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Mik A.J rete 1 de ua, e300, ein etd etree Pa ete pera aig Pilea coma rz de -A e O ULTIMO ENSINO DE Lacan JAcQUES-ALAIN MILLER (Paris) 1- Corte e continuidade 1. Um passo “fora de” Entio, existe alguma coisa que se chama “altimo ensino de Lacan’ Isso passou a ter esse nome depois de eu 0 ter destacado com esse significante, dando-thie “exsistncia" Exsisténcia quer dizer que isso se sustenta, “fora de”. O iltimo ensino de Lacan se susten: ta fora do ensino de Lacan que nio é tiltimo. Destaco, assim, um corte que individualiza esse tiltimo ensino de Lacan, Isoki-lo desse modo é uma construgio biogtfica. ‘Como qualificar esse corte? Nés doo vemos, ele esté diluido na continuidade. S6 poclemos ualifici4o como um corte a ser construido, Destaquemos a oposigio entre 0 corte € a continuidade. Corte © Continuidade Comtinuidade A.continuidade é 0 que se vé no ensino de Lacan, Ele ndo cessou ile fizer encadeamentos, de se dar razio. Quando alguém se di razio durante trinta anos, torna-se suspeito 0 fato cle ndo se valorizar 0s cortes. E é, inclusive, essa continuidade que da esse ensino sua estrutu- a topol6gica A wopologia permite obter configuracées ‘que sio evidentemente muito distintas, porém sem descontinuidade. Isso é o que permite as Janeiro 2003 ‘exes de Lacan inverterem-se sem ruptur sen solugio de continvidade, sem que se pan perceber 0 que, de uma outra perspec ria sua inconsisténcia, Basta fer reletiny | ‘mais simples das figuras de topologl, ahi, inventada por Méebius, que permite qe passe para seu avesso em continue, fs palavra “solugio”, que figura na expressing lugio de continuidade, € curios. A palaras. lugio vem do latim, solvere. Encontamon 1 ‘mesma palavra em dissolucio, Lacan ogoucon este equivoco entre solugio € dissolugo 99 ‘momento em que dissolveu sua Escola, Desenlagamento Em sentido préprio, uma solugio €a ci de desenlagar. E apenas em sentido figuraio ‘que solucio quer dizer resolugio e que itr» uz o resultado. 0 Giltimo ensino de Lacan éo resutalos0 ‘qual ele chega e, para comunici-lo, ele tomas figura dos nés, do enodar, de um enlasame- to irredutivel que seria de estrutura, Maes eenlagamento é um desenlacamento,Sequie® ‘mos individualizto, se procurarmos const a solugio que ele representa em rlacioa0 que foi enunciado antes, € © momento em = Lacan nao tem outta saida sendo desenlast se de Freud, discretamente, consider + ‘maneira como ele apregoou ao auctor ele formado, ou seja, como ele 0 susestonr © condicionow a uma fidetidace a Frew & quem ele se fez 0 aluno e o portavoz. Os (0 que tea oiltimo ensino de ao orien oss pete Lacaniam tt 0 desenlagarse de Freud, a quem ele enla: ‘ara seu pensamento, Posso até chegar a dizer que Lacan se de- senlaca da propria psicandlise. Ele a considera do exterior, como se poderia considera a psi- canzlise uma vez que cla fosse abolida Isso.s6 escandaliza aqueles que pensam que a psicanilise € etema. Aqui, a demonstragio ‘abe a eles. £ muito mais verossimil que a psi- candlise seja datada de uma certaconjuntura, Lacan considerou a psicandlise do ponto de vis- ‘aque se poderia tomar, uma vez que ea tives se cessado de ser uma priticaefetiva tendo sig- nificacio, aquela na qual estamos mergulhados. Considerando tudo isso, faltaria ao ensino de Lacan nio ter ido até 1, io cer feito um ‘pequeno passo para fora desse banho em que estamos mergulhados, no qual, para nés, a psi- canélise € uma prtica que tem uma significa ‘fo cotidiana, uma significacio na qual estamos ‘mergulhados sem pensar nisso um pouco mais, a nio ser para estrutur-la, logificila, comple- xificé-la. Faltaria 20 ensino de Lacan ndo ter lado esse passo para fora da psicanlise, Superstigao io é o culto do n6 que orienta o timo ensino de Lacan, mas im a questio