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CAPITULO 6 HISTORIA DE VIDA DE UM JORNALISTA E BLOGUEIRO gobre autor Renato D’Avila Moura, natural de Aracaju - SE. Nasci em Sou embro de 1988, com baixa visdo, 0 diagndstico foi distrofia 5. de nov e bastonetes. Nao tinha visdo central, apenas periférica. de cones ao mundo em apenas duas cores: preto e branco. Filho Emer Moura, médico e Inés Moura, enfermeira. le ee Estudei sempre em escola regular. Tive 0 apoio da minha familia que foi fundamental para o meu crescimento intelectual. A escola finha limitagdes quanto a metodologia didatica para me repassar os conhecimentos, pois os professores nao sabiam como lidar com essa maneira diferente de ver as coisas e o mundo. Com 0 apoio, fundamental, dos meus pais que fizeram muito para eu ter acesso ao ensino por meio da aquisicao de tecnologias adaptativas, que contribuiram para me incluir nos assuntos em sala, ecom um reforco escolar personalizado em casa, aprendi e fui um dos melhores alunos da turma. Destaco as tecnologias: lupa, régua ampliadora, aparelho Jordy, de origem Alema, O Amigo (aparelho de ampliagdo portatil que auxilia na leitura). Todas elas auxiliaram para que eu concluisse o ensino fundamental, médio e superior. Optei pela formagao em jornalismo, pois tinha um desejo muito grande de entrevistar pessoas, conhecer suas historias de vida, ouvir, ‘egistrar, Opinar e divulgar acontecimentos e fatos do cotidiano que Muito me interessavam. Fiz minha graduagao em uma universidade Particular, estudava no periodo noturno, pois facilitava minha visdo, que durante o dia tinha mais dificuldades devido a luminosidade. em uae ° Periodo da formagao académica em 2012, fiz estagio emrissors oan zaeso no governamental (ONG); estagio em uma Publica de televisdo (TV), na area da produgao geral; Nada a as A 8B além de estagiar em um jornal impresso de bastante Citculacs cidade, onde fazia a radio escuta, para elaborar as Pautag a0 ng anos de muito trabalho, estudo e crescimento da Autoestim, encontrava oportunidades e me sentia muito util, q Formado ha seis anos e com pés-graduacaio em Marker e web-jornalismo, lancei-me no mercado de trabalho ape Cling anos desempregado. A primeira oportunidade que conse, doi na Secretaria de Esporte e Lazer do Municipio de Aracajy Ul, fj trabalhei na assessoria de esporte por trés anos. Atualmente “ nde trabalhando, ha trés anos, em uma emissora de Tv, atid Rede Globo, como produtor do Globo Esporte local, Onde elab a pautas e escrevo matérias. oro Desde setembro de 2015, iniciei um blog no Portal G1 j Blog “Novo Olhar’, sendo este, uma janela para mostrar ° das pessoas com deficiéncias. Procuro estimular a sociedade Para olhar a causa com um novo olhar, mostrando que ter uma deficién. cia nao significa ser incapaz. Também busco mostrar exemplos de pessoas que, como eu, nao se deixaram influenciar pelo desanimoe tocaram suas vidas até encontrarem seus espagos como cidadaos, Durante a minha vida escolar, passando pela vida Profissional, passei por momentos de muitas dificuldades e que por vezes, me levavam a refletir se néo era melhor desistir de tudo. Sao fosse a minha fé em Deus, o combustivel que me move para frente pro- vavelmente nao teria chegado onde estou. Sofi bullying, precon- ceito, apelido, discriminag&o, entre tantas outras coisas que prefiro esquecer. Nesse periodo, minha visdo que era baixa, passou a diminuir ainda mais. Tive uma doenga adicional, a catarata e fui submetido a cirurgia, com objetivo de melhorar um pouco, fato que com o passar do tempo, nao se concretizou e acabou dificultando ainda mais, pois me levou a usar outro acessério indispensavel Para quem no enxerga: a bengala. O uso da bengala foi mais um capitulo em minha vida, pois eu achava que as pessoas nao entenderiam e ficariam com vergonha de andar comigo devido 0 uso deste acessdrio. A principio, achei que meus Pais nao gostariam de me ver usando, mas isso nao aconteceu, pols tive apoio deles e da minha irma, Camila Moura. Ela ainda me auxiliou em plena Avenida Paulista, treinando junto comigo, para eu conseguir quebrar o meu proprio preconceito com relagdo ao seu uso. Doig Ntitulado: Cotidiano S DE BAIXA VISA HISTORIA 0 fa _Amusica tambem influenciou meus passos desde os oito anos de idade, quando Iniciel como professor Wolney a aprender tocar teclado. Trés anos depois iniciei o aprendizado do violéo e minha curiosidade por instrumentos musicais me levou até a descoberta de dons na sanfona, guitarra, contrabaixo, bateria, flauta doce, kulelé e cada vez mais uma novidade acrescenta conhecimentos ao meu gosto musical eclético. Diante de tanta paixao pela musica, tive a oportunidade de retornar a universidade, desta vez publica. Enfrentei um novo vestibular, mesmo tendo que conciliar com 0 trabalho. Fui aprovado e passei a cursar Licenciatura em Musica, hoje