode desprezar a interpretação cuidadosa das fontes. Nesse ponto,
manifesta-se o didatismo desta H istória Documental, na medida em que as pessoas que
a lêem são desafiadas a interpretar a documentação, ao invés de simplesmente aderir a
uma interpretação já consagrada.
Passados vinte anos da primeira edição, esta obra pode ser considerada clássica
também por resistir à prova do tempo. Desconsiderando as mudanças gráficas e a
alteração na numeração dos documentos, apenas duas novidades aparecem na presen
te publicação: (1) a inserção da seção intitulada “O cristianismo norte-americano,
predominantemente protestante, era profundamente anticatólico”, a qual retoma uma
característica legada do protestantismo missionário, porém aguçada em terras brasilei
ras, que nem sempre tem sido avaliada com a intensidade esperada; e (2) a inclusão do
documento de alforria da escrava Flora Maria Blumer de Toledo, com o qual se sugere
a necessidade de se rever as relações entre o protestantismo e a escravidão no Brasil
Império.
Cabe, ainda, uma advertência. O documento mais recente incluído na H istória
Documental do Protestantismo no Brasil é datado em 1981. Por essa razão, cogitou-se
em atualizar o livro pela introdução de uma nova seção abrangendo textos e docu
mentação elaborados nas duas últimas décadas. De fato, não apenas a sociedade brasi
leira passou por transformações inimagináveis no início dos anos 1980, como a pró
pria dinâmica histórica levou as Igrejas a revisarem as suas posições em relação a vários
assuntos como, entre outros, a dimensão pública da missão cristã, o pluralismo religi
oso presente no mundo atual e a participação crescente das mulheres nos ministérios
eclesiásticos. O desmantelamento do socialismo real, a ascensão do neoliberalismo, a
chamada globalização, o processo de abertura política, a elaboração de uma nova carta
constitucional e as eleições diretas para a presidência da República; bem como o
surgim ento de novas formas de pentecostalism o, a expansão dos movimentos
carismáticos e a predominância do néoconservadorismo nas igrejas, enfim, todos esses
fatores desafiaram o protestantismo a questionar seriamente não apenas práticas con
sagradas, mas também paradigmas de interpretação admitidos pela grande maioria de
seus adeptos. As igrejas não são realidades estáticas, antes, buscam adaptar-se às exi
gências dos tempos. Nem sempre o que gozava de aceitação no passado é aceito no
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presente. Para citar apenas algumas mudanças, leve-se em consideração, a título de
exemplo, que, nesse último período, a Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para
C risto” desligou-se form alm ente do Conselho M ündial de Igrejas, e a Igreja
Presbiteriana Independente aprovou a ordenação de presbíteras em sua Assembléia
Geral, realizada no ano de 1999.
As considerações acima formuladas indicam tanto a urgência de dar continuidade
à tarefa cumprida com singular competência pelo Dr. Reily, como a impossibilidade
de levá-la a cabo nos limites desta obra. N a verdade, há material para locupletar um
segundo volume! Aliás, o projeto já está previsto no programa editorial da A STE. A
sua efetivação, com certeza, demandará muito tempo e o esforço conjugado de vários
colaboradores, porém, este é o único caminho para dar justo prosseguimento à inici
ativa pioneira do Dr. Reily, cuja contribuição reconhecemos com gratidão.
17
Uma Palavra do
Autor ao Leitor
19
mais, nasce agora não uma história do cristianismo brasileiro desde 1500, e sim, ape
nas uma história do protestantismo dos séculos X IX e XX.
Depois de grande investimento de tempo e energia, tanto meu próprio como de
dedicados colaboradores, cheguei quase a desistir do projeto por duas vezes. A primei
ra resultou do meu próprio envolvimento na seção protestante da C EH ILA . O
engajamento no projeto de escrever uma história da Igreja protestante na perspectiva
do pobre me levou a questionar até a validade de uma história documental a qual
certamente não parte do pobre. Contudo, o uso que fiz dos documentos já coletados,
e isso em diversos níveis de ensino, inclusive o de pós-graduação, me convenceu do
valor do material contido no manuscrito ainda inacabado. Outra ocasião ocorreu em
1978, quando todo o material já reunido e parcialmente processado, ficou perdido
pelo espaço de quase três meses (enviei-o pelo frete aéreo, aos Estados Unidos, e se
extraviou). Parecia o fim, tanto da matéria-prima da obra como do meu ânimo para
recomeçar o projeto. A empresa aérea descobriu o caixote contendo os documentos e
mo remeteu. Desde então, resolvi terminar o livro tão rapidamente minhas tarefas o
permitissem. Eis o resultado, portanto, de uma longa e penosa caminhada.
A natureza da obra
O título já identifica a natureza geral da presente obra —é uma H IST Ó R IA D O
C U M E N TA L, ou seja, uma história cujo conteúdo essencial é composto de docu
mentos. 1) N ão é, portanto, um simples arquivo de documentos, por mais valioso que
fosse; pretende ser, realmente uma história do protestantismo no Brasil. 2) N ão pre
tende, contudo, ser uma história narrativa comum. E uma história contada essencial
mente pelos documentos aqui exibidos. 3) D e modo geral, a escolha dos documentos
é paradigmática, não exaustiva. Isto é, não pretendemos publicar documentos parale
los de todas as igrejas protestantes sobre um determinado assunto, a não ser nos casos
em que tal repetição nos pareceu muito conveniente, como, por exemplo, a implanta
ção dessas denominações no país. Comparando a presente História Documental com
outras do gênero, será notado que ela se assemelha em escopo e método mais à American
Christianity de Smith, Handy e Loetscher, do que aos Documentos da Igreja Cristã de
Henry Bettenson.
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Observações e sugestões para o uso do livro
Sugiro, antes de mais nada, que se leia o sumário integralmente, para se ter uma
idéia global do conteúdo do livro. O sumário cataloga todos os documentos da histó
ria, ajudando o leitor a descobrir os eventos, assuntos e movimentos do seu interesse
particular.
A história é subdividida em três grandes períodos, os quais obedecem, a grosso
modo, os períodos da história política do Brasil: o período imperial, o período repu
blicano, e o do regime militar de 1964. Cada período tem uma estrutura peculiar. O
primeiro período, o de 1808 a 1889, é o da implantação do protestantismo no Brasil.
Nessa parte, eu tentei apresentar documentação suficientemente abundante para reve
lar a contribuição inglesa à implantação do protestantismo no Brasil católico (uma
espécie de cunha, que abriu a brecha para a penetração cada vez maior de outros
grupos) e a natureza da sua obra religiosa; o protestantismo dos imigrantes alemães e
a contribuição especial das sociedades paraeclesiásticas. Depois, tratei das principais
denominações que se fizeram presentes até a proclamação da República. Portanto, os
documentos do período refletem a estrutura que o protestantismo assumira, particu
larmente, na América do Norte. O s documentos pretendem, no seu conjunto, tratar do
protestantismo brasileiro como um todo, destacando ao mesmo tempo algumas pecu
liaridades de cada denominação e procurando manter um certo equilíbrio no
peso dos documentos, de Igreja para Igreja.
N o segundo período, de 1889 a 1964, o de crescimento e amadurecimento, a
orientação é basicamente tópica. Por essa razão, e pela limitação do tamanho do livro,
eu não incluí todas as denominações que se implantaram no país. Fui forçado a optar
por tratar as igrejas por “famílias” ao invés de tratar cada uma individualmente. (Por
isso, a história não contém grupos de documentos sobre a Igreja Presbiteriana Inde
pendente, tratando-se apenas do significativo evento do cisma presbiteriano de 1903;
pelo mesmo motivo, os luteranos de M issouri não são tratados separadamente; e, por
fim, missões como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a Igreja do Nazareno, a Igreja
Menonita e outras não são representadas). Por motivos explicados infra (ver na parte
III “O fenômeno pentecostal”), as igrejas pentecostais são tratadas como um grupo,
no último período.
Tentei detectar, na seleção dos documentos do último período, de 1964 em diante
—a Igreja no período do regime militar —a atitude típica de diversas denominações
(nem todas elas) com referência ao regime militar e, daí, perceber como encaram
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atualmente sua missão no Brasil. Nessa mesma seção, reuni os documentos sobre os
pentecostais e sobre os ministérios femininos nas igrejas brasileiras.
Quero acrescentar aqui mais uma nota geral sobre o conteúdo e, portanto, a sele
ção dos documentos. Quem conhece a história do protestantismo no Brasil vai encon
trar aqui documentos e referências já do seu conhecimento, pois não foi minha inten
ção publicar só matéria inédita. Há, aqui, muito material que é tradicional. Por outro
lado, há elementos que geralmente são pouco mencionados nas histórias tradicionais
como, por exemplo, o ecumenismo, as sociedades paraeclesiásticas e os ministérios
femininos. Embora o livro contenha muitos documentos sobre a Igreja institucional
(elemento tradicional), mesmo nesses tentei detectar o processo de nacionalização de
cada grupo, nem sempre presente em outras histórias. Finalmente, esta história não
pretende ser uma história das idéias protestantes ou da sua teologia (o que ainda
inexiste), mas muitos dos documentos foram escolhidos pelos elementos dessa teolo
gia que espelham, de maneira explícita ou implícita.
Devo advertir o leitor de que não vai encontrar aqui todos os documentos relevan
tes à sua denominação particular. Suponho que as principais razões disso já estejam
claras pelo exposto acima. Devo acrescentar, porém, outras explicações sobre esse fe
nômeno. Além do fato de que pretendo apresentar não uma história das denomina
ções, mas, sim, uma história ào protestantismo, há mais duas considerações relevantes:
1) não existe ainda um consenso sobre quais são realmente os documentos imprescin
díveis de cada denominação; 2) não sendo perito na história de cada denominação,
precisei valer-me da orientação de historiadores de reconhecido saber, de cada deno
minação. Sem essa ajuda, esta história teria sido impossível. Mesmo assim, a ignorân
cia do autor quanto a certos documentos, ou a inacessibilidade dos mesmos, pode ter
levado à omissão de alguns documentos deveras essenciais.
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tais como: ele informa quem era o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros
(José Bonifácio de Andrade e Silva), quem era o deputado cônsul-geral da Grã-Bretanha
(Alexander Cunningham) etc. Para o documento 6, como para os demais, fiz uma
pequena introdução, uma espécie de “moldura”. Nas notas de rodapé, forneci ainda
outros dados suplementares, tudo visando capacitar o leitor a utilizar o documento
com o máximo de proveito. Portanto, espero que o leitor aproveite não apenas o
documento em si, como também sua respectiva introdução e notas.
O leitor que desejar ir além de meros fatos, também lucrará por ter o assunto à sua
disposição. Ele irá além da indagação, “O que”, para a pergunta, “Por quê?”. Por que
os ingleses e os portugueses firmaram um Tratado de Comércio em 1810 —e por que
em tal tratado devia haver um artigo sobre os privilégios religiosos dos ingleses no
Brasil? Em outras palavras, espero que muitos leitores leiam os documentos não ape
nas como fatos e curiosidades, mas como degraus para uma compreensão progressiva
mente profunda de nossa história religiosa.
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período. N os poucos casos em que não encontrei um documento contemporâneo
oficial, empreguei outros documentos ilustrativos do mesmo evento (34, 35). Para
economia de espaço, freqüentemente usamos excertos e não documentos inteiros. Em
casos excepcionais, adotamos o expediente de “documentos compostos”, ou seja, do
cumentos essencialmente originais, mas apresentados em forma dada por mim (24,
124, 125).
Ortografia e abreviaturas
Depois de muita reflexão e indecisão, resolvi adotar para o livro todo uma ortogra
fia única, a vigente em 1982. 1) De 1810 a 1982, o português sofreu diversas reformas
ortográficas; preservar as muitas ortografias me pareceu mero pedantismo, sem qual
quer utilidade prática. 2) Muitos dos documentos aparecem traduzidos pela primeira
vez agora. No caso de um documento em alemão, de 1827 (doc. 11), a ortografia seria
de 1827 ou do ano de sua tradução? Com o escolher a versão e, portanto, a ortografia
de um documento que existe em diversas traduções? 3) Finalmente, há o problema
quase, insuperável da revisão. A obra de revisão é quase sempre imperfeita no caso de
livros comuns, em uma única ortografia; a dificuldade multiplicar-se-ia muitas vezes
se tentássemos manter todas as variações ortográficas que o idioma português sofreu
nestes quase dois séculos.
Para economia de espaço, substituí longos títulos por siglas, indicando tal uso em
nota de rodapé (103, 184). Erros no original são geralmente assinalados [sic]; em
alguns poucos casos, acrescentei uma letra ou palavra que faltou no original, indican
do tal acréscimo por incluí-lo entre colchetes ou por nota de rodapé.
Colaboradores
Com o mencionei acima, eu pretendi conseguir colaboradores de todas as denomi
nações, os quais forneceriam ou indicariam os documentos das suas respectivas con
fissões. N a realidade, consegui alguns colaboradores que fizeram quase isso. Segue
abaixo a lista dessa classe de colaboradores, por denominação ou organização:
Igreja Batista: José Reis Pereira
Igreja Congregacional: Rev. Ismael da Silva Junior
Igreja Episcopal: Rev. Nataniel Duval da Silva
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Igreja luterana: (IECLB): Profs. Hans-Jürgen Prien e Joaquim Fischer
Igreja Presbiteriana: Klaus van der Grijp
Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira: Kathleen Cann, arquivista
Sem a preciosíssima colaboração destes, a realização da obra teria sido impossível.
Portanto, aqui vai nosso profundo reconhecimento e gratidão. É claro que eu assumo
a responsabilidade pela seleção final e pela grande maioria dos comentários; portanto,
os erros, equívocos e falhas ficam inteiramente por minha conta.
Bibliotecários e arquivistas no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa prestaram
um serviço inestimável na localização e fornecimento de documentos. Em geral, as
bibliotecas teológicas das principais denominações evangélicas de São Paulo me fo
ram franqueadas —Batista, Episcopal, Presbiteriana Independente, Presbiteriana (de
Campinas), tendo colaborado seus respectivos bibliotecários e funcionários. Aprecia
ção especial, entretanto, à d. Cleide Wolf, da biblioteca do Instituto M etodista de
Ensino Superior, onde trabalhei mais constantemente, e a José Virgílio Ramos André,
do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. Outros desse gênero que colabo
raram incluem: James T. Magruder (Division of International Mision, PC U S), Louis
Charles Willard e Glenn R. Witting (Speer Library, Princeton), William O. Harris
(Christian Theological Seminary, Indianapolis, Indiana), V. Nelle Bellamy e Elionor
S. Hearn (Archives and Historical Collections, Episcopal Church), J. R. Goodwin
(Virginia Theological Ubrary), A. J. van der Bent (Biblioteca do Conselho Mundial
de Igrejas, Genebra), o bibliotecário da Southern Baptist Convention. Ou pesquisei
pessoalmente ou obtive documentos das bibliotecas deTulane University, New Orleans,
Lousiana; Indiana University, Bloomington, Indiana; M illsaps College, Jackson,
Mississipi; Biblioteca da Methodist Historical Society, Lake Junaluska, N C e da Board
o f Global Ministries, NY.
A lista de pessoas de todas as denominações que colaboraram com o fornecimento
de documentos, sugestões, encorajamento e outras espécies de auxílio é tão grande
que apenas posso mencionar os nomes dos principais com gratidão, e em ordem alfa
bética dos sobrenomes. Eu me permito, porém, mencionar os nomes de três das mi
nhas filhas que se tornaram minhas colaboradoras nessa História Documental: Célia
Reily Rocha, Lúcia Reily e Janet Reily.
Depois, Rev. Evaldo Alves, Rev. Rodolfo Anders, Rev. Israel Belo de Azevedo, D.
Henriqueta Rosa Fernandes Braga, Rev. Wilfrid Buchweitz, Dr. Onésimo de Oliveira
Cardoso, Rev. Paulo Cintra Damiao, Dr. Martin Dreher, Rev. Karl Gehring, Dr. Carl
25
Hahn, Revda. Dorothy Marguerite Hawley, Major William John Jones, Dr. Werner
Kaschel, D . Eula Kennedy Long, Srta. Hora Diniz Lopes, Dr. David Malta, Bispo
Paulo Ayres Mattos, Rev. Antonio Gouvêa Mendonça, Dr. David Mein, Pastora Rita
Panke, Pastora O dá de Castro Pessanha, Rev. Isnard Rocha, Rev. Ronaldo Sathler
Rosa, Rev. Sidney A. Ruiz, Dr. José Gonçalves Salvador, Rev. William Richard Schisler
Junior, Bispo Sady Machado da Silva, Rev. Richard Sturz e Dr. David Gueiros Viera.
Agradecimentos especiais ao Dr. Jaci Correia Maraschin, secretário-geral da Asso
ciação dos Sem inários Teológicos Evangélicos (A ST E ), pela sua paciência e
encorajamento, ao Dr. Jorge César M ota e ao Rev. Odair Pedroso Mateus pelo dedica
do serviço de revisão do português do presente livro.
Tendo se esgotado a primeira edição (a de 1984) da H istória Documental do Pro
testantismo no Brasil, o secretário-geral da A STE, Dr. Jaci Correia Maraschin me soli
citou a revisá-la para uma segunda impressão. Assim esperamos que o (a) leitor(a)
encontre a segunda impressão, ligeiramente modificada, com bem menos erros que a
primeira.
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PARTE I
Implantação do protestantismo
no Brasil: 1808-1889
Grã-Bretanha
Caracterizar um século é tarefa árdua e arriscada. O século XVIII, a partir da
física de Isaac Newton (1642-1727), centrada na lei da gravitação universal, que tor
nou compreensíveis os movimentos de todas as partes do mundo físico, e da psicolo
gia de John Locke (1632-1704), a qual parecia desvendar os mistérios da mente hu
mana, é conhecido como o Século das Luzes. Acompanhou o Iluminismo o conceito
de religião natural, elaborado por Edward Herbert (1583-1648)', e o Deísmo, sendo
o livro de Matthew Tindal (1657-1733), Cristianismo Tão Velho Quanto a Criação
(1730), conhecido como a bíblia dos deístas. Os resultados mais espetaculares do
Iluminismo foram as Revoluções Americana (1775-1783) e Francesa (1789-1799),
aquela dando início à nova experiência política (a República) e religiosa (a desvinculação
de Igreja e Estado). Os reflexos desses acontecimentos alcançaram todos os recantos
do mundo ocidental, afetando profundamente o seu modo de pensar2.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
ções, como a Igreja Livre e Unida —a Igreja Livre da Escócia, e outras, todas calvinistas
na doutrina e presbiterianas no governo. A Igreja Livre e Unida foi mais liberal na
interpretação bíblica e mais flexível quanto à doutrina calvinista, enquanto a tendên
cia geral das outras igrejas era conservadora e inflexivelmente calvinista.12
Alemanha
No início do século XIX, existia um povo alemão, mas não um país corresponden
te. Só com a unificação dos povos alemães em torno da Prússia, em 1871, é que
passaria a existir a entidade política chamada Alemanha; mas, para evitar o pedantis
mo, e também por conveniência, o termo Alemanha será empregado normalmente
nesta introdução. As razões da desunião alemã remontam às lutas entre o imperador
do Sacro Império Romano Germânico e o papa, sendo vital à política deste fomentar
divisões entre os estados alemães para reduzir o poderio do imperador. A Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648) dizimou o povo e devastou a Alemanha. Desde o século
XVIII, porém, desenvolveu-se notável atividade intelectual e político-militar, centra
lizada na Prússia. Esta última viria a ter resultados ainda mais palpáveis no século
XIX.
É preciso que se tenha presente o fato de que o Sacro Império Romano Germânico,
desde a sua fundação em 962 por Otto I, pretendendo reunir toda a cristandade sob
um único soberano, era de fato muito mais germânico do que universal. Após a Guer
ra dos Trinta Anos, o Império existiu apenas de nome, e até mesmo este foi extinto por
Napoleão em 1806. Já em 1806, a Prússia era uma potência importante; os tratados
de 1815, após as guerras napoleônicas, lhe atribuíram ainda Vestfália e a Renânia; a
diplomacia e a agressão armada combinadas deram-lhe Schleswig-Holstein em 1866,
presa da Guerra Austro-Prussiana. Antes dessa vitória prussiana, parecera provável
que a Áustria seria o núcleo ao redor do qual se formaria a Alemanha unificada. A
unificação ocorreu após a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), cujos termos de paz
incluíram a cessão do importante território Alsácia-Lorena. N a mesma ocasião, a co
roação do imperador Guilherme I, em Versalhes, a 18 de janeiro de 1871, assinalou a
restauração e unificação do Império alemão. Guilherme subiu ao trono da Prússia em
1861 e reinou como imperador até 1888. Durante todo o seu governo, seu principal
ministro foi Otto von Bismarck (1815-1898), cuja diplomacia e conselho ao sobera
no muito contribuíram para a grandeza política dos alemães.
Para se compreender adequadamente a situação religiosa na Alemanha, é necessá
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
rio ter presente o fato de que a sua estrutura política, quando surgiu a Reforma luterana,
era feudal, com grande número de estados alemães, cada qual com o seu governo
semi-autônomo (apesar de vassalos do imperador), e crescente número de cidades
independentes (burgos). Tal situação favoreceu o estabelecimento da Reforma, pois
não havia nenhuma autoridade absoluta, como na Espanha ou na França, para esma
gar o novo movimento; pelo contrário, os príncipes freqüentemente protegiam os
reformadores.13 Pela Paz Religiosa de Augsburgo (1555), baseada no princípio de
cujus regio, ejus religio, surgiram as igrejas “territoriais”, cada principado assumindo a
religião (católica ou luterana) do seu príncipe. Um terceiro elemento foi introduzido
no sudoeste da Alemanha, a partir do Palatinado: a Igreja Reformada (de orientação
teológica calvinista). O novo Eleitor do Palatinado, Frederico III, o Pio (Eleitor de
1559 a 1576) converteu-se à tradição reformada (1560) e ordenou a preparação do
Catecismo de Heidelberg (1562), resumo tradicional da fé dos reformados na Alema
nha. Embora outros estados como Bremen, Anhalt e, no século seguinte, Hesse-Cassel
adotassem a Igreja Reformada, o reconhecimento pleno de sua existência legal só ocor
reria por ocasião do Tratado de Vestfália (1648).
Um tema que parece ter dominado toda a vida religiosa da Alemanha protestante
era a tensão existente entre a tendência unionista e a confessional. O mais significativo
exemplo foi a união da Igreja Prussiana de 1817- A base espiritual para a união foi o
pietismo, movimento que se apresentou no século XVII em contraposição à escolástica
luterana, fruto da obra de Philip Jacob Spener (l635-1705)e August Hermann Francke
(1663-1727), tendo este último transformado Halle em sementeira e centro de irradi
ação do movimento. Considerando o coração e não a cabeça como o centro da reli
gião, os pietistas deploravam a polêmica doutrinária. O resultante desinteresse pelas
diferenças confessionais propiciou as condições para a união de 1817. O rei Frederico
Guilherme III (1797-1840) aproveitou o 300° aniversário da Reforma para esta união
de luteranos e reformados, a qual, enquanto apressava a consolidação dos territórios
recém-adquiridos na paz de 1815, apresentava um protestantismo unido contra a
Áustria (solidamente católica), principal rival da Prússia na “corrida” da unificação
alemã. O exemplo da Prússia foi logo seguido por Nassau, Baden, Baviera Renana,
Anhalt e, até certo ponto, Hesse.
Mas nesta Igreja, oficialmente unida, com um único governo eclesiástico e uma só
liturgia, alguns antigos luteranos e reformados nutriam ainda seus respectivos
confessionalismos. Fiéis luteranos, inflexíveis na sua posição contrária à união, forma
33
História Documental do Protestantismo no Brasil
ram, em 1841, a Igreja Luterana na Alemanha. O rei a homologou quatro anos de
pois. Dentro desta pequena Igreja, disputas sobre a eclesiologia produziram outra
cisão em 1861, o chamado Sínodo Emanuel.14
Outra instância desta tensão unionista/confessional apareceu na série de esforços
unionistas visando o fortalecimento interior das igrejas protestantes alemãs e, ao mes
mo tempo, a defesa contra o catolicismo ultramontano: a) A primeira organização a
ser mencionada é a Sociedade Gustavo Adolfo, fundada em 1832, no 2 00° aniversário
da morte do homem tido como o salvador do protestantismo contra os seus inimigos
(os católicos romanos), na Guerra dos Trinta Anos. O propósito da Sociedade era
ajudar as igrejas protestantes fracas, especialmente nas regiões ocupadas pelos católi
cos. Ela funcionou em quase todos os estados alemães, menos na Baviera e na Áustria,
solidamente católicas. “As massas foram atraídas pela simplicidade da sua base, que
era só a oposição ao catolicismo...” 15 b) Protestantes da ala evangélica se uniram com
elementos da mesma corrente da Europa e da América do Norte na Aliança Evangéli
ca. A Aliança realizou sua reunião de 1857 em Berlim, ocasião em que enviou mensa
gem ao rei Frederico Guilherme IV, atacando “o saduceísmo” e também “o farisaísmo
da Igreja Protestante alemã”. Os luteranos confessionais, que se opunham à Aliança,
entenderam que esta última crítica se referia a eles. Apesar de muitos deles serem
membros da Aliança, recusaram-se a comparecer à reunião. Os “Unidos”, consideran
do os artigos da Aliança [doc. 123] demasiadamente ortodoxos, também não partici
param .16 c) Em 1848, fundou-se a Aliança das Igrejas Luteranas na Alemanha, que
pretendia organizar uma confederação das Igrejas Luteranas Reformada, Unida e
Morávia. Ao realizar-se a segunda reunião, em 1849, em Wittemberg, muitos dos
luteranos já se haviam afastado. Outras crises ocorreram em 1853, quando se tentou
impor a Confissão de Augsburgo e, em 1857, ao tratar-se das missões estrangeiras. Em
1871, quando se instituiu o Império alemão, a Aliança praticamente agonizava.17 d)
A Liga Evangélica surgiu em 1887, espécie de resposta conjunta ao fracasso da
K ulturkam pf de Bismarck contra os católicos,18 mas teve pouca influência por ter
surgido quase no fim desse período.
A disputa de 1857, mencionada acima, sugere uma terceira área na tensão unionista/
confessional: o movimento missionário. As peculiaridades da estrutura eclesiástica da
Alem anha naturalm ente im prim iram certas características especiais às juntas
missionárias. Deve notar-se, de passagem, que um dos momentos-chave na história
das missões modernas liga-se à Missão Dinamarquesa-Halle, iniciada em 1706, na
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ma que todas as outras igrejas são falsas... Nenhuma denominação insiste que a tota
lidade da sociedade e Igreja deve submeter-se aos seus regulamentos eclesiásticos.27
Assim, a denominação indicava a unidade subjacente à desunião observável (a existên
cia das próprias denominações), enquanto, pelo princípio voluntário, repudiava a
união exterior imposta por meio de coerção. Aliás, ela reconhecia que, por causa da
fragilidade humana, nenhuma instituição humana poderia refletir perfeitamente a
essencial unidade da verdadeira Igreja de Cristo. “O denominacionalismo era teste
munha da verdadeira Igreja por indicar, além das divisões das estruturas humanas da
Igreja, a unidade compartilhada por todas.”28
Em quarto lugar, a denominação era um meio para um fim: “A denominação era
instrumental à cristianização da sociedade —à cristianização da nova República e tam
bém do mundo” .29 Não raro, o serviço da missão comum se expressava em esforço
comum como, por exemplo, no “império benevolente” —a vasta rede de organizações
voluntárias como as sociedades bíblicas, as de tratados, as de reforma social (socieda
des contra o duelo, contra a escravidão, contra a profanação do domingo etc.) e mes
mo sociedades missionárias adenominacionais. Outras vezes, consoante a própria so
ciedade norte-americana, surgiram competições entre as denominações.
Após um sucinto resumo dos pontos acima mencionados, Richey acrescenta: “A
denominação era então uma estrutura missionária e por intenção nacional nas aspira
ções” .30 O aspecto missionário, que Richey entendeu ser inato no sentido da denomi
nação, não se esgotou, é claro, na América do Norte, pois as principais confissões
enviaram missões ao estrangeiro, muitas das quais se estabeleceram no Brasil.
Não ofereceram nenhum produto rotulado “denominacionalismo” e nem “cristia
nismo norte-am ericano” , mas vieram como emissárias da Igreja Presbiteriana,
Metodista, Batista ou outra denominação, e trazendo a bagagem acima descrita. Seu
propósito central era levar outros a compartilharem os benefícios da Bíblia, da Refor
ma e da civilização cristã; mas não puderam esquecer-se das ênfases peculiares e, como
entendiam, das vantagens que a sua denominação particular oferecia.
O alvo comum propiciou larga faixa de cooperação, da qual segue-se um exemplo.
Os primeiros dois missionários da Igreja Protestante Episcopal no Brasil foram James
Watson Morris e Lucien Lee Kinsolving, este posteriormente bispo no Brasil. 1) Os
dois foram morar na residência do Rev. Benedito Ferraz, ministro presbiteriano, em
Cruzeiro, província de São Paulo, para ali aprender o português. 2) Quando se julga
ram aptos para comunicar o Evangelho aos brasileiros na sua própria língua, escolhe
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História Documentai do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
duas tendências podem ser detectadas, por exemplo, no célebre evangelista presbiteriano
Charles C. Finney (1792-1875). Finney foi um inovador da evangelização; o elemen
to mais duradouro dos seus chamados “novos métodos”, a protracted meeting (série
evangelística prolongada) foi chamada por Winthrop Hudson, “o acampamento tra
zido à cidade”. O acampamento, com seu barulho e manifestações emocionais, foi
rejeitado pelos presbiterianos em geral, mas a protracted meeting achou, muita acolhida
entre eles, bem como entre luteranos, reformados alemães e até Quakersl A teologia de
Finney devia muito a Nathaniel William Taylor (1786-1858), que enfatizava a capaci
dade moral do ser humano. Finney, estribado no pensamento de Taylor, dizia aos
pecadores que eles pecavam porque queriam, náo por causa de uma pretensa natureza
corrompida! Assim, até o avivamento passou a ser mais obra de hábeis pregadores
capazes de convencer auditórios, do que “ato poderoso de Deus”, como se entendia
outrora. Em geral, as igrejas norte-americanas, ao enviarem missionários para o Brasil,
já se encontravam “metodizadas”.
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História Documentai do Protestantismo no Brasil
Bíblia (na qual não se encontra nenhuma clara proibição explícita da escravidão), de
que a escravidão é essencialmente boa e não má. 2) Iniciou-se agressiva missão entre os
escravos nas fazendas sulistas, missão de evangelização e catequese oral, sem qualquer
perspectiva de emancipá-los. O maior expoente dessas missões foi William Capers
(1790-1855), posteriormente bispo da Igreja Metodista Episcopal, Sul. 3) A terceira
parte da resposta foi o desenvolvimento da Doutrina da Igreja Espiritual, que teve em
J. H. Thornwell seu maior expoente. Conforme esta doutrina, a Bíblia, considerada
como a própria Constituição da Igreja, pelo princípio “Dai a César o que é de César e
a Deus o que é de Deus”, já estabelece os parâmetros da atuação da Igreja. A esta
concernem assuntos “espirituais” , como a conversão e a conduta moral. Questões
como política e jurisprudência pertencem a César. Thornwell afirmou que “as Escri
turas não apenas deixam de condenar a escravidão, mas claramente a sancionam tanto
quanto qualquer outra condição social do homem”. Quem condenasse a escravidão
como pecado, como faziam os abolicionistas, atacava a Bíblia. Aliás, a estratégia de
Thornwell consistia em insistir de tal forma no argumento bíblico que seus oponen
tes, pela aparente oposição à Bíblia, passassem por incrédulos.
As maiores denominações se dividiram por causa da questão: os metodistas em
1844, os batistas em 1845, os presbiterianos em 186133 e os episcopais temporaria
mente (apenas durante a Guerra de Secessão, de 1861 a 1865). A grande maioria dos
missionários Norte-Americanos enviados ao Brasil veio da ala sulista dessas igrejas. As
exceções são a Igreja Episcopal e a Igreja Presbiteriana cujos dois ramos, o do Norte e
o do Sul, estabeleceram missões aqui —Ashbel Green Simonton veio do Norte. No
caso da Igreja Episcopal, embora já reunida em uma só Igreja nacional quando do
envio dos missionários, todos os obreiros no período de formação, haviam estudado
no Seminário de Virgínia (Estado sulista) e residiam no mesmo Estado. Mesmo no
caso dos presbiterianos, Simonton filiou seu presbitério ao Sínodo de Baltimore, geo
graficamente do Norte, mas de mentalidade conservadora e sulista. Sendo densamen
te “sulista” , o grosso dos missionários enviados para o Brasil, o impacto seria natural
mente a ênfase na conversão individual, na vida de oração e devoção, e na ética pessoal
impecável. Ficava faltando, pois, a tradução dessa vida cristã em luta pela justiça e
liberdade de todos.
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
por Guilherme de Orange. Mesmo hoje (2003) estas batalhas, comemoradas anual
mente por meio de desfiles protestantes (especialmente na Irlanda do Norte), conti
nuam a alimentar esses antigos ódios.
Nos Estados Unidos, o primeiro recenseamento, em 1790, mostrou claramente
que os cidadãos do país eram procedentes da Grã-Bretanha e Irlanda e predominante
mente protestantes. Esta situação se manteria essencialmente a mesma até meados do
século X IX quando, entre 1846 e 1851, aproximadamente um milhão de irlandeses
morreram de fome ou doença, por causa da praga que atacou as batatas, a comida
principal do povo da época; no mesmo período e pelo mesmo motivo, mais de um
milhão e meio emigraram, principalmente para os Estados Unidos. Esta grande onda
de imigrantes, católicos na maioria, mudaria o quadro religioso do país, e causaria
conflitos em muitos setores — no mercado de trabalho; nas escolas públicas (tidas
como baluartes da democracia americana, mas, pelos imigrantes irlandeses, vistas como
escolas paroquiais, onde nas assembléias usavam-se hinos protestantes, Bíblias protes
tantes —a saber, a versão de King James e não a de Douai —, professores e professoras
protestantes, etc.) o que levaria muitas famílias a matricularem seus filhos em escolas
paroquiais católicas e a exigir que o governo Americano sustentasse um sistema para
lelo de educação. Além de atingir a carteira do protestante, tal exigência parecia ferir o
princípio de que a escola pública é baluarte da democracia.
Entrementes, o Catolicismo mundial sofria muito nas mãos de monarcas ilu
minados. O Papa Clemente X IV foi obrigado por aqueles a suprir a ordem dos Jesu
ítas em 1773. A Revolução Francesa desestabeleceu a Igreja Católica na França; Pio VI
(1775-1799) foi levado preso para a França, onde morreu. O próprio Napoleão bri
gou com Pio VII (1800-1823), confiscou os Estados da Igreja, em 1809, e, prendeu-
o no mesmo ano, soltando-o apenas em 1814. O longo papado de Pio IX (1846-
1878) viu a elevação do prestígio da Igreja, mas os mais importantes atos do Papa
foram repudiados pelos protestantes, desde a proclamação do dogma da Concepção
Imaculada da Virgem Maria (1854), o Sílabo de Erros em 1864 (como separação da
Igreja e Estado, escolas não sectárias, tolerância de uma variedade de religiões etc.) e,
por fim, a promulgação do dogma da Infalibilidade Papal (1870). Cada um desses
fatores contribuiu para um forte sentimento anti-católico, como um bom número dos
documentos encontrados no presente livro mostrará.
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
OS IN G LESES
Introdução
A amizade anglo-portuguesa remonta à era das Cruzadas, è seus primeiros tratados
comerciais e políticos ao século X IV Os tratados do século XVII (1642, 1654, 1661)
garantiram ao crescente número de mercadores ingleses residentes em Portugal a juris
dição extraterritorial e o privilégio de praticar, em particular a religião protestante.34
O célebre Tratado de Methuen (1703) estimulou o comércio de lã inglesa com o do
vinho do Porto, de Portugal. Além de lucrar enormemente com esse comércio, cujo
balanço desfavorável a Portugal era pago pelo ouro das Minas Gerais, a Inglaterra veio
a ter ascendência quase total sobre Portugal.35 O Marquês de Pombal, chefe absoluto
do governo português de 1750 a 1777, reagiu contra esse domínio, e sua política fez
minguar o comércio entre as duas nações, a ponto da política comercial da Inglaterra
voltar-se contra Portugal, pelo Tratado Comercial de 1786, com a França. Interrom
pia-se temporariamente um relacionamento antiqüíssimo. Foi a Revolução Francesa,
seguida da guerra entre França e Inglaterra, que levou a Inglaterra e Portugal a reafir
marem, por meio do Tratado de 26 de setembro de 1793, todos os acordos anteriores
e a se prometerem ajuda mútua contra a França. Apesar da vacilação do príncipe
regente D. João frente às exigências francesas quanto ao bloqueio continental, a longa
história de amizade com a Inglaterra e as vantagens imediatas (pois optando pela
França, ele salvaria apenas o pequeno Portugal; optando pela Inglaterra, salvaria as
colônias, inclusive o enorme Brasil) levaram-no a aceitar a proteção da Inglaterra,
transferindo a sede do governo português para o Rio de Janeiro.36
Assim, a fuga da família real e dos milhares de nobres e funcionários da corte,37 em
navios portugueses escoltados por navios da marinha inglesa, prenunciava a preemi-
nência inglesa no Brasil, formalizada dois anos depois pela série de tratados de feverei
ro de 1810. O Tratado de Comércio garantiu grandes vantagens aos ingleses e o privi
légio da prática particular do culto anglicano. O Tratado da Amizade e Aliança proi
biu a implantação da Inquisição no Brasil (art. IX) e igualmente proibiu os súditos do
Príncipe Regente “de continuarem com o tráfico escravo de qualquer parte da África,
exceto das atuais possessões da coroa portuguesa naquele Continente” (art. X ).38
Os melhoramentos que se seguiram ao estabelecimento da corte real no Rio de
Janeiro são assaz conhecidos.39 Para os propósitos do presente ensaio, basta recordar
que a abertura dos portos aos países amigos de Portugal (28 de janeiro, 1808) só
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História Documental do Protestantismo no Brasil
pio, ou publicamente em qualquer lugar, o culto de outra religião que não seja
o do Estado:
PENAS. No grau máximo —serem dispersos pelo juiz de paz os que estive
rem reunidos para o culto, demolição da forma exterior,, e multa de 12$, que
pagará cada um.
277. Abusar ou zombar de qualquer culto estabelecido no Império, por meio
de papéis impressos, litografados ou gravados, que se distribuírem por mais de
quinze pessoas, ou por meio de discursos proferidos em públicas reuniões ou
em ocasião e lugar em que o culto se prestar.
278. Propagar por meio de papéis impressos... que se distribuírem por mais
de quinze pessoas, ou por discursos em públicas reuniões doutrinas que direta
mente destruam as verdades fundamentais da existência de Deus e da imorta
lidade da alma.51
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
por horas em diversos cais, nenhum barco veio [para me levar ao navio]; e fui
obrigado a voltar à casa do senhor Antônio, do qual recebi uma saudação cor
dial. Sua esposa e seus escravos, os quais pareciam ser admitidos à maior fami
liaridade, se deleitavam em me cercar ensinar os nomes das coisas em portu
guês.56
51
História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
conta [de rosário] e uma cruz, que o núncio papal trouxera de Jerusalém, con
sideradas por eles como mui valiosas, pois tinham tocado o Monte Calvário
etc. etc. O sacerdote também nos introduziu - a mim e ao irmão [Robert]
Carver - ao mosteiro da Ordem de São Bento, construído à moda do templo
de Jerusalém. Todo o madeiramento é de cedro (...) A igreja é muito rica.
Quase não se vê nada que não seja de ouro, a não ser o chão e os candelabros,
estes de prata. Uma das imagens, chamada Santo Amaro, segundo nos infor
mou o sacerdote, cura doenças corporais, e, por uma certa soma de dinheiro,
cura os que a pedem. Havia ao lado uma perna e uma mão de cera, que pessoas
que teriam sido curadas pela imagem trouxeram em sinal de lembrança e grati
dão. Teriam nos mostrado o lugar onde estavam depositadas as relíquias sagra
das, mas o sacristão, que possuía a chave, estava ausente. Deram-nos uma hós
tia não consagrada, e afirmaram que se a consagrassem, seria o verdadeiro Cor
po de Cristo. Padre Paulo, pois era esse o nome do sacerdote inglês, veio ao
navio por diversas vezes. Mantivemos muita discussões sobre os pontos em que
os protestantes e católicos diferem. Quanto mais ouço o papismo explicado,
mais me provoca desgosto e abominação; e mais grato fico a Deus por ter nas
cido num país protestante, uma terra de liberdade e de Bíblias. Oh, feliz a
Inglaterra! Ele [o padre inglês] freqüentemente se referiu, desdenhosamente, às
Escrituras como um nariz de cera, dizendo que não deviam ser colocadas nas
mãos do vulgo. Repetidamente, ele expressou o desejo de que nós parássemos
lá, dizendo que teríamos um lar confortável etc. etc., mas disse ter certeza que
não faríamos nenhum, benefício em Ceilão. Perguntei-lhe como nos receberi
am no mosteiro se não pudéssemos abraçar seus princípios. Ele respondeu:
“Oh, vocês devem ter uma fé cega”. Mas, graças a Deus, Ele nos deu uma idéia
diferente de conforto daquela de ficar cerrados em uma escura cela monástica etc.
Eu lhe dei os Hinos, de (Charles e John) Wesley, a Apologia do Metodismo, de
Joseph Benson; Mensagem aos que Buscam a Salvação, de Fletcher; e Evidências
do Cristianismo, de Philip Doddridge.58 Eu tinha quase duzentos tratados no
idioma português, chamados “Excertos da Escritura”, que distribuímos quase
em toda a parte da cidade. Espero que Deus faça deles uma bênção para mui
tos.59
53
História Documental do Protestantismo no Brasil
replicou: “Os ingleses realmente não têm religião, mas são um povo orgulhoso e obs
tinado. Se houver oposição contra eles, eles persistirão e farão disso assunto de máxi
ma importância; mas se atender seus desejos, a capela será construída, e ninguém
chegará perto dela” .60 O Tratado do Comércio (doc. 1) permitia aos ingleses a cons
trução de “igrejas e capelas”, mas só em 1822, poucos meses antes da independência
do Brasil, é que foi inaugurada a capela anglicana no Rio de Janeiro, que foi também
o primeiro edifício para o culto protestante erguido, em tempos modernos, no Bra
sil.61
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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que não possui nem a forma de santidade, pois suas próprias cerimônias são
piores que as pagãs. Não há escolas e nenhuma Bíblia à vista, exceto ocasional
mente, aqui e acolá, nas casas dos negociantes europeus. Certamente, isso é por
demais triste - não devia nosso mundo cristão tomar sua atenção para esse
lugar(?)
Estou convencido de que as oportunidades de fazer o bem aqui são muito
grandes e o campo, sem dúvida, é muito extenso. Aqui temos residindo um
embaixador inglês, o sr. Thornton, e aproximadamente 1.500 negociantes in
gleses mais os franceses, muitos dos quais sei que favorecem uma sociedade
bíblica auxiliar. A maioria deles possui escravos, os quais, naturalmente, eles
têm a obrigação de instruir, e não poderiam ser incomodados [por cumprirem
essa obrigação]. Daí haver bastante oportunidade para o estabelecimento de
uma escola para adultos em casa para o benefício deles próprios, a qual, confor
me os termos do Tratado [de 1810], nem o próprio rei João [VI] (que não passa
de uma mulher velha e uma nulidade) poderia impedir. E quanta utilidade isso
teria aqui! Pois não devem existir menos de 2 mil escravos, propriedade de
negociantes ingleses (eu os estimaria em 3 mil ou 4 mil), inteiramente às or
dens de nossos compatriotas - a distribuição também das Escrituras em portu
guês poderia ser efetuada. Não acho nada improvável que mesmo o rei João e o
bispo romano com seu clero pudessem ser persuadidos a sancionar a distribui
ção, pois realmente todos são tão ignorantes e cegos, que não perceberiam quanto
dano isso traria à causa romana.
De qualquer forma, algo deve ser tentado —os cristãos parecem totalmente
insensíveis à importância deste lugar —ou pode ser que até agora Deus, no seu
justo juízo pelas iniqüidades do tráfico de escravos, tem deixado este povo nas
suas próprias paixões loucas, e para que se fartem dos seus próprios caminhos.'64
Se for assim, poderemos deixar de nos admirar quanto a nada ter sido tentado
aqui até agora. E deveras notável que, embora esta cidade seja um grande mer
cado para o tráfico de escravos, assim mesmo é universalmente admitido que o
tráfico já se tornou tão deficitário aponto de estar em rápido declínio. Deus
seja louvado! Que ele [o tráfico] morra65 para nunca mais levantar a cabeça.
Estes pensamentos, rabiscados, tenho posto no papel na esperança de que o sr.
[Charles] Simeon volte a sua atenção para este lugar.66
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
chuva, penetrando, apodreceu o teto, [partículas de] que sempre caem sobre as
cabeças da pequena congregação presente. As janelas, que foram quebradas há
tanto tempo pelo ultraje que mencionei,67 não foram consertadas; as cortinas
estão todas desbotadas e manchadas por dentro, e ao invés da limpeza e decoro
que sempre marcavam a casa de Deus na Inglaterra, ela aparentava sujeira e
descuido, dolorosos de contemplar; e a congregação, como para confirmar a
profecia do bispo do Rio,fi!i não parece ter se interessado por ela depois de
construída, apesar do zelo em tê-la estabelecida. Tem capacidade para seiscen-
tas ou setecentas pessoas, e existe esse número de protestantes no Rio para lotá-
la, porém eu nunca contei mais que trinta ou quarenta pessoas presentes. Já
refleti, muitas vezes, com grande preocupação, sobre essa indiferença para com
o culto público entre nossas feitorias65 do além mar, (...) cheguei até a pensar
que era um grande impedimento ao progresso da Reforma em países católicos.
Ao invés de deixar “brilhar a nossa luz diante dos homens”, no domingo, “para
que eles, vendo nossas boas obras”, sejam conduzidos a “glorificar a nosso Pai
nos céus,70 da mesma maneira, eles só consideram nossa separação da sua Igre
ja como o abandono de todo o culto, e apontam para nossa conduta como
prova disso.
Não há nada que mais claramente assinala o crescente sentimento de tole
rância no mundo, que esta concessão [isto é, a da construção de uma capela
protestante] de um povo, antes caracterizado por seu espírito de perseguição.
Ela se deve ao bom senso e aos sentimentos cordiais dos luso-brasileiros, sendo
que a imprensa do país sempre se esforça para estendê-lo. Entre os distintos
escritores nativos [desta classe], cujas obras já foram impressas no Rio, consta
José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu.71
OS A LEM Ã ES
Introdução
Antes da independência, D.João VI acertou com a Confederação Suíça a vinda
para o Brasil de algumas famílias do Cantão de Friburgo, ocasião em que foi estabelecida
a colônia suíça em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 1820. A política de povoar o
Brasil com agricultores europeus foi seguida vigorosamente por D.Pedro I. Existia
uma ligação familiar entre D.Pedro e os teutônicos, porquanto ele era casado com
Maria Leopoldina Josefa Carolina, filha do então imperador Francisco I, da Áustria,
que já fora Francisco II, imperador do Sacro Império Romano Germânico antes da
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História Documental do Protestantismo no Brasil
sua extinção por Napoleão, em 1806. A primeira leva de imigrantes alemães radicou-
se em Nova Friburgo, em 3 de maio de 1824, formando colônia de 334 imigrantes
acompanhados do seu pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-1864).72
A parte preponderante da imigração alemã, no entanto, se radicou nas províncias
do Sul, particularmente no Rio Grande do Sul. Essa área só havia passado à jurisdição
portuguesa pelo Tratado de Paris (1750), tendo subido a capitania geral em 1807 e a
comarca, independente de Santa Catarina, em 1812. Quando da independência, foi
declarada província; entretanto, quando os alemães começaram a chegar, a partir das
treze famílias que se fixaram no Vale dos Sinos, a 25 de julho de 1824, o Rio Grande
do Sul estava ainda por ser desbravado (cf. does. 12 e 19) e cultivado.73 As mais
importantes colônias dos primeiros anos de colonização, nas outras regiões, são as das
províncias de São Paulo (1827-1829), Santa Catarina (1828-1830) e Paraná (1829).
Aproximadamente 4.800 alemães chegaram ao Rio Grande do Sul até 1830, e logo
fundaram suas igrejas e escolas. As primeiras destas comunidades e seus respectivos
pastores foram: São Leopoldo (1824), sendo Johann Georg Ehlers pastor de 1826 a
1844; Três Forquilhas (1826), sendo Karl Leopold Voges pastor de 1826 a 1829;
Campo Bom (1829), sendo Friedrich Christian Klingelhõffer pastor de 1829 a 1838.
Entrementes, evangélicos no Rio de Janeiro, principalmente diplomatas e comercian
tes, estabeleceram a “Comunidade Protestante Alemã-Francesa” em 1827, que cons
truiu um templo e passou a celebrar o culto evangélico regularmente em alemão.
As comunidades alemãs, assim estabelecidas, eram tipicamente igrejas de imigran
tes. Usavam a língua materna nas igrejas e escolas, e muitos entenderam que a manu
tenção do idioma era essencial à conservação da fé evangélica. Viveram, por via de
regra, à margem da vida e cultura brasileiras e, por força das condições da vida rural,
muitos tinham pouca oportunidade de participação regular na vida da Igreja. Nesse
caso, dependiam da leitura da Bíblia e do culto doméstico para a preservação da fé.
Outras igrejas evangélicas só se estabeleceram no Rio Grande na década de 80, por
tan to , nos anos da sua form ação, tendo in existido q u alqu er in tercâm bio
transconfessional.74 A constituição do Sínodo Rio-Grandense, em 1886, sob a lide
rança de Rotermund, foi um grande passo à frente. Os demais sínodos e desenvolvi
mentos subseqüentes serão tratados na segunda parte desta História Documental.75
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
conseqüências desse parto. —Em 14 de maio às 4:00 hs da tarde ele foi enterra
do como primeiro no novo cemitério “erigido” em Nova Friburgo e o próprio
pai fez o sermão do ofício.81
60
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo 110 Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
com nove votos; Sr. Friedric Biesterfeld, com oito votos; sr. Peter Kielchen,
com oito votos. Assim terminou a reunião.
(Ass[inado]) W[ilhelm] v[on] Theremin)0
1.200 pessoas; essas, acrescentadas às 5.400 [na colônia] totalizam 6.600 habi
tantes na colônia de São Leopoldo...
Religião (...) um pouco mais de dois terços pertencem à Igreja Evangélica, e
um terço à Igreja Católica Romana. Considerando que pertencem ainda à Igreja
Católica de São Leopoldo as colônias portuguesas de Sapucaia e do Pinhal, as
duas comunidades [evangélica e católica], têm mais ou menos o mesmo núme
ro de membros. Os católicos têm atualmente quatro templos, a saber, um na
cidade e os outros três nas picadas da mata virgem. Os evangélicos têm agora
sete templos, a saber, um na cidade, três nas picadas da mata virgem, três no
campo e um ainda em construção... A Igreja Evangélica tem dois pastores evan
gélicos alemães, pagos pelo governo; um deles foi contratado para a mata vir
gem, o outro para a cidade e o campo. Qualquer um facilmente entenderá que
aqui vários trabalhos já foram realizados, mas ainda falta muito; duas escolas
públicas para a colônia inteira, por exemplo, não bastam. Por falta de um salá
rio adequado para os professores, a instrução da juventude muitas vezes está
confiada aos sujeitos mais indignos e mais incapazes, cujo trabalho tem mais
efeitos negativos que bons...
Os templos geralmente são bem freqüentados, e na vida religiosa há alguns
fenômenos agradáveis, e como tais devem ser mencionados principalmente os
dias das grandes festas, da Santa Ceia e da Confirmação: um dos dois pregado
res já confirmou 1.135 cristãos jovens da colônia. A Igreja Evangélica já fez
muitas coisas, embora ela tenha enfrentado muito transtorno e opressão. Quando
a colônia foi fundada há vinte anos, os brasileiros consideravam os protestantes
como monstros; na mata virgem viviam selvagens rudes. A Igreja avançou, a
região está limpa, mas nas redondezas há ainda os indígenas... Essa vitória não
foi alcançada sem sacrifícios sangrentos; no início da colonização aquelas hordas
invadiram a colônia por duas vezes, e alguns alemães perderam a vida. Essas
invasões não se repetem há dezessete anos. [Os católicos já] consideram os
protestantes como bons cristãos; admitem que estes possuem várias qualidades
particulares em comparação à Igreja Católica; vivem com eles em boa amizade,
casam-se com eles, deixando batizar os filhos de matrimônios interconfessionais
ora na Igreja Protestante, ora na Católica, sempre conforme lhes convém; a
Igreja não é mais motivo de discórdia. O sacerdote católico inicialmente resis
tiu ao casamento de pessoas de confissões diferentes, mas cedeu logo, realizan
do todos os casamentos que houve. Os católicos alemães mostraram-se muito
mais teimosos que os brasileiros. A Igreja Evangélica teve apenas dois pastores,
a saber, Ehlers e [Frederico Cristiano] Klingelhoeffer, o último por apenas qua
tro anos (1832-1836) e o primeiro desde a fundação da colônia até o presente
momento...94
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
Do Pastor
Art. 8o A nomeação do pastor será feita por uma comissão de cinco mem
bros, eleita em Assembléia Geral, à qual compete estipular as condições recí
procas por meio de um contrato.
Art. 9o O ato de posse do pastor será realizado pela diretoria com o concurso
do pastor anterior.
Art. 10. E obrigação do pastor celebrar o serviço divino e todos os atos ecle
siásticos, segundo os preceitos da Igreja Evangélica Unida.
Art. 1 1 .0 pastor deverá escriturar, de conformidade com as leis vigentes, os
seguintes livros da Igreja:
Registro dos batismos
Dito das confirmações
Dito dos matrimônios
Dito dos óbitos
Art. 12. Os registros serão feitos em duplicata e guardados pela diretoria.
Art. 13. O pastor apresentará uma vez por ano à diretoria, antes de formu
lar-se o relatório, uma relação dos atos oficiais que houver celebrado durante o
ano eclesiástico findo.
Art. 14. A administração da caixa dos pobres fica a cargo do pastor, que
deverá prestar contas dessa missão no relatório anual.
Art. 1 5 .0 pastor, no exercício de seu cargo, é membro consultivo e votante,
não só da diretoria como da Assembléia Geral.
Art. 16. O pastor perceberá um ordenado anual estipulado no contrato e
pago em trimestres adiantados pelo tesoureiro da diretoria, principiando do
dia do embarque [da Alemanha] para o Rio de Janeiro e terminando com a
exoneração do cargo.
As despesas da viagem pata o pastor, sua mulher e filhos, serão pagas pela
comunidade, bem como as despesas da volta, se o pastor tiver exercido o cargo
durante cinco anos.
Art. 17. Se o pastor, em caso de morte, deixar viúva, esta receberá da caixa
da Igreja o ordenado de um semestre, que competia ao seu marido, e, caso
exigir, as despesas do seu regresso serão pagas pela comunidade.
Art. 18. Além do ordenado fixo, perceberá o pastor os emolumentos dos
batismos, confirmações, casamentos e óbitos.
