1032020 Robert Kurz - A DESVALORIZAGAO D0 VALOR
A DESVALORIZAGAO DO VALOR
Robert Kurz
O capitalismo nao é outra coisa senao a incessante "valorizagao do valor", aparecendo como 0
fim-em-si de transformar dinheiro em mais dinheiro. E em que consiste o valor? Segundo Marx, no
“trabalho abstracto" representado pelas mercadorias, na massa de “nervo, musculo e cérebro"
gasta no proceso de produgao, Contudo, apenas ¢ valido o trabalho que corresponde ao
standard de produtividade. O qual é medido pelo mercado e pela "muda coergao da concorréncia"
(Marx) nele dominante. No mercado mundial, a falta de outra medida, impée-se o nivel mais alto
de produtividade dos paises capitalistas centrais. Os paises periféricos sé podem acompanhar
este nivel, se ¢ que podem, através de um desgaste brutal da sua forga de trabalho. Sob estas
condigées, o produto do trabalho de milhares de trabalhadores chineses mal pagos talvez nao
seja maior como produto valido do valor, do que o de um trabalhador ocidental high tech. Pelo que
nao passa de uma ilusdo de dptica pensar que o emprego massivo de trabalho barato na China,
na India, etc., catapultaria para cima o produto global de valor na mesma medida,
Nas trés revolugdes industriais, o standard de produtividade foi levantado cada vez mais alto por
meio da concorréncia. Porém, quanto mais alta a produtividade, tanto menor a quantidade valida
de trabalho representada por cada mercadoria e, portanto, tanto menor o valor desta. Aqui se
manifesta a auto contradigao légica do capitalismo: por um lado, a sua finalidade é a infindavel
acumulagao de valor, por outro lado, é ele proprio que progressivamente retira a substancia do
valor das mercadorias. Historicamente esta contradi¢ao foi compensada pela expansdo capitalista:
quanto menor o valor de cada mercadoria, tanto mais mercadorias tinham que ser produzidas
vendidas. Mas esta aqui estabelecido um limite interno légico. A qualquer momento deixa de valer
a pena entulhar o mundo com mercadorias. Juntamente com a substancia do valor cai também o
poder de compra, pois este ¢ apenas um momento daquela. Na terceira revolugao industrial a
equagao jd nao dé certo: ao desemprego global em massa corresponde a desvalorizacao interna
das mercadorias. Com uma dose de substancia do valor tornada homeopatica, os produtos ja sao
autenticamente apenas bens naturais; pelo que sé artificialmente podem ser forgados a forma do
prego em dinheiro.
O dinheiro, porém, como "equivalente geral", ndo é sendo a mercadoria destacada como
mercadoria do rei. Em ultima instancia, a fungao do dinheiro como "meio de conservagao do valor’
requere uma substancia de valor prépria. Ao longo da histéria foram os metais nobres que
desempenharam essa fun¢ao, porque representavam “trabalho abstracto" de modo
particularmente condensado. Mas, apesar da acelerada circula¢ao do dinheiro, j4 nem todo 0 ouro
do mundo podia representar a crescente massa de mercadorias. No século XX 0 dinheiro foi
desacoplado da substancia do valor dos metais nobres; o ultimo fio foi cortado em 1973, quando
se rompeu a ligacao ao ouro do dinheiro mundial délar. A garantia apenas juridico-estatal do
dinheiro ficou todavia fragil. Dai as crescentes inflacdes e crises do dinheiro e da moeda. Atrés do
dolar esta hoje apenas a maquina militar dos USA; atras do euro nao ha nada; a maioria das
outras moedas de qualquer forma ja caiu. A ameaca de uma grande crise monetaria mundial no
vem da concorréncia entre o délar e 0 euro, mas da dessubstancializacao do dinheiro em geral. A
desvalorizacao da forga de trabalho corresponde a desvalorizagao das mercadorias e esta leva a
desvalorizacao do dinheiro. Com isto é a relagao social fetichista da modernidade em geral que
passa a disponibilidade.
Original: DIE ENTWERTUNG DES WERTS em Neues Deutschland 10.06.2005
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