estou no quinto periodo. Apesar das rejeigdes nos tempos de escola, o destino me mostrou uma pessoa que se tornaria eterna em minha vida, uma namorada que hoje é minha esposa, Simone. Uma mulher incrivel que me fez encontrar forgas para encarar a cirurgia bariatrica, mu- danga radical que aconteceu apés retornarmos de nossa primeira viagem para a Argentina, dias depois do nosso casamento. As vésperas do meu casamento, um fato me abalou bastante, também porque coincidiu com a subita perda da visao. Dias antes de ter iniciado a escrever o blog e aparecer na TV para lancar 0 referido espago, fui exonerado de outro vinculo empregaticio onde eu atuava na cobertura de eventos da prefeitura, tais como Campe- onato Mundial Escolar, corridas tradicionais da cidade, entre outros eventos. Trabalhar fazendo a cobertura, junto com a equipe, me deixava muito contente. Para explicar 0 processo da perda visual, tenho que relembrar um ano bem pesado na minha vida: 2012. Quando a viséo comegou aembacar. Passei por uma cirurgia de catarata, feita com sucesso e até obtive certa melhora, pois passei a enxergar de longe. Em- bora tudo ficasse mais escuro com passar do tempo. Ainda assim, mantive minha rotina. Em 2016 as coisas mudaram. Quando retornei das férias, li- guei o computador e iniciei meus trabalhos, as letras ampliadas e contraste da tela de plano de cor preta com letras brancas, parecia entre nuvens, flash de escuriddo e luzes brancas. Aangustia dos tempos de escola invadiu novamente meus pensamentos naquele instante em que eu nado conseguia realizar minha tarefa. Eu me per- guntava: cadé minha viséo? De repente, varias mudangas radicais ave Sem a oS AM 60 em minha vida em curto espago de tempo: mudancas NOs hp alimentares apés a cirurgia; a perda de emprego: para ues tem dificuldade de oportunidades, sair da casa dos paig ¢ 3 Se ia responsabilidades de constituir um lar; a perda Subita do TeSidug visao, passando a uma nova condi¢ao que implicava di na minha profissdo e na minha rotina, pois tinha que rein Os textos ampliados e os recursos de informatica ao longo da vida, da noite para o dia, ndo mais me Serviam, 7, nha que reaprender a viver, como uma pessoa cega, sem Saber 0 braile. Buscar novos softwares. Obvio que nao suportei a carga ea depressdo, que nunca me abalara, enfim, tentava me vencer, Iniciei uma rotina de visitas a psicdlogos, terapias alternativas busca por recursos 6ticos, consultas diversas que nao resultavam em muita coisa em curto prazo. Testei mais de trinta lentes e culos, mas a resposta nao vinha. Estava cego. Havia deixado Pra tras aquela coragem de encarar meu caminho. Estava iniciando uma vida que com minha esposa, tinha o sonho de atuar cada vez mais no jornalismo e eliminar qualquer obstaculo provando que conseguia caminhar a despeito das limitagdes impostas pela vida e estimulo da familia, dos colegas de trabalho, da minha propria vontade de fazer jus ao meu nome, Renato, que significa renascido das cinzas. Apos alguns meses de licenga médica, retornei ao trabalho, enfrentei medos, tomei remédios e desde entdo, cada dia tem sido uma busca constante, visando escrever os capitulos de minha historia. O blog Passou a ser a minha ferramenta de desbrava- mento. Nesta jornada conheci pessoas especiais, aproximei-me da realidade dos meus entrevistados, onde fiquei de frente com Muitos exemplos de superaco nos diversos setores e profissdes de cada canto do Pais. Através de grupos e contatos com parte dos 45 milhdes de pessoas com deficiéncia, segundo o Institute Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE, Senso 2010), perce! que eu nao estava sozinho nesse novo caminho sem visd0- Na busca por “Novo Olhar’, missdo que se tornou dever de casa © que faz parte da rotina de trabalho na produgao jornalistica do bas Procuro mostrar realidades e exemplos de pessoas com alguma defi Gia. Suas historias de vida so tema de cada um dos nossos enco” ma Semanis © me servem para buscar nesses protagonistas do blog: 4 Onte de estimulo para seguir em minha propria historia. retamen Ventar-me @prendidgs HIsTORIAS DE BAIXA VISAO 61 Amidia e sua relagdo com c: anharam espaco na emissora, Tee paula a en deficiéncia deu espago para entrevistar pela primeira vez na ry lejornais eme tomei consciéncia de que nds possuimos os cas ao vivo. Hoje, que possamos utilizar mais ou menos um ou outt sentidos para da necessidade. Percebi que posso desbravar novo: a depender mesmo sem o sentido da visdo. Posso dar sentido a vid caminhos, a audigao, © tato, 0 olfato e até o paladar para dar ee izando alimentar sonhos e estimular outras pessoas com re jor & vida, busca constante por seus direitos de cidadaos. teats iciéncia na sentido da resiliéncia e da perseveranga, fund: . Mais que isso, 0 avida em frente. , fundamentais para tocar

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