Art. 19. A diretoria, único órgão e representante da comunidade, compete
administrar e zelar pelos negócios e interesses da associação, e velar pela manu
tenção e execução fiel do ritual e dos estatutos.
(...)
67
História Documental do Protestantismo no Brasil
Art. 42. ...O idioma alemão será o único seguido em todas as sessões [da
diretoria ou da comunidade, ou seja, da Assembléia Geral].
(...)
Do Serviço Divino e dos Atos Religiosos
Art. 45. A diretoria, de combinação com o pastor, designará a hora do servi
ço divino, o qual deverá realizar-se em todos os domingos, no primeiro dia do
ano, na sexta-feira da Paixão, dia da Ascenção e do Natal.
Art. 46. Para os dias de penitência e para a celebração da Santa Ceia são
designados a sexta-feira da Paixão, o dia da Confirmação e o último domingo
do ano eclesiástico.
A confissão e preparação serão celebradas imediatamente antes da Santa Ceia.
(Convém que os respectivos comungantes avisem com antecedência o pastor
para a recepção da Santa Ceia.)
Art. 47. O aniversário da sagração da igreja (27 de julho de 1845) será feste
jado anualmente com um sermão em ação de graças.
Quando o dia 27 de julho não for domingo, a festa se efetuará no domingo
seguinte.
Art. 48. Os batizados e casamentos poderão ser celebrados na igreja ou em
casas particulares.
Art. 49. A Confirmação será celebrada na Quaresma depois da devida pre
paração que começará logo depois do Ano Bom.
Dos Emolumentos
Art. 50. Nos atos eclesiásticos o pastor tem direito a perceber dos membros
que já pertenciam à comunidade no ano anterior os seguintes emolumentos:
Por batizado 2$500
Por Confirmação 8$000
Por casamento 5 $000
Por enterro 5$000
Em todos os casos pagar-se-á ao sacristão a espórtula de 2$000...95
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo 110 Brasil
( J l ) DOCUMENTO
“[Aos] Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação!”
O Conselho Diretor do Sínodo Rio-Grandense, como órgão legítimo dos
interesses das comunidades evangélicas desta província, vem respeitosamente
implorar Vossa valiosíssima intervenção para que seja derrogado o art. 5° da
Constituição Política do Império, na parte que restringe o exercício dos cultos
acatólicos, e em conseqüência disto também o art. 276 do Código Criminal.
Segundo estes artigos são permitidos e tolerados neste Império os cultos
católicos; mas é expressamente proibido que se celebrem em casas com forma
alguma de templo e publicamente em qualquer lugar. Admite a Constituição a
imigração de colonos evangélicos; mas nada, absolutamente nada, deve paten
tear aos católicos, que há cidadãos que não professam a religião do Estado. Se a
casa em cujo interior se reúne a comunidade evangélica tem alguma forma de
templo, se os membros, da Igreja Protestante em solene procissão a um irmão
falecido dão o acompanhamento para seu último jazigo, se os pastores rezam
sobre o túmulo de um correligioso ou se em seu hábito eclesiástico levam a
Santa Ceia a um enfermo —em todos estes e outros casos violam a Constituição
e são puníveis conforme as disposições do Código Penal. A religião católica
72
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
73
História Documental do Protestantismo no Brasil
( T ? ) DOCUM ENTO:
Montevidéu, 12 de outubro de 1888
Sr. Presidente do Sínodo da
Igreja Luterana no Rio Grande do Sul
Caro irmão,
Tenho a honra de vos comunicar que a Assembléia Anual da Igreja Metodista
Episcopal na América do Sul, nomeou, na sua sessão de ontem, o rev. João C.
Correia, seu representante junto ao Sínodo que presidis.
Ao comunicar-vos esta nomeação, permita-me felicitar a vossa Igreja pelo
esforço que faz para estender o conhecimento do Evangelho e espero que ela
será, como tem sido no passado, abençoada, atraindo muitas almas ao nosso
Senhor Jesus Cristo.
Trinidad, Departamento Flores
Vosso irmão em Cristo,
Guillermo Tallon
Secretário Rep. Oriental do Uruguai107
74
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
çao das comunidades e dos pastores, para os seus deveres frente aos novos imigrantes
evangélicos. O documento, embora um pouco fora dos limites cronológicos previstos
para este capítulo, é incluído aqui por causa do assunto de que trata.
75
História Documental do Protestantismo no Brasil
AS S O C IE D A D E S PA R A ECLESIÁ STICA S
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
As sociedades bíblicas
Introdução
Com o foi visto nos documentos 4 e 5, os observadores protestantes que visitaram
o Brasil no começo do século X IX sempre notaram a ausência da Bíblia e o conse
qüente descontentamento dos brasileiros. João Ferreira de Almeida (1628-1691) já
havia traduzido das línguas originais, na Batávia, Java, todo o Novo e o Antigo Testa
mentos até Ezequiel 48:21. Seu trabalho foi com pletado por m issionários em
Tranquebar, índia, e a Bíblia publicada em 1748. Também Antônio Pereira de
Figueiredo (1725-1797), exímio latinista, trabalhou por dezoito anos traduzindo a
Vulgata para o português. A versão de Figueiredo, tradicional Bíblia católica no Bra
sil, já se encontrava em segunda edição em 1804. Portanto, as duas versões mais popu
lares, respectivamente a protestante e a católica, já existiam antes do início do século
X IX .111 Sua distribuição no Brasil foi executada principalmente por duas Sociedades
Bíblicas: a Britânica e Estrangeira, fundada em 1804, e a Americana, fundada em
1816.112
C. H. Morris informa que a primeira edição da Bíblia em português realizada pela
BFBS nasceu do desejo da Sociedade de oferecer as Escrituras no vernáculo a refugia
dos portugueses na Inglaterra, quando Napoleão invadira Portugal. Assim, em 1809,
a BFBS imprimiu o Novo Testamento na versão de Almeida, e iniciou sua distribui
ção na própria Inglaterra entre estes refugiados e, depois, também em Portugal.113
N ão é improvável que algumas destas Bbílias tenham chegado ao Brasil, trazidas por
imigrantes portugueses. A primeira informação segura, no entanto, é de um corres
pondente anônimo da BFBS, que distribuía Novos Testamentos em português a bor
do de navios que deixavam Lisboa com destino ao Brasil.114 Já em 1816, um certo
Henry Koster, de Liverpool, movimentado porto inglês, havia solicitado Bíblias em
português para distribuição no Brasil. Sua carta, lida no Comitê no dia 30 de setem
bro do mesmo ano, mereceu a seguinte providência: “Decide-se que 25 Testamentos
portugueses sejam colocados a disposição do sr. Koster para o propósito acima referi
do” . '15 Semelhante atividade esporádica deu lugar, até a década de 20, a uma distri
buição bem mais intensa. Esta nova fase aparentemente se liga a uma carta do Rev.
Boys, capelão britânico na Ilha de Santa Flelena, no Atlântico Sul, que passou algum
tempo no Rio de Janeiro em fins de 1819. Impressionado com a ausência da Bíblia, da
escola, e da “pura religião” que observava, Boys propôs o estabelecimento de uma
sociedade bíblica auxiliar, para facilitar a distribuição da Bíblia em português aos
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
79
História Documentai do Protestantismo no Brasil
geral, parece ser o sentimento comum. Tais sentimentos não foram inspirados
sem causa, e nem existem sem objetivo. A causa será encontrada naquela pro
vidência, que adapta, com maravilhosa exatidão, os meios aos fins; e a finalida
de é clara demais para ser mal interpretada por aqueles que acrescentam um
sentido religioso às suas especulações sobre a condição presente e o futuro da
nossa raça sofredora.
Uma emoção, tanto extraordinária quanto poderosa, tem chamado a aten
ção das nações para a importância da divulgação do conhecimento do único
Deus vivo e verdadeiro, revelado no seu Filho, o Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus. Esta emoção é mais digna de nota, porque sucede uma
era de filosofia, falsamente assim chamada, e tem caminhado no sentido da
queles próprios desígnios que, sob os nomes imponentes de razão e liberalida
de, tentavam desviar a humanidade de tudo o que pode abençoar a vida pre
sente ou lançar alegre brilho sobre a vida vindoura.
Nós saudamos a reação como auspiciosa a tudo que é excelente na fruição
humana, ou precioso à esperança. Desejamos correr em socorro de tudo o que
é sagrado e contra todo o profano, em apoio ao mais puro interesse da comuni
dade, da família e do indivíduo, e contra a intriga das trevas, do desastre e da
morte, para ajudar na grande obra do amor cristão e reivindicar nosso lugar na
era da Bíblia.
Temos (...) a honra, de andar nas pegadas daqueles que deram o exemplo
incomparável —o exemplo da benevolência e beneficência sem limites; não
pode ser para nós causa de sofrimento o fato de ter sido dado o exemplo por
aqueles que são do mesmo sangue da maioria de nós; e foi incorporado numa
forma tão nobre e católica com a BFBS.
O impulso 10 mil vezes mais glorioso que todas as façanhas da espada, que
esta instituição tem dado à consciência da Europa e à esperança sonolenta dos
milhões na região e na sombra da morte, demonstra aos cristãos de todas as
terras o que não podem fazer com zelo isolado, e o que podem conseguir pela
cooperação.
Na América, só nos falta a união para alcançarmos sucessos maravilhosos,
desanimadores aos adversários da verdade e piedade e muito encorajadores a
todo o esforço evangélico sobre a face da terra.
Nenhum espetáculo pode ser tão ilustre em si, tão tocante ao homem, tão
agradável a Deus, como uma nação derramando sua devoção, seu talento e seus
tesouros àquele Reino do Salvador que é justiça e paz.
Só pode existir uma única medida capaz de superar objeções, vencer oposi
ção e exigir esforço; esta é a medida. Que todas as nossas vozes, nosso afeto,
nossas mãos se unam no grande desígnio de promover “paz na terra e boa von
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
tade entre os homens”, que resistem ao avanço da miséria; que levam a luz da
instrução aos domínios da ignorância e o bálsamo da alegria na angústia; e
tudo para difundir os oráculos de Deus; [isso] leva à mente um argumento que
não pode ser respondido, e ao coração um apelo que suas mais santas emoções
se levantam para apoiar.
Sob tais impressões, e com tais pontos de vista, pais, irmãos, concidadãos, a
Sociedade Bíblica Americana foi formada. Sentimentos bairristas, preconcei
tos partidários, ciúmes sectários, são excluídos pela sua própria natureza. Seus
membros estão ligados naquilo, e só naquilo, que convoca cada princípio santo
e repele cada princípio iníquo - a pregação das Escrituras nas versões recebidas
onde existem, e nas mais fiéis versões onde estas faltam. Em tal obra, tudo
aquilo que é digno, venerável e verdadeiro tem amplo campo de ação, porém
mesquinhez e rivalidade sectárias não terão acolhida.
A única questão é se um alvo de tão indiscutível magnitude pode ser melhor
alcançado por uma sociedade nacional, ou por associações independentes em
compreensão amigável e correspondência.
(...)
Ação concentrada é ação poderosa. As mesmas forças, aplicadas numa dire
ção comum, produzirão resultados impossíveis ao seu exercício dividido e par
cial. Qualquer objeto nacional une sentimento e concordância nacionais. A
unidade de um grande sistema combina energia de efeito com economia de
meios. Inteligência acumulada interessa e anima a mente pública. E os esforços
católicos de um país, assim harmonizados, lhe dão lugar na convenção moral
do mundo e permitem-no agir diretamente nos planos universais de felicidade
que ora tomam conta das nações.
E verdade que o prodigioso território dos Estados Unidos, o incremento da
sua população, que cada dia mais sobrepuja seu cultivo moral e as conseqüên
cias funestas que advirão se o povo perder o conhecimento da vida eterna e
reverter a uma espécie de paganismo que terá todo o adestramento e vícios de
uma sociedade civilizada, sem qualquer controle religioso, [os Estados Unidos,
dizíamos] apresentam uma esfera de ação, que pode utilizar e ocupar durante
longo tempo os cuidados desta sociedade, e de todas as sociedades bíblicas
locais da nação (...)
Não se deve supor, entretanto, que os limites geográficos ou políticos são os
limites da Sociedade Bíblica Americana. Tal designação pretende indicar, não as
restrições do seu labor, senão a fonte da sua emanação. Abraçará, com gratidão
e prazer, toda a oportunidade de fazer raiar, por meio da Bíblia, consoante sua
capacidade, a luz da vida e da imortalidade, vencer em todas as partes do mun
do que estão sem a benção [da Bíblia) e ao alcance [da sociedade]. Nesta subli-
81
História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
des bíblicas, de ampla distribuição da Bíblia sem notas ou comentários, encontra-se nas
encíclicas papais da primeira metade do século XIX. As mais importantes destas encíclicas
são Ubiprimum, de Leão XII, de 5 de maio de 1824; Traditi humilitati, de Pio VIII, de
23 de abril de 1829, e Quipluribus, de Pio IX, de 9 de novembro de 1846. A advertên
cia do papa Pio IX é ao mesmo tempo típica e reveladora da atitude católica, em marcante
contraste com a postura protestante:
Estas engenhosas sociedades bíblicas, que renovam o dolo antigo dos hereges,
não cessam de distribuir suas Bíblias insistentemente a todos os homens, mesmo
os iletrados; Bíblias que foram traduzidas contra as leis da Igreja, e que
freqüentemente contêm falsas explicações do texto. Portanto, as divinas tradi
ções, o ensino dos pais e a autoridade católica são rejeitadas, e cada um interpre
ta a seu modo as palavras do Senhor, e torce seu sentido, portanto caindo em
terríveis erros.126
( 22) DOCUM ENTO: Traditi Humilitati, encíclica do papa Pio VIII (1829-1830),
sobre as sociedades bíblicas (excerto)
Um outro objeto de nossa vigilância (...) são as sociedades que publicam no
vas traduções das Escrituras em todas as línguas, traduções estas feitas contra as
mais salutares regras da Igreja, e cujos textos são habilmente distorcidos para
sentidos perversos, conforme um espírito particular. Estas traduções são distri
buídas em todos os lugares, por elevado custo, e oferecidas gratuitamente aos
mais ignorantes, muitas vezes mesclando breves explicações, para que bebam
um trago venenoso, quando esperam tomar as águas salutares da sabedoria. A
Santa Sé de há muito advertiu o povo cristão sobre essa nova ameaça à fé... As
regras estabelecidas pelo Concilio de Trento e renovadas pela Congregação do
índice, foram logo lembradas aos fiéis... O Concilio de Trento (...) a fim de
conter as mentes inquietas e audazes, baixou este decreto: “Que em assuntos de
fé e assuntos que concernem à doutrina cristã, ninguém, confiado no seu pró
prio juízo, torcerá o Espírito Santo ao sentido particular, ou interpretá-lo-á con
trariamente ao sentido que a Igreja tem sempre seguido ou em oposição à opi
nião unânime dos Pais”.127
85
História Documental do Protestantismo no Brasil
Os missionários e a Bíblia
A Igreja Metodista Episcopal iniciou os trabalhos junto ao povo brasileiro, em
1836. Seus missionários, entendendo que os males do país se ligavam à ignorância da
Palavra de Deus, se dedicaram à distribuição da Bíblia. Radicados na cidade do Rio de
Janeiro, vendiam a Bíblia pqr meio de anúncios de jornais. Também Daniel Parish
Kidder viajou por todo o Brasil, vendendo Bíblias com tanto ardor que os historiado
res geralmente têm entendido, erroneamente, que fosse agente da ABS e não missio
nário metodista.
86
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
( 27 ) DOCUM ENTO
I . Da Sede, Duração e Objetivos
Art. Io - A Sociedade Bíblica do Brasil, fundada em 10 de junho de 1948,
tem sede e foro na cidade de Rio de Janeiro —Estado da Guanabara, e sua
atividade se estende a todo o território nacional.
Art. 2o -A duração da Sociedade será por prazo indeterminado e terá núme
ro ilimitado de sócios.
Art. 3o - A Sociedade, de natureza exclusivamente filantrópica, de caráter
geral e indiscriminado, tem como objetivo promover e intensificar, sem escopo
lucrativo, a difusão das Escrituras Sagradas como meio de elevação moral, soei-
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
do Exército, mas de todas as classes dos meus súditos que queiram aproveitar-
se de tão vantajoso estabelecimento. João Vieira de Carvalho, do meu Conse
lho de Estado, Ministro e Secretário do Estado dos Negócios da Guerra, o
tenha assim entendido, e faça expedir as ordens necessárias.-
Paço, 12 de março de 1823, 2o da Independência e do Império.
Com a rubrica de Sua Majestade e imperador,
João Vieira de Carvalho.'40
91
▼
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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*
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
Disse sem imaginar que isso viesse ao meu conhecimento. Semanalmente, jo
vens católicos romanos visitam minha casa, e eu me esforço por influenciá-los
através do diálogo, pois seus olhos já estão abertos para perceber o vazio de sua
própria Igreja. Que o Espírito do Senhor abra completamente os olhos do seu
entendimento. Depois de se convencerem da falsidade do papismo, Satanás
parece conduzi-los aos canais da infidelidade, e porque o Brasil é rico em livros
do ceticismo político e filosófico francês, eles serão vencidos pelos argumentos
plausíveis e “agradáveis ao coração humano” daqueles que se opõem à verdade
—a não ser que a verdade de Deus impressione os seus corações. Portanto reite
ro: é preciso que a Bíblia —a Bíblia circule livremente.
Dei início a reuniões toda quarta-feira à noite para a leitura da Bíblia, uma
curta palestra e oração. Aqueles que participam representam quatro ou cinco
diferentes nações bem como três ou quatro denominações. Essa pequena reu
nião se realiza na minha casa alugada, e espero que sua influência venha a ser
sentida. Atualmente, os que vêm, se constituem em colportores; durante a se
mana, em conexão com outros deveres, distribuem a Palavra de Deus e litera
tura de evangelização, ou emprestam bons livros àqueles brasileiros com quem
tiverem contato. Nosso número é ainda pequeno, mas rogamos a Ele que não
retenha a sua bênção por falta de número.152
95
História Documental do Protestantismo no Brasil
96
à
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
OS M ETO D ISTA S
Introdução
O metodismo, como movimento, tem sua origem em John Wesley (1703-1791)
ministro da Igreja da Inglaterra. A partir de 1739, Wesley organizou pequenos grupos
de pessoas que buscavam uma fé mais existencial e atuante, segundo a estratégia pietista
de eccsesiolae in ecclesia. Encorajado por George Whitefield (1714-1770), Wesley in
troduziu no seu movimento a pregação ao ar livre (1739) e, poucos anos depois, a
pregação leiga. Apesar dessas inovações, que causavam estranheza às autoridades
anglicanas, Wesley não rompeu com a Igreja da Inglaterra, permanecendo nela até a
morte. O metodismo contribuiu grandemente para a renovação espiritual da Igreja da
Inglaterra, bem como para a reforma dos costumes do povo inglês e a reforma social
da nação.
Adeptos do metodismo emigraram para as “Treze Colônias” na América do Norte,
resultando sua pregação na propagação espontânea do movimento, nas colônias de
Nova York e Maryland na década de 1760. Atendendo apelo dos núcleos metodistas
criados, Wesley enviou pregadores (todos eles leigos) como missionários; apesar das
dificuldades causadas pela Revolução (1775-1783),164 houve expansão metodista nes
ses anos. A situação peculiar dos metodistas, de não serem uma Igreja e, portanto, de
dependerem do clero anglicano para os sacramentos, pesou fortemente na decisão de
Wesley de organizar os metodistas norte-americanos em Igreja —pois a maioria do
clero anglicano abandonara as colônias durante a Revolução. Por isso, Wesley desta
cou Thomas Coke (1747-1814) e mais dois pregadores, que o próprio Wesley ordena
ra, para organizar, entre os aproximadamente 15 mil metodistas norte-americanos, a
Igreja M etodista Episcopal.
O que caracteriza o metodismo não é, portanto, nem sua doutrina e nem sua
forma de culto. John Wesley nunca repudiou sua herança a esse respeito. Ele dotou o
99
V
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A
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo 110 Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 180S-1889
Sob a recomendação e pedido de alguns dos meus amigos aqui, abri uma
escola diária... Geralmente, crê-se que o estabelecimento de escolas de aprendi
zagem sobre princípios largos e liberais será um dos meios mais diretos de aces
so ao povo deste país. Há muitos que valorizam o aprendizado e, porque não
podem educar os filhos aqui, mandam-nos a outros países. Se pudéssemos pres-
tar-lhes esse serviço, creio que, com a bênção de Deus, talvez poderíamos nos
aproximar deles para prestar-lhes um serviço maior, sim o maior dos serviços, o
de encaminhá-los ao “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
(- )
Por que não se cultivam aqui as artes e ciências como na Inglaterra e na
América do Norte? O opróbrio cai principalmente sobre eles [o clero romano],
... E quase certo que, se tivesse feito o que sempre esteve dentro das suas
possibilidades realizar, o caráter deste povo, de todos os modos, teria sido mui
to mais elevado...
Não pude acreditar, antes de estar entre eles, quão flagrantemente imorais
são as suas vidas; mas sou forçado a crer, pois é impossível descrer do que todo
o mundo diz ser verdade e que ninguém nega... Embora façam voto de um
celibato eterno, e embora sejam santos demais para entrar legalmente para o
santo estado do matrimônio, mesmo assim muitos deles têm grandes famílias
de filhos, e não se envergonham disso! Pode-se avaliar até que ponto são leva
das essas vis abominações, do fato que um projeto foi apresentado ao parla
mento, durante a presente sessão, visando acabar com o celibato. E um dos
mais importantes argumentos ou razões apresentadas em abono da medida foi
a necessidade de redimir e salvar a conduta moral do clero e do povo...
Um outro projeto da maior importância foi apresentado, a saber, romper
toda a conexão com o papa de Roma. (...) Não é nada provável que qualquer
deles seja aprovado nesta sessão...174
103
w
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
como bispo, por ter o mesmo se tornado dono de escravos por herança, iniciou o
processo da cisão formal da Igreja. Os metodistas do Norte simplesmente não tolera
vam um bispo que possuísse escravos. Em 1846, foi assim criada a Igreja Metodista
Episcopal do Sul (IMES), que aceitou Andrew como bispo e ainda elegeu bispo William
Capers, um outro ministro sulista dono de escravos.
A criação da Convenção Batista do Sul, no ano anterior, também se ligara à ques
tão da escravidão. Estadistas como John C. Calhoun viam na separação destas grandes
denominações o prenúncio da divisão da própria nação, o que efetivamente ocorreu
com a secessão dos estados sulistas em 1861 a partir de Carolina do Sul, o que provo
cou a guerra civil (1861-1865). Esta guerra custou mais vidas norte-americanas que
qualquer outra luta na história da nação. Uma declaração do presidente Abraão Lincoln
é muito reveladora: Ele cumprimentou os metodistas por terem enviado “mais solda
dos ao campo da batalha, mais enfermeiras aos hospitais e mais orações aos céus” 178
que qualquer outra Igreja. Naturalmente, o presidente Lincoln se referia aos metodistas
do Norte; mas deve ser lembrado que, dos soldados sulistas, uma significativa porcen
tagem também era metodista.
A superioridade demográfica e industrial do Norte, aliada ao idealismo gerado
pela convicção de que lutava pela libertação dos escravos,179 resultou na sua vitória
sobre o Sul, na reintegração dos estados sulistas à União e no fim da escravidão. Além
da terrível mortandade, a guerra trouxe derrota ao Sul, prejuízo à sua agricultura e
ocupação dos seus territórios, como inimigo vencido na guerra. Esta ocupação no
período de “Reconstrução” incluiu, em muitos casos, a “ocupação” de igrejas sulistas e
sua entrega a pastores do Norte. Derrotados pelo Exército dos Estados Unidos e arru
inados financeiramente, muitos sulistas procuravam recomeçar sua vida em outras
partes, onde ainda fosse legal possuir escravos. A América do Sul e Central, eram
fortes atrativos. Com o aconteceu com os presbiterianos do Sul e com os batistas, a
Igreja Metodista Episcopal do Sul (IM ES) surgiu no Brasil com os sulistas que imigra-
ram para Santa Bárbara do Oeste, São Paulo. Seu fundador e principal obreiro foi
Junius Eastham Newman, que chegou ao Brasil em agosto de 1867, organizando sua
primeira congregação em Saltinho quatro anos depois. O próprio Newman percebeu
a limitação da sua obra, e entendendo que era a legítima missão do metodismo atingir
toda a população brasileira, apelou repetidamente à IM ES, pedindo o envio de missi
onários. Finalmente, em resposta a tais apelos veementes, a Igreja enviou seu primeiro
missionário oficial, John James Ransom (1876), que organizou sua primeira Igreja,
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
® DOCUM ENTO: Cartas que Newman escreveu aos metodistas do Sul, EUA
No dia 5 de agosto [1867] estávamos entrando no porto do Rio, enquanto
todos a bordo olhavam com espanto e deleite a paisagem suntuosamente agres
te e majestosa de ambos os lados do canal que conduz à cidade.
(...)
A liberdade religiosa aqui, na prática, é quase tão completa como nos Esta
dos Unidos e, legalmente, mais ou menos como na Inglaterra. A imprensa é tão
livre como nos Estados Unidos, ou mais ainda, pois não há aqui o perigo da
“lei da turba” (mob-law) como nos Estados Unidos e as provisões constitucio
nais são tão boas como em qualquer parte do mundo —e devo acrescentar que
esta liberdade é usada livremente pelos brasileiros. O imperador recebe sua
parte de crítica, e os seus ministros também.181
Há uma classe [de imigrantes] (...) quase certa de permanecer contente e
feliz no Brasil, eu me refiro àqueles que, com seriedade e oração, consideraram
a questão da imigração e todas as suas implicações, e após consultarem com
franqueza esposas e filhos (...) concluíram que, em vista das sombrias perspec
tivas na terra natal, era melhor emigrarem para o Brasil. Quando tais pessoas
vierem, permanecerão e agradecerão a Deus por esta linda e favorecida terra de
refúgio... Pois aqui acharão “liberdade para adorar a Deus”. O caminho “à
vida, liberdade e à busca da felicidade”182 está novamente aberto para eles.
Aqui também erguerão firmemente a bandeira do nosso cristianismo protes
tante e cantarão os doces cânticos de Sião, como antes, na sua terra natal. E
ainda que a linda mangueira, com seus largos ramos e agradável sombra seja,
temporariamente, sua única casa de oração, mesmo assim se reunirão para ado
rar a Deus, e os hinos de Watts e Wesley serão cantados no Brasil, como em
outras terras.
Fraternalmente vosso,
J. E. Newmanni
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História Documental do Protestantismo no Brasil
um método que pode ser considerado original... Não exageramos quando dize
mos que o estabelecimento, debaixo de sua direção, é o primeiro na província
de São Paulo; e esperamos vê-lo procurado por aqueles pais que desejam dar às
suas filhas uma verdadeira educação - aquela que vai além do eterno e univer
sal ‘decorar, decorar, decorar’. [Após dois dias de exames públicos, houve o
encerramento, à noite.]... As ginásticas, ensinadas por miss Watts, foram todas
executadas com admirável uniformidade, e nós aconselhamos os nossos leito
res a aproveitarem a primeira ocasião que tiverem para testemunhar os exercí
cios tão úteis à educação física.” 189
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
com sede em Montevidéu, de onde foi enviado para iniciar a missão metodista em
Porto Alegre. Nessa cidade, ele fundou uma congregação metodista com seis mem
bros, em 27 de setembro de 1885; com a colaboração da professora Carmen Chaccon,
fundou também o Colégio Americano, em 19 de outubro de 1885- O trabalho
metodista no Rio Grande do Sul foi transferido para a IM ES, em 1899, como distrito
da Conferência Anual Brasileira. Em 1910, o metodismo rio-grandense foi organiza
do em Conferência Anual (“Sul Brasileira”), sendo agora a Segunda Região Eclesiásti
ca.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
OS C O N G R EG A C IO N A IS
Introdução
A obra congregacional no Brasil, a primeira “Igreja de missão” que conseguiu lan
çar raízes permanentes em solo brasileiro, foi iniciada pelo Dr. Robert Reid Kalley
(1809-1888) e sua esposa Sarah Poulton Kalley (1825-1907). Natural de Monte Flo
rida, próxima de Glasgow, Escócia, os pais presbiterianos de Robert Kalley mandaram
batizá-lo na infância. Kalley diplomou-se em medicina e cirurgia em Glasgow, tendo
depois clinicado por quase oito anos na Ilha da Madeira, onde também ministrava
instrução evangélica aos seus pacientes. Chegou a organizar uma Igreja Presbiteriana
na Ilha, em 1846; a perseguição forçou-o, entretanto, a retirar-se em agosto do mesmo
ano. Em 10 de maio de 1855, o casal aportou à cidade do Rio de Janeiro, iniciando
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
uma obra evangélica pioneira. Três meses após sua chegada, os Kalley organizaram sua
primeira Escola Dominical. Em 11 de julho de 1858, Kalley organizou a Igreja Evan
gélica (posteriormente denominada “Fluminense”), constituída de cinco britânicos (o
casal Kalley e três ingleses), oito portugueses (inclusive três casais também haviam
fugido da Ilha da Madeira, bem como José Pereira de Souza Louro, o primeiro crente
que Kalley havia batizado no Brasil) e ainda um brasileiro, Pedro Nolasco de Andrade,
batizado no dia da organização da igreja. Cauteloso após a perseguição na Ilha da
Madeira, Kalley trabalhava dentro dos limites estabelecidos pelas leis brasileiras, ado
tando como modelo básico de evangelizaçao o “culto doméstico”, o qual, aliás, influiu
profundamente na forma do culto protestante brasileiro.197
Os congregacionais nunca atingiram grandeza numérica no Brasil. Entretanto,
por ser a primeira das “igrejas de missão” a se instalar permanentemente, pelas signifi
cativas contribuições do casal no setor da hinologia e ainda pelo êxito de uma inter
pretação mais ampla da liberdade religiosa, a igreja estabelecida pelos Kalley merece
destaque. Sua história subseqüente é contada em esboço na próxima seção sob o título
“Nosso N om e Denominacional”.
115
História Documental do Protestantismo no Brasil
Cinco filhos duma família inglesa foram os primeiros alunos das classes
bíblicas, que duraram muitos anos e produziram algum fruto bom e perma
nente.
Dois ou três domingos depois, o serviço já estava ampliado: o Sr. Dr. Kalley
dirigia uma classe, composta de homens de cor, com os quais conversava a
respeito das Escrituras.200
CsçT) DOCUMENTO
Vamos passar em revista os meios empregados pelo nosso pastor para esten
der o conhecimento do Evangelho, antes de acompanhá-lo na sua formidável
luta em defesa da liberdade de cultos.
Os principais meios empregados, para propagar o Evangelho, pelo Dr. Kalley,
eram:
Io Publicar artigos ou obras na imprensa diária, para firmar certas doutrinas
cristãs e expor os costumes da Igreja Primitiva, que eram desconhecidos do
povo.
2° Vender e distribuir livros e folhetos, para instruir o povo no único cami
nho seguro da Salvação.
3o Visitar casas particulares, lojas e oficinas, para conversar sobre o amor de
Deus, revelado na pessoa de Cristo Jesus, e indicar as boas dádivas que o Pai
Celeste tem para todos os que recebem a redenção adquirida pelo Sangue de
seu Filho amado.
4o Instituir a prática diária do Culto Doméstico e ter reuniões familiares
para a leitura e o estudo da Palavra e para louvar e adorar a Deus em espírito e
verdade.
5o Socorrer os enfermos e aconselhá-los a confiar em Jesus somente para o
bem eterno de suas almas.
(...)
No dia 26 de maio em Petrópolis, o subdelegado proibiu o Dr. Kalley de
116
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História Documental do Protestantismo no Brasil
8o Se algum dos seus amigos brasileiros quisesse estar presente com eles,
tornar-se-ia por isso o seu culto criminoso?
9o Se o culto estrangeiro estivesse em uma casa sem forma alguma de tem
plo, mas com a entrada franqueada àquele que quisesse —sem limitar-se aos
amigos do morador —seria criminoso?
10° Um estrangeiro pode ser obrigado a sair do sítio onde mora, ou ser
deportado do país à vontade do governo, sem culpa formada?
1 Io O que se deve entender pelas palavras publicamente e reuniões públicas,
nos arts. 276 e 277 da Carta Constitucional?202
As respostas dos três juristas aos quesitos formulados eram, em alto grau,
satisfatórias.
Armado desses pareceres, o Sr. Dr. Kalley sentou-se, no dia 16 de julho, para
compor a resposta ao “Despacho” e para dar um resumo explicativo da sua
verdadeira situação, em carta particular, dirigida à Legação Britânica.
Na “resposta” ele declarou que não podia descobrir nada em que houvesse
transgredido a Constituição ou as leis do Brasil, em ter prestado auxílio grátis
aos pobres, sem ser licenciado pela Escola Médica Brasileira; que não imagina
va que isso fosse uma ofensa grave para um governo que ansiava promover a
colonização dos seus territórios, especialmente tendo em vista que, quando
ofereceu os seus serviços ao presidente do Corpo Sanitário de Petrópolis, du
rante a epidemia de cólera e lhe mostrou seus diplomas - a autoridade não lhe
declarou que a falta de licença da Escola Médica Brasileira o impedia de aceitar
este auxílio, a favor dos enfermos. Declarou ainda o Dr. Kalley, na sua resposta,
que, quando o novo subdelegado lhe pediu para abster-se de ver qualquer do
ente ou escrever qualquer receita, logo obedeceu.
Esperava, portanto, terminou ele, que recebidas estas explicações, o Minis
tro do Governo se daria por satisfeito e concluiria que não havia base para o
“comunicado” dirigido à Legação Britânica.
Quanto à “carta particular”, dirigida ao “Chargé dAffaires”, sr. Hon. William
Stuart, dela constam os seguintes trechos:
Quanto à minha propaganda-.
Desde que fiquei convencido de que a Bíblia contém a revelação divina, tenho tido
por costume guardar exemplares dela, na língua do país onde moro, para colocá-los,
quando se oferece ocasião, nas mãos daqueles com quem tenho relações.
A única Bíblia que hei posto nas mãos dos brasileiros é a tradução católica romana do
padre Antonio Pereira de Figueiredo. A Sua Excelência, o Sr. Ministro de Negócios Es
trangeiros, há de ser quase impossível considerar a circulação da Bíblia romana como
prova de “propaganda protestante”.
Quanto à minha pregação-.
118
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
Cada manhã e cada noite toda a minha família se reúne comigo para o Culto Domés
tico. Lemos uma parte da Bíblia, conversamos sobre o seu conteúdo, lemos ou cantamos
um ou dois hinos, e unimo-nos em oração ao Deus Todo- Poderoso. Qualquer de nossos
hóspedes pode ajuntar-se conosco e é bem-vindo.
No dia do Senhor gastamos mais tempo, de dia e de noite, nesta ocupação, do que
nos outros dias, mas é no mesmo propósito e da mesma maneira. Sentados à roda da
mesa, na sala de jantar, lemos versos de algumas passagens das Escrituras, às vezes cada
um por seu turno. Sempre conversamos tão familiar e livremente como em qualquer
outro tempo de entretenimento social. Fazemos oração e cantamos alguns versos, sem
forma alguma de serviço [ou culto formal]. Quanto aos grupos de pessoas ou “assembléi
as” em minha casa: um velho soldado, súdito de Portugal, às vezes está conosco e rara
mente traz sua mulher. Outro súdito português algumas vezes trazia os dois filhos; estes
já saíram de Petrópolis, e ele ou se foi também, ou está para ir embora.
Um cidadão protestante dos Estados Unidos vem freqüentemente com a mulher e
dois filhos.
Também freqüenta a casa uma senhora brasileira e sua filha já de idade.
Estas pessoas são o todo que constitui o que Sua Excelência há honrado com o título
de Assembléia.
Creio que é por causa das senhoras brasileiras que a atenção tem sido voltada para
mim; ambas, porém, tinham já renunciado às idéias católico-romanas a respeito do cris
tianismo antes que eu as conhecesse; acredito, pois, que se não obstante os termos ex
pressos na Carta Constitucional, forem elas consideradas transgressoras, por terem esco
lhido sua própria religião, de minha parte, não sou culpado.
Refere-se depois aos quesitos que havia submetido à apreciação dos três dou
tores jurisperitos e as respostas dadas nos respectivos pareceres. Daí conclui que
é evidente que a liberdade por ele exercida estava bem dentro dos limites deter
minados pelas leis. Por isso estranhava o ato e causava-lhe surpresa que o Sr.
Ministro Brasileiro incomodasse a Legação Britânica desta maneira, e que ele
julgasse legítimo oferecer semelhante conselho. Mas, se acaso quisesse que o
conselho fosse obedecido, declarava de antemão que estaria no seu direito de
publicar os motivos apresentados para a sua exclusão e fazê-los conhecidos em
todos os países donde o Brasil esperava colonos. E isto faria para que os cida
dãos livres de outras nações não fossem enganados pela liberdade aparente da
Constituição do Império, mas conhecessem claramente a interpretação dada
pelo governo.203
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História Documental do Protestantismo no Brasil
(jTP) DOCUM ENTO: Número dezoito da prim eira edição de Salmos e Hinos
SALMO CXXXII
1. Que linda vista é!
Os irmãos com amor
Na união da divina fé
Adorão o Senhor!
2. Aquella suave paz
O mundo póde cheirar
E como um perfume que faz
A todos alegrar.
3. Envia-nos Jesus!
Do santo monte Sião
O bom Espírito que produz
Aquella doce união.206
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
as mãos, os pés etc.; conheço bem o que sinto nestas partes do meu corpo. A
outro indivíduo pertencem órgãos semelhantes..., mas esses órgãos não são meus,
e os meus não são dele-, tenho direito aos meus como ele tem direito aos seus.
Além de ter direito à posse dos órgãos que representam dádivas do Supremo
Criador, o homem tem também o direito de tomarposse dosfrutos, obtidos pelo
exercício desses órgãos, de modo honesto e justo.
... O que Deus dá ao escravo é para ser usado por ele, em seu próprio proveito.
E escravo? Ninguém tem o direito de fazê-lo escravo, roubando-lhe a liberdade
pessoal, negociando com uma criatura humana, como se fosse uma máquina
ou um objeto qualquer!
Cada um tem de dar contas ao Altíssimo Juiz do que pratica, quando obriga
, um seu semelhante a trabalhar, contra a vontade e sem salários e sob ameaças de
castigo e sofrimentos diversos, para produzir em seu favor (do senhor, que o mal
trata injustamente) bons serviços e excelentes lucros! Isto é um ROUBO VIO
LENTO dos dons que o Criador concedeu ao pobre estrangeiro, que não éuma
criatura diferente do senhor que o comprou!
Para o senhor, o escravo é SEU PRÓXIMO; portanto está incluído na gran
de lei que diz: “Amarás ao teu próximo, como a ti mesmo”. Porventura o senhor
gostaria de ser tratado por outro homem como escravo?
...O escravo não é filho do seu proprietário; não trabalha^or^wi? o ama nem
porque quer ser generoso, trabalhando para ele como uma besta, sem obter re
compensa de espécie alguma do seu trabalho; o escravo só trabalha porque
teme as ameaças de pancadas e castigos desumanos da parte de um roubador da
liberdade alheia!
O senhor que procede desse modo é inimigo de Cristo-, não pode ser mem
bro da Igreja de Jesus, daquele Jesus que nos resgatou da maldição (G1 3.13) e
da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a liberdade, fazendo-nos FI
LHOS DE DEUS (Rm 8.15 e 16)!208
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História Documental do Protestantismo no Brasil
figura do Batismo verdadeiro e eficaz, feito pelo Salvador quando envia o Espí
rito Santo para regenerar o pecador. Pela recepção do Batismo com água, a
pessoa declara que aceita os termos do pacto em que Deus assegura aos crentes
as bênçãos da salvação.212
26. Na Ceia do Senhor, como instituída por nosso Senhor Jesus Cristo, o
pão e o vinho representam, vivamente, ao coração do crente, o Corpo que foi
morto e o Sangue que foi derramado no Calvário;213 e participar do pão e do
vinho representa o fato que a alma recebeu seu Salvador. O crente faz isto em
memória do Senhor, mas é da sua obrigação examinar-se primeiro, fielmente
enquanto à sua fé, seu amor e seu procedimento.
27. Nosso Senhor Jesus Cristo virá do céu como homem, em sua própria
glória e na glória do seu Pai, com todos os santos e anjos; se apresentará no
trono de sua glória e julgará todas as nações.
28. Vem a hora em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e ressus
citarão, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; os crentes que nesse tempo
estiverem vivos serão mudados e sendo arrebatados estarão para sempre com o
Senhor; os outros também ressuscitarão, mas para a condenação.214
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Da Eleição
Art. 12. Posto que todos os membros em comunhão com esta Igreja gozem
do direito de voto na assembléia, e têm mesmo o dever de tomar parte em seus
trabalhos, somente podem ser eleitos para cargos da administração aqueles que
aceitam as doutrinas expressas na “Breve Exposição das Doutrinas Fundamen
tais do Cristianismo” aceitas por esta Igreja e apenas a estes artigos orgânicos.
(...)
Disposições Gerais
Art. 15. São sujeitas ao juízo desta Igreja e dela excluídas as pessoas em sua
comunhão cujo procedimento não se conforme com o ensino e preceitos de
Deus nas Escrituras Sagradas; e por essa exclusão e mesmo eliminação ou des
ligamento voluntário, perdem todos os direitos que antes tinham ao seu
patrimônio como membros da Igreja.
(...)
Art. 17. Além destes artigos orgânicos, a Igreja poderá adotar um regimento
interno, se assim lhe convier, para regularização de seus trabalhos particulares.
Art. 18. No caso de uma divisão nesta Igreja o seu patrimônio pertencerá
àquela parte que continuar a apoiar e praticar as doutrinas expressas nos 28
artigos da “Breve Exposição”; no caso de ambas as partes os aceitarem no seu
lado, pertencerá à parte que possuir a maioria.
Art. 19. Se por uma perseguição ou outro qualquer motivo esta Igreja venha
a dissolver-se, de sorte que não restem três pessoas que recebam e pratiquem as
doutrinas expressas nos 28 artigos da “Breve Exposição”, reverterão todos os
bens desta Igreja em favor da sociedade bíblica, intitulada The British andForeign
Bible Society,
Art. 20. Aprovados pelo governo imperial os presentes artigos orgânicos da
Igreja Evangélica Fluminense, nenhuma reforma neles será adotada sem a apro
vação do mesmo governo (Seguem-se as assinaturas).215
OS PRESBITERIAN O S
Introdução
Os presbiterianos constituem um dos principais grupos calvinistas da Grã-Bretanha.
João Knox (1505?-1572), devoto discípulo pessoal de Calvino, reformou a Igreja da
Escócia, que se tornou baluarte do presbiterianismo. No entanto, a formulação de fé
mais acatada pelos presbiterianos é a Confissão de Westminster, elaborada na Inglater
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História Documental do Protestantismo no Brasil
B árbara do O este, província de São Paulo, onde foram con stituídas igrejas
presbiterianas, batistas e metodistas. George Nash Morton e Edward Lane foram os
primeiros missionários enviados ao Brasil pela PC U S, em 1867.218
Logo criou-se um ministério autóctone, cujo exemplo mais conhecido é o do ex-
padre José Manoel da Conceição, o primeiro ministro protestante brasileiro. Estes
obreiros nacionais, ao lado dos missionários, foram agentes de uma rápida expansão
da obra missionária, tanto numérica como geográfica. Por essa razlo, e de acordo com
a política mundial que favorecia a aproximação dos diversos ramos do presbiterianismo,
as duas juntas missionárias aprovaram a fusão dos esforços presbiterianos numa só
Igreja Presbiteriana nacional, o que efetivamente ocorreu em 1888. Com a criação do
Sínodo da Igreja Presbiteriana no Brasil, o presbiterianismo brasileiro se tornou for
malmente uma Igreja nacional autônoma, situação estratégica tanto frente à nação
brasileira, às vésperas de se tomar uma República, quanto em relação às igrejas irmãs.
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
presbiteriana, por vários anos, foi a de Brotas, província de São Paulo, devido à
influência do ex-padre José Manoel da Conceição. O avanço da obra
presbiteriana, na cidade de Brotas e arredores, prenunciava a importância da
zona rural para o protestantismo brasileiro.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
OS BATISTAS
Introdução
Os batistas das duas alas principais são fruto do movimento puritano-separatista
da reforma inglesa. Os batistas gerais, arminianos na sua teologia, muito devem a
John Smyth (1570-1612), um separatista que levou a congregação de Gainsborough a
Amsterdam, onde, por influência menonita, batizou a si próprio (1608 ou 1609) e em
seguida outros da sua congregação. Uma parte dessa congregação voltou para a Ingla
terra e fundou, em 1611 ou 1612, à rua Newgate, Londres, a primeira congregação
batista em solo inglês. Um grupo, de convicções batistas, se separou da Igreja
Congregacional de Southwark,238 em 1633, para fundar a primeira congregação ba
tista particular, de teologia calvinista. Em 1641, esta congregação adotou o Batismo
por imersão, prática logo aceita por todos os batistas ingleses.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
duas igrejas em 1871. Uma década depois, teve início o trabalho permanente entre
brasileiros, com a vinda dos missionários William Buck Bagby e Zachery C. Taylor e
suas respectivas esposas, Anne Luther Bagby e Kate Crawford Taylor. A igreja que
fundaram em Salvador da Bahia, em 15 de outubro de 1882, é considerada a primeira
Igreja Batista brasileira.
A c o n fissão de fé d o s b atistas
A Confissão de Fé de Filadélfia, bastante parecida com a de Westminster, menos
na eclesiologia e na compreensão do Batismo, foi, em grande medida, substituída por
uma outra, redigida por John Newton Brown, c. 1833, e adotada pela convenção
batista de New Hampshire, de onde deriva seu nome. Quando da fundação da Igreja
Batista da Bahia (12 de outubro de 1882), a Confissão de Fé de New Hampshire foi
oficialmente adotada, e desde então tem sido a confissão de maior aceitação entre os
batistas brasileiros.241
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Pai, tomou livremente sobre si a nossa natureza, porém sem pecado; honrou a
lei divina por sua obediência, e por sua morte operou plena expiação dos nos
sos pecados; que tendo ressurgido dos mortos, agora está entronizado no céu; e
unindo na sua maravilhosa pessoa as mais tenras simpatias com divinas perfei-
ções, ele é qualificado em todo sentido para ser um aptó, misericordioso e
todo-suficiente salvador.
V D a Justificação. Cremos que a grande bênção evangélica que Cristo pro
porciona aos que nele crêem é a justificação; que a justificação inclui o perdão
dos pecados, e a promessa da vida eterna [na base de] princípios de justiça; que
é concedida, não em consideração a quaisquer obras de justiça que temos feito,
mas unicamente pela fé no Sangue do Redentor; por virtude desta fé, sua per
feita justiça nos é imputada livremente por Deus; que nos conduz ao estado da
mais abençoada paz e favor com Deus, e nos proporciona toda a bênção neces
sária para o tempo e a eternidade.
VI. Da Natureza Livre da Salvação. Cremos que as bênçãos da salvação são
colocadas à disposição de todos pelo Evangelho; que é o dever imediato de
todos aceitá-las por uma fé cordial, penitente e obediente, e que nada priva da
salvação o maior pecador do mundo senão sua própria e inerente depravação e
rejeição voluntária do Evangelho; e esta rejeição o envolve em condenação agra
vada.
VII. D a Graça na Regeneração. Cremos que, a fim de serem salvos, os peca
dores têm que ser regenerados, ou nascidos de novo; que a regeneração consiste
em dar uma santa disposição à mente; que é efetivada de uma maneira acima
da nossa compreensão pelo poder do Espírito Santo, em conexão com a verda
de divina, de tal maneira a conseguir nossa obediência voluntária ao Evange
lho; e que sua apropriada evidência aparece nos santos frutos do arrependi
mento, fé e novidade de vida.
VIII. Do Arrependimento e Fé. Cremos que o arrependimento e a fé são
deveres sagrados e também graças inseparáveis, operadas em nossas almas pelo
Espírito regenérador de Deus; pelo que, estando profundamente convencidos
da nossa culpa, perigo e debilidade, e do caminho da salvação por Cristo,
voltamo-nos para Deus com contrição, confissão e súplicas de misericórdia
não fingidas; ao mesmo tempo, de coração recebendo o Senhor Jesus Cristo
como nosso Profeta, Sacerdote e Rei, confiando só nele como o único e todo-
suficiente Salvador .
IX. Do Divino Propósito da Graça. Cremos que a eleição é o eterno propósito
de Deus, pelo que ele graciosamente regenera, santifica e salva pecadores; que,
sendo perfeitamente coerente com a livre agência do homem, abrange todos os
meios relacionados a este fim; que é uma gloriosíssima demonstração da sobe
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História Documental do Protestantismo no Brasil
rana bondade de Deus, infinitamente livre, sábio, e imutável; que ela elimina
completamente a vangloria e promove humildade, amor, oração, louvor, confi
ança em Deus e ativa imitação da sua livre misericórdia, que encoraja o uso dos
meios no mais alto grau; que pode ser percebida pelo efeito em todos os que
verdadeiramente crêem no Evangelho; que é o fundamento da segurança cris
tã; e que torná-la certa quanto a nós exige e merece a máxima diligência.
X. D a Santificação. Cremos que a santificação é o processo pelo qual, con
forme a vontade de Deus, somos feitos participantes da sua santidade; que é
uma obra progressiva; que começa com a regeneração e é efetivada no coração
dos crentes pela crença e poder do Espírito Santo, o selador e confortador, no
uso contínuo dos meios designados, especialmente a Palavra de Deus, auto-
exame, abnegação, vigilância e oração.
XI. D a Perseverança dos Santos. Cremos que só aqueles que permanecem até
o fim são verdadeiros crentes; que seus perseverantes vínculos com Cristo são o
grande marco que os distingue dos processos superficiais; que uma providência
especial vela pelo seu bem-estar; e são guardados por intermédio do poder de
Deus pela fé para salvação.
XII. D a Harmonia de Lei e Evangelho. Cremos que a lei de Deus é a regra
eterna e imutável do seu governo moral; que é santa, justa e boa; e que a inca
pacidade de cumprir seus preceitos, que as Escrituras atribuem ao homem de
caído, nasce inteiramente do seu amor ao pecado; redimi-lo disso e restaurá-lo
pelo Mediador à obediência não fingida da lei santa é o único grande fim do
Evangelho, e dos meios de graça ligados ao estabelecimento da Igreja visível.
XIII. Da Igreja Evangélica. Cremos que a Igreja visível é uma congregação
de crentes batizados, associados por pacto na fé e comunhão do Evangelho;
observando as ordenanças de Cristo; governados por suas leis e exercendo os
dons, direitos e privilégios investidos neles por sua Palavra; que suas únicas
autoridades oficiais bíblicas são bispos, ou pastores, e diáconos, cujas qualifica
ções, direitos e deveres estão definidos nas epístolas a Timóteo e Tito.
XIV. Do Batismo e da Ceia do Senhor. Cremos que o Batismo cristão é a
imersão de um crente na água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito; para
mostrar, num distintivo solene e belo, nossa fé no Salvador crucificado, sepul
tado e ressurreto, resultando em nossa morte para o pecado e ressurreição para
a nova vida; que é o requisito indispensável aos privilégios tanto da relação com
uma Igreja [ou seja, de tornar-se membro dela] quanto da Ceia do Senhor, em
que os membros da Igreja, pelo uso sagrado do pão e do vinho, devem come
morar juntos o amor do Cristo crucificado, precedido sempre de solene auto-
exame.
XV. Do Sábado Cristão. Cremos que o primeiro dia da semana é o dia do
144
▼
Senhor, ou seja, o sábado cristão; e ele deve ser mantido sagrado para propósi
tos religiosos, pela abstenção de todo labor secular e recreações pecaminosas;
pelo uso devoto de todos os meios de graça, tanto particulares como públicos;
e pela preparação para o repouso que resta para o povo de Deus.
XVI. Do Governo Civil. Cremos que o governo civil é de mandato divino,
para o benefício e boa ordem na sociedade humana; e que magistrados devem
ser o objeto de oração; conscienciosamente honrados e obedecidos, exceto uni
camente em coisas contrárias à vontade de nosso Senhor Jesus Cristo: único
Senhor da consciência, e príncipe dos reis da terra.
XVII. Dos Justos e Injustos. Cremos que há uma radical e essencial diferença
entre os justos e os injustos; e só aqueles justificados pela fé no nome do Se
nhor Jesus e santificados pelo Espírito do nosso Deus são realmente justos aos
seus olhos, enquanto todos os que continuam na impenitência e incredulidade
são injustos aos seus olhos, e sob maldição; e esta distinção existe entre os ho
mens tanto na morte como depois dela.
XVIII. Do Mundo Vindouro. Cremos que o fim do mundo se aproxima; que
no último dia Cristo descerá do céu e levantará os mortos da sepultura para a
retribuição final; que uma separação solene então acontecerá, que os injustos
serão condenados à punição eterna e os justos irão para o gozo eterno; e que
esse juízo fixará para sempre o estado final dos homens no céu ou no inferno,
conforme princípios da justiça.242
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História Documental do Protestantismo no Brasil
ção ao Brasil. Ele receiou ter de voltar a Ioruba em virtude das dificuldades
surgidas no seu sistema nervoso”. O Sr. e a Sra. Bowen, com sua filhinha,
zarparam de Richmond [Virgínia] na barca Abigail, na sexta-feira, dia 30 de
março de 1859. Em quatro ou cinco semanas chegaram, contentes, à cidade de
Rio de Janeiro, onde por algum tempo, ou talvez em caráter permanente, espe
ravam fixar residência. Em 1861, as notícias funestas foram comunicadas à
Convenção: A missão encetada pelo irmão Bowen no Rio [de] Janeiro foi aban
donada. Um completo abatimento de saúde forçou-o a voltar. Chegou mais ou
menos no primeiro dia de abril. Que Deus graciosamente restaure sua saúde e
lhe conceda prolongada e grande utilidade no lar e que nossa irmã sinta o apoio
e a consolação da divina presença. Os obstáculos pareciam tão grandes e a
probabilidade de superá-los tão pequena, que, mesmo antes que a saúde do
irmão Bowen o obrigasse a voltar, a Junta resolveu submeter à Convenção a
questão da sua retirada. A Junta não considera aconselhável reabrir esta mis
são.245
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História Documental do Protestantismo no Brasil
cia parece estar sempre aumentando. Muitos estão lendo os tratados e folhetos
que distribuímos. Os sacerdotes nos denunciaram publicamente, e advertiram
o povo contra a assistência aos nossos cultos, apesar disto eles vêm.260
( jF l) DOCUM ENTO: Três razões por que deixei a Igreja de Roma (excerto)
Pelo ex-padre Antonio Teixeira d’Albuquerque
Missa ou transubstanciaçao - celibato obrigatório - confissão auricular
As três razoes que servem de epígrafe a este livrinho foram as que primeira
mente me fizeram vacilar sobre a veracidade da Igreja de Roma, ainda que me
achasse longe da Bíblia e sem conhecimento pleno dela.