de ‘que restaria da psiandlise no momento em. aque se tera cessado de areditarnela, acre tar nela o bastante para vlarse a el. O que restaria da psicandlis, daquilo que ela nos fez perceber,daquilo ao qual ela nos fez aceder, fo momento em que ela néo fosse mais do que superstiio? Tmaginemos o que seria considera psicnd- lise como uma superstiio. A superstiio, tal como aentendemos de um modo eral, €0culto 21m falso Deus Em sent pp, quer det ‘oque se recompse, pela etmologa, ésuperstare, foque se mantémacima. No sentido figura, 0 ‘que sobreive, o que subsist, 0 que contin a cess quando os geitores nao mas exstem, € alguma coisa que qualifica o sobrevivente esse modo, pods introdurirofaco que Ope Lacaniana hdentreasuperstgao ea exsisténca, Una vez ‘que tudo sogobrou, que tudo fovanulado,o que resta do naufrigi? £ asim que eu vj ott mo ensino de Lacan. sseersino tata de modo cifado, da exstencia da picanse como su: perstigo. Paras langar mao dele, nto se pole fizblo sem um rebaamenco da psicandise uma degradagio. Pocssoé que se manteve distinc paracom este skimo ensino, ou quesése oabordou pelo seu lad eco fier ns, desenhar ns, com plicr on. Mas fei bem nessa época que Lacan chegow a qualifcar a psicanlise de vigarice (escroquere, He o dis, diseretamente, fora de seu Se rminiro. sooo ocasionou,excepcionalmen- te, grandes manchetes na imprenss “Lacan aque a pscanlise € uma vigarice”s Eno esc ou a esperanga que se poderia nutri dso. Associa pcan evigarce, pens assim, «n,n realidad, um rebaxamento, ainda que Lacan, para velar cos, 86 0 reportasse a seu Seminiio dzendo ques psicanise € uma coe sa sla, sobre a qual no € absurdo dizer que fa pode desir para vigarice” sal uma assctacio que eriamos muta dk- ficuldade de encontrar em Seu ensinoanteris, e que indica 0 que atormentavao ili Lacan aber __ renga Essa é ambém a época em que Lacan podtia falar do famoso inconsciente. O que quer di- 2er, aqui esse adjetivo“famoso"? Iso diz que 0 inconsciente tem uma teputagio. No decorrer do século XX, 0 inconsciente teve, antes, uma boa reputagio. Mas falar de reputagio pode também dizer que ele poderia ter ma repute Gio. O famoso inconsciente, © inconsciente enomado, poderia deslizar para a me reputa- ‘Gio, O que, cabe reconhecéo, ji comecou. ‘Mas pouco importam essas histrias de boa ‘ou mi reputagio. Qualifcar o inconsciente de Famoso quer dizer que ele € uma questio de reputacio, ou sea, dle erenca. Fo esse cminho que levou Lacan a formular que talvez fosse Janeiro 2003, portuo desenlagar de Fred 0 inconsciente, desenlao de seu inventor. tu nio invento, Fu cit: “O que Freud diz sobre oinconscente € 6 conusio lngalen- ga’. Nio se evou Lacan inteiramente a serio Gjando ee o disse no final dos anos 70. Quem fo dia’ Alguém que se fizra 0 porta de Freud, e que convidara para que se sugasse 0 ‘menor dos enunciados de Freud a fim de se ovientar em psicandlse. Isso foi tomado como mau humor, aigum excess, algum cans. Se me permio falar do ultimo ensino de Lacan, no € por causa dos nds que poderiam ser apenas um episédio a mais nas esquemas de Lacan, mas im porque considero que é nes- se ensino que se apreende o alcance de suas | lima formulagdes. Para ele, tratava-se ce ar rancar inconsciente de Freud ede propor um, | cutie conéeko do inconscientehima outra manera de captar, de capturar inconsciente, assim como a psicandlis. = Oacontecimento-Freud Pode-se precisar 0 corte que individualiza 0 1iltimo ensino de Lacan em relagio ao anterior. Antes, € 0 retomno a Freud. Antes, o ensino de Lacan é um discurso que professa que Freud € 0 guia obrigatdrio de acesso ao inconsciente € de uma diregio que convém ao tratamento Psicanalitico. Ea nogio de que o proprio Freud introduziu uma novidade radical, um corte em telacio a tudo 0 que se péde pensar, dizer