Abalado na razão e na consciência, tive uma hora feliz; compenetrei-me no
dever de estudar séria e cuidadosamente a Palavra de Deus, ora confrontando
as diversas versões, para certificar-me se havia Bíblia falsa, ora meditando sobre
cada mandamento de Deus, ensinos e preceitos de Jesus Cristo, Fiquei surpre
endido; pois todas as versões vinham do mesmo original (grego)266 e eram
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
iguais. Não havia Bíblia falsa. Estas coisas eram inteiramente novas para mim.
O véu dos mistérios do papa foi se rasgando pouco a pouco ao passo que ia
lendo a Bíblia, vendo a vontade de Deus revelada aos homens; e de tal maneira
que pude descobrir muitas outras razões por que não devia mais me demorar
em tal igreja.
As más doutrinas por si mesmas se condenam: erros, superstições, idolatrias,
contradizem-se à vista da Bíblia e da razão. Vi a condenação da Igreja de Roma.
Então chegou aos meus ouvidos um aviso imperioso, mas consolador, qual
nos dias de Noé e de Ló; um aviso e salvação, e salvação divina, perfeita e
eterna: “Sai dela, povo meu; para não serdes participantes dos seus delitos, e
para não serdes compreendidos nas suas pragas” (Ap. 18.4).
Educado na solidão de um antigo convento de jesuítas, sob a direção de seis
padres da Companhia, aprendi a teologia romana, tendo de obedecer a todos os
dogmas cegamente. Não tive tempo de engolfar-me na cobiça, nem e enredar-
me nos turbilhões políticos em que tomaram parte muitos do clero, desampa
rando suas vigararias, para intrometerem-se nos negócios seculares e nas elei
ções.
Nem a política secular ou religiosa, nem pretensão alguma de empregos,
categorias ou benefícios eclesiásticos, foram a causa da minha saída do
romanismo; mas, somente a sua doutrina, principalmente os três pontos se
guintes a missa ou transubstanciação, o celibato obrigatório, e a confissão auricular.
Caro eleitor, cumpre-me declarar-vos, que não fui levado a abjurar a Igreja
de Roma por promessa de dinheiro ou emprego nas Igrejas evangélicas; ao
contrário, desde aquele tempo tenho sofrido muitas privações; e mais: o
romanismo, sim, sempre me tem oferecido vantagem, vigararias (no princípio,
para voltar a ele; dinheiro, casa e empregos - hoje mesmo). Todos estão enga
nados; porque não fui arrastado ou convencido por homens, mas pela Bíblia,
que também ouvia dizer na Igreja de Roma que era a Palavra de Deus.
Outrossim, importa dizer-vos ainda, que não fui banido, expulso ou
exaustorado de padre, por bispo algum até hoje (que podiam ter feito, sem que
me incomodasse com isso); mesmo remeti ao bispo um oficio comunicando-
lhe a minha retirada definitiva da sua igreja, pedindo-lhe que me riscasse da
linhagem sacerdotal, por não ser verdadeira, nem autorizada por Cristo, pois
não consta da Bíblia que Jesus Cristo instituísse tal ofício.
Ainda mais, caro leitor; deixei o romanismo, não por causa duma mulher,
como alguns apregoam, não achando outro motivo; pois, todos sabem que,
quando muito, um padre poderá ser suspenso (raramente) por algum tempo, e
depois pode continuar no seu ofício, embora o crime de honra permaneça!
quem pode contestar esta verdade? verdade triste prejudicial; mas é verdade.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
OS EPISCOPAIS
Introdução
Estabelecida na América do Norte antes da chegada dos puritanos à Nova Inglater
ra, em 1620,270 a Igreja da Inglaterra foi a Igreja oficial nas colônias do Sul (dos atuais
Estados Unidos) antes da Revolução Americana (1765-1783). Durante a luta pela
independência, grande parte do clero anglicano, inclusive muitos missionários da
Sociedade para a Propagação do Evangelho no Estrangeiro (S.P.G.), tories em política
(contrários, portanto, à Revolução), voltaram para a Inglaterra. Depois da guerra, a
própria existência da Igreja da Inglaterra, nos Estados Unidos da América, era uma
anomalia. Iniciou-se o penoso processo da sua americanização, a partir da obtenção
do seu episcopado, pois desde 1634 o bispo de Londres superintendia a Igreja da
Inglaterra nas colônias (mais tarde, o fazia por meio de comissários), nunca havendo
um bispo residente nas “Treze Colônias”. Houve também a necessidade de adequar o
Livro de Oração Comum à nova autonomia dos ex-súditos britânicos e à adaptação
geral da política eclesiástica a esta nova situação.
Naturalmente, tiveram que recorrer aos bispos britânicos para a obtenção de um
bispado americano, a fim de garantir sua sucessão apostólica. Assim, Samuel Seabury
(1729-1796), com o apoio de dez clérigos de Connecticut, foi sagrado por bispos
escoceses (1785), ação que não alcançou apoio geral. Depois, organizou-se a Igreja
Protestante Episcopal (1786), e esta escolheu Samuel Provost (1742-1815), de Nova
York, e William White (1748-1836), de Pensilvânia, e os enviou à Inglaterra, onde
foram devidamente sagrados pelos arcebispos de Cantuária e de York, e por diversos
bispos, no dia 4 de fevereiro de 1787.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
Durante pouco mais de três anos, Holden missionou no Pará e na Bahia. Nos dois
lugares propagou a doutrina protestante, pela imprensa, pela venda de e Bíblias e
panfletos e através de contatos pessoais. Manteve polêmica com o recém-chegado
bispo D om Antônio de Macedo Costa (1830-1891), em Belém do Pará, e com o
arcebispo D om Manuel Joaquim da Silveira, na Bahia. Pela diferença de estratégia
entre Holden e a sociedade missionária (pois esta queria que Holden trabalhasse na
surdina, distribuindo Bíblias sem entrar em polêmica com as autoridades), Holden se
desligou da missão episcopal, aceitando, porém, ser agente da BFBS. Em 1864, acei
tou o convite do Dr. Robert Kalley para ser seu co-pastor no Rio de Janeiro.275 Partiu
do Brasil em 1872, voltando ao Rio de Janeiro em 1879, como propagandista da ala
darbista dos “Irmãos de Plymouth” .276 Morreu em Lisboa a 17 de julho de 1886.
( 7 T ) DOCUM ENTO
O Rev. sr. [Richard] Holden deu início ao seu trabalho na cidade do Pará,277
há uns dezoito meses. Seu objetivo foi aproveitar as oportunidades oferecidas
para a pregação do Evangelho e a distribuição das Escrituras e outros livros nas
regiões vizinhas. Continuou esse labor por alguns meses sem interrupção, pe
netrando a área por meio dos seus múltiplos rios, e foi abençoado em grande
medida, como era de se esperar.
Em junho e julho do ano passado, ele subiu, dessa maneira, o rio Guamá,
atravessou a pé até perto da nascente do Cayetê e desceu aquela corrente até a
cidade de Bragança.278 Conseguiu distribuir todos os livros que ele e os dois
canoeiros puderam carregar; retomou pelo mesmo caminho e desceu o Guamá,
visitando ao longo das suas margens e seus afluentes, tendo tido muitas opor
tunidades de oferecer Cristo crucificado a indivíduos e famílias, de casa em
casa.
O missionário foi interrompido no meio do seu trabalho por interferência
da polícia, e voltou ao Pará. Estava convencido de que, naquilo que fizera, não
tinha havido qualquer violação das leis do país; esta opinião foi confirmada
pelo fato de as autoridades não o terem levado a julgamento.
O bispo romanista do Pará atacou o missionário pela imprensa pública, o
que deu início a uma longa polêmica, pelo jornal, entre o bispo e alguns do seu
clero de um lado, e o missionário de outro (...) os esforços dos seus oponentes
para esmagá-lo não lograram êxito... depois [seus adversários retiraram suas]
assinaturas do jornal em que os artigos estavam sendo publicados. Este apelo
ao interesse financeiro dos donos obteve o efeito almejado, e assim teve fim a
controvérsia.
155
História Documental do Protestantismo no Brasil
(...)
O resultado de tudo isso foi estimular investigação por parte de alguns, mas,
da parte da maioria, o medo e o preconceito de tal forma prevaleceram que,
durante sua subseqüente estadia no Pará, o missionário teve sua esfera de traba
lho severamente limitada.
Conforme as últimas notícias, o sr. Holden iniciou uma viagem no Amazo
nas acima, pretendendo chegar até o Peru, para a distribuição das Escrituras e
outros trabalhos missionários.
Por ordem e em nome da Comissão Estrangeira.
Nova York, 12 de outubro, 1862.279
S. D. Denison
Secretário e agente-geral
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
ataque de epilepsia, e pode estar sujeito a outros ataques, nós nos vimos força
dos a retirar sua nomeação como missionário no Brasil.
Que, tendo sido recebido o pedido do Sr. James W[atson] Morris de 15 de
maio de 1889, para ser enviado ao Brasil como nosso missionário, declarando
que já enviara o seu pedido de demissão como missionário no Japão ao conse
lho diretor, bem como a permissão do bispo de Virgínia e o endosso da sua ação
pelos professores do seminário; que o Sr. James Wjatson] Morris seja, e de fato
está nomeado como missionário desta Sociedade no Brasil, efetivo após a sua
ordenação ao diaconato, sendo entendido que ele fica exonerado do seu acordo
com o conselho diretor.
Que, o pedido do Sr. Lucien L[ee] Kinsolving, para ser enviado ao Brasil
como nosso missionário, datado de 17 de maio de 1889, tendo sido recebido
juntamente com um certificado médico do Dr. Powell, recomendações dos
professores do Seminário de Virgínia, do Rev. Dr. Norton, e permissão do bis
po de Virgínia, o Sr. Lucien Lee Kinsolving seja, e de fato está nomeado como
missionário desta Sociedade no Brasil, efetivo após sua ordenação ao diaconato.
Que se for julgado conveniente pelo bispo e comissão permanente de
Virgínia, os Srs. Morris e Kinsolving sejam ordenados ao presbiterato antes de
viajar em julho próximo, pois é regra da Sociedade que um missionário não
deve voltar do seu campo antes de sete anos.280
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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PARTE II
Crescimento e Amadurecimento
( 1889- 1964)
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Jk
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
Introdução
Caracteriza o protestantismo brasileiro, sua origem estrangeira, sendo todas as de
nominações históricas originárias da Europa ou da América do Norte. Como ficou
patente no tópico “Os alemães”, as “igrejas imigrantes”, tanto de ingleses quanto de
alemães, eram intencionalmente igrejas do tipo “capelania”, que visavam a atender às
necessidades espirituais de seus compatriotas, em sua língua de origem. (Os alemães
posteriormente mudaram a orientação do seu trabalho, adotando paulatinam ente o
português, instituindo um ministério nacional, trabalhando entre brasileiros de ori
gem não-germânica etc.; os anglicanos têm permanecido principalmente uma Igreja
tipo capelania).3 Três outras denominações, originárias do Norte ou do Sul, funda
ram suas primeiras congregações brasileiras entre os imigrantes americanos de Santa
Bárbara. Nenhuma destas (PCUS, Batista, IMES) demorou muito nesta obra. Todas
passaram logo para a propagação de sua confissão entre a população brasileira, e os
batistas chegaram quase a desprezar a Igreja de Santa Bárbara, ao datar o início formal
de sua missão com a fundação da Igreja Batista em Salvador da Bahia. M as todas as
denominações aqui tratadas continuaram por uma considerável margem de tempo a
depender grandemente de pessoal missionário para seus ministros, de finanças do
estrangeiro e mesmo de direção das respectivas “igrejas-mães”.
Havia da parte das igrejas no estrangeiro que enviavam missionários ao Brasil uma
sincera preocupação de encorajar a evolução das igrejas brasileiras ou “nativas”. Quase
inevitavelmente, houve três momentos nesta evolução: 1 ) “missão”, em que a própria
estrutura do trabalho era a missão, dominada pelos missionários; 2) “missão” e “igre
jas” lado a lado, em que houve uma certa paridade entre missionários e ministério
nacional etc.; e 3) “Igreja” em que a Igreja nacional suplantou a missão ou, pelo me
nos, a eclipsou em importância e assumiu efetivamente a direção. A terminologia
geralmente aplicada a estas igrejas nacionais pelas juntas missionárias foi “igrejas jo
vens” {younger ch urches). Era consenso que a integridade destas igrejas jovens dependia
do sustento próprio,4 autonomia e autopropagação. Na prática, a prim eira fase durou
relativamente pouco tempo. Em certo sentido, as congregações fundadas por Kalley
sempre eram autônomas, não estando sujeitas a qualquer junta missionária (pois Kalley
não fora enviado por nenhuma junta) e a Igreja Presbiteriana no Brasil era autônoma
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História Documental do Protestantismo 110 Brasil
desde 1888. Mesmo assim, pelo fato de a verdadeira autonomia também implicar
sustento próprio e autopropagação, estas também devem ser examinadas em termos
do esquema de evolução mencionado acima. Durante a maior parte do período em
apreço, todas as denominações (menos a anglicana) se encontravam no segundo mo
mento, com missão e Igreja nacional lado a lado, sendo que esta buscava sua autono
mia. No fim do período, quase todas haviam atingido, pelo menos no sentido formal,
a sua autonomia, a qual procuravam tomar mais plena, ao mesmo tempo em que
lutavam com questões básicas da sua nova identidade, as dimensões da sua m aturida
de, as profundas implicações da sua responsabilidade, e o sentido da sua missão como
igrejas autônomas no Brasil moderno. Esta luta consumiu m uita energia e não ocor
reu sem tensão, incompreensão e conflito entre obreiros missionários e nacionais.
O s p re s b ite ria n o s
Eduardo Carlos Pereira e a autonomia presbiteriana
Problema comum das igrejas originárias da obra missionária foi a autonomia, tema
intimam ente vinculado ao sustento próprio. Quem mais se destacou nesse movimen
to entre os presbiterianos foi Eduardo Carlos Pereira (1856-1923), posteriormente
proeminente líder da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Para ele, a formação
da Sociedade Brasileira de Tratados Evangélicos em 1883 foi “o prenuncio sagrado da
independência eclesiástica”, sendo o próprio Pereira autor de nove dos dezessete folhe
tos da prim eira série publicada.5 Liderou ainda a publicação da R evista das M issões
N acionais, surgida a 31 de janeiro de 1887, e dedicada ao incentivo do sustento pró
prio e autonomia. Nesta revista, Pereira perguntou aos presbiterianos brasileiros: “Não
é revoltante à dignidade cristã, deixar o estrangeiro... puxar sozinho o bote do
romanismo para as praias do Evangelho, enquanto que nós, nacionais, contemplamos
com indolência criminosa seus novos esforços?”.6 No comentário ao segundo Sínodo
Presbiteriano (1891), ele claramente vinculou autonomia ao sustento próprio.7
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
contra, em prejuízo do Evangelho. Insatisfeitos com essa decisão, Pereira e seu grupo
prepararam uma “Plataforma” do seu programa, a ser considerada no Sínodo de 1903.
(Ver documento abaixo.)
O Sínodo reuniu-se de 28 de julho a 6 de agosto de 1903, na Igreja Presbiteriana
U nida em São Paulo. A questão maçônica foi debatida nos dias 30 e 31, sendo que o
Sínodo, após debates muito acalorados, manteve a posição de 1900. Pereira e seus
simpatizantes se retiraram, o primeiro declarando que “a maçonaria cavou um abismo
entre nós e vós”.
Até que ponto se pode considerar a questão maçônica a “causa” do cisma? No seu
valioso livreto, As O rigens da Igreja P resbiterian a In d ep en d en te d o Brasil, Pereira decla
ra: “As origens da independência presbiteriana são os antecedentes históricos, que, por
mais de três lustros, vieram, de onda em onda, desdobrar-se no auspicioso movimento
de 31 de julho de 1903”.10 Como demonstramos acima, estes “antecedentes” incluem
muito mais que a maçonaria. A própria “Plataforma” sugere, pela ordem das suas
exigências, que o estabelecimento de verdadeira autonomia da Igreja Presbiteriana e o
controle de seus presbitérios pelos nacionais eram mais importante que a expulsão dos
maçons. Porém, Paul Everett Pierson, na sua excelente análise da questão, conclui que
o grupo nacionalista teria conseguido os pontos principais da sua “plataforma” sem
cisma, “se a questão maçônica não tivesse sido introduzida na controvérsia”.11 Outro
analista da questão, Agnelo Rossi (então catedrático da Pontifícia Universidade Cató
lica de Campinas, atualmente cardeal), concluiu, não sem exagero: “É de clareza
meridiana que a questão maçônica gerou o cisma no presbiterianismo brasileiro...”12
É também significativo que, no “protesto” do grupo que saiu, o único ponto levan
tado foi “a maçonaria e seus erros”. A questão maçônica tem se mantido significativa
para a história do protestantismo nacional, uma vez que frustou as tentativas de reu
nião entre a “Igreja Presbiteriana Independente, visceralmente antimaçônica; aliás a
única entre as seitas protestantes do nosso meio”13 e a Igreja Presbiteriana do B ra sil.14
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documenta] do Protestantismo no Brasil
Capítulo II
Relação entre obreiros
Art. 2o —Nenhum dos obreiros da Igreja Presbiteriana no Brasil, ou das
missões, poderá fazer parte de duas dessas corporações simultaneamente, salvo
nos casos adiante referidos.
Art. 3o —Quando qualquer presbitério tiver número de ministros nacionais
inferior a cinco, poderão ser convidados para fazer parte efetiva dele um ou
mais dos missionários mais velhos que estiverem trabalhando na mesma zona.
Esse fato não prejudicará as relações desses obreiros com as respectivas missões,
nem importará na transferência de seu campo, da missão para o presbitério.
§ Único —Em caso algum um ministro pertencerá a dois presbitérios simul
taneamente.
Art. 4o - Nenhum missionário servirá como pastor de qualquer Igreja dos
presbitérios e, igualmente, a missão não empregará membros dos presbitérios
em trabalho de evangelização. Essas corporações terão direito de conceder uma
a outra, por tempos curtos, para trabalhos específicos, os serviços dos seus mem
bros. A permuta do trabalho e auxílio pessoal será livremente combinada den
tro dos limites ordinários da cortesia.
§ Único —Disposição transitória.
Os missionários que atualmente pastoreiam igrejas dos presbitérios, pode
rão continuar a fazê-lo nas condições atuais enquanto eles, a missão e o presbi
tério desejarem.
Art. 5o —Respeitada a deliberação n° 3(*)19 da assembléia, em que tratou
dos Drs. J. R. Smith e Thomas Porter, os missionários que forem cedidos pelas
missões para trabalhos especiais da Igreja, devem manter as suas relações com
os seus presbitérios no estrangeiro, devendo, contudo, prestar aos competentes
concílios todas as informações e relatórios solicitados, ficando o seu trabalho
sob a fiscalização única e direta desses concílios.
§ Único - A concessão desses obreiros será sempre feita mediante pedido
dos concílios, com prazo fixo, e a renovação dela dependerá de novo pedido.
Art. 6o —Os missionários deverão promover no seus campos o sustento das
diversas causas apresentadas pelos concílios da Igreja e farão o possível para
desenvolver um espírito de solidariedade entre as suas congregações e as igrejas
dos presbitérios.
Capítulo III
Jurisdição
Art. 7o - A autoridade eclesiástica dos missionários será final nos seus cam
pos: terão plenos poderes para receber membros, organizá-los em congregações
e igrejas e manter entre eles a disciplina.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
Os batistas
A Convenção Batista Brasileira (1907)
Os batistas no Brasil, na sua grande maioria, estão vinculados à Convenção Batista
do Sul dos Estados Unidos. Primam pelo governo congregacional, havendo, entretan
to, fortes laços que unem as congregações batistas num a legítim a denominação. Estes
laços incluem uma lealdade doutrinária (o calvinismo), um conceito peculiar do Ba
tismo (imersão de crentes) e limitação da mesa da comunhão aos batistas. Além desses
elementos, há uma consciência da sua identidade como batistas. Esta identidade acha
uma expressão estrutural ou orgânica na Convenção. A fundação da Convenção das
Igrejas Batistas do Brasil, em 1907, constitui, portanto, o primeiro passo maior na
nacionalização dos batistas brasileiros e na busca de uma verdadeira autonom ia como
denominação nacional.
Nos dias 22 a 27 de junho de 1907, 43 delegados, representando 39 igrejas e
corporações, se reuniram na Primeira Igreja Batista da Bahia, onde, na terceira sessão,
no dia 24, foi aprovada a “Constituição Provisória da Convenção das Igrejas Batistas
do Brasil”.
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a saber: a autonomia das igrejas. Nem esta Convenção nem a Junta Americana
pode arbitrariamente forçar as igrejas a fazerem qualquer coisa. A co-participa-
ção das igrejas nos planos comuns desta Convenção e da Junta Americana é de
livre aceitação por parte das mesmas igrejas; isto é plena e francamente reco
nhecido por todos os que entram neste convênio.
2. A autonomia das juntas —Este convênio visa a cooperação de todas as
juntas desta Convenção com os planos desta mesma Convenção. Precisa ficar
bem entendido, sem dúvida, que as juntas brasileiras e a Junta Americana são
organizações criadas para servirem às mesmas igrejas, respectivamente no Bra
sil e nos Estados Unidos, e que a autonomia das juntas está dentro de funções
que lhes são designadas na sua criação. Nem a Junta Americana nem nenhuma
junta desta Convenção é uma criação própria, independente de limitações.
Contudo, o princípio que reconhecemos é este: que as juntas brasileiras e as
juntas da Convenção do Sul dos Estados Unidos são, no limite de suas atribui
ções, inteiramente autônomas.
3. Convenção Batista Brasileira —Do mesmo modo que as juntas, as con
venções, dentro dos limites que lhe são fixados, são corpos autônomos, cujo
fim é executar a vontade das igrejas, e estão sujeitas às igrejas. Isto se aplica
tanto à Convenção Batista Brasileira, quanto à Convenção Batista do Sul dos
Estados Unidos.
4. Cooperação —Procurando planos de cooperação entre esta Convenção e
a Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos de um lado, e entre as juntas
desta Convenção e a Junta Americana do outro, é necessário que tomemos em
consideração as definições dadas acima como a expressão da autonomia das
várias organizações dentro da vida denominacional. Cada uma destas organiza
ções precisa, a fim de promover cooperação cordial, reconhecer estes princípi
os, que devem ser aplicados em pé de igualdade a cada uma das unidades coo
perativas; isto é, não deve haver violação alguma destes princípios em nossos
planos ou em nossas atividades, quer sejam tratados pela Junta Americana, ou
pela Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos.
Cada um deve respeitar a autonomia própria e legítima do outro. Por conse
qüência, aventuramo-nos a sugerir a aplicação destes princípios em pontos onde
essas definições de autonomia precisem ser cuidadosamente estudados e res
peitados, a menos que uma ou outra das convenções ou das juntas no exercício
da sua autonomia não infrinja a autonomia da outra.
As igrejas, na sua cooperação, permanecem de plena posse da sua legítima
autonomia. Por exemplo: as igrejas têm o direito de chamar os seus próprios
pastores e administrar os seus negócios locais por votação expressa da maioria
dos seus membros. Nenhum indivíduo ou organização se acha revestido de
183
A
História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
dever que ela tem de exercer fielmente a sua mordomia. É necessário frisar que
o dinheiro não compra qualquer direito ou prerrogativa sobre Igreja ou indiví
duo, e nenhum batista de verdade alguma vez pretendeu que o fizesse. Por
outro lado, nenhum batista de verdade ou agência batista pode pretender con
trolar dinheiro pelo qual outro batista ou agência batista é responsável. Isto é,
uma criação das igrejas ou de uma convenção não ousará assumir prerrogativas
além das que lhe foram traçadas, e ir além de seus limites na distribuição fiel do
dinheiro, ficando assim incapacitada de prestar contas desse dinheiro àqueles a
quem é peculiarmente responsável. A autonomia das igrejas e convenções ba
tistas brasileiras, que proíbe que uma junta ou convenção norte-americana as
governe de quaisquer maneiras, ou as faça responsáveis, implica que a conven
ção ou Junta Americana deve conservar a administração financeira nos campos
missionários debaixo do governo daqueles que por acaso possam ser chamados
a prestar contas da sua mordomia, sem infringir esta autonomia. Isto não quer
dizer que negamos a autoridade das nossas igrejas brasileiras se reclamarmos
para aquela Junta o direito de administrar o dinheiro contribuído pelas igrejas
norte-americanas, do qual precisa prestar contas perante a convenção que as
representa.25
(JS7^) DOCUMENTO: R elatório da com issão esp ecia l con stitu íd a p e la assem
bléia d e 1935, p a ra en ten d er-se com o Dr. Charles E. M addry, DD, secretá rio-
ex ecutivo da J u n ta d e R ichm ond, Vã., Estados Unidos da A mérica, qu an do da
sua estada no Brasil, sobre a reform a das bases d e coop era çã o en tre esta Con
v en çã o e aquela J u n ta
(...)
Io) Constituição das juntas da Convenção Batista Brasileira
Considerando que o critério adotado na constituição das juntas desta Con
venção, que estabelece percentagem de brasileiros e missionários, tem motiva
do sérios embaraços ao desenvolvimento do trabalho batista no Brasil, que exi-
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História Documental do Protestantismo 110 Brasil
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
ções p o r que o trabalho batista no Brasil vai passar com as m edidas aqui propostas,
não m odificam a situação relativa aos legítim os direitos d e propriedade dos im óveis
ocupados com as instituições da Convenção Batista Brasileira; direitos esses que
continuarão com o até agora com a Junta de Richmond.
4o) Reforma das bases de cooperação
Propõe ainda a comissão que seja constituída por esta assembléia uma co
missão, representativa das várias atividades denominacionais, para estudar com
o Dr. Maddry a reforma das bases de cooperação, de acordo com o que prescre
vem os três primeiros artigos das conclusões, deste relatório e dar parecer na
sexta sessão desta assembléia (...) [Segue-se o parecer da comissão proposta
acima.]
1. Achamos por bem reafirmar o princípio fundamental da autonomia das
igrejas, constante das antigas bases de cooperação, aprovadas na sexta sessão da
14a Convenção Batista Brasileira, realizada no templo da Primeira Igreja Batis
ta, no Rio de Janeiro, no mês de janeiro do ano de 1925.
2. Não obstante haver esta Convenção assumido maiores responsabilidades
firmando o novo pacto, pedimos que continue a franca e eficiente cooperação
da Junta de Richmond.
3. Recomendamos no tocante às juntas do colégio do Rio e do colégio do
Recife; às juntas do seminário do Rio e do seminário do Recife; à Junta do
Colégio “D. Anna Bagby” e bem assim à Junta de escolas dominicais e uniões
de mocidade:
a) que sejam compostas de 15 (quinze) membros cada uma, eleitos pela
Convenção, sem distinção de nacionalidade, não podendo fazer parte de qual
quer destas juntas as pessoas que trabalham sob a direção das mesmas;
b) que estas juntas sejam constituídas dos elementos mais representativos
possíveis no território servido por elas; e
c) que sejam incluídas duas senhoras nas juntas dos colégios.
(...)
4. As juntas dos colégios e dos seminários elegerão os seus diretores e profes
sores, fixando os seus ordenados.
5. As funções de diretor dos educandários serão ocupadas por qualquer ba
tista competente e de conhecida cultura, sem distinção de nacionalidade.
6. Os princípios aqui empregados a respeito das juntas dos colégios e semi
nários são extensivos em toda a sua aplicação à Junta de Escolas Dominicais e
Mocidade, devendo, “ipso fa cto ”proceder-se à reforma dos seus respectivos es
tatutos.
7. A comissão declarou que o ideal é que as escolas de treinamento de moças
venham a ficar sob a direção das juntas dos seminários, continuando, entretan-
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História Documental do Protestantismo no Brasil
to, como estão, isto é, sob a direção dos colégios, até que se tome viável este
ideal.
8. Recomendamos mais, que seja eleita sob a indicação da comissão de reno
vação de juntas, uma comissão executiva da Convenção Batista Brasileira, com
posta de 11 (onze) membros, para se entender com as missões batistas do norte
e do sul do Brasil, apresentando-lhes os pedidos que devem ser enviados à
Junta de Richmond, no tocante à vinda de novos missionários, sendo declara
dos nestes pedidos o lugar e o trabalho para os quais deverão ser destinados,
podendo esta mesma comissão executiva encarregar-se de quaisquer outros
negócios que a Convenção lhe queira entregar.
9. Este convênio durará pelo tempo de 10 (dez) anos.26
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo 110 Brasil
Os m eto d istas
“0 Granbery” volta a ser administrado diretamente pela Junta de Missões
Durante a Primeira Guerra M undial, em circunstâncias que considerou bastante
críticas, a Junta insistiu em nomear o presidente do Colégio Granbery pelo espaço de
cinco anos. Frente a essa intromissão, a diretoria simplesmente abriu mão dos seus
direitos e responsabilidades para com o educandário, entregando toda a responsabili
dade à Junta em Nashville. Foi o clímax de uma série de interferências e decisões
arbitrárias da parte da Junta, que mostram o grau de controle exercido por ela e os
conflitos resultantes dessa situação,
( 8? ) DOCUMENTO: “O G ranbery’’
Os abaixo-assinados, representantes da conferência anual na diretoria d’0
Granbery pedem licença para trazer ao conhecimento da conferência, que, numa
reunião da dita diretoria na cidade do Rio de Janeiro no mês de fevereiro, em
que foi-lhe apresentado pelo presidente um pedido da comissão executiva da
Junta de Missões, Nashville, Tenn., de que a diretoria entrasse num acordo
com a Junta, pelo qual a Junta poderia contratar nos Estados Unidos um presi
dente para O Granbery por um prazo de cinco anos e a diretoria se comprome
tesse a apoiar e ajudar o dito presidente na sua administração do instituto, foi
apresentada a seguinte resolução:
1. que os membros da diretoria d’0 Granbery são somente os representan
tes e servos da Junta de Missões e da Conferência Anual Brasileira;
2. que todos os direitos e poderes que a dita diretoria possa ter perante o
governo e as leis brasileiras, ela possui pelo consentimento e autorização das
duas ditas corporaçães;
3. que, quanto ao sucesso e triunfo d’0 Granbery, é necessário que haja da
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
Artigo IX
Da Revisão C onstitucional
1 - Esta Constituição e qualquer das restrições opostas aos plenos poderes
do Concilio Geral, exceto a primeira, dos Artigos de Fé, poderão ser mudadas,
se houver, para este efeito, recomendação de dois terços dos membros presen
tes de todos os Concílios Regionais e voto favorável da maioria do Concilio
Geral, ou recomendação da maioria do Concilio Geral e voto favorável de dois
terços dos membros presentes de todos os Concílios Regionais.
2 —A primeira restrição oposta aos plenos poderes do Concilio Geral, dos
Artigos de Fé, poderá ser mudada se houver, para este efeito, recomendação de
três quartos dos membros presentes de todos os Concílios Regionais e voto
favorável de dois terços dos membros presentes do Concilio Geral, ou reco
mendação de dois terços dos membros presentes do Concilio Geral e voto fa
vorável de três quartos dos membros presentes de todos os Concílios Regio
nais.
(...)
[Assinado pelo bispo Mouzon e os secretários.]
Considerando que a Comissão Conjunta deu todos os passos necessários
para a convocação do Concilio Geral da Igreja Metodista do Brasil e convocou
o mesmo para a cidade de São Paulo em dois de setembro do ano de Nosso
Senhor Jesus Cristo de 1930.
Nós os membros da Comissão Conjunta, rendendo graças a Deus por sua
direção e pelo espírito de cooperação que reinou em nossas deliberações, decla
ramos aberto o primeiro Concilio Geral da Igreja Metodista do Brasil e decla
ramos que os membros e ministros da Igreja Metodista Episcopal do Sul, no
Brasil, passam por este ato a ser membros e ministros da Igreja Metodista do
Brasil; que a Igreja Metodista Episcopal do Sul deixa de existir no Brasil, e que
a Igreja Autônoma por esta proclamação fica constituída.
Cidade de São Paulo, 2 de setembro de 1930.
[Seguem as assinaturas de todos os vinte membros da comissão.]
Sessão solene da proclamação e promulgação da Constituição
da Igreja Metodista do Brasil
Às 19 horas e meia, do dia 2 de setembro de 1930, no salão de cultos da
Igreja Metodista Central de Sáo Paulo, a Comissão Constituinte reuniu-se sob
a presidência do Revmo. Bispo Edwin D. Mouzon. Acompanhado dos Revs.
César Dacorso Filho e Epaminondas Moura o Bispo Mouzon subiu ao púlpito
e leu a proclamação e Constituição da Igreja Metodista do Brasil, depois de
chamado o rol e declarada aberta a Ia sessão do Concilio Geral do Brasil.
O Bispo chamou ao púlpito o Rev. Guaracy Silveira, indicado por votos dos
196
w
Perí Machado propõe e é aceito que se envie uma comissão composta de seis
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
Os lu tera n o s
Introdução
Algo da complexidade da história eclesiástica alemã é refletido no processo de
amadurecimento das igrejas alemãs no Brasil. Alguns dos pontos mais salientes desta
história devem ser lembrados aqui38 para a orientação do leitor. Primeiro, deve-se ter
em mente que a Reforma de Lutero nunca logrou conquistar todo o território alemão,
nem as forças da contra-Reforma conseguiram reconquistá-lo todo. A paz religiosa de
Augsburgo (1555) reconheceu esse fato pelo princípio cu ju s regio, eju s religio, ou seja,
a religião do príncipe, quer luterana, quer católica, seria a religião do respectivo prin
cipado (não da nação alemã como um todo). Doravante, então, haveria estados ofici
almente católicos, outros oficialmente luteranos. Essa solução, embora importante,
não levou em consideração os reformados, cujo maior símbolo doutrinário é a Con
fissão de Heidelberg, importante credo calvinista. Somente pelo Tratado de Westfália
(1648) após a devastadora Guerra dos Trinta Anos que dizimou a população alemã, é
que os reformados foram reconhecidos oficialmente.
H avia, então, na Alemanha, uma variedade religiosa muito mais rica do que
comumente sé pensa. Além das três religiões oficiais, mais dois fatores devem ser
igualmente mencionados como pertinentes.39
1) O p ietism o. Depois de Westfália, seguiu-se um período de controvérsia teológica
entre luteranos e calvinistas e ainda a estéril escolástica luterana. Esta situação propor
cionou o palco para o surgimento do pietismo, que propunha uma “religião do cora
ção” para substituir a “da cabeça” representada pela religião oficial. Basicamente, o
pietismo não significou a criação de uma outra denominação, senão uma nova fer
mentação dentro do luteranismo.40
2) A União de 1817. Na Alemanha, a religião nunca tinha ficado alheia à política.
Em 1817, o rei da Prússia forçou a união dos luteranos e reformados dentro do seu
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
Agradecendo a Deus, olhamos hoje para trás aos anos de nossa comunhão.
Foi a nossa intenção servir os nossos compatrícios e companheiros de fé, provê-
los de obreiros (pastores), promover a sua união em comunidades e sínodos e
proporcionar-lhes a possibilidade para o pleno desenvolvimento de todas as
suas forças espirituais (...)
Deus, o Senhor, abençoou esse trabalho. O crescimento nas comunidades
desdobrou-se de maneira sempre mais rica, e o vínculo da confiança entre elas
e a Igreja-mãe tomou-se sempre mais firme (...)
De novo está sendo atado agora o vínculo eclesiástico entre eles e a pátria do
povo do qual descendem, desta vez numa forma nova, conforme a nova situa
ção. Como comunhão eclesiástica unida, o Sínodo filia-se à Federação Alemã
das Igrejas Evangélicas... Também no futuro pastores da nossa Igreja sairão
para servir as comunidades do Sínodo; o nosso seminário para a diáspora abrirá
as suas portas para aqueles que querem preparar-se para pregar o Evangelho a
comunidades evangélicas alemãs no exterior; as nossas comunidades lembrar-
se-ão dos companheiros de fé que estão distantes, intercedendo por eles diante
de Deus em suas orações (...)
Em vista do futuro admoestamos as comunidades a permanecerem firmes
na confissão evangélica e à perseverança na comunhão com a Igreja da pátria
alemã (...)44
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Crescimento e Amadurecimento { 1889-1964)
“Igreja Luterana no Brasil” (1946), que contava então com 31 pastores, 146 com uni
dades e 90.210 fiéis. Os documentos exibidos abaixo revelam as ligações desse grupo
com as “Caixas de Deus” na Alemanha, sua ênfase doutrinária, e algo das diferenças e
conflitos havidos com as outras comunidades protestantes de origem germânica.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
m aioria dos imigrantes alemães ter se radicado nos estados do Sul, também nestes
estados se organizaram os respectivos sínodos mais cedo. O último Sínodo a ser fun
dado foi o do Brasil Central, em 1912. Antes de um a congregação se tornar membro
do Sínodo, era-lhe necessário filiar-se à superintendência evangélica de Berlim.
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
tica em comum.
2 - A Federação protege, favorece e auxilia instituições que se revestem de
interesse e importância comuns às associadas, tais como: a Ordem Auxiliadora
das Senhoras, a Juventude Evangélica e os trabalhos da Missão Externa e Inter
na (evangelização, distribuição de impressos etc.). Merecerão sua especial pro
teção e auxílio os estabelecimentos fundados e dirigidos pela Igreja Evangélica
no Rio Grande do Sul, que constituem instituições para o aprendizado e for
mação de pastores, professores, diáconos e diaconisas.
3 - A Federação pode externar sugestões com referência aos princípios que
constituem a ordem fundamental dos seus membros, à administração financei
ra e aos levantamentos estatísticos dos mesmos.
Poderá, ainda, estabelecer diretrizes para a formação científica e prática dos
pastores, professores, diáconos e diaconisas, e criar instituições em garantia de
sua situação jurídica, bem como de provisão econômica durante o tempo de
atividade e aposentação dos mesmos.
4 —A Federação Sinodal representa e defende os interesses eclesiásticos co
muns perante outras entidades, e em especial perante os órgãos do governo
federal, a Confederação Evangélica do Brasil, a Igreja-mãe e as agremiações
ecumênicas.
5 —Os membros da Federação podem, com aprovação do conselho diretor
desta, entregar-lhe a execução de determinadas tarefas, ou confiar-lhe a decisão
em assuntos de sua própria competência.
6 - No cumprimento de suas finalidades pode a Federação:
a) publicar manifestos, convocar os seus membros, na pessoa dos órgãos
dirigentes, para reuniões, e pedir aos mesmos informações e pareceres;
b) fixar contribuições para a execução de tarefas eclesiásticas comuns a seus
membros, prescrever coletas nas igrejas, bem como recomendar coletas a do
micílio para obras que sirvam aos objetivos da Federação e correspondam ao
interesse das igrejas congregadas.51
(TÕT) DOCUMENTO: D ohm s fa la do sign ifica d o dos p rim eiro s dois a rtigos dos
estatutos da F ederação:
“As teses do pastor Hermann Dohms” (1950)
Io A Federação Sinodal é Igreja de Jesus Cristo no Brasil com todas as con
seqüências que daí resultarem para a pregação do Evangelho neste país e a co-
responsabilidade para a formação da vida política, cultural e econômica de seu
povo.
2o Esta Igreja é confessionalm ente determ inada pela Confissão de Augsburgo
e o Pequeno Catecismo de Luther, pertencente à família das igrejas moldadas
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
O s ep isc o p a is
A Convocação Episcopal de 1898
O s missionários episcopais Morris e Kinsolving chegaram ao Brasil em 1889 e
iniciaram cultos em português no ano seguinte. Já em 1891, a pequena Igreja
Presbiteriana da cidade do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, foi cedida à missão
episcopal. O relacionamento formal entre a missão e a Igreja Episcopal dos Estados
Unidos foi explicitado na convocação especial realizada na Capela do Bom Pastor, em
Porto Alegre, no dia 30 de maio de 1898. A Convocação aceitou, em princípio, o
“pacto” que governava o relacionamento entre os episcopais do H aiti e os da América
do Norte, ao qual se acrescentou o privilégio de indicar bispos para a Igreja brasileira.
Logo a seguir elegeu a Lucien Lee Kinsolving, o qual se tornou o primeiro bispo
residente da Igreja Episcopal Brasileira. O documento abaixo, e ainda os quatro sub
seqüentes, explicitam a grande importância do episcopado nacional no processo da
nacionalização desta Igreja.
212
i
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
Igreja nestes Estados Unidos até que a Igreja em Haiti chegue ao estado de
poder sustentar-se a si mesma; e à suficiência no seu bispado para a administra
ção de seus próprios negócios, conforme os requisitos dos antigos cânones e
dos primitivos costumes da Igreja de Cristo.
Art. 2o A Câmara dos Bispos agindo conforme o dito art. 10 da Constitui
ção da IPE-EUA, aproveitando-se da concessão feita a eles pela IPE-Haiti na
estipulação contida no seguinte art. 5o deste convênio, designará e consagrará
para ofício de bispo, um dos clérigos da dita Igreja de Haiti, (fazendo escolha
de uma pessoa conforme lhe parecer melhor no seu juízo piedoso quanto à
aptidão e qualificações desta pessoa para tão alta e santa vocação).
Art. 3o A dita Câmara dos Bispos além disso determina nomear dentre seus
próprios membros uma comissão de quatro bispos, com a qual os ditos bispos
ou bispos a ser consagrados para a Igreja em Haiti estarão associados, e esta
comissão formará uma mesa temporária de administração para o governo epis
copal para a Igreja em Haiti, e como tal uma maioria da mesma será competen
te para dar os passos para a designação e consagração dum futuro bispo em
Haiti, como a necessidade o exigir, a pedido da Convocação da Igreja naquela
república; a dita mesa temporária de administração ficará além disso com po
deres para administrar toda a disciplina concernente à ordem episcopal do
ministério para a Igreja em Haiti, até que ao menos três bispos tenham sido
designados, consagrados, e canonicamente estabelecidos na dita Igreja. Fica
entendido que esta comissão dos bispos será governada, no exercício de sua
administração, julgamentos e atos, pelas provisões contidas na Constituição e
cânones da IPE-EUA, enquanto as mesmas forem aplicáveis às circunstâncias
divergentes da Igreja em Haiti.
Art. 4o A IPE-Haiti por sua parte concorda em guardar sempre em todas as
suas coisas essenciais uma conformidade com as doutrinas, cultos, e disciplina
da IPE-EUA como se acham nos estandartes devidamente autorizados da dita
Igreja, e em não se afastar deles mais do que as circunstâncias locais tornarem
necessárias.
Art. 5o A IPE-Haiti concorda em conceder à Câmara dos Bispos da IPE-
EUA a escolha de seu primeiro bispo a ser consagrado e depois disto conceder
a mesma prerrogativa a uma maioria da comissão de bispos que formam a mesa
temporária da administração, para escolher ou designar, dentre os clérigos
haitianos, a pedido da Convocação do Haiti, os futuros bispos. E esta prerroga
tiva continuará até que na providência de Deus três bispos sejam canonicamente
residentes, exercendo jurisdição na Igreja de Haiti. Então esta prerrogativa ces
sará da parte da dita comissão e todas as suas funções reverterão àqueles três
bispos assim estabelecidos em Haiti. Em testemunho de que estas atas foram
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
Athalício Theodoro Pithan, prim eiro bispo brasileiro da Igreja Episcopal (1940)
No 42° Concilio da Igreja Episcopal Brasileira, denominado o “Concilio Jubi-
lar”,63 foi eleito Athalício Pithan como o primeiro bispo brasileiro, importante passo
em direção à maturidade e eventual autonomia da Igreja. Formado pelo Seminário
Teológico da Igreja Episcopal Brasileira, bacharel em direito pela Universidade de La
Salle, nos Estados Unidos da América e doutor em teologia honoris causa pelo Semi
nário de Virgínia, o Dr. Pithan foi sagrado no dia 21 de abril de 1940.
216
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
217
História Documental do Protestantismo no Brasil
Artigo V —Do Sínodo. O Sínodo reunir-se-á cada três anos, para tratar de
todos os assuntos referentes às atividades e progresso da Igreja.
(...)
Artigo X —Do Suplemento Legal. Como suplemento legal desta constituição,
a Igreja Episcopal Brasileira aceita e adota a Constituição e cânones da Igreja
Protestante Episcopal nos Estados Unidos da América, no que forem aplicáveis
às nossas circunstâncias e necessidades.
(...)
Canon 2 —Do Conselho N acional
Sec. Ia —O Conselho Nacional da Igreja Episcopal Brasileira compor-se-á:
a) do bispo de cada diocese ou distrito missionário;
b) de um presbítero e de um delegado leigo de cada diocese, eleitos pelos
respectivos concílios;
c) de um delegado eleito pelo Sínodo;
d) de secretário-executivo nomeado pela Igreja-mãe.
Sec. 2a - O Conselho Nacional reunir-se-á, pelo menos, duas vezes ao ano.
(...)
Sec. 7a —São atribuições do Conselho Nacional:
a) orientar e superintender as instituições gerais da Igreja;
b) desenvolver e dirigir a instrução e educação religiosa da Igreja;
c) fixar as cotas de cada diocese ou distrito missionário, para a manutenção
do trabalho geral;
d) delinear as campanhas de evangelização e contribuições para o sustento
da Igreja;
e) organizar o orçamento geral anual da Igreja;
f) promover o que for aconselhável a bem da unidade, o progresso e a esta
bilidade da Igreja em geral.
(...)
Sec. 12a- O Conselho Nacional elegerá, por indicação do departamento de
instituições gerais, as juntas administrativas, em sua primeira reunião após o
Sínodo.
Sec. 13a - Incumbe ao Departamento de Educação Religiosa o preparo, a
impressão, e a distribuição, entre as dioceses, de trabalhos recomendáveis sobre
a instrução e educação religiosa em geral.
Sec. 14a - Cabe à Comissão de Finanças a organização do orçamento geral
anual da Igreja e a distribuição das cotas às dioceses.
Sec. 15a - Compete ao Departamento de Propagação delinear as campa
nhas evangelísticas e financeiras.
Sec. 16a - Correspondem ao Departamento de Assistência Social as suges-
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
tões, estudos e iniciativas que visem uma ação ampla da Igreja, no meio social.
Sec. 17a —A fim de desempenharem seus encargos, terão os vários departa
mentos e comissões verbas especiais, votadas pelo Conselho Geral.
(...)
Canon 3 —Das Instituições Gerais
Sec. Ia - São consideradas instituições gerais ou interdiocesanas da Igreja
Episcopal Brasileira:
a) o Seminário Teológico, situado em Porto Alegre...
b) o Colégio Cruzeiro do Sul, também situado em Porto Alegre, e cujo fim
é proporcionar, de preferência aos filhos de eclesianos, a instrução e educação
geral, sob a influência do Evangelho e particularmente dos ensinos da Igreja;
c) o Ginásio Santa Margarida, situado em Pelotas...
d) O “Estandarte Cristão”, periódico que tem por fim estreitar os laços de
fraternidade cristã entre as dioceses e exercer o ministério da pregação por meio
da Palavra escrita.
(...)
Canon 5 —Da Comissão Litúrgica
Sec. 2a —Serão atribuições da Comissão Litúrgica:
a) fiscalizar a impressão do Livro de Oração Comum;
b) coletar e coligir todo o material que seja de interesse para futuras revisões
do Livro de Oração Comum;
c) preparar e publicar ofícios para ocasiões especiais, que poderão ser usados
em todas as dioceses ou distritos missionários, sob a autorização de seus respec
tivos bispos.66
219
História Documental do Protestantismo no Brasil
Os c o n g re g a c io n a is
Desde a fundação de sua primeira igreja no Rio de Janeiro (1858), o povo de
Robert Kalley gozou de autonomia. Mas, se não teve que lutar pela autonomia, teve
de buscar longamente sua identidade denominacional. No documento abaixo, Ismael
da Silva Junior descreve a busca do nome denominacional, esboçando, ao mesmo
tempo, a história da Igreja. Curiosamente, a questão do nome mereceu atenção já nos
primeiros cinco anos da vida da Igreja, pois tornou-se conveniente m udar o nome de
“Igreja Evangélica” para “Igreja Evangélica Fluminense” para se evitar confusão com a
Igreja de Simonton, fundada no Rio de Janeiro em 1862. Kalley e seus cooperadores
fundaram diversas outras igrejas congregacionais ao longo dos anos.
Entretanto, outras associações sediadas na Grã-Bretanha encetaram missões na
América do Sul, tais como: H elp fo r B r a z il (fundada em 1892, por iniciativa de Sarah
Poulton Kalley e outros), S outh A m erican E va n gelical M ission (com trabalho na Argen
220
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
tina) e R egions B eyon d M ission a ry U nion (com missão no Peru). Desapontados com a
exclusão da América Latina na conferência de Edimburgo, 1910 (does. 124 e 125),
líderes evangélicos da Inglaterra, formaram, das missões acima mencionadas, a União
Evangélica Sul-americana (1911), para estimular a obra evangélica e canalizar recursos
para a América do Sul. Dos esforços dessa União veio à existência no Brasil a Igreja
Cristã Evangélica. Esta se uniu com os Congregacionais em 1942, perfazendo uma
união que durou até 1969. Houve nova separação em 1 969; a antiga ala congregacional
assumiu o nome de União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil; a outra
ala ainda dividiu-se em duas, a Igreja Cristã Evangélica no Brasil e a Igreja Cristã
Evangélica do Brasil, com sedes, respectivamente, em Anápolis, Goiás, e em São Pau
lo.
221
História Documental do Protestantismo no Brasii
esse vocábulo devia aparecer no referido nome para determinar apenas a forma
de governo que era adotada pelas igrejas da nova União, que nada tinham a ver
com as igrejas estrangeiras que batizavam crianças e eram modernistas, às quais
elas nunca se uniriam. Depois de muita discussão, foi adotado o seguinte nome:
Primeira Convenção das Igrejas Evangélicas Indenominacionais, que não agra
dou a um número considerável de irmãos. O Cristão, de 15 de março de 1916,
publicou a seguinte nota editorial, à página 50: “A palavra indenominacional
quer dizer o que não tem denominação; mas isso, quanto a nós, é um absurdo.
Nós somos uma denominação, porque adotamos um certo padrão de doutri
nas, que nos distinguem das demais igrejas irmãs; temos uma forma de gover
no que também nos separa das outras denominações e formamos para aí mais
de vinte igrejas locais e algumas bem numerosas. E como é que não somos uma
denominação? Não o nome que nos assenta, o nome que nos pertence, o nome
que consagramos pela nossa forma de governo é o congregacionalismo, muito
embora não o entendam assim alguns irmãos que têm a veleidade de quererem
estar fora dos princípios denominacionais que seguem o cristianismo reforma
do, do qual somos parte integrante e do que muito nos sentimos desvanecidos.
Que venham, pois, os delegados, que pensem, peçam a direção do Senhor e
decidam com os sãos princípios de independência de caráter que deve ser o
apanágio de toda a família evangélica”. Convém esclarecer que o nome em
foco foi aprovado na Primeira Convenção Geral, em julho de 1913. Agora, está
próxima a Segunda Convenção Geral, que foi realizada no templo da Igreja
Evangélica de Niterói, nos dias 22 a 26 de março de 1916. Daí a publicação do
referido editorial. Depois de muita discussão, foi aprovado um novo nome
para a União: Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais Brasileiras e
Portuguesas. Justifica-se o aparecimento desta última palavra —portuguesas —
por causa da inclusão da Igreja Evangélica Lisbonense, organizada em 12 de
julho de 1908, sob os auspícios da Sociedade de Evangelização do Rio de Janei
ro, hoje Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal, por intermédio do Rev.
João Manoel Gonçalves dos Santos, seu presidente, que esteve em Lisboa, Por
tugal, para esse fim (o Rev. Santos era o pastor da Igreja Evangélica Fluminense,
onde foi fundada a referida Sociedade, em 8 de novembro de 1890). Esse novo
nome, entretanto, desgostou a diversos irmãos, que ficaram profundamente
tristes com a inclusão nele da palavra congregacionais. A Junta Geral, como
medida de prudência, resolveu não adotá-lo oficialmente. Justificando sua re
solução, publicou em O Cristão, à página 74, a seguinte nota: “Por amor à paz
e por querer a Junta evitar, por todos os meios e modos, qualquer desinteligência
entre os membros da Aliança, sabendo que alguns irmãos se mostraram contra
riados com o nome congregacionais, aprovado no primeiro artigo dos nossos
222
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
estatutos..., resolveu não usar o dito nome, até à próxima convenção, que de
cidirá, definitivamente, o assunto”. Em maio de 1919, por ocasião da Terceira
Convenção Geral, realizada no templo da Igreja Evangélica Fluminense (agora
à rua Camerino, 102), nos dias 7 a 11, com representantes do Brasil e Portugal,
foi aprovado este novo nome: União das Igrejas Evangélicas que aceitam a Bre
ve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo, recebidas pela Igreja
Evangélica Fluminense.70 Esse nome, aliás bastante comprido, só foi usado até
a Quarta Convenção Geral, levada a efeito na Igreja Evangélica Fluminense, a
1 a 6 de maio de 1921, quando foi substituída por este: União das Igrejas
Evangélicas Congregacionais do Brasil e Portugal. Na seguinte convenção ge
ral, foi esse nome mudado para: União das Igrejas Evangélicas Independentes.
Essa convenção foi realizada no templo da Igreja Evangélica do Encantado, à
rua Clarimundo de Melo, 50, dos dias 6 a 13 de maio de 1923. Pouco mais de
dez meses figurou esse nome nos nossos anais. Em 20 de março de 1924, sob o
título: Comunicação Importante, assinado pelo Dr. Henrique de Souza Jar
dim, Io secretário da Junta Geral, O Cristão publicou o seguinte: “Tendo a
Junta recebido a resposta da grande maioria das nossas igrejas, aceitando o
nome proposto pela Igreja Evangélica Fluminense, para a nossa união de igre
jas: União Evangélica Congregacional Brasileira, a referida Junta, em sua reu
nião de 20 de março de 1924, resolveu, assim autorizada, adotar o novo nome,
oficialmente, para todos os efeitos”. De 24 a 31 de maio de 1925, esteve reuni
da na Igreja Evangélica Santista, à rua Brás Cubas, 256, Santos, S. Paulo, a
Sexta Convenção Geral, que resolveu mudar, novamente, o nome da uniao
que passou a chamar-se: União Evangélica Congregacional do Brasil e Portu
gal. Esse nome foi conservado durante nove anos. Em maio de 1934, esteve
reunida a Décima Convenção Geral, de 20 a 27, na Igreja Evangélica de Passa
Três, no Estado do Rio de Janeiro. Por haver sido fundada a União de Igrejas
no Nordeste, e por não querer a Décima Convenção Geral perder a cooperação
das igrejas nordestinas, foi aprovada a idéia da organização de uma federação,
composta de três uniões, a do Norte, a do Sul e a de Portugal, e mais a Missão
Evangelizadora do Brasil e Portugal, cujo nome completo era: Federação Evan
gélica Congregacional do Brasil e de Portugal. Infelizmente, essa Federação
teve vida efêmera. Por haver falhado o plano das uniões, o primeiro congresso
dessa Federação, realizado na Igreja Evangélica Fluminense, reunido nos dias
20 a 27 de junho de 1937, resolveu readotar o nome que fora aprovado na
Décima Convenção Geral: União Evangélica Congregacional do Brasil e Por
tugal. Em junho de 1940, dias 23 a 30, reuniu-se a Décima Segunda Conven
ção Geral, na Igreja Evangélica Fluminense. Para continuar a contar com a
cooperação dos irmãos nordestinos, e para deixar uma porta aberta para uma
223
História Documental do Protestantismo no Brasil
possível fusão nossa com a Igreja Cristã Evangélica do Brasil e outras igrejas, a
Convenção determinou que a Junta Geral, depois de consultas indispensáveis,
adotasse um destes dois nomes, sugeridos pelos irmãos do Nordeste —União
das Igrejas Cristãs do Brasil (Governo Congregacional) ou União das Igrejas
Evangélicas do Brasil (Governo Congregacional). A Junta Geral, cumprindo
essa determinação convencional, resolveu, na sessão de 11 de março de 1941,
adotar o seguinte nome: União das Igrejas Evangélicas do Brasil (Governo
Congregacional). Esse nome, convém esclarecer, não agradou a diversos ir
mãos, que só o aceitaram por amor à paz denominacional. Depois dos entendi
mentos que a nossa Sociedade (congregacional) teve com a outra (Igreja Cristã
Evangélica), chegou-se à conclusão que o nome a ser adotado depois de feita a
fusão de ambas as alas, era: União das Igrejas Congregacionais e Cristãs do
Brasil. Com efeito, em Santos, S. Paulo, na Igreja Evangélica Santista, reuni-
ram-se os representantes da Décima Terceira Convenção Geral e do Concilio
da Igreja Cristã Evangélica do Brasil, nos dias 21 e 22 de junho de 1942, que,
depois dos estudos necessários, encerraram as suas atividades, surgindo uma
nova entidade denominacional, fusão das duas, que recebeu o nome acima:
União das Igrejas Congregacionais e Cristãs do Brasil. Coube ao Rev. Rodolfo
Anders, secretário-geral da Confederação Evangélica do Brasil, na noite me
morável de 22 de junho de 1942, autorizado pelas duas entidades que se uni
ram, proclamar oficialmente a referida união, em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo.71
2 24
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
225
História Documental do Protestantismo no Brasil
1899),75 bem como por tratados escritos pelos ex-padres brasileiros que se tornaram
pregadores protestantes (como José Manoel da Conceição, presbiteriano; Antônio
Teixeira de Albuquerque, batista; Hipólito de Campos, metodista e outros).
3) Houve campanhas, às vezes sutis, para desacreditar a obra missionária e os mis
sionários protestantes, visando dificultar senão impossibilitar a vinda de missionários
norte-americanos. Contra essas campanhas, os protestantes se defenderam (geralmen
te através da Confederação Evangélica do Brasil) e não foi pequeno o número de
brasileiros, nem sempre membros de igrejas protestantes, mas apreciadores da obra
protestante nas suas dimensões educativa e social, dispostos a quebrar lanças em defe
sa dos evangélicos.
4) O clim a de oposição católica estimulou a criação de mecanismos de defesa
protestantes. Talvez os mais importantes destes foram uma maior aproximação entre
protestantes, como indivíduos e denominações, no afã de se conseguir um a entidade
que falasse em nome do protestantismo nacional, e a consecução nos diferentes níveis
do governo de vozes que poderiam se levantar em protesto contra os abusos mencio
nados acim a e ganhar vantagens para os protestantes, bem como ser um a influência
moralizante no governo e na sociedade brasileira. Havia, no entanto, uma certa relu
tância do protestante em adentrar nos círculos poluídos da política, e, ao mesmo
tempo, uma insistência em que o leigo se tornasse eleitor e votasse naqueles que favo
reciam a liberdade religiosa, educação leiga e liberdade de pensamento e de expressão.
Liberdade d e cu lto ( 1 8 9 0 )
O Governo Provisório não perdeu tempo em estabelecer a liberdade de culto no
Brasil, pelo decreto n° 119-A, transcrito abaixo.
226
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
exercerem o seu culto, regerem-se segundo sua fé e não serem contrariados nos
atos particulares ou públicos, que interessem o exercício deste decreto.
Art. 3o - A liberdade aqui instituída abrange não só os indivíduos nos atos
individuais, senão também as igrejas, associações e institutos em que se acha
rem agremiados; cabendo a todos o pleno direito de se constituírem e viverem
coletivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do po
der público.
Art. 4o —Fica extinto o padroado com todas as suas instituições, recursos e
prerrogativas.
Art. 5o —A todas as igrejas e confissões religiosas se reconhece a personalida
de jurídica, para adquirirem bens e os administrarem, sob os limites postos
pelas leis concernentes à propriedade do mão-morta, mantendo-se cada uma o
domínio de seus haveres atuais, bem como dos seus edifícios de culto.
Art. 6o - O governo federal continua a prover à côngrua, sustentação dos
atuais serventuários do culto católico e subvencionará por um ano as cadeiras
dos seminários; ficando livre a cada Estado o arbítrio de manter os futuros
ministros desse ou de outro culto, sem contravenção do disposto nos artigos
antecedentes.
Art. 7o —Revogam-se as disposições em contrário.76
227
História Documental do Protestantismo no Brasil
228
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
229
História Documental do Protestantismo no Brasil
boas obras, de valor moral e social, trabalham pelos direitos iguais e justiça
completa para todos os homens e todas as camadas sociais; pela proteção à
família exigindo-se o mesmo grau e pureza tanto para os homens como para as
mulheres, leis uniformes sobre o divórcio, regulamentação apropriada sobre os
casamentos e habitações convenientes para famílias; pelo desenvolvimento o
mais completo possível da criança, especialmente pela instrução e recreação
apropriadas; pela abolição do trabalho operário de crianças; pela regulamenta
ção das condições de trabalho para mulheres, de modo que seja salvaguardada
a saúde física e moral da sociedade; pelo esforço a fim de minorar e prevenir o
desenvolvimento da pobreza etc.82
2 30
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
O v o t o c o m o arma cristã
De acordo com a Constituição de 1891, brasileiros adultos natos ou naturalizados,
do sexo masculino, menos os mendigos, analfabetos, praças de p r e t e membros de
ordens religiosas, votavam. Vale dizer que menos de 10 % da população podia votar,
uma vez que a taxa e analfabetismo atingia aproximadamente 80% , e mulheres não
votavam.84 No artigo abaixo, Júlio C. Nogueira prevê a possibilidade de uma positiva
influência evangélica na nova Constituição, por meio do seu voto, além de frustrar os
desígnios a hierarquia.85
231
História Documental do Protestantismo no Brasil
ultramontano do clero, não estaremos nesta hora sendo chamados para, com o
nosso voto esclarecido, ajudarmos no melhoramento de nossa pátria, pela ado
ção de uma Constituição verdadeiramente liberal, progressista e portanto cris
tã no seu espírito? Cremos que a resposta só pode ser positiva e dela decorre o
dever, portanto, de todos os crentes que possam fazerem-se eleitos e votarem
para a constituinte, em cidadãos que pugnem pelos princípios de plena liber
dade de cultos, da laicidade do ensino, da livre manifestação do pensamento,
da igualdade, enfim, de todos os cidadãos perante a lei.86
R e sp o sta s às a c u s a ç õ e s d e D. A n t ô n i o d o s S a n t o s C ab ra l, a r c e b is p o de
B elo H orizo n te
A hierarquia católica não conseguiu convencer o país a oficializar novamente o
catolicismo. Em 1941, o arcebispo de Belo Horizonte tentou convencer o governo
norte-americano de que o envio de missionários protestantes era contraproducente,
pois despertava “antipatia e reservas para com os Estados Unidos”. Através da Confe
deração Evangélica do Brasil, o órgão que falava em nome dos seus membros em tais
casos, uma longa carta foi endereçada a Jefferson Caffery, Embaixador dos Estados
Unidos. O documento que segue é um excerto da carta, datada de 15 de junho de
1942.
2 33
História Documental do Protestantismo no Brasii
ECUM EN ISM O
Introdução
Uma compreensão do desenrolar do ecumenismo89 no Brasil pressupõe um co
nhecimento do tipo de protestantismo que veio para cá principalmente da América
do N orte — o cristianism o como estrutura “denom inacional”. A raiz da teoria
denominacional está na recusa dos reformadores em identificar a Igreja como qual
quer instituição eclesiástica, pois para eles “a verdadeira sucessão é uma sucessão de
crentes, e a verdadeira unidade é aquela achada onde quer que se despertar a fé”.
Depois, os teólogos da Assembléia de Westminst-er, não podendo chegar a um acordo
sobre a forma ideal da Igreja da Inglaterra, elaboraram os princípios da teoria
denominacional. (1) Nem entre os apóstolos havia perfeito consenso sobre a estrutura
eclesiástica; inevitavelmente a diferença de opinião continuaria. (2) Uma vez que cada
cristão tem que obedecer sua própria consciência, tais diferenças não são desprezíveis.
(3) Das diferenças pode surgir discussão e daí uma apreensão mais plena da verdade.
(4) Nenhuma Igreja tem a absoluta compreensão da verdade divina; daí, a Igreja de
Cristo não poder se lim itar a uma única estrutura eclesiástica. (5) Portanto, a unidade
que de fato existe entre pessoas piedosas deve ser reconhecida, apesar das diferenças
que também há entre elas. (6) Separação só constitui cisma quando o rompimento for
“descaridoso, injusto, impensado e violento”. O mesmo espírito de Westminster se
expressou no Grande Despertamento nos Estados Unidos da América. GilbertTennant
(1703-1764), por exemplo, dizia “todas as sociedades que professam o cristianismo e
conservam os seus princípios fundamentais, quaisquer que sejam as suas diferentes
denominações e diversidade de sentimentos em coisas menores, são na realidade ape-
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
nas uma Igreja de Cristo, apenas diversos ramos... do único reino visível do Messias”.
W inthrop Hudson percebe a unidade da história eclesiástica americana exatamente
no fenômeno da denominação, que produziu um “protestantismo americano” até fins
do século XVIII e formou uma “América protestante durante o século XIX”.90
No século XX, nasceu o movimento ecumênico, cujo conceito da unidade essenci
al colocou em cheque o conceito denominacional. O cristianismo vinha afirmando
sua unidade como artigo de fé desde o fim do segundo século (“creio na santa Igreja
Católica...”); agora, procurava torná-la visível “paraqueo mundo creia...” (João 17.21).
Divisões passaram a ser encaradas como escândalo, pois dificultavam a chegada de
pecadores a Cristo. Pronunciava-se o fim do cristianismo denominacional (mas o
moribundo tem demonstrado uma impressionante teimosia, recusando-se a se tornar
cadáver) e os pensadores perguntaram seriamente o que suas respectivas denomina
ções poderiam legar à “grande Igreja” que deveria nascer.
O impulso do espírito ecumênico, qual w eltgeist, reforçou duas importantes carac
terísticas inerentes à missão protestante conjunta no Brasil:
1) A herança comum: teologia fortemente calvinista de origem, porém modificada
na direção do arminianismo; ênfase evangelística centrada em conversão individual,
preferivelmente numa p r o tra cte d m eetin g, uma orientação americana, que pressupu
nha a separação da Igreja e Estado e o sistema denominacional, mas também sulista,
adotando a doutrina da Igreja espiritual.91
2) Oposição ao catolicismo romano, aparentemente um a estrutura monolítica,
contra o que uma frente unida oferecia óbvias vantagens. H á muitas evidências de
que, particularmente na época das conferências do Panamá (1916), Montevidéu (1925)
e Havana (1929), o espírito ecumênico influenciou o protestantismo brasileiro.
D om inou, en tretan to , em solo b rasileiro , o d en o m in acio n alism o , não o
ecumenismo. Não está claro por que assim aconteceu, porém há uma série de fatores
que lançam alguma luz sobre a questão. 1) Nem todas as denominações americanas
aceitaram o ecumenismo: os batistas do Sul, os luteranos do Sínodo de Missouri, as
igrejas pentecostais e as denominações oriundas do movimento da santidade, como os
nazarenos, são os grupos principais,92 que, naturalmente, conservaram a mesma pos
tura no Brasil. 2) Salomão Ferraz, então ministro presbiteriano, via no anticatolicismo
do protestantismo uma fonte de atritos entre protestantes e protestantes.
A amarga recíproca, seguida de ásperas invectivas, entre as várias comunida
des protestantes no Brasil é apenas o mórbido reflexo da atitude de incondici
2 35
História Documental do Protestantismo no Brasil
onal oposição, da parte dos evangélicos, para com os elementos religiosos que
preponderam no país.
Há anos —e disto jamais nos esquecemos —um dos ministros experimenta
dos, um dos mais moderados e judiciosos, que também provara as mais pun
gentes desilusões, dizia-nos que uma das causas das nossas discórdias e lutas
intestinas, esse mútuo desrespeito até entre ministros, era o resultado da nossa
própria sementeira. No ânimo dos nossos, inoculara-se desde cedo, o princípio
de ser virtude e obra meritória o dar batalha devastadora sem tréguas sem can
dura e sem piedade, aos padres; e agora, esse mesmo espírito disciplinado nas
arremetidas furiosas contra o clero, assentava e disparava as armas contra os
próprios companheiros —sem delicadeza, sem cortesia, sem respeito, desuma
namente.93
3) O ditado popular “mais realista do que o rei” lembrava um curioso fenômeno:
o converso freqüentemente se tomava mais ferrenho defensor da fé do que os antigos
adeptos. Para os conversos ao protestantismo no Brasil, lealdade a Cristo significava,
não raro, uma intransigente aceitação de fórmulas e sistemas, a roupagem em que a fé
é recebida, e uma resistência a qualquer modificação destas coisas, por medo de
apostasia. Nos documentos exibidos na presente seção, há diversas referências a dife
renças entre missionários e nacionais, estes defendendo a linha tradicional contra a
aparente “inovação” do ecumenismo.
4) O ecumenismo no Brasil foi muito mais um projeto dos missionários e das
sociedades missionárias do que dos brasileiros, malgrado elementos nacionais da esta
tura de Erasmo Braga. Ao final da Conferência do Rio, realizada logo após o Congres
so do Panamá (1916), diversos participantes fizeram breves declarações. Eis duas de
las:
O rev. J. W. Tarboux declarou-se a favor de uma única Igreja Cristã Evangé
lica no Brasil como ideal pelo qual devemos trabalhar e orar. Enquanto espe
rando e apressando esse ideal todos devem se esforçar pela cooperação de todos
os meios possíveis (...)
O Rev. Eduardo Carlos Pereira expressou dúvidas de que o tempo tenha
chegado para a união orgânica, mas todos devem esforçar-se pela unidade e
solidariedade do cristianismo evangélico. A verdadeira unidade é de espírito e
propósito em meio à diversidade. Ele exortou todos a trabalharem sinceramen
te por uma confederação que pudesse resultar na produção de literatura, um
seminário unido, orfanatos, e congressos religiosos.94
É evidente que, com o crescimento do nacionalismo em determinadas denomina
ções, também ganhava força a rejeição do ecumenismo.95 Durante um a grande parte
236
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
do período em apreço, a maior das igrejas “históricas” pouco contribuiu para a forma
ção da mente protestante do Brasil, pelo fato histórico de ser um a Igreja de im igran
tes, intimam ente ligada ao povo e idiom a alemães. Só depois da Segunda Guerra
M undial é que os luteranos brasileiros começaram a tomar parte efetiva nas organiza
ções interdenominacionais e ecumênicas, inclusive no Conselho M undial de Igrejas.
6) Entrementes, chegavam ao Brasil três categorias de obreiros que entendiam o mo
vimento ecumênico como uma ameaça às verdades cristãs e ao verdadeiro cristianis
mo:
1) grupos pentecostais, mormente da Assembléia de Deus, cuja postura teológica
sempre fora conservadora e antiecumênica;
2) missões de grupos e denominações fundamentalistas, as chamadas “missões de
fé” e “missões não-denominacionais”;
3) a cruzada de Carl M clntire contra o Conselho M undial de Igrejas, taxando-o de
“modernista”; M clntire também atacou o Conselho pelas suas supostas tendências
marxistas e, não menos importante, condenou-o pela sua aproximação com Roma.
Os debates sobre “m o d ern ism o -fu n d am en talism o ” assim fom entados entre
presbiterianos chegaram a criar cisma e, por medo de que outros cismas ocorressem,
contribuíram efetivamente para a indecisão presbiteriana quanto à adesão ao Conse
lho M undial de Igrejas. Em alguns círculos, ecumenismo e apostasia chegaram a ser
quase sinônimos.
D e n o m in ac io n a lism o
Atitudes denominacionais típicas
Os docum entos seguintes ilustram o que W in th ro p H udson (ver tópico
“Ecumenismo - Introdução”) chamou “teoria denominacional da Igreja”.
237
História Documental do Protestantismo no Brasil
lias, cada qual com os seus direitos próprios, característicos próprios e serviços
peculiares. O fato dessa divisão não punha em perigo a unidade a raça ou da
igreja hebraica. Assim entre nós. As denominações são nom es apenas, das famí
lias cristãs —mas todos são “um só povo eleito”, “uma só raça adquirida”, enfim
são cristãos. “Cristão” é uma unidade, é a raça, é o título completo, subdividido
nas tribos presbiterianas, metodistas, batistas etc... O espírito denominacional
não é sectarismo, não é desprezo dos outros, não é vaidade religiosa, não é
desprestígio dos irmãos: é a consciência cristã esclarecida, fiel à Igreja e ao
trabalho onde Jesus o colocou. O espírito denominacional é a abnegação à
Igreja a que se pertence. E o carinho que se deve ter para com o ramo cristão
em que se encontrou a fé. E o civismo cristão posto em prática dentro de seu
círculo religioso... Este “espírito” procura conhecer as causas denominacionais,
os jornais de sua Igreja, o seu progresso, desenvolvimento e avanço. Enfim: o
espírito denominacional é lealdade sincera à Igreja de que se faz parte, para
honra e glória de Deus.96
238
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
Os batistas e o ecumenismo
A seguinte declaração, aprovada pela Convenção Batista Brasileira, em 1918, é
uma clara explicação da posição que lim ita e dificulta a participação batista no movi
mento ecumênico.
239
História Documental do Protestantismo no Brasil
gundo lugar, seu simbolismo é devido, em grande parte, à sua forma como
imersão. A morte, a sepultura e a ressurreição não podem ser representadas
pelo ato, se a forma for mudada... Em terceiro lugar, os maiores eruditos do
mundo concordam que a imersão foi a prática das igrejas do Novo Testamento.
(...)
Sustentando assim que o Batismo é um símbolo, defendemos as realidades
espirituais que são simbolizadas, de serem indentificadas com a forma, e ao
mesmo tempo asseguramos o símbolo contra a tendência humana de converter
cerimônias exteriores em causas espirituais. Observando estes ensinos das Es
crituras, sobre a ordenança do Batismo, e crendo que o Batismo cristão é neces
sário ao acesso à Santa Ceia, não podemos agir de outra maneira a não ser
seguir a ordem divina.
4. A Igreja é uma organização que preserva e dissemina os princípios espiri
tuais que temos traçado. Sua política e ordenanças são expressões formais da
vida espiritual em Cristo. A igualdade dos crentes numa Igreja é o efeito neces
sário da igualdade dos homens perante Deus.
Que cada igreja local é e deve ser independente e governada por si mesma, é
uma verdade inseparável da outra verdade que todo o mundo é diretamente
responsável a Deus. O sacerdócio de todos os crentes reclama o governo pró
prio na vida da Igreja. A liberdade dos filhos de Deus é uma liberdade que
requer a democracia para sua expressão adequada.
...nossa ênfase é sobre a natureza espiritual do cristianismo e sobre as formas
exteriores somente quando dizem respeito a tal religião. (...) Nosso interesse
não está de maneira alguma com ordenanças por causa de seu próprio valor.
Achamos que o Novo Testamento prescreve duas ordenanças e, portanto, as
mantemos. Achamos no Novo Testamento uma forma de vida da Igreja adap
tada à universalidade, à simplicidade e à espiritualidade da fé cristã. Nosso
maior desejo é anunciar aos homens esta religião universal e espiritual. Quan
do nos é sugerido que abandonemos a nossa atitude para com as ordenanças e
a Constituição das igrejas, não podemos achar motivos suficientes para assim
fazer. Nossa submissão absoluta à soberania de Jesus Cristo obriga-nos a ficar
nesta atitude. A relação íntima entre as convicções bíblicas para com as cerimô
nias e o dever de conservar a espiritualidade e a universalidade do Evangelho,
reforça o nosso sentimento de lealdade a Cristo. O serviço que podemos pres
tar à civilização pela propagação destes ensinos, influi muito sobre nós. Que
estes ensinos são tanto práticos como consistentes é demonstrado pelo cresci
mento maravilhoso do nosso povo e pela extensão dos nossos princípios.
5- A separação completa da Igreja e o Estado é claramente a única relação
própria entre as organizações eclesiásticas e as civis.
240
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
(...)
[Enquanto não chega] a realização da união cristã ideal, podemos praticar o
princípio de cooperação cristã.
A consideração e respeito mútuos são fundamentos em todo o trabalho co
operativo. Cremos firmemente que pode ser encontrado através do labirinto
do cristianismo dividido um caminho que dará entrada à liberdade da união
cristã somente quando o povo de Cristo seguir o fio áureo do desejo ardente de
saber e de fazer a vontade divina. Entretanto, podemos ter a alegria rara de
cooperação em muitas formas de trabalho nas quais até os anjos desejariam
tomar parte.
E ficiência denom inacional
Em harmonia com tudo aqui exposto sobre o assunto da união cristã, cre
mos que a maior eficiência dos batistas na propagação e na confirmação do
Evangelho pode ser alcançada.
1. Pela observância da lealdade absoluta a Cristo como o cabeça da Igreja,
num espírito de candura e cortesia crista para com todos os que professam ser
seus discípulos.
2. Pela preservação da autonomia completa, sem embaraço pelas alianças
com outras denominações de diferentes doutrinas, vida e ordem nas igrejas.
3. Pela devoção das nossas energias e dos nossos próprios recursos com uni
dade —de coração para ajudar a multiplicar colégios denominacionais e outras
agências em nossa própria terra e no estrangeiro, sob a direção denominacional
e em harmonia completa com o espírito e a doutrina das igrejas que contribu
em para nossas juntas.
4. Por uma concórdia completa de todas as nossas forças denominacionais,
igrejas, escolas dominicais, jornais, sociedades de senhoras e sociedades de ju
venis, em alvo, espírito e prática como o programa de Cristo ensinado na gran
de comissão, evitando assim a fraqueza do vago e da difusão da força
denominacional em caminhos que desviam das igrejas.
5. Pela maior ênfase sobre o dever de educar, de ensinar e de interessar todo
o nosso povo para que ele possa inteligente e alegremente participar de todo o
trabalho da denominação.
6. Tocando uma chamada persistente aos batistas para entrar de todo o cora
ção em planos maiores pelo progresso e com modelos mais altos de consagra
ção e de contribuição.
7. Buscando ativamente manter e promover a paz e a harmonia de denomi
nação para que o gasto de fricção possa ser evitado e que se apresse a hora em
que todos nós teremos a unidade de espírito e de mente, pelejando juntamente
pela fé do Evangelho.
História Documental do Protestantismo no Brasil
Atritos denominacionais
O que caracterizou o relacionamento entre as igrejas históricas foi um espírito de
cooperação ou, quando menos, de coalizão contra o catolicismo romano. Cada deno
minação possuía certas características próprias que as outras criticavam, às vezes com
severidade. Linguagem mais dura era geralmente reservada para grupos pentecostais e
adventistas do sétimo dia, e para organizações consideradas não-cristãs, como as Tes
temunhas de Jeová e os Mórmons.
242
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
O b s tá c u lo s ao e c u m en ism o
O tradicionalismo teológico
A teoria da evolução orgânica de Charles Darwin (1809-1882), a alta crítica bíbli
ca e o “Evangelho Social” foram os elementos principais na fermentação teológica que
resultou na polarização entre “fundamentalistas” e “modernistas”, cuja controvérsia se
fez sentir fortemente nos Estados Unidos durante e depois da Primeira Guerra M un
dial.101 Apesar do clima teológico conservador brasileiro, a controvérsia foi introduzida
aq u i tam b ém . 102 Sem desejar propriam ente o fundam entalism o, o Sem inário
Presbiteriano de Campinas assumiu o papel de conservador da ortodoxia presbiteriana
brasileira e baluarte das “velhas doutrinas da Palavra de Deus”. Qualquer inovação
teológica, portanto, era vista com suspeitas, bem como qualquer organização ou mo
vimento acusado de “modernismo”, o que incluía o ecumenismo. Esta convicção por
parte dos presbiterianos fez com que relutassem em particular no seminário unido,
criado após o Congresso do Panamá.103
243
História Documenta! do Protestantismo no Brasii
Fundamentalistas e modernistas
N a d écad a de 4 0 , os fu n d am en talistas m oderados já se co n sid erav am
“ev a n gelica ls”.m Carl M clntire, líder da ala fundamentalista radical, criou o Conselho
Americano de Igrejas (1941) para combater o Conselho Federal de Igrejas de Cristo
2 44
Crescimento e Amadurecimento ( i 889-1964)
A A lia n ç a Evangélica
O revigoramento do catolicismo no século XIX (cujos sinais incluem a restauração
da Com panhia de Jesus em 1814, a reação romântica à aridez do racionalismo e os
excessos da Revolução Francesa, e o crescente ultramontanismo, que depois se expres
saria na proclamação do dogma da Imaculada Conceição, o Sílabo de Erros e a Infali
bilidade Papal) estimulou a criação de uma “frente unida” evangélica. A reunião cons
245
w
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
O C o n g r e s s o d o Panamá e a C o n fe rê n c ia d o Rio ( 1 9 1 6 )
A Conferência M issionária M undial de Edimburgo (1910) marcou o início for
mal do movimento ecumênico. Mas, pela limitação de participação a missões em
“terras pagãs”, a América Latina ficou excluída, exceto no caso de missões a índios
não-cristãos. No entanto, durante a própria conferência, Robert E. Speer, executivo
da Junta Presbiteriana de missões, informado da exclusão, reuniu diversas pessoas que
trabalhavam no Brasil, e o grupo decidiu que uma reunião nos moldes de Edimburgo
devia ser realizada na América Latina.112 Já em março de 1913, foi convocada a “Con
ferência sobre Missões na América Latina”, uma breve reunião de duração de apenas
dois dias, em Nova York. Esta Conferência nomeou o Com itê de Cooperação na
América Latina (CCLA), o qual, por sua vez, planejou e fez realizar o célebre Congres
so do Panamá, em 1916. O Congresso teve um a estrutura idêntica à Conferência de
Edimburgo, mas lim itou o seu escopo à América Latina; participaram principalmente
latinos e missionários trabalhando no Continente, embora fosse presidido pelos nor
te-americanos Robert E. Speer e John R. M ott, sendo o inglês o idiom a oficial do
conclave. Como comentou um presbiteriano anônimo no ano anterior ao congresso,
esta seria “a oportunidade dos brasileiros”.113
Imediatamente após o Congresso do Panamá, realizou-se uma série de Conferênci
as Regionais nas grandes cidades da América Latina. A do Rio de Janeiro deu-se nos
dias 14 a 18 de abril de 1916, na Igreja Presbiteriana, cujo pastor era o rev. Álvaro
Reis. Os documentos seguintes consistem de excertos das atas das respectivas reuni
ões, que pareciam prometer muito para o desenvolvimento de estreita cooperação
entre as missões das igrejas históricas.
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
(T is) DOCUMENTO
Levantamento e ocupação. S. S. Ginsburg (B) enfatizou a necessidade de se
ocupar o país inteiro. Pediu três casais de missionários para cada um dos 1.218
lugares com correio, conforme a estatística governamental, ou seja 7.308 obreiros
(em contraste com os aproximadamente cem casais já trabalhando no país). O
250
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
plano, talvez por parecer ambicioso demais, não foi comentado pela comissão
(226-227). H. C. Tucker (M) enfatizou diferentes tipos de trabalho para alcan
çar as diferentes classes da população (227). Layona Glenn (M) lembrou a
necessidade de as igrejas nacionais, e não as missões, organizarem suas escolas,
enquanto J. L. Kennedy (M) entendeu que para alcançar as classes educadas e
governantes era necessário uma universidade, o que exige o esforço unido d e todos
(228). Várias classes da população foram lembradas: os alemães e teuto-brasi-
leiros, por Alvaro Reis (P, 228), os 2 milhões de índios, por S. R. Gammon (P,
227) e os estudantes, por James P. Smith (P, 228).
Sustento próprio e autonom ia. E. C. Pereira (PI) entendeu que a base da
autonomia era o sustento próprio, enfatizando especialmente o sustento do
ministério. Ele submeteu o plan o escocês de um fu n d o com um , ou fu n d o nacio
nal, para o sustento dos evangelistas que servem congregações fracas que não podem
sustentar seus pastores ... Desde 1887, a Igreja Presbiteriana do Brasil, e especial
m ente agora a Igreja Presbiteriana Independente, tem posto em p rática o plano,
com notável sucesso. Pereira cria que o sustento das igrejas nativas p o r missões
estrangeiras era um a anomalia, não bíblica e passageira (232). J. L. Kennedy
comentou que o trabalho secular dos pastores encoraja a Igreja a negligenciar
um dos seus deveres fundam entais, a saber, o sustento pastoral (234).
Educação. Rev. José Ferraz (P) acreditava ser um erro dar grande atenção às
escolas secundárias. As necessidades mais urgentes são para escolas paroquiais p r i
márias e escolas norm ais para a preparação de professores (240). Layona Glenn
apoiou escolas paroquiais, não mistas, afirmando também que a Junta Femini
na Metodista tinha interesse em tais escolas (240).
Seminário unido. Dwight Goddard, da “Junta Americana” (a Junta de Mis--
sões da Igreja Congregacional), defendeu entusiasticamente a causa de um se
minário unido, julgando que nenhuma denominação tinha a capacidade de
manter sozinha um bom seminário e ainda entendendo que contato entre os
alunos das diversas igrejas criaria amor e harmonia entre estas. Seria um fo rte
fa to r na criação de um a Igreja nacional unida (241). Álvaro Reis disse: Há uma
boa perspectiva de adoção de um plan o d e cooperação ou união entre o sem inário
presbiteriano em Campinas e o sem inário da Igreja Presbiteriana Independente em
São Paulo (241).'16
Relatório sobre cooperação e unidade
S. R. Gammon (P) apresentou relatório pormenorizado, historiando mui
tos exemplos de esforço de cooperação e unidade, apelando para a adoção de
um plano de união ou federação. Em 1889, os presbiterianos do Norte se reti
raram do Rio Grande do Sul, dando lugar aos episcopais e metodistas. Depois
os metodistas do Norte entregaram o seu trabalho no Rio Grande do Sul à
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História Documental do Protestantismo no Brasil
2 52
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
tal deveria ser o ideal que devem os ter em m ente e p elo qual devem os constante
m en te nos esforçar e orar (247). Invocando os exemplos de movimentos
ecumênicos nos Estados Unidos e Canadá, e nos “campos missionários” orien
tais como Japão, China e índia, a comissão lamentou divisões importadas: Trans
p lan tar a estas terras missionárias as múltiplas divisões que nasceram entre outros
povos, p a rece quase um crim e contra a unidade da Igreja d e Cristo e a oração
intercessória do Senhor (248). Admitido que o elem ento nativo, que éperm anente,
votasse p ela união, o elem ento missionário, que ê tem porário (...) não deveria ousar
obstruir ou estorvar (249). Significativamente, porém, a comissão não propôs
um plano de união, alegando que as bases desta união devem ser cuidadosam en
te elaboradas p o r representantes das diversas igrejas em seguidas conferências (249).
Foi proposto um plano genérico de federação, nas seguintes bases:
1) Todas as igrejas devem adotar um único nome, Igreja Evangélica no Brasil,
com o nome denominacional como subtítulo, se assim desejado (249).
2) Um conselho superior representando as várias denom inações federadas ...
com os seguintes deveres e poderes: a) decidir, com autoridade fin a l, todas as ques
tões denom inacionais; b) delim itar a área de ação das denom inações federadas em
território não ocupado... procurar evitar a duplicação de esforços nas cidades
com menos de 25 mil habitantes e não abrir novos locais de culto a menos de
um quilômetro dos locais já existentes; c) procurar unir pequenas congrega
ções das denominações federadas, nos lugares onde há duplicação de trabalho;
d) insistir na transferência, p o r carta, d e m embros d e um a denom inação que se
m udem para um território ocupado exclusivamente p o r outra denom inação; insis
tir em rigoroso respeito mútuo p ela disciplina das igrejas federadas; e) p la n eja r e
organizar congressos religiosos com o propósito d e fo rta lecer a vida espiritual e os
vínculos d e união e cooperação entre os m embros das igrejas federadas. (Todo o
número 2, nas páginas 249-250).
Da discussão gera l do relatório, dois comentários merecem especial atenção.
O Rev. J. W. Tarboux (M) declarou-se a fa v o r d e um a única Igreja Cristã Evangé
lica no Brasil, com o o ideal p elo qual todos nós devem os trabalhar e orar. Enquanto
se aguarda e se apressa a vinda do ideal, todos devem se esforçar p ela cooperação de
todos os modos possíveis (253)... O Rev. Eduardo C. Pereira expressou dúvida de
que chegou o tempo para a união orgânica, mas todos devem esforçar-se em p r o l da
unidade e solidariedade do cristianismo evangélico. A unidade verdadeira é unida
d e de espírito epropósito em m eio à diversidade (254).119
2 53
História Documental do Protestantismo no Brasil
A C o m is s ã o Brasileira de C o o p e r a ç ã o
Fruto do Congresso do Panamá, a Comissão Brasileira de Cooperação iniciou suas
atividades em 1920. Inicialmente, funcionou no escritório do presidente, H. C. Tucker,
secretário da Sociedade Bíblica Americana, sob o mesmo teto da União das Escolas
Dominicais e da Junta Nacional das Associações Cristãs de Moços (ACM ). Sob a
liderança de Erasmo Braga, desde o início até a morte deste, em 11 de maio de 1932,
a Comissão veio a abranger dezenove entidades entre igrejas, missões e organizações
evangélicas cooperativas. Erasmo claramente desejava que a comissão se tornasse um
conselho nacional de igrejas, tomando como modelo o Conselho Federal de Igrejas de
Cristo na América. A comissão não substituiu, porém, a Aliança Evangélica que con
tinuou a existir, embora desempenhando pouco serviço. Erasmo Braga era o secretá-
rio-executivo de ambas.120
2 54
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
A C o n fe d e r a ç ã o Evangélica d o Brasil
A Comissão Brasileira de Cooperação parecia destinada a se transformar em
um conselho nacional de igrejas. Antes, porém, surgiu um a federação de igrejas
cooperantes.
O anteprojeto está agora perante os diversos conselhos ou convenções naci
onais para ratificação. Federações locais estão em processo de organização em
Rio de Janeiro e São Paulo.
As igrejas evangélicas do país já chegaram ao grau de desenvolvi
mento em que têm que enfrentar a escolha de desintegração ou federação.
257
História Documental do Protestantismo no Brasil
2 59
História Documenta] do Protestantismo no Brasil
Modus vivendi
É de longa data a preocupação com a efetiva ocupação do Brasil pelas igrejas evan
gélicas de forma a eliminar duplicação de esforços. Metodistas e presbiterianos firma
ram um acordo semelhante ao do “cortesia missionária” (cf. doc. 125) já em operação
no México, cujo artigo principal foi o seguinte:
No lugar [com menos de 25 mil habitantes] onde houver uma congregação
ou trabalho regular da Igreja Evangélica Presbiteriana, não devem encetar tra
balho evangélico pregadores metodistas; no lugar onde houver congregação ou
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
O C o n s e lh o M undial de Igrejas
A semente ecumênica lançada em Edimburgo (1910) germinou e produziu frutos
na forma do Conselho Internacional de Missões e dos movimentos mundiais Vida e
Ação e Fé e Constituição. Cada um desenvolveu vida própria, realizando grandes
reuniões mundiais das principais denominações evangélicas. Em 1937, as conferênci
as mundiais de V ida e Ação e Fé e Constituição foram realizadas respectivamente em
Oxford, Inglaterra, e Edimburgo, Escócia (propositalmente em datas e locais próxi
mos, permitindo às mesmas pessoas participarem das duas reuniões). Os dois conclaves
determinaram o estabelecimento do Conselho M undial de Igrejas (C M I), em forma
ção, o que se concretizou em 1938, em Utrecht. Só na sua prim eira Assembléia, a de
Amsterdã, em 1948, é que o CM I se constituiu oficialmente, devido à Segunda Guer
ra M undial. No período em apreço (até 1964), só as Igrejas Metodista (1942) e Luterana
(1950) haviam se filiado; em 1965 e 1968 aderiram respectivamente a Igreja Episco
pal Brasileira e a Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo”,138 e em 1972 ou 1973 a
Igreja Cristã Reformada Latino-Americana.139 Diversas denominações tradicional
mente ecumênicas em outras partes do mundo, mostram-se, no Brasil, indiferentes ou
mesmo hostis ao Conselho M undial de Igrejas.
Os metodistas
Tendo herdado de seu fundador João Wesley (1703-1791) uma tradição de tole
rância e abertura para com as outras denominações, os metodistas brasileiros partici
264
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
param de todas as entidades nacionais de cooperação (does. 124, 126-130), bem como
enviaram seus representantes aos conclaves ecumênicos mundiais. Epaminondas Moura,
representou o metodismo brasileiro nas conferências de Vida e Trabalho, em Oxford,
e, Fé e Ordem em Edimburgo; recomendou ao 3o Concilio Geral da IMB a filiação ao
C M I.140 Em 1942, o Concilio Geral formalizou a adesão da Igreja, aceitando convite
que o CM I lhe dirigiu.141
2 65
História Documental do Protestantismo no Brasil
Os luteranos
Forçados pelo governo, durante a Segunda Guerra M undial, a empregar o idioma
nacional na pregação (doc. 153), os alemães iniciaram um processo de integração
mais efetiva à vida do país. A transição foi difícil, marcada pelo uso paralelo do ale
mão e do português nos ofícios religiosos e nas publicações, e pela ascendência cada
vez maior do português. Semelhantemente, aproximaram-se os quatro sínodos, ou-
trora independentes, na Federação Sinodal e na IECLB. Esta nova Igreja, em processo
de nacionalização, procurava relacionar-se com outras denominações evangélicas, na
CEB; ao mesmo tempo, tomava seu lugar na família luterana m undial e no CM I.
266
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
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História Documental do Protestantismo no Brasil
conselho da Federação está pronto, onde isto não seja óbvio, a fornecer as in
formações desejadas.
A Igreja conta, conforme a estatística eclesiástica de 1948, na área do Sínodo
Rio-Grandense (fundado em 1886), 248.000 almas e 102 paróquias, na área
da Igreja Luterana (fundada em 1905), 71.000 almas e 29 paróquias, na área
do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná (fundada em 1911), 62.000
almas e 23 paróquias, na área do Sínodo do Brasil Central (fundado em 1912)
aproximadamente 50 mil almas e quinze paróquia.
Ela cultiva a união com a Confederação Evangélica do Brasil e com as igre
jas evangélicas do Brasil, representadas pelas: Igreja Episcopal, Igreja Metodista,
Igrejas Presbiteriana e Presbiteriana Independente, e com a Igreja Evangélica
na Alemanha. No seu primeiro concilio eclesiástico, ela decidiu solicitar ad
missão ao Conselho Mundial de Igrejas e à Federação Luterana Mundial.
Enquanto submeto-lhe nosso pedido de admissão ao Conselho Mundial de
Igrejas, para deliberação e decisão, assino com fraternal saudação,
Seu,
S. H. D
Presidente da Federação Sinodal144
Os episcopais
Os bispos episcopais norte-americanos (1886) e, depois (1888), os bispos anglicanos
da conferência de Lambeth, elaboraram os quatro pontos cuja aceitação julgavam
essencial à “unidade visível da Igreja”.145 Esta preocupação com a unidade da Igreja
está também evidente nas declarações e manifestos da Igreja Episcopal do Brasil. O
Sínodo de 1952 aprovou o “Manifesto Ecumênico” da autoria de José dei Nero, resol
vendo fazer, através da CEB, “um apelo contendo os argumentos desse manifesto,
visando a unidade orgânica do povo cristão”. 146 Quando da proclamação da autono
m ia da Igreja (abril de 1965), a Igreja Episcopal do Brasil solicitou fdiação ao CM I, o
que lhe foi prontamente concedido.147
tra nossa integridade psicológica. Está escrito na natureza das coisas que cada
povo deve ser uma voz e não um eco, uma escrita original e não um papel
carbono.
2. Imperativo da conversão dos pecadores, ao invés de os converterter, nós
os confundimos. A espessa folhagem os inibe de ver, bastas vezes, o tronco.
3. Corpo místico de Cristo que é a Igreja. Sendo o corpo místico de valor
substantivo e não de valor meramente utilitário. Crer no Evangelho é identifi-
car-se com a Igreja —gravíssimo pecado é portanto condescender com os teci
dos rasgados e com os ossos moídos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
4. Padrões do céu e da terra que são na sua vera essência unidades de
dissimilantes. Com efeito, não cremos num gigante solitário e monolítico, mas
num Deus Trino, diversificado. Na terra, não há duas folhas iguais.
Dessemelhanças sim, mas na unidade.
5. Padrões da Igreja Primitiva: A Igreja era una. A Igreja em tal ou qual lugar
era simples manifestação de uma realidade única.
6. Caridade e devida humildade intelectual no que concerne aos conceitos
de cisma, ordem e teologia. Convém lembrar que, em virtude de nossa
cissiparidade pecaminosa, todas as comunhões são cismáticas, é mal que a to
dos agrava; todos portanto têm maior ou menor parcela da realidade católica,
dolorosamente fragmentada. “Não te ensoberbeças, mas teme.” As ordens com
as nossas pecaminosas divisões têm valor somente para cada comunhão e não
para toda a Igreja de Deus. Quanto à teologia, bom é lembrarmos que o qui
nhão da terra são os arcos quebrados e não o círculo perfeito; bom é lembrar
mos que “agora nós vemos em espelho...” A teologia é, na sua mais íntima
essência, a expressão de uma experiência religiosa. São Paulo, ao escrever a
Epístola aos Gálatas, que é um como que tratado de teologia, inicia com uma
experiência religiosa: “Não sou eu mais quem vive, mas é Cristo que vive em
mim”. Portanto, se a teologia é expressão de uma experiência, ela, de necessá
rio, deve variar através dos séculos: ela é relativa. Não se erijam, pois, em abso
luto aquilo que é de substância relativa.
7. Contra Cristo, na sua palavra categórica —Ora em termos ineludíveis pela
unidade de seus discípulos - e no seu exemplo: Jesus não destruiu mas cum
priu - ele não fundou uma Igreja, ela refundou uma Igreja. Não há o menor
resquício na mente de Nosso Senhor de separatismo.
8. O Espírito Santo é o vínculo da paz, tanto no céu como entre todos “os
que dizem e confessam ser cristãos”. E o vínculo da paz nos céus, porque a
união que o Espírito Santo produz entre o Pai e o Filho é tão grande que se
erige por assim dizer em uma pessoa. Ele procede do Pai e do Filho. E o vínculo
da paz entre os homens. Note-se que quando ele baixou gloriosamente sobre a
269
História Documental do Protestantismo no Brasil
(J3 6 ) DOCUMENTO: Carta p a stora l dos bispos da Igreja E piscopal do B rasil (1967)
(...)
Desde o início da sua existência, a Igreja Episcopal do Brasil tem mantido
relações de cooperação fraternal com os nossos irmãos evangélicos. Na conjun
tura atual, consideramos a preservação e ampliação destas relações de singular
importância. A CEB está passando por uma fase de reorganização, que deverá
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
permitir a adesão de igrejas evangélicas que até hoje não ingressaram nesta
organização, tornando-a desta forma mais representativa do evangelismo pátrio,
e possibilitando um diálogo mais amplo. As igrejas evangélicas representam
entre si tradições e convicções diversas, o que torna a obra de cooperação às
vezes deveras difícil. Julgamos ser o Espírito Santo que lhes dá o poder dinâmi
co que manifestam na divulgação da mensagem cristã e em boas obras, e cre
mos que a sua própria dedicação a Cristo há de levá-las cada vez mais à consci
ência da união inseparável dos que o confessam como Senhor.
Desde julho de 1966, fomos aceitos pelo CMI como um dos seus membros
oficiais. Há, portanto, motivos legítimos que nos levam a procurar agir de co
mum acordo com as outras igrejas-membros do Conselho: a Igreja Metodista
do Brasil e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil. E nosso desejo
que todos os episcopalianos sejam informados sobre a obra do Conselho Mun
dial, e incentivados a divulgar o que ela representa quanto à reconciliação e
renovação do Corpo de Cristo. Convém notar aqui a rica contribuição ao
ecumenismo mundial por parte das Igrejas Ortodoxas, pois esperamos que as
comunidades de cristãos orientais radicados no Brasil passem a desempenhar
um papel cada vez mais positivo no quadro ecumênico nacional. A família
eclesiástica a que pertencemos nunca ignorou as riquezas espirituais da comu
nhão ortodoxa. Isto nos impele a procurar relações mais profundas com os
representantes desta tradição em nosso meio.
O Concilio Vaticano II, recentemente encerrado, abriu novas perspectivas
em nossas relações com a Igreja Católica Romana. Regozijamo-nos com todas
as manifestações deste novo espírito de diálogo, de fraternidade e de caridade
que mutuamente nos fortalece. Sabemos, porém, que o caminho do verdadei
ro ecumenismo é árduo, exigindo humildade e franqueza de parte a parte,
requerendo o estudo e o reestudo sérios da nossa obediência a Cristo, à luz das
Escrituras, e em resposta às necessidades do mundo atual. Encaramos o diálogo
com os irmãos católicos sem receio e sem preconceitos, mas com o ardente
desejo de que o mesmo nos leve a enfrentar com a necessária seriedade tudo
quanto impede a nossa plena união cristã.
A união dos cristãos não é um fim em si mesmo, embora represente a von
tade clara do Senhor da Igreja, conforme as Escrituras Sagradas. A união dos
cristãos e o movimento ecumênico que visa a este fim têm um propósito niti
damente missionário, a evangelização da humanidade, o ministério da reconci
liação. A voz divina, que nos conclama à união, não é ouvida apenas através das
Escrituras e das tradições passadas e não será obedecida mediante meros arran
jos eclesiásticos. Esta voz nos fala por meio das necessidades dos nossos irmãos,
vítimas das divisões e das violências humanas, e nenhuma Igreja, isoladamen-
271
História Documental do Protestantismo no Brasil
te, poderá servir ao povo brasileiro conforme a vontade divina. Nas universida
des, nas fábricas, entre a juventude, nos centros urbanos que dobram a sua
população de dez em dez anos, nas vastas zonas rurais, os cristãos precisam se
unir, a fim de que o mundo creia, para què se opere o ministério da reconcili
ação.
(...)
Recomendamos que haja em todas as congregações estudos específicos so
bre o movimento ecumênico, inclusive a formação e obra do CMI e as decisões
do Segundo Concilio do Vaticano. Desejamos incentivar os nossos clérigos e
leigos a continuar a ampliar a sua atuação ecumênica, aproveitando todos os
contatos possíveis com irmãos de outras confissões, e participando consciente
mente da obra de cooperação cristã no âmbito local. Acima de tudo, oramos no
sentido de que, por meio destes estudos e trabalhos, a nossa própria fé seja
fortalecida, a nossa visão do Reino de Deus se torne mais clara, e a nossa obedi
ência a Cristo mais dinâmica.149
MOTIVAÇÃO E M ISSÃO
In trodução
Como é que as igrejas protestantes definiram sua missão no Brasil no período da
República? Quais foram suas motivações? Que revelam os documentos do período, da
auto-imagem e das pressuposições filosóficas e teológicas subjacentes, quer conscien
tes, quer não?
O segundo passo é ilustrar alguns dos mais importantes tipos de trabalho, com
ênfase nos trabalhos não tão corriqueiros. Não há, na presente seção, uma parte dedicada
à pregação, muito embora para muitos seja a obra mais importante da Igreja.150 Há,
sem dúvida, referência à proclamação e ainda à distribuição da B íblia a um povo
virtualmente sem ela, mas esta atividade já foi tratada amplamente no tópico “As
sociedades bíblicas”. Também não se trata novamente aqui da escola dom inical, que
continuou no período a ser um importante instrumento para a edificação dos mem
bros e também para a evangelização, pois muitos documentos do capítulo anterior
ocupam-se especialmente do assunto (e.g. 3 7 ,4 8 e 49 etc.). Orientou a presente histó
ria a escolha de documentos típicos, capazes de servir como paradigmas, e não a exibi
ção de muitos documentos sobre o mesmo assunto.
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
C o m p r e e n s ã o p ro te s ta n te da m issão
O individualismo do norte-americano e da sua religião é lugar comum. Esta carac
terística origina-se na herança puritana, com uma ênfase na apropriação pessoal da fé
pela qual o indivíduo se tornava “cristão visível”. W inthrop Hudson assim resume o
pensamento:
Conforme a teoria congregacional, tanto o adulto crente quanto o seu filho
infante pertenciam a Igreja, este último sendo “federalmente santo”,151 com
direito a receber o Batismo. Ao chegar à idade da razão, porém, a criança deve
ria dar conta do seu próprio arrependimento e fé a fim de habilitar-se como
comungante pleno, que incluía o direito de participar da Santa Ceia e votar nas
reuniões da Igreja. Entendia-se que a verdadeira fé, mesmo entre os cristãos
mais fracos, seria confirmada por alguma experiência específica da graça reden
tora de Deus, e que, na ausência de uma tal experiência, ninguém deveria ser
admitido como membro pleno da Igreja.152
A importância da experiência pessoal e individual da fé foi enfatizada ainda mais
no Grande Despertamento e no avivamento tão típicos da religião da fronteira ameri
cana. O autor sustenta em outro lugar que a religião norte-americana, na época da
vinda dos missionários protestantes para o Brasil, sofria forte influência da “Era
Metodista”, com sua ênfase no avivamento.153
Não raramente, esse individualismo tendia a reduzir o cristianismo à experiência
pessoal da fé e à resultante vida piedosa. Mas muitos protestantes, talvez a m aioria de
seus pensadores, esperavam que a reforma geral da nação resultasse da multiplicação
das conversões e da aplicação dos saudáveis princípios do protestantismo à vida do
povo. É impossível ler os relatórios dos grandes conclaves do protestantismo do século
XX sem perceber uma preocupação com o bem-estar em geral.154 Além disso, em
oposição à opinião muito generalizada, os missionários que vieram para o Brasil ti
nham como meta a transformação total do país e não apenas a salvação de almas
individuais do fogo do inferno. Os documentos desta seção revelam algumas das pre
ocupações das diversas denominações, que vão muito além da mera salvação de “al
mas”.
Protestantismo e progresso
Ernst Troeltsch, escrevendo na primeira década do nosso século, caracterizou o
“espírito moderno” pelo “otimismo” e “crença no progresso”.155 Sem dúvida, a paz, o
progresso industrial, o avanço da ciência e a elevação do padrão de vida do mundo
273
História Documental do Protestantismo no Brasil
2 75
História Documental do Protestantismo no Brasil
social.
E a solução está no Evangelho.
Que quer dizer isto? Quer dizer que nós somos os detentores da solução,
que o mundo procura, e, restringindo a nossa atividade à esfera espiritual, não
nos apercebemos sequer da injustiça que praticamos para com a humanidade e
o próprio Evangelho.
Devemos ir ao povo, em nome das suas necessidades temporais, para, com
este bilhete de ingresso, sermos recebidos com simpatia no seu próprio lar, e ali
implantarmos a fé e as esperanças de melhor valia que as deste mundo.
Devemos apresentar à sociedade, em nome de Cristo, a solução cristã, a
única eficiente e perfeita, para que a própria sociedade reconheça que o seu
bem está em Jesus Cristo.
Devemos ir (...) sim (...) de que modo? Com belas palavras? Não. O povo já
se não ilude com palavras. Ele quer o apoio moral, a cooperação eficiente dos
que se interessam por ele, a instrução, a liberdade, a melhora das suas condi
ções de vida, e confiante esperança de melhor futuro para si e para a sua prole,
a eqüidade no salário, a participação na distribuição dos lucros, o acesso à posse
do solo para produzir, dessa imensa porção de terras incultas, sem proveito,
sem produção, sem impostos nas mãos de poderosos latifundiários, que ao po
bre não permitem cultivá-las, senão para lhes arrancarem, gota a gota, todas as
bagas de suor...
O povo quer o gozo do seu legítimo direito à vida... E o povo tem razão.
Os ricos e os remediados ignoram as insônias, por exemplo, de milhares de
viúvas, carregadas de filhos, perseguidas de biltres, atassalhadas de línguas pér
fidas, exploradas de miseráveis indústrias que lhes pagam 2$400 por dúzia de
camisas, tendo elas mesmas de dar a linha com que as devem coser! (...) Cada
dia, trabalhando desde a madrugada até às 11 horas da noite, tendo ainda de
cuidar da alimentação, da roupa, das doenças dos filhos, mal conseguem ga
nhar o miserável pão, (...) e que futuro negro se lhes depara! Como aquelas
horas, ao rodar da máquina, lhes correm amarguíssimas, ao borbulhar das lá
grimas! (...)
Quantas blasfêmias irrompem daqueles corações incultos, isolados, que ig
noram Deus, Jesus e a caridade, o amor cristão!
Não podemos ser indiferentes às calamidades que afligem uma grande por
ção da humanidade, quer nas cidades quer nos campos.
Se o protestantismo é desdenhado pelo povo, é porque ainda não procurou
como deveria procurar o povo, ainda não se interessou como deveria interes
sar-se por ele.
Irmãos, lembremo-nos daquele que “passou fazendo o bem”, que “teve com-
276
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
paixão da multidão”, que mandava que se desse aos pobres, que alimentava
milhares de pessoas no deserto, que curava os enfermos, que se fazia amar pelo
seu amor aos homens!
Estudemos as necessidades do povo...
Empenhemo-nos nessa grande campanha, que se denomina “questão soci
al”. “Charitas Christi urgetnos”, “o amor de Cristo nos constrange” 2Cor. 5:15-'60
277
História Documental do Protestantismo no Brasil
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
Estratégia Missionária
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História Documental do Protestantismo no Brasil
O trabalho de colportagem
Das narrativas de “aventura” da obra evangélica no Brasil, as de colportagem figu
ram entre as mais emocionantes, havendo diversos livros a respeito. Entre muitos
obreiros destemidos, Frederick C. Glass, da Igreja Cristã166 foi escolhido para ilustrar
esta importante obra. Uma viagem que ele fez a Mato Grosso em 1902 constitui a
matéria do documento seguinte.
280
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
da nossa presença!
Hoje visitei o presidente do Estado e lhe presenteei com uma Bíblia em
nome da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Ele nos recebeu cortesmen
te e inquiriu sobre nossa jornada: deveras, todos parecem estar pasmados pelo
empreendimento. Depois visitei um dos principais representantes do sacerdó
cio católico, um velho e aparentemente bondoso homem de 82 anos. Após
uma longa conversa sobre diversos tópicos de somenos importância, evitando
o assunto principal —pois ele estava evidentemente nervoso e desconfiado —ele
me mostrou a sua biblioteca, a qual incluía uma tradução de Paraíso Perdido de
Milton. Ofereci-lhe um Novo Testamento, e quando ele hesitou em tocá-lo, eu
me dei ao trabalho de provar que era o mesmo Testamento que o próprio papa
usava (ou devia usar!), sendo uma tradução da Vulgata. Então ele disse que não
podia ler o Testamento depois de oficiar por tantos anos como sacerdote cató
lico, e ele já era velho demais para mudar de religião. “Que falaria o povo se eu
assim fizesse?”, perguntou ele, pateticamente. Dei-lhe o meu testemunho aten
tamente. Finalmente, aceitou um Testamento em tipo grande e, ao partirmos,
ele nos desejou felicidade e rogou que Deus abençoasse e fizesse prosperar nos
so trabalho... Também visitei o quartel hoje e vendi um bom número de livros
aos soldados e prisioneiros.