e fazer. Ea celebragio do acontecimento-Freud € do desenvolvimento de suas conseqiiéncias que teriam sido despercebidas. © que justfica o ensino de Lacan como re- tomo a Freud é4 nogao de que o acontecimen- ‘o-Freud foi reistrado na koiné, no senso co- ‘mum, € que, por isso mesmo, foi tamponado, reduzido, desconhecido, tratado com catego- tits tradiconais, © particular do ensino de Lacan, sua mola, um esforco para refundar todas esas catego. ; econ, polesem qustioo que 60 © corpo, o prazer, ec. Pir todas essas categoria em questo © invalids, suey si, mente, de acordocom oacontecimening Freud 2. Questao preliminar a toda psc, nélise possivel Uma reforma do entendimenty O ensino de Lacan se propis, eno, comp uma reforma do entendimento que len sério Freud, que seria paticularment ip de definir um sujito distinto da consciéncais si, um sueito que nao sera mais defo pls autonomia da consciéncia, Essa autononia da conscigncia que é a terra natal do pensamen moderno, £ mais ow menos asim ue tee! rencle homenagem a Descartes~com océgta, © pensamento dito “Terra ‘Aempreitada de Lacan, sobo signo de Feud, foi refundar, passo a passo, as categoris que procediem dessa autonomia da conscincn¢ defender que, pelo contririo, a descobera de Freud obriga a acentuar a dependéncia do sue to e no a autonomia da conscgncia, a depen déncia do sujeto em relagio is gers ds uais ele surgiu, em relagio 3 linguagem queo precede, em relagioa uma fico de goog ‘esti coordenado na fantasia, Da consciéncia ao simbilico primeiro ensino de Lacan fo um come Uitio de Freud, Ele assim se apresentou eS ‘apresentago se defende. E um coment de Freud orientado pela id de valorizar 930 autonomia da consciéncia, mas sim a auton” Inia do simbdtc Ble desloca esse conceito da autonomia consciéncia para o simbyiico fazendo ws P28 tanto, daquilo que na época, na metas doe culo XX,as consirugbes de Levistrs he iam. sob 0 signo de um Freud rani ost por Lévi-Strauss que se desenvolveram os primeirosSemindrias de Laci. oy Antes-do-corte do-lrimo ensino, ‘oped Lacaniana 1°39 ‘outro que introcluz 0 segundo ensino de Lacan, prodlugio de significantes permite isolaro resto Seminario, Litro 11, que pode parecer resu-—dlo que nao significante, a que Lacan chamou mir, sob um certo angulo, os resultados obti: ‘dos anteriormente, mas que, se 0 considera: ‘mos mais de perto, ji se desenlaga de Freud Devese, pelo menos, dar todo o valor a0 que transparece dle uma anilise e de um questiona- mento do desejo de Freud. Lacan se viu posto para fora da insttuigio que procedia de Freud, 0 que 0 levou a se in- terrogar sobre o que Freud haveria debaclo para ter desembocado nisso, ‘O que transcorre, através dessa construgio, nesse Semindrio, Livro 11, € de fawo um dis- ‘ana do inconsciente que ninguém mais senio cle proprio havia introduzido, 0 inconsciente pulsitil que ele nos apresenta ~o inconsciente temporal, 0 inconsciente que se abte € se fe- cha cujo tempo & uma dimensio que nio pode ser subtraida ~ € evidentemente formulado em ‘oposigio-ao inconsciente das regras no qual ele até entio confara, edo qual, esse ano, eu Ihes lembrei a pregnincia, Em nome do qué ele coma essa distincia do inconsciente freudianao revisitado por Lévi- ‘Strauss, tal como seu primeiro ensino o desen- volvera, ¢ tal como se 0 discute ainda hoje por seu impacto, por sua forca? Ele o fazem nome ‘da experiencia analitia, ou seja, ele se ocupa de como o inconsciente se apresenta npr pra experiéncia anata Esse core j sata aos olhos no momento do Seminario 11. somente quando se toma _p ponto de vista da experiéncaanaitca que se fide dizer que 0 inconscentes6 funciona al Como uma suposicio. A esse titulo, ele nfo é real ele € 96 uma significacio induzida pelo disposiivo no qual a experincia se desenrola. "Adefinigio