6 de setembro. Praticamente terminou a visitação de casa em casa hoje (...)
e das três grandes caixas de Escrituras, sobraram só seis Bíblias, seis Testamen
tos e alguns evangelhos. Diniz visitou a prisão estadual hoje e distribuiu alguns
evangelhos entre os presos. Vendemos o resto... em Cuxipó onde havia mais
compradores que livros a serem vendidos.
Assim, em oito dias de tal forma despertamos o povo apático de Cuiabá, que
vendemos noventa Bíblias, 315 Testamentos, e setenta evangelhos, além de
distribuirmos grátis alguns Testamentos e mais de seiscentos evangelhos, ou
um total de mais ou menos 1.100 exemplares [de Bíblias, Novos Testamentos,
e porções].
Tendo vendido minha tropa de animais por mais que o seu preço original,
em poucos dias nossa pequena equipe se achava a bordo de um vapor rumo a
Buenos Aires, a umas 2 mil milhas rio abaixo.167
281
História Documental do Protestantismo no Brasil
em contato com Reed e outros nos Estados Unidos, e serviiu de intermediário durante
a campanha de saneamento que livrou o Rio de Janeiro desse flagelo (1903-1908). Foi
a mola propulsora na fundação do Hospital dos Estrangeiros e, depois, do Hospital
Evangélico, no Rio de Janeiro. Sem dúvida, porém, o maior monumento do seu tra
balho social foi o Instituto Central do Povo, o primeiro centro social a ser organizado
no B rasil.168 O centro nasceu em resposta às necessidades dos habitantes da favela da
Saúde e Gamboa, muitos deles operários que trabalhavam na remoção do Morro do
Senado e na construção do porto. Colportores da Sociedade Bíblica Americana, sob
direção de Tucker vendiam Bíblias entre esses operários, um grupo dos quais se reunia
na hora do almoço para a leitura do Novo Testamento. Para atender esse grupo, Tucker
alugou um salão e iniciou o trabalho que viria a se tornar mais tarde o Instituto Cen
trai do Povo (1906).
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
são... centenas de crianças correram... para brincar na rua alargada. Logo houve
acidentes e um dia uma criança foi morta por um automóvel que passava; daí
as outras crianças voltaram às pressas para suas “tocas”. Consegui uma balsa de
uma firma amiga e levei trezentas destas crianças a uma ilha na baía para um
piquenique. Tiraram os sapatos e saltitavam na grama como cordeiros, e uma
menininha chegou bem perto de mim e disse, “Esta é a primeira vez que meus
pés descalços tocam a grama verde”. Voltei para casa aquela noite perguntando
o que se poderia fazer para providenciar um parque de recreio para estas crian
ças...
Comecei no dia 3 de julho de 1909 publicando no Jorn a l do Comércio um
artigo sobre o valor dos parques de recreio modernos... artigos semelhantes em
dezembro e fevereiro (...)
Quando esteve no Rio em março de 1910, William Jennings Bryan1® visi
tou o Instituto Central do Povo e deu uma palestra sobre parques de recreio...
e, a meu pedido, apelou à esposa do prefeito para influenciar no plano. O
interesse cresceu entre círculos seletos, mas as autoridades não estão muito
impressionadas.
[A prefeitura doou um terreno para o parque e montou o equipamento
doado pela “Light” e outras empresas.] A inauguração formal do primeiro
“p layground" moderno para crianças no Rio se deu a 12 de outubro de 1911,
como parte do feriado nacional em comemoração à descoberta da América. O
prefeito, o superintendente dos parques de recreio, e muitas pessoas preemi-
nentes estiveram presentes. Houve banda, muitos discursos de parabéns, o pa
vilhão nacional foi erguido e as crianças cantaram o hino nacional. A Associa
ção Cristã de Moços (ACM) cumpriu sua promessa de providenciar um dire
tor. O playgroun d tem sido uma instituição aceita e apreciada desde aquela
época. (...)
A pesquisa da redondeza da missão revelou a incidência de muita tuberculo
se e a falta de conhecimento a respeito dela. Consegui dos Estados Unidos um
cartaz de prevenção170 e mandei imprimi-lo em português. Também tomei as
providências para projetar [pela “lanterna mágica”] uma coleção de lantern slides
sobre a tuberculose, sua disseminação e prevenção, e consegui que nosso médi
co fizesse uma conferência para acompanhar a projeção. Eu sabia que, se o
embaixador americano, homem muito popular e interessado no problema,
consentisse em assistir, eu poderia contar com a presença de um bom número
de brasileiros oficiais e homens de influência. O embaixador bondosamente
prometeu comparecer, e disso informei o prefeito do Rio, o diretor de Depar
tamento de Saúde Pública, jornalistas e muitos outros, ao fazer o convite. Qua
se todos os convidados e duzentos outros viram a projeção, ouviram a confe
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Crescimento e Amadurecimento (1889-1964)
Era o mês de maio de 1927. Novamente nós chegamos à aldeia. Nossa velha
barraca não servia mais para nos abrigar, porém agora o tempo favorecia a cons
trução - pois havia palha nos campos enquanto os índios não ateassem fogo de
novo. Reconstruí nossa casinha, e recomecei as atividades educacionais e
evangelísticas (...)
A aldeia de Pedra-Branca (Iquene-pó-icré), com 405 almas, distava da nossa
umas quatro léguas. Os chefes daquela aldeia tinham exigido de mim o mesmo
trato que estava dando a Craonópolis. Como não era possível residir em duas
aldeias, resolvi abrir lá uma outra escola para ir começando a obra. O rapaz
nosso auxiliar era dono duma caligrafia invejável. Lia fluentemente e sabia
falar correto, sem os sotaques matutos. Sabia um pouco da língua N hêengatu e
conhecia bem os costumes dos guajajaras. Seu nome —Joaquim Lopes Leão —
era simplesmente discordante de sua figura. Eu o julguei um cordeirinhopreto;
porém ele era um autêntico leopardo, os anos o iriam provar. Nomeei-o profes
sor de Pedra Branca. Era nossa segunda escola fundada entre os índios. Seu
salário de início seria de 20 mil réis mensais e a alimentação.175
(...)
Os cristãos, como são chamados os civilizados que moram nas vizinhanças
dos índios, comerciavam com os selvagens na base da exploração. Vendiam
cachaça por peles de animais selvagens. Exploravam também as mulheres índi
as —razão por que se julgavam prejudicados com a minha presença. Daí as
mentiras, os fuxicos e as intrigas criadas pelos matutos, com o objetivo de con
seguir o meu afastamento da aldeia. Em contrabalanço, os sertanejos benefici
ados em seus contatos conosco se constituíam nossos incondicionais amigos.
Segue um exemplo de reconhecimento de matutos, pelos serviços a eles presta
dos:
“O Homem de Bem”
Esse fato ocorreu muito no fim do meu ministério entre os Craôs.
João Campos era um homem honesto e trabalhador que morava a umas dez
léguas de minha casa. Era analfabeto, porém sabia economizar e possuía sua
centena de vacas. O Juiz Distrital, carola desonesto, apaniguado pelo Coletor
Estadual, o qual dispunha da força pública policial, prendeu sem justa causa o
matuto e o manteve em trabalhos forçados durante doze dias. Depois forçou-o
a comprometer-se em dar quinze vacas, escolhidas de seu rebanho, às desones
tas autoridades. O matuto mandou que eles fizessem o documento, porém
alegou sua condição de analfabeto, pelo que deixou-o só na base da validade
que lhe dava a autoridade. Solto, foi a casa para buscar as vacas, porém não
regressou, indo antes entender-se comigo. Era a primeira vez que me visitava.
História Documental do Protestantismo no Brasil
Falou-me:
- Sou preto e pobre. O que digo, porém, pode escrever e mandar para o céu.
Fui com o sertanejo à sede da Comarca, entendi-me com o Juiz de Direito e
trouxe de volta uma correspondência que colocou tudo nos eixos. Dias depois,
fui com minha esposa 176 fazer uma visita de evangelização ao Sr. João Campos
e à sua vizinhança. O homem havia convidado o sertão vizinho até a vinte
léguas ao redor. Foi uma reunião como as que se fazem nas festas dos matutos
ricos quando casam suas filhas. Havia gente por todas as casas da
circunvizinhança, por debaixo das árvores e a casa dele não tinha um só lugar
vago. Matou boi, porco cevado, dezenas de aves de várias espécies —fez uma
provisão para centenas de pessoas. Avisou a todos os convidados que não fu
massem em sua casa onde eu estava hospedado, que houvesse todo o respeito,
como se estivessem na missa.
Um grande vão de casa estava destinado ao culto. Havia mesa coberta de
toalha branca e, além, estavam as mesas do refeitório. Era uma festa muito sem
graça para os matutos, pois eu não fazia nada além de pregar e cantar, ajudado
por D. Orfisa177 que começava a aprender alguns hinos no órgão. Nosso hos
pedeiro, porém, não se continha de contentamento. Dava atenção a todos os
seus convivas, servia-os de quando em quando, era vida sintetizada em comer e
cantar (para nós), pois eles simplesmente comiam e ouviam. No meio daquela
gente, um lhe perguntou: —Então, você agora é crente? O homenzinho, cheio
de entusiasmo, respondeu: —Os hom ens de bem são. Assim tam bém eu.
(...)
Minhas pretensões eram que, com um ano de vida entre os índios, eu já
teria uma igreja organizada e próspera —pois julgava que eles não reagiriam
contra a pregação, por lhes faltar uma religião. Aí, porém, estava o meu erro.
Os índios são muito mais religiosos do que qualquer povo que conheço. A
idéia já tradicional de que os índios não têm religião se fundamenta num erro
grave de observação dos estudiosos do assunto. É que o índio se mostra
irreverente para com os ídolos dos civilizados. De fato, quem tem o sol por seu
deus, não o vai trocar por uma imagem feita, seja lá de que material for. Quan
do se dá uma imagem a um índio, ele a troca por fumo ou por qualquer outro
objeto. Só o que não acontece é levá-la para sua aldeia. Eles até pensam que elas
podem causar medo aos meninos. E a irreverência do índio para com os obje
tos de culto dos católicos que levou os “cristãos” a pensarem que os índios não
são religiosos. E essa idéia generalizada me prejudicou, pois fui na onda dos
temerários. Muito mais tarde, quando a vida do índio deixou de ser um misté
rio para mim, é que cheguei a saber, por um processo profundamente reflexivo,
as razões do comportamento do índio, tanto no que diz respeito à religião
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Trabalho da mocidade
A mocidade presbiteriana exige mudanças
Enquanto a Igreja Presbiteriana oficial, representada pelos seus ministros, tomava
em geral uma posição teológica conservadora, a juventude questionava a atitude da
Igreja quanto ao “modernismo” e ecumenismo e exigia novas formas de pensamento e
prática mais adequados a um mundo em contínua evolução. O trabalho da juventude
teve, a partir de 1944, o jornal M ocid a d e como veículo das suas idéias e, desde 1946,
contou com a jovem Billy Gammon como secretária da mocidade. Sob sua liderança,
o número de sociedades locais cresceu de 150 para seiscentos, com 17 m il membros,
até 1958. Nesse meemo período, M. Richard Shaull veio ao Brasil para trabalhar entre
universitários. Professor do seminário em Campinas desde 1953, ano em que come
çou a cooperar com o departamento da mocidade e a União Cristã de Estudantes do
Brasil (UCEB), tornou-se uma das vozes mais influentes na mocidade presbiteriana e
evangélica em geral. Crendo ultrapassada a controvérsia modernista-fundamentalista,
Shaull se concentrava na missão de Deus no Brasil, enquanto deixava evidente seu
espírito ecumênico. Veio o inevitável choque e, após uma década de calorosos debates,
o Supremo Concilio, em 1962, de tal forma reestruturou o Departamento de M oci
dade que esta perdeu sua autonomia, ficando sujeita ao firme controle da Igreja.179
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P ro b lem as e fr u stra ç õ e s
A política de nacionalização do Estado Novo e o início da Segunda Guerra M un
dial levaram o governo brasileiro a exigir que toda a pregação pública fosse feita no
idiom a pátrio, o que dificultou bastante o trabalho dos ministros luteranos, acostu
mados a pregar em alemão. Ao mesmo tempo, o uso forçado do português nas prédicas
provou ser um passo importante na nacionalização do luteranismo no Brasil.
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Jk
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Jones, que numa família o filho mais velho, mais forte e mais hábil, tomasse
em cada refeição todo o alimento que pudesse dos membros mais fracos, acu
mulando-o ao redor do seu prato, indiferente às suas próprias necessidades e às
dos outros. Felicitá-lo-iam os membros da família, dizendo: “Você venceu na
vida?” Absolutamente! O espírito de família seria ultrajado por este ato e esta
atitude anti-social... O princípio de família é cooperativo e não o do domínio
do mais forte. Por isso, os que entram no Reino de Deus lembram-se do próxi
mo... Todavia, essa irmandade não é baseada em economia, mas na prática da
vontade de Deus. Os que fazem a vontade de Deus são irmãos entre si e são
irmãos e parentes de Jesus.
Eles fazem a vontade de Deus, por isso é que o princípio cooperativo fami
liar é praticado. E nesse princípio que está baseado o comunismo da Igreja de
Jerusalém e de várias comunidades e ordens cristãs, através dos séculos. É esse
o princípio que ainda domina vários governos de igrejas contemporâneas. Como
afirma Ernst Troeitssa [sic; o correto é Ernst Troeltsch]: “Contudo, um dos
permanentes resultados do ensino de Jesus foi esta idéia de Comunismo de
Amor. Esta idéia contém um elemento revolucionário...”
Quando Jesus anunciou o Reino de Deus estava estabelecendo os princípios
para a ordem social baseada nesse espírito familial. Espírito que foi esquecido
pela maioria da Igreja cristã, que hoje tem defendido ordens sociais baseadas
em princípios de rapina.
Tem razão Arnold Toynbee em afirmar que “os elementos que fizeram o
comunismo uma força explosiva não são criação de Hegel”, mas são os elemen
tos do cristianismo e do judaísmo. Baseados no princípio familial é que vemos
a Bíblia considerando o problema das riquezas dentro do conceito cristão sobre
o Reino de Deus. A Bíblia condena todo o acúmulo de riquezas nas mãos de
poucos que usufruem. Is 5.8; Mt 6.19; Lc 12.15-21. O dinheiro não deve ser
acumulado, mas repartido; não há capital. 1 Tm 6.17-19; Mc 10.21-25; Lc
19.8. Devemos ser trabalhadores e a renda do nosso trabalho deve servir para o
sustento condigno de nossa família. O que exceder deve ser sabiamente distri
buído para ajudar os necessitados e para criar oportunidades para o bem de
todos. Ef 4.28; lT s 4.11-12; lT m 6.7-10, 17-19; At 4.34-37. No Velho Testa
mento as leis protegem o escravo e o assalariado. Após a conquista de Canaã
não foi usado o sistema latifundiário, mas a terra foi distribuída equitativamente
entre as famílias. Js 13.7; 19.48, 49. Só poderemos entender o problema da
propriedade privada na Bíblia à luz da mordomia. A terra é propriedade de
Deus. Nós somos mordomos. SI 24.1; Lv 25.23, 24; 1 Cr 29.11-14. Jesus deu
ênfase ao trabalho e não ao capital. Jo 5.17; 15.12-16.
A. Justiça —Um dos aspectos mais importantes do Reino de Deus é a justiça.
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Muita ênfase é dada por Jesus à justiça... Mas, que justiça? É a justiça de Deus.
O Reino de Deus é o estabelecimento da justiça de Deus na terra. Jesus é a
revelação da justiça de Deus. Ele mostra que a motivação da justiça é o próprio
Pai. “Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.” A justiça de Deus
está baseada no seu amor (...) Jesus lutou contra a opressão do pecado, (...) da
ignorância, da doença, da fome, da tirania de Satanás e dos homens poderosos.
A vida de Jesus é a manifestação de Deus que “agiu com seu braço valorosa
mente; dispersou os que no coração alimentavam pensamentos soberbos. Der
rubou dos tronos os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os fa
mintos e despediu vazios os ricos”. Lc 1.51-53. [Em seguida, cita Lc 4.18, 19 e
Mt. 11.4, 5].
Jesus não vacilava na condenação das injustiças das classes dirigentes... Mt.
23.14. Jesus expulsou os vendilhões do templo e chamou-os de “ladrões e salte
adores”. Foi uma denúncia aberta contra os sumo-sacerdotes Anás e Caifás,
donos daquele comércio demoníaco... A paixão de Jesus pela justiça é expres
são viva da implantação do Reino de Deus...
A Igreja tem apoiado sistemas econômicos e políticos opressores, ou tem se
silenciado pecaminosamente, muitas vezes diante da injusta opressão do ho
mem pelo homem. A Igreja deve fazer muito mais empenho para o estabeleci
mento da justiça nas relações familiares, nacionais e internacionais. Muitas
vezes a Igreja não tem sido instrumento eficaz para a prática da justiça entre os
homens, antes tem sido instrumento para a injustiça. Instrumento para injus
tiças de patrões contra os empregados. Instrumento para o aumento da opres
são dos ricos e poderosos. Instrumento para dar apoio aos imperialismos e
colonialismos execrandos e desumanos. Foi tanta a displicência dos cristãos
que a palavra justiça foi arrebatada da bandeira cristã para hoje ocupar lugar de
destaque na bandeira vermelha do materialismo. A palavra justiça está mais na
boca de ateus do que na de cristãos. Chegou ao ponto de que quando um
cristão começa a falar em justiça, é considerado inimigo do cristianismo e ele
mento perigoso para a “Sociedade cristã democrática”.
Mas o Reino de Deus anunciado por Jesus é o grande Reino da Justiça, por
isso um Reino Revolucionário.
III. O Reino de Deus é escatológico - No ensino de Jesus sobre o Reino
vemos claramente dois fatos: o Reino já está no mundo e o Reino ainda será
consumado. Entre o presente e a con su m a çã o há um processo. Jesus inaugurou
a primeira etapa com a sua vinda ao mundo, trazendo o Reino. O mesmo Jesus
vai inaugurar a segunda etapa, quando viver na sua glória e consumar o Reino
(...)
Como observa Otto Piper, devemos evitar dois erros, quando falamos no
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Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
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PARTE III
A Igreja do Golpe de 19 6 4
até o Presente
Introdução
O protestantism o m undial já sentira os efeitos da III A ssem bléia do Conselho
M undial de Igrejas, em N ova D elhi (1961), durante a qual a adesão do Conselho
Internacional de M issões patenteou o vínculo essencial entre m issão e unidade, e a
adesão da grande m aioria das igrejas ortodoxas e de duas igrejas pentecostais do Chile
tornou o C M I mais católico (universal). A Assem bléia de U psália (1968) apresentou
m enos novidades form ais; entretanto, nas palavras de Aharon Sapsezian, esta A ssem
bléia foi a m ais representativa quanto à participação da juventude (em bora ainda um a
m inoria dos delegados) e, de todas as realizadas até então, a m ais voltada para o m un
d o .1 Observadores católicos rom anos declararam inexistirem “obstáculos insuperá
veis” à filiação da Igreja C atólica R om ana ao C M I.2 Finalmente, na V Assembléia,
reunida em N airobi em 1975, a educação cristã —um com ponente essencial do pro
testantism o — fez-se form alm ente representar pela prim eira vez graças à presença do
Conselho M undial de Educação Cristã, que se tornou um dos departam entos do
C M I. Sob a liderança de Philip Potter, o prim eiro secretário geral originário do Ter
ceiro M undo, a Assem bléia de N airobi foi a que m ais se voltou para essa vasta região,
sensivelmente influenciada pelas teologias da esperança e da libertação.
D o ponto de vista teológico, a tônica do período é o secular: D ietrich Bonhoeffer
e seu cristianism o sem religião; T h om as J. J. Altizer e seus correligionários que insisti
am, com Nietzsche, que D eus, pelo m enos no sentido do D eus transcendental, m or
rera; ou H arvey Cox, com seu célebre livro The Secular City (A C idade do H om em ).3
D epois aparece a teologia da esperança de Jürgen M oltm ann, da libertação, a partir de
G ustavo G utierrez4 e, na fase norte-am ericana, a teologia negra, representada por
Jam es C o n e.5
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pentecostal, basicam ente apolítica, em bora adotada m uito antes de 1964, é um a das
atitudes características dos protestantes frente ao regime militar. O s outros fatores
principais que levaram o autor a incluir aqui os docum entos sobre pentecostalism o
são: 1) a im portância num érica das igrejas pentecostais de fato só recentemente com e
çou a im pressionar as igrejas históricas. N os últimos vinte anos, seu crescimento tem
sido fenom enal; 2) só recentemente o seu significado teológico com eçou a ser sentido
e pesquisado pelas demais com unidades evangélicas.10
Esta seção conclui com um a série de docum entos relativos ao m inistério feminino.
C o m o os m esm os docum entos deixam claro, os m inistérios fem ininos, inclusive o
exercício do m inistério pastoral, não se originaram depois de 1964. Entretanto, foi
nesse período, em outras partes do m undo, que a m aioria das igrejas optou pelo reco
nhecim ento dos plenos direitos clericais da mulher. O assunto continua em debate no
Brasil. Pareceu justificável ao autor reunir num só lugar, para conveniência do leitor,
todos os docum entos relativos à questão.
OS BATISTAS
Introdução
D e todas as igrejas históricas, só os batistas conseguiram m anter sua antiga ênfase
evangelística, sem passar por um a crise de maiores proporções. A característica mais
m arcante da denom inação no período do regime m ilitar tem sido suas grandes cam
panhas de evangelização nacionais e continentais. E m 1960, o ano em que.a Aliança
Batista M undial realizou o seu X Congresso na cidade do R io de Janeiro (26 de junho
a 3 de julho), o renom ado evangelista Billy Graham pregou a 200 m il pessoas no
estádio do M aracanã e o brasileiro João Filson Soren foi eleito presidente da Aliança
Batista M un d ial.11
A pregação de Billy Graham no M aracanã, prenúncio das cam panhas de 1965 em
diante, é coerente com o zelo evangelístico batista desde os prim órdios. H á, porém ,
evidência sólida de que os batistas encararam a Cam panha N acional de Evangelização
(1965) com o sua resposta ao golpe de 1964. Devidam ente aprovada pela 4 6 a A ssem
bléia da Convenção Batista Brasileira, os preparativos com eçaram im ediatam ente, sob
a dinâm ica liderança do presidente da com issão coordenadora, Rubens Lopes, pastor
da Igreja Batista de Vila M ariana, São Paulo.12 D urante 1964, o ano preparatório, por
quase todos os núm eros do Jo rn al Batista e pela quase onipresença do lem a “C risto, A
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
escrito antes de deflagrado o golpe militar. O fato de ter sido publicado norm alm ente,
não obstante o início do regime militar, é revelador. O tema, “Jesus C risto, Esperança
N ossa” é de 1 Tm 1.1 (cf. C l 1.27), sendo tam bém o tem a da C am panh a N acional de
Evangelização.17
313
á
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portam ento frente ao golpe militar, que ele interpretou com o um a vitória da dem o
cracia sobre o com unism o.
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ra. Estamos certos, por exemplo, de que Deus atendeu às orações incessantes de
seu povo pela pátria. Quando tudo parecia turvo, quando os defensores da de
mocracia pareciam estar desavindos uns com os outros, quando parecia que to
dos estavam mistificados, tudo se esclareceu e viu-se, por exemplo, que as forças
armadas brasileiras não estavam tão infiltradas como se supunha; que a indisciplina
não tinha dominado os quartéis, e que o regime democrático podia confiar nos
seus defensores. Um milagre de Deus, atendendo as orações de seu povo. E o que
cremos. Agora é preciso continuar. Orar mais do que nunca. Trabalhar mais do
que nunca na pregação do Evangelho. Já dissemos mais de uma vez que esse é o
grande remédio. Já dissemos que só acreditamos em Cristo como a esperança.
Os crentes têm que viver à altura das circunstâncias atuais. A vitória da democra
cia, o restabelecimento do respeito à constituição, o crédito da confiança dado ao
congresso nacional, tudo isso significa para nós, crentes, oportunidades. Não
será agora que se vai estabelecer censura e limitação da liberdade no Brasil. Mas
que tal hora nunca chegue. Orem os crentes, velem os crentes, trabalhem os
crentes. Quanto mais o Evangelho de Jesus Cristo, em toda a sua pureza e inte
gridade, vencer no Brasil, tanto mais longe ficaremos de qualquer ditadura ou
forma de opressão. Porque um crente legítimo é o antitotalitário por excelência;
o crente legítimo é o adversário natural da corrupção em qualquer das suas for
mas, e da injustiça social, e da exploração do homem pelo homem. Justiça, liber
dade, verdade, honestidade, pureza, esses belos ideais só se alcançam quando
Jesus domina os corações. Vivamos e lutemos para que Jesus Cristo impere em
nossa pátria.21’
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História Documental do Protestantismo no Brasil
(...)
1. Incompetência política da Igreja
Não compete à Igreja, como o Corpo de Cristo que é, qualquer prerrogativa
em função política. Tais prerrogativas lhe são estranhas, quanto são alheias ao
Estado as atividades e atribuições religiosas e eclesiásticas.
Também não compete à Igreja a chamada função politizadora. Compete isso
aos órgãos políticos e não aos eclesiásticos. E tão incompatível a ação politizadora
com as atribuições de uma Igreja quanto são as funções do Estado e o
doutrinamento teológico e a formação religiosa dos cidadãos.
... [Os cristãos devem atuar na política, mas] na qualidade de cidadãos, e não
na qualidade de porta-vozes ou de representantes de igrejas.
2. Pronunciamentos e manifestos eclesiásticos de natureza política
Tais pronunciamentos, quando emitidos por igrejas, ou por entidades vincu
ladas a igrejas, constituem transgressões do princípio de separação entre a Igreja
e o Estado. Tanto direito assiste à Igreja de emitir pronunciamentos sobre injunções
políticas, quanto tem o Estado de pronunciar-se sobre injunções eclesiásticas e
teológicas.
(...)
3. Vinculação da Igreja a organizações e movimentos políticos
A Igreja, a ser fiel à sua missão, não poderá aliar-se a organizações ou movi
mentos políticos, ideológicos ou partidários, mesmo quando tais correntes
desfraldam bandeiras e ostentam legendas que afinem com os ideais da Igreja e o
Evangelho.
Não deve a Igreja formar, quer na “marcha dos camponeses”, quer na “mar
cha da família” . Trata-se de movimentos políticos cujas fileiras as igrejas não
devem engrossar. Outra, muito outra é a marcha da Igreja de Jesus Cristo. Sem
pre que a Igreja se deixa prender a tais movimentos, não só se afasta ela do seu
autêntico roteiro divino e espiritual, como também perde em prestígio, tanto da
parte a que se alia, como também da parte divergente e politicamente adversa.
4. Penetração político-partidária no ambiente eclesiástico
Assiste aos crentes individualmente o direito de preferências político-partidá-
rias, mas não lhes assiste o direito de utilizarem a sua qualidade de membros das
igrejas para os fins de propaganda ou contrapropaganda política através das ins
tituições, reuniões, e demais serviços mantidos pelas igrejas. Tal abuso acarreta
inevitavelmente conseqüências desastrosas. Além de transferir para o seio da Igreja
as tensões de refregas e competições seculares, atenta frontalmente contra a dig
nidade e autonomia das igrejas.
5. A Igreja e os regimes políticos
Se não cabe a vinculação da Igreja em partidos políticos, também não é cabí
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
321
História Documental do Protestantismo no Brasil
mal e a iniqüidade. São elas as vozes mais antigas e mais poderosas nesse comba
te. Mas também as autênticas igrejas de Jesus Cristo não se apoiam em
messianismos políticos, sociais e econômicos do século para o cumprimento de
uma missão profética neste mundo. Quando esses movimentos efêmeros surgi
ram, já encontraram a Igreja na peleja.
(...)
E esta uma hora que requer sabedoria e prudência. Havemos de estar lembra
dos de que o Evangelho de Jesus Cristo é poder de Deus para a salvação: salvação
da alma e da vida, salvação presente e salvação eterna, salvação da pessoa huma
na em todas as suas relações e potencialidades. A política da Igreja é a política de
um reino espiritual, cuja alma é a verdade e cujo poder é o Espírito Santo.22
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
( j~6~P) D O C U M EN TO : Mensagem
A situação religiosa do Brasil no momento atual é constrangedora. Não é
preciso dizer o que faz e o que significa a Igreja Católica;24 a macumba se vai
alastrando de tal maneira que dizem haver mais de 30 milhões de macumbeiros
em nossa pátria; as religiões de origem oriental vão tendo impressionante cresci
mento como a chamada Igreja Messiânica; grupos tidos como carismáticos, a
apregoar curas e outros milagres, vão-se multiplicando e com seus fracassos au
mentando também o número dos desiludidos. O panorama religioso geral é de
323
História Documental do Protestantismo no Brasil
OS PRESBITERIANOS
Introdução
Para um a m elhor apreciação do presbiterianism o brasileiro após o golpe militar,
será necessário recordarmos suas tendências desde 1950. Por exemplo, form ou-se, em
1954, o Conselho Interpresbiteriano assim integrando os esforços da Igreja Presbiteriana
do Brasil e as missões da P C U S (Sul) e P C U S A (N orte). E m 1962, a m issão Brasil
Central (P C U SA ) determinou-se a entregar à IPB toda a sua obra evangelizadora, e, a
associações controladas pela m esm a Igreja, sua obra educativa e m édica.26 A execução
desta últim a parte tem sido bastante lenta. A IPB m anifestava interesse no m ovim ento
ecum ênico, tendo havido m em bros seus na Assem bléia do Conselho M undial de Igre
jas em Am sterdã (doc. 122) e observadores de outras assembléias. N esse período tam
bém vieram m issionários, especialmente da P C U S A —com o Richard Shaull, o mais
influente de todos —que insistiram na aplicação prática do Evangelho em term os de
justiça social. Enquanto era sentida a influência de novas correntes teológicas da E u
324
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
ropa e da Am érica do N orte, trazidas tanto pelos m issionários com o por brasileiros
que estudaram no estrangeiro, ao lado da teologia tradicional de Charles e Archibald
Alexander H odge e seus correligionários, acom panhada de inevitável fermentação
dentro dos sem inários, progressivamente a m ocidade presbiteriana se politizava. O
im pacto destas ênfases e tendências é claramente perceptível no Suprem o C oncilio de
1962, reunido no R io de Janeiro, quando a IPB fez seu significativo “pronunciam ento
social” , cujo texto encontra-se adiante.
D e 1962 a 1966, com o advento do regime militar, m udou radicalm ente o clima
dentro da IPB. O Suprem o Concilio de 1966, realizado em Fortaleza, m arcou o início
da era Boanerges Ribeiro. A seguinte avaliação da nova postura da Igreja foi feita por
observadores norte-americanos, após o prim eiro quadriênio da nova adm inistração:
O moderador (presidente), que completou um mandato de quatro anos foi
reeleito pela Assembléia Geral (Supremo Concilio) na sua reunião em meados
de 1970. Ele é a encarnação da posição assumida pela Igreja, e proporciona uma
liderança dinâmica, baseada em um forte governo central que não permite ne
nhum desvio ou diferença de opinião... [Observa-se] o surgimento e cristaliza
ção das seguintes políticas...
1) A ênfase primária na evangelização e na missão da proclamação da Igreja,
a preocupação social tida como derivada. Primeiro a evangelização; depois, o
bem-estar social.
2) A prática do ecumenismo só dentro de parâmetros restritos limitada a rela
cionar-se ou cooperar com outras denominações protestantes.
3) Uma posição anti-romana intransigente, extensiva a manifestações
pentecostais dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil.27
A postura anti-romanista, antiecumênica, antipentecostal (tam bém anticom unista,
antim odernista) continua a caracterizar a Igreja, enquanto os valores tradicionais do
calvinism o e presbiterianismo são enaltecidos. Jam es W right adm ite com o um a das
possíveis raízes do rom pim ento entre a IPB e a M issão Brasil Central, a adoção pela
U P C U S A da C on fissão de 1967, “a qual, alega a IPB , substitui a C o n fissão de
W estm inster” , sendo que um dos m arcos da atual IPB é a ferrenha lealdade a
W estminster.28 Q ue a posição assum ida em 1966, aliás análoga então à situação polí
tica do país, goza de considerável grau de apoio dentro da IPB é atestado pela sua
longa duração.
E m 1973, a IPB rom peu, unilateralmente, relações com a U P C U S A depois de
bem m ais de um século de colaboração, firm ando logo um novo convênio com a
325
História Documental do Protestantismo no Brasil
(J 6 2 ) D O C U M EN TO : Conclave na encruzilhada
A Igreja Presbiteriana do Brasil está na encruzilhada. O caminho bifurca-se
em Fortaleza, Ceará. O caminho da esquerda é o "Evangelho Social”, que diz ser
326
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
a Igreja responsável pela miséria de que sofre grande parte da humanidade, e que
devemos dar assistência social ao mundo, para conversão dos pecadores. Esse
caminho, o da esquerda, está facilitando a licenciosidade teológica. E o caminho
da confusão doutrinária, da inversão dos valores espirituais, da corrupção eclesi
ástica, do sincretismo religioso universal, ao qual dão nome falso de ecumenismo.
E o caminho perigoso do negativismo bíblico. O outro caminho é do Evangelho
de Cristo, dos apóstolos, de Lutero e Calvino, da Assembléia de Westminster...
da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1859 até agora —Evangelho que prega
assistência social ou boas obras como conseqüência da salvação, e não como
causa da conversão. Os países em meio de cujo povo não se encontram párias
nem marginais, porque varreram de seus solos a miséria e o analfabetismo, não
precisaram do “Evangelho Social”, apegaram-se ao Evangelho de Cristo, exclusi
vo das Santas Escrituras. Na encruzilhada de Fortaleza os legítimos e fiéis repre
sentantes da Igreja Presbiteriana do Brasil, parte dos 7 mil que não dobraram os
joelhos a Baal, precisam estar cheios do poder e da graça de Deus —cheios do
Espírito Santo, revestidos de humildade e divina coragem, a fim de resistirem às
tentações da grandeza ofuscante do sincretismo programado pela Igreja Romana
e o Conselho Mundial de Igrejas, com a roupagem de ecumenismo.31
327
História Documental do Protestantismo no Brasil
328
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
coordenar o trabalho das igrejas locais que a ela se associam e promover a obra de
evangelização e implantar os ideais do Reino de Deus e da bondade, da justiça e
da verdade em todas as esferas da vida e da cultura, (...)
Artigo 6 - A Aliança de Igrejas Reformadas do Brasil é administrada por um
conselho geral, composto pela sua diretoria e pelos representantes legais dos con
selhos regionais associados a esta Aliança.
§ I o — Os conselhos regionais serão constituídos de representantes de
agremiações de igrejas e de igrejas locais, que se reúnem para melhor desenvolver
os trabalhos das regiões em que se encontram.
§ 2o - E de natureza espiritual o vínculo das igrejas locais e dos conselhos
entre si e com esta Aliança, excluída qualquer subordinação compulsória e
patrimonial.34
329
História Documental do Protestantismo no Brasil
quadro de igrejas.
A Aliança de Igrejas Reformadas do Brasil dirige às igrejas reformadas de
minorias étnicas, atualmente em operação no Brasil, a expressão de sua solidari
edade cristã e de sua apreciação pela obra que realizam em nossa pátria, e ao
mesmo tempo manifesta a essas igrejas o seu sincero desejo de maior comunica
ção intercomunitária, certas [sic] de que dessa comunhão espiritual advirá neces
sariamente um fortalecimento recíproco para ambas as partes.
Imbuída dos ideais de Jesus Cristo, que não fazia distinção entre judeus e
samaritanos nem os discriminava pela coloração dogmática que porventura pro
fessassem, a Aliança de Igrejas Reformadas do Brasil tem uma orientação decidi
damente ecumênica. Entendemos que nem nossa herança histórica, por mais
preciosa que nos possa parecer, nem nossas distinções teológicas, por mais segu
ros que possam estar da veracidade do sistema que professamos, podem ser razão
para deixarmos de considerar irmãos, indivíduos de filiação religiosa diferente da
nossa.
A Aliança de Igrejas Reformadas do Brasil não desconhece que a vida tem
uma projeção transcendental e uma dimensão extraterrena, mas entende que os
aspectos metafísicos da mensagem cristã não podem levar a Igreja a perder de
vista a responsabilidade que tem para com o homem e com sua situação na vida
aqui e agora. Tudo o que diz respeito ao homem, tanto no plano material —o
pão, o agasalho, a saúde, a educação etc. - bem como no plano de seus ideais e de
seus direitos fundamentais como pessoa humana, concerne à Igreja e à sua mis
são. A Aliança de Igrejas Reformadas do Brasil, fiel à sua missão como Igreja,
acompanha com o mais vivo interesse e em constante intercessão, as lutas de
nosso homem brasileiro por uma vida melhor, mais sadia, mais rica e mais com
pleta.
Em suma, ela deseja cooperar com todas as boas causas humanas, trazendo-
lhes o concurso da inspiração renovadora e humanizadora do Evangelho, e aju
dar todos os homens a descobrir os tesouros de vida, de renovação moral, de
fraternidade e de harmonia que existem em Jesus Cristo. Por isto mesmo —estamos
convencidos —em Cristo crido e obedecido está a chave para a solução de todos
os problemas do homem moderno da nossa civilização. Nele está a fonte de
todos os valores que nos podem assegurar uma civilização integral.
Deus nos ajude a nós e a todos os discípulos do Senhor Jesus Cristo para que
sejamos testemunhas eficientes desse Evangelho eterno que é a esperança do
mundo.
Presidente: Luís Boaventura
Vice-presidente: Th. Henrique Maurer Jr.
I o Sec. : Márcio Moreira
330
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
331
História Documental do Protestantismo no Brasil
332
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
4. Como igrejas reformadas e que, por isso, estão sempre se reformando, acei
tando a multiforme operação do Espírito Santo na vida do povo de Deus, e em
obediência às estratégias de Deus nas mutáveis situações, reconhecemos o direito
a diferentes formas de fidelidade e posicionamentos exegéticos e teológicos pe
rante as Escrituras Sagradas.
5. Reconhecemos que o ministério da Igreja total não pode ser reduzido ao
ministério pastoral, mas que a diversidade de dons e vocações do Espírito é con
cedida a todos os membros do povo de Deus, sem exclusão de nenhum deles por
motivo de sexo, de cor, de cultura e de posição social.
6. Reconhecemos a necessidade de orientação pastoral e pedagógica mais uni
forme, em maior consonância, com as prioridades doutrinárias, conforme
estabelecidas nos símbolos da fé, para mais eficiente doutrinação das comunida
des.
7. Fiéis à oração sacerdotal do Senhor e ao empenho de Calvino em favor da
unidade da Igreja, sentimo-nos obrigados à convivência com o movimento de
diálogo interconfessional nacional e mundial e à participação na Aliança Mun
dial das Igrejas Reformadas, e recomendamos orações pela unidade cristã.
8. Adotamos, como expressão da responsabilidade social da Igreja, o Manifes
to Social da IPB aprovado pelo Supremo Concilio no ano de 1962.39
333
História Documental do Protestantismo no Brasil
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
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História Documental do Protestantismo no Brasil
anos, após o que ele poderia residir em outra cidade que o concilio
porventura determinar. Entendemos, no entanto, que, desde a sua volta
ao Brasil, o presbitério terá plena liberdade de designar o seu campo de
trabalho, porquanto embora residindo em Brasília —ele terá o avião PT-
CK C à sua disposição para suas viagens evangelísticas.
Queremos deixar claro que a Igreja Presbiteriana Unida dos EUA não
interferirá nos trabalhos do Rev. Alberto Reasoner e do Rev. Gordon Trew.
Eles receberão suas instruções do Presbitério Brasil Central e prestarão a
ele seus relatórios. Ambos já estão de posse da Constituição da IPIB e
sabem que deverão pautar os seus trabalhos sob a jurisdição da IPIB.
Confirmamos que os serviços a serem prestados pelos nossos obreiros se
rão sem ônus para esse concilio. Confiamos, no entanto, que o presbitério
—preocupado com a mordomia e em evitar a formação de elos de depen
dência que sejam prejudiciais ao desenvolvimento da obra e da eventual
independência financeira das congregações —estabelecerá planos que vi
sem à participação dos crentes nas despesas desses obreiros.
O Espírito Santo está agindo em sua Igreja. Somente assim podemos en
tender o milagre de reconciliação que une agora nossas duas denomina
ções presbiterianas, pela primeira vez desde 1903. Ao mesmo tempo, em
que rendemos graças e louvor ao nosso Deus por tão gloriosa dádiva, ro
gamos que Ele abençoe o Presbitério Brasil Central, orientando os planos
desse concilio para que a sua vontade prevaleça e o seu reino seja fortale
cido.
Almejando as bênçãos contínuas de Deus sobre o seu trabalho, bem como
o de todos os irmãos de presbitério, abraça-o, fraternalmente,
Rev. Jaime Nelson Wright, representante no Brasil da IPU nos EUA41
A IPIB e a renovação
O m ovim ento cham ado “carism ático” pela ênfase nos dons (charismata , no grego)
do E spírito, teve nova expressão no cristianism o ocidental, protestante e católico,
nestas últim as duas décadas. N enhum a denom inação ficou isenta da influência do
m ovim ento, que resultou, não raro, em cism as em igrejas locais e nas próprias deno
minações. N a IPIB , tomaram-se providências enérgicas no Suprem o C oncilio de 1972,
e no ano seguinte um segm ento da Igreja separou-se para form ar a Igreja Presbiteriana
Independente Renovada, que posteriormente se jun tou a um grupo semelhante egres
so da IPB , form ando a Igreja Presbiteriana Renovada. O órgão oficial desta nova
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
(m ) D O C U M EN TO : Avivamento espiritual
Sobre o relatório da comissão especial da Mesa Administrativa do Supremo
Concilio para tratar do assunto “avivamento espiritual” em nossas igrejas e cole
tar informações sobre o assunto. Parecer:
1. Examinados os documentos, verificou-se:
a) que o movimento chamado “avivamento”, “reavivamento”, “despertamento
espiritual”, “avivantismo” etc., tem adquirido em determinadas circunstâncias,
no tempo e no espaço, formas nitidamente pentecostalistas;
b) que em suas práticas, muitas vezes, apresentam um comportamento que
está fora das nossas tradições presbiterianas, doutrinárias e forma de culto;
c) que em seus movimentos muitas vezes sem um controle criterioso têm
dado oportunidade à exploração por indivíduos mal intencionados, aproveitadores
das comunidades presbiteriano-independentes;
d) que grupos muitas vezes criados dentro de nossas comunidades, represen
tados pelos chamados “profetas”, “profetizas”, “servos do senhor”, e práticas como
“unção com óleo”, “ósculo santo”, “cumprimentos —na paz do Senhor”, “uso de
línguas estranhas”, “atividades de cura divina” etc., são identificações das igrejas
pentecostais, assumindo atitudes concorrentes e de substituição aos que conti
nuam fiéis à nossa tradição presbiteriana e da autoridade regente e docente do
nosso presbiterato que até hoje tem dado tantas glórias à IPI do Brasil em nome
do senhor da Igreja, Jesus Cristo;
e) que é público e notório as infiltrações de elementos das igrejas pentecostais
nesses movimentos, minando a estabilidade e abalando os nossos princípios em
favor daquelas denominações;
f) que a fidelidade aos nossos princípios doutrinários e forma de culto é ele
mento fundamental de identificação da nossa denominação e criador da unida
de da nossa amada IPI do Brasil.
A comissão propõe:
2. Que o Supremo Concilio:
a) reafirme sua fidelidade às doutrinas e normas bíblicas do presbiterianismo
consubstanciados nos seus símbolos de fé e catecismo;
b) embora respeitando os pentecostais em suas denominações, o Supremo
Concilio não consente que suas doutrinas e práticas pentecostais, sejam adotadas
pelas nossas igrejas, quer nos templos ou em outros locais, visto haver elementos
estranhos aliciando membros de nossas igrejas para reuniões em casas particula-
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
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História Documental do Protestantismo no Brasil
OS METODISTAS
Introdução
O pano de fundo dos acontecim entos e tendências nacionais, entre o fim da Se
gunda Guerra M undial e o golpe m ilitar no Brasil foi a “guerra fria” entre as superpo
tências capitalista e comunista. O nacionalismo brasileiro, pouco evidente no regime
D utra (1945 -1 9 5 0), quando o com unism o foi proibido (1947) e o país estava em
quase com pleta subserviência aos Estados Unidos, ressurgiu sob Getúlio Vargas (1950-
1954) e se fortaleceu sobremaneira no regime de Jo ão (“Jan go”) G oulart. Representa
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
va resistência à dom inação norte-americana; e por essa razão adquiriu o colorido m ar
xista, tanto russo quanto chinês m aoista. Em meio a estas tensões criadas pela guerra
fria, crescia um a população universitária evangélica cuja presença se fazia sentir em
diversos níveis, desde o m ovim ento de estudantes cristãos até a Sociedade M etodista
de Jovens, especialmente nos congressos regionais e nacionais. A juventude universitá
ria e os acadêm icos de teologia pleiteavam um a Igreja m ais voltada para a ação social
e a política, e exigiam as m udanças estruturais necessárias para tanto.46
Desenvolveram-se diversos m ovim entos e tendências dentro da Igreja, a partir do
“esquem a” liderado por Nathanael Inocêncio do N ascim ento, então reitor da Faculda
de de Teologia. O “esquema” visava substituir a liderança m issionária por brasileira,
segundo o m odelo presbiteriano adotado em 1917 (doc. 83) bem com o dar um a
direção mais nacionalista à Igreja em geral. A demissão voluntária de dois secretários
gerais, respectivamente Robert D avis e D uncan Alexander Reily esvaziou o m ovim en
to, pois conseguiu, sem coerção, um dos seus principais objetivos.47 D o is brasileiros
assum iram os postos deixados, a saber, Alm ir dos Santos e O m ar D aibert, que poste
riormente se tornaram bispos.
O utro fator im portante foi o trabalho da Ju n ta G eral de A ção Social, ponto
nevrálgico no período em apreço. D esde a gestão de R obert D avis, a Ju n ta com eçou a
enfatizar a sociedade responsável48 e a urgência da aplicação prática do Credo Social,
com sua forte ênfase na justiça social. Esta política foi seguida pelo novo secretário,
Almir dos Santos, até sua eleição ao episcopado em 196 5,49 e tam bém foi seguida
durante os prim eiros anos do regime militar, por João Paraiba D aronch da Silva,
eleito pelo C oncilio Geral para substituir Alm ir dos Santos.50 Semelhante tendência
dom in ou a Faculdade de Teologia nos prim eiros anos do regime militar, culm inando
com o convite para que D o m Helder C âm ara paraninfasse a form atura de 1967 -
gesto ao m esm o tem po ecumênico e sim bólico de apoio ao program a social do arce
bispo — e, no ano seguinte, na greve que ocasionou o fechamento da Faculdade de
T eologia pelo G abinete G eral e sua reestruturação pelo C on cilio Extraordinário
(1 9 6 8 ).51 N ão houve, entretanto, um a análise profunda das causas da “crise” .
D e 1968 em diante, a IM B tendeu a voltar-se m uito mais para si m esm a do que
para o m undo. V isando aperfeiçoar sua própria organização e estrutura, ela de fato
introduziu m udanças estruturais substanciais sem, contudo, se tornar mais apta para
a efetiva participação na m issão de D eus no Brasil. A mais evidente tendência foi o
regionalism o; já em 1971, cada concilio regional elegeu, pela prim eira vez, seu pró
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História Documental do Protestantismo no Brasil
prio bispo (sempre os bispos tinham sido eleitos no C oncilio Geral, com o superinten
dentes gerais da IM B ).52 A tendência regionalista, reforçada pela atitude de desconfi
ança da Igreja quanto à Faculdade de Teologia na sua nova fase, se expressou na proli
feração de sem inários regionais, cuja criação teve o respaldo dos Cânones de 1971.53
O regionalism o, que tendia a gerar seis pequenas igrejas m etodistas, foi contestado
no C oncilio Geral de 1978, m as não inteiramente repudiado; de fato, pode ser visto
com o a antítese da anterior centralização de autoridade (tese) cuja síntese foi alcançada
em 1978. O s bispos seriam eleitos novamente pela Igreja toda, no C oncilio Geral,
m as “p a ra as regiões eclesiásticas” logo, não para toda a Igreja.54 Tam bém , a prolifera
ção de sem inários regionais tão evidente no começo da década já se encontrava freiada,
estando em funcionam ento apenas dois em 1978 e um em 1981.55
O m etodism o, na década dos 70, em meio à explosão da população estudantil
universitária, entrou com decisão na educação superior, e nesse período quase todos
os seus principais colégios criaram faculdades; no cam pus da antiga Faculdade de
Teologia surgiu o Instituto M etodista de Ensino Superior (IM S ); o m ais antigo
educandário m etodista passou a ser um a universidade: a Universidade M etodista de
Piracicaba (U N IM E P ), que celebrou seu centenário em 1981.
N ão é m uito seguro se o m etodism o já se definiu, na data que estas palavras estão
sendo escritas (6 /1 2 /1 9 8 1 ), mas parece ao autor que as linhas m estras da nova postura
m etodista se definiram no docum ento sobre educação, que ainda está em debate, e
cujo posicionam ento será evidente ao leitor.
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
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História Documental do Protestantismo no Brasil
largados a sós. Afinal, a Igreja é nossa ou do Cristo? Quem a conduz, somos nós
ou o Espírito Santo? Desde quando as portas do inferno prevalecem contra ela?
Do lado evangélico e do católico há reservas a Teilhard de Chardin —e que
teólogo não suscita reservas? —mas parece, em definitivo, para o pensamento
cristão, que é perfeitamente possível ver a criação como uma evolução criadora e
aceitar que, nos planos de Deus, o homem, criado à Sua imagem e semelhança,
a partir do momento em que surge, recebe a incumbência de dominar a natureza
e completar a criação.
Para o marxista levado a encarar a Bíblia com atenção e respeito, o cristianis
mo conquista simpatia com sua visão do homem como artífice da história.
Quem fica provocando os marxistas e servindo-lhes de tentação é Rahner
com a força que descobre no cristianismo como religião do futuro absoluto. “Se
o homem progride, se existe uma verdadeira história, isto se deve a que existe
uma plenitude absoluta, transcendente, que impele para diante o projeto huma
no.”
Porque existe em cada homem esta presença ativa e exigente, o homem,
submerso em sua história, pode transcendê-la e promover-lhe a superação.
O ateísmo nasce quando o homem não reconhece seu Deus neste chamado,
mas confunde seu futuro absoluto com um dos futuros concretos. Reconhecer a
Deus no futuro absoluto do homem é tornar possível um humanismo integral.
O marxista reconhece a exigência nunca satisfeita, de totalidade e de absolu
to. Mas acha que sua sede não prova a existência da fonte. Transformar as per
guntas angustiadas em respostas, seria, para ele, alienação religiosa.
Garaudy chega a perguntar: “Será empobrecer o homem ensinar-lhe que ele é
um ser incompleto, mas que tudo depende dele, que toda a nossa história e o seu
significado se desenvolvem na inteligência do homem, em seu coração e em sua
vontade, e em nenhuma outra parte mais?”
Ao que ele mesmo responde: “Creio que o ateu marxista deixa ao homem
apenas a ilusão de incerteza. Creio que a dialética marxista vivida em sua pleni
tude acaba sendo mais rica em infinito e mais exigente do que a transcendência
cristã”.
Infelizmente, nosso testemunho cristão não raro escandaliza, ao invés de fir
mar na fé; afasta da prática religiosa e quem sabe, da crença religiosa. Imagine-se
o que representaria para marxistas:
—descobrir, em volta de si, religião que nada tem de alienante, cristianismo
encarnado como o próprio Cristo;
—ter a surpresa de ver cristãos que longe de imaginarem um Deus pequenino
com ciúme do homem, apresente[m] um Deus largo e generoso que exulta ven
do o homem deflagrando forças capazes de abalar o universo, semeando estrelas
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
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História Documental do Protestantismo no Brasil
Sendo ricos, a nós nos cabe tentar evitar em nós e em volta de nós atordoa
mentos conscientes ou inconscientes. E tão fácil o rico ter escamas nos olhos,
tornando impossível descobrir misérias em volta de sua casa ou de sua empresa!
É tão comum que a ambição de ter vá levando a pisar direitos, esmagar cria
turas humanas, atrasar famílias inteiras! E tão natural que a sede de bens não
tenha limites!
A felicidade, então, se torna quase impossível. Não falta bem-estar material,
nem satisfação de caprichos, nem requintes de conforto. Mas como a família fica
exposta ao perigo de lares paralelos, ao risco de um mínimo de vida em comum,
ao flagelo do desamor...
Se a Providência nos coloca em meio assim a nós, nos cabe a missão difícil e
delicada de romper carapaças, quebrar gelo, tirar escamas, desemburguesar,
humanizar, acender amor...
E tudo isso partindo do exemplo pessoal e realizado com inteligência e tato,
com humildade e sem sombra de arrogância, como transbordamento da espe
rança de quem sabe que não age sozinho, mas serve de instrumento a Jesus Cris
to.
Que seria do mundo se nós cristãos, além de agirmos assim, individualmente,
nos uníssemos para uma ação coletiva de reacender a esperança na terra dos
homens!
Hora estranha e curiosa! Nossos contemporâneos têm tudo para tornar feliz a
humanidade inteira. No entanto, dois terços e mais de dois terços dos homens
são infelizes pela miséria; o restante dos homens é infeliz pela ambição, pelo
atordoamento, pelo sobressalto, pela angústia.
Homens que carregam em si a fraqueza humana, nós cristãos somos, ao mes
mo tempo, filhos da esperança. Ajudemos nosso século a ir à raiz do desespero.
Denunciemos o egoísmo como responsável pelos desesperos materiais e morais,
pelas desesperanças, pela tristeza que cai sobre a terra, pelo medo que tende a
projetar sombra sempre maior sobre o chão dos homens...
AM OR
3. Ao encontro de irmãos, vítimas do desamor
... depois da energia nuclear, o homem ainda poderá ir incomparavelmente
mais longe em matéria de energia, quando, enfim, aprender a captar e a utilizar
o amor “a mais universal, a mais formidável e a mais misteriosa das energias
cósmicas”...
No dia em que o amor tornar realidade o sonho de paz do profeta Isaías então
não só as espadas se transformarão em arados, mas o que não será possível cons
truir com as astronômicas despesas da guerra de hoje?
Ficou célebre o apelo feito simultaneamente a Kennedy e Kruschev: com um
346
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
avião de bombardeio que cada um dos dois oferecesse, seria possível manter,
durante um ano, todos os leprosários do mundo...
E verdade que todas as famílias cristãs reunidas, somadas, ainda somos um
pugilo dentro da humanidade. Mas não faltariam, para além do cristianismo e
até de qualquer fé explícita, cristãos que se ignoram, cristãos de atos, homens de
boa vontade, para acompanhar-nos nesta escalada de amor.
E o mais importante e mais sério é que teríamos por nós e conosco o Cristo,
pois dele é a promessa de estar com dois ou três que se reúnem em seu nome.
Como não estaria, com a revolução de amor, tramada, em escala planetária,
pelos cristãos? ...
De que não seria capaz esta explosão de amor, se dentro do amor humano
estaria o amor divino, se dentro do amor mesclado do desamor estaria, poderoso
e invencível, o puro e belo amor?...
APELO
O mundo sofre de uma sede desconhecida de fé, esperança e amor. Levemos
Cristo ao encontro dos irmãos ateus que ignoram como andam sedentos de fé.
Levem os C risto ao encontro dos irm ãos m arcados pelo desespero e
necessitadíssimos de esperança viva e verdadeira.
Levemos Cristo ao encontro dos irmãos, vítimas do desamor e eles serão saci
ados.5'’
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
rito é livre e soberano: age onde, como e quando lhe bem apraz, em seu objetivo
de fazer amadurecer a condição para a consumação do Reino. Esta consciência
nos compromete sempre com o projeto de Deus e nos liberta da ilusão totalitária
dos projetos humanos, levando-nos a renunciar a toda e qualquer atitude de
triunfalismo institucional.
A fé nos desperta uma consciência crítica, a partir da percepção de que os atos
de Deus na história se constituem num processo de ensino (Dt 6; Mt 28.19). O
Reino de Deus, manifesto em Jesus Cristo, revela o propósito libertador de Deus
concedendo ao ser humano “uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da
ação e poder do Espírito Santo” (Plano Quadrienal, 1978, item 4, pág. 10; Jo
8.32; Lc 4.18-21) em confronto com todas as forças opressoras (Lc 11.39-46;
22.1-2; 1.51-53; 4.18; 6.20-21; 24-25; 12.15-21; 18.24-30). Essas forças opres
soras são condenadas como expressão do pecado tanto individual quanto soci
al...
A salvação, portanto, deve ser vista globalmente, como resultante da ação de
Deus na história e na vida das pessoas (...) não se restringe à idéia de salvação da
alma (...) mas (...) a ação do Deus que age na realidade cultural-ideológica de
cada povo e cada indivíduo, libertando-se para servir a Deus e ao próximo e
participar da vida plena no Reino de Deus.
A Revelação do Reino de Deus em Jesus Cristo é para a Igreja motivo de
esperança. Sua realização parcial na história se dá na forma de sinais que mos
tram a possibilidade de plenitude futura... Desenvolve consciência crítica à me
dida em que desmascara todas as ideologias que pretendem possuir a verdade de
modo absoluto. A esperança do Reino permite à Igreja viver projetos históricos
visando a libertação da sociedade e do ser humano.
A ação de Deus, modelo da ação missionária da Igreja, atinge, transforma e
promove o ser humano na medida em que o vocaciona para um relacionamento
pleno e libertador com Deus e o outro para o serviço concreto na comunidade. A
natureza do Reino é também temporal na medida em que exige compromisso
com o novo homem e sua sociedade, na direção da vida abundante, da justiça e
liberdade (Jo 8.32; Rm 12.2). Em Jesus, o Reino de Deus desabrochou para
todos, principalmente para o pobre (Mt 5.3-11; Lc 1.51-53; 4.18; 6.20-21,24,25;
12.15-21; 18.24-30) que é acolhido como privilegiado do Reino exatamente
por sua necessidade maior de libertação.
Deus, em seu propósito de salvar o mundo, se manifesta sempre mediante
atos de amor, pois ele é amor (Jo 3.16; 1 Jo 4.8, 16). Seu amor tem como objeto
a totalidade da criação, pois nada foge à graça divina (Rm 8)... Em Cristo nos
ama de tal maneira que dá sua vida por todos nós e de modo muito especial pelos
pobres, oprimidos e marginalizados (Lc 4). Seu amor quebra as cadeias da opres
351
História Documental do Protestantismo no Brasil
são, do pecado em todas as suas dimensões. Por seu amor nos liberta do egoísmo,
para uma vida de comunidade em amor e serviço ao próximo. A nova vida que
Cristo nos oferece se manifesta quando comunitariamente nossa ação revela o
seu amor. Assim como o amor foi o fundamento da ação de Deus, toda a ação da
Igreja deve expressar este amor que Deus nos oferece.
A natureza do Reino de Deus é, também, abrangente, na medida em que
exige compromisso com o ser humano e sua sociedade, alcançando todas as pes
soas, todas as instituições e todos os setores da vida, bem como a pessoa total,
nos diferentes aspectos de sua vida...
II. Fundamentos para o estabelecimento de uma filosofia da educação
Nenhuma tarefa educacional é desenvolvida sem base filosófica... fundamen
tos implícitos da filosofia liberal, típicos de uma sociedade capitalista, têm
direcionado o processo educativo das instituições educacionais... [a saber]
—preocupação com ascensão social individualista, visando exclusivamente ao
êxito pessoal;
—acentuação do espírito de competição;
—aceitação do utilitarismo como norma de vida;
—colocação do lucro, decorrente da exploração do ser humano pelo ser hu
mano, como base das relações econômicas.
Nenhum desses elementos se harmoniza com a teologia e a filosofia que de
vem servir de base para a prática educativa metodista.
Torna-se, por isso, indispensável novo instrumental filosófico de dimensão
libertadora, ...permeando todo o trabalho desenvolvido nas instituições educaci
onais metodistas, desde a programação dos currículos, até suas práticas adminis
trativas, através do qual se possa desenvolver:
—consciência crítica da realidade;
—valorização social;
—ação solidária;
—espírito e prática de justiça;
—educação inserida na realidade concreta com proposta de libertação indivi
dual e social;
—realização da pessoa humana como fruto de esforço conjunto;
—distribuição equitativa do resultado do esforço social;
—a idéia de que é útil aquilo que tem valor social dentro de uma perspectiva
cristã e em consonância com uma escala de valores que promova a pessoa huma
na.
III. Política e objetivos para o sistema educacional metodista brasileiro
—área secular
...[A escola metodista] teve o seu lugar na história e contribuiu para o desen
352
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
353
História Documental do Protestantismo no Brasil
354
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
10) Deverá se desenvolver nas instituições uma vivência cristã coerente com
as diretrizes ora adotadas.
11) As instituições de ensino desenvolverão programas que proporcionem
condições aos participantes do processo educacional de libertarem-se das injusti
ças e males sociais visíveis, por exemplo, na organização da sociedade, na
deteriorização das relações entre pessoas, na deturpação do sexo, nos vícios, e
outros.
12) Serão desenvolvidos projetos de atendimento ao pré-escolar carente, como
ação preventiva à marginalidade e delinqüência.
13) [As igrejas locais também deverão] colocar seus recursos humanos e
patrimoniais em favor da comunidade, acima de tudo em favor dos pobres, e,
onde possível, em projetos que unam instituições educacionais e igrejas.
14) Deverá ser desenvolvida nas escolas e igrejas a preocupação com a forma
ção de docentes e especialistas, a fim de suprir essa deficiência em nossas institui
ções.
15) As instituições que, eventualmente, não se enquadrem ou não
correspondam às exigências das presentes diretrizes, serão socorridas e ajudadas
a redimensionar seus objetivos; se, após acurada e profunda avaliação, for cons
tatada a impossibilidade de reencontrar o seu caminho, serão fechadas.
TV Política para o sistema educacional metodista, na área teológica
...1. Aspectos organizacionais - Urge centralizar a formação pastoral na Fa
culdade de Teologia em São Paulo e diversificá-la nas especializações. Ao mesmo
tempo, a atualização de pastores e a capacitação dos leigos devem ser descentra
lizadas em Centros Regionais. Tais Centros Regionais também estarão envolvi
dos com a pesquisa e o debate teológico.
2. Aspectos acadêmicos - Serão estabelecidos currículos fundamentados nas
bases teológicas reconhecidas pela Igreja Metodista, com vistas a:
—mudanças na prática da pastoral, na ação do laicato e na igreja local;
—mudanças na metodologia do trabalho teológico, a partir do povo;
—mudanças nos programas de educação teológica destinados a leigos e pasto
res, por meios formais, não-formais e informais.
A CO G ETE63 identificará estruturas curriculares que permitam aos futuros
pastores manterem relacionamento freqüente com as suas regiões de origem,
visando adaptabilidade no seu retomo.
3. Docência - No recrutamento e seleção de professores de teologia para lei
gos e pastores, se observará a adequada qualificação dos docentes aos cursos a
serem ministrados.
Dever-se-á oferecer aos professores oportunidades de permanente atualização
e aperfeiçoamento.
355
História Documental do Protestantismo no Brasil
OS LUTERANOS
Introdução
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IE C L B ) tem se distinguido
pelos seus esforços de nacionalização e participação responsável na vida brasileira. Sua
seriedade nessa busca é ilustrada pela publicação do livro Quem Assume esta Tarefai
que tem com o subtítulo “U m docum ento de um a Igreja em busca da sua identidade” .
356
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
O Manifesto de Curitiba
A transferência para Evian, França, da Assem bléia da Federação Luterana M un di
al, planejada para se reunir em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, foi o evento que
estim ulou a IE C L B a elaborar claramente seu posicionam ento político-social. O VII
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História Documental do Protestantismo no Brasil
358
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
359
História Documenta! do Protestantismo no Brasil
N o s s a responsabilidade social
A Igreja Evangélica de C onfissão Luterana no Brasil - IE C L B - preocupada com o
despertam ento da responsabilidade e a ação social de seus m em bros, encam inha às
suas com unidades o docum ento abaixo com o seu prim eiro passo na elaboração de um
G u ia Diacônico.
361
História Documental do Protestantismo no Brasil
outros são (...) conseqüências daquelas distorções... (Am 5.7, 10-12) Seu resul
tado para os homens é auto-suficiência, orgulho, ganância, ânsia de consumo e
arbitrariedade entre os privilégios (Am 8.4-6); fome, miséria, desalento e injus
tiça ante os demais...
Contudo, onde a consciência acusa, o Evangelho levanta a voz profética para
chamar ao arrependimento, à libertação e à mudança radical (Mc 1.15). O Evan
gelho é o próprio Jesus Cristo que sofreu o mundo caído para libertar o homem
pecador (Lc 4.18-21). Em sua cruz confessamos a ação de Deus (1 Cor 1.18-
25). Por isso, também hoje não conseguimos ver Deus no progresso, mas sim
naqueles que são por ele abatidos, não no dinheiro, mas naqueles que não têm
como comprar o elementar para suas vidas (Mc 8.34-38). Deus simultaneamen
te padece e liberta ainda hoje. Assim a neutralidade se nos torna impossível (Rm
12.9-21). Somos chamados a tomar partido: Queremos subir na vida ou descer
à cruz de nosso semelhante? Queremos nos unir ao círculo dos interessados em si
mesmos ou dar as mãos para viver o amor de Cristo?
A renúncia a nós mesmos e o discipulado de Cristo nos são possíveis quando
acatamos esse mesmo serviço de Deus na cruz, que nos arranca de nossa profun
da insegurança e nos faz andar o caminho de Deus no mundo (1 Jo 4.9-17).
Assim colocam os toda a nossa capacidade, profissão, obra, posição, bens e vida a
serviço de quem de nós necessita. Esse caminho da renúncia e da solidariedade é
e será vitorioso. Isso confessamos como nossa esperança inabalável.
3. Realidade
- ... aproximadamente 1/3 dos brasileiros em idade escolar obrigatória, não
freqüentam a escola, devido ao trabalho prematuro, à enfermidade, à distância
da escola, à subnutrição ou à falta de vagas (l):71
- ...em várias partes do Brasil, o salário mínimo real em 1970, era cerca de
30% inferior ao de 1961 (2).
- A taxa de mortalidade infantil em países desenvolvidos é de 25 mortes para
cada grupo de mil crianças de zero a um ano de idade. No Brasil [há]... cem
mortes por mil crianças situadas em tal faixa etária. Tais taxas são especialmente
elevadas entre os setores de baixas rendas, geralmente com famílias numerosas,
mas com poucos recursos para atenderem às necessidades sanitárias e alimenta-
res de seus filhos (3).
- ... grandes parcelas de nossa população, especialmente no Nordeste e nos
bairros marginalizados de nossas metrópoles, passam fome, sendo por isso víti
mas fáceis das doenças de massa como a varíola, tuberculose, a verminose, a
esquistossomose, a meningite etc. Tal problema ainda se agrava pela insuficiên
cia de médicos... estes tendem a concentrar-se nas grandes áreas urbanas, dei
xando 1.500 municípios do país sem atendimento médico (4).
362
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
363
História Documental do Protestantismo no Brasil
Muitos, porém, só podem ser atacados pela ação coletiva. Tampouco basta a
ação meramente caritativa e assistencial; é necessária igualmente a ação pública e
transformadora. Como agir numa comunidade? Cada qual deverá encontrar a
solução mais condizente com a situação peculiar. Sugerimos a criação de peque
nos círculos com a finalidade de:
—identificar, numa reflexão conjunta, as situações de necessidade na socieda
de em geral e particularmente na comunidade local;
—procurar agir no sentido de transformar tais situações, levando à comunida
de impulsos para um engajamento social que envolva o maior número possível
de membros;
—colaborar e solidarizar-se com outros grupos de propósitos idênticos.
Se nos voltarmos assim para o pequeno círculo de nossa comunidade local ou
eclesial, podemos questionar-nos para saber quantos de nossos irmãos são víti
mas da injustiça, do pecado no âmbito social, em suas diversas formas? Quantos
de nossos vizinhos ou conhecidos são vítimas da ignorância por falta de oportu
nidade? Quantos deles, querendo trabalhar, não obtêm um emprego a um nível
de renda conveniente para satisfazerem suas necessidades básicas? Quantas pes
soas são oprimidas por doenças decorrentes da fome e da miséria e não podem
valer-se por si mesmas? Quantas são vítimas de preconceitos ou de perseguições?
Quantas vezes já dedicamos algum tempo de interessar-nos por pessoas necessi
tadas e indefesas? Ou será que sempre e exclusivamente nos preocupamos apenas
com o nosso bem-estar individual e familiar? Examinando, pois, os problemas
de subsistência, habitação, saúde, educação, emprego, distribuição de renda,
criminalidade, vício e outros em nosso meio, quais são os recursos de que dispõe
a nossa comunidade? Qual é a composição profissional de seus membros? Quais
são os instrumentos e organizações para a transformação? São eles apropriados
para tal objetivo? Em suma: que quer Cristo de nós diante de tais situações?73
O FENÔMENO PENTECOSTAL
Introdução
O m ovim ento pentecostal surgiu do m ovim ento de “santidade” , que por sua vez
deve m uito ao conceito wesleyano da perfeição cristã com o um a segunda obra da
graça, distinta da justificação. A sementeira específica provavelmente foi a E scola B í
blica deT opeka, Kansas, nos Estados U nidos. N essa escola, Charles Pahram defendia
a idéia de que o falar em línguas era um dos sinais que acom panhavam o Batism o do
364
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
365
História Documental do Protestantismo no Brasil
separou-se da Igreja Q uadrangular em 1956 para fundar sua própria cam panha de
evangelização, da qual surgiu a Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para C risto” .
Por causa dos m étodos e do tipo de espiritualidade com uns entre os pentecostais
(tendência proselitista; m oralism o rigorista proibindo cinema, teatro, TV, fum o e ál
cool; proibindo às mulheres o uso de m aquiagem , roupa ju sta e cabelos curtos), de
aspectos da sua teologia (sua interpretação da doutrina do Espírito Santo, especial
mente quanto aos dons, seu biblicism o, sua postura antiecumênica) e ainda por razões
sociológicas (seus m em bros parecem ser das classes inferiores e m arginalizadas, e as
igrejas pentecostais constituem-se, desse m odo, em “refúgio das m assas”), houve p o u
co diálogo entre pentecostais e igrejas históricas no Brasil. O relacionam ento foi m ar
cado pela polêm ica, desprezo e desconfiança. N a década dos 60, tanto protestantes
quanto católicos-rom anos começaram a tom ar os pentecostais m uito m ais seriam en
te. A sua expansão foi um fator decisivo nesta m udança de atitude, pois os pentecostais
ultrapassaram num ericam ente as igrejas históricas, inclusive a luterana. Por causa do
grande número dos seus seguidores, M anoel de M ello, por exemplo, concluiu que sua
Igreja deveria partir para a eleição de Geraldino dos Santos e Levi Tavares, am bos ex-
m etodistas, para a Assem bléia Legislativa do Estado de São Paulo e C âm ara dos D e
putados.80 Q uando a m esm a Igreja tornou-se m em bro do Conselho M undial de Igre
jas, de repente m etodistas, luteranos, episcopais e pentecostais se encontravam irm a
nados na m esm a organização ecumênica m undial. M ais im portante, talvez, teólogos
protestantes e católicos começaram a perceber que, apesar da pobreza do discurso dos
pentecostais e da superficialidade das suas análises bíblicas, eles, na sua atuação junto
ao povo, e especialmente junto ao povo oprim ido, estavam “fazendo teologia” .
O m ovim ento continua em franco crescimento, facilmente constatável pelo uso
m aciço do rádio81 e pela construção ou adaptação de enorm es tem plos,82 em bora
dados exatos sejam difíceis de serem obtidos. U m a recente reportagem , resultado de
razoável, em bora não exaustiva pesquisa, resume assim o recente crescimento e a situ
ação atual:
Em 1940, a Igreja [Pentecostal] já possuía 912 templos; 1.929 em 1950;
4.583 em 1960; 11.118 em 1970, sendo que somente nos últimos dez anos este
número passou para mais de 40 mil... Os últimos dez anos foram muito impor
tantes para a sedimentação das igrejas pentecostais no Brasil, quando se deu uma
maior proliferação de membros e a conseqüente construção de novos templos e
fortalecimento econômico das seitas (devido ao aumento do número de contri
buições do dízimo)...83
366
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
367
História Documental do Protestantismo no Brasil
368
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
Ele guiada; na Capital de São Paulo existem cerca de trinta igrejas, todas de
comum acordo e com mais de 6 mil almas que rendem testemunho da Graça de
Deus.
Segundo o relatório do ano de 1940, o número das Casas de Oração da nossa
irmandade no Brasil era de 305; do ano de 1935 a 1940, obedeceram 17.761
almas ao mandamento de nosso Senhor Jesus Cristo, ao Qual seja dada toda
honra e glória.50
(...)
De acordo [com] o relatório anual de 1951 (exigido pela lei), no qual relata
que o número das Casas de Oração atingiu 815, sendo 217 de sua propriedade.
Do ano de 1942 ao 1951, obedeceram ao mandamento do Senhor, 74.775 al
mas. As 46 congregações existentes atualmente na Capital do Estado de São
Paulo, e seus arredores são representadas por uma Diretoria Administrativa, com
posta de cinco membros, os quais cuidam da parte material, apresentando em
assembléia anual o balanço da Receita e Despesas, em obediência às determina
ções legais, isto é: Dar a César o que é de César.
A parte espiritual é governada pelos Anciãos sob a Guia do Espírito Santo, os
quais se reúnem semanalmente em oração para obter o conselho e Guia do Se
nhor, o que depois é levado ao conhecimento da irmandade nas congregações. O
mesmo fazem os anciãos de outras cidades do interior de S. Paulo, e outros esta
dos do Brasil.
Para os serviços de batismos e santas ceias, ou alguma outra necessidade ur
gente, os Anciãos se reúnem, e em oração buscam o conselho do Senhor, para
que ele inspire a quem ele quer enviar para tal missão, fazendo pois por eles o que
prometeu na sua Palavra, porque a vontade e o operar pertencem ao redentor e
Senhor nosso, quando a nossa confiança é depositada inteiramente n’Ele.
Aleluia.91
369
História Documental do Protestantismo no Brasil
gia em C hicago de 1904 a 1909, no Sem inário Batista Sueco. Foi a C hicago para
assistir a urna conferência pentecostal, onde, conform e seu próprio testem unho, rece
beu o Espírito e o dom de línguas.94 N esta conferência, Berg e Vingren se conheceram
e se tornaram amigos. Ao voltar à sua paróquia, Vingren escandalizou sua Igreja e foi
despedido, assum indo logo depois um pastorado em South Bend, Indiana, que dista
uns cem quilôm etros de Chicago. Foi a essa altura que os dois se julgaram chamados
divinam ente para a m issão no Brasil.95
O bedientes ao cham ado, embarcaram para o Brasil, aportando em Belém do Pará
a 19 de novembro de 1910. Localizaram a Igreja Batista, onde foram hospedados pelo
pastor; colaboraram nesta Igreja, na m edida do possível. Suas práticas pentecostais
resultaram em dissenções, e depois de algum tem po Berg e Vingren foram convidados
a se retirar; saíram, levando dezoito m em bros da Igreja Batista com eles. O s docum en
tos abaixo são versões diferentes dos acontecim entos que m arcam o com eço das as
sembléias de D eus no Brasil, em m eados de 1911.
( m ) D O C U M EN TO : A versão de Vingren
Mais ou menos seis meses depois da nossa chegada, os diáconos da Igreja
Batista me disseram: “Irmão Vingren, na próxima terça-feira o irmão dirigirá o
culto de oração!”
Eu atendi o seu pedido e li alguns versos no Novo Testamento sobre o Espírito
Santo e disse algumas palavras. Isto foi em maio de 1911. Os diáconos tinham as
suas Bíblias abertas para conferir se eu estava lendo certo. Parece que ficaram
satisfeitos com o que eu disse.
Durante aquela semana tivemos cultos de oração cada noite na casa de uma
irmã, que tinha uma enfermidade incurável nos lábios e nós sentíamos tristeza,
porque ela não podia assistir aos cultos na igreja. O primeiro que fiz foi pergun
tar se ela cria que Jesus podia curá-la. Ela respondeu que sim. Dissemos então
para que ela deixasse, desde aquele instante, todos remédios que estava tomando.
Oramos por ela, e o Senhor Jesus a curou completamente. Nos cultos de oração,
que se seguiram, ela começou a pedir e orar pelo Batismo com o Espírito Santo.
Na quinta-feira, depois do culto, ela continuou orando em sua casa. O seu nome
era Celina Albuquerque. Ela continuou pois, orando em sua casa juntamente
com outra irmã. E a uma hora da madrugada esta irmã Celina começou a falar
em novas línguas e continuou falando durante duas horas. Foi, portanto, a pri
meira operação de Batismo com o Espírito Santo feita pelo Senhor Jesus em terra
brasileira.
No dia seguinte a outra irmã, que presenciara tudo, foi e contou tudo o que
370
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
vira aos outros membros da Igreja Batista. O seu nome era Nazareth. Na sexta-
feira, depois de terminado o culto na igreja, veio a irmá Nazareth juntamente
com outras irmãs para o nosso culto de oração. Aí mesmo Jesus batizou a irmã
Nazareth com o Espírito Santo e ela também cantou um hino no Espírito.
Todos os demais que tinham vindo da Igreja Batista creram então que isto era
uma obra de Deus, todos menos dois, o evangelista e a mulher de um diácono. O
evangelista, que não quis crer, ficou muito orgulhoso e caiu debaixo do juízo do
Diabo. Já no domingo seguinte notamos que ele havia sido tomado por um
poder estranho e isto se notava mais ainda quando ele falava. Não era de admi
rar-se, pois ele era tão jovem e tinha tão pouca experiência.
Na terça-feira seguinte, ele convocou os membros da Igreja para um culto
extraordinário e não permitiu nem que o pastor falasse. Ele somente disse:
“Todos os que estão de acordo com a nova seita levantem-se.” Dezoito irmãos
se levantaram e foram imediatamente cortados da comunhão da igreja. O pastor
da igreja, que era um homem verdadeiramente crente e muito sereno, orou então
a Deus no seu coração e pediu uma palavra. Abriu depois a sua Bíblia e encon
trou o verso que diz: “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor, e
não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai e vós sereis
para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.”96
Estes dezoito irmãos saíram então da Igreja Batista para nunca mais voltar
outra vez. Isto aconteceu no dia 13 de junho de 1911.97
371
História Documental do Protestantismo 110 Brasil
372
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
Ela ainda tem as muletas, porém não as usa. Estão penduradas na parede da casa
em que mora, em local bem visível, para que todos vejam de que modo milagro
so Jesus a curou, não só a ela, mas também a um irmão que foi curado de um
tumor no pescoço.
Caro pastor —continuou o diácono —não queremos nem podemos acusá-lo;
o senhor tem trabalhado para ganhar almas para Jesus; tem orado para que Jesus
dê forças aos enfermos para suportar as enfermidades, mas não orou para Jesus
curar as mesmas enfermidades, porque não crê nessas verdades. Agora, entretan
to, o senhor viu com seus próprios olhos os dois exemplos que citei.”
O pastor olhou mais uma vez em redor e esperou que alguém se manifestasse
a seu favor, mas foi em vão. A seguir, dirigiu-se a mim e ao irmão Vingren e disse:
Já tomei a decisão. A partir deste momento não podem ficar morando aqui.
Procurem outro lugar; depois de tudo o que aconteceu, não os queremos mais
aqui.
A seguir o pastor dirigiu-se ao pequeno grupo e perguntou: “Quantos estão
de acordo com essas falsas doutrinas?” Decididamente dezoito pessoas levanta
ram suas mãos. Elas sabiam que essa atitude eqüivalia a serem expulsas da Igreja.
(...)
Porém, o irmão que se levantou e falou em nome dos demais, chegou perto de
nós e, como se houvesse lido os nossos pensamentos, disse: “Compreendo a
vossa preocupação; tenho uma grande sala em casa; está à vossa disposição, para
realizar os cultos, e para morar, também há lugar para os irmãos”.
É claro que aceitamos o oferecimento, com muito alegria; naquela noite nós e
muitos que desejavam receber o Batismo com o Espírito Santo, reunimo-nos
naquela casa, para realizar oficialmente o primeiro culto pentecostal no Brasil. O
primeiro culto foi realizado na rua Siqueira Mendes, 67, na casa da irmã Celina
Albuquerque, esposa de um comandante de navio do Amazonas, cujo nome era
Henrique. Esta irmã Celina foi a primeira crente batizada com o Espírito Santo
no Brasil.98
373
História Documental do Protestantismo no Brasil
esta altura, imitados por alguns brasileiros. Que seria aquilo, que espécie de nova
religião seria essa? eram as perguntas. Eles deram para responder que era Batismo
do Espírito Santo. Línguas e balelas tornaram os cultos um horror. Nelson estava
fora e à frente dos trabalhos estava o jovem inexperiente, Raimundo Nobre.
Toda Igreja estava sendo contaminada, pois já muitos falavam as tais línguas,
menos os diáconos que não chegaram a fazer este “progresso". Que fazer? O
evangelista, ajudado por Felí de Barros Rocha, organista da igreja, convocou
uma sessão extraordinária, declarou fora de ordem os pentecostais que já consti
tuíam a maioria, e com a minoria excluiu os que se tinham desviado das doutri
nas. Eles procuravam fazer valer os seus direitos de maioria, mas ficaram excluí
dos mesmo. Ficou dizimada a igreja. Sem diáconos, uma desolação, este fim de
1911. Foi o começo do pentecostalismo no Brasil.99
374
A Igreja do Golpe de i 964 até o Presente
375
História Documental do Protestantismo no Brasil
376
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
com uma consciência limpa perante Deus e na certeza de que estamos cumprin
do as palavras de Cristo:
“...que todos sejam um em Ti, ó Pai”106
Vosso, em Cristo,
Manoel de Mello
Fundador e guia espiritual107
377
História Documental do Protestantismo no Brasil
silo em que teria oportunidade de conhecer e entrar em contato com líderes das
igrejas nacionais. Além de reuniões com lideranças luteranas e metodistas, Dr.
Philip Potter teve longos encontros com D. Paulo e com D. Ivo Lorscheiter,
presidente da CNBB.
Os encontros com D. Paulo e com D. Ivo foram realizados na Igreja Evangé
lica Pentecostal o Brasil para Cristo, ocasiões em que ambos puderam constatar
as dimensões gigantescas do grande templo (a área interna, livre de colunas, tem
o comprimento de 68m2 e a largura de 69m 80, com 4.760 m2).108
... D. Paulo serviu de intérprete (em francês) durante a entrevista realizada
pela TV Globo, no interior do templo, com Dr. Philip Potter.
Acompanhado de representantes das igrejas brasileiras que compõem a CESE
e o C M I109 (inclusive um representante da CNBB), Dr. Philip Potter fez breve
visita de cortesia ao presidente João Figueiredo. Nessa ocasião Dr. Philip Potter
manifestou ao chefe da nação a esperança de que a abertura política em favor da
anistia, dos direitos humanos, do direito dos índios à terra seja considerada ape
nas como “um começo”.110
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
Brasil: em 1976, ela contava “com 268 m inistros, 203 obras localizadas em tem plos,
salões e tabernáculos, distribuídos em 24 regiões eclesiásticas e quarenta cam pos m is
sionários. C on ta com aproxim adam ente 100 m il m em bros entre fichados e não ficha
dos” . " 3
Declaração de f é
A principal preocupação teológica do pentecostalism o é o Espírito Santo e seus
dons. A Declaração de Fé da Igreja Q uadrangular ilustra esse reducionism o doutriná
rio. Ele se preocupa pouco com os grandes temas teológicos clássicos. Estão ausentes
vocábulos com o “trindade” , “encarnação” , “procedência do Espírito” e outros, sem se
negar, contudo, as doutrinas por eles representados. M odifica significativam ente a
tradicional form ulação protestante “justificação pela fé” para justificação por “arre
pendim ento e aceitação” . T oda a ênfase cai nos quatro “ângulos” —salvação em Cristo,
o Batism o no Espírito Santo, a cura divina e a iminente segunda vinda de C risto e suas
conseqüências. O docum ento a seguir é um a transcrição dos artigos relacionados a
esses pontos; os títulos dos outros artigos se acham em nota de rodapé.114
379
História Documentai do Protestantismo no Brasil
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
MINISTÉRIO FEMININO
Introdução
A atual abertura ao m inistério fem inino constitui um a recuperação dos serviços
que mulheres cristãs prestaram norm alm ente a Jesus e à Igreja Primitiva. As mesm as
discípulas que acom panharam Jesus a Jerusalém estiveram presentes na hora da sua
agonia e viram o Cristo ressurreto diante dos discípulos, foram com issionadas pelo
Senhor para lhes anunciar a ressurreição (M t 2 7 .5 5 , 56, 61; 2 8 .1 -1 0 ; Jo 19.25-27).
Desse m odo, sem o título específico, desem penharam não som ente o discipulado
com o tam bém o apostolado (At 1.22-25). Entretanto, a Igreja, estranhamente surda a
um Paulo que explicitamente repudia distinções e de sexo dos que estão em Cristo (G1
3.28) e caracteriza com o apostólico o ministério da sua co labo rad o rajú n ia (Rm 16.7),
tem fixado sua atenção em um a única palavra do apóstolo: “conservem-se as mulheres
caladas nas igrejas” (1 C o 14.34; cp. 1 Tm 2.11-12). J á em fins do segundo século,
porém , Irineu comentava que Paulo “fala expressamente de dons proféticos e reconhe
ce hom ens e mulheres profetizando na Igreja” .117
Por razões diversas, a Igreja restringiu severamente até o fim da era prim itiva a
esfera da ação fem inina; no m osteiro, porém , a mulher sempre gozou de mais liberda
de para desem penhar ministérios. O s principais reformadores pouco fizeram para
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História Documentai do Protestantismo no Brasil
N o Brasil, não tem sido diferente. O casal fundador do Exército da Salvação eram
dois suíços, já experim entados na obra. Ele, D avid M iche (1867-1938), servira na
Suíça e na França antes do casam ento e ela, Stella Delisle (1873-?) tam bém servira na
França; jun tos, trabalharam na Bélgica, na Itália e, finalmente, na cidade de Berna,
Suíça. D esse m odo, quando o general Bramwell Booth os convidou para iniciar a obra
do Exército no Brasil, ele já contava 55 anos e ela 49.
Stella Delisle M iche, que chegou com o m arido ao Rio de Janeiro em 8 de m aio de
1922, foi assim a prim eira oficial —logo m inistra —do Exército da Salvação no Brasil.
D os contingentes que o Exército enviou ao Brasil, aproxim adam ente m etade eram
mulheres: em 1922, chegaram Zelm ira N ascim ento, oficial argentina, e a capita Reid,
inglesa. Q uatro dos cinco oficiais ingleses que chegaram em junho de 1925 eram
mulheres —tenentes Ethel H arland, Silvia Gray e Ann H oland, e a capita Zetta Leach.
As prim eiras obreiras recrutadas no Brasil foram as “Enviadas” .119 Provavelmente a
prim eira dessa categoria foi a jovem professora Huber, natural do R io de Janeiro, m as
de origem alemã. Falava alemão com o língua materna, bem com o português, francês
e inglês. O casal M iche teve contato com essa professora inteligente e de profunda
experiência religiosa, antes m esm o de deixar a Europa. A “enviada” H uber provou ser
extremamente útil no serviço de visitação aos am igos do Exército para receber suas
contribuições para a m anutenção da obra.
...o coronel e Mme. Miche procuravam os suíços e os franceses, o brigadeiro
Steven os ingleses e os americanos. Todavia a principal colaboradora, consagran
do todo o seu tempo a esse trabalho, era Mlle. Huber, Enviada Huber, para dar-
lhe o seu título. Ela cumpria muito conscienciosamente o seu dever, reduzindo
suas despesas ao mínimo, preocupada não somente em receber donativos, mas
também em exercer uma influência espiritual sobre as pessoas, abastadas na sua
maior parte, dos quais ela solicitava apoio. Poliglota notável, ela traduzia tam
bém para o “Brado”120 artigos, publicados em francês e em inglês, extraídos de
outros periódicos salvacionistas.121
U m outro casal de enviados, D em itri Heuer e sua esposa, alemães, fixaram-se em
Blum enau, Santa Catarina. Ex-oficial do Exército da Salvação, já idoso, escreveu para
o Cel. M iche, pedindo oficiais do Exército; mas ele já havia estabelecido na sua pró
pria residência um posto (congregação) do Exército. O Cel. M iche requereu da Euro
pa um oficial que falasse alemão; sem esperar que este chegasse, D avid e Stella M iche
foram até Blum enau, onde oficializaram a obra assim começada. M iche prom eteu
enviar um oficial, m as prom oveu o casal H euer ao grau de enviados, com a responsa
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
do menos liberdade sob a nova dispensação que sob a velha, maior escassez de
dons e recursos sob o Espírito que sob a lei, poucos trabalhadores, havendo mais
trabalho a ser feito.
Quem ousará disputar o fato de que Deus, na velha dispensação, dotou suas
servas com os dons e vocação de profetas, o que corresponde à nossa idéia hodierna
de pregadoras? Estranho seria se, sob a plenitude da dispensação do Evangelho,
nada houvesse análogo a isso, mas “regras positivas e explícitas” para prevenir
qualquer aproximação. No Novo Testamento lemos que Ana “era viúva de 84
anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e oração. E,
chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a
todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (Lc 2.37, 38). Pode alguém
explicar em quê esse exercício de Ana diferia daquele de Simão, registrado imedi
atamente antes? Aconteceu no mesmo lugar público, o templo. Ocorreu durante
o mesmo culto. Era igualmente público...
Depois da Ressurreição, elas (as duas Marias) “correram a anunciá-lo aos dis
cípulos. E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximan-
do-se, abraçaram-lhe os pés, e o adoraram. Então Jesus lhes disse: “Não temais.
Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia, e lá me verão” (Mt 28.8-10).
Há dois ou três pontos desta linda narrativa para os quais desejamos chamar a
atenção dos nossos leitores.
[1] Foi o primeiro anúncio das gloriosas novas a um mundo perdido e a um
grupo de discípulos que abandonavam [seu senhor], [2] Era tão público como
necessário no caso e pretendia ser anunciado até aos confins da terra. [3] Maria
foi explicitamente comissionada para revelar o fato aos apóstolos, e assim ela se
tornou literalmente sua mestra naquela ocasião memorável. Como pôde nosso
Senhor escolher uma mulher para tal honra? Talvez uma razão seja que todos os
discípulos do sexo masculino estavam ausentes naquela hora. Todos o abando
naram e fugiram. Mas a mulher esteve presente, como sempre havia estado,
pronta para ministrar ao seu Senhor ressurreto, como ao seu Senhor moribundo.
(...)
Somos informados explicitamente em Atos dos Apóstolos [1.14; 2.1-4] que
as mulheres estavam com os discípulos no dia de Pentecoste, que as línguas [como
de fogo] pousaram em todos e todos ficaram cheios do Espírito Santo, e que
falaram segundo o Espírito lhes concedia que falassem. O Espírito foi dado igual
mente a discípulos e discípulas, e isso é mencionado por Pedro [At 2.16-18]
como uma peculiaridade da nova dispensação. Que notável trapaça do Diabo ele
ter logrado por tanto tempo manter escondida esta característica da glória dos
últimos tempos! Ele sabe, quer a Igreja saiba ou não, quão eminentemente dano
sos aos interesses do seu reino têm sido os labores religiosos da mulher, e en-
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História Documental do Protestantismo no Brasil
quanto sua semente tem ferido mortalmente sua cabeça, ele não cessa de ferir seu
calcanhar; mas o tempo da salvação está próximo...125
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
maridos e, até aquelas que dão banho nos filhos irrequietos, deixam-nos
ensaboados e nus a berrar dentro da tina de água fria e vão ver a grande novida
de. Lá no pequeno salão salvacionista, a água sai imunda pela porta. Espumas de
sabão navegam céleres naquele rio escuro que ganha velocidade açoitado por
vassouradas enérgicas. A capitã, de tamancos aos pés e toalha amarrada como
turbante na cabeça, (assim usavam também as imigrantes portuguesas), o rosto
molhado de suor, com duas manchas rubras na pele muito clara, fazia uma faxi
na em regra no modesto quartel.
As mulheres riam zombeteiras. Depois gargalharam satisfeitas e foram ajudar
Maria Josefma, dando-lhe, além da cooperação muscular, um dilúvio de conse
lhos maternais, que a capitã recebeu como se fosse, de fato, a última palavra de
limpeza e higiene doméstica. E, quando chegou a hora dela regressar à creche,
muitas mulheres insistiram com Maria Josefma para que ficasse com elas. De
uma para outra, aquelas imigrantes simples e boas comentavam exultantes:
—Ela é portuguesa, ela é uma das nossas.
No dia seguinte, o quartel encheu-se de candidatas e recrutas... porque, afinal
de contas, a capitã era uma das nossas.129
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História Documenta] do Protestantismo no Brasil
deverá acom odar mil e trezentas pessoas.134 Conclui-se que a Igreja do Evangelho
Q uadrangular é um a das m ais abertas ao m inistério pastoral fem inino no país.
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História Documentai do Protestantismo no Brasil
um terreno nas imediações, o que se tomaria difícil por ser zona residencial.
Merece lembrar que quando Deus prepara um plano e impele alguém a fazer
algo mais, todas as lutas são recompensada[s] e tudo dá certo. Assim ocorreu
com a pastora Odá. Ela passou a acreditar que seria possível a construção desse
novo templo. O terreno, afinal, está ali mesmo debaixo da antiga sede da igreja.
Tratava-se apenas de planejar com calma todos os detalhes, principalmente os da
estrutura, visando ao máximo o aproveitamento de espaço. A pastora Odá con
cluiu que tudo seria possível com a ajuda de Deus e que o novo templo tomar-se-
ia uma realidade.
Com a morte do seu pai, Rev. Mariano, bem como dos seus dois irmãos,
Lauro e Raul, a pastora Odá sofreu um abalo tremendo. Caiu num profundo
desânimo. Parecia ter chegado o fim do seu ministério e que não teria condições
de realizar a nova construção da igreja. Deus, entretanto, não permitiu que ela
fosse derrotada. Tudo voltou à normalidade, fazendo que a pastora Odá prosse
guisse a sua importante missão...139
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
óleo —deixa de ser privativo dos pastores, participando as mulheres, desse modo,
de importante dimensão do “sagrado”.140
O docum ento abaixo é o depoim ento de um a mulher pentecostal, tecnicamente
leiga, m as que, possuindo m últiplos dons, efetivamente exerce m últiplos ministérios.
< 3 ) DOCUMENTO: Uma mulher pentecostal depõe sobre seus múltiplos “dons”
Os dons nascem com a pessoa; a pessoa é o aparelho. Desde criança tenho
revelações. Tenho os dons de cura, revelação, evangelização e línguas. Uma vez vi
um irmão em um caixão e três dias depois ele morreu. Tenho ganho muitas
almas —é o dom de evangelizar, dom da palavra. Prego na feira. Uma vez, pre
guei para um preto mendigo e disse para ele orar que Deus indicaria a maneira
dele deixar de pedir e daria iniciativa para ele arranjar trabalho e que ele seria
curado. Umas semanas depois, o preto estava curado e com uma banca de bombril
na feira. O dom de cura é maravilhoso porque, com o poder de Jesus Cristo,
sabemos que vai curar. Orei por um surdo e ele está curado. Orei por uma
fazendeira com câncer, curou e toda a família está na igreja. Orei por uma mu
lher que estava grávida e a criança morreu no ventre; ela precisava operar para
tirar a criancinha morta, mas não tinha dinheiro. Orei e depois a criança come
çou a se mexer no ventre dela e um mês depois a criança nasceu viva. O dom de
revelação pode ser dormindo ou acordado; por ele se vê um perigo que vai passar.
O dom de evidência (vidência, provavelmente confundido com “discernimento
de espíritos”)141 vê uma pessoa com espírito do demônio, com demônio, com
doença. Não existe um dom mais importante que outro.142
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
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História Documental do Protestantismo no Brasil
ram, e eis que se fizeram novas” . Após o estudo, uma mãe veio ao meu escritório
e sem qualquer explicação deu-me um abraço com tanta convicção e alegria que
fiquei sem palavras. Ao perguntar sobre o motivo de tudo isto, ela disse:
- Irmã, eu não sabia que isto é possível. Jesus esquece o meu passado e com
ele eu posso ter um novo começo. Ele me perdoa.
Neste momento lembrei-me das palavras de Jesus: Por isto te digo: perdoados
lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem
pouco se perdoa, pouco ama (Lc 7.47).149
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A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
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Notas da PARTE I
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889
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História Documental do Protestantismo no Brasil
20 Willisron Walker, A History o ftb e Cbristian Church, rev. ed., NY, Charles Scribners’ Sons, 1959,
p. 488.
21 E o titulo inglês do fam oso livro de Albert Schweitzer ( The Quest o ftb e Historical Jesus), que
historia essa busca.
22 Walker, op. cit., 493.
23 Segue-se substancialmente o que o autor publicou sob o título “A Igreja americana na época
missionária”, M etodism o Brasileiro e Wesleyano, SP, Imprensa M etodista, 1981, pp. 201-229. O ensaio
não se restringe à última metade do século, mas enfatiza esta parte.
14A presente análise do denominacionalismo segue o argumento de Russell E. Richey, “T h e social
sources o f denominationalism M ethodism” , M etbodist History, XV, n ° 3 (abril, 1977), pp. 167-185. O
livro de Baird, Religion in America, é citado por Richey, ibid., 169.
25 The Lively Experiment, N ova York, Harper & Row, 1965, p. 104.
26 D a M etbodist Discipline, primeira ed., 1785, p. 4, apud. Wade Craw ford Barclay, To Reform the
N ation, vol. II da “History o f m ethodist missions”, obra projetada em seis volumes, N ova York, The
Board o f M issions o f the M ethodist Church, 1950, p. 2.
27“D enominationalism as a basis for ecumenicity: A seventeenth century conception", Churcb History,
X X IV (março, 1956), p. 32.
28 Richey, op. cit., p. 173.
29 Ibid.
30 Ibid., pp. 175-176.
31 O termo, que parece triunfalismo metodista, é largamente empregado por não-metodistas, como,
por exemplo, W inthrop Hudson, “T h e methodist age in America” , M etbodist History, X II, n ° 3 (abril,
1974), pp. 3-15.
32 O território dos Estados Unidos, no fim da Revolução (1783), com preendia aproximadam ente
2 .2 2 3 .0 0 0 quilômetros quadrados; em 1803, com a com pra de Luisiana, passou a 4 .3 6 7 .0 0 0 quilôm e
tros quadrados; em 1853, tinha 7.7 1 0 .0 0 0 . Historiadores seculares com o Frederick Jackson Turner
vêem na fronteira a chave para a compreensão da história da nação e o desenvolvimento das suas institui
ções; historiadores eclesiásticos, como W illiam Warren Sweet, têm aplicado a teoria de Turner à com pre
ensão da história religiosa do país.
33 A cisão “Escola Velha-Escola Nova” de 1837 foi motivada parcialmente pela questão da escravi
dão.
34 Alan K. Manchester, Preeminência Inglesa no Brasil, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1973, pp. 17-24.
35 Manchester, op. cit., apud. John A. S m ith, M emoirs o ftb e M arquis o f Pombal, 1 ,8 5 , 112- 116, cita
um revelador comentário do próprio Pombal de que, por volta de 1755, “A m onarquia portuguesa
estava no fim. O s ingleses submeteram firmemente a nação a um estado de dependência... A Inglaterra
tinha se apoderado inteiramente do comércio de Portugal, e todo o comércio do país era feito por seus
agentes. O s ingleses eram, ao mesmo tempo, os fornecedores e os varejistas de tudo o necessário para a
vida do país. Possuindo o m onopólio de tudo, os negócios só se realizavam pelas suas m ãos... O s ingleses
chegaram a Lisboa para m onopolizar até o comércio do Brasil. Toda a carga dos navios que para lá era
enviada - e conseqüentemente as riquezas em troca - lhes pertencia” .
36 Manchester, op. cit., 48-72.
37 O s historiadores variam nos cálculos do número, entre 8 mil e 15 mil.
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
38 Manchester, op. cit., p. 90. Gilberto Freire, Ingleses no Brasil, SP, Livraria José O lym pio Editora,
1948, menciona a presença de capelães a bordo dos “tumbeiros” palavra derivada de “tum ba” , ou seja, os
navios que transportavam escravos. C ita Luís Viana Filho , O Negro na Bahia, Rio de Janeiro, 1946, p.
36: “ Queixavam-se [os traficantes] de não suportar o negócio da despesa feita com o representante da
Igreja que, em 1799, ganhava 450$ por viagem. Era, porém e sobretudo, um incôm odo companheiro
de viagem, nem sempre disposto a transigir com os mil ardis dos traficantes que lesaram o erário públi
co” .
39 Tais como: o banco nacional, a biblioteca nacional, duas faculdades de medicina, o instituto de
belas artes, o museu, o jardim botânico, a imprensa etc.
40 Manchester, op. cit., 75.
41 E. F. Every, The Anglican Church in Soutb America, London, SP C K , 1915, p. 61; Christ Church,
Rio de Janeiro, History in B r ie f panfleto particular da Igreja, sem dados bibliográficos, p. [5].
42 A “Sociedade M issionária Sul-Americana” , foi fundada por Allen Francis Gardiner, em 1844,
visando a evangelização dos indígenas do Continente. O próprio Gardiner morreu de fom e e abandono
ao relento, na tentativa de evangelizar os índios da Terra do Fogo, em 1851. A SA M S, um a sociedade
missionária da Igreja da Inglaterra, seguia a linha evangélica, ou igreja baixa.
43 K. S. Latourette, A History o fth e Expansion ofC hristianity, NY, Harper, 1943, V, 105.
44 Every , op. cit., p. 59.
45 Citado em um manuscrito inédito de Andrew Forest M uir intitulado “A n Episcopal Visitation to
South America, 1869", gentilmente cedido ao autor pelo bispo Edm und K. Sherrill.
46 O p. cit., v. 103. Latourette sustenta que, em 1869, Stirling foi sagrado bispo das Ilhas Malvinas
(ou Falklands), com jurisdição sobre o resto da América do Sul, menos Guiana: mas Stephen N eill, et
a i, diz que depois de 1869, ele se tom ou “o primeiro bispo anglicano da Am érica do Su l” (A Concise
Dictionary ofC hristian W orldMission, Londres, U SC L , p. 563).
47 Every, op. cit., p. 59.
48 O s outros são: Tratado de Amizade e D efesa e a Convenção sobre o Correio.
49 Edward Hertslet, ed., Hertsleú Commercial Treaties, Londres, 1885, II, 42, 44.
5(1 Transcrito de Constituição política do Império do Brasil, seguida do Acto Addicional da Lei da Sua
Inperpretação... analyzada... por José Carlos Rodrigues, Rio de Janeiro, 1868, p .9.
51 Transcrito de Código C rim inal do Império do Brasil, anotado com os Actos dos Poderes Legislativo,
Executivo, e Judiciário (...) por Araújo Filgueiras Junior, 2. ed., Rio de Janeiro, 1876, pp. 199-200.
O catolicismo tradicional do povo brasileiro dificultou até a aquisição de propriedade para propósi
tos de culto. Ataliba N ogueira escreveu em “Teoria de M unicípio” , Revista de Direito Público, vol. 6, p.
8: “Houve um dia em que o colonizador quis testemunhar a sua fé e erigiu o templo. Fez doação do
terreno, constituiu-lhe patrim ônio e aquela gleba de terra em que se erguia a capela e terrenos adjacentes
passaram para um a pessoa jurídica. Aliás, a expressão “capela” originalmente não significava templo,
mas certo instituto jurídico canônico. O s terrenos a seguir eram aforados para produzirem renda com
que se atendessem as despesas do culto” . Eugênio Egas, em Os M unicípios Paulistas, SP, 1925, escreve:
Brotas, importante centro presbiteriano, foi iniciada pela construção, c. 1839, por iniciativa de d. Francisca
Ribeiro dos Reis, de “um a capela sob a invocação de N . S. das Dores de Brotas” (p. 319); Franca, pela
fundação de “um a Igreja com a invocação de N ossa Senhora da Conceição (p. 675), para mencionar
apenas dois casos. V isto que esses terrenos eram aforados para, com seu produto, sustentar o culto
399
História Documental do Protestantismo no Brasil
católico, freqüentemente era difícil para os protestantes adquirirem propriedades dentro do “patrim ônio”
e, quando o conseguissem, tinham que pagar foro à Igreja Católica. O Rev. A ntonio Gouvêa M endonça,
que chamou a atenção do autor para a importância do “patrim ônio dos santos” , inform ou-o de que,
entre outras igrejas da sua denominação, a Igreja Presbiteriana Independente, as de Assis e São José do
Rio Preto, Estado de São Paulo, pagam foro à Igreja Católica até hoje (informação em carta particular ao
autor, 2 4 /2 /1 9 7 9 ).
52 A palavra no original, retire, significa retirar-se, recolher-se etc.: o contexto parece exigir descerem.
53 Esta frase em latim, e as outras no mesmo texto, estão traduzidas na fonte da qual se extraiu o
documento, como segue: “Interprétes da Escritura - homens piedosos e m ui sábios, Agostinho, Bernardo
etc” .
54 “Q ue eu pudesse me afastar da vaidade das coisas mundanas e me devotar à glória de D eu s.”
55 “Q ue nenhum a salvação há fora da Igreja Católica é axioma.” “Adm ito” , respondi, “mas h á salva
ção fora da Igreja Romana” . “ D e jeito nenhum” todos exclamaram. “Então” , disse eu, “provem” .
56 O documento acima foi transcrito de John Sargent, A M em oir ofRev. H enry M artyn, N ova York,
American Tract Society, s/d. Vol. VIII da RvangcliculFamily Ltbrary, pp. 127, 133- 136. Em S. Wilberforce,
ed., Journal a n d Letters o f the Rev. Henry M artyn, Londres, 1837, 2 vols., encontram-se outras impres
sões do missionário sobre o Brasil.
57 N ão existe na Bíblia inglesa o versículo citado. Broadbent provavelmente estava pensando em Is
53:5.
58 N o original, os títulos não são grifados. O s livros m encionados são obras clássicas do m etodism o
inglês, menos o de D oddridge, o qual era ministro dissidente, mas muito apreciado pelos metodistas.
59 Carta, S. Broadbent ao Com itê M issionário, Colom bo, Ceilão, 6 /7 /1 8 1 6 , publicada na Wesleyan-
M etbodist M agazine, vol. X L (fevereiro, 1817), pp. 150-152.
60 Robert Walsh, Notices o fB ra zil in 1828 a n d 1829, Boston, 1831, 2 vols. em 1, 1,182. C om o foi
visto acim a (1.2.1), oT ratado de Amizade e Aliança proibiu ainstalação da Inquisição no Brasil. Walsh,
ibid., inform a que os ingleses impuseram uma taxa de metade de 1% sobre todos os produtos ingleses
im portados no Brasil, um terço de cuja renda era designado à “capela, capelão, pobres e doentes”.
61 N ão se pode sustentar a afirmação freqüentemente feita de que a Capela de São João Batista no
Rio de Janeiro foi tam bém o primeiro templo protestante da Am érica do Sul. W ilhelm Goetz, no artigo
“ Guiana” , The N ew Schaff-Herzog Encyclopedia ofReligious Knowledge, 1950, V, 93, inform a que os
morávios estabeleceram missões entre escravos negros da Guiana c. 1739; “eles consagraram a prim eira
igreja [templo] em 1796”. Referências posteriores a essa Enciclopédia serão feitas através da sigla N S H .
Cf. Latourette, op. cit., V, 63.
62 Atual rua Evaristo da Veiga.
63 Decisões do Governo, Rio de Janeiro, 1823, pp. 37-38. O m edo de José Bonifácio era infundado
pois “um a numerosa assistência de mui respeitáveis brasileiros, os quais igualaram os protestantes” em
número e reverência esteve presente; mais tarde, porém, a capela foi apedrejada, e suas janelas quebra
das, por “um espanhol que tinha uma venda perto da capela” (Walsh, op. cit., I, 182-183).
64 Boys alude a Pv 1 4 .14a, “O infiel de coração dos seus próprios caminhos se farta” .
65 Boys escreveu “Let it D ie the Death” , uma clara alusão a M t 15:4, na versão inglesa ( “L e th im D ie
the D eath’). A m esm a expressão na versão em português é “seja punido de m orte” , o que não exprime o
sentido correto. A tradução literal, “que m orra à morte” é redundante; daí a tradução acima, “ Q ue ele
400
implantação do protestantismo no Brasil: 1808-i 889 - NOTAS
m orra...” .
“ Carta de Boys a Charles Simeon, 1 7/12/1819, transcrita pela sra. E. D ornford, nos arquivos da
British andForeign Bible Society (BFBS), Londres. Acredita-se que esta carta foi o catalizador da distri
buição bem mais intensa e sistemática da Bíblia no Brasil pela BFBS. {Vide tópico "Outras sociedades
paraeclesiáticas ”.)
67 Doc. 6, acima.
68 Ibid.
69 Feitoria significa aqui “estabelecimento comercial”, que a Inglaterra, em com um com as outras
nações comerciais, m antinha nos principais portos das nações com que comerciava.
7,1 M t 5.16, parafraseado.
71 Walsh, op. cit., I, 184-185.
72 Por ser a prim eira Igreja Protestante de origem alemã no Brasil e pelas circunstâncias peculiares da
fundação da colônia de N ova Friburgo, o assunto é tratado detalhadamente adiante (doc. 9).