doinconscente como sett posto saber jt implica 0 desenlace entre a & peridncia ea teoria de Fred. Asim, fase do inconsciente uma suposicio que penmite a pro- ‘dugao de um certo numero de. -significantes que fe encontram ligados a0 inconsciente, Ess Opeiio Lacaniana n? 35, de objeto a, Uma passagem para o avesso (0 que & signficante € 0 que € comum, en- (quanto 9 € priipro ao sujeito Jacan o realga ro titulo de seu semincirio, livro 16: de um (Ouiro.ao outro, Cabe enfatizi-lo como convém. Aqui, 0 Outro, com letra maitiscula, s6 tem um artigo indefinido, um, enquanto 0 outro, com letra miniiscula, beneficia do antigo cefinido 0 (de), Iss0 valoriza 0 fato de que 0 Outro, com letra maidiscula, o ugar do Outeo, é somente a dimensio do que € de todos, do que € univer: sal, enquanto que 0. € singular. a ( primeiro ensino de Lacan, 0 de seus dez primeiros Semindrias, celebra 0 dominio do ‘Outro, Seu segundo ensino ¢ dedicado a arti cular 0 Outro e 0 objeto a. i 0 seu terceio censino, © que chamamos 0 tltimo, parte do ‘outro em letra mindscula, do que é singular Assim, Lacan invertesua perspectvainicial que certa do Outro, de um inconsciente das regs {que ee foi encontrar na etnologia, um inconsci cente social passa para oavesso do primeito par centrarse no que € pariculara cada um, ou sei, singular, Singular quer dizer que ndo se oferece 0 universal. Vejo 0 testemunho disso no fato de {que esse tltimo ensino € assediado pelo proble- madoautismo, Oauismo quer dizer que éo Un {que domina e no 0 Outro. ( primeiro ensino de Lacan toma 0 Outro, com *O" maiisculo, como um dado de base. as regras de Hi. inguagem, o que & comum parentesc, automatism, uma constelagio Signiicante da qual pati todos os sueitos puscidos em uma mesma cultura, eo inconsi ene deve serressitud ness quae. Mas © tkimo ensino de Lacan, vir cent pare do aque € propio a cada um e que no pode, de todo algum, se posto mt com, surge do {que mio se pata, £8 medida que é 0 Um {quem domina que se segue, lgiamente, um ‘questionamento da psicandlis. Janeiro 2003 Um golpe de forea oderse-aintitularesse timo ensino como “De uma questio preiminar a toda psicanlise possfrel’ E nesse contesto muito preciso que Lacan pode dizer: “E preciso levantar a questo quanto saber sea psicandlise nfo €umautismo dois. : ‘secla nfo 0 €~ tenhamos certeza —€ por ‘que hia lingua e porque, como diz Lacan, a lingua é uma questo comum. O privlégio dado 20 Um, a0 gozo do Um, ao segredo Iibiinal do Um, tem como conseqiiéncia que ‘a psicandlise parece, por aqulo que ela é, um golpe de forca. No primeiro ensino de Lacan, apsicandlse parece o que hi de mais natural: falar ao Outro para esclarecer sua posico no inconsciente das regras, a0 passo que, em seu tikimo ensino, ela se torna verdadeiramente um enigma. Como esse golpe de forca do gozo do Um é posstvel? Sea psicanlise €um golpe de forga, se ela é a contravertente do natural, is a toma muito mais interessante. No iltimo ensino de Lacan, a psicandlse um golpe de forga do autismo gra- lingua, um golpe de forga do Um de gozo s1acas a0 Outro da lingua 0 desejo foi o termo chave do primeiro ensino de Lacan, O desejo € do Outro, Foi a isso que Lacan chegou ao reformular a posicao histrica O deseo do Outro se inscreve na lin- 102, € tomado em uma metonimia. uma cate- ‘oria que no pode se sustentar sem o suporte do Outro, _ Mas, em todos 0s esquemas dos nés mult- plicados por Lacan em seu dltimo ensino, 0 “arhens etmanece vazio. Por oposicio mean € uma categoria que se sus- as Oust Seay iese sempre sonhar 0 goz0 © Outro, mas 0 goo estéligado ao corpo pr Pro, ao corpo do Um, Goz0 opaco x is derorta questi de saber como se W aleancat, tocar nesse gozo do Um e Janeiro 2003 modificé-lo. O que se configu ‘g0z0 é do sentido ou nio? Aqui, nao devemos nos satisfarer