73 A colônia do Vale dos Sinos, São Leopoldo, se tornou o centro da obra luterana no Brasil, abrigan
do hoje entre outras instituições a Editora Sinodal, a Falculdade de Teologia e a C asa Matriz de Diaconisas
da Igreja Evengélica de Confissão Luterana no Brasil (IE C LB ), embora sua sede legal seja Porto Alegre,
RS. Pela chegada dos alemães em São Leopoldo, 25 de julho é celebrado nacionalmente com o D ia da
Imigração Alemã.
74 O s m etodistas do N orte (IM E) em 1885 (doc. 47) e os episcopais em 1889-1890 (doc. 77)
estabeleceram missões em Porto Alegre.
75 Esta introdução é bastante sucinta, porquanto na introdução ao presente período encontram-se
abundantes dados sobre a Alemanha da época.
76 “C arta Régia de 2 de maio de 1818” , em Cartas da Lei, Alvarás, Decretos e Cartas Régias, 1818, p.
39.
77 Esta informação sobre Sauerbronn está baseada em J. E. Schlupp, “N ova Friburgo, a I a C om uni
dade Evangélica, fundada em 3 /5 /1 8 2 4 ”, A nuário Evangélico, IE C LB , Porto Alegre, RS, 1974, pp. 151-
155. (U m a outra versão, ligeiramente diferente nos detalhes encontra-se em um a publicação avulsa
intitulada “ Unser Tag , 1935, sem outras indicações bibliográficas. “Unser Tag”, em colunas paralelas de
alemão e português afirma ser a paróquia de Sauerbronn na Alemanha Kimberherbach, e fixa o número
de imigrantes em 342, e ainda o pastor.) Schlupp, op. cit., p. 151, data os ofícios mencionados, respec
tivamente de 14/5, 30/5 e 6/6.
78 Op. cit., p. 151.
75 “ Unser Tag , [p. 7].
80 Jam es Cooley Fletcher e Daniel P. Kidder, B razil a n d the Brazilians, 9a ed. , Boston, M ass., 1897,
p. 297 assim descrevem a capela e seu pastor. “Um a capela protestante de pequenas dimensões é presi
dida por um velho clérigo luterano que veio ao Brasil com os antigos imigrantes alemães” . A Igreja
M etodista com prou a velha capela em 1954, demolindo-a em 1962 para construir no mesmo lugar o
templo m etodista (“Templo de 105 anos precisa ser demolido em N ova Friburgo” , Expositor Cristão, 12
de setembro, 1962, p. 2).
A tradução do documento acima, a evidência mais antiga da existência da com unidade alemã de
N ova Friburgo, foi feita pelo pastor J. E. Schlupp, o qual gentilmente forneceu ao autor um a cópia do
docum ento em alemão, e outro material valioso. Q uanto ao nome da cidade onde nasceu Charlotta,
401
História Documental do Protestantismo no Brasil
“Unser Tag”, [p. 4] diz que ela era “a filha do presidente do Consistório [de] Hichlenthal” .
82 Provavelmente trata-se de S. R. M cKay (doc. 23).
83 O número aqui citado está bastante aquém do mencionado em outros lugares. A publicação avulsa
“Unser Tag” [p. 5], fixa o número em 342; Johannes Schlupp, no seu artigo “N ova Friburgo: A I a
Com unidade Evangélica, fundada em 3 /5 /1 8 2 5 ”, afirma que “N ova Friburgo com eçou com 334 pesso
as evangélicas” (p. 5). Presumivelmente, ele se refere à com unidade alemã.
84 Presumivelmente, Voges pretendia escrever “farmacêutico”.
85 Obviam ente, a capela de S. Leopoldo não foi a prim eira capela protestante erguida no Brasil (doc.
6). Possivelmente, Voges usou o termo “evangélica” no sentido de “luterana” .
86 U m a jugada eqüivale aproximadamente a um quarto de hectare.
87 Carta de Voges à Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, 4 /2 /1 8 2 7 , no arquivo da BFBS, Lon
dres.
88 O doc. 12, infra, “ Decreto n ° 6282 de 9 de agosto de 1876”, a oficialização da Com unidade
Evangélica Alem ã do Rio de Janeiro, torna muito claro o estreito relacionamento entre ela e a Igreja
Estatal da Prússia.
89 Johann Schlupp, op. cit., p. 153, inform a que Sauerbronn, pároco de N ova Friburgo “visitou
tam bém periodicamente o Rio de Janeiro para batizar e casar os evangélicos da C apital” até 1837.
9(1 D o arquivo n° 1 da Com unidade Evangélica do Rio de .Janeiro.
91 A Com unidade data de 25 de julho de 1824.
92 Isto é, quase não podem ser reconhecidos como tais.
53 M aciel foi presidente de 4 /1 1 /1 8 2 6 a 1 7/11/1829. A colônia de São Leopoldo, a mais velha
colônia alemã do Rio Grande do Sul, foi fundada em 1824 pelo primeiro presidente da província, José
Feliciano Fernandes Pinheiro (Enciclopédia M irador Internacional), 1975, vol. 16, p. 9941.
94 Ham burger Z eitung flir A uswam derungs-und Kolonisationsange-Legenbeiten, 1858, número 1-3,
citado em Ferdinand Schrõder, Brasilien undW ittenberg. U rsprungund Gestaltung deutschen evangelischen
Kirchentums in Brasilien, Berling-Leipzig, de Gruyter, 1936, pp. 56-60.
95 Atos do Poder Executivo, 1876, pp. 894-900. O art. 51 estipula os em olum entos no caso de
pessoas não-membros da comunidade, geralmente o pobre; os pobres eram geralmente dispensados
deles.
96 A criação do Império alemão foi assinalada pela coroação de Guilherme I com o imperador (Kaiser,
em alemão, ou seja, César), no dia 18/1/1871, em Versailles, França.
97 Pedro M aria de Lacerda.
98 Com unidade Evangélica do Rio de Janeiro, Livro de Atas, “Relatórios Anuais da D iretoria da
Com unidade Evangélica do Rio de Janeiro, 1872-1873” .
99 Rotennund foi pastor em São Leopoldo até sua aposentadoria em 1917; o Com itê mais tarde
tom ou o nome de “Sociedade Evangélica para os Alemães Protestantes na América” .
100 A referência à Palavra de D eus e aos sacramentos como o tesouro da Igreja lem bra a tese n ° 62 das
“ 95 teses de Lutero” : “ O verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da graça de D eus” ;
citado de H . Bettenson. Documentos da Igreja Cristã, São Paulo, A S T E , 1967, p. 236. Convém lembrar
que, para Lutero, a Palavra cria o Sacramento, que é “Palavra visível” .
101 O termo no original é D eutschtum , às vezes traduzido por “cultura alemã” .
402
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
102 D ie Vorsynode am 19 u n d 20. M a i 1 8 8 6 z u S. Leopuldo, pro vin z Rio Grande do Sul, 2a ed.,
aum entada pela reprodução das atas, São Leopoldo, Livraria Evangélica, Leipzig, Koehler, 1887, pp. 17-
20 .
103 D ie Vorsynode, vol. 3, p. 41.
104 Erich Fausel, D. Dr. Rotermund, Ein K a m p fu m Recht undR ichtungdes evangelischen Deutschtums
in Südbrasilien, S. Leopoldo, Sínodo Rio-Grandense, 1936, p. 102.
105 Espera receber mercê.
106 Arquivo do ex-Sínodo Rio-Grandense, vol. 1887, fl. 3. A petição vem assinada pelo dr. Guilheme
Rotermund, presidente, e mais quatro membros, e traz, no final da segunda folha, espaço para assinatu
ras dos pastores e m embros favoráveis à petição. O governo imperial não atendeu à petição dos luteranos,
mas o governo republicano o fez, m enos de dois anos depois. Q uanto à torre com seus três sinos da
fundição B. V. Bochum, na Alemanha, “...no dia 30 de outubro do ano de 1888, o reverendo Miguel
Haetinger de Candelária (então Vila Germânia) entregou, em comovente cerimônia, torre e sinos ao uso
da com unidade... A s autoridades não puseram obstáculo nenhum” . (Alcides Santos, “Síntese histórica
das igrejas evangélicas de Santa M aria”, Instituto Histórico e Geográfico de Santa M aria, 1964, p. 124.
1117 Arquivo do ex-Sínodo Rio-Grandense, vol. 1888, fl. 1 5 . 0 espírito de cooperação e fraternidade
aqui exemplificado foi típico. H á, entretanto, exemplo contrário: veja-se a desavença luterana-presbiteriana
em Petrópolis (R J), c. 1872, infra (doc. 63).
108 Em presa alemã de navegação.
109 Presumivelmente se refere à Ilha das Flores, atualmente Brocoió, pequena ilha contígua à de
Paquetá, na Baía da Guanabara.
110 Arquivo do ex-Sínodo Rio-Grandense, vol. 1891, f. 35, apud. Estudos Teológicos (São Leopoldo),
N ova Seqüência 7 (1967), pp. 50-56.
111 Gerson S. Veiga, A Comparative Study o fF ive M ajor Portuguese O ld Testament Versions; tese de
doutoramento, inédita, Evanston, Illinois, Northwestern U., 1969, pp. 42-57, passim.
1,2 A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira indicada daqui em diante pela sigla B FB S; a Socieda
de Bíblica Americana, pela sigla ABS.
113 The Bible in B razil, 1954, p. 20.
1,4 Tenth A n n u a l Report o f the BFBS, 1814, p. 177.
115 M inutes o fth e Committee o fth e BFBS, vol. 8, p. 84, nos arquivos da Sociedade, em Londres.
1,6C arta de Boys à BFBS, 1 7/12/1819. Q uanto à leitura da carta e decisão, M inutes o fth e Committee
o fth e BFBS, vol. 10, p. 366.
117 Morris, op. cit., na página erroneamente numerada 17, pois na realidade é p. 19.
118 M inutes o fth e Committee o fth e BFBS, vol. 11, p. 81.
115 Ibid., vol. 11, p. 213. “Pernambuco” significa Recife, pois na época usava-se designação “Pará” (e
não Belém), Bahia (e náo Salvador) etc.
120 C arta de Kathleen J. Cann, arquivista da BFBS, ao autor, 3 0 /4 /1 9 7 3 . Deve-se notar que, após a
chegada de Corfield, intensificou-se novamente a atividade da B F B S no Brasil.
121 History o f the Am erican Bible Society fro m its Organization to the Present Time, N ova York, 1849,
p. 183. A informação sobre 1838 e 1839 encontra-se respectivamente na Twenty-SecondAnnual Report,
A BS, p. 50, e na Tw enty-Third A n n u a l Report, A B S, p. 43.
122 [Benedito N atal Quintanilha], Rio de Janeiro, Sociedade Bíblica do Brasil, [1973, p. 2]. Deve-se
403
História Documental do Protestantismo no Brasil
notar que, em outros capítulos desta História Documental, constam documentos e informações a res
peito de homens que se destacaram na obra bíblica, como Richard H olden e Hugh C. Tucker, agentes
das sociedades bíblicas, e de colportores como Frederick C. Glass e outros.
123 “American Bible Society” , Panoplist andM issionary M agazine, X II (1816), 269. O espírito e, em
grande parte, a linguagem desta decisão foram incorporados à própria Constituição da A B S, art. I o.
124 Ibid. H á dezessete artigos na Constituição, mas os primeiros dois deixam bem clara a natureza e
os propósitos da A BS.
125 Panoplist a n d Missionary M agazine, ibid., pp. 271-273. A citação é de H c 2.14.
126 Citação e informação do parágrafo de Jam es M . Gillis, “ Bible Societies”, The CatholicEncyclopedia,
N ova York, The Encyclopedia Press, s/d, II, 545, col. 2.
127 Citado de Anne Freemantle, ed., The Papal Encyclicals in their Historical Context, NY, Mentor,
1960, impressão, p. 123.
128 “ H. M . S .”, em inglês, H isM ajestys Ship, ou seja, o N avio de Sua M ajestade, é a designação usual
para navios da M arinha Real Britânica.
129 2 Ts 2.3; esta expressão paulina é aplicada ao papa.
130C arta de S. R. M cKay à BFBS, 2 2 /5 /1 8 2 6 , nos arquivos da Sociedade em Londres. Além dos
volumes referidos na carta, as atas da B F B S revelam que o comitê consignou a M cK ay m ais mil Bíblias
no mesmo ano: M inutes o fth e Committee, 1 2/6/1826, vol. 16, p. 179.
131 Este docum ento com posto é obtido das M inutes o fth e Committee, BFBS, com indicação da data
da respectiva reunião, bem como o volume e página onde se encontra cada ata. Propositadamente,
omitiu-se o Rio de Janeiro, local de m aior distribuição, pelo motivo da inclusão da carta de M cKay (doc.
23). As atas do período tam bém se referem a carregamentos para “M aranham” em 1820, Paraíba (1823)
e outros locais, m ostrando um a atividade significativa, toda ela realizada por agentes não-oficiais.
132 Jornal do Comércio, 12 de dezembro de 1837, p. 4. A BFBS adotou a política de publicar e
distribuir versões católicas em países católicos, orientação evidentemente seguida pela A B S, o que expli
ca o uso da versão de Figueiredo. Em correspondência particular de 20 de dezembro de 1978, a arquivis
ta da BFBS escreveu ao autor: “ ...foram avisados de que Figueiredo era m elhor lingüisticamente, pois a
ortografia de A lm eida era arcaica. Por isso publicaram o Novo Testamento de Figueiredo em 1818 e a
Bíblia, com os livros apócrifos, em 1821” .
133 O nome correto é M anuel, não Miguel.
134 O docum ento é de Daniel P. Kidder, Reminiscências de Viagens e Pemanência no Brasil, Rio de
Janeiro e São Paulo, São Paulo, Livraria M artins, s/d, n° III da Biblioteca Histórica Brasileira, pp. 269-
270. O projeto, aparentemente tão bem encaminhado, foi rejeitado pela comissão, e os termos da
rejeição comunicados a Kidder. O único documento encontrado pelo autor é a versão para o inglês do
parecer da Com issão de N egócios Eclesiásticos e Instrução Pública, feita por Kidder em agosto de 1840
para a A BS. As razões alegadas eram principalmente que a Igreja Católica não aprovava a leitura da
Bíblia desacom panhada da interpretação oficial da Igreja e o temor de que a aceitação da oferta fosse
interpretada pelo público “como adesão às idéias religiosas e princípios daquela Sociedade, a qual a
Assembléia nem conhece” . "ABS History”, D istribution Abroad, Essay 15, Part I I I C. L atin America
1821-1840, C-16.
135 Estatuto e Regimento Interno da Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro, 1969, primeiro capí
404
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
tulo.
136 A lista de tais sociedades existentes nos Estados Unidos é longa; para exemplificar, havia socieda
des antiescravistas, sociedades antiduelo, sociedades missionárias adenominacionais, sociedades para a
distribuição de literatura cristã etc.
137 Publicado pela Editora Universidade de Brasília, 1980. Vieira atribui a marginalização de Fletcher
à rejeição do seu estilo missionário pelos colegas, a partir do seu primeiro historiador, o presbiteriano A.
L. Blackford, que omitiu Fletcher de sua história (op. cit., p. 68, e n° 42). O autor desta H istória
D ocum ental entende que a razão da om issão de Fletcher pode ser outra, a saber, a orientação
denominacional das histórias existentes simplesmente não abre espaço para missionários paraeclesiásticos.
138 Fletcher and Kidder, B ra zila n d the Brazilians, Boston, 1879, 9o ed., p. 234.
135 Fletcher defendeu sua postura missionária em um a carta que enviou ao Journal o f Commerce, de
N ova York, na qual escreveu “Sei que alguns poderão dizer que não é papel de um m issionário envolver-
se em negócios. M as creio que tenho uma visão mais alta do que o mero interesse mercantil do meu país,
pois sou dos tais que crêem que a religião e o comércio são servos que, unidos com a bênção de D eus,
servem para a prom oção dos interesses mais nobres e mais altos da hum anidade” . (C arta na Indiana
Historical Society, Calvin Fletcbers Pupers, apud. Vieira, op. cit., p. 65.)
140 Decretos, Cartas e Alvarás, 1823, pp. 41-42.
141 M udam os a colocação do ponto e vírgula que, no original, seguia “professores”.
142 Actos do Poder Legislativo, 1827; pp. 71-73.
143 Toda a informação do parágrafo, inclusive a citação, é de George M cPherson Hunter “M issions
to Seam en”, N S H , X , 316-318.
144 Vieira, op. cit., p. 61. A mesma crise financeira tam bém foi o fator essencial que levou ao fecha
mento da missão m etodista em 1841 (adiante, doc. 38).
145 Vieira, op. cit., p. 62.
146 Eleventh A n n u a l Report, American Seamens F riend Society, m aio de 1839, p. 16. A citação é um
excerto de um a carta de Daniel Kidder à Sociedade.
147 Twelth A n n u a l Report, American Seamens F riend Society, 1840, p. 11. A citação é um excerto de
um a carta de Justin Spaulding à Sociedade escrita em novembro de 1839. U m a outra carta, anônima,
escrita em dezembro de 1839, assim se referiu a um culto dirigido por Spaulding: “Tivem os uns cin
qüenta na congregação, ingleses e americanos. Creio que todos os capitães de navios no porto estiveram
presentes (...) Sr. Spaulding é o nosso ministro, e estou muito contente por ouvir semanalm ente a
Palavra de D eus pregada com fidelidade neste lugar pecam inoso”. (ib id ., p. 12.)
148 D oes. 28 e 29, acima.
149 Fletcher and Kidder, op. cit., pp. 200-201. Em geral, seguiu-se a versão de O Brasil e os Brasileiros,
SP, Com panhia Editora N acional, 1941, II, 226-228, com algumas correções feitas pelo autor desta
História Documental.
150 N S H I, 153-154.
151 Vierira, op. cit., p. 62.
152 Excerto de uma carta de Fletcher à A F C U , sem data; publicada em The American Foreign Christian
Union, V, 203 (maio de 1854).
153 Collins citou, sem precisão, 2 Tm 3.15.
154 C arta de Vernum D . Collins, sem data; publicada em The American a n d Foreign Christian Union,
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História Documental do Protestantismo no Brasil
406
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
165 M t 3.7. O s metodistas, desde os tempos de João Wesley, adm itiam pessoas às suas “sociedades”
(igrejas) mediante seu desejo de “fugir da ira vindoura” (Cf. o texto citado). Elas deveriam demonstrar a
manutenção desse desejo pautando suas vidas pelas “ Regras Gerais” elaboradas por Wesley, e participan
do assiduamente das numerosas reuniões metodistas. A “classe” era um núcleo de aproximadam ente
doze pessoas, sob a orientação de “líder” leigo.
170 Desde a célebre experiência religiosa de João Wesley, no dia 24 de m aio de 1738 (e do seu irmão
Carlos, três dias antes), os m etodistas vêm enfatizando a apropriação pessoal de fé ou seja, a experiência
pessoal da conversão; daí o uso da expressão “religião experimental” .
171 O badiah M . Johnson, o primeiro missionário da referida Sociedade, chegou em janeiro de 1836,
permanecendo até 1838. Q uando se retirou, por m otivos financeiros, os missionários m etodistas Justin
Spaulding e Daniel Kidder serviram “como capelães não-comissionados e não-remunerados” , informa
D avid Gueiros Vieira, op. cit., p. 61.
172 C arta de Fountain Pitts, datada Rio de Janeiro, S. A., 2 de setembro de 1835, publicada em
Christian Advocate a n d Journal 4 /1 2 /1 8 3 5 .
173 C arta de Spaulding ao secretário-correspondente da Sociedade M issionária da IM E, datada do
Rio de Janeiro, 5 1 511836, e publicada no Christian Advocate a n d Journal, edição extra, s/d; carta de
Spaulding ao secretário-correspondente, datada do Rio de Janeiro, 9 /6 /1 8 3 6 e publicada no Christian
Advocate a n d Journal, 5 /8/1836. D aqui em diante, Christian Advocate a n d Journal será indicado por
N YCA .
174 C arta de Spaulding ao secretário-correspondente da Sociedade M issionária da IM E, I o de setem
bro de 1836, publicada em N Y CA , 2 /1 2 /1 8 3 6 . Spaulding form ou um a pequena igreja no Rio que
contava, até fins de 1838, onze membros; provavelmente metade dos m em bros eram missionários; se
houve ou não algum m em bro brasileiro é incerto. Veja A n n u a l Report o fth e Missionary Society o fth e M .
E. Church, anos 1836 e 1842 para resumo da situação da m issão ano por ano. A m aior reação ao
relatório de Spaulding foi a do padre Luiz G. Santos, que escreveu Desagravo do Clero e do Povo Catholico
Fluminense, Rio de Janeiro, 1837, e O Catholico e o M ethodista, Rio de Janeiro, 1838. N este, à página
176, ele escreveu: “Ora, aqui temos a missão m etodista com duas partes ou dois fins. O I o é descatolicizar
o Brasil (...); o 2 o é emancipar os nossos escravos, fazendo o mesmo que seus irmãos anabatistas fizeram
na Jam aica e na Virgínia e que tanto sangue fez correr tanto dos brancos com o dos negros não h á muitos
anos” . [Pe. Luiz provavelmente se refere à insurreição de N at Turner na Virgínia, onde ao invés do
derramamento de sangue ter ocorrido pela emancipação, aconteceu no esforço de Turner conquistar,
pela força de armas, a emancipação dos escravos. N o m esm o ano de 1831, houve na Jam aica urna
revolta de escravos que criam que o governo inglês já havia concedido sua emancipação. Esta veio em
1833, não por ação “anabatista”, mas por legislação parlamentar .] O s projetos referidos no fim consti
tuíam parte da reforma proposta pelo regente Feijó.
175 Carta, W illiam Capers a George Lane, 20/11 /1840, nos arquivos do Garrett TheologicalSeminary.
Capers era um de três agentes de tem po integral encarregados do levantamento de fundos para o susten
to da Sociedade M issionária da IM E.
176 Twenty-second A n n u a l Report o f the Missionary Society o f the M ethodist Episcopal Church, NY,
1841, pp. 14-15.
177 Twenty-third A n n u a l Report, 1842, p. 12.
178 Citação famosa, aqui tirada de Bartlett, Familiar Quotations, Garden City, NY, Garden C ity Pub.
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História Documental do Protestantismo no Brasil
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Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
o docum ento original. M as na época, o Expositor Cristão, de I o de janeiro de 1890, assim se expressou:
“N o dia 9 do mês passado, o novo governo com apenas 24 dias de idade, fez por nós o que a m onarquia
não conseguiu fazer em mais de três anos. Devemos ser muito gratos ao novo governo federal. A nossa
propriedade está segura, e os nossos direitos de propriedade garantidos” .
194 Ransom chegou a receber Corrêa por transferência da IM E para a Igreja M etodista Episcopal,
Sul, a 3 /9 /1 8 7 7 , sendo sua intenção empregá-lo como pregador da IM E S, no Brasil. O plano falhou por
falta de verba. A n n u a l Report, 1878, p. 126.
195 Carm en Chaccon.
196 C om o visto na introdução, Corrêa organizou sua prim eira igreja em 2 7 /9 /1 8 8 5 ; o culto realizado
nos prim eiros anos era um culto doméstico, cujo estilo lembra o de Kalley, trinta anos antes.
197 O docum ento é um artigo de Corrêa, “ H istória da nossa Igreja no Estado do Rio Grande do Sul”
em O Testemunho, 1/3/1905, p. 18. Detalhes relativos à fundação do Colégio se encontram em Daniel
R M onti, A si Brillle Vuestra Luz, Buenos Aires, La Autora, 1945, e João do Prado Flores, Seu M aior
Amor, São Paulo, Colégio Americano, 1955.
198 Carl Joseph Hahn, EvangelicalWorship in Brazil: Its Origin andDevelopment, Edinburgh, University
o f Edinburgh, tese de doutoramento, 1970, pp. 189-211, passim.
199 A Escola D om inical estabelecida por Ju sd n Spaulding, em 1836, deixou de existir com o fecha
mento da missão metodista, em 1841. Vernum D . Collins fundou um a escola D om inical no Rio de
Janeiro, entre 28 de julho de 1855, a data da sua chegada ao Rio, e 2 7 de setembro, quando mencionou
a escola em seu relatório à A F C U (TheA m erican andForeign Christian Union, 1855; ele partiu no dia 8
de junho, chegando 51 dias mais tarde - pp. 330-531). A data da fundação da escola dominical é
desconhecida, mas provavelmente ela foi fundada depois da escola dominical do casal Kalley (doc. 31).
200 ísboço Histórico da Escola D om inical da Igreja Evangélica Fluminense, 1855-1932, Rio de Janeiro,
1932, pp. 38-39.
201 João G om es da Rocha, Lembranças do Passado, Rio de Janeiro, 1941-1956, I, 33.
202 José M aria da Silva Paranhos, (1819-1880), Visconde do Rio Branco, então M inistro de N egó
cios Estrangeiros.
2113 O s artigos 276 e 277 (e ainda 278) se encontram na íntegra na presente História Documental
(Doc. 3).
204 João G om es da Rocha, op. cit., vol. I, pp. 92-100. C om o resultado deste teste da liberdade
religiosa, ela foi am pliada, tornando possível uma propaganda protestante mais agressiva.
205 A prim eira edição de Salmos e Hinos já fora impressa em Londres, em 1855 (Rocha, op. cit., 1,8).
106 Henriqueta Rosa Fernandes Braga, M úsica Sacra Evangélica no Brasil, Rio de Janeiro, Livraria
Kosm os Editora, 1961, p. 125.
2117 Transcrito da primeira edição brasileira de Psalmos e Hymnos, 1861, da coleção particular de
H enriqueta R. F. Braga. Encontra-se também em fac-símile em Esboço Histórico da Escola D om inical da
Lgreja Evangélica Fluminense, 1855-1932, Rio de Janeiro, 1932, p. 56. Psalmo C X X X II e o s a lm o 133
nas versões protestantes da Bíblia.
208 M úsica Sacra Arranjada para Quatro Vozes, Lípsia, 1 8 6 8 ,1 a ed. Transcrito da prim eira edição, por
obséquio da profa Henriqueta Rosa Fernandes Braga.
209 Transcrita de Rocha, op. cit., II -80-82. N a sessão extraordinária, do dia 2 0 /1 2 /1 8 6 5 , o Sr.
Bernardino foi excluído. N a mesm a sessão “são lidas duas cartas de liberdade, concedidas pelo Sr. João
409
História Documental do Protestantismo no Brasil
Severo a Joaquim e a Pedro”. (Ib id., p. 85). N o documento acima, os grifos e maiúsculas obedecem o
texto da obra citada.
210 O próprio Kalley acrescentou uma nota aqui: “O s livros apócrifos não são parte da Escritura
divinamente inspirada” .
211 Kalley acrescentou aqui um a nota, dizendo que o Novo Testamento, às vezes, se refere às “igrejas”
no sentido de igrejas locais, com o “um a associação de crentes... congregada no nom e do Salvador para
conduzir-se de acordo com as regras que Ele deixou às suas igrejas” .
212 N ota de Kalley: “O tributar culto a qualquer criatura, quer seja hom em , anjo, cruz, livro ou
imagem, ou a D eus por meio deles, opõe-se inteiramente a estes preceitos e a todo o gênio do verdadeiro
cristianismo. Êx 20.3-5, C l 2.18 -1 9 ” .
213 M uito embora Kalley não tenha dado destaque ao fato, este artigo exclui o Batism o infantil. A
rejeição distingue os congregacionais brasileiros dos demais congregacionais do m undo, um a vez que o
Batism o dos filhos dos crentes é uma conseqüência da teologia federal.
214 N ota de Kalley: “A idéia que o pão e o vinho tornam-se em D eus e devem ser adorados opõe-se
aos sentidos, à razão e às Escrituras. Adorá-los é idolatria...”
2,5 Transcrição da Imprensa Evangélica, 2 4 /1 2 /1 8 8 0 , pp. 2 0 2 /4 0 4 , atualizada ortograficamente; as
m uitas referências bíblicas foram eliminadas e foi feita um a pequena adaptação na segunda nota de
Kalley. A prim eira impressão da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentaes do Christianismo Recebidas
pela Igreja Evangélica Fluminense, foi feita no Rio de Janeiro em 1876 e dela consta um fac-símile no
frontispício no Esboço Histórico da Escola Dominical, p. 120. D epois de ter sua existência legal reconhe
cida pelo governo imperial, a Igreja Fluminense publicou seus "Artigos Orgânicos” e a Breve Exposição
no Jornaldo Comércio (27 e 2 8 /1 2 /1 8 8 0 ) e na Imprensa Evangélica (10 e 2 4 /1 2 /1 8 8 0 ). U m a versão mais
recente da Breve Exposição que se encontra em Ismael da Silva Junior, Notas Sobre a “Breve Exposição das
D outrinas Fundamentais do Cristianismo”, Rio de Janeiro, Tip. Batista de Souza, 1962, constitui um
comentário sobre os 28 artigos.
2if> O decreto n ° 7907, de 2 2 /1 1 /1 8 8 0 , foi transcrito de Atos do Poder Executivo, Rio de Janeiro,
1881, pp. 806-809. Rocha, em Lembranças do Passado, IV, 239, informa que, na versão original apresen
tada ao governo, o art. I o continha a expressão “disseminar o Evangelho” e no art. 19, “circulação das
Escrituras” . Estas expressões foram eliminadas a pedido do Conselho do Estado.
217 São respectivam ente Elias B oudinot e Charles T h om p so n , am bos presbíteros de igrejas
presbiterianas, e o Rev. George Duffield, ministro presbiteriano.
2.8 Ocorreram outras cisões presbiterianas, como em todas as principais igrejas protestantes norte-
americanas; as duas mencionadas são as mais importantes, e as únicas pertinentes à compreensão da
atuação presbiteriana no Brasil.
2.9 D e acordo com a estratégia missionária corrente, os missionários se organizaram em “missão” ,
um a estrutura paralela ao presbitério e sínodo. O s missionários e sua respectiva m issão m antinham
contato e um a certa subordinação à sua respectiva junta m issionária nos Estados Unidos, os da P C U S
com o “com itê” de Nashville, os da P C U SA com o “ board" de N ova York. M esm o depois do estabeleci
m ento de igrejas nacionais autônomas as missões mantiveram sua existência separada.
220 D o “ Relatório sobre a origem e marcha da Igreja Evangélica do Rio de Janeiro, apresentado ao
Presbitério do Rio de Janeiro no dia 10 de julho de 1866, por A. G. Sim onton”, no arquivo da Igreja
Presbiteriana, em Cam pinas. Em 15/5/1863, a igreja foi organizada legalmente, a fim de se beneficiar
410
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
411
História Documental do Protestantismo no Brasil
412
Implantação do protestantismo no Brasil: 1808-1889 - NOTAS
255 C óp ia fiel da primeira ata lavrada no “ Primeiro livro de atas da prim eira Igreja Batista da Bahia” ,
no arquivo da própria Igreja. A discrepância entre a data da fundação da prim eira igreja e a da sua
transcrição sugere a possibilidade de a ata ter sido escrita em papel avulso, sendo passada no livro meses
depois.
256 Ver tópico “O s presbiterianos - Introdução” (p. 124) para uma breve explicação do termo “m is
são”; para a com posição da Igreja, veja-se doc. 70.
257 Literalmente, o’ inglês diz “estradas e sebes”, um a alusão a Lc 14.23. O sentido é um a busca de
pessoas por toda a parte, onde quer que se encontrem.
258 versj 0 K ing James, de 1611, era na época a Bíblia protestante mais usada nos Estados Unidos.
259 A tradução de Figueiredo favorecia a postura imersionista dos batistas. Ele se refere a versículos
com o Jo ão 1.31 etc.
2611 Bagby indica assim ter alugado um salão de cultos, não mais se lim itando à pregação na própria
residência.
261 Southern Baptista Convention A nnual, 1883, p. 11.
262 Três Razões por que D eixei a Igreja de Roma, Rio de Janeiro, C asa Publicadora Batista, 1938, p. 2.
263 E m 1872, o padre Antônio fugira com Senhorinha, então com dezessete anos de idade, contra a
vontade dos pais dela. Vieira, op. cit., p. 332. O casamento realizado pelo pastor presbiteriano revela,
porém, a aproximação do padre com o protestantismo.
264 Ransom deixou o ex-padre substituí-lo, por exemplo, de 20/5 a 13/6 de 1879 (logo após a adesão
deste à Igreja M etodista), enquanto visitava São Paulo. Pensou em m andar Antônio para Cachoeira, SP,
para começar ali o trabalho metodista, mas o plano não se concretizou (Carta, 14 /7 /1 8 7 9 publicada sob
o título “M y journey to the province o f San Paulo”, Nashville Christian Advocate, 30/8 e 6 /9 /1 8 7 9 ).
265 H á um a controvérsia entre historiadores batistas sobre as circunstâncias do Batism o do ex-padre.
Ebenezer G om es Cavalcanti e M ário Ribeiro M artins, por exemplo, sustentam que ele foi batizado, em
data desconhecida, por R. H . R atcliff (JornalBatista, 2 8 /1 1 /1 9 7 6 , p. 10; 9 /2 /1 9 7 5 , p. 4). O thon Avila
Amaral (idem , 2 /1 /1 9 7 7 , p. 5) e Helen Bagby Harrison, (The Bagbys ofB razil, Nashville, Tenn., 1954,
p. 49) afirm am que ele foi batizado por Robert Porter Thom as.
266 Cf. nota 261, acima, José M anoel da Conceição também tornou públicas as razões por que
deixou a Igreja de R om a (doc. 62).
267 Só o N . T. vem do grego, o A. T. vem do hebraico.
268 “O efeito do poder supositício do padre” significa o poder, falsamente atribuído ao padre, de
transformar pão e vinho em C orpo e Sangue de Cristo.
269 A rã que queria tornar-se tão grande com o o boi.
270 Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1938, sem indicação da edição, pp. \ - \ l , passim.
271 C ultos regulares foram iniciados por Robert H unt em Jamestow n, Virgínia, desde 2 1 /6 /1 6 0 7 .
272 W illiam W ilson M anross, A History o f the American Episcopal Church, NY, M orehouse-Gorham ,
1959, pp. 290, 293. Polk foi diplom ado pelo Seminário de Virgínia.
273 M anross, op. cit., p. 262.
274 O seminário foi fundado em 1824. “Tem continuado até agora sua carreira útil, merecendo
honra especial pelo número de form andos que foram ao campo missionário. C om o é de se esperar, pela
origem, sua tradição eclesiástica tem sido evangélica” (Manross, op. cit., 242). N este m esm o seminário
sulista prepararam-se todos os missionários episcopais enviados para o Brasil nas décadas formativas da
413
História Documental do Protestantismo no Brasil
missão.
275 Vieira, op. cit., pp. 163-164; a citação direta é da p. 163.
276 Vieira, ibid., pp. 1 6 5 -2 0 7 ,passim.
277 O s “ Irmãos de Plymouth” tiveram com o seu mais destacado líder o m inistro anglicano John
N elson D arby (1800-1882). O grupo nasceu da preocupação de restaurar o cristianismo primitivo, sem
clero e não institucionalizado. Tom ou form a por volta de 1828 em D ublin, Irlanda, onde D arby
pastoreava. O s Irmãos enfatizam a celebração dominical da Ceia do Senhor, o Batism o dos crentes, a
autoridade exclusiva da Bíblia; milenarismo; predestinação; conduta puritana. C. 1849, houve cisão no
grupo, os “Irmãos exclusivistas” ou “darbistas” seguindo Darby, os outros, mais m oderados, ficaram
conhecidos com o os “irmãos abertos” . Holden, é claro, seguiu os darbistas.
278 Belém do Pará.
279 M ais ou menos duzentos quilômetros a leste de Belém.
280 The S pirit o f Missions, X X V II (1862), pp. 348-349.
281 A ta da Com issão Executiva da Sociedade M issionária da Igreja Am ericana (A CM S) reunião 21/
5/1889, realizada na Igreja da Santíssim a Trindade, Filadélfia. D e fato, os dois m issionários foram orde
nados ao diaconato em junho, na capela do seminário, tendo pregado o sermão de ordenação o bispo
George Herbert Kinsolving, irmão de Lucien Lee. N o dia 4 de agosto, o bispo W hittle, de Virginia, os
ordenou ao presbiterato na Grace Church, em Richmond.
282 Três anos depois (1896), o papa Leão X III declarou inválidas as ordens anglicanas.
283 The Echo, setembro de 1893, p. 3.
284 Ibid.
285 Partiram de N ew port News, Virginia, em 1/9/1889, chegando ao Rio de Janeiro no dia 26 do
m esm o mês, tendo passado, na viagem, por um a tremenda tempestade.
286 Por não estar m issionando entre brasileiros, as igrejas alemãs não foram levadas em conta! A ata
da comissão estrangeira da A C M S, de 2 9 /1 /1 8 8 9 deixa claro que a Sociedade nutria esta m esm a preocu
pação: “ Resolvido que, ao enviar missionários ao Brasil, é nosso propósito ocupar aqueles pontos que
não estejam sob os cuidados de outros missionários protestantes.” - Arquivo da Church Historical
Society.
287 A substância do Quadrilátero se encontra na parte final do n ° 1 da “Declaração de Princípios” .
288 Estandarte Cristão, outubro de 1893, p. 1.
414
Notas da PARTE II
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964)
1 U m dos mais fam osos “settlements”d.os EU A é HulI House, estabelecido em 1889 em humanidade
e Chicago por Jan e Adarns (1860-1935).
2Resumo das Atas, Supremo Concilio, X X V R eunião Ordinária, Rio de Janeiro, 1962, doc. SC -62-200,
p.46.
3 H á agora um a im portante exceção a isto: a Igreja Anglicana em São Paulo, que continua a realizar
cultos em inglês para os anglicanos, está integrada na Diocese de São Paulo da Igreja Episcopal Brasilei
ra.
4A questão do sustento próprio com o ingrediente essencial para a verdadeira autonom ia preocupou
muito o Conselho Internacional de Missões, que com issionou J. Merle Davis para estudar a base econô
m ica de várias igrejas jovens. Sua análise está no livro H ow the Church Grows in B razil (Conselho Inter
nacional de M issões).
5 Lessa, Vicente T hem udo, Annaes da I a Egreja Presbyteriana de Sao Paulo (1863-1903). São Paulo,
I a Egreja Presbyteriana Independente de São Paulo, 1938, pp. 229, 232.
6 C itado do docum ento de 2 8 /2 /1 8 8 7 , abaixo.
7 D ocum ento, 3 0 /1 0 /1 8 9 1 , abaixo.
8 Eduardo Carlos Pereira, na Revista das Missões Nacionais 281211887.
9 Eduardo Carlos Pereira, comentando o sínodo (presbiteriano) de 1891, na Revista das Missões
Nacionais, 3 0 /1 1 /1 8 9 1 .
10 C itam os da 3 a edição, (São Paulo, Livraria Alm enara Editora), 1965, p. 7.
11 Younger Chruch, p. 70.
12 Eduardo Carlos Pereira e a questão maçônica entre os presbiterianos, Revista de Universidade de
Campinas, ano III, junho e outubro de 1956, n ° 11 e 12, p. 13. Veja-se tam bém pelo m esm o autor, “A
maçonaria e o cism a no presbiterianismo brasileiro” , em Revista Eclesiástica Brasileira, março, 1948, pp.
35-57.
13 Frase de Agnelo Rossi, op. cit., p. 13.
14 Para lim itar o tamanho da presente história, optam os por não tratar individualmente dos diversos
ramos de cada denominação. Por esta razão, lamentavelmente, não haverá documentos específicos sobre
a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, muito embora o autor reconheça sua importância.
15 D ’ O Estandarte de 6 /3 /1 9 0 2 , citado em Pereira, Origens, p. 51.
16 Publicado em O Estandarte, agosto, 1903. O mesmo foi transcrito no Expositor Cristão de 2 0 /8 /
1903, pp. 2-3, com comentário do redator, Jam es L. Kennedy.
l7Artigo de Erasm o Braga em Revista de Missões Nacionais, julho, 1914, pp. 2-3.
18M clntire, Portralt, 8/23-24.
19 (*) Atas de 1916, p. 22, referentes aos Drs. J. R. Sm ith e Thom as Porter.
20A tas da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana no Brasil, 1917, pp. 10-16.
21A Convenção deixou clara, em 1907, sua intenção de aperfeiçoar a Constituição em 1908. N a
verdade, a única m udança de m aior importância foi um a nova redação do art. 3 o, que passou a ser lido
com o segue: “A Convenção se compõe de todas as igrejas batistas do Brasil, da m esm a fé e ordem e em
415
História Documental do Protestantismo no Brasil
harm onia de vistas e de trabalho com a m esm a Convenção e a sua representação será de um mensageiro
ou representante por cada Igreja e mais um por cada 50$000 que a Igreja contribuir para a Convenção
ou para qualquer de suas juntas” . (Atas da Convenção Batista Brasileira, 1908, p. 5).
22Actas da I a Reunião da Convenção Baptista Brasileira, 1907, pp. 5-7.
23 Tanto o “M em orial” , assinado por quinze pastores nacionais, quanto a resposta, assinada por treze
missionários, foram publicados no Correio D outrinai [Recife], 6 de abril de 1923, pp. 9-10.
24M anifesto aos Batistas Brasileiros, 1925, panfleto.
25Actas da I a Reunião da Convenção Baptista Brasileira. Rio de Janeiro, 1925, pp. 28-33. O docu
m ento traz a assinatura de três missionários e cinco brasileiros, inclusive A. N . M esquita
262 3 a Reunião da Convenção Baptista Brasileira, Rio de Janeiro, C asa Publicadora Baptista, 1936, pp.
26-30.
11 Atas, Relatórios e Pareceres da Quadragésima Assembléia A n u a l da Convenção Batista Brasileira, Rio
de Janeiro, C asa Publicadora Batista, 1957, pp. 187-188.
28 A tas da Conferência A n u a l Brasileira, 1971, pp. 39-40. A administração da missão brasileira foi
difícil durante a guerra, pois o próprio bispo faltou diversas vezes na sua visitação anual no quadriênio
1914-1918. Tais acontecimentos tornaram evidente a conveniênda de um a adm inistração local e autô
noma.
25 A urgência dessa m edida ficara patente durante a Primeira G uerra M undial, quando por diversos
anos nenhum bispo norte-americano pôde vir presidir as conferências anuais, ordenar m inistros etc.
30A m esm a Conferência Geral da IM E S que criou a Igreja M etodista do Brasil, criou igrejas autôno
mas tam bém no M éxico e na Coréia, como alternativa à Conferência Central, estrutura em pregada nos
cam pos missionários da IM E (Igreja M etodista do N orte).
31Actas da Comissão Constituinte e Actas do I o Concilio Geral da Igreja M etodista do Brasil (em um só
volum e), 1930, pp. 15 a 25.
32 Informação sobre o bispo César em N elson de G odoy Costa, César Dacorso Filho; Príncipe da
Igreja M etodista do Brasil, São Paulo, Imprensa Metodista, 1967, passim. O m etodism o, desde João
Wesley, aceitou o conceito da Igreja Primitiva de que bispo e presbítero são essencialmente da mesm a
ordem. D aí, o m etodism o americano, ao estabelecer o episcopado metodista, o estabeleceu como cargo
vitalício, mas não com o uma terceira ordem. A Igreja M etodista do Brasil levou a lógica um passo
adiante, criando um episcopado de termo fixo, sujeito à sucessiva reeleição.
33 Esta segunda sessão do Concilio Geral se realizou em Porto Alegre.
34 D ocum ento extraído de A tas e Documentos do Concilio Geral da Igreja M etodista do Brasil, São
Paulo, 1934, pp. 44, 45, 48.
35 A tradução é infeliz, pois Nelson realmente se refere aqui ao seu curso superior ou universitário.
36 C arta de Justus H. N elson a T. S. Donohugh de 2 8 /1 /1 9 2 6 , logo depois de sair do Brasil. A carta
foi transcrita no Expositor Cristão, 2 /6 /1 9 6 0 , p. 2. Ele conta a m esm a história, com m uitos outros
detalhes, no Suplem ento de O Apologista Christão Brasileiro, outubro de 1925, pp. 1-4.
37 J. M. M ac-Dowell, E m Defesa da Fé e da Liberdade, Pará, Belém, 1919, pp. 12-14. Deve ser
observado que, em 1892, nos começos da República, a Igreja Católica não era m ais a religião oficial do
país. Em teoria, se um católico romano desacatasse publicamente o culto m etodista, ou de outra Igreja
Evangélica, tam bém seria passível de prisão.
38 Veja-se a introdução geral do primeiro período (p. 27 ss) para um tratamento mais geral.
416
Crescimento e Amadurecimento ( 1889-1964) - NOTAS
39 Houve tam bém um a riquíssima fermentação intelectual na Alemanha. Basta lem brar figuras como
o teólogo Friedrich D aniel Ernst Schleiermacher (1768-1834), o filósofo religioso G eorg W ilhelm
Friedrich Hegel (1770-1831), o discípulo deste, Ferdinand Christian Baur (1792-1860), que aplicou a
filosofia hegeliana ao Novo Testamento, e ainda David Friedrich Strauss (1808-1874), cuja interpreta
ção m ítica da vida de Jesus (1835) marcou época - todos estes da prim eira metade do século. N a
segunda metade, destacam-se nomes como o de Albrecht Ritschl (1822-1889), influente teólogo e
historiador da Igreja Primitiva, e seu discípulo, o historiador eclesiásdco-liberal A d olf von H am ack
(1851-1930).
40 O s principais expoentes do pietismo foram Felipe Jacó Spener (1635-1705), fundador do movi
mento, e Augusto Herm an Francke (1663-1727), que fez de Halle o centro de irradiação do movimen
to. O u tra fase do pietismo, a dos morávios — a Unitas Fratrum - gerou um a denominação. Eles se
estabeleceram em Herrnhut, terras do conde Ludw ig von Z inzendorf (1700-1760), que se tornou o
bispo.
41 Hostis ao calvinismo, os “velhos luteranos” (após 1840, liderados por Ernst W ilhelm Hengstenberg),
recusaram-se a participar da união. O rei Frederico Guilherme III (1797-1840) tentou forçá-los a aderir,
proibindo-os de sair do país. D epois de 1840, m uitos emigraram, formando, nos Estados Unidos, o
Sínodo de Missouri e, no Brasil, o Gotteskastensynode; na Alemanha, Neudettelsau passou a ser o seu
centro.
42 Edição Impressa dos Estatutos, São Leopoldo, 1923.
43 A expressão “Igreja Territorial da Prússia” , comumente usada nos círculos luteranos brasileiros,
significa a Igreja Evangélica da Prússia, criada pela união das Igrejas Luterana e Reformada, em 1817.
Em inglês, é cham ada Evangelical N ational Church ofPrussía ou Evangelical Church o f Prússia, ou ainda
Prussian Union.
44 “Palavra de despedida do conselho-mor eclesiástico evangélico da Igreja Territorial da velha Prússia
às com unidades e aos pastores evangélicos alemães do Sínodo Rio-Grandense, filiados ao conselho-mor,
de 1928” , em D er Deutsche Ansiedler, 67 (1929), março/abril, pp, ls.
45 Evangelisch-Lutherinches Gemeindeblatt. O documento é um resumo da declaração dos editores
sobre a postura confessional do jornal e da “Igreja”; primeiro número, ano 2, 1906, pp. 1-3.
46 Protokollbuch, Bd I.
47 D e O Castelo Forte, Ano I, n ° 1 (março de 1947), p. 2. O pastor Ferdinando Schlünzen foi o
presidente do sínodo luterano de 1933 a 1954. Q uanto ao lema, foi no princípio um a frase de Carl
Ferdinand W ilhelm Walther, fundador do Sínodo de M issouri: Gotts Wort u n d Lutbers Lehr vergehen
nun u n d nim m erm ehr (A Palavra de D eus e o ensino de Lutero nunca desaparecerão), permanece como
lem a do trabalho dos missourianos no Brasil. D epois foi substituída pela frase de Lutero: Das Wort sie
sollen lassen stahn. “Eles devem deixar em pé a palavra.”
48 Gustav Schreiner, “25 Jahre Gotteskastenarbeit in Brasilien”, Deutsche Evangelísche Blatter fu r
Brasilien, 1923, p. 74ss.
49 D o Arquivo da Com unidade Luterana do Rio de Janeiro, folhas soltas. O s outros capítulos são:
III. D a Direção do Sínodo; IV. D a Reunião do Sínodo; V. D a C aixa do Sínodo.
50 D epois, o acréscimo ficou sendo o nome oficial da Igreja, cuja sigla é IE C LB . D ocum entos relaci
onados com esse acontecimento se encontram no capítulo final deste livro.
51 D a edição impressa dos estatutos da Federação Sinodal, São Leopoldo, Rio Grande do Sul.
417
História Documental do Protestantismo no Brasil
418
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964) - NOTAS
73 O padroado constituiu uma forte barreira às reformas do Concilio de Trento (1545-1563). H ugo
Fragoso, em História da Igreja no Brasil, II/2, p. 184, assevera que “o esforço para fazer valer na Igreja do
Brasil os princípios do Concilio de Trento é mesmo a característica principal da atuação do nosso epis-
copado no segundo Império” . Só com a extinção do padroado, porém, é que as decisões de Trento
poderiam ser aplicadas na sua íntegra. D om Antônio M acedo Costa percebeu, com o transpira na pasto
ral de 19/3/1 8 9 0 , vantagens na separação Igreja e Estado: “o decreto assegura à Igreja Católica no Brasil
certa som a de liberdade que jam ais logrou no tempo da monarquia” (citado por Villaça, op. cit., p. 147).
74 Houve protesto por parte daqueles que entendiam que a lei 183, que proibia casamento de colaterais
até o terceiro grau, diminuía o número de nascimentos de aleijados e dementes. Tam bém havia fortes
suspeitas de que o verdadeiro motivo por trás do caso era possibilitar “o casamento de filho de um
deputado paulista, milionário, com uma senhorita também milionária, sua parenta em terceiro grau” .
Ver, por exemplo, Guaracy Silveira, “Casamentos de tios com sobrinhos e o cardeal Arcoverde”, Exposi
tor Cristão 5/6/1919, pp. 4-5, e João França, “O código civil e o casamento entre tios e sobrinhos”,
Expositor Cristão, ibid., p. 5.
75A variedade das publicações de Chiniquy é impressionante. U m a das primeiras a sair do prelo na
Am érica Latina foi E l Sacerdote, la M ujer y el Confesionario, M ontevidéu, E I Siglo Ilustrado, 1886
(republicado, por exemplo como E l cura, la M u je r y el Confesionario, Buenos Aires, La Aurora, 1936).
Chiniquy freqüentemente ridicularizava certos dogmas e práticas católicos, com o no seu tratado Le Bon
D ieu de Rome M angépar les Ratsl Montreal, Librarie Évangélique, 1876. Seus livros C inqüenta Anos na
Igreja de Roma e Quarenta Anos na Igreja de Cristo (edição póstum a), constituem um a espécie de autobi
ografia.
7S Decretos do Governo Provisório, vol. I, p. 10. Além de estabelecer liberdade de culto, o governo
provisório tam bém secularizou aspectos da vida social que antes estavam sob controle religioso. Por
exemplo, a decisão n ° 16 de 11 de setembro de 1890, “ ... o governo não reconhece outro casamento
celebrado no Brasil,... senão o civil...” Esta decisão, encontrada em A dditam entos às Decisões do Governo
Provisório, Rio, 1895, p. 154, anulou o efeito do decreto n° 3069 de 1 7/4/1863. Após a decisão n ° 16,
nenhum casamento católico ou protestante teria validade legal.
77 O s reformadores rejeitaram severamente o rebatismo, chegando a perseguir os anabatistas por
causa dessa prática. Conform e Calvino, o Batismo não inicia ninguém na Igreja em nome de qualquer
hom em , senão “no nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;... portanto, o Batismo não é do hom em
e, sim, de D eus, não importando por quem possa ter sido m inistrado”. Calvino manteve esta posição
desde a prim eira edição da Instituição da Religião Cristã, em 1536 (cap. 4) até a última, em 1559
(IV.xv. 16), sem m udar sequer a linguagem. O s calvinistas m odernos repudiaram a posição de Calvino a
esse respeito, sendo típico o artigo de Laudelino de Oliveira Lima, “É Cristã a Igreja Rom ana?” (O
Puritano, 17/6/1915), que ele iniciou citando a advertência do Ap. 18.4: “fugi dela, povo meu, para não
serdes participantes das suas maldições” .
78 Veja seu artigo, “A razão de ser do catolicismo evangélico” , em Revista das Missões Nacionais, 1/
1915, pp. 1-2.
79Anônim o, Revista das Missões Nacionais 6/1915. Eduardo Carlos Pereira notaria esta m esm a dife
rença entre latinos e anglo-saxões, no próprio congresso do Panamá. “ Reunido com o fim de estudar o
problem a religioso da Am érica Latina, não podia o congresso desconhecer o fato capital de que a Igreja
C atólica Rom ana dom ina esta parte do Continente. Aos latinos, apoiados por alguns missionários,
419
História Documental do Protestantismo no Brasil
parecia que a assembléia, em declaração formal e solene, deveria reconhecer este fato, e, diante dele,
definir franca e lealmente a sua atitude... Assim, porém não sentiam os irmãos do N orte. Julgavam eles
que sobre o assunto era suficiente o que esparsamente se dizia nos relatórios. Havia ali um conflito
latente de temperamentos. Eles a temer a loquacidade latina, nós a recear a taciturnidade saxônica...” (O
Problema Religioso da América Latina, São Paulo, 1920, p. 176-77).
8(1 O s protestantes, via de regra, eram entusiastas da República, por ter concedido plena liberdade
religiosa. D iscursos protestantes no dia 15 de novem bro eram com uns com o, por exem plo o do
presbiteriano Álvaro Reis, que receitou a religião evangélica como o remédio dos males do corpo, da
família, e da nação. Ele advertiu: “Sejamos pregadores do Evangelho, pois quando o Evangelho estiver
dissem inado por todos os lares e influir geralmente no caráter do nosso povo, ele será rico, será grande.
Será rico, porque possuirá as maiores bênçãos temporais e as inúmeras bênçãos espirituais que são gran
des e eternas, com o grandes e eternas são o poder, a sabedoria e o am or de D eus” (em O Puritano, 4 /1 2 /
1913, p. 7).
81 O s protestantes interpretavam corretamente a intenção católica, pois o cardeal Leme declarou:
“ Faremos do catolicismo a religião oficial... Som os a maioria e nós o queremos. Podemos im por nossa
vontade” (no Diário Popular de 8 /6/1931). A importância da posição do Cardeal foi notada por obser
vadores da época. Foi citado por Santos Saraiva em O Catolicismo Romano, São Paulo, 1932, entre
outros.
82 O “M anifesto” foi publicado em O Puritano, em 16/5/1931, tendo sido redigido pelo presbiteriano
G aldino Moreira. Convém notar que, na últim a parte, o “M anifesto” era quase um a transcrição do
Credo Social, aceito na época por diversas denominações brasileiras. Outros grupos tam bém se manifes
taram; por exemplo, o comitê pró-liberdade de consciência emitiu um “m anifesto à nação” em 20/6/
1931 (reproduzida no Expositor Cristão em 8 /7 /1 9 3 1 , p. 7). N a m esm a página do Expositor Cristão,
Ernesto Bagno deplora a tentativa católica de revogar o casamento civil. Bagno apela aos seus leitores
para que orem em favor de Getúlio Vargas, a fim de que “vença as insinuações que lhe serão feitas por
um D . Sebastião Lem e” .
83 Deutsche Evangelische Blatter fü r Brasilien, jornal mensal, vol. 15 (1933), pp. 114-116.
84John Edwin Fagg, Latin America-, A General History, N ova York, M acmillan, 1964, 2 a edição, pp.
962, 971, diz que Vargas alegava ter reduzido o analfabetism o de 80 para 60% entre 1930 e 1940, mas
Fagg acha que ele exagerou o seu sucesso.
85 N a realidade, a nova Constituição favoreceu a Igreja Católica, dando o sufrágio aos religioso e
lim itando a capelania m ilitar a sacerdotes católicos (art. 113, n ° 6), m antendo “representação diplom á
tica junto à Santa S é ” (art. 176). O direito de votar foi estendido a mulheres e a idade lim ite baixada a
dezoito anos (art. 108).
86 Artigo de Jú lio C. N ogueira em O Puritano, 2 5 /3 /1 9 3 3 .
87 O s autores da carta, Synesio Lyra, presidente, e Rodolfo Anders, secretário-geral, se referem aos
m issionários episcopais, metodistas, batistas e presbiterianos.
88 Esta carta, enviada ao embaixador Cafferey, foi publicada na integra em U num Corpus, julho,
1942, pp. 1-3.
89 “Ecum enism o” no período em apreço significa “pan-protestantism o”, pois as Igrejas Ortodoxas
participaram muito pouco do movimento ecumênico antes da Assembléia do Conselho M undial de
Igrejas em N ova Delhi, 1961, como os católicos romanos só depois do concilio Vaticano II.
420
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964) - NOTAS
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História Documental do Protestantismo no Brasil
104 Guilherme Kerr, Atas da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana do Brasil, 1926, pp. 76-78. Kerr
foi, por m uitos anos, reitor do seminário de Cam pinas.
105 O Puritano, 10/5/1938.
106 Surgiram entre os evangelicals a Associação Nacional de Evangélicos (1942) e M ocidade para
C risto (1943). M ocidade para Cristo recrutou Billy Graham (nascido em 1918) em 1945; campanhas
evangelísticas em Los Angeles, Boston e Portland (1949-1950) lhe deram fam a nacional , que foi au
m entada pela sua “invasão” da Inglaterra em 1954. Graham usou com unicação de m assa e eficiente
organização nas suas campanhas, conseguindo apoio de muitas denominações. Graham tam bém com
batia o com unism o, coincidindo sua campanha com a notória “caça aos com unistas” do senador Joseph
M cCarthy (1950-1954).
107 O relatório oficial da Assembléia de Am sterdã traz uma lista das igrejas-membros e seus respecti
vos delegados; consta da lista o nome do Dr. Samuel Rizzo como delegado da Igreja Cristã Presbiteriana
do Brasil; Dr. Richard L. Waddell constava da lista dos consultores. W. A. Visser’t H ooft, The First
Assembly o fth e World Council ofChurches, NY, Harper, 1949, vol. V, pp. 2 3 6 e 259.
i08N atanâel Cortez, O Puritano, 2 5 /1 /1 9 5 0 .
105 O movimento é conhecido por uma variedade de nomes e apelidos: M ovimento de O xford por ter
surgido entre diversos clérigos jovens, principalmente ligados ao Oriel College, da Universidade de Oxford;
M ovim ento Tractariano, por causa dos noventa “Tratados Para os Tem pos” , escritos por John Henry
N ewm an (1801-1890) e outros líderes do movimento; ou puseísmo, de Edward Bouverie Pusey (1800-
1882), que assumiu a liderança do grupo depois que Newm an passou para a Igreja Católica Romana, em
1845. (Newm an foi elevado a cardeal em 1879, pelo papa Leão X III). D este movimento, veio o partido
anglo-católico, que suplantou o Movimento de Oxford e, sob a liderança de Pusey, tornou-se elemento
permanente do anglicanismo.
' 10 O preâm bulo da Aliança Americana declara: “N ão temos intenção de criar um a nova denom ina
ção ou efetuar um a am álgam a de igrejas...” , N ew Schajf-Herzog Encyclopedia o f Religious Knowledge,
1950, IV, 222. U m a outra tentativa de se descobrir um a base doutrinária m ínim a foi o “ Quadrilátero de
Lam beth” aprovado pelos bispos anglicanos na conferência de Lam beth em 1888.
1,1Expositor Cristão, 13/8/1903, p. 6.
112W illiam Richey H ogg em Ecumenical Foundations, a History o fth e International M issionary Council
a n d its N ineteenth-Century Background, N ova York, 1952, p. 131, diz: “Para m uitos, a om issão mais
importante de Edim burgo foi a América Latina”. Apesar da omissão, alguns obreiros, principalmente
missionários, estiveram presentes. Álvaro Reis compareceu com o um dos “delegados nomeados pela
comissão executiva americana para preencher vagas nas listas dos boards” . J. W. Tarboux, missionário no
Brasil, fez parte da delegação da IM E S; H. C. Tucker tam bém esteve presente, pela Sociedade Bíblica
Americana, da qual era agente no Brasil. Além destes, apenas dois secretários da Associação Cristã de
M oços, G. I. Babcock e C. D . Hurrey, respectivamente trabalhando no M éxico e na Argentina. J. W.
Butler, superintendente da missão m etodista na Cidade do M éxico, tam bém esteve presente. Veja-se
World Missionary Conference 1910, NY, 1910. O s nomes m encionados encontram-se no vol. 9, como
segue: Reis (p. 63), Tarboux (p. 57), Tucker (p. 62), Babcock e Hurrey (p. 62). A presença de Butler está
m encionada em Christian Work in Latin Am erica, NY, 1917, vol. I, p. 7.
113 “A Convenção do Panamá - a oportunidade dos brasileiros” , em Revista das Missões Nacionais, 61
1915.
422
Crescimento e Amadurecimento (1889-1964) - NOTAS
114 Christian Work in Latin Am erica, III, 79-82. A história subseqüente m ostra que, de fato, a com is
são de cooperação trabalhou com relativo sucesso; chegou-se a fundar um seminário unido, que funcio
nou, por poucos anos, sem o apoio da m aioria das igrejas; a divisão de territórios funcionou, em parte;
o am bicioso plano de Lavras nunca logrou formar a universidade prevista. Se o esquem a de “cooperação
futura” aqui esboçado tivesse se concretizado, a história do ecumenismo no Brasil teria sido bem outra.
115 B (batista), M (metodista), P (presbiteriano), PI (presbiteriano independente).
116N o relatório sobre cooperação e unidade, G am m on declara que o seminário m etodista no Granbery,
Juiz de Fora, tam bém negociava a união. “Parece haver boas perspectivas para a consum ação desta união,
apoiada com o está por homens de influência em am bos os lados” (247).
117A expressão refere-se à prática de dividir o território de determinado país entre diferentes juntas
missionárias, para evitar conflitos e duplicação de esforços.
118 A união da obra m etodista, congregacional e parte da presbiteriana foi consum ada em 1925,
dando origem à Igreja Unida do Canadá.
119 Regional Conferences in Latin America, NY., 1917, pp. 217-255.
120 C om a criação do Conselho Federal (1908) diminuiu bastante nos E U A o entusiasmo pela Alian
ça Evangélica.
121 Episcopal, presbiteriana, presbiteriana independente, metodista, congregacional.
122A m issão Caiuá, em Dourados, M T, representa a concretização desse planejamento.
123 O livro foi publicado, tornando-se célebre: Erasm o Braga e Kenneth G. G rubb, The Republic oj
B razil, London, World D om inion Press, 1932.
124Relatório da Comissão Brasileira de Cooperação, 1927-1928, passim. Braga emprega m uitos termos
em inglês, com o Board, H eart o f A m azônia Mission, Womens Christian Temperance Union e outros, sem
grifos; o texto transcrito acima, portanto, respeitando o original, não grifa esses vocábulos.
125 Erasm o Braga e Kenneth G. Grubb, op. cit., pp. 92-93.
126 O relacionamento foi um pouco complexo, e por isso pede ligeira explicação. A Com issão Brasi
leira de Cooperação sempre esteve ligada ao Com itê de Cooperação na Am érica Latina (C C L A ); assim
a Com issão ficou vinculada ao Conselho Internacional de Missões (C IM ) quando o. C C L A se filiou ao
C IM na reunião deste em W illiamsburg, em 1929. (Relatório anual da CBC, 1929-1930, p. 4). H ogg
diz em EcumenicalFoundations, p. 268, que a Confederação Evangélica do Brasil (C E B ) tornou-se parte
do C IM na reunião deste em N orthfield, em 1935.
127Epam inondas Melo do Amaral, O Puritano, 25/6/1935. D epois da morte de Erasm o Braga, Amaral
surgiu com o o brasileiro mais destacado em assuntos ecumênicos. Im buído desse espírito foi muito
influente na Confederação Evangélica do Brasil desde a sua criação.
128 O cham ado “movimento de Estocolm o (cristianismo prático)” é geralmente designado “V ida e
Ação” . A Conferência de Estocolm o (1925) enfatizou a reforma social por m eio do esforço individual; a
de Oxford, Inglaterra (1937) do mesmo movimento, “convocou as próprias igrejas para m obilizar suas
forças espirituais a fim de combater a injustiça, crueldade e ódio” (W. Stanley Rycroft, The Ecumenical
Witness o fth e UnitedPresbiterian Church in the U.S., NY, 1968, p. 112). Tam bém em 1937, um outro
movimento gerado por Edim burgo 1910, Fé e Constituição, realizou sua segunda conferência mundial,
em Edim burgo. As duas conferências votaram, em 1937, fundir-se para formar o Conselho M undial de
Igrejas (C M I). N un ca relacionada ao movimento “Fé e Constituição”, a Confederação tam bém nunca
chegou a ter um relacionamento mais profundo com o C M I. Por ser um conselho de igrejas, o C M I
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História Documental do Protestantismo no Brasil
tem a “ Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro” (julho de 1962). A posição de Borges era represen
tativa de um a influente minoria dentro da IPB.
181 Mocidade, março de 1951.
1S2Guilherme Kerr, O Puritano, 10/2/1953, professor do seminário em Cam pinas de 1926 a 1956,
ele tipifica a ala conservadora da IPB, na sua postura ortodoxa, de lealdade denominacional e resistência
ao ecumenismo.
183 Rubens Nogueira, Mocidade, julho de 1954.
l84Waldyr Carvalho Luz, O Puritano, 2 5 /4 /1 9 5 8 . Luz, então professor do seminário de Cam pinas,
assumiu a reitoria após a saída de Júlio Andrade Ferreira, que renunciou a 2 1 /8 /6 6 e foi expulso logo a
seguir por ter assinado a “representação” feita pela congregação dos professores contra a “comissão espe
cial dos seminários” (C E S), cf. João D ias de Araújo, Inquisição sem Fogueiras, Instituto Superior de
Estudos da Religião, Rio de Janeiro, 1982, 2 a edição, p. 58. Luz, um dos dois únicos que não assinaram
a “representação”, foi “expulso” em 1974 (Araújo, idem).
185A tas do Supremo Concilio, 1962; SC -62-69, p. 12-14.
186 Circular n ° 24 6 6 /3 9 , Sinodo Rio-Grandense, presidente, São Leopoldo, RS, de 17/11 /1 9 3 9 ,
publicação avulsa.
187A doutrina da “espiritualidade da Igreja” foi primeiro form ulada pelo presbiteriano John H olt Rice
(1777-1831). Já em 1827, Rice percebeu que a questão da escravidão poderia se lim itar a “fazer bons
cristãos”, e a não se preocupar com coisas além da sua competência, com o a política. U m versículo chave
do conceito era “D ai a César o que é de César e a D eus o que é de D eus”.
188W inthrop S. Hudson, Religion in America, 2. ed., N ova York, Scribners, 1973, pp. 216-219.
189 M ário Lício, O Puritano, 2 5 /6 /1 9 4 5 .
190Apenas a M etodista e a Luterana (does. 131-133).
191 Cf. doc. 147 acima, e respectivas notas.
,92 Informação baseada em João D ias de Araújo, Inquisição sem Fogueiras, op. cit., p. 32; também
“Igrejas chamadas para ação mais dinâmica no processo revolucionário brasileiro” , Expositor Cristão, 1/
11/62, últim a página; “A Conferência do Nordeste: um pouco de História” , E C 1/10/62, p. 5, “Cristo
e o Processo Revolucionário Brasileiro”, E C 1/9/62, p. 1.
193 [Sic.] O certo, mais provavelmente, seria “soberania” .
194João D ias de Araújo, “A revolução do Reino de D eus” , conferência apresentada na “ Conferência
do N ordeste”; transcrita do Expositor Cristão, 1/10/1962, pp. 1 ,9 , ibid., 15/1 0 /1 9 6 2 , últ. página e p. 4.
Foi publicado um livreto, sem notas bibliográficas, intitulado A Conferência do Nordeste (Cristo e o
Processo Revolucionário Brasileiro), com prefácio de Am antino Adorno Vassão, Rio de Janeiro, 21 de
novembro de 1962. Traz um breve excerto da conferência de João D ias de Araújo, pp. 62-64.
Notas da PARTE III
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente
1 N o “prefácio” de J.C . Maraschin, editor , Upsala 1968, Porto Alegre, Publicadora Eclesia, 1968,
p.9
2Ib id
3 Primeira edição, em inglês, 1965. I a edição em português: Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1968.
4 Teologia de la Liberacion, Perspectivas, Lima, CEP, 1971. O utros logo seguiram a m esm a linha,
com o H ugo Assmann, Juan Luis Segundo, José M iguez Bonino etc.
5 U m a outra teologia m uito influente nos EUA , e pouco no Brasil, é a do “processo”, inspirada na
filosofia de Alfred N orth W hitehead (1861-1947), que por sua vez deve m uito à noção heraclitiana do
eterno fluir.
6 M ovim ento de Educação de Base.
7 “H istória da Igreja Católica no Brasil”, Cadernos do ISE R n ° 8, abril de 1979, p.9. O uso do termo
“Revolução” por Beozzo não implica na sua aprovação do regime militar, com o um a leitura da curta
citação torna abundantemente claro.
8 Conteúdo do parágrafo baseado em Beozzo, op. cit., p.9.
9 D ow Kirkpatrick, “An Interview in Rio de Janeiro, Brazil, June 24, 1978, with D om Helder,
Archbishop o f Recife & Olinda”, (1978), mimeografado, p. 1.
10 Veja o tópico “O fenômeno pentecostal” (p. 364ss)
11 O Jornal Batista (JB) transcreveu na integra o sermão de Graham, pregador na noite de 3 /7 /1 9 6 0
(JB, Ano LX , n ° 29, pp. 1,4,7). Soren era pastor da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, e professor
de teologia do Sem inário Teológico do Sul quando da sua eleição. A escolha do Brasil com o local do X
Congresso e de um brasileiro para a presidência da Aliança significou o reconhecimento do progresso da
Igreja Batista no Brasil.
12 O J B diz que a aprovação da campanha nacional, na convenção do Recife, “Foi incontestavelmente
o ponto alto da 4 6 a assembléia onde convergiam todas as atenções” (8/2 0 1 9 6 4 , p .l).
13 H arald Schaly, no JB , 2 8 /3 /1 9 6 4 , p .l.
14 O J B de 2 /4 /1 9 6 7 , pp. 1-2, traz notícias da Cam panha e o seu hino oficial, da autoria de Gióia
Júnior. N a edição de 9 /4/67, na última página, encontra-se “A prim eira clarinada da C am panha das
Américas” .
15JB , 2 3 /1 /1 9 6 9 . p .l.
16 Ibid. N úm eros subsequentes do J B fornecem informaçõs suplementares.
17JB , 5 /4 /1 9 6 4 , portanto publicado quando o regime militar tinha apenas dias de existência.
18 J.R.P. (José Reis Pereira), JB , 5 /4/1964, p. 1. M uitas das alusões deste artigo se tom am m uito mais
claras quando com paradas com o documento 157.
19 A m orte de Jan Garrigue M asaryk (1886-1948) ocorreu logo após o golpe com unista em fevereiro,
1948. O corpo do M inistro do Exterior da Tchecoslováquia foi descoberto no pátio, três andares abaixo
do seu apartamento, de onde fora jogado ou, como alguns pensam, jogara-se em protesto contra o golpe
comunista. A alusão à Hungria, no parágrafo anterior, se refere à mal sucedida revolta do povo húngaro
contra a dom inação comunista, em 23 de outubro de 1956, pela qual o Primeiro M inistro Andreas
429
História Documental do Protestantismo no Brasil
Andreas Hegedua foi substituído por Imre Nagy. Em novembro, tropas russas invadiram a Hungria
para esmagar a revolta.
20 J.R.P. (José Reis Pereira), JB , 12/4/1964, p .3. Para ênfase, o editorial foi impresso em negrito, e
com a separação dos parágrafos aqui observada.
21 Poesia de M ário Barreto França, JB , 2 6 /4 /1 9 6 4 , p.8.
22 João Filson Soren, JB , 311511964 , p.8.
23 JB , 2 0 /1 0 /1 9 7 4 , p .l.
24 Tendo aceito a teoria valdense-anabatista de que a constantinização da Igreja marcou sua queda e
apostasia(cf. parte inicial do doc. 159), os batistas brasileiros não se conscientizaram das reais transfor
mações que ocorreram na Igreja Católica Rom ana em geral, pelas decisões do Concilio do Vaticano II,
e na Igreja na Am érica Latina em particular, a partir da II Conferência do Episcopado Latino-Americano
em Medellin (1968).
25JB , 2 4 /9 /1 9 7 8 , p .l. Esta “mensagem” , na primeira página do órgão oficial batista, com tipos duas
vezes maiores que os comumente empregados pelo JB , ocupa um a faixa de 2 1/2 colunas de largura
dom inando a página.
26 O s principais ramos presbiterianos que trabalharam no Brasil desde o início foram a P C U SA
(Norte) e a P C U S (Sul). Aquela uniu-se com a Igreja Presbiteriana U nida da Am érica do N orte (fruto da
união de duas denominações presbiterianas, oriundas da Escócia) para form ar a Igreja Presbiteriana
Unidas dos Estados Unidos da Am érica ((U PC U SA ) em 2 8 /5 /1 9 5 8 . Para m elhor compreensão da
“geneologia” do presibiterianinsmo ligado ao Brasil, veja-se o esquema abaixo, baseado em W. Stanley
Rycroft, The Ecum enical Witness o fth e U nited Presbyterian Church, Board o f Christian Education o f te
U P C U SA s / l , 1968, p.216 e apêndices 9 (s/pp.).
Reformada Associada
I
N ovo Lado
I
Velho Lado
(conventers-1774) (Seceders-1753)
Ig. Presb. nos E U A (P C U SA - 1758)
------- [
U nited Presbiterian Church o f N ova escola Velha escola
N orth Am erica (1858)
P C U SA (1870) P C U S (1865)
(Norte) (Sul)
430
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente - NOTAS
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História Documental do Protestantismo no Brasil
432
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente - NOTAS
49 Alm ir dos Santos, presidente do Setor de Responsabilidade Social da Igreja da C E B , foi um dos
dirigentes da “Conferência do N ordeste” (doc. 155, supra), foi tam bém presidente de Igreja e Sociedade
na Am érica Latina (ISAL), criada na prim eira consulta evangélica de Igreja e Sociedade, 2 3 -2 7 /7 /1 9 6 1 ,
em H uam pani, Peru, por ocasião da II Conferência Evangélica Latino-Americana (II CELA ).
50 A lm ir dos Santos foi eleito bispo em primeiro escrutínio; para substituí-lo, o Concilio Geral
elegeu João Parahyba Daronch da Silva. A tas e Documentos do I X Concilio, 1965, pp. 66, 69.
51 O Expositor Cristão de 1968 informa as decisões oficiais a respeito da Faculdade de Teologia, tais
como: fechamento (1 5 /5 /1 9 6 8 , p. 4); situação do Gabinete Geral no caso e convocação do Concilio
Geral Extraordinário {1 5 /9 /1 9 6 8 , p. 8); suspensão das atividades até o fim do ano letivo (1 /7 /1 9 6 8 , p.
8).
52 “A eleição do bispo é feita no concilio regional...” (Cânones, 1971, art. 65). A s Atas e Documentos de
1971, para todas as regiões eclesiásticas, acusam as seguintes eleições episcopais: A lm ir dos Santos, A tas
I a Região, p. 55; Sady M achado da Silva, Atas 2 a Região, p. 20; Alípio da Silva Lavoura, A tas 3 a Região,
p. 28; O m ar D aibert, Atas 4 a Região, p. 30; Oswaldo Dias da Silva, A tas 5 a Região, p. 20; e W ilbur K.
Smith, Atas 6 a Região, p. 20.
53 Em bora definissem a Faculdade de Teologia em Rudge Ramos, SP, com o a única “instituição de
preparo bíblico-teológico de nível superior” (art. 149), os Cânones de 1971 facultaram “às regiões a
criação de seminários regionais” (art. 150). Portanto, além dos seminários regionais já existentes em
Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, criaram-se outros dois, respectivamente em Piracicaba e
São Paulo.
54 Cânones, 1978, art. 52, alínea 7: grifos do autor.
55 Sem inário César D acorso Filho, no Rio de Janeiro; e Seminário João Ramos Júnior, em Belo
Horizonte, em 1981, todos os alunos deste último foram transferidos para a Faculdade de Teologia de
Rudge Ram os, em São Bernardo do Cam po, São Paulo.
56 O ração do paraninfo, pronunciada no dia 9 de dezembro de 1967. O texto foi reproduzido na
íntegra no Expositor Cristão, 12 e 15 de janeiro, 1968, pp. 11-13. C onsta também, em italiano, de: D om
Helder Câm ara, Fame e Sete D i Pace con Giustizia, Milano, Editrice M assim o, 1970, pp. 156-168.
57 D e 13 de setembro de 1980 a 13 de setembro de 1981 a instituição celebrou seu centenário.
58 O s quatro centros, por ocasião do reconhecimento da universidade eram: Centro de Ciências
Hum anas; Centro de Ciências Aplicadas, Centro de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde e Centro
de Ciências Exatas e Tecnologia.
59Transcrito de cópia m imeografada do parecer 4.02 7 /7 5 .
m Igreja Metodista: Plano Quadrienal 1979-1982, Imprensa Metodista, São Paulo, dezembro de 1978,
p. 37.
61 Ibid., p. 32.
62 O Expositor Cristão da 1a quinzena de outubro de 1980, publicou resoluções da M esa Adm inistra
tiva do Conselho Geral (de 11/9/80) e do Conselho Geral (de 1 2/7/80 e de 1 3/9/80), às páginas 7 e 10,
contendo as decisões acima. O mesmo número transcreveu, na íntegra, o plano nacional de educação, às
páginas 8/10. O mesmo documento foi publicado como “suplemento especial” do Jornal da U N IM E P
agosto de 1980, e em diversas outras formas, alcançando am pla circulação na Igreja Metodista.
63 Com issão Geral de Educação Teológica.
64Transcrito do Expositor Cristão, I a quinzena de outubro de 1980, pp. 8-10, com parado com a
433
História Documentai do Protestantismo 110 Brasil
versão não oficial do Jornal da U N IM EP, suplemento especial, agosto de 1980, p. 14.
65 Federação Luterana Mundial. A reunião foi transferida para Evian, França, por causa do clima
político no Brasil sob o presidente Em ílio Garrastazu M édici (3 0 /1 0 /1 9 6 9 -1 5 /3 /1 9 7 4 ).
“ Transcrito infra, sob 3.5.2.
67 A Igreja Evangélica Alemã ainda financia 22% do orçamento da IE C L B , conform e Coojornal,
outubro de 1981, p. 3.
68 Transcrito adiante, sob n ° 179. E significativo que o editor, Germ ano Burger, não m encionou que,
em 15 de março de 1974, o general Ernesto Geisel (nascido em 1908) tornou-se presidente, tendo
servido até 15/3/1 9 7 9 , pois Geisel, filho de imigrante alemão, foi o primeiro protestante e luterano a ser
presidente do Brasil, o maior país católico do mundo. Geisel reatou o diálogo entre governo e Igreja
Católica, que fora totalmente interrompido no governo de Em ílio Garrastazu M édici. M enciona, entre
tanto, que o IX Concilio Geral elaborou um a mensagem ao presidente da República, entregue meses
depois pelo pastor Karl Gottschald, presidente da IE C L B , na prim eira entrevista que Geisel concedeu
no ano de 1975. (Q uem Assume esta Tarefa, Editora Sinodal, São Leopoldo, RS, 1977, p. 16.)
65 “ Este documento define o cristão como discípulo de Cristo e o relacionamento entre discipulado
e com unidade num processo integral de aprendizagem.” Citado de Quem Assum e esta Tarefai, p. 18.
Toda a citação é do mesmo livro, pp. 13-14.
70Transcrito de Quem Assume esta Tarefa?, pp. 37-40.
71 O s números entre parênteses constam do texto transcrito e correspondem às “notas” da página
seguinte.
72 Por ocasião da sua eleição como pastor regional do Sínodo Rio-Grandense, o pastor Hum berto
Kirkheim explicou as três direções da atuação pastoral da IE C L B , a saber: “N o sentido de um a pastoral
rural, em que tratamos dos problemas fundiários, de êxodo rural, aconselhando o pequeno produtor a
adotar um a agricultura alternativa, orgânica e compartilhada, para fugir às imposições e explorações das
multinacionais de adubos e defensivos, semeando o am or à terra... N o sentido de um a pastoral urbana,
em que discutim os os problemas das massas das periferias, e estamos estimulando a descentralização das
nossas igrejas e a criação de centros comunitários e associações de bairro. E no que chamam os de presen
ça relativa à valorização da pessoa em seu sentido existencial, de solidão, de m edo e de sentido da vida.”
(Coojornal, outubro de 1981, p. 3).
Notas:
1 - Desenvolvimento brasileiro, elementos básicos para a compreensão do desenvolvimento, São
Paulo, Convívio, Sociedade Brasileira de Cultura, 1972. Caderno sobre Problemas Educacionais.
2 - H offm ann R. e Duarte J. Carlos. ‘A distribuição da renda no Brasil", Revista de Administração de
Empresas, G B , FGV, vol. 12, n ° 2, junho de 1972, p. 61.
3 - Lenz M . M artinho e outros. Realidade Brasileira, Porto Alegre, Editora Sulina, 1975, 2 a edição,
p. 46.
4 - Newton Carlos, em “Zero Hora” , Porto Alegre, 3 /1 1 /7 4 ; Lopes, Lem e e outros. Estudos de
Problemas Brasileiros, M anuel Diégues Jr. e José Artur Rios, C am po Psico-Social, Ed. Renes, Rio, 1971,
p. 65.
5 —Carlos Gem ido Langoni. Distribuição de Renda e Desenvolvimento Econômico no Brasil, Rio, Ed.
Expressão e Cultura, 1973, Rio, p. 64; Hélio Jaguaribe. Brasil: Crise e Alternativas, Rio, Ed. Zahar,
1974, pp. 59 e 60.
434
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente - NOTAS
6 - Fonte: D epartam ento de Cadastro e Tributação do Ibra, 1967, apud Lenz e outros, op. cit., p.
148.
7 - M urilo M ello Filho. O Desafio Brasileiro, Rio, Edições Bloch, 1970, p. 331; Rubens Vaz da
Costa. Estratégia e Programa de Desenvolvimento Urbano, A Experiência Brasileira, Exposição ao X X IV
Congresso da Câm ara Internacional do Comércio, Rio, 22 de maio de 1973. Editado pela Secretaria de
Divulgação do B N H .
73 D ocum ento transcrito de Quem Assume esta Tarefa?, pp. 43-49. O docum ento data de 1975.
74 A reputação de Parham sofreu pela sua defesa da teoria desacreditada de serem os anglo-saxões
descendentes das dez tribos de Israel.
75A expressão “últimas chuvas” é de Joel 2.23; cf. doc. 119.
7r’ Assem bléia de D eus é uma tradução literal da expressão bíblica ekklesia tou theou, geralmente
traduzida por “Igreja de D eus” .
77A Igreja de D eus (Cleveland, Tennessee) nasceu entre o povo montanhês na divisa entre os estados
de Carolina do N orte e Tennessee, EUA , sob a liderança do pastor batista Richard B. Spurlind, sendo
depois longamente pastoreada por A. J. Tomlinson colportor da Sociedade Bíblica Americana, declara
do superintendente-geral vitalício, em 1920.
78 O s “prom essistas” datam sua origem da experiência do pastor João Augusto da Silveira, de 2 4 /1 0 /
1932, na qual ele teria recebido a “promessa do Consolador”. N a época, Silveira estava afastado da Igreja
Adventista do Sétim o Dia. (Godofredo Rodolfo Wanderley, “U m flash do passado”, O Mensageiro da
Ú ltim a Hora, jan., 1981, p. 4.).
79Julio O . Rosa, O Evangelho Quadrangular no Brasil, 2. ed., 1978, pp. 251-253.
8(1Atualmente, [a saber, na época em que o livro foi escrito] contra a tradição da Assem bléia de Deus,
o pastor Alfredo Reikidal, dirigente do ministério do Ipiranga, é candidato a deputado estadual pelo
PT B (Paulo Sérgio Scarpa, “Pentecostalismo já tem 8,5 milhões de seguidores no país” , Folha de São
Paulo, 18/1/1 9 8 2 , p. 15).
81 Por exemplo, “A voz da libertação” diariamente das 4 às 9 hs. e do m eio-dia às 17 hs., do m issioná
rio D avid M iranda, e o program a diário de M anoel de Mello na Rádio Tupi, São Paulo.
82 Veja-se doc. 186, abaixo, para informações sobre a inauguração do “m aior tem plo evangélico do
m undo”.
83 Scarpa, ibid.
84 Estimativa de Scarpa, ibid.
85 Scarpa, ibid.
86 Roberto Dom inguez, Cultura Pentecostal, San Juan, Puerto Rico, 1977, p. 3.
87 O autor do presente volum e reconhece que, pelo número e im portância que os pentecostais ganha
ram nos últimos vinte anos no Brasil e no mundo, um a considerável parte deste volum e deveria ser
dedicada a eles. As razões por que ele não procedeu assim são basicamente as seguintes; 1) O autor
resolveu focalizar sua atenção principalmente nas “igrejas históricas” , crendo que foram elas que deram
a m aior parcela de form a e conteúdo ao protestantismo brasileiro. 2) A influência dos pentecostais tem
sido grande principalmente nos últimos vinte anos. Se o autor levasse em consideração sua presente
expressão e influência, talvez tivesse de dobrar o tamanho do livro, o que significaria ou um livro duas
vezes m aior (o que está fora de cogitação) ou um a redução drástica da porção que toca às igrejas históri
435
História Documental do Protestantismo no Brasil
cas (o que parece injustificável ao autor). 3) H á outro motivo, de ordem prática; as fontes da história
pentecostal são de acesso muito difícil e o autor não as tem pesquisado suficientemente. M ais claramen
te, trata-se de um a área a respeito da qual o autor tem que confessar sua ignorância e incompetência.
88 Louis Francescon, Resumo de uma Ramificação da Obra de Deus, pelo Espírito Santo, no Século
A tual, São Paulo, Ind. Reunidas Irmãos Spina, 1958, 3. ed., p. 12. Encontra-se a m esm a citação na
edição de 1942, à página 10.
S9Só poderia ser um sacerdote católico romano, pois, na p. 21, Francescon escreveu que, exceto dois
italianos, todos os outros moradores do lugar eram “brasileiros e da fé católica romana” .
90 Francescon escreveu este trecho em 1942. Em 1948-49, visitou novamente o Brasil e, em 1952,
acrescentou uma segunda parte ao seu resumo. “ Obedecer o mandam ento do Senhor” significa aceitar o
Batismo por imersão pois, nos idos de 1894, enquanto Francescon lia C l 2.12, “um a voz” lhe teria dito,
“Tu não obedeceste a este mandam ento” (p. 8).
91 Francescon, op. cit., pp. 21-25, 29-30.
92 D aniel Berg, Enviado por Deus, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de D eus, 1973,
3 a ed., p. 27.
93 O m esm o D urham foi influente na conversão pentecostal de Francescon (doc. 180). A fé de
Aimee Sem ple M cPherson na “cura divina” se liga à sua própria cura do tornozelo m achucado, por meio
da oração de Durham , c. 1908 (Julio O. Rosa, op. cit., p. 275).
94 Ivar Vingren, G unnar Vingren. O Diário do Pioneiro, Rio de Janeiro, C asa Publicadora das Assem
bléias de D eus, 1973, p. 19.
95 Vingren, op. cit., p. 20, deixa entender que a revelação segundo a qual deveriam seguir para o
Brasil veio num a reunião de oração, na qual Adolfo U lldin teve um “arrebatamento profético”. Berg, op.
cit., p. 28, diz que a revelação a U lldin veio num sonho. Lawrence Olsen concluiu que a “revelação”
provavelmente veio por meio da “língua estranha”. “Sendo repetida tantas vezes a palavra “pará-pará-
pará” , entenderam que para algum lugar por esse nome D eus os estava cham ando.” ("Ênfase do M ovi
m ento Pentecostal” , em O Espírito Santo e o M ovim ento Pentecostal: Simpósio, São Paulo, A S T E , 1966, p.
28).
96 2 C o 6.17-18.
97 Vingren, op. cit., pp. 32-33.
98 Berg, op. cit., pp. 42-46.
99 Antônio N . de Mesquita, História dos Batistas do Brasil de 1 9 0 7 até 1935, II vol., Rio de Janeiro,
C asa Publicadora Batista, 1940, pp. 136-37. Um a comparação dos três docum entos, nenhum dos quais
contemporâneos, m ostra a precariedade de documentos desta natureza. M esm o entre as versões de Berg
e Vingren, testemunhas oculares, há sérias discrepâncias; estas versões parecem ser baseadas na m em ória
dos dois. Infelizmente, o autor não descobriu nenhuma narrativa estritamente contemporânea. Para
melhor compreender as versões de Vingren e Berg, será conveniente lembrar que a Igreja Batista de
Belém, fundada por Eurico Nelson, passava por um período difícil, marcado por dissenções, nas quais
figuravam três pastores batistas, permanecendo infelizmente o pastor Jerônim o Teixeira de Souza. O
missionário N elson, fundador, ainda visitava a igreja de quando em vez, e aparentemente ainda tinha
um a certa influência na mesma. E provável que o “evangelista” na versão de Vingren seja Raim undo
N obre e o “pastor” , aquele não lhes permitiu falar, tenha sido o Rev. Jerônim o. O “pastor” na versão de
Berg, aliás bem diferente, provavelmente era, na realidade, o evangelista Raim undo Nobre.
436
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente - NOTAS
100Jú lio O . Rosa, O Evangelho Quadrangular no B rasil 2 a ed., 1978, p. 128. As circunstâncias nas
quais M anoel de Mello deixou a Assembléia de D eus não são do conhecimento do autor. O antigo líder
da Assem bléia de D eus, Cícero Canuto de Lima, declarou recentemente: “... eu m esm o lo l expulsei da
Assembléia de D eus” . (Citado por Paulo Sérgio Scarpa no artigo “ Pentecostalismo já tem 8,5 milhões de
seguidores no país”, Folha de São Paulo, 19/1/1982, p. 15).
101 Ibid, p. 88ss. 0 apelido se deve à sua alegação de que, na infância, devido a um a grave enfermida
de, esteve m orto por um a hora e 45 minutos ressuscitando em resposta à oração de sua mãe.
102Ibid., p. 129.
103 Desde o lançamento da pedra fundamental do enorme templo, M anoel de M ello vem usando
inclusive em papel tim brado de sua igreja a expressão, “o m aior tem plo evangélico do m undo” . Entre
tanto, D avid M iranda com prou um velho galpão na baixada do Glicério, cidade de São Paulo, e ali
instalou a sede nacional da Igreja Pentecostal “ D eus é Am or” . Calcula-se que no primeiro dia do ano
(1982), afluiram para lá 50 mil pessoas. Para uma descrição bem atualizada, embora popular, veja-se o
artigo de Paulo Sérgio Scarpa, op. cit.
104N os docum entos abaixo o autor tam bém empregou a sigla C M I.
105 O Expositor Cristão, 1/10/1968, p. 11. A entrevista teve am pla circulação, por exemplo: Carta
mensal sobre a evangelização do C M I, publicada em francês, inglês e alemão (fev ./mar. 1969), um
resumo no Ecumenical Press Service, boletim n ° 15, de 2 4 /4 /1 9 6 9 ; International Review o f M ission, april,
1971, pp. 245-248).
106Jo 17.4; citação livre.
1,17C arta no arquivo do C M I em Genebra. Walter J. Hollenwegger, The Pentecostais, London, S.C .M .,
1972, p. 104, informa que a Igreja foi aceita com o m em bro do C M I pelo comitê central, na sua reunião
de 1969 em Cantuária, Inglaterra.
108 “ O templo ocupa um a área de 20 mil metros quadrados, podendo abrigar 20 m il pessoas” afirma
C E I, jun h o /1979, número especial, [p. 4],
109 C E S E , a Coordenadoria Ecumênica de Serviço, congrega a Igreja Evangélica Pentecostal “ O
Brasil para C risto,” a Igreja Episcopal do Brasil, a Igreja M etodista e a C N B B . N o Brasil, os m em bros do
C M I são as igrejas evangélicas mencionadas acima, a IE C L B e a Igreja Cristã Reform ada (de origem
húngara).
110 O docum ento é trecho de um a reportagem de O São Paulo, 13-19/7/1979, p. 7. O acontecimen
to foi relativamente pouco comentado na imprensa religiosa e secular, havendo, por exemplo, apenas
menção passageira em O Expositor Cristão, e nenhuma em revistas com o Isto E, Veja etc. S E D O C , vol.
12, n ° 124, setembro de 1979 faz breve menção na coluna 257; Rápidas, de setembro de 1979, vol. 1,
número 93, p. 5 lhe dedica um breve comentário de 21 linhas; na edição de dezembro, Rápidas traz na
capa um a foto de M ello e a congregação com o título, ‘L a iglesia m as grande dei m undo en San Pablo,
Brasil” . Convém notar que as atividades de inauguração se prolongaram por todo o mês de julho.
111 Rosa, op. cit., p. 281.
ll2Hudson, Religion in America, p. 346. Em 1960, por exemplo, a Igreja tinha apenas 82.624
m em bros nos Estados Unidos.
1,3 Op cit., p. 2 85. Veja-se does. 192-194, adiante, quanto ao m inistério fem inino da Igreja
Quadrangular.
114 Por serem muitas, omitem-se as citações bíblicas. O s títulos dos artigos não citados são: I. As
437
História Documental do Protestantismo no Brasil
cristã diária; XI. A vida cheia do Espírito Santo; XII. O s dons e frutos do Espírito; X III. M oderação;
XV I. Relações para com a Igreja; X V II. Governo civil; XV III. O juízo final; X IX . O céu; XX . O inferno;
X X I. Evangelismo; X X II. D ízim os e ofertas. H á mais um capítulo intitulado “m em bros” que não tem
número e que Rosa tam bém não incluí como artigo de fé.
115 Rosa, op. cit., p. 312, num resumo da declaração, usa Batismo do Espírito Santo.
116 D a Declaração de Fé da Igreja do Evangelho Quadrangidar, São Paulo, s/d. E sta declaração, confor
me se afirm a à p. 3, foi “com pilada por Airnee Sem ple McPherson” . Presumivelmente, a declaração foi
traduzida em 1955 (Rosa, op. cit., p. 192).
117 “ Contra Heresias”, III, xi, in A N C L V, 296.
118Em 1956, a Igreja Presbiteriana do N orte (PCU SA ) decidiu ordenar mulheres e a Igreja M etodista
as adm itiu como membros plenos das conferências anuais (ou concílios regionais); em 1970, os dois
principais ramos da Igreja Luterana nos E U A decidiram ordenar mulheres, o m esm o ocorrendo com a
Igreja Episcopal em 1976. O s luteranos europeus adotaram a ordenação de mulheres na década de 60.
(Virginia Lieson Brereton e Christa Ressmeyer Klein, “American Women in M inistry” , in Janet Wilson
Jam es, Ed., Women in American Religion, Philadelphia, Pa., University o f Pennsylvania Press, 1980, pp.
171, 188).
"'■'David Michee os Acontecimentos Iniciais do Exército da Salvação no Brasil, s.d.b., p. 52, assim
descreve os enviados: “Este grau foi concedido durante os prim eiros anos a soldados idosos demais para
serem treinados como oficiais, mas qualificados para tarefas exigindo um serviço de tem po integral” . A
Enviada H uber deveria ter auxiliado a capitã Reid no novo posto aberto em S. Paulo (1923); aquela,
porém, adoeceu e logo a capitã Reid regressou à Inglaterra, tornando necessário o adiam ento da obra em
São Paulo (ibid., p. 52).
120 O Brado de Guerra, órgão oficial do E. da S., fundado no Brasil em 1923.
121 D a v id M ich e..., p. 62.
122D a v id M ich e..., p. 60.
123As informações deste parágrafo foram fornecidas em 17/2/1982 pessoalmente pelo M ajor W illiam
John Jones, que gentilmente emprestou ao autor os livros citados aqui.
124 O panfleto de Rees foi ocasionado pela pregação de Phebe Palmer (1807-1874), que com o seu
marido, Dr. Walter C. Palmer (1804-1883), médico e pregador leigo, pregava em Newcastle, Inglaterra,
M iriam M . Richards, em Trabalhadores Unidos, s.n.b., p. 33, cham a atenção para o fato de que os
argum entos de Catharine convenceram seu marido. A frase é célebre, sendo porém o título de um
im portante livro sobre o ministério feminino no Exército da Salvação. Flora Larsson, M y Best M en are
Women, London, H odder and Stoughton, 1974.
125 O autor não teve acesso ao panfleto original. O excerto acima é traduzido e transcrito de Catherine
Booth, The Highway o f our God, London, Salvationist Publishing and Supplies. s/d, que consiste de
seleções dos escritos de C. Booth. Especificamente é do capitulo intitulado “W omen and the Ministry” ,
pp. 101-104. Foi com parado com trechos do mesmo panfleto, publicados em F. de L. Booth-Tucker,
The Life o f Catherine Booth, Londres, Salvationist Publishing and Supplies, 1 9 2 4 ,1, 199-80. cf. também
o pequeno estudo, M iriam M . Richards, Trabalhadores Unidos, no qual a autora com enta o panfleto e
traduz pequenos trechos (pp. 32-33).
126M a n u a l dos Princípios e Métodos para oficiais do Exército de Salvação, São Paulo, E. da S., s.d., pp.
7-8. O trecho citado é do livro I, primeira parte, cap. III.
438
A Igreja do Golpe de 1964 até o Presente - NOTAS
127 Isabel Botelho de Cam argo Schützer, Nas Mãos de Deus, s. lugar, Fundação Walter Schützer, s.d.,
pp. 72-115.
128Brado de Guerra, 15/5/1942, p. 5, apud. Isabel Botelho de Cam argo Schützer, op. cit. A autora
afirm a que a capitã da reportagem é M aria Josefina Anderson.
125 D o artigo, “Ela é um a das Nossas” , Aurora Evangélica, N ew Bedford, M ass., E .U .A ., n ° 51 (junho
de 1946), p. 3. {apudSchützer, op. cit., pp. 99-100). O artigo é póstum o, pois M aria Josefina morreu no
dia 9 de maio, 1946. Entende o autor desta História Docum ental que os dois pequenos documentos
acim a ajudam a conhecer, de maneira mais intima, o sentido da vida e trabalho da capitã M aria Josefina
Anderson.
130Jú lio O . Rosa, O Evangelho Quadrangular no Brasil, 2 a ed., 1978, p. 248. W illiams foi o fundador
da Igreja do Evangelho Quadrangular.
131 Ibid., p. 303.
132Veja-se doc. 192 infra.
133 C arta de D orothy Marguerite Hawley ao autor, 1/2/1982.
134 Voz Quadrangular, setembro de 1979, pp. 1 , 8 ,9 ; carta de D orothy M arguerite Hawley ao autor.
135 Transcrito do livro de atas da convenção nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular, livro n°
2, ata da sexta sessão plenária, realizada em 12 de janeiro de 1958, à rua Brigadeiro Galvão, 7 23, São
Paulo; gentilmente fornecida ao autor por D orothy Marguerite Hawley. N a m esm a ata constam as
ordenações de sete pessoas do sexo masculino.
136 D e um a cópia xerográfica do certificado, gentilmente fornecida ao autor pelas pastoras Genny e
D orothy Marguerite Hawley.
137Viúva.
138 Em carta particular ao autor, em 3 /4 /1 9 8 2 , a pastora O d á informa: “ ...a denom inam os Catedral
da Salvação e não da Fé, ela será para 1.300 pessoas sentada comodamente no salão de cultos e setecen-
tos no salão social...
135 Voz Quadrangular, setembro de 1979, pp. 8-9. O artigo, gentilmente cedido ao autor pela pastora
O dá, é ilustrado por inúmeras fotografias na primeira página e nas páginas 8 e 9.
140A Experiência da Salvação: Pentecostais em São Paulo, SP, D uas Cidades, 1969, pp. 141-142.
141A explicação, entre parênteses, é de Beatriz Muniz de Souza.
142 C itado em Beatriz M uniz de Souza, op. cit., p. 144.
143 Cânones da Igreja M etodista do Brasil, 1955. Apesar da decisão de se criar a O rdem das D iaconisas
ter sido tom ada em 1946, foi nos Cânones de 1955 que a m atéria foi prim eiro form ulada com o lei da
Igreja.
144 Cânones da Igreja Metodista, 1971 •
145 C om Sinclair Corrêa Soares, então acadêmico de teologia na Faculdade de Teologia da Igreja
M etodista do Brasil e atualmente pastor da denominação.
146 Cláudia Romano de Sant’Ana, “Zeni, A Jovem Senhora Presbítera”, EC, 2 a quinzena de abril,
1974, pp. 6-7. Zeni fora eleita e ordenada presbítera respectivamente nos dias 19 e 20 de janeiro de
1974, conforme A tas e Documentos do Concilio Regional da Terceira Região Eclesiastica, 1974, pp. 25-26.
Zeni foi nom eada para a “comissão geral de educação cristã” {Ibid., p.70).
147 São Leopoldo, RS, Editora Sinodal, 1982, pp. 217-219.
148A revista Veja, no artigo “U m a opção difícil” , de 3 /2 /1 9 8 2 , p. 44, menciona quatro; mas um a
439
História Documental do Protestantismo no Brasil
delas, R ita M arta Panke, em carta de 1 5 /3/1982 ao autor, afirma haver cinco: Ana M aria Koch, Edna
Raminger, M ariane Beyer Ehrat, M arion Freitag e ela própria. Cp. tam bém o A nuário Evangélico, 1982,
pp. 209, 211, 212.
149 U m a crônica escrita por irmã Hildegart Hartel, de Novo H am burgo, RS, parte do artigo “Por Um
D ente”, A nuário Evangélico, 1982, pp. 52-53. A dimensão pessoal da obra da irmã Hildegart é evidente
nessa singela narrativa.
15(1D ados sobre o regulamento.
151A pastora Rita M arta Panke cursou a Faculdade de Teologia da IE C L B , em S. Leopoldo, RS, de
1971 a 1976, sendo apresentada e investida na comunidade de Candelária nesse ano pelo pastor distrital,
Klaus Ulrich Werner. Posteriormente ela prestou o exame pró-ministério (2 6 -2 7 /7 /1 9 7 8 ), no qual pas
sou, sendo “considerada apta para o exercício do ministério pastoral”, conforme certificado assinado
pelo então presidente da IE C L B Karl Gotteschalt, do qual o autor possui cópia xerográfica. Em carta de
15/3/1982, a pastora Rita afirma que ainda não foi ordenada “por questões pessoais” .
152 Em diversas dessas igrejas, inclusive a Batista, há mulheres cursando faculdades de teologia, as
quais esperam ser ordenadas com o pastoras.
153 “Atos oficiais da Igreja - Suprem o Concilio” (1 5-18/2/1978), em O Estandarte, 15/4/1 9 7 8 , p. 5.
N os anos seguintes O Estandarte trouxe freqüentes artigos e editoriais a respeito do assunto, inclusive
um “A mulher poderá ser presbítera?” no mesmo número mencionado (151 4 /1 9 7 8 ), à página 20.
154 O autor não encontrou menção do relatório da comissão especial, mas a IPI do Brasil recusou a
ordenação de presbíteras {O Estandarte, 15/6/1981, p. 2). O texto acima foi transcrito de O Estandarte,
mas o sentido do mesmo exige o acréscimo do vocábulo “não”.
440
ÍNDICE DE ASSUNTOS
Abolicionismo, 104
Acatólicos, 48, 72, 73, 421 (nota 95)
ACM, 89, 96-98, 254
Alemães, 57-76
Alemanha, 32-36
Aliança Bíblica Universitária, 432 (nota 46)
Aliança de Igrejas Reformadas, 328-330
- declaração de princípios, 331
- estatutos, 328-332
- manifesto, 431 (nota 35), 432 (nota 40)
Aliança Evangélica, 29, 34, 245, 248, 252, 254
Anglicanos, 45-48, 56, 57, 108
- Congresso Pan Anglicano, 159
- Lambeth, conferência de, 30, 268
- primeira capela, 53, 54
- Quadrilátero de Lambeth, 162
- SAMS, 399 (nota 42)
- tratarianismo, 29
Arminianos, 31
Assembléia de Deus, 271, 364-366, 369-374
Associação Mundial de Escolas Dominicais, 260
Atibaia, 326, 332, 333
441
História Documental do Protestantismo no Brasil
442
índice de Assuntos
Ecumenismo, 234-272, 308, 326, 327, 332, 339, 342, 376, 420 (nota 89)
Edimburgo (1910), 162, 173, 221, 228, 248, 257, 423 (nota 128)
Educação, 168, 170, 181, 182, 187, 218, 226, 248-250, 253, 347-356, 364
Educação Teológica, 168, 186-188, 247, 253, 256, 294, 355, 356, 418 (nota 61)
Episcopais, 153-160, 212, 220, 264, 268, 272
- autonomia (1965), 219, 220, 268, 270
- Constituição e cânones, 217-219
-Diocese de São Paulo, 415 (nota 3)
- Missão em Porto Alegre, 212
- O E sta n d a rte Cristão, 158
- pacto, 212
- primeiro sínodo, 418 (nota 65)
-princípios doutrinários, 158
- Seminário Teológico de Virgínia, 156
Escola dominical, 102, 113-115
Escravidão, 42, 121, 138-139
- abolição, 138
- dono de escravos na Igreja Fluminense, 138
Esforço Cristão, 96, 97, 98
Estados Unidos, 37, 44, 107, 129, 132, 134, 138, 139, 398 (nota 32)
Evangelho Social, 163, 275, 276, 326
Exército de Salvação, 382-387
Grã-Bretanha, 27-32
Guerra dos Trinta Anos, 32, 34
Hidrolatria, 242
443
História Documental do Protestantismo 110 Brasil
- Inquisição, 55
- Medellin, 430 (nota 24)
-O São Paulo, 437 (nota 110)
- Rerum Novarum, 275
- salvação, 400 (nota 55)
- Vaticano II, 163, 271, 308-310, 430 (nota 24)
Igreja Congregacional, ver Congregacionais
Igreja Cristã Reformada do Brasil, 424 (nota 139)
Igreja do Evangelho Quadrangular, 365, 374, 378-381, 387-390, 437 (nota 100)
Igreja e Estado, 48, 359-360
Igreja Episcopal do Brasil, ver Episcopais
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, ver Luteranos
Igreja Evangélica Pentecostal “Deus é Amor”, 367
Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo”, ver Brasil para Cristo, O
Igreja Evangélica Unida, 66
Igreja Metodista do Brasil, ver Metodistas
Igreja Metodista Wesleiana, 367
Igreja Presbiteriana do Brasil, ver Presbiterianos
Igreja Presbiteriana do Norte, 438 (nota 118)
Igreja Presbiteriana Independente, 166-171
- origem, 170
- e a “renovação” , 336-340
- O Estandarte, 168, 335, 432 (notas 41 e 45)
- recebe missionários dos Estados Unidos, 326, 334
Igreja Presbiteriana Italiana de Chicago, 367
Igreja Presbiteriana Unida, ver Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas
Igreja Presbiteriana Unida da América do Norte, 430 (nota 26)
Igreja Unida do Canadá, 423 (nota 118)
Igreja Protestante Alemã, 58, 59
índios, missões protestantes entre os, 286-291
Inglaterra, 107, 140
Ingleses, 45-57, 140, 406 (nota 155)
Instituto Central do Povo, 282
ISAL, 433 (nota 49)
444
índice de Assuntos
Maçonaria, 168-171
Messianismo, 304
Metodistas, 74, 86, 99-101, 104, 105, 109-114, 190-201, 260, 261, 264, 273, 340-356,
416 (nota 30)
- autonomia formal (1930), 106
- Conferência Anual, primeira, 104, 106, 111, 112, 190-193
- Credo Social, 265
- Faculdade de Teologia, 342
- Granbery, 106, 111, 423 (nota 116)
- Igreja Metodista Episcopal do Sul, 192-198, 416 (nota 30), 422 (nota 112)
- Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS), 342
- O Expositor Cristão, 197, 433 (notas 51, 56, 62 e 64), 437 (notas 105, 110)
Ministérios Femininos, 381, 395, 438 (nota 118)
Missão, missões, 285, 290, 405 (nota 144)
- Missão Brasil Central, 324
Mocidade Evangélica, 291-295
445
História Documental do Protestantismo no Brasil
- presbiterianos, 142(?)
-Santa Bárbara d’Oeste, 105, 107, 130, 141
446
INDICE o n o m á s t ic o
447
História Documental do Protestantismo no Brasil
448
índice Onomástico
Dacorso Filho, C., 79, 192, 197, 265, 416 (nota 32), 424 (nota 142)
Daffin, R., 174
Daibert.O., 341
Dalman, G., 300
Damião, P. C., 340
Daniel, J. W., 198
Darby, J. N „ 414 (notas 277 e 281)
Darwin, Ch., 30, 163, 243
449
História Documental do Protestantismo no Brasil
Eichhorn, J. G., 36
Ehlers, J. G., 58, 61
Elphick, R., 257
Ernesti, J. A., 36
Escobar Jr., E., 192
Esher, N. S.do C., 406 (nota 160)
451
História Documental do Protestantismo no Brasil
452
índice Onomástico
453
História Documental do Protestantismo no Brasil
454
índice Onomástico
455
História Documental do Protestantismo no Brasil
456
índice Onomástico
Tanner, Cap., 84
Tarboux, I. W., 112, 191, 192, 197, 236, 253, 408 (nota 191), 422 (nota 112)
Tavares, J. E., 191
Tavares, L., 366
Taylor, W., 106, 198, 408 (nota 180)
Taylor, Z. C., 142, 148
Tennant, G., 234
Terry, N., 365
Theremin, W. von, 63, 101
Tholuck, F. A. G. 29
Thomas, W. M. M., 215-217
Thompson, W. M., 174
Thornton, 56
Tilly, E.. 112
Tindal, M., 27
Toynbee, A., 302
Toreltsch, E., 38, 302
Tucker, H. C., 112, 197, 246, 251, 257, 265,282, 404 (nota 122), 408 (nota 191), 422
(nota 112), 424 (nota 142), 426 (nota 171), 427 (nota 172)
457
História Documental do Protestantismo no Brasil
Ziegenbalg, B., 35