ou tal citago de Lacan que real (ouissance) o fonema sens (seni ‘er que o goz0€ também sentido, Lacan sera antes de ser aspirado em se ting ga sin vosnnreair = estariaimplicado nele muito naturaiment pu ‘que o sentido s6 tem valor para 0 Outro, Considero que quando Lacan di ovissn, ({eu) govo-sentido), em Televisa, quando ee decompoe a palavra para fazer ver nel sng do (ens), no € senio um primeito paso que leva a formular a questio e a dara resposta con. tréria que encontramos em seu texto “Joyce. ‘Sintoma”, na pagina 570 dos Autres ders quan do ele diz. que 0 gozo é opaco. O gozo excluio sentido e & nisso que se pode dizer que ele é ‘opaco. Isso quer dizer que a operacio propria’ psicandlise é um golpe de forga que relaciona o _g0z0 a0 sentido para resolvé-o—resolucio, ai ‘querendo dizer desenlace. 7 ssa questo estava A espera desde o eto no a Freud, esse retomo a Freud que ja desig nava a psicanalise como uma operacio que se cefetua pelo vies da fala, quer dizer, do sentido,” ce que supuna que 20 se dar um sentidonova se obtinha efeitos priticos, efeitos sobre oreal ‘A interrogacao estava assim 2 espera daa que do sentido toca o real ANA Questo, 6 em Brag do) para Nao bd sentido sem gozo (Pas de senssams | Jouissance) Esse primeiro ensino visava, de std, Ut além do sentido para dar conta dele, nae do sentido que esta encarnado nessa sigh ™ teriosa qual se retoma de modo seme S(A), € que designa a respost tims, 97 ‘plus ultra da enunciagio inconscien® vetor parte do lugar do Outro, ultapass " sar bizarramente designaclo por Lacan PE gla de $ 0 De termina em Sid) Em um outro momento, &¥ possivel para decifraresse simbolon0 fico mil yall pcto tacaniana **? transcreve a pulsio freudiana, Simplifiquemos esse aparelho. No nivel inferior do grafo, trata sex do que ¢ flac feito de sentido e, no nivel superior, Lacan articula aio que, em Freud, & designalo como 0 180 (Ga). Ua vez que esse lugar é homélogo a0 do Outro, eu podera, do ‘mesmo modo, chamstlo de "is0 (¢A)" ‘ss0 (A) (SOD) pulsio sta) A Esse Iso interfere com 0 que seria 0 puro feito de sentido. Fsse grafo de Lacan jé€ pre rnhe da formula que s6 lhe adviré em seu Semi- nario, Livro 20: Mais, ainda, ou seja; "ti onde Iso fala, Isso goa". Hi uma sinfse, uma con- jungio entre esse lugar do Isso € 0 do Outro, ¢ em todo efeito de sentido jé estéincluido um _gozo, Jé é “no ha sentido sem goz0", Podemos dispd-lo no esquema quadripart to de Lacan, © que faz obsticulo ao vetor que se trata de desenvolver na andlise € a conjun- ‘gio do efeito de sentido com o que é gozo, s(a) Isso. sta) A Inscrevemse nesse esquema as diferentes verses que Lacan pdde dar. Aconexio de too sentido com o gor0 faz obsticulo ao desenvol vimento do vetor essencial que suporta a ex periéncia analitica. Lacan escreveu S(A) res tado da travessia do sens oul (sentido go2a- do), 20 qual ele deu nomes diversas em seu censino, Quer seja identificacio, ou fantasia, ra- ta-se sempre de sentido gozado (sens jon) Opgiio Lacaniana n° 35 Um esvaziamento do reat Com a sigla (A), ele designou o resultado da travessia do sentido gozado, que supee, de fato, um esiaziamento simbolizado pela barra que atinge 0 Outro, um esvaziamento do sent- do, um esvaziamento do goro, O que Sescreve que resta exsiste um signficante. Tansereva ‘moo como simbolo de exsisténcia que intro duzimos. Dateavessia do Outro, do esvaziamen toch de odo serio gad, eta uml nificante que é, se 0 quisermos, una resposta a titulo de resposta que ele & introduzido no ‘raf duplo de Lacan ates No que concern ao que seria verdad, & uma esposta sem gaan. Ea pati dese $ que existe, de S(A), que, mais tarde, Lacan poaeri dizer que o anata proce do autor arse por si mesmo, procede da anulagio de toda garaniasgnicane. Gostara de acentuar que esa emule ins reve que osignifcante do qual e tata nto & um sigicante do Oueo, Quando, para aan, cae sinifcante, xe tudo na experiéncia anal S vem escrever que nio & um significante do Outro, Nao é um signficante do discurso uni- versal, nem do discurso do inconsciente, mas sim um signficante suplementar, um signifcan te novo, Um significante inventado que niio € — do Outro, ¢ que, portanto, é do Um. CO que fe insereve nesse lugar, conforme a Jogica do primeiro ensino de Lacan, & um sign: ficante diferente dos outros, impossivel de negatvizare que, desse modo, tem valor de real Eo qué? O proprio Lacan responde: €0,g070 como nome do real a falta a0 fro ‘Vé-se ento todas as cificuldades encontra das por Lacan ao tentar escrever esse signifi ante em terms falicos. Janeiro 2003 Fle escreve esse signficante exsistindo & experéncia analitica como ~ @. Ele o escreve ‘como acastragio, veade titima que produzi ria horror. Aqui, io se trata da verdad varie vel, mas da verdade dlkima, Ele oescreve como®, significant fico real, que, dizeleexplctamente, é impossfvel neg tivzar,e tenta uma construgio complex para reportar 0~@ 20 , fal como um significado a um signficane, or que cle no se satisfiz com isso? Porque ‘falo & uma ligacio, e uma ligagio € uma reta- ‘gio com 0 Outro, Isso € contririo a légica que cesse A implica e por esse motivo, em seguida, ele o escteve comoa (©. no € uma ligaglo, essa € sua grande dlferenga em relacio 20 falo Isso escreve tam- bém um modo de gozo, mas um gozo cortado darelagio com 0 Outro. Quando o escrevemios ‘como a, vamas na diregio do govo do corpo proprio, o que exsiste ao corpo proprio. Lacan no se detém no.a Porc . tle 0 cexplica em seu Semindrio, Li »20, no final de seu segundo ensino, O.@ & aunda um sentido ‘gozado (ens fout) inscrito na fantasia, | ‘Attima escrta que temos ce Lacan para esse 4 termo ¢ 0 do sinthoma, porque escrever $(A) como ¥ ¢ lhe dar posigao de ex-sisténcia em re- ) ("| lagio-ao sentido, ¢ isola gozo como da ordem q } | 40a is €,exsistind ao sentido, % — Tado gozo se coloca em relagio\ao furo, assim se poderia resumir o iltimo ensino-de Lacan, Ele configura esse furo com a angola de barbante, A consisténcia do barbante s6 toma seu valorem relagio a0 furo que, se nao 0 no- mearmos, permanece invisivel. Esse é 0 con- eto de fro, diferente do de falta, que marca ‘liferenga do dikimo ensino de Lacan em rela: ‘40 a0 anterior Qual é a diferenca? & que, quando se fala de Janeiro 2003 falas, restam os lgares Elka ger dey auséncia que se inscrev EM Um lugar caf dece & ordem dos lugares. Os lugares xe Intocados pela ta. E bem iso ve ar ear aque outros texmos possam insereverse ny gar onde tal termo fala, gracasaiso se oi, uma permutago. A permutasioquerderan a fala € funcional. ‘falta pode decepcionar por algo no ee ali mas logo nao falta termos que ech substituirse, A falta € uma instincia perc, mente vida na combi (© furo, fa como Lacan elabora seu cone) to Bar Seu Ultimo ensino, é totalmente diferen. te. O furo comporta o desaparecimento dace ddem dos lugares. Ele comporta 0 desapare ‘mento do proprio lugar da combinaéra. Exe €0 valor mais profundo do A, que nao quer dizeraqui uma falta no Outro, mas, no lug do Outro, um furo, o desaparecimento da comb natéria, £ em relagdo ao furo que hi ex. sisténcia, posigdo propria. ao resto, posigio pr tia. 20 real, ou seja, a exclusto do sentido ra, 3. A debilidade do mental Uma depreciacao do pensamento De fato, 0 ikimo ensino de Lacan tendea definir 0 realipela exclusio do sentido. bso de em questio tudo o que é imerpretagioe tem como conseqUéncia uma depreciagio do \ pensamento, O primeiro ensino de Lacan se apo 9 > pensamento e chegava até a enfatizar, confor me o pensamentos, isso porque Lacan, até seu it ‘mo ensino, sustentava que o pensament0 P priamente dito era o simbalico. Se voces quiserem uma refe i830, vejam nos Escritos, pg. 724, 0 #extoaue chama "De um siabario a posterior para esse volume em 1965-66, no qual Lact Aacentua a pertinéncia do pensamento a dime so do simbslico: “Nao hi outro pensamen'? 10 de Freud, que o inconsciente sio cia sobre ‘pga Lacaniana 1° sendol que 0 proprio fato do pensamento antecipa a cincia porque o pensamento ji &0 simbstico presente no real ‘0 simblico”. Ele pie entio considerar Ele pode escrever esta frase de norme im A" portincia, a ser considerada desde a perspect vade seu titimo ensino, patio desde sempre esteve prenhe do pens A mento cientifco”. No hi formulacio que pos- sa fazer ver melhor que o sujeito da ciéncia é, {de ato, um sujeito suposto saber no real. Isso € 0 que faz 0 corte do timo ensino de Lacan, Ha que se pér isso de lado. Para se acostumar com esse iltimo ensino e com a pritica da psicandlise induzida por ele, € pre- ciso que se chegue a dizer que 0 pensamento no € sendo imaging, um innigindrio sobre o simbotico-Titagina-se que o simboico € tio proprio, to nitido quanto as regras de Live Strauss, Ou ainda que 0 pensamento seria tio proprio, tio nitido quanto a geometia eucl- diana, da qual Lacan diz no ser sendo o sim- bolicamente imaginario, ou seja, uma imag narizaco do simbélico. Ele se apoiou sobre a geometira euciiana, sobre a dtica, e nao transgredie abertamente seus limites com a topologia elementar da qual fez uso. E uma geometra imagincra na qual 0 simbélico funciona sozinho. E desse simbolico que ele nos dew 0 exemplo mais importante no inicio de seus Bcritos, em sua arquitetura das 0, B, 1, supostas a representar para nds a autonomia do simbélic. Em seu ilkimo ensino, ele rompe com "uma ‘geometria que decorre dos puros espittos” ¢ the opde a geometra dos nds que tem um cor po. Ela tem um corpo porque, em primeito ga, se ela obedece a algortmos, estes Si da desconhecidos. Com os nés, nao se che a dedluzir, hi que se maneji-los, € manej-los ‘em pessoa. O.que Lacan propde com os nés € dep | Gacio do pensamento. Ele situa 0 pensamen: {o, € ambém o inconsciente, apenas no nivel de uma relagio dificil entre 0 corpo €0 simbo- \ ico, relago dificil que ele chama 0 mental ‘opgio Lacaniana n? 35 TTC CS TATT O pensamento sim Elucubragées de saber Por essa rao € que se deve levar muito nova defini- seriamente, quer dizer, na sri «odo inconsciente proposta por ele, uma de finigio no Freudian, na qual 0 inconsciente tuma doenga mental. Ele pde 0 inconsciente 0 nivel do mental, n'nvel a debilidade que afeta esse mental Naanalise, ndo temos de nos haver apenas ‘como simbdlico, com 0 6gico puro, mas tam ‘gm com 0 corpo e com o real como exctuido do sentido, Disso decorre 0 afinco, no tltime censino de Lacan, em depreciaro saber no nivel cdeuma elucubrao e, comrelativamente, a pro- ‘mogio da referéncia 40 manejo) ss0 & 0 que sua geomettia dos nds exbe. O fazer prevalece sobre o saber € mosifica 0 conceito do icons ciente.O inconsciente é menos um saber qu no se sabe do que um “nao saber fazer com’. Porisso Lacan pce proporesta categoria noxa aidbidace mental como mais racial doqueo inconscente freudiano,Adebilidace mental quer dizer que 0falaser & marado pela desaemonix entre o simbelico,o real eo imaginiio. Evidentemente, podese tomar a debiilade ‘mental como um sarcasmo, 0 que ela no deixa eset. Mas,em seu dltimo ensino, é um concei- to que qualifica a auséncia de acordo entre as ddimensdes, £ 0 que qualifia uma desarmonia, ‘uma auséncia le harmonia, cujos nomes foram ‘oconllto,aspaltung, a diferenca entre deman- dae desejo, a castragio, a ndo-relacio sexual. 0 {que Lacan prope em seu tikimo ensino como ‘nome que mais se aproxima daguilo do qual de resulta é: debilidade mental. le assim gualifica aquilo com o que teri de sehaver como um ser cujo mental édébil, quer rentemente dos animas, dizer, um ser que, dh rio se encontra em seu mundo, esti estrutu ralmente perdido ¢ mal orientado. Penlilo © mal orientado porque sua libido € narcsica porque seu corpo & doente, o que se chamou ‘com 0 glorioso nome de castragio, (0 timo ensino de Lacan ¢ occamista, lista. Ele suprime todos of nomes intreis, todos, Janeiro 2005 ‘osnomes rebuscadase ploriosos para dizer aqui Jo de que se trata, com 0 qual temas de nos ha- ver Adebilidade mental desse ser quer dizerque sev mental no 0 poe em relago com o rea. Dados imediatos ‘Domesmo modo que Lacan pode dizer, em seu Semindrio, Livro 20, que a linguagem era uma elucubracao de saber sobre alingwa, ou seja, que ele se dstanciou desta abstragio que ‘chamamos inguagem para nos reconduzie 20 particular de cada lingua, ee assim 0 fez em relagio a0 inconsciente. Penso estar o mais préximo possivel do que lacan pretendeu mostrar em seu titimo ensi- rno= é também o que encontrei de mais préxi- ‘mo da propria experiencia ao dizer que o in- conscientefreudiano € uma elucubragio de saber sobre a debilidade mental E nessa diregio que 0 Seminiro chamado por Lacan Linsu que sait de V'une-bévue sale 4 mourre aponta Ele passou para o francés 0 Unbewusstsein, oinconscientefediano, como “umengano'Qane-béoue, (ulizando-se da ho- ‘mofonia entre os termos em frances e em ale- ‘mio))- Ele quis quaificar como engano (bévwe) © fito elementar do qual procede 0 inconsc- ent freudiano, a saber, que 0 ser humano se ‘engana, lograse, fla indiretamente, ¢ que é a pair desse dado imediato que Freud elucu- brou o inconsciente. Ennisso que o iltimo ensino de Lacan & um esforgo no para nos fiver desenhar ns, mas Para nos reconduzir aos dados imediatos, 0 mais préximo possivel da experigncia, © que fazem aparecer nosso saber como uma elucu- bracio sobre esses dados imediatos Isso no deixa de nos fazer tremer ante uma dissolugdo dos conceitosfreudianos, tal como.a {xpressio avangada por mim. Ele dé o exemplo disso fuguzmente, a partir do inconsciente apro- ximado ao engano (bévue), ao dado imediato de engano, no qual o qu se passa no & naa Kem do fato de nos lograrmos, ¢ de termos consciéncia de nos enganarmos. E dai que se Janeiro 2003, obxém o inconscente pela nezaco da cons cla. Resta levantarmos questo sobre qua valor proprio da negacao Portanto, nfo & um retomo a Freud, my sim um desenlace de Freud para retornar a» dados imediatos de onde se pode perceng como Freud chegow a transformara ebildade ‘em inconsciente I1- Sem Nome-do-Pai 1, Pratica e teorias Um redizer Eu me admiro de ter surpreendido ao thes dizer que 0 inconsciente freudiano era, pura Lacan, uma elucubragio de saber sobre a debi lidade mental. De fato, essa tese poderia pas sar como adlquirida desde o tltimo ensino de Lacan, Nao porque ela esteja ali explicitamene formulada, mas ea se insereve em tudo o que cle enuncia Se levo a sério a surpresa de voeés ¢a m+ nha admiragio, devo erer que hii no ensno de Lacan toda um parte que s6 se inscreve sb condigio de eu redizé-la. Isso € um fo. ‘Ao longo do comentirio de Lacan que venho prosseguinco, hi déeadas, tive a ocasto deve ficar, mais de uma vez, que o dito de Lacan dst set reito de uma certa manera, em um cen tom, com una certa énfase, em um certo cm testo, em uma certaordem, Esse dito de Lace dove ser reito para ultrapassar muro da in sgucigem, para ser levado a sério e para alan sewalvo, ou seja, para despertar aqueles aque ele se enderega, vocés, uma vez que esto ens regadas da psicandlse, de praticila, de pros ‘guiro que comegou com Free e que Lacan dev el ini. Aqueles que sabem Quanclo digo vocés, penso naqueles 28 «quais Lacan se enderecou pronitaramente: Opi Lacaniana